Por Por Yana MARULL | AFP – 27 mai 2014
27 de maio – Brasília, Brasil – Os manifestantes fizeram um ato em frente à rodoviária e, em seguida, decidiram seguir em direção ao estádio com uma taça alternativa da Copa do Mundo para substituir o troféu original, que está em exibição em Brasília, na área externa da arena.
A apenas 16 dias do início da competição, policiais da tropa de choque lançaram gases contra cerca de mil manifestantes, inclusive idosos e crianças, para impedir que se aproximassem do estádio.
Alguns manifestantes responderam atirando pedras contra os cerca de 500 agentes que cercavam o estádio.
Pouco antes, cerca de quinhentos chefes indígenas de cem etnias de todo o Brasil – inclusive o cacique Raoni, de 84 anos, um ícone da defesa da Amazônia – subiram no teto do Congresso para reivindicar políticas para seus povos.
“Subir no Congresso foi um ato de coragem, demonstração de que somos guerreiros e defendemos nossos direitos”, disse à AFP Tamalui Kuikuru, da região do Xingu, no Mato Grosso (centro-oeste).
Os índios, que estavam pintados, usando plumas, arcos e flechas tradicionais, desceram pacificamente do teto do Congresso logo depois, percorreram a Esplanada dos Ministérios e, em seguida, juntaram-se às centenas de manifestantes contrários à Copa e ao movimento dos sem-teto que marchavam na direção do estádio.
Duzentos policiais acompanham o protesto e o mesmo número resguarda o estádio Mané Garrincha, onde está o troféu da Copa, em exibição para o público nas cidades sede antes do torneio.
“A Copa é para quem? Não é para nós!”, clamava um manifestante com um alto-falante. “Não quero a Copa, quero esse dinheiro para a saúde e a educação”, gritava.
O protesto acontece em um contexto de protestos contra a Copa do Mundo e greves em vários setores às vésperas do Mundial, que se estenderá entre 12 de junho e 13 de julho.
Uma greve de motoristas de ônibus paralisou nesta terça Salvador (nordeste), uma das 12 cidades-sede da Copa, e o policiamento foi reforçado para garantir a segurança das unidades em circulação.
– “Espantar o mal” –
Em Brasília, os indígenas iniciaram seu protesto com orações tradicionais, ao ritmo de chocalhos, na Praça dos Três Poderes, cercada pelo Palácio do Planalto – sede da Presidência -, pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal.
Alguns mais velhos usavam fumaça para “espantar o mal”, explicaram à AFP.
“Antes de fazer a Copa do Mundo, o Brasil devia pensar melhor na saúde, na educação, na moradia. Vemos manifestações dos povos: não se gastam tantos milhões para um evento que não traz benefícios”, disse o indígena Neguinho Truká, da etnia Truká de Pernambuco (nordeste), com um cocar tradicional de plumas azuis e vermelhas na cabeça.
Os indígenas multiplicaram seus protestos na capital durante o governo da presidente Dilma Rousseff, a quem acusam de deter a demarcação de suas terras ancestrais e de favorecer os grandes agricultores.
– Onda de greves –
O Brasil foi sacudido por uma onda de protestos em junho do ano passado, durante a Copa das Confederações, contra os elevados gastos públicos nos estádios.
Os protestos, que continuaram durante meses, embora com menos intensidade, têm sido mais vinculados nas últimas semanas a movimentos sociais organizados, de sindicatos a partidos radicais de esquerda, ONGs críticas ao Mundial, o Movimento de Camponeses Sem-terra ou os Sem-teto.
Vários setores, de policiais a professores, passando pelos motoristas de ônibus de várias cidades como Rio, São Paulo, Salvador e São Luís do Maranhão, têm aproveitado a proximidade da Copa para pedir aumentos salariais e fazer greves.
Os trabalhadores do metrô de São Paulo, que transporta diariamente 4,5 milhões de pessoas, devem votar nesta terça-feira se entram em greve. “O mais provável é que aprovemos a greve. Só teríamos que definir a data”, declarou à AFP um porta-voz do sindicato.
Os motoristas de ônibus de São Paulo fizeram uma greve de dois dias na semana passada, que afetou mais de um milhão de pessoas e provocou engarrafamentos gigantescos.
Os professores da rede de ensino público do município e do estado do Rio também estão em greve e na segunda-feira, 200 deles bloquearam rapidamente a saída do ônibus que transportava a seleção brasileira até a concentração, em Teresópolis. “Não vai ter Copa; vai ter greve”, diziam alguns cartazes.
Trabalhadores dos setores de transporte e saúde do Rio de Janeiro também estudavam entrar em greve. Os vigilantes bancários do Rio estão paralisados há quase um mês.