Arquivo mensal: maio 2023

Esquerda e direita dirigem o mesmo trem colonialista, diz quilombola Antônio Bispo (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Autor de ‘A Terra Dá, a Terra Quer’ afirma não ver diferenças entre Lula e Bolsonaro quando o assunto é mineração em terras de quilombos

Marina Lourenço

28 de maio de 2023


Antonio Bispo dos Santos. Foto: Alexia Melo

Colonizar um povo é como adestrar um boi. Ambas ações consistem na remoção da identidade, mudança de território e condenação do modo de vida alheio. Essa é a associação que Antônio Bispo dos Santos, também conhecido como Nêgo Bispo, faz em “A Terra Dá, a Terra Quer”.

Lançado nesta segunda (29), o livro desmancha conceitos como ecologia, desenvolvimento e decolonialidade —a contraposição ao pensamento de perspectiva colonialista e eurocêntrica.

O autor propõe o que chama de contracolonialismo, que seria a recusa de um povo à colonização, o que, segundo ele, é praticado há séculos por africanos, indígenas e quilombolas.

Nascido na comunidade Saco do Curtume, no Piauí, Bispo ganhou notoriedade em movimentos sociais, na década de 1990, quando chegou a se filiar a partidos políticos, que abandonou anos depois. Desde então, se voltou para a defesa dos povos quilombolas.

Nesta entrevista, o autor comenta conceitos do novo livro, a polarização política no país, a relação do presidente Lula (PT) com os quilombos e programas como Minha Casa, Minha Vida.

Em “A Terra Dá, a Terra Quer”, o sr. critica o colonialismo e se opõe à chamada decolonialidade, termo cada vez mais usado em contraposição ao pensamento colonial. Em vez disso, fala em contracolonialismo. Por quê? Só pode ser decolonizado quem foi colonizado. Qualquer pessoa que se sinta colonizada pode lutar para ser um decolonial.

Mas decolonialidade é uma teoria, não trajetória. Nunca existiu um movimento decolonial que tenha atuado de forma resolutiva em prol de um povo. O contracolonialismo é diferente. Os quilombos não foram colonizados.

O povo da academia que se diz progressista e só lê autores europeus, sim, precisa se decolonizar.

O sr. também diz preferir usar ‘colonialismo’ a ‘racismo’. É bom discutir racismo, mas ele é apenas um dos elementos colonialistas. Quando se fala em racismo, habitualmente as pessoas pensam na sociedade eurocristã. O colonialismo vai além disso. É para todas as vidas existentes.

Como combater o colonialismo? Não queremos matar os colonialistas. Por isso, falo ‘contracolonialismo’. É uma fronteira que estamos estabelecendo entre nós e a sociedade eurocristã monoteísta.

[O extinto quilombo dos] Palmares poderia ter destruído o Recife, mas não devemos destruir nada. Nossa proposta é dizer: ‘Vivam do jeito de vocês e viveremos do nosso, mas, se porventura, perceberem que o nosso é bom, nos deixem ensinar’.

Além do contracolonialismo, o sr. destrincha o conceito de cosmofobia, que seria uma desconexão entre a humanidade e a natureza. Se opondo a essa lógica, diz, então, que não é humano, mas sim, quilombola. Em termos práticos, o que quer dizer? O povo eurocristão monoteísta tem medo do próprio Deus, da natureza, do cosmo. É tanto medo que tem dificuldade de se relacionar com rios, terra, vento —daí a palavra ‘cosmofobia’.

Em Gênesis, quando Adão e Eva estavam no caminho do Éden, interagiam com tudo, não precisavam trabalhar, se submeter a uma ordem externa. Mas Deus humaniza eles, cria o terror e diz que a terra será maldita porque comeram o fruto proibido. É a Bíblia que cria os seres humanos —e quem está fora dela é selvagem.

Nós, quilombolas, convivemos em harmonia com as demais vidas. Os quilombos são lugares de relacionamentos. As cidades, de civilizações. Precisamos animalizar a humanidade e desumanizar a animalidade.

Como assim? Só os humanos usam a linguagem escrita. Nós, outros seres, nos comunicamos de outras formas, inclusive sonora. Passamos a vida ouvindo esse povo das escrituras dizer que não sabemos ler. Ora, os humanos não sabem falar.

Ainda nessa linha de escrita versus oralidade, o sr. diz que em comunidades quilombolas as histórias são passadas de boca em boca, sem nenhuma monetização. Por que decidiu se tornar escritor? Não sou escritor. Sou uma pessoa que escreve para estabelecer uma fronteira entre os saberes. Sou um lavrador que também lavra palavras.

Quando a escola escrita chegou à nossa comunidade, no fim dos anos 1960, nosso povo se recusou a participar, mas ao ver que perderia tudo se continuasse assim, colocou as crianças para estudar a linguagem das escrituras. Entrei na escola para isso.

Me tornei um tradutor da comunidade. Não vou negar que sei falar e escrever muito bem. Mas decidi escrever somente três livros [dois foram lançados] porque sou mesmo da oralidade.

Ao traçar uma relação entre favelas e quilombos, o sr. critica programas como o Minha Casa, Minha Vida e o antigo Fome Zero, os classificando como colonialistas. Não há nada neles para elogiar? Nada é apenas bom ou apenas ruim. O problema desses programas é que tiram das pessoas o direito de arquitetar, compor e plantar o que querem. Claro, melhor ter Fome Zero do que deixar morrer de fome. É melhor ter o Minha Casa, Minha Vida do que ficar na rua. Mas não são coisas para festejar. São para escapar.

O Minha Casa, Minha Vida tirou a laje das favelas. As casas são pequenas, não têm quintal. As pessoas ficaram confinadas, sem festa.

No Piauí, o Fome Zero foi lançado em Guaribas [município que, na época, era considerado um dos mais pobres do país]. Nunca houve debate com as pessoas de lá. Falavam que ali era pobre porque não tinha nem restaurante nem hotel, mas gente rica não precisa disso.

O sr. também critica alguns discursos ambientalistas. O que o levou a isso? Tem muito ambientalista que vive nas cidades mas quer consertar a floresta. É engraçado. As cidades estão alagadas, cheias de lixo, mas querem mexer onde não sabem viver.

O livro traz a ideia de que, na prática, não há diferença entre gestão de esquerda e de direita. Nos últimos anos, o Brasil entrou numa crescente polarização política. Como analisa isso? A direita e a esquerda são maquinistas que dirigem o mesmo trem colonialista. Escolher o vagão permite decidir os passageiros com quem você vai viajar. Mas a viagem é a mesma, vai para o mesmo caminho.

É preciso uma mudança estrutural. Cabe a nós, quilombolas e indígenas, extrair tudo o que pudermos deste Estado para criar nossas próprias estruturas.

Lula não fez reforma agrária favorável aos agricultores familiares porque não teve coragem. Fez reforma agrária para o agronegócio. Ele diz que acabou com a fome do povo e fará isso de novo. Ora, o que acabou, acabou. Se voltou é porque não acabou.

E quanto à gestão Bolsonaro? Não tive a oportunidade de extrair tanto dele, mas pude conhecer melhor o Estado e certas pessoas. Foi um governo sem máscaras, literalmente —nem contra Covid nem política.

Também serviu para quebrar alguns intermediários. Tinham setores da esquerda que nunca protagonizavam a própria vida mas queriam mexer na nossa.

Para nós, quilombolas, foi o momento de preparar nossas defesas e refletir. Agora, ninguém trata Lula igual das outras vezes.

Há semelhanças entre Lula e Bolsonaro? Qual a diferença entre Bolsonaro e um governo que autoriza a mineração em território quilombola sem cumprir os protocolos da Convenção 169? Do ponto de vista da mineração, não há diferença. Quem manda são as mineradoras.

O que quero dizer é que, sim, Bolsonaro e Lula são diferentes, mas essas diferenças não são tão favoráveis.

O que Lula fez para o povo quilombola? Criou o quê? Qual é o nosso espaço de poder dentro deste governo? Pergunto porque é dos amigos que a gente deve cobrar o melhor acolhimento.

Apesar de hoje dizer que direita e esquerda caminham juntas para o mesmo destino, o sr. já foi filiado ao PSB e ao PT, considerados de esquerda. O que fez se desvincular desse meio? Atuei em movimento sindical, partido e movimentos sociais por um bom tempo. Ao contrário da minha criação, me deparei com um conhecimento todo escriturado. Tentaram me convencer de que a sociedade era composta por duas classes, a trabalhadora e a patronal. Eu nasci e me criei na roça, numa comunidade quilombola. Como lavrador, nunca fui ou tive patrão.

Também diziam que os quilombos são formados por povos que fugiram da escravidão. Isso é muito pouco. [Na época da escravidão] Você podia fugir e aceitar trabalhar na condição dos colonos, mas não foi o que aconteceu com os quilombolas. Os quilombos continuam resistindo ao sistema como um todo.

Desde então, qual sua relação com a política? A última vez que votei foi em 1996, e em 1998, me desvinculei do movimento sindical. Hoje participo de uma mobilização para estruturamos a nossa comunidade. Essa é a nossa grande luta de defesa.


RAIO-X | ANTÔNIO BISPO DOS SANTOS, 63
É membro da comunidade Saco do Curtume, no Piauí, onde atua em defesa dos povos quilombolas. Seus livros lançados são “Colonização, Quilombos, Modos e Significações” e “A Terra Dá, a Terra Quer”.

Surgeon General Warns That Social Media May Harm Children and Adolescents (New York Times)

The report by Dr. Vivek Murthy cited a “profound risk of harm” to adolescent mental health and urged families to set limits and governments to set tougher standards for use.

nytimes.com

By Matt RichtelCatherine Pearson and Michael Levenson

May 23, 2023


Dr. Murthy testifying before the Senate Finance Committee on Capitol Hill on youth mental health in 2022.
Dr. Murthy testifying before the Senate Finance Committee on Capitol Hill on youth mental health in 2022. Credit: Susan Walsh/Associated Press

The nation’s top health official issued an extraordinary public warning on Tuesday about the risks of social media to young people, urging a push to fully understand the possible “harm to the mental health and well-being of children and adolescents.”

In a 19-page advisory, the United States surgeon general, Dr. Vivek Murthy, noted that the effects of social media on adolescent mental health were not fully understood, and that social media can be beneficial to some users. Nonetheless, he wrote, “There are ample indicators that social media can also have a profound risk of harm to the mental health and well-being of children and adolescents.”

The report included practical recommendations to help families guide children’s social media use. It recommended that families keep mealtimes and in-person gatherings free of devices to help build social bonds and promote conversation. It suggested creating a “family media plan” to set expectations for social media use, including boundaries around content and keeping personal information private.

Dr. Murthy also called on tech companies to enforce minimum age limits and to create default settings for children with high safety and privacy standards. And he urged the government to create age-appropriate health and safety standards for technology platforms.

Adolescents “are not just smaller adults,” Dr. Murthy said in an interview on Monday. “They’re in a different phase of development, and they’re in a critical phase of brain development.”

The report, effectively elevating long-simmering concerns around social media in the national conversation, came as state and federal lawmakers, many of them raised in an era when social media barely existed or didn’t exist at all, have been struggling with how to set limits on its use.

Montana’s governor recently signed a bill banning TikTok from operating in the state, prompting the Chinese-owned app to file a lawsuit and young TikTok users to lament what one called a “kick in the face.” In March, Utah became the first state to prohibit social media services from allowing users under 18 to have accounts without the explicit consent of a parent or guardian. That law could dramatically curtail young people’s access to apps like Instagram and Facebook.

Survey results from Pew Research have found that up to 95 percent of teens reported using at least one social media platform, while more than one-third said they used social media “almost constantly.” As social media use has risen, so have self-reports and clinical diagnoses among adolescents of anxiety and depression, along with emergency room visits for self-harm and suicidal ideation.

The report could help encourage further research to understand whether these two trends are related. It joins a growing number of calls for action around adolescents and social media. Earlier this month, the American Psychological Association issued its first-ever social media guidance, recommending that parents closely monitor teens’ usage and that tech companies reconsider features like endless scrolling and the “like” button.

A large body of research has emerged in recent years on the potential connection between social media use and soaring rates of distress among adolescents. But the results have been consistent only in their nuance and complexity.

An analysis published last year, examining research from 2019 to 2021 on social media use and mental health, found that “most reviews interpreted the associations between social media use and mental health as ‘weak’ or ‘inconsistent,’ whereas a few qualified the same associations as ‘substantial’ and ‘deleterious.’”

At their clearest, the data indicate that social media can have both a positive and negative impact on the well-being of young people, and that heavy use of social media — and screen time generally — appears to displace activities like sleep and exercise that are considered vital to developing brains.

On the positive side, social media can help many young people by giving them a forum to connect with others, find community and express themselves.

At the same time, the surgeon general’s advisory noted, social media platforms brim with “extreme, inappropriate and harmful content,” including content that “can normalize” self-harm, eating disorders and other self-destructive behavior. Cyberbullying is rampant.

Moreover, social media spaces can be fraught for young people especially, the advisory added: “In early adolescence, when identities and sense of self-worth are forming, brain development is especially susceptible to social pressures, peer opinions and peer comparison.”

The advisory noted that technology companies have a vested interest in keeping users online, and that they use tactics that entice people to engage in addictive-like behaviors. “Our children have become unknowing participants in a decades-long experiment,” the advisory states.

A spokesperson for Meta, the owner of Instagram and Facebook, said that the advisory included recommendations that “are reasonable and, in large part, Meta has already implemented.” Those measures include automatically making the accounts of people under 16 private when they join Instagram and limiting the types of content teens can see on the app.

TikTok did not immediately respond to requests for comment on Tuesday afternoon.

The advisory did not provide guidance on what a healthy use of social media might look like, nor did it condemn social-media use for all young people. Rather, it concluded, “We do not yet have enough evidence to determine if social media is sufficiently safe for children and adolescents.”

The surgeon general’s position lacks any real power beyond its potential as a bully pulpit, and Dr. Murthy’s advisory does not carry the force of law or policy. It was intended, the report said, to call Americans’ attention to “an urgent public health issue” and to make recommendations for how it should be addressed.

Similar reports from past surgeons general helped to shift the national conversation around smoking in the 1960s, drew attention to H.I.V. and AIDS in the 1980s and declared in the early 2000s that obesity had become a nationwide epidemic. Dr. Murthy has declared gun violence to be an epidemic and has decried what he has called a “public health crisis of loneliness, isolation, and the lack of connection in our country.”

In the interview on Monday, Dr. Murthy acknowledged that the lack of clarity around social media was a heavy burden for users and families to bear.

“That’s a lot to ask of parents, to take a new technology that’s rapidly evolving and that fundamentally changes how kids perceive themselves,” Dr. Murthy said. “So we’ve got to do what we do in other areas where we have product safety issues, which is to set in place safety standards that parents can rely on, that are actually enforced.”

Remy Tumin contributed reporting.

Matt Richtel is a best-selling author and Pulitzer Prize-winning reporter based in San Francisco. He joined The Times in 2000, and his work has focused on science, technology, business and narrative-driven storytelling around these issues. @mrichtel

Catherine Pearson is a reporter for the Well section of The Times, covering families and relationships.

Michael Levenson joined The Times in December 2019. He was previously a reporter at The Boston Globe, where he covered local, state and national politics and news.

A version of this article appears in print on May 24, 2023, Section A, Page 1 of the New York edition with the headline: Advisory Says Teens Face Risk On Social Sites.

Como é calculada chance de chuva que serviços de meteorologia divulgam (Folha de SP/BBC)

www1.folha.uol.com.br

Quanto mais específicos e precisos forem os dados atmosféricos coletados na área observada, mais precisa será a probabilidade.

Rafael Abuchaibe

29 de abril de 2023


Se você é daqueles que não sai de casa sem antes conferir a previsão do tempo, certamente já se perguntou por que a porcentagem de chuva oferecida pela maioria dos serviços de meteorologia nem sempre corresponde ao que você vê pela janela.

“Porque representa as chances de chover na sua cidade“, alguém já deve ter respondido, quase surpreso com o quão básica parecia ser a resposta à sua pergunta:

“E as estatísticas nunca são 100% precisas.”

Outros, tendo indagado um pouco mais sobre o assunto, podem ter dito que o que o percentual representa é a área do território em que vai chover durante um determinado período de tempo (por exemplo, “das 9h às 12h”).

E para colocar mais lenha na fogueira, você deve ter visto alguns vídeos do TikTok explicando que o que a porcentagem reflete é a certeza dos meteorologistas de que vai chover em uma determinada área, com base em medições de fatores como temperatura, pressão atmosférica e velocidade do vento.

Diante de explicações tão variadas e distintas para algo que parece ser tão simples, a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, resolveu buscar uma explicação mais exata para o que aquele número representa —e percebeu que, de certa forma, todo mundo tem razão.

Probabilidade de precipitação

Para poder estabelecer o que essa porcentagem realmente significa, vamos começar revisando a definição dada pelo Serviço Meteorológico dos EUA:

“A probabilidade de precipitação representa simplesmente a probabilidade estatística de que haja 0,01 polegadas [0,25 mm] ou mais de precipitação [seja chuva, neve ou granizo] em uma determinada área dentro do período de tempo especificado.”

A porcentagem leva em consideração diferentes fatores para expressar em um valor estatístico a probabilidade de ocorrer precipitação em um determinado ponto.

“Vejamos um exemplo do que essa probabilidade significa”, diz o serviço meteorológico em sua definição.

“Se a previsão para um determinado distrito diz que há 40% de probabilidade de chuva para esta tarde, isso significa que há 40% de chance de chover em algum lugar do distrito entre meio-dia e 18h”, acrescenta.

Com base nessa definição, quanto mais específicos e precisos forem os dados atmosféricos coletados na área observada, mais preciso será o percentual de probabilidade.

Isso explica por que os dados fornecidos por diferentes serviços meteorológicos variam (embora não muito).

Duas medições, mesmo resultado

Para poder fazer uma previsão, um analista meteorológico multiplica dois fatores: a certeza que tem de que um sistema de precipitação vai se formar ou se aproximar, calculado por meio de medições atmosféricas, pela extensão —área física— que se espera que tal precipitação tenha no território analisado.

A esse resultado, basta mover duas casas decimais, e a probabilidade de precipitação é obtida.

Isso indica que é possível chegar à mesma porcentagem de precipitação tendo valores diferentes para cada fator.

Para ver essa ideia na prática, vamos voltar ao nosso exemplo do distrito com 40% de probabilidade de precipitação: se um analista tivesse 80% de certeza de que vai chover naquele distrito (medindo a velocidade do vento, a temperatura do ar, a umidade etc.), mas só espera que o sistema de precipitação cubra 50% da área, ele dirá que há uma “probabilidade de 40% de chuva” durante esse período de tempo.

Por outro lado, se outro analista estimasse que a precipitação iria cobrir 100% da área analisada, mas só tivesse 40% de certeza de que essa precipitação iria atingir o distrito, ele obteria o mesmo resultado: “40% de probabilidade de chuva em qualquer ponto do distrito durante esse período de tempo.”

Pequenas variações entre os sistemas

Cada meteorologista terá seus próprios modelos de medição e coleta de dados para calcular a probabilidade de precipitação nos locais que analisa —e alguns serão mais precisos que outros.

O importante é identificar o quão precisos são os métodos de coleta de dados atmosféricos que cada serviço possui na área específica em que você se encontra, algo que pode ser feito comparando-os e analisando qual deles se adequa melhor à realidade que você observa pela janela.

E, claro, não se pode esquecer que, por se basear em modelos probabilísticos, a meteorologia está longe de ser infalível.

Se você confiar apenas na previsão do tempo, é inevitável que um dia, por melhor que seja o sistema que usa, você saia de casa sem guarda-chuva com base na previsão do aplicativo —e seja pego na rua por um temporal.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

Nuvens transportam bactérias resistentes a antibióticos, revela estudo (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Pesquisadores afirmam, porém, que as pessoas não precisam ter medo de sair na chuva

29 de abril de 2023


Para uma equipe de pesquisadores canadenses e franceses, as nuvens escuras no horizonte são potencialmente ameaçadoras, e não porque sinalizam a chegada de uma tempestade. Um estudo revela que elas transportam por longas distâncias bactérias resistentes a medicamentos.

“Essas bactérias costumam viver na superfície da vegetação, como em folhas, ou no solo”, explicou Florent Rossi, principal autor do estudo, em entrevista à AFP na sexta-feira (28). “Descobrimos que elas são transportadas pelo vento para a atmosfera e podem viajar por longas distâncias ao redor do mundo, em grandes altitudes, nas nuvens.”

A descoberta foi publicada na edição do mês passado da revista Science of The Total Environment. Pesquisadores da universidade canadense Laval e da universidade francesa Clermont Auvergne buscaram genes resistentes a antibióticos em bactérias encontradas em amostras de nuvens coletadas em uma estação de pesquisa atmosférica localizada 1.465 m acima do nível do mar, no topo do vulcão inativo francês Puy-de-Dôme, entre setembro de 2019 e outubro de 2021.

Uma análise da névoa recuperada revelou que a mesma continha entre 330 e mais de 30 mil bactérias por mililitro de água de nuvem, com uma média de cerca de 8.000 bactérias por mililitro.

Também foram identificados 29 subtipos de genes resistentes a antibióticos nas bactérias. A resistência ocorre quando a bactéria é exposta a antibióticos e desenvolve imunidade aos mesmos ao longo de gerações.

Autoridades sanitárias já alertaram que estas adaptações estão se tornando o que o estudo descreveu como “grande preocupação sanitária em nível mundial”, o que dificulta e, por vezes, impossibilita o tratamento de algumas infecções bacterianas, uma vez que o uso de antibióticos segue aumentando na saúde e agricultura.

O estudo não tira conclusões sobre os possíveis efeitos à saúde da disseminação de bactérias resistentes a antibióticos, pois estima que apenas 50% destes organismos poderiam estar vivos e potencialmente ativos.

Rossi sugeriu que os riscos devem ser baixos. “A atmosfera é muito estressante para as bactérias, e a maioria das que encontramos eram bactérias ambientais”, que têm menos chances de serem nocivas ao homem, explicou. “As pessoas não precisam ter medo de sair na chuva. Não está claro se esses genes seriam passados para outras bactérias.”

O monitoramento atmosférico, no entanto, poderia ajudar a localizar as fontes das bactérias resistentes aos fármacos, de forma semelhante aos testes de águas residuais para a Covid-19 e outros patógenos, “a fim de limitar a sua propagação”, ressaltou Rossi.

Why Blowing Up Pipelines Will Not Solve The Climate Crisis (Forbes)

forbes.com

Nives Dolsak and Aseem Prakash

May 1, 2023,01:18am EDT


Permian Basin In West Texas In The Spotlight As Oil Prices Soar
MIDLAND, TEXAS – A petroleum pipeline running along the ground in the Permian Basin oil field on March 13, 2022 in Midland, Texas. (Photo by Joe Raedle/Getty Images)

Does slow climate progress justify violence against fossil fuel infrastructure? This subject was thrust into the limelight by a recent movie, How to Blow Up a Pipeline, which is based on the book by Andreas Malm. In the film, eight activists seek to blow up a fossil fuel pipeline in Texas’ Permian Basin. Their argument is that given the severity of the climate crisis and the role of fossil fuel companies in enabling it, they have the moral authority to damage fossil fuel infrastructure.

In recent years, some climate groups have resorted to disruptive action to focus public attention on climate policy lethargy. Activists have thrown tomato soups on paintings in prominent museums, blocked trains and major highways, picketed oil terminals, and glued themselves to the floor of BMW showrooms. So, why not escalate disruption by attacking fossil fuel infrastructure?

The Logic of Disruptive Action

Some suggest that radical action increases support for mainstream groups and facilitates policy action: social movement scholars call it the “radical flank effect.” Scholars have studied this tactic in the context of the emergence of democratic institutions, the women’s movement, the anti-nuclear movement, and the civil rights movement.

Yet, when it comes to the climate question, some surveys suggest that the public does not support disruptive action. Indeed, Extinction Rebellion (XR), a prominent UK-based climate group, recently announced that that it will temporarily suspend mass disruptive action. This motivated a group of scholars to write an open letter in support of nonviolent direct action. They underlined the idea that radical action does not equal violence.

Why is violence problematic? Apart from the moral and legal issues, violent activism undermines the climate cause and diminishes positive sentiments about climate advocacy in policy conversations. Moreover, the theory of change motivating violent action is weak. Most in the world recognize the climate challenge. Climate inaction does not reflect media neglecting climate change which can be corrected by newsworthy action. It reveals deeper distributional conflicts rooted in pushback from the fossil fuel industry and unions, fossil-fuel-dependent communities, rural residents opposing renewable energy projects, and the working class opposing higher energy prices. Thus, slow climate progress is not a simple story of the ruling capitalist class impeding policy change over the objections of the majority.

This means that the movement should resolve these complex issues through political mechanisms. Moreover, violence-based activism allows climate opponents to brand climate movement as eco-terrorism. At least 17 U.S. states have enacted “critical infrastructure” laws criminalizing protests against fossil fuel pipelines. Violent actions to damage fossil fuel infrastructure will justify their actions and even motivate a wider crackdown.

Moral and Legal Implications of Property Violence

In How to Blow Up a Pipeline, eight activists view property violence as an advocacy tactic because they feel this is the only way forward and their lived experiences have convinced them about the moral justification for their actions. The problem with this position is that individuals prioritize different issues. Many also feel disenfranchised. Should these aggrieved individuals resort to violence? Who decides which issues are worthy of violent advocacy and which are not?

Democracies have a process for policy change. Sometimes, the policy we favor gets enacted, and sometimes it does not. If we feel that policy inaction causes an existential crisis, we are frustrated. But we can voice our frustration in elections, in the media, and through non-violent advocacy. This is how citizens negotiate their differences. A commitment to ballots not bullets is crucial because both liberals and conservatives have grievances. We must ensure that grievances do not spin out of control into violence—especially important in this era of sharp polarization and angry rhetoric.

Some might argue that violence against property is different from violence against people, and property violence against corporations is different from say burning down the home of an individual. We disagree. The modern corporation’s functional logic is to pool resources from shareholders (both individuals and institutional investors such as pension funds) and use them to run a business. Eventually, violence against corporations is an attack on the livelihood and financial security of people whose assets the corporation manages.

This does not mean that activists should avoid subjecting corporations to economic pressure; they should do so through legal means. Shareholders can assess how their wealth might suffer because the firm faces problems on regulatory issues or social legitimacy grounds. The risk-return trade-off is a part of the bargain shareholders strike with corporations. And if shareholders consider corporate actions or inaction to be harmful, they can use economic and legal mechanisms such as shareholders’ vote or even divest.

What if property violence against corporations hurts the livelihood of impoverished communities? There is widespread poverty in many fossil fuel communities. They often view climate change as an elite issue favored by a predominantly urban climate movement. Might these communities view violence against fossil fuel infrastructure as an attack on their livelihood—on their very existence?

Even lesser actions such as transportation disruption can invite a backlash from affected parties. Consider the incident in London in 2019: “as XR began a second two-week mass mobilization in London, one local branch staged an action in Canning Town, a predominantly Black and Asian working-class neighborhood, in which several XR members clambered onto a subway car, preventing the train from leaving. Commuters dragged the protesters down onto the platform and beat them.”

About 24% of U.S. counties have enacted local ordinances to restrict solar and wind facilities. They view such facilities as spoiling rural landscapes. In some cases, environmental groups and native nations have joined protests against new renewable energy sites. There is also a backlash against new mining projects that will provide critical minerals for energy transition. The lesson is that some actors and communities oppose climate policies, not because they question climate science, but because they view climate action as imposing unfair burdens on them. To mitigate the opposition, underlying climate justice issues need to be addressed and violence is clearly the wrong way to accomplish this task.

What is the Way Forward?

Climate efforts are impeded by, among other things, rising energy prices. As the Ukraine crisis has reminded us, energy politics has economic and national security dimensions. Energy inflation provokes domestic backlash. This is why the Biden administration, which has shown a remarkable commitment to climate issues, sold oil from Strategic Petroleum Reserve and allowed the Willow project. Instead of dismantling pipelines, it is permitting new LNG infrastructure for exporting natural gas to Europe. The lesson is that supply disruptions by destroying fossil fuel pipelines will not serve the climate cause. They will probably do the opposite—by raising energy prices, they could motivate new drilling and investments in fossil fuel infrastructure.

Biden has enacted at least two major laws to fund climate transition, the Bipartisan Infrastructure Deal and the Inflation Reduction Act. It is undertaking administrative actions as well, as in vehicular tailpipe emissions. The reality is that in most countries, the climate movement is supported by the political establishment. Moreover, in the U.S., the movement now has the opportunity to take on the fossil fuel industry in the legal arena. Last week, the U.S. Supreme Court allowed local governments to sue the fossil fuel industry in state courts as opposed to federal courts which the industry wanted. It is possible that the industry might seek a settlement instead of risking jury trials, as happened with the tobacco industry, the opioid industry, and more recently Fox News. Thus, the movement should exploit these new legal opportunities to push the fossil fuel industry to take aggressive pro-climate actions.

Nives Dolsak is Stan and Alta Barer Professor in Sustainability Science and Director of the School of Marine & Environmental Affairs. Aseem Prakash is the Walker Family Professor and the Director of the Center for Environmental Politics. Both are at the University of Washington, Seattle.