Arquivo mensal: outubro 2016

O Brasil deveria mudar o modo como lida com a memória da escravidão? (BBC Brasil)

29 outubro 2016

Exposição 'Mãe Preta', no Rio de Janeiro

O Brasil recebeu a maioria dos africanos escravizados enviados às Américas

Uma sala com peças de um navio que levava para o Brasil 500 mulheres, crianças e homens escravizados é a principal atração do novo museu sobre a história dos americanos negros, em Washington.

Numa segunda-feira de outubro, era preciso passar 15 minutos na fila para entrar na sala com objetos do São José – Paquete de África, no subsolo do Museu de História e Cultura Afroamericana.

Inaugurado em setembro pelo Smithsonian Institution, o museu custou o equivalente a R$ 1,7 bilhão se tornou o mais concorrido da capital americana: os ingressos estão esgotados até março de 2017.

Em 1794, o São José deixou a Ilha de Moçambique, no leste africano, carregado de pessoas que seriam vendidas como escravas em São Luís do Maranhão. A embarcação portuguesa naufragou na costa da África do Sul, e 223 cativos morreram.

Visitantes – em sua maioria negros americanos – caminhavam em silêncio pela sala que simula o porão de um navio negreiro, entre lastros de ferro do São José e algemas usadas em outras embarcações (um dos pares, com circunferência menor, era destinado a mulheres ou crianças).

“Tivemos 12 negros que se afogaram voluntariamente e outros que jejuaram até a morte, porque acreditam que quando morrem retornam a seu país e a seus amigos”, diz o capitão de outro navio, em relato afixado na parede.

Prova de existência

Expor peças de um navio negreiro era uma obsessão do diretor do museu, Lonnie Bunch. Em entrevista ao The Washington Post, ele disse ter rodado o mundo atrás dos objetos, “a única prova tangível de que essas pessoas realmente existiram”.

Destroços do São José foram descobertos em 1980, mas só entre 2010 e 2011 pesquisadores localizaram em Lisboa documentos que permitiram identificá-lo. Um acordo entre arqueólogos marinhos sul-africanos e o Smithsonian selou a vinda das peças para Washington.

Museu de História e Cultura Afroamericana

Inaugurado em setembro, o Museu de História e Cultura Afroamericana custou US$ 1,7 bilhão. DIVULGAÇÃO/SMITHSONIAN

Que o destino do São José fosse o Brasil não era coincidência, diz Luiz Felipe de Alencastro, professor emérito da Universidade de Paris Sorbonne e um dos maiores especialistas na história da escravidão transatlântica.

Ele afirma à BBC Brasil que fomos o paradeiro de 43% dos africanos escravizados enviados às Américas, enquanto os Estados Unidos acolheram apenas 0,5%.

Segundo um estudo da Universidade de Emory (EUA), ao longo da escravidão ingressaram nos portos brasileiros 4,8 milhões de africanos, a maior marca entre todos os países do hemisfério.

Esse contingente, oito vezes maior que o número de portugueses que entraram no Brasil até 1850, faz com que Alencastro costume dizer que o Brasil “não é um país de colonização europeia, mas africana e europeia”.

O fluxo de africanos também explica porque o Brasil é o país com mais afrodescendentes fora da África (segundo o IBGE, 53% dos brasileiros se consideram pretos ou pardos).

Por que, então, o Brasil não tem museus ou monumentos sobre a escravidão comparáveis ao novo museu afroamericano de Washington?

Apartheid e pilhagem da África

Para Alencastro, é preciso considerar as diferenças nas formas como Brasil e EUA lidaram com a escravidão e seus desdobramentos.

Ele diz que, nos EUA, houve uma maior exploração de negros nascidos no país, o que acabaria resultando numa “forma radical de racismo legal, de apartheid”.

Crianças brincam no Museu de História e Cultura Afroamericana

Museu virou um dos mais concorridos da capital americana e está com os ingressos esgotados até março. BBC BRASIL / JOÃO FELLET

Até a década de 1960, em partes do EUA, vigoravam leis que segregavam negros e brancos em espaços públicos, ônibus, banheiros e restaurantes. Até 1967, casamentos inter-raciais eram ilegais em alguns Estados americanos.

No Brasil, Alencastro diz que a escravidão “se concentrou muito mais na exploração dos africanos e na pilhagem da África”, embora os brasileiros evitem assumir responsabilidade por esses processos.

Ele afirma que muitos no país culpam os portugueses pela escravidão, mas que brasileiros tiveram um papel central na expansão do tráfico de escravos no Atlântico.

Alencastro conta que o reino do Congo, no oeste da África, foi derrubado em 1665 em batalha ordenada pelo governo da então capitania da Paraíba.

“O pelotão de frente das tropas era formado por mulatos pernambucanos que foram barbarizar na África e derrubar um reino independente”, ele diz.

Vizinha ao Congo, Angola também foi invadida por milicianos do Brasil e passou vários anos sob o domínio de brasileiros, que a tornaram o principal ponto de partida de escravos destinados ao país.

“Essas histórias são muito ocultadas e não aparecem no Brasil”, ele afirma.

Reparações históricas

Para a brasileira Ana Lucia Araújo, professora da Howard University, em Washington, “o Brasil ainda está muito atrás dos EUA” na forma como trata a história da escravidão.

“Aqui (nos EUA) se reconhece que o dinheiro feito nas costas dos escravos ajudou a construir o país, enquanto, no Brasil, há uma negação disso”, ela diz.

Autora de vários estudos sobre a escravidão nas Américas, Araújo afirma que até a ditadura (1964-1985) era forte no Brasil a “ideologia da democracia racial”, segundo a qual brancos e negros conviviam harmonicamente no país.

São recentes no Brasil políticas para atenuar os efeitos da escravidão, como cotas para negros em universidades públicas e a demarcação de territórios quilombolas.

Ferragens usadas em navios negreiros

Expor peças de um navio negreiro era uma obsessão do diretor do museu. DIVULGAÇÃO/SMITHSONIAN

Ela diz que ainda poucos museus no Brasil abordam a escravidão, “e, quando o fazem, se referem à população afrobrasileira de maneira negativa, inferiorizante”.

Segundo a professora, um dos poucos espaços a celebrar a cultura e a história afrobrasileira é o Museu Afro Brasil, em São Paulo, mas a instituição deve sua existência principalmente à iniciativa pessoal de seu fundador, o artista plástico Emanoel Araújo.

E só nos últimos anos o Rio de Janeiro passou a discutir o que fazer com o Cais do Valongo, maior porto receptor de escravos do mundo. Mantido por voluntários por vários anos, o local se tornou neste ano candidato ao posto de Patrimônio da Humanidade na Unesco.

Para a professora, museus e monumentos sobre a escravidão “não melhoram as vidas das pessoas, mas promovem um tipo de reparação simbólica ao fazer com que a história dessas populações seja reconhecida no espaço público”.

Visibilidade e representação

Para o jornalista e pesquisador moçambicano Rogério Ba-Senga, a escravidão e outros pontos da história entre Brasil a África têm pouca visibilidade no país, porque “no Brasil os brancos ainda têm o monopólio da representação social dos negros”.

“Há muitos negros pensando e pesquisando a cultura negra no Brasil, mas o centro decisório ainda é branco”, diz Ba-Senga, que mora em São Paulo desde 2003.

Para ele, o cenário mudará quando negros forem mais numerosos na mídia brasileira – “para que ponham esses assuntos em pauta” – e nos órgãos públicos.

Para Alencastro, mesmo que o Estado brasileiro evite tratar da escravidão, o tema virá à tona por iniciativa de outros grupos.

“Nações africanas que foram pilhadas se tornaram independentes. Há nesses países pessoas estudando o tema e uma imigração potencialmente crescente de africanos para o Brasil”, ele diz.

Em outra frente, o professor afirma que movimentos brasileiros em periferias e grupos quilombolas pressionam para que os assuntos ganhem espaço.

“Há hoje uma desconexão entre a academia e o debate no movimento popular, mas logo, logo tudo vai se juntar, até porque a maioria da população brasileira é afrodescentente. Os negros são maioria aqui.”

Catálogo traz à tona História Indígena e Escravidão Negra no Brasil (Nossa Ciência)

PESQUISA Segunda, 31 de Outubro de 2016

Mônica Costa

Crédito: Acervo pessoal

Pesquisa investigou documentos referentes ao Brasil, no período colonial, que constam do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa/Portugal

“Temos uma imensa documentação fantástica vinculada ao Quilombo dos Palmares, ao tráfico negreiro. Em relação à questão indígena, temos inúmeros povos e grupos étnicos que souberam negociar com a Coroa Portuguesa, lideranças indígenas que souberam lutar em favor do seu próprio povo.” A afirmação é da professora Juciene Ricarte, da Universidade Federal e Campina Grande (UFCG) sobre o conteúdo dos Catálogos Gerais dos Manuscritos Avulsos e em Códices referentes à História Indígena e à Escravidão Negra no Brasil Existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, recentemente lançados em Campina Grande (PB)

Durante quatro anos, o projeto analisou 136.506 mil verbetes/documentos entre os anos de 1581 e 1843 que constam do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), de Lisboa, em Portugal. Foram analisadas cartas relatórios, requerimentos, cartas régias, alvarás, provisões, consultas, relatos de viagens, entre outros documentos geridos pela burocracia administrativa portuguesa e que lidavam com as questões indígenas e da escravidão no Brasil Colonial. Segundo a coordenadora do projeto, os documentos falam do cotidiano da Colônia. “Tem situações e narrativas de luta em mocambos, mocambos com indígenas e negros, levantes em aldeamentos, da vida desses protagonistas”, explica.

Guerra dos Bárbaros

Ao final, o projeto catalogou 6.009 verbetes, sendo 3.052 sobre a História Indígena e 2.957 referentes à escravidão negra em todas as regiões do País. Professora do Programa de Pós-Graduação em História, Juciene garante que muitas monografias, dissertações, teses e livros poderão surgir a partir dessas duas coleções, que contêm ainda todos os documentos digitalizados. “Pesquisadores, antropólogos, historiadores, memorialistas poderão usar esses documentos porque tem mais do que os livros-catálogos com o resumo. Por exemplo, se a pessoa quiser pesquisar sobre os Potiguaras com os Janduis, na Guerra dos Bárbaros, procura no DVD e com o número do verbete, ela vai encontrar a imagem digitalizada do manuscrito. Então, ela pode imprimir, arquivar no próprio computador, ampliar, reduzir e ainda tem acessibilidade para cegos.”

Além da produção dos livros-catálogos, o projeto realizou a gravação dos verbetes em áudio para promover a acessibilidade aos deficientes visuais “Esse formato é extremamente necessário e importante para o que objetivamos de acessibilidade no tocante às fontes históricas. Nenhum outro sistema de informação no trato com documentação de questões étnicas foi produzido com a possibilidade não só da leitura de verbetes, mas da escuta dos resumos”, ressaltou.

Povos exterminados

Tendo concluído o Pós-Doutorado na Universidade Nova de Lisboa, em 2015, Juciene afirma que os pesquisadores encontraram histórias e memórias sobre o cotidiano de diversos grupos indígenas que nem existem mais. São lutas e resistências de muitos que deram a própria vida, etnocídios, povos que foram exterminados lutando por seus territórios tradicionais, outros se adaptando à nova realidade colonial para também sobreviver.

Ela explica que é no período colonial que ocorrem as primeiras relações interétnicas entre indígenas e não-indígenas, entre negros e não-negros, entre senhores e escravos e entre missionários e indígenas. São as primeiras relações do que iria constituir o povo brasileiro. A etnohistoriadora argumenta que a documentação recolhida mostra homens e mulheres que são sujeitos do seu tempo e que tanto indígenas, quanto os homens e mulheres negros conseguiram construir relações e sociabilidade num mundo que, muitas vezes, era de dominação. “Quando se constituiu os aldeamentos indígenas sob a tutela de missionários, da Igreja e depois, com a Lei do Marquês de Pombal, quando expulsaram os jesuítas, esses indígenas sabiam muito bem construir novos espaços nesse mundo colonial, mesmo deixando de falar a própria língua, porque eram obrigados, continuavam sendo indígenas, resistiam, lutavam e ao mesmo tempo, tentavam sobreviver naquela realidade que lhe era imposta. Assim também os homens e mulheres negros. A ideia de escravidão negra é que fossem submetidos. Absolutamente! Eles construíam negociações ou atos de violências numa tentativa de sobreviver num mundo de escravidão”, narra.

Nordeste

Relacionado ao que hoje compreende o nordeste, a coordenadora do projeto esclarece que foi catalogada importante documentação sobre grupos étnicos que já não existem mais no Rio Grande do Norte ou na Paraíba. São os indígenas do sertão, da chamada Guerra dos Bárbaros, além de outros grupos étnicos que viviam ao longo do Rio São Francisco, muitos mocambos e quilombos. Esses documentos podem inclusive ser usados em laudos antropológicos para identificação de territórios tradicionais tanto indígenas, quanto negros.

Justificando a importância do trabalho, a professora afirma que ele não fala apenas do passado, porque negros e indígenas continuam existindo hoje, lutando por inclusão étnico-racial. “Nos próprios livros didáticos de História, é como se a História Indígena e a História do Negro no Brasil não fosse importante e com um instrumento de pesquisa como esse, a gente muda a historiografia nacional, contribui para que esses protagonistas, reais sujeitos históricos do Brasil, tenham vez na escrita da História”, ressalta.

Os produtos culturais – compostos por livros-catálogos e DVD´s – foram realizados por uma equipe de 43 pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em parceria com a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB), através do Edital Cultural da Petrobrás/2010. Os recursos foram de R$ 500 mil. A tiragem de cada Catálogo é de dois mil exemplares, a serem distribuídos para todas as universidades brasileiras, arquivos históricos, Movimento Negro e Movimento Indígena. A distribuição será gratuita e exclusivamente para instituições.

Brasil tem de modernizar pecuária para combater mudança do clima (Folha de S.Paulo)

Marcelo Leite

30/10/2016  02h00

As emissões de carbono aumentaram 3,5% enquanto o PIB atrofiava 3,8%O As emissões de carbono aumentaram 3,5% enquanto o PIB atrofiava 3,8%. Apu Gomes/Folhapress

Brasil deu uma rasteira no clima do planeta em 2015. No ano em que se aprovou o Acordo de Paris para conter o aquecimento global, o país aumentou, em vez de diminuir, a produção de gases do efeito estufa. A maior parte da culpa cabe à agropecuária.

Não poderia ser pior a notícia divulgada na quarta-feira (26) pelo Sistema de Estimativa de Emissão de Gases do Efeito Estufa, da rede de ONGs Observatório do Clima.

As emissões de carbono aumentaram 3,5% enquanto o PIB atrofiava 3,8%. Em geral, essas coisas andam juntas: para produzir mais, gasta-se mais energia, que no mundo todo é a principal fonte de gases que, como o CO2, ajudam a aquecer a atmosfera por impedir a dissipação de radiação de origem solar.

Não no Brasil. Aqui a atividade que mais contribui para agravar o efeito estufa é a mudança do uso da terra. Grosso modo, desmatamento, com a Amazônia à frente.

A destruição de florestas responde, sozinha, por 46% de toda a poluição climática lançada pelos brasileiros em 2015. Segundo o Seeg, o desmatamento emitiu o equivalente a 875 milhões do total de 1,9 bilhão de toneladas de CO2.

Quando a floresta é derrubada para abrir espaço a campos e pastos, toda a biomassa que havia ali –troncos, folhas, raízes etc.– acaba chegando à atmosfera na forma de compostos de carbono que agravam o aquecimento global. Queimadas e apodrecimento são os principais processos.

Isso não é tudo. As plantações e o gado, além de provocar desmatamento, também originam emissões na própria atividade, como o famigerado “arroto da vaca” (metano proveniente da fermentação entérica ou digestão de celulose).

Noves fora, a agropecuária representa 69% –mais de dois terços– de todas as emissões nacionais. É muita coisa para um setor que empregava menos de 17 milhões de pessoas em 2006 (último censo do setor) e, em 2015, respondeu por 21% do PIB brasileiro.

Só agricultura e pecuária tiveram produção em alta no ano passado. Indústria e serviços recuaram, atrofiando a demanda por energia e transporte, outras fontes importantes de gases do efeito estufa. Com isso, cresceu a participação relativa das mudanças no uso da terra.

Além do mais, o desmatamento cresceu também em termos absolutos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na Amazônia –onde estão as maiores florestas do Brasil– o aumento foi de 24%. Partimos de 5.012 km2 em 2014 para 6.207 km2 de floresta perdida em 2015 (área correspondente a quatro municípios de São Paulo).

A pecuária bovina sozinha, com seus 215 milhões de cabeças, foi a causa do equivalente a 240 milhões de toneladas de CO2, em 2015, só com a fermentação entérica. Isso dá 12,6% das emissões brasileiras.

Na média a pecuária de corte no Brasil utiliza uma cabeça por hectare. Dobrando ou triplicando essa baixíssima produtividade, sobretudo por meio da recuperação de pastos, dá para reduzir a emissão de carbono a quase zero.

Criar bois “verdes” é a bola da vez. O Brasil é capaz de fazer isso, com regulação, tecnologia e crédito, assim como aumentou a produtividade no cultivo de grãos e derrubou a taxa de desmatamento de 2005 para cá (ainda que ela esteja subindo de novo).

‘Relatório sobre 1,5ºC trará dilema moral’ (Observatório do Clima)

Vice-presidente do IPCC afirma que próximo documento do grupo, em 2018, pode apresentar a escolha entre salvar países-ilhas e usar tecnologias incipientes de modificação climática

O próximo relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, encomendado para 2018, pode apresentar à humanidade um dilema moral: devemos lançar mão em larga escala de tecnologias ainda não testadas e potencialmente perigosas de modificação do clima para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5oC? Ou devemos ser prudentes e evitar essas tecnologias, colocando em risco a existência de pequenas nações insulares ameaçadas pelo aumento do nível do mar?

Quem expõe a dúvida é Thelma Krug, 65, diretora de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e vice-presidente do painel do clima da ONU. Ela coordenou o comitê científico que definiu o escopo do relatório e produziu, no último dia 20, a estrutura de seus capítulos. A brasileira deverá ter papel-chave também na redação do relatório, cujos autores serão escolhidos a partir de novembro.

O documento em preparação é um dos relatórios mais aguardados da história do IPCC. É também único pelo fato de ser feito sob encomenda: a Convenção do Clima, na decisão do Acordo de Paris, em 2015, convidou o painel a produzir um relatório sobre impactos e trajetórias de emissão para limitar o aquecimento a 1,5oC, como forma de embasar cientificamente o objetivo mais ambicioso do acordo. A data de entrega do produto, 2018, coincidirá com a primeira reunião global para avaliar a ambição coletiva das medidas tomadas contra o aquecimento global após a assinatura do tratado.

Segundo Krug, uma das principais mensagens do relatório deverá ser a necessidade da adoção das chamadas emissões negativas, tecnologias que retirem gases-estufa da atmosfera, como o sequestro de carbono em usinas de bioenergia. O problema é que a maior parte dessas tecnologias ou não existe ainda ou nunca foi testada em grande escala. Algumas delas podem envolver modificação climática, a chamada geoengenharia, cujos efeitos colaterais – ainda especulativos, como as próprias tecnologias – podem ser quase tão ruins quanto o mal que elas se propõem a curar.

Outro risco, apontado pelo climatólogo britânico Kevin Anderson em comentário recente na revista Science, é essas tecnologias virarem uma espécie de desculpa para a humanidade não fazer o que realmente precisa para mitigar a mudança climática: parar de usar combustíveis fósseis e desmatar florestas.

“Ficamos numa situação muito desconfortável com várias tecnologias e metodologias que estão sendo propostas para emissões negativas”, disse Krug. “Agora, numa situação em que você não tem uma solução a não ser esta, aí vai ser uma decisão moral. Porque aí você vai ter dilema com as pequenas ilhas, você vai ter um problema de sobrevivência de alguns países.”

Ela disse esperar, por outro lado, que o relatório mostre que existem tecnologias maduras o suficiente para serem adotadas sem a necessidade de recorrer a esquemas mirabolantes.

“Acho que há espaço para começarmos a pensar em alternativas”, afirmou, lembrando que, quanto mais carbono cortarmos rápido, menos teremos necessidade dessas novas tecnologias.

Em entrevista ao OC, concedida dois dias depois de voltar do encontro do IPCC na Tailândia e minutos antes de embarcar para outra reunião, na Noruega, Thelma Krug falou sobre suas expectativas para o relatório e sobre os bastidores da negociação para fechar seu escopo – que opôs, para surpresa de ninguém, as nações insulares e a petroleira Arábia Saudita.

A sra. coordenou o comitê científico que definiu o índice temas que serão tratados no relatório do IPCC sobre os impactos de um aquecimento de 1,5oC. A entrega dessa coordenação a uma cientista de um País em desenvolvimento foi deliberada?

O IPCC decidiu fazer três relatórios especiais neste ciclo: um sobre 1,5oC, um sobre oceanos e um sobre terra. O presidente do IPCC [o coreano Hoesung Lee] achou por bem que se formasse um comitê científico e cada um dos vice-presidentes seria responsável por um relatório especial. Então ele me designou para o de 1,5oC, designou a Ko Barrett [EUA] para o de oceanos e o Youba [Sokona, Mali] para o de terra. O comitê foi formado para planejar o escopo: número de páginas, título, sugestões para cada capítulo. E morreu ali. Por causa da natureza do relatório, que será feito no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, houve também a participação de duas pessoas da área de ciências sociais, de fora do IPCC. Agora, no começo de novembro, sai uma chamada para nomeações. Serão escolhidos autores principais, coordenadores de capítulos e revisores.

Quantas pessoas deverão produzir o relatório?

No máximo cem. Considerando que vai ter gente do birô também. Todo o birô do IPCC acaba envolvido, são 30 e poucas pessoas, que acabam aumentando o rol de participantes.

A sra. vai participar?

Participarei, e participarei bastante. Os EUA fizeram um pedido para que o presidente do comitê científico tivesse um papel de liderança no relatório. Isso porque, para esse relatório, eu sinto algo que eu não sentia tanto para os outros: se não fosse eu acho que seria difícil. Porque teve muita conversa política.

Quando um país levanta uma preocupação, eu tenho de entender mais a fundo onde a gente vai ter que ter flexibilidade para construir uma solução. Eu acho que foi muito positivo o fato de o pessoal me conhecer há muitos anos e de eu ter a liberdade de conversar com uma Arábia Saudita com muita tranquilidade, de chegar para as pequenas ilhas e conversar com muita tranquilidade e tentar resolver as preocupações.

Por exemplo, quando as pequenas ilhas entraram com a palavra loss and damage [perdas e danos], para os EUA isso tem uma conotação muito política, e inaceitável para eles no contexto científico. No fórum científico, tivemos de encontrar uma forma que deixasse as pequenas ilhas confortáveis sem mencionar a expressão loss and damage, mas captando com bastante propriedade aquilo que eles queriam dizer com isso. Acabou sendo uma negociação com os autores, com os cientistas e com o pessoal do birô do painel para chegar numa acomodação que deixasse a todos satisfeitos.

E qual era a preocupação dos sauditas?

Na reunião anterior, que definiu o escopo do trabalho, a gente saiu com seis capítulos bem equilibrados entre a parte de ciências naturais e a parte de ciência social. Por exemplo, essa parte de desenvolvimento sustentável, de erradicação da pobreza, o fortalecimento do esforço global para tratar mudança do clima. E os árabes não queriam perder esse equilíbrio. E as pequenas ilhas diziam que o convite da Convenção foi para fazer um relatório sobre impactos e trajetórias de emissões.

Mas as ilhas estavam certas, né?

De certa maneira, sim. O que não foi certo foi as ilhas terem aceitado na reunião de escopo que o convite fosse aceito pelo IPCC “no contexto de fortalecer o esforço global contra a ameaça da mudança climática, do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”.

Eles abriram o escopo.

A culpa não foi de ninguém, eles abriram. A partir do instante em que eles abriram você não segura mais. Mas isso requereu também um jogo de cintura para tirar um pouco do peso do desenvolvimento sustentável e fortalecer o peso relativo dos capítulos de impactos e trajetórias de emissões.

Essa abertura do escopo enfraquece o relatório?

Não. Porque esse relatório vai ter 200 e poucas páginas, e cem delas são de impactos e trajetórias. Alguns países achavam que já havia muito desenvolvimento sustentável permeando os capítulos anteriores, então por que você ia ter um capítulo só para falar de desenvolvimento sustentável? Esse capítulo saiu de 40 páginas para 20 para justamente fortalecer a contribuição relativa de impactos e trajetórias do relatório. E foi uma briga, porque as pequenas ilhas queriam mais um capítulo de impactos e trajetórias. Esse relatório é mais para eles. Acima de qualquer coisa, os mais interessados nesse relatório são as pequenas ilhas.

Um dos desafios do IPCC com esse relatório é justamente encontrar literatura sobre 1,5oC, porque ela é pouca. Em parte porque 1,5oC era algo que as pessoas não imaginavam que seria possível atingir, certo?

Exato.

Porque o sistema climático tem uma inércia grande e as emissões do passado praticamente nos condenam a 1,5oC. Então qual é o ponto de um relatório sobre 1,5oC?

O ponto são as emissões negativas. O capítulo 4 do relatório dirá o que e como fazer. Faremos um levantamento das tecnologias existentes e emergentes e a agilidade com que essas tecnologias são desenvolvidas para estarem compatíveis em segurar o aumento da temperatura em 1.5oC. Vamos fazer uma revisão na literatura, mas eu não consigo te antecipar qualquer coisa com relação à forma como vamos conseguir ou não chegar a essas emissões negativas. Mas é necessário: sem elas eu acho que não dá mesmo.

A sra. acha, então, que as emissões negativas podem ser uma das grandes mensagens desse novo relatório…

Isso já ocorreu no AR5 [Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, publicado em 2013 e 2014]. Porque não tinha jeito, porque você vai ter uma emissão residual. Só que no AR5 não tínhamos muita literatura disponível.

Quando se vai falar também da velocidade com a qual você consegue implementar essas coisas… o relatório também toca isso aí no contexto atual. Mas, no sufoco, essas coisas passam a ter outra velocidade, concorda? Se você demonstrar que a coisa está ficando feia, e está, eu acho que isso sinaliza para o mundo a necessidade de ter uma agilização maior no desenvolvimento e na implementação em larga escala de tecnologias que vão realmente levar a emissões negativas no final deste século.

Nós temos esse tempo todo?

Para 1,5oC é bem complicado. Em curto prazo, curtíssimo prazo, você precisa segurar as emissões, e aí internalizar o que você vai ter de emissões comprometidas. De tal forma que essas emissões comprometidas estariam sendo compensadas pelas tecnologias de emissões negativas. Esse é muito o meu pensamento. Vamos ver como isso acabará sendo refletido no relatório em si.

Haverá cenários específicos para 1,5oC rodados pelos modelos climáticos?

Tem alguma coisa nova, mas não tem muita coisa. Eles devem usar muita coisa que foi da base do AR5, até porque tem de ter comparação com 2oC. A não ser que rodem de novo para o 2oC. Precisamos entender o que existe de modelagem nova e, se existe, se ela está num nível de amadurecimento que permita que a gente singularize esses modelos para tratar essa questão nesse novo relatório.

Há cerca de 500 cenários para 2oC no AR5, e desses 450 envolvem emissões negativas em larga escala.

Para 1,5oC isso vai aumentar. Para 1,5oC vai ter de acelerar a redução de emissões e ao mesmo tempo aumentar a introdução de emissões negativas nesses modelos.

Há alguns dias o climatologista Kevin Anderson, diretor-adjunto do Tyndall Centre, no Reino Unido, publicou um comentário na revista Science dizendo que as emissões negativas eram um “risco moral por excelência”, por envolver competição por uso da terra, tecnologias não testadas e que vão ter de ser escaladas muito rápido. A sra. concorda?

Eu acho que essa questão de geoengenharia é uma das coisas que vão compor essa parte das emissões negativas. E aí talvez ele tenha razão: o mundo fica assustado com as coisas que vêm sendo propostas. Porque são coisas loucas, sem o amadurecimento necessário e sem a maneira adequada de se comunicar com o público. Mas vejo também que haverá tempo para um maior amadurecimento disso.

Mas concordo plenamente que ficamos numa situação muito desconfortável com várias tecnologias e metodologias que estão sendo propostas para emissões negativas. Mas esse é meu ponto de vista. Agora, numa situação em que você não tem uma solução a não ser esta, aí vai ser uma decisão moral. Porque aí você vai ter dilema com as pequenas ilhas, você vai ter um problema de sobrevivência de alguns países.

Deixe-me ver se entendi o seu ponto: a sra. acha que há um risco de essas tecnologias precisarem ser adotadas e escaladas sem todos os testes que demandariam num cenário ideal?

Fica difícil eu dizer a escala disso. Sem a gente saber o esforço que vai ser possível fazer para cortar emissões em vez de ficar pensando em compensar muito fortemente o residual, fica difícil dizer. Pode ser que já haja alguma tecnologia amadurecida antes de começar a pensar no que não está amadurecido. Acho que há espaço para começarmos a pensar em alternativas.

Agora, entre você falar: “Não vou chegar a 1,5oC porque isso vai exigir implementar tecnologias complicadas e que não estão amadurecidas” e isso ter uma implicação na vida das pequenas ilhas… isso também é uma preocupação moral. É um dilema. Eu tenho muita sensibilidade com a questão de geoengenharia hoje. E não sou só eu. O IPCC tem preocupação até em tratar esse tema. Mas é a questão do dilema. O que eu espero que o relatório faça é indicar o que precisa ser feito. Na medida em que você vai fazendo maiores reduções, você vai diminuindo a necessidade de emissões negativas. É essa análise de sensibilidade que os modelos vão fazer.

Observatório do Clima

Pope Francis’s edict on climate change has fallen on closed ears, study finds (The Guardian)

Hailed as a significant call for action, the pope’s encyclical has not had the anticipated rallying effect on public opinion, researchers have found

Pope Francis environmental activists

Knowledge of the pope’s encyclical, called Laudato Si’, did not appear to be linked to higher levels of concern regarding climate change, the study found. Photograph: Bullit Marquez/AP

 

The pope’s call for action on climate change has fallen on closed ears, research suggests.

A study by researchers in the US has found that right-leaning Catholics who had heard of the pope’s message were less concerned about climate change and its effects on the poor than those who had not, and had a dimmer view of the pope’s credibility.

“The pope and his papal letter failed to rally any broad support on climate change among the US Catholics and non-Catholics,” said Nan Li, first author of the research from Texas Tech University.

“The conservative Catholics who are cross-pressured by the inconsistency between the viewpoints of their political allies and their religious authority would tend to devalue the pope’s credibility on this issue in order to resolve the cognitive dissonance that they experience,” she added.

Issued in June 2015, Pope Francis’s encyclical, called Laudato Si’, warned of an “unprecedented destruction of ecosystems” if climate change continues unchecked and cited the scientific consensus that human activity is behind global warming.

Research conducted on the eve of the announcement found that 68% of Americans and 71% of US Catholics believe in climate change, with Democrats more likely than Republicans to believe in the issue, put it down to human causes and rate it as a serious problem.

The pontiff’s comments were seen by many as a significant call for action in the battle against climate change, focusing on the moral need to address the impact of humans on the planet. “Pope Francis is personally committed to this [climate] issue like no other pope before him. The encyclical will have a major impact,” said Christiana Figueres, the UN’s climate chief, at the time.

But new research published in the journal Climatic Change suggests that the encyclical might not have had the anticipated rallying effect on public opinion.

In a nationally representative survey of 2,755 individuals across the US, including more than 700 Catholics, researchers quizzed individuals on their attitudes towards climate change, its effects on the poor and papal credibility on the issue, together with questions on their political views and demographics such as age, sex and ethnicity. The team found that 22.5% of respondents said they had either heard of the pope’s message or his plans for the letter.

Overall, the team found that members of the public who identified as politically liberal, whether Catholic or not, were more likely to be concerned about climate change and perceive climate change as disproportionately affecting the poor than those who identified as conservative.

But knowledge of the papal letter did not overall appear to be linked to higher levels of concern regarding climate change.

Instead, the researchers found that the effects of awareness of the letter were small, although awareness was linked to more polarised views. For both Catholics and non-Catholics, conservatives who were aware of the letter were less likely to be concerned about climate change and its risk to the poor, compared to those who had not. The opposite trend was seen among liberals.

But, the authors say, among both conservative Catholics and non-Catholics who had heard of the encyclical, the pontiff’s perceived credibility decreased as political leaning veered to the right.

“For people who are most conservative, the Catholics who are aware of the encyclical give the pope 0.5 less than Catholics who aren’t aware of the encyclical on a one to five scale,” said Li.

The researchers say it is not clear if the increased polarisation is caused by hearing about the encyclical or, for example, if more politically engaged individuals were simply more likely to be aware of the papal letter.

“In sum, while [the] pope’s environmental call may have increased some individuals’ concerns about climate change, it backfired with conservative Catholics and non-Catholics, who not only resisted the message but defended their pre-existing beliefs by devaluing the pope’s credibility on climate change,” the authors write.

The results chime with the reaction to the papal stance by conservative media and a number of prominent individuals, including former presidential candidate Jeb Bush who rebuffed the pope’s message, saying: “I don’t get economic policy from my bishops or my cardinal or my pope.”

Neil Thorns, director of advocacy at the Catholic aid agency Cafod, said: “Laudato Si’ was a wake-up call on how we’re treating our planet and its people which unsurprisingly – although disappointingly – some climate deniers and those with vested interests were not willing to hear.”

Is herbalism another form of magic? (The Irish Times)

Patients less likely to be fobbed off these days with a vague promise they will get better

“Ireland has a rich ethno-medical knowledge and a history of traditional healing,” says Helen Sheridan, professor of pharmacology at Trinity College.

 GPs in Ireland used to give people a bottle of medicine. It was pink or it was blue, and if one didn’t work you tried the other one. Then, as now, most ailments got better with or without medication.

Many people in Ireland, until at least the mid 20th century, believed that their health and wellbeing, as well as that of their animals, were routinely threatened by envious and ill-intentioned neighbours, witches and fairies.

Biddy Early, the famous wise woman of Clare who is said to have died in 1874, reputedly had a magical power to cure illnesses and ailments.

Stories collected by Lady Gregory say Biddy Early had a magic bottle – in the same vein as a crystal ball – which she used to communicate with the fairies and to heal people. People came to her and told them her problems. She listened.

Along with another healer, Moll Anthony of Kildare – who was such an outcast the priest is said to refused her a Christian burial – both of these women gave out bottles containing some kind of unspecified liquid which people were told to drink. Exactly what was in these bottles, nobody is sure.

Today, the work of herbalists is subject to far more scrutiny, and their patients are less likely to be fobbed off with a vague promise they will get better. Now, they want to know what’s in the bottle.

“Ireland has a rich ethno-medical knowledge and a history of traditional healing, but it is not as culturally embedded as in other countries like France, Germany and Austria,” says Helen Sheridan, professor of pharmacology at Trinity College.

Dr Ronnie Moore, a lecturer in sociology and a lecturer in public health medicine and epidemiology at UCD, is a critic of the power of modern biomedicine and takes a different perspective.

“The herbs or minerals are all props: this is about magic and to belief systems,” he said.

“Magic?” I ask incredulously. “That’s a loaded word.”

“I like to use the word because that is exactly what is at play here,” he says. “Talk of placebo and nocebo if you want, but you’re buying into medical discourse. I introduce my students to placebo by calling it witchcraft, because it does the same thing and has the same functions.”

What’s so wrong about medical discourse? I ask. Hasn’t it greatly expanded the human lifespan, saved hundreds of millions of lives and led to massive improvements in our quality of life?

“Biomedicine tends to see the body as a machine, but to use that approach ignores psychosocial responses – of which there are many – to healing,” says Moore.

“Which has done more harm: herbs or biomedicine? [The disgraced obstetrician] Michael Neary needlessly removed 129 women’s wombs; the drug Thalidomide led to birth defects; and people have died on drug trials.”

When Moore started to write a book on the topic, he realised that his ideas would be controversial and decided that he needed to work with other academics.

But there’s increasing evidence that this “magic”, to use Moore’s term, might actually work, and it seems to be due to one of the most misunderstood concepts in modern healthcare: the placebo effect.

Helen Sheridan, associate professor at the School of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences in Trinity College Dublin and an advisor to the subcommitte on herbal medicines with the Health Products Regulatory Authority, says placebo applies to people when they may be some element of the immune system brought into play, that is controlled by the mind.

In her recent book Cure, the author Jo Marchant lays bare a catalogue of studies showing that the placebo effect is deeply complex and so much more than just a curious trick of the mind where we believe we are better.

Marchant tells of Ted Kaputchuk, who trained and worked as a traditional Chinese herbalist and acupuncturist for many years before becoming professor of medicine and professor of global health and social medicine at Harvard Medical School. While practicing as a herbalist, he watched people visibly improve before they had even left his office, but he became uncomfortable with the idea that it was the herbs at work.

Placebo effect

In a more recent experiment, Kaputchuk teamed up with his colleague, Dr Anthony Lembo, a gastroenterologist. In a trial of 80 patients with long-term irritable bowel syndrome, half were given a placebo and told it was a placebo but it might help with self-healing, and they still did better than those who got no treatment. A study of 20 women with depression showed up similar results, while a study on migraine patients found that those who knew they were taking a placebo still felt 30 per cent less pain than those receiving no treatment.

Evidence is mounting for the placebo effect. The mere belief we are being looked after, with medicine and care from nurses or loved ones, can help to ease symptoms, boost the immune system and even prevent us from getting sick in the first place.

Studies conducted by Jon Levine, a neuroscientist at the University of California in Los Angeles, have shown that our brains can release endorphins – “the happy drug” but also a natural painkiller – which is part of the opiate family of chemicals that includes heroin and morphine – when we take placebo. Our mind doesn’t just influence our health, it is inextricably linked with it.

But Marchant also shows that the placebo effect – or call it “a belief in the infinite healing power of the universe” over modern medicine, or whatever else you want to – won’t cure many illnesses, including diabetes, asthma and cancer. Nor will it lower your blood pressure. So it’s not the panacea either.

Herbalists have tended to emphasise the importance of good digestion and gut health, exposing themselves to the claim that they’re similar to reflexologists who say that different parts of the hands or feet correspond to different parts of the body and that ailments can be cured by stimulating them.

Unlike reflexologists, however, there’s at least some solid evidence to support them.

Earlier this year, researchers at University College Cork found that the microbes in our gut influence how our nerves work.

We already know that bowel disorders, the immune system and obesity are influenced by the microbiome (the 1kg+ of bacteria and other organisms living in our gut) and now there is evidence that it can influence stress, anxiety and depression.

Professor John Cryan, head of the Department of Anatomy and Neuroscience at UCC, told this newspaper’s science editor, Dick Ahlstrom, that our brains have developed with signals from the microbes all the time.

Irving Kirsch, a lecturer in medicine at Harvard University, has produced a body of research showing that the effect of pharmaceutical drugs used for depression had little more effect than placebo.

Kirsch put in a freedom of information request to the US Food and Drug Administration on clinical trials of antidepressants.

The response suggested what pharmaceutical firms had not been telling us: with the exception of severe cases, most antidepressants (such as Prozac) performed little or no better than an inert sugar pill placebo.

His research has been criticised on the basis of flaws in those trials and the difficulties in measuring improvements in depression.

But between the placebo effect and the influence of the microbiome on our body and mind, could the herbalists be onto something?

Research in the National Folklore Collection shows many herbal remedies were accompanied by some kind of ritual: usually a chant, prayer, incantation, or sometimes a symbolic rite such as passing a sick person three times around a bush or animal.

People get better, says anthropologist Dan Moerman of the University of Michigan, because of the meaning that is attached to the treatment, whether that’s from a medical doctor or a traditional herbalist.

A range of researchers suggest that how we take our pills is important and they work better if there’s a little ritual around them: take them with a prayer or meditation, before bath time or get someone else to give them to you which will help you feel more cared for.

Bethann Roche is one of the founders of the Irish Medical Anthropology Network, and her own background is in anthropology and medicine.

She has spent most of her working life as a public health doctor in Ireland and many years examining the phenomenon of faith healing. She says anthropology has a contribution to make to health – and she emphasises the word health as distinct from medicine.

Regarding magic she say: “it is helpful to look at this in total context rather than blaming health professionals for being too narrow-minded or patients for being too superstitious”.

Isn’t placebo just a polite way of saying “it’s all in your head” I ask Dr Dilis Clare, a GP and practicing herbalist based in Galway.

She laughs heartily. “And isn’t that a wonderful place to be? Your healing is all in your head. That is fantastic.”

I grimace and prevaricate. Well, I say, the implication is that you were imagining it all along.

The smile falls from her face.

“So?” she asks. “If imagination is so powerful that it can stop coals burning feet, why would it not be strong enough to either give you IBS or be a part of it?”

If you have an abnormal microbiome it produces hormones which are like small protein molecules going straight to the brain, easily absorbed across the gut barrier and blood brain barrier.

“Which came first, the illness or the imagination, the chicken of the egg? Does it matter?”

Tsunami meteorológico? Entenda fenômeno que assustou Santa Catarina (UOL Notícias)

Fernando Cymbaluk*
Do UOL, em São Paulo 19/10/2016, 12h44 

VIDEO: http://tv.uol/15G3x

 

Uma onda que atingiu duas praias no sul de Santa Catarina arrastou carros e assustou os banhistas em um dia de calor e fortes ventos. O fenômeno foi provocado por uma grande tempestade no mar que impulsionou a onda “gigante”. O evento, que é raro e perigoso, tem nome: tsunami meteorológico.

Sim, podemos dizer que ocorrem tsunamis no Brasil. Comuns no leste e sudeste da Ásia, tsunamis são ondas que avançam na costa provocando danos (em japonês, “tsu” quer dizer porto, e “nami” significa onda).

Os tsunamis que já devastaram grandes áreas de países como o Japão são provocados por abalos sísmicos em um ponto do oceano. Eles são muito mais drásticos do que o caso brasileiro, com ondas bem maiores, que alcançam diversas praias após irradiarem do epicentro do tremor.

Já o tsunami meteorológico, como o nome diz, é provocado por eventos meteorológicos (da atmosfera) e ocorre mais localmente. É mais propício na primavera e no verão, época de tempestades.

Apesar de raro, há registros de sua ocorrência em locais como Cabo Frio (RJ) e Florianópolis (SC). Uma onda mais forte atingindo a praia é algo perigoso para banhistas e pessoas que morem nas costas. Além disso, tempestades no mar também trazem riscos devido aos ventos, raios e trovões.

Carros arrastados por onda em Balneário Rincão (SC). Ao fundo, nuvem de tempestade que provoca tsunami meteorógico

Como se forma

Um tsunami meteorológico ocorre quando um conjunto de cúmulo-nimbo, a nuvem que provoca as tempestades, se propaga em paralelo sobre o oceano. Nesse cenário, uma grande onda pode se formar caso as ondas do mar também estejam alinhadas a essas nuvens.

“Ocorre uma ressonância entre a onda de pressão [nuvem] e a onda do mar, que se aproxima da costa, cresce em amplitude e pode inundar a região costeira”, explica Renato Ramos da Silva, professor de física da atmosfera da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Em uma tempestade, o ar sobe, formando uma zona de baixa pressão atmosférica. Tal mudança nas condições atmosféricas ocorre de forma brusca. Essa formação é chamada de linha de instabilidade. Seu rápido deslocamento acoplado às ondas do mar faz com que a onda ganhe tamanho.

O nome tsunami meteorológico, contudo, não é consenso entre os meteorologistas. Para José Carlos Figueiredo, meteorologista da Unesp, a grande onda que se verificou em SC é comum no Nordeste, sem contudo ser chamada de tsunami.

“Em algumas praias, há ondas que invadem a areia. O avanço pode ser provocado por tempestades naturais no mar”, diz Figueiredo. Ele lembra ainda que ciclones que ocorrem no Sul do Brasil provocam ressacas em praias de SP e RJ. Nesses episódios, fortes ondas também invadem a costa.

Para o meteorologista, outro fenômeno, conhecido como “downburst”, pode explicar para a grande onda que atingiu as praias catarinenses. Nesse tipo de evento, a chuva, “em vez de precipitar normal e pausadamente, precipita tudo de uma vez”, explica. A grande chuva poderia, assim, ter levado a formação de uma onda maior.

Difícil de prever

Tsunamis meteorológicos não são nada fáceis de serem previstos. Isso porque sua ocorrência é muito localizada, dependendo da formação de tempestades em um ponto do oceano e das condições do mar um lugar específico.

Segundo Silva, para prever o fenômeno a tempo de avisar a população seria necessária “uma boa previsão meteorológica junto de um modelo oceânico de previsão de ondas”.

* Com colaboração de Gabriel Francisco Ribeiro

Relembre tornado que atingiu SC

27.abr.2015 – A presidente Dilma Rousseff sobrevoa o município de Xanxerê, em Santa Catarina, e observa os estragos provocados pelo tornado que devastou a cidade do interior catarinense (situada a 551 km de Florianópolis), na última segunda-feira (20). De acordo com o último balanço da Defesa Civil, 4.275 pessoas estão desalojadas e há 539 desabrigadas em Xanxerê, por conta dos ventos que ultrapassaram a velocidade de 250 km/h  VEJA MAIS > Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR

Uncertainty in Brazil, Vitality in Its Art (New York Times)

SÃO PAULO, Brazil — Biennial art exhibitions were founded in the 1890s at almost the same time as the Olympics, and they serve a similar purpose: to bring attention to the cities that host them and the nations that participate in them. But where the Olympics are still a rather contained affair, art biennials are proliferating like art fairs, becoming homogeneous and forgettable.

The 32nd São Paulo Biennial, through Dec. 11, consciously tries to buck this trend by positioning itself as locally sensitive and globally pertinent. And its timing is perfect. On the heels of the Rio Olympics and the impeachment of Brazil’s president Dilma Rousseff, the exhibition embraces, rather than denies, the problems of the region.

Organized by Jochen Volz, the show includes 81 artists from 33 countries. Its title, “Incerteza Viva” — translated as “Live Uncertainty” — refers to political instability, climate change, huge disparities of wealth, migration and other international problems, but also suggests art’s ability to thrive in the unknown and suggest visionary solutions.

This is particularly true on the first floor of the pavilion built by Oscar Niemeyer, which showcases Brazilian art with an international context: The artist Bené Fonteles has erected a “terreiro,” or ceremonial structure made of clay with a thatched roof, in an attempt to connect traditional Brazilian practices with contemporary art ones.

Objects used by an indigenous shaman sit alongside photos of Marcel Duchamp and John Lennon and Yoko Ono and a copy of João Guimarães-Rosa’s novel “Grande Sertão: Veredas” (1956) — in English, it was “The Devil to Pay in the Backlands”— a masterpiece of modern Brazilian literature. (Incorporating archaic dialects, it has been compared to Joyce’s “Finnegans Wake.”)

One of the most beautiful works in the Biennial is Jonathas de Andrade’s “The Fish” (2016), in which he filmed fishermen in the mangroves of northeast Brazil who still use traditional methods like nets and harpoons. For the video, Mr. de Andrade had the fishermen hold a caught fish to their chests, as if cradling a baby, until it takes its last breath.

At the São Paulo Biennial, the artist Bené Fonteles has erected a “terreiro,” or ceremonial structure made of clay with a thatched roof, in an attempt to connect traditional Brazilian practices with contemporary art ones.Credit Leo Eloy/Estúdio Garagem/Fundação Bienal de São Paulo. 

The video is a shockingly intimate depiction of life, death and the relationship of predator and prey — but also a reminder of our connection with other species — a fact that gets lost in the hyper-industrialized world.

The Brazilian director Leon Hirszman’s films from the 1970s documenting rural laborers singing as they work expand upon this idea. Mr. Hirszman describes the songs, which relieved boredom and shaped the rhythm and movements of the work, as “endangered” cultural products. You can’t sing, after all, over the sounds of industrial machines — or in your corporate cubicle.

Folk art and craft-based practices, often seen as an antidote to digital culture and social media, have been very popular on the biennial circuit in recent years. Folk-inspired art here includes Gilvan Samico’s prints influenced by mythology and carving in northeastern Brazil, and the visionary 1950s and ’60s work by Oyvind Fahlstrom, a Swedish multimedia artist who championed concrete poetry — a visual way of finding liberation through patterns of words and typography. The neo-hippie installation by Wlademir Dias-Pino, “Brazilian Visual Encyclopedia” (1970-2016), is a wild compendium of collages made with found materials.

The Biennial organizers stress that “Live Uncertainty” was intended to interact with the surrounding Ibirapuera Park, a habitat for indigenous tribes before the Europeans arrived. But even nature is a contested term these days, especially in Brazil, where the rain forest and grasslands were seen as obstacles to be conquered. Even Niemeyer, the architect whose futuristic buildings are scattered throughout the park, originally planned to pave over the area in an attempt to tame (if symbolically) Brazil’s unruly wilderness.

The exhibition includes installations by Pia Lindman and Ruth Ewan, which incorporate live plants, and Eduardo Navarro’s sculptural megaphone, which twists out the window to let visitors talk to a palm tree. Brazilian wood — often seen as “exotic” and hence harvested to the brink of extinction — earns a category of the Biennial unto itself.

Carolina Caycedo’s excellent video looks at how river development has affected communities in Brazil’s interior. In Rachel Rose’s video, an astronaut, David Wolf, describes how it’s harder to acclimate to Earth, with its overwhelming smells of grass and air, and gravity, than to outer space.

Jochen Volz, the curator of the São Paulo Biennial, which continues through Dec. 11.CreditNelson Almeida/Agence France-Presse — Getty Images 

 

What started in the ’90s as “identity art,” the idea that an individual’s identity consists of multiple factors, including gender, race, ethnicity, class and sexuality, has now blossomed into investigations of “the post-human,” which could mean a robot or an extraterrestrial.

Lyle Ashton Harris provides some grounding of these cultural shifts in his beautiful assemblage of photographs from this American artist’s journals intertwined with video. Much of his archive is from the late ’80s and ’90s, coinciding with landmark events such as the Black Popular Culture Conference in 1991, the truce between the Crips and the Bloods in 1992 and the Black Nations/Queer Nations conference in 1995.

Cecilia Bengolea and Jeremy Deller’s video highlights a competitive dancer in Jamaican dancehall music culture, echoing the importance of popular music and identity that reverberates throughout the show.

Another tic of biennials is their expansionist tendency: Tired of the white cube, artists and curators would rather inhabit shops, hospitals, schools. This seems like a democratic move, but it often functions in just the opposite way, expending a huge amount of viewers’ time and energy.

“Live Uncertainty” remains mostly — thankfully — in the pavilion. One outside work included William Pope.L’s roving performance with a small contingent of local dancers, which took place over three days. Performers moved through the city in costumes inspired by debutante festivals. They made a sharp contrast with demonstrators who were springing up, too, protesting the president’s impeachment.

Biennials are now given the impossible task of making sense not only of contemporary art but also contemporary history, politics, philosophy, economics, the environment and beyond — all the while remaining sensitive to local culture and cognizant of global developments.

With this tall order, “Live Uncertainty” does an admirable balancing act, arguing for the vitality of indigenous knowledge and experience, and of wisdom drawn from the people who inhabited this hemisphere long before Europeans arrived. Given the current climate of uncertainty in Brazil, this makes more than a little good sense.