Levantamento feito pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) nesta quinta-feira (8) mostra que nos últimos cinco anos, de 2012 a 2016, foram apenas 516 milímetros de chuva, em média, no Ceará. O índice é o menor desde 1910.
De acordo com o meteorologista Davi Ferran, vai ser preciso conviver com a incerteza pelos próximos meses, já que ainda é cedo pra afirmar se 2017 vai trazer chuva ou não.
Ano
Chuva (mm)
2012
388
2013
552
2014
565
2015
524
2016
550
Média
516
Fonte: Funceme
“No período chuvoso do ano que vem, ou seja, março, abril e maio, que é o período chuvoso principal, a maior probabilidade é que o Oceano Pacífico não tenha El Niño nem La Niña. Vamos ter o Oceano Pacífico neutro. Em anos de Oceano Pacífico neutro, a probabilidade de chuvas no Ceará depende mais fortemente do Atlântico. Então a previsão vai ser divulgada somente em janeiro”, explica.
Enquanto isso, segundo a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), os reservatórios secam cada vez mais. No momento, o nível médio dos 153 açudes monitorados pela Cogerh é de apenas 9,4% do volume total.O “Gigante” Castanhão, responsável por abastecer toda a Região Metropolitana de Fortaleza, está praticamente sem água. Há apenas sete anos, ele chegou a inundar a cidade de Jaguaribara com a enorme vazão das comportas.
Hoje, a Cogerh diz que o maior açude do Ceará está com apenas 6% da capacidade. Bem perto dele, o Açude Orós, também na Região Jaguaribana, sangrou em 2004 e 2008. Na época, virou até atração turística no Centro Sul do Estado.
Agora em 2016, o Orós aparece nesse cenário de seca em forma de ajuda. Desde julho, as águas do açude estão sendo transferidas para o Castanhão. Segundo a Cogerh, essa água deve chegar às residências da Região Metropolitana de Fortaleza em setembro, e garantir o abastecimento pelo menos durante esse período de crise hídrica.
“Nossa programação é até o final de janeiro. Ou seja, até janeiro vamos estar operando de forma integrada os dois reservatórios. O caso da Região Metropolitana, ela está totalmente integrada à Região do Jaguaribe por dois grandes canais: o do Trabalhador e Eixão das Águas. Então é o caso de uma bacia hoje tem uma maior dependência de outra região, de outra bacia hidrográfica, mas elas estão integradas. Esse é o caso que eu diria mais emblemática no Estado”, explica o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias.
O relatório da Cogerh também informa que, somente no mês de outubro o volume nos açudes caiu para 10% de sua capacidade.
Os reservatórios do Ceará estão exauridos por conta da seca prolongada
A Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) relatou a situação preocupante que vive o Ceará por conta da falta de chuvas, que faz o Estado enfrentar a pior seca dos últimos 90 anos.
Segundo a Cogerh, somente no mês de outubro o volume de água nos açudes cearenses caiu para 10 por cento. Dos 153 açudes monitorados pela companhia 131 têm menos de 30% da capacidade máxima e apenas um está com mais de 90%. Outros 42 estão com o volume morto e 38 completamente secos.
No mês de março, considerado o mais chuvoso da temporada de inverno, quando em média são esperados mais de 200 milímetros, o índice registrado foi de apenas 129 milímetros. Os dados confirmam o quinto ano seguido de chuvas abaixo da média no Ceará, ocasionando uma das maiores secas já registradas na história.
Lista dos açudes com volume morto:
Batente, Broco, Capitão Mor, Castro, Catucinzenta, Cipoada, Ema, Farias de Sousa, Flor do Campo, Fogareiro, Forquilha, Frios, Gerardo Atimbone, Jaburu II, Jatobá, Jatobá II, Jenipapeiro, Jenipapeiro II, João Luís, Macacos, Martinópole, Monsenhor, Tabosa, Parambu, Penedo, Pentecoste, Pesqueiro, Poço ds Pedra, Poço do Barro, Pompeu Sobrinho, Riacho da Serra, Riacho do Sangue, Rivaldo de Carvalho, Santo Antônio, Santo Antônio de Aracatiaçu, São Domingos II, São José II, São José III, Sítios Novos, Sucesso, Tejuçuoca, Várzea da Volta e Várzea do Boi.
Lista dos ançudes secos
Adauto Bezerra, Amanari, Barra Velha, Barragem do Batalhão, Bonito, Canafístula, Carão, Carmina, Carnaubal, Cedro, Cumpim, Desterro, Escuridão, Faé, Favelas, Forquilha II, Jerimum, Madeiro, Monte Belo, Nova Floresta, Pau Preto, Pirabibu, Potiretama, Premuoca, Quixabinha, Quixeramobim, Salão, Santa Maria de Aracatiaçu, Santo Antônio de Russas, São Domingos, São José I, São Mateus, Serafim Dias, Sousa, Trapiá II, Trici, Umari, Vieirão.
Sistema computacional desenvolvido por pesquisadores da USP e da Unicamp estabelece regras de racionamento de suprimento hídrico em períodos de seca
Pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp) desenvolveram novos modelos matemáticos e computacionais voltados a otimizar a gestão e a operação de sistemas complexos de suprimento hídrico e de energia elétrica, como os existentes no Brasil.
“A ideia é que os modelos matemáticos e computacionais que desenvolvemos possam auxiliar os gestores dos sistemas de distribuição e abastecimento de água e energia elétrica na tomada de decisões que têm enormes impactos sociais e econômicos, como a de decretar racionamento”, disse Paulo Sérgio Franco Barbosa, professor da FEC-Unicamp e coordenador do projeto, à Agência Fapesp.
De acordo com Barbosa, muitas das tecnologias utilizadas hoje nos setores hídrico e energético no Brasil para gerir a oferta e a demanda e os riscos de desabastecimento de água e energia em situações de eventos climáticos extremos, como estiagem severa, foram desenvolvidas na década de 1970, quando as cidades brasileiras eram menores e o País não dispunha de um sistema hídrico e hidroenergético tão complexo como o atual.
Por essas razões, segundo ele, esses sistemas de gestão apresentam falhas como não levar em conta a conexão entre as diferentes bacias e não estimar a ocorrência de eventos climáticos mais extremos do que os que já aconteceram no passado ao planejar a operação de um sistema de reservatórios e distribuição de água.
“Houve falha no dimensionamento da capacidade de abastecimento de água do reservatório Cantareira, por exemplo, porque não se imaginou que aconteceria uma seca pior do que a que atingiu a bacia em 1953, considerado o ano mais seco da história do reservatório antes de 2014”, afirmou Barbosa.
A fim de aprimorar esses sistemas de gestão de risco existentes hoje, os pesquisadores desenvolveram novos modelos matemáticos e computacionais que simulam a operação de um sistema de suprimento hídrico ou de energia de forma integrada e em diferentes cenários de aumento de oferta e demanda de água.
“Por meio de algumas técnicas estatísticas e computacionais, os modelos que desenvolvemos são capazes de fazer simulações melhores e proteger mais um sistema de suprimento hídrico ou de energia elétrica contra riscos climáticos”, disse Barbosa.
Sisagua
Um dos modelos desenvolvidos pelos pesquisadores em colaboração com colegas da University of California em Los Angeles, nos Estados Unidos, é a plataforma de modelagem de otimização e simulação de sistemas de suprimento hídrico Sisagua.
A plataforma computacional integra e representa todas as fontes de abastecimento de um sistema de reservatórios e distribuição de água de cidades de grande porte, como São Paulo, incluindo os reservatórios, canais, dutos, estações de tratamento e de bombeamento.
“O Sisagua possibilita planejar a operação, estudar a capacidade de suprimento e avaliar alternativas de expansão ou de diminuição do fornecimento de um sistema de abastecimento de água de forma integrada”, apontou Barbosa.
Um dos diferenciais do modelo computacional, segundo o pesquisador, é estabelecer regras de racionamento de um sistema de reservatórios e distribuição de água de grande porte em períodos de seca, como o que São Paulo passou em 2014, de modo a minimizar os danos à população e à economia causados por um eventual racionamento.
Quando um dos reservatórios do sistema atinge um volume abaixo dos níveis normais e próximo do volume mínimo de operação, o modelo computacional indica um primeiro estágio de racionamento, reduzindo a oferta da água armazenada em 10%, por exemplo.
Se a crise de abastecimento do reservatório prolongar, o modelo matemático indica alternativas para minimizar a intensidade do racionamento distribuindo o corte de água de forma mais uniforme ao longo do período de escassez de água e entre os outros reservatórios do sistema.
“O Sisagua possui uma inteligência computacional que indica onde e quando cortar o fornecimento de água de um sistema de abastecimento hídrico, de modo a minimizar os danos no sistema e para a população e a economia de uma cidade”, afirmou Barbosa.
Sistema Cantareira
Os pesquisadores aplicaram o Sisagua para simular a operação e a gestão do sistema de distribuição de água da região metropolitana de São Paulo, que abastece cerca de 18 milhões de pessoas e é considerado um dos maiores do mundo, com vazão média de 67 metros cúbicos por segundo (m³/s).
O sistema de distribuição de água paulista é composto por oito subsistemas de abastecimento, sendo o maior deles o Cantareira, que fornece água para 5,3 milhões de pessoas, com vazão média de 33 m³/s.
A fim de avaliar a capacidade de suprimento do Cantareira em um cenário de escassez de água e, ao mesmo tempo, de aumento da demanda pelo recurso natural, os pesquisadores realizaram uma simulação de planejamento do uso do subsistema em um período de dez anos utilizando o Sisagua.
Para isso, eles usaram dados de vazões afluentes (de entrada de água) do Cantareira entre 1950 e 1960, fornecidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
“Essa período de tempo foi escolhido como base para as projeções do Sisagua porque registrou secas severas, quando as afluências ficaram significativamente abaixo das médias por quatro anos seguidos, entre 1952 e 1956”, explicou Barbosa.
A partir dos dados de vazão afluente desse série histórica, o modelo matemático e computacional analisou cenários com demanda variável de água do Cantareira entre 30 e 40 m³/s.
Algumas das constatações do modelo foram que o Cantareira é capaz de atender uma demanda de até 34 m³/s em um cenário de escassez de água como ocorreu entre 1950 a 1960 com um risco insignificante de desabastecimento. Acima desse valor a escassez e, consequentemente, o risco de racionamento de água no reservatório aumenta exponencialmente.
Para que o Cantareira possa atender uma demanda de 38 m³/s em um período de escassez de água, o modelo indicou que seria preciso começar a racionar a água do reservatório 40 meses (3 anos e 4 meses) antes que o nível da bacia atingisse o ponto crítico, abaixo do volume normal e próximo do limite mínimo de operação.
Dessa forma, seria possível atender entre 85% e 90% da demanda de água do reservatório no período de seca até que ele recuperasse seu volume ideal, evitando um racionamento mais grave do que aconteceria caso fosse mantido o nível pleno de abastecimento do reservatório.
“Quanto antes for feito o racionamento de água de um sistema de abastecimento hídrico melhor o prejuízo é distribuído ao longo do tempo”, disse Barbosa. “A população pode se preparar melhor para um racionamento de 15% de água durante um período de dois anos, por exemplo, do que um corte de 40% em apenas dois meses”, comparou.
Sistemas integrados
Em outro estudo, os pesquisadores usaram o Sisagua para avaliar a capacidade de os subsistemas Cantareira, Guarapiranga, Alto Tietê e Alto Cotia atenderem as atuais demandas de água em um cenário de escassez do recurso natural.
Para isso, eles também utilizaram dados de vazões afluentes dos quatro subsistemas no período de 1950 a 1960.
Os resultados das análises feitas pelo método matemático e computacional indicaram que o subsistema de Cotia atingiu um limite crítico de racionamento diversas vezes durante o período simulado de dez anos.
Em contrapartida, o subsistema Alto Tietê ficou com volume de água acima de sua meta frequentemente.
Com base nessas constatações, os pesquisadores sugerem novas interligações para transferência entre esses quatro subsistemas de abastecimento.
Parte da demanda de água do subsistema de Cotia poderia ser fornecida pelos subsistemas de Guarapiranga e Cantareira. Por outro lado, esses dois subsistemas também poderiam receber água do subsistema Alto Tietê, indicaram as projeções do Sisagua.
“A transferência de água entre os subsistemas proporcionaria maior flexibilidade e resultaria em uma melhor distribuição, eficiência e confiabilidade do sistema de abastecimento hídrico da região metropolitana de São Paulo”, avaliou Barbosa.
De acordo com o pesquisador, as projeções feitas pelo Sisagua também indicaram a necessidade de investimentos em novas fontes de abastecimento de água para a região metropolitana de São Paulo.
Segundo ele, as principais bacias que abastecem São Paulo sofrem de problemas como a concentração urbana.
Em torno da bacia do Alto Tietê, por exemplo, que ocupa apenas 2,7% do território paulista, está concentrada quase 50% da população do Estado de São Paulo, superando em cinco vezes a densidade demográfica de países como Japão, Coréia e Holanda.
Já as bacias de Piracicaba, Paraíba do Sul, Sorocaba e Baixada Santista – que representam 20% da área de São Paulo – concentram 73% da população paulista, com densidade demográfica superior ao de países como Japão, Holanda e Reino Unido, apontam os pesquisadores.
“Será inevitável pensar em outras fontes de abastecimento de água para a região metropolitana de São Paulo, como o sistema Juquiá, no interior do estado, que tem água de excelente quantidade e em grandes volumes”, disse Barbosa.
“Em razão da distância, essa obra será cara e tem sido postergada. Mas, agora, não dá mais para adiá-la”, afirmou.
Além de São Paulo, o Sisagua também foi utilizado para modelar os sistemas de suprimento hídrico de Los Angeles, nos Estados Unidos, e Taiwan.
O artigo “Planning and operation of large-scale water distribution systems with preemptive priorities”, (doi: 10.1061/(ASCE)0733-9496(2008)134:3(247)), de Barros e outros, pode ser lido por assinantes do Journal of Water Resources Planning and Managementem ascelibrary.org/doi/abs/10.1061/%28ASCE%290733-9496%282008%29134%3A3%28247%29.
A new study points to the risk that China and India will be facing severe water shortages due to a perfect storm of economic growth, climate change, and demands of fast growing populations by mid century.
Within 35 years, the countries where roughly half the world’s population lives may be facing what scientists are calling a “high risk of severe water stress”. That translates into billions of people having access to a lot less water than they do today, according to a new study from MIT.
“There is about a one in three chance that if we take no action to mitigate climate or to do anything to curtail any of the factors that go into this water stress metric, there is a one in three chance that you will reach this unsustainable situation by the middle of the century,” said Adam Schlosser, a senior research scientist who co-authored the paper published in the journal PLOS ONE.
“It’s very important to show that all things being equal, all things not changing, if we continue with what we are doing now we are running along a very dangerous pathway,” he added.
The scientists simulated hundreds of scenarios looking into the future and found that on average, the water basins that feed economic growth in China and India will have less water than they do today. At the same time, they say pressure on water resources will continue to grow as populations increase, creating an unsustainable scenario where supply loses out to demand.
“We are looking at a region where nations are really at a very rapid developing stage or they are at the precipice of a very rapid development stage and so you really can’t ignore the growth effect, you just can’t, particularly when it comes to resources,” said Schlosser.
But overshadowing everything else, they say, is climate change. While some models show that the effects of climate change could potentially benefit water resources in Asia, the majority point in the opposite direction.
Schlosser and his colleagues believe it will only exacerbate an already gloomy outlook for the future.
Water may be the most important item in our lives, our economy and our landscape about which we know the least. We not only don’t tabulate our water use every hour or every day, we don’t do it every month, or even every year.
The official analysis of water use in the United States is done every five years. It takes a tiny team of people four years to collect, tabulate and release the data. In November 2014, the United States Geological Survey issued its most current comprehensive analysis of United States water use — for the year 2010.
The 2010 report runs 64 pages of small type, reporting water use in each state by quality and quantity, by source, and by whether it’s used on farms, in factories or in homes.
It doesn’t take four years to get five years of data. All we get every five years is one year of data.
The data system is ridiculously primitive. It was an embarrassment even two decades ago. The vast gaps — we start out missing 80 percent of the picture — mean that from one side of the continent to the other, we’re making decisions blindly.
In just the past 27 months, there have been a string of high-profile water crises — poisoned water in Flint, Mich.; polluted water in Toledo, Ohio, and Charleston, W. Va.; the continued drying of the Colorado River basin — that have undermined confidence in our ability to manage water.
In the time it took to compile the 2010 report, Texas endured a four-year drought. California settled into what has become a five-year drought. The most authoritative water-use data from across the West couldn’t be less helpful: It’s from the year before the droughts began.
In the last year of the Obama presidency, the administration has decided to grab hold of this country’s water problems, water policy and water innovation. Next Tuesday, the White House is hosting a Water Summit, where it promises to unveil new ideas to galvanize the sleepy world of water.
The question White House officials are asking is simple: What could the federal government do that wouldn’t cost much but that would change how we think about water?
The best and simplest answer: Fix water data.
More than any other single step, modernizing water data would unleash an era of water innovation unlike anything in a century.
We have a brilliant model for what water data could be: the Energy Information Administration, which has every imaginable data point about energy use — solar, wind, biodiesel, the state of the heating oil market during the winter we’re living through right now — all available, free, to anyone. It’s not just authoritative, it’s indispensable. Congress created the agency in the wake of the 1970s energy crisis, when it became clear we didn’t have the information about energy use necessary to make good public policy.
That’s exactly the state of water — we’ve got crises percolating all over, but lack the data necessary to make smart policy decisions.
Congress and President Obama should pass updated legislation creating inside the United States Geological Survey a vigorous water data agency with the explicit charge to gather and quickly release water data of every kind — what utilities provide, what fracking companies and strawberry growers use, what comes from rivers and reservoirs, the state of aquifers.
Good information does three things.
First, it creates the demand for more good information. Once you know what you can know, you want to know more.
Second, good data changes behavior. The real-time miles-per-gallon gauges in our cars are a great example. Who doesn’t want to edge the M.P.G. number a little higher? Any company, community or family that starts measuring how much water it uses immediately sees ways to use less.
Finally, data ignites innovation. Who imagined that when most everyone started carrying a smartphone, we’d have instant, nationwide traffic data? The phones make the traffic data possible, and they also deliver it to us.
The truth is, we don’t have any idea what detailed water use data for the United States will reveal. But we can be certain it will create an era of water transformation. If we had monthly data on three big water users — power plants, farmers and water utilities — we’d instantly see which communities use water well, and which ones don’t.
We’d see whether tomato farmers in California or Florida do a better job. We’d have the information to make smart decisions about conservation, about innovation and about investing in new kinds of water systems.
Water’s biggest problem, in this country and around the world, is its invisibility. You don’t tackle problems that are out of sight. We need a new relationship with water, and that has to start with understanding it.
Artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo e consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
A cada novo período chuvoso voltam às manchetes as mortes e sinistros associados a deslizamentos de encostas e enchentes. Tragédias insistentemente anunciadas, mas anualmente recorrentes dado ao descompromisso com que a administração pública em seus três níveis tem lidado com a questão.
Todos estão fartos de saber que esses fenômenos decorrem diretamente das formas equivocadas com que se expandem nossas cidades, impermeabilizando seus territórios, canalizando e retificando seus rios, ocupando terrenos, como encostas de alta declividade e margens de córrego, que não poderiam nunca ser ocupados dada sua já altíssima suscetibilidade natural a riscos, mas também ocupando terrenos de média declividade, onde a ocupação urbana seria aceitável, com a utilização de técnicas construtivas e urbanísticas totalmente inadequadas, que acabam transformando mesmo essas áreas em um verdadeiro canteiro de situações de risco.
E com toda essa realidade, escancarada anualmente pelo meio técnico e repercutida pelos meios de comunicação, a pungente verdade é que nossas autoridades sequer tomaram a providência mínima e cristalina de parar de errar, ou seja, parar de cometer os erros que estão na exata origem causal dessas tragédias de cunho geológico, geotécnico e hidrológico. Por consequência, o que se vê é, ao invés da redução do número de áreas de risco, a sua contínua multiplicação.
Como resultado, uma perspectiva de futuro assustadora: as tragédias em áreas de risco tendem a crescer em frequência e letalidade, na exata proporção do crescimento de nossas cidades.
Dentro desse panorama é preciso que se compreenda que do ponto de vista técnico não há lacuna alguma nos conhecimentos básicos de geologia, geotecnia e hidrologia, necessários para a boa solução desses problemas. Os fenômenos de enchentes e deslizamentos nos mais variados contextos geológicos do País são já bastante estudados e conhecidos. Os instrumentos que permitirão um correto planejamento do uso e ocupação do solo urbano são dominados, como a essencial Carta Geotécnica, um mapa municipal que informa sobre os locais que não poderão nunca ser ocupados e as áreas que poderão ser ocupadas caso sejam utilizadas as técnicas adequadas para tanto. Por paradoxal que possa parecer, o Brasil é liderança internacional nesse campo tecnológico.
Vale registrar apenas que não possuímos no País uma cultura técnica arquitetônica e urbanística especialmente adequada à ocupação de terrenos com maior declividade. Isso se verifica tanto nas formas espontâneas utilizadas pela própria população de baixa renda na autoconstrução de suas moradias, como também em projetos privados ou públicos de maior porte que contam com o suporte técnico de arquitetos e urbanistas e têm, apesar do erro básico e grave de concepção, sua implantação autorizada pelos órgãos municipais responsáveis para tanto.
Em ambos os casos, ou seja, no empirismo popular e nos projetos mais elaborados, prevalece infelizmente a cultura técnica da área plana. Isto é, através de cortes e aterros obtidos por operações de terraplenagem nas encostas obsessivamente se procura produzir platôs planos sobre os quais irá ser edificado o empreendimento. Um fatal erro técnico de concepção. Esse tem sido o cacoete técnico que está invariavelmente presente na maciça produção de áreas de risco nas cidades brasileiras que, de alguma forma, crescem sobre relevos mais acidentados.
Vale insistir, no entanto, a maior dificuldade para a boa solução desses problemas continua a residir na falta de vontade e no descompromisso das administrações públicas em finalmente decidir ordenar corretamente a expansão urbana de suas cidades. Nesse mister é fundamental perceber que as populações mais pobres somente deixarão de optar por áreas de risco para instalar suas moradias quando o poder público, através de ousados Programas Habitacionais, lhes oferecer alternativas dignas e seguras de moradia na mesma faixa de custos que ela hoje só encontra na ocupação das áreas de risco. Essa é a verdade nua e crua da questão. Ou essa equação básica é resolvida, ou a instalação de novas situações de risco sempre superarão, em muito, o esforço em desarmar as já instaladas.
Em resumo, é preciso que as autoridades públicas deixem de irresponsavelmente ver a questão das áreas de risco como um problema de Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, por mais heroicas que sejam essas corporações, e passem a entendê-la como um elemento próprio do campo das Políticas Habitacionais e de Planejamento Urbano. Somente sob essa ótica a administração pública passará ao comando ativo da situação, deixando de agir apenas a reboque das tragédias, situação em que lhes sobra apenas a descompostura esperta de, como sempre, culpar as chuvas pelos infortúnios.
Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”.
New study describes what could be the 18th known form of ice
Date:
February 12, 2016
Source:
University of Nebraska-Lincoln
Summary:
A research team has predicted a new molecular form of ice with a record-low density. If the ice can be synthesized, it would become the 18th known crystalline form of water and the first discovered in the US since before World War II.
This illustration shows the ice’s molecular configuration. Credit: Courtesy photo/Yingying Huang and Chongqin Zhu
Amid the season known for transforming Nebraska into an outdoor ice rink, a University of Nebraska-Lincoln-led research team has predicted a new molecular form of the slippery stuff that even Mother Nature has never borne.
The proposed ice, which the researchers describe in a Feb. 12, 2016 study in the journal Science Advances, would be about 25 percent less dense than a record-low form synthesized by a European team in 2014.
If the ice can be synthesized, it would become the 18th known crystalline form of water — and the first discovered in the United States since before World War II.
“We performed a lot of calculations (focused on) whether this is not just a low-density ice, but perhaps the lowest-density ice to date,” said Xiao Cheng Zeng, an Ameritas University Professor of chemistry who co-authored the study. “A lot of people are interested in predicting a new ice structure beyond the state of the art.”
This newest finding represents the latest in a long line of ice-related research from Zeng, who previously discovered a two-dimensional “Nebraska Ice” that contracts rather than expands when frozen under certain conditions.
Zeng’s newest study, which was co-led by Dalian University of Technology’s Jijun Zhao, used a computational algorithm and molecular simulation to determine the ranges of extreme pressure and temperature under which water would freeze into the predicted configuration. That configuration takes the form of a clathrate — essentially a series of water molecules that form an interlocking cage-like structure.
It was long believed that these cages could maintain their structural integrity only when housing “guest molecules” such as methane, which fills an abundance of natural clathrates found on the ocean floor and in permafrost. Like the European team before them, however, Zeng and his colleagues have calculated that their clathrate would retain its stability even after its guest molecules have been evicted.
Actually synthesizing the clathrate will take some effort. Based on the team’s calculations, the new ice will form only when water molecules are placed inside an enclosed space that is subjected to ultra-high, outwardly expanding pressure.
Just how much? At minus-10 Fahrenheit, the enclosure would need to be surrounded by expansion pressure about four times greater than what is found at the Pacific Ocean’s deepest trench. At minus-460, that pressure would need to be even greater — roughly the same amount experienced by a person shouldering 300 jumbo jets at sea level.
The guest molecules would then need to be extracted via a vacuuming process pioneered by the European team, which Zeng credited with inspiring his own group to conduct the new study.
Yet Zeng said the wonders of ordinary ice — the type that has covered Earth for billions of years — have also motivated his team’s research.
“Water and ice are forever interesting because they have such relevance to human beings and life,” Zeng said. “If you think about it, the low density of natural ice protects the water below it; if it were denser, water would freeze from the bottom up, and no living species could survive. So Mother Nature’s combination is just so perfect.”
If confirmed, the new form of ice will be called “Ice XVII,” a naming quirk that resulted from scientists terming the first two identified forms “Ice I.”
Zeng and Zhao co-authored the Science Advances study with UNL postdoctoral researcher Chongqin Zhu; Yingying Huang, a visiting research fellow from the Dalian University of Technology; and researchers from the Chinese Academy of Sciences and the University of Science and Technology of China.
The team’s research was funded in part by the National Science Foundation and conducted with the assistance of UNL’s Holland Computing Center.
Journal Reference:
Y. Huang, C. Zhu, L. Wang, X. Cao, Y. Su, X. Jiang, S. Meng, J. Zhao, X. C. Zeng. A new phase diagram of water under negative pressure: The rise of the lowest-density clathrate s-III. Science Advances, 2016; 2 (2): e1501010 DOI: 10.1126/sciadv.1501010
Pole dancing water molecules: Researchers have seen this remarkable phenomenon on the surface of an important technological material
Date: December 21, 2015
Source: Vienna University of Technology
Summary: From pole dancing to square dance: Water molecules on perovskite surfaces show interesting patterns of motion. Surface scientists have now managed to image the dance of the atoms.
This is a visualization of the dance of the atoms on a crystal surface. Credit: TU Wien
Perovskites are materials used in batteries, fuel cells, and electronic components, and occur in nature as minerals. Despite their important role in technology, little is known about the reactivity of their surfaces. Professor Ulrike Diebold’s team at TU Wien (Vienna) has answered a long-standing question using scanning tunnelling microscopes and computer simulations: How do water molecules behave when they attach to a perovskite surface? Normally only the outermost atoms at the surface influence this behaviour, but on perovskites the deeper layers are important, too. The results have been published in the journal Nature Materials.
Perovskite dissociates water molecules
“We studied strontium ruthenate — a typical perovskite material,” says Ulrike Diebold. It has a crystalline structure containing oxygen, strontium and ruthenium. When the crystal is broken apart, the outermost layer consists of only strontium and oxygen atoms; the ruthenium is located underneath, surrounded by oxygen atoms.
A water molecule that lands on this surface splits into two parts: A hydrogen atom is stripped off the molecule and attaches to an oxygen atom on the crystal’s surface. This process is known as dissociation. However, although they are physically separated, the pieces continue to interact through a weak “hydrogen bond.”
It is this interaction that causes a strange effect: The OH group cannot move freely, and circles the hydrogen atom like a dancer spinning on a pole. Although this is the first observation of such behaviour, it was not entirely unexpected: “This effect was predicted a few years ago based on theoretical calculations, and we have finally confirmed it with our experiments” said Diebold.
Dancing requires space
When more water is put on to the surface, the stage becomes too crowded and spinning stops. “The OH group can only move freely in a circle if none of the neighbouring spaces are occupied,” explains Florian Mittendorfer, who performed the calculations together with PhD student Wernfried Mayr-Schmölzer. At first, when two water molecules are in neighbouring sites, the spinning OH groups collide and get stuck together, forming pairs. Then, as the amount of water is increased, the pairs stick together and form long chains. Eventually, water molecular cannot find the pair of sites it needs to split up, and attaches instead as a complete molecule.
The new methods that have been developed and applied by the TU Wien research team have made significant advances in surface research. Whereas researchers were previously reliant on indirect measurements, they can now — with the necessary expertise — directly map and observe the behaviour of individual atoms on the surface. This opens up new possibilities for modern materials research, for example for developing and improving catalysts.
Daniel Halwidl, Bernhard Stöger, Wernfried Mayr-Schmölzer, Jiri Pavelec, David Fobes, Jin Peng, Zhiqiang Mao, Gareth S. Parkinson, Michael Schmid, Florian Mittendorfer, Josef Redinger, Ulrike Diebold. Adsorption of water at the SrO surface of ruthenates. Nature Materials, 2015; DOI: 10.1038/nmat4512
It’s easy to imagine the burgeoning business of “wellness” as a product of our time, sold on narcissism and exhaustion from punishing work schedules.
In fact, the wellness craze has deep roots. Beginning in the middle of the 19th century, the leisure class grew infatuated with a particular type of healthy getaway: the water cure. By the 1850s, a constellation of spa villages had emerged across 20 states. By 1930, the country had over 2,000 hot- and cold-spring resorts.
Neither the practice nor the result of the treatment—which evolved out of a newfound enthusiasm for bathing—was strictly defined. Hydropathy encompassed everything from a spell in the tub to highly regimented procedures supervised by water doctors with stopwatches. According to its boosters, who were some of the most distinguished medical men of the day, water could cure everything from hiccups to cancer (and even hydrophobia!).Renowned water-lovers included John Roebling, the engineer of the Brooklyn Bridge, who liked to wrap himself in a damp, cold sheet, and most famously, President Franklin Roosevelt, whose interest in taking the waters long predated his visits to Warm Springs, Georgia.
Most of these “procedures” could have been performed at public baths, or at suburban facilities like the Harrogate spa, four miles out of Philadelphia. But part of the lure was always to get out of the city. For one thing, hydropathy was cast as a cure for the peculiar ailments of the well-off urbanite—a remedy for bourgeois decadence, to heal, as Carl Smith writes in City Water, City Life, the ill effects of the “overly refined life characteristic of cities.” (The equivalent of a modern farm vacation, maybe.)
“Taking the Waters at Saratoga”—a Harper’s cover in 1890 (Yates Collection of Saratogiana, Skidmore College)
For another thing, as Thomas Chambers suggests in Drinking the Waters, “taking the waters” was simply an excuse to have fun. And so a vast network of scenic spa towns emerged along the railroads. Built around grand bathhouses, they offered a much more social experience than bathing at home.
Some of these places, like Saratoga Springs, New York, or Palm Springs, California, blossomed into small cities, with diverse leisure cultures and other economic engines. But most fell into a state of prolonged decline in the 20th century. The trains stopped running; the visitors stopped arriving; the grand hotels closed, collapsed, or burned.
Not surprisingly, the perceived medical value of hydropathy dropped after the discovery of penicillin and the polio vaccine. But there were other factors at work, too. Bathing, like other old-time leisure pursuits, simply wasn’t cool anymore. Americans had taken up other, more exhilarating physical activities. And the automobile and the airplane opened up exciting new vacation possibilities.
But some spa towns are turning around, finding renewed interest in their quaint charms—and their water.
Hot Springs, Arkansas, is one of those places. A town of 35,000 about halfway between Memphis and Dallas, Hot Springs was once a major destination for high rollers from Chicago and St. Louis.
In 1946, visitors took 649,000 baths on Bathhouse Row, the parade of elegant spas abutting the main drag. By 1979, that number had fallen to just 79,000. Retail occupancy downtown in the 1980s was below 10 percent. All but one of the bathhouses closed between 1962 and 1985.
That surviving establishment, the Buckstaff, continues to offer an old-time water-cure to visitors. But it’s no longer the only game in town: In 2007, investors rehabilitated the neighboring Quapaw into a luxe modern spa. Three years ago, the Superior spa reopened as a brewery, producing the world’s only thermal beer.
The number of visitors to Hot Springs is steadily rising, and the retail occupancy rate is now over 90 percent. Historic architecture is no small part of its charm. “It’s totally a nostalgic story,” says Cole McCaskill, the downtown development director for the Hot Springs Metro Partnership. But, he adds, the city has done a good job diversifying its water-tourism offerings: A stay in Hot Springs now might include a trip to a nearby water park or aquarium.
Earlier visitors would have supplemented their health vacation with a little gambling, or a visit to an ostrich or alligator farm. This was typical, Chambers explains. “People wanted to find ways to have leisure, but culture told them they couldn’t do anything wasteful or not productive. You could say you were going to the springs for your health, but you were really going there to try and find a spouse or gamble.”
The Vanderbilts moved on years ago from Sharon Springs, New York, one of a handful of smaller, quieter resort towns west of Saratoga Springs. Now small-town appeal has drawn investors to revitalize the bathing industry there. A Korean investment group is restoring a long-dormant spa complex for Korean tourists, which has coincided with a general sense of civic renewal.
“We’re thrilled they’re doing something,” says Ron Ketelson, a California transplant who purchased the nearby Roseboro Hotel last year. “The bathhouse is being saved.”
For Ketelson, New York’s spa-town past represents something more personal than moth-balled grandeur. Not long after he purchased the Roseboro, Ketelson found an old postcard revealing that—unbeknownst to him—his own grandfather, suffering from breathing problems, had come to take the waters in Sharon Springs.
Temperaturas mais elevadas, mudança no regime de chuvas e aumento de eventos climáticos extremos são apenas uma parte da história das mudanças climáticas. A forma como essas mudanças vão impactar agricultura, geração de energia, infraestrutura, oferta d’água e saúde é o outrolado que acaba de ganhar detalhes para o Brasil.
Considerado o mais importante estudo sobre como diversos setores vão reagir diante do clima modificado, o projeto Brasil 2040 – Alternativas de Adaptação às Mudanças Climáticas foi publicado ontem no site da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos(SAE) da Presidência.
Um dos principais resultados é sobre como a oferta de água será afetada. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil deverão sofrer redução. A Sul pode ter um leve aumento na média, mas com uma distribuição muito irregular. Para o Sudeste, há incertezas. Isso pode ter impactos diretos na agricultura e na energia.
Usina hidrelétrica Belo Monte, no pior cenário de mudanças climáticas, pode ser afetada por falta de chuvas e deixar de compensar financeiramente
Diversos grupos de pesquisa do Brasil trabalharam com dados de dois modelos climáticos, que, por sua vez, levaram em conta dois cenários do IPCC (o painel da ONU de cientistas do clima). Um, mais pessimista, que considera que o mundo não vai agir para combater as mudanças climáticas, e um intermediário, que imagina que haverá algumas ações, mas não o suficiente, e o mundo ainda vai aquecer pelo menos 3°C. Este segundo cenário é condizente com as propostas de redução das emissões apresentadas como contribuição para a Conferência do Clima de Paris.
No pior cenário, até 2040 a capacidade das hidrelétricas pode ficar de 8% a 20% menor. Já no melhor cenário, a capacidade diminui entre 4% e 15%. Ou seja, mesmo se o mundo fizer tudo o que está prometendo para combater o aquecimento global, ainda podemos ter impacto na produção de energia. Usinas na Amazônia como a de Belo Monte ou o novo projeto pensado para o rio Tapajós seriam inviabilizados.
Hoje o Brasil ainda é altamente dependente da água para a geração de energia elétrica. Cerca de 80% vêm de hidrelétricas. “O que por um lado torna a matriz energética brasileira mais limpa que a média mundial, por outro a torna vulnerável se o clima mudar”, afirma Roberto Schaeffer, da UFRJ, coordenador do capítulo de energia.
O gargalo, principalmente nas hidrelétricas localizadas na Amazônia, é que elas não têm reservatórios. Com isso, não têm estoque de água na seca. “Essa vulnerabilidade que a mudança climática traz talvez nos faça repensar se não é melhor voltar a ter hidrelétricas com reservatório”, complementa.
O Brasil pode ficar mais dependente de térmicas. O estudo até prevê um aumento das energias eólica (no Nordeste) e solar (Sul e Sudeste), mas como elas são intermitentes, há necessidade de ter uma energia de base e, se a hidrelétrica falhar, as térmicas serão a saída. “Mas pode ser a etanol, a bagaço de cana, a biomassa, não a carvão”, sugere Schaeffer. “O ideal é ter diversidade. E planejar a expansão do setor incorporando a variável das mudanças climáticas. Não podemos mais só olhar para as séries hidrológicas do passado para prever o futuro, porque ele será bem diferente.”
Soja em risco. A mudança no regime hídrico pode trazer impactos também às principais commodities agrícolas do Brasil. A redução de área potencial para lavouras pode ser de até 39,3%, no pior cenário. A soja seria a cultura mais afetada, tendo uma perda de até 67% da área plantada na região Sul até 2040.
Produtor rural mostra área afetada pela estiagem em sua plantação de soja, em Santa Maria (RS), em crise de 2012. Falta de chuva no período de plantio pode levar a uma perda de área para o plantio do grão no Estado
De acordo com Leila Harfuch, do Agroicone, no entanto, áreas do Centro-Oeste e do Norte podem compensar parte dessa perda. Na comparação com um futuro sem mudança do clima, a perda total de área de soja no País seria de 5%.
“Existe uma dinâmica econômica que torna o impacto nacional menos dramática, vai haver uma realocação da produção no caso dos grãos. Mas os impactos locais serão muito relevante, em especial para a região Sul. Vai ter perda de valor de produção, de emprego e renda, mas em termos produtivos, outras regiões podem compensar”, explica Leila.
Segundo ela, algo parecido pode acontecer com as plantações de cana-de-açúcar na região Sudeste. A estimativa, no pior cenário, é de redução de 10% na área plantada na região na comparação com o tamanho que a produção teria se não houvesse mudanças climáticas. Parte seria compensada no Sul e parte no Centro-Oeste.
Segundo o estudo, quem mais deve perder área é a pastagem. Não necessariamente porque o clima prejudique muito o pasto, mas porque tanto áreas degradadas quanto outras que tenham aptidão para a agricultura poderão ser ocupadas com grãos. Está esperada uma queda de 6,5% da área ocupada pela pecuária, mas o estudo espera que haja uma intensificação da produção, de modo que ela deve se manter estável.
Repercussão. O Observatório do Clima, coalizão brasileira com mais de 30 organizações da sociedade civil em torno das mudanças climáticas, afirmou que o estudo tem de servir como alerta para que o Brasil deixe a tratar o problema como um tema marginal.
“O estudo traça um panorama preocupante dos impactos das mudanças climáticas sobre a economia nacional já nos próximos 25 anos. Mostra que a maneira como o Brasil investe em agropecuária e em infraestrutura precisa ser radicalmente revista. Grandes hidrelétricas na Amazônia, como Belo Monte e São Luís do Tapajós, poderão ter reduções importantes de vazão, e a sociedade pode acabar enterrando bilhões de reais em obras que não se pagam”, afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo da organização. Para ele, o estudo “aponta a necessidade de o Brasil lutar por um acordo do clima ambicioso nas próximas semanas na conferência de Paris, e de aumentar também a ambição da própria proposta.”
Depois que a seca do ano passado deixou São Paulo à beira de um racionamento severo de água, as chuvas do final do verão deram à Sabesp – a grande culpada pela crise, segundo autoridades municipais – uma segunda chance para aumentar investimentos em infraestrutura.
Com o início da estação seca, há uma corrida contra o tempo para desviar rios e conectar sistemas antes que os já prejudicados reservatórios de água fiquem baixos novamente.
A corrida contra o tempo ressalta a situação precária da maior metrópole da América do Sul após duas décadas sem nenhum grande projeto hídrico.
Os reservatórios ainda não se recuperaram da seca do ano passado e os meteorologistas estão prevendo meses mais quentes à frente por causa do fenômeno climático El Niño.
“A infraestrutura não foi a prioridade da Sabesp nos últimos anos. Eles não adotaram medidas para evitar a crise”, disse Pedro Caetano Mancuso, diretor do Centro de Referência em Segurança da Água da Universidade de São Paulo.
“Embora a Sabesp esteja disposta a fazer a lição de casa agora, a questão é se ela será concluída ou não a tempo de evitar um problema ainda maior”.
A Sabesp – empresa sob controle estatal -,disse que foi a severidade da seca do ano passado, e não a falta de investimentos em infraestrutura, a causa da crise.
“Nós estávamos preparados para uma seca tão ruim ou pior que a de 1953”, quando a Sabesp enfrentou uma crise similar, disse o presidente Jerson Kelman a vereadores, em uma audiência no dia 13 de maio.
“O que aconteceu em 2014 foi que tivemos metade do volume de chuva daquele ano. Para isso, nós não estávamos preparados”.
‘Previsível’
Em um relatório, em 10 de junho, a Câmara de Vereadores de São Paulo culpou a Sabesp pela crise que cortou o abastecimento em alguns bairros, dizendo que a seca já era previsível.
“Se a Sabesp tivesse investido os dividendos distribuídos na Bolsa de Nova York em obras para modernizar os sistemas que abastecem a capital e na manutenção da rede, não estaríamos enfrentando o racionamento travestido de redução de pressão”, disse Laércio Benko, vereador que liderou a comissão criada para investigar a escassez no abastecimento de água em São Paulo.
O maior dos projetos de infraestrutura que a Sabesp necessita neste ano para garantir o fornecimento de água potável está atrasado.
O projeto para conectar o Rio Pequeno ao reservatório da Billings, originalmente programado para ser concluído em maio, não será terminado até agosto devido a atrasos nas licenças ambientais e de uso da terra, disse a assessoria de imprensa da Sabesp em uma resposta a perguntas por e-mail. Se concluído neste ano, o pacote de cinco obras de emergência em que a Sabesp está investindo seria suficiente para evitar o racionamento, segundo a empresa.
Reservatório principal
Sem os projetos, e se as chuvas ficarem no nível do ano passado ou abaixo dele, a Sabesp projeta que seu reservatório principal – conhecido como Cantareira – poderá secar até agosto, segundo projeções internas obtidas pela Bloomberg News.
No pior cenário previsto pela empresa, poderá haver cortes no abastecimento de água na maior parte da área metropolitana de São Paulo cinco dias por semana, segundo o documento, que foi preparado como parte de um plano de contingência para São Paulo.
A Sabesp disse no e-mail que as chuvas, até agora, têm sido positivas. Para acelerar os investimentos de emergência agora, a Sabesp está cortando gastos e aumentando os preços da água. A empresa reduzirá os gastos com coleta e tratamento de esgoto pela metade neste ano, disseram executivos em uma teleconferência com investidores em abril. O aumento de tarifa reflete o “estresse financeiro” da Sabesp, disse o diretor financeiro Rui Affonso na conferência.
Queda das ações
As ações da Sabesp caíram 4,8 por cento na segunda-feira, pior desempenho das negociações em São Paulo, depois que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou ter entrado com uma liminar para impedir o aumento de tarifa.
“A seca do ano passado será totalmente sentida nos resultados deste ano”, disse Alexandre Montes, analista de ações da Lopes Filho Associados Consultores de Investimentos, em entrevista por telefone, do Rio. “Mesmo se a seca diminuir agora, e mesmo se tudo sair bem, os resultados da Sabesp vão cair”.
A new study shows that, from 1500 until 2000, about a third of floods in southwestern Netherlands were deliberately caused by humans during wartimes. Some of these inundations resulted in significant changes to the landscape, being as damaging as floods caused by heavy rainfall or storm surges. The work, by Dutch researcher Adriaan de Kraker, is published in Hydrology and Earth System Sciences, a journal of the European Geosciences Union (EGU).
During the Eighty Years’ War, as the Spanish army fought to recapture territory in what is now northern Belgium and southwestern Netherlands in the late sixteenth century, the Dutch rebels led by William of Orange decided to use the low-lying, flood-prone landscape to their advantage. In an attempt to liberate Bruges, Ghent and Antwerp from Spanish dominance and defend their territory, the rebels destroyed seawalls at strategic places from 1584 to 1586 to cause deliberate, large-scale floods.
»The plan got completely out of hand«, says De Kraker, an assistant professor at the VU University Amsterdam in the Netherlands. »It came at the expense of the countryside of northern Flanders, now Zeeland Flanders, some two thirds of which was flooded.«
Floods can result in loss of life and damage homes and businesses, and when the water remains inland for a long time, it can change the landscape through erosion and deposition, forming new tidal channels and creeks. The area flooded during the Eighty Years’ War became part of a strategic line of defence and remained inundated for more than 100 years in some places, with profound consequences for the landscape. After the waters receded, a thick layer of clay covered all remnants of buildings and roads in the area. As sea water was used, soil salinity increased, affecting agricultural yields.
»Strategic flooding is a highly risky tactic. It can only be successful if there’s a well-thought-out backup plan and a plan for fast repairs«, warns De Kraker. However, that was not the case here, he says: »I desperately looked for evidence of backup plans for the repair of the dykes and who was going to pay for the costs incurred. I could find hardly any records of such plans.«
De Kraker has been studying historical floods – occurring from the year 1500 to 2000 – in southwestern Netherlands since the 1980s to find out their causes and outcomes. Mostly below sea level, and dominated by three river estuaries populated with islands and a system of dykes and dams that protect the fertile land from the sea, this region is particularly susceptible to floods.
In his research, De Kraker used documents relating to land ownership and land use, accounts of maintenance of sea defences, and correspondence between stakeholders, such as rebels, Spanish officials, and mayors of besieged towns. He also used aerial photographs of the area, historical maps and maps of soil and landscape changes.
As reported in the new Hydrology and Earth System Sciences article, he noticed the main floods in the area in the past 500 years could be grouped into those caused by storm surges (21 events) and those happening during wartimes (11 events). The former had natural causes and the latter were created by humans, but De Kraker says human action played a major role in both.
The most damaging flood occurred in the winter of 1953, when strong winds blew for two days causing a long-lasting storm surge, which resulted in extremely high water levels. Over 1800 people died, 100 000 were evacuated and damages reached the equivalent of 700 million euros. While the cause of this flood was natural, De Kraker says human factors contributed to the extent of the damage. He reports that officials were slow at responding to the event, failing to take mitigation measures such as raising the dykes fast enough. Weak building construction and inadequate rescue procedures contributed to the material damage and human toll.
The study also shows floods in the Netherlands were used as a weapon as recently as the 1940s. »Strategic flooding during the Second World War undertaken by the Germans remained purely defensive, while the Allied flooding of the former island of Walcheren in the southwest of the country sped up the Allied offensive«, says De Kraker.
Lesley Stahl reports on disturbing new evidence that our planet’s groundwater is being pumped out much faster than it can be replenished
The following is a script of “Water” which aired on Nov. 16, 2014, and was rebroadcast on May 31, 2015. Lesley Stahl is the correspondent.
Last fall, we brought you a story about something that has made headlines ever since — water. It’s been said that the wars of the 21st century may well be fought over water. The Earth’s population has more than doubled over the last 50 years and the demand for fresh water — to drink and to grow food — has surged along with it. But sources of water like rainfall, rivers, streams, reservoirs, certainly haven’t doubled. So where is all that extra water coming from? More and more, it’s being pumped out of the ground.
Water experts say groundwater is like a savings account — something you draw on in times of need. But savings accounts need to be replenished, and there is new evidence that so much water is being taken out, much of the world is in danger of a groundwater overdraft.
California is now in its fourth year of a record-breaking drought. This past winter was the hottest and driest since the state started keeping written records. And yet, pay a visit to California’s Central Valley and out of that parched land you’ll see acre upon acre of corn, almond trees, pomegranates, tomatoes, grapes. And what makes them all possible: water. Where do you get water in a drought? You take it out of the savings account: groundwater.
[Jay Famiglietti: When we talk about surface water, we’re talking about lakes and rivers. And when we’re talking about groundwater, we’re really talking about water below the water table.]
Jay Famiglietti, an Earth sciences professor at the University of California, Irvine, is a leading expert on groundwater.
Jay Famiglietti: It’s like a sponge. It’s like an underground sponge.
He’s talking about the aquifers where groundwater is stored — layers of soil and rock, as he showed us in this simple graphic, that are saturated with water and can be drilled into, like the three wells shown here.
Lesley Stahl: You can actually pump it out of the crevices?
Jay Famiglietti: Imagine like trying to put a straw into a sponge. You can actually suck water right out of a sponge. It’s a very similar process.
Sucking the water out of those aquifers is big business these days in the Central Valley. Well driller Steve Arthur is a very busy man.
Steve Arthur: All the farmers, they don’t have no surface water. They’ve got to keep these crops alive. The only way to do that is to drill wells, pump the water from the ground.
Lesley Stahl: So it’s either drill or go out of business?
Steve Arthur: Yes.
So there’s something of a groundwater rush going on here. Arthur’s seven rigs are in constant use and his waiting list is well over a year. And because some wells here are running dry, he’s having to drill twice as deep as he did just a year or two ago. This well will cost the farmer a quarter of a million dollars, and go down 1,200 feet — about the height of the Empire State Building.
“If we’re talking about a deeper aquifer, that could take tens or hundreds of years to recharge.”
Lesley Stahl: Are you and are the farmers worried that by going that deep you are depleting the ground water?
Steve Arthur: Well, yes, we are depleting it. But on the other hand, what choice do you have? This is the most fertile valley in the world. You can grow anything you want here. If we don’t have water to grow something, it’s going to be a desert.
He said many farmers think the problem is cyclical and that once the drought ends, things will be okay.
Lesley Stahl: Now when they take water out and it rains…
Jay Famiglietti: Yes.
Lesley Stahl: …doesn’t the water go back down there?
Jay Famiglietti: These aquifers near the surface, they can sometimes be replenished very quickly. If we’re talking about a deeper aquifer, that could take tens or hundreds of years to recharge.
Figuring out how much is being depleted from those aquifers deep underground isn’t easy. Hydrologist Claudia Faunt took us to what looked like someone’s backyard shed, where she and her colleagues at the U.S. Geological Survey monitor groundwater levels in the Central Valley the way they always have — by dropping a sensor down a monitoring well.
Lesley Stahl: So this is a well.
Claudia Faunt: This is a well. So we have a tape here that has a sensor on the end.
Lesley Stahl: Oh, let me see.
The Geological Survey has 20,000 wells like this across the country.
Lesley Stahl: It’s a tape measure.
Claudia Faunt: It’s a tape measure.
Lesley Stahl: How will you know when it hits water?
Claudia Faunt: It’s going to beep.
By comparing measurements from different wells over time, they get the best picture they can of where groundwater levels stand. She unspooled and unspooled, until finally…
[Beep]
Lesley Stahl: Oh.
It startled me, as did the result: a five-foot drop in just one month.
Claudia Faunt: Right now, we’re reaching water levels that are at historic lows, they’re like…
Lesley Stahl: Historic lows?
Claudia Faunt: Right. At this site, water levels have dropped about 200 feet in the last few years.
Gathering data from holes in the ground like this has been the only way to get a handle on groundwater depletion. That is, until 2002, and the launch of an experimental NASA satellite called GRACE.
Lesley Stahl: What does GRACE stand for?
Mike Watkins: So GRACE stands for gravity recovery and climate experiment.
Mike Watkins is head of the Science Division at NASA’s Jet Propulsion Laboratory in Pasadena. He was the mission manager for the latest Mars rover mission and he is the project scientist for GRACE.
Mike Watkins: So the way GRACE works is it’s two satellites.
Lesley Stahl: Two?
Mike Watkins: They’re actually measuring each other’s orbit very, very accurately.
What affects that orbit is gravity.
Mike Watkins: As the first one comes up on some extra mass, an area of higher gravity, it gets pulled away…
Lesley Stahl: It goes faster.
Mike Watkins: …from the second spacecraft.
And that’s where water comes in. Since water has mass, it affects the pull of gravity, so after the first GRACE satellite approaches an area that’s had lots of heavy rain for example, and is pulled ahead, the second one gets there, feels the pull and catches up. The instruments are constantly measuring the distance between the two.
Mike Watkins: Their changes in separation, their changes in their orbit are a little different this month than last month because water moved around and it changed the gravity field just enough.
So GRACE can tell whether an area has gained water weight or lost it.
Lesley Stahl: So GRACE is like a big scale in the sky?
Mike Watkins: Absolutely.
GRACE can also tell how much water an area has gained or lost. Scientists can then subtract out the amount of rain and snowfall there, and what’s left are the changes in groundwater.
Lesley Stahl: It’s kind of brilliant to think that a satellite in the sky is measuring groundwater.
Mike Watkins: It is fantastic.
Jay Famiglietti: I thought it was complete nonsense. There’s no way we can see groundwater from space.
Jay Famiglietti started out a skeptic, but that was before he began analyzing the data GRACE sent back. The first place he looked was India. He showed us a time-lapse animation of the changes GRACE detected there over the last 12 years. Note the dates on the lower right. The redder it gets, the greater the loss of water.
Lesley Stahl: Oh, look at that.
He calculated that more than half the loss was due to groundwater depletion.
Jay Famiglietti: And this is a huge agricultural region.
“So we’re talking about groundwater depletion in the aquifers that supply irrigation water to grow the world’s food.”
Lesley Stahl: Have they been doing the same kind of pumping…
Jay Famiglietti: Yes.
Lesley Stahl: …that we’re seeing in California?
Jay Famiglietti: Yes.
Lesley Stahl: It got so dark red.
Jay Famiglietti: Yeah, that’s bad.
His India findings were published in the journal “Nature.” But as he showed us, India wasn’t the only red spot on the GRACE map.
Jay Famiglietti: This is right outside Beijing, Bangladesh and then across southern Asia.
He noticed a pattern.
Jay Famiglietti: They are almost exclusively located over the major aquifers of the world. And those are also our big food-producing regions. So we’re talking about groundwater depletion in the aquifers that supply irrigation water to grow the world’s food.
If that isn’t worrisome enough, some of those aquifer systems are in volatile regions, for instance this one that is shared by Syria, Iraq, Iran and Turkey.
Jay Famiglietti: Turkey’s built a bunch of dams. Stored a bunch of water upstream. That forces the downstream neighbors to use more groundwater and the groundwater’s being depleted.
Lesley Stahl: Oh my.
Jay Famiglietti: We’re seeing this water loss spread literally right across Iran, Iraq and into Syria and down.
Lesley Stahl: It’s progressive.
“So the ground basically collapses or compresses down and the land sinks.”
Famiglietti, who’s now moved to the jet propulsion lab to work on GRACE, has started traveling around the world, trying to alert governments and academics to the problem, and he isn’t the only one who’s worried.
A 2012 report from the director of National Intelligence warned that within 10 years “many countries important to the United States will experience water problems … that will risk instability and state failure…” and cited the possible “use of water as a weapon or to further terrorist objectives.”
Lesley Stahl: Water is the new oil.
Jay Famiglietti: It’s true. It’s headed in that direction.
And what about our own food-producing regions, like California’s Central Valley, which produces 25 percent of the nation’s food. What is GRACE telling us there?
Lesley Stahl: 2008.
Jay Famiglietti: Right.
Lesley Stahl: ’09.
Jay Famiglietti: And now things are going to start to get very red.
Lesley Stahl: 2010.
GRACE is confirming what the geological survey well measures have shown, but giving a broader and more frightening picture, since it shows that the rainy years are not making up for the losses.
Lesley Stahl: ’14. Dark red.
Lesley Stahl: That’s alarming.
Jay Famiglietti: It should be.
So much groundwater has been pumped out here that the geological survey says it’s causing another problem: parts of the valley are literally sinking. It’s called subsidence.
Claudia Faunt: So the ground basically collapses or compresses down and the land sinks.
Lesley Stahl: The land is sinking down.
She said at this spot, the ground is dropping several inches a year.
Claudia Faunt: And north of here, it’s more like a foot per year.
Lesley Stahl: That sounds like a lot, a foot a year.
Claudia Faunt: It’s some of the fastest rates we have ever seen in the valley, and in the world.
She says it’s caused damage to infrastructure: buckles in canals and sinking bridges. Here the land has sunk six feet. It used to be level with the top of this concrete slab.
Lesley Stahl: And this is because of the pumping of the groundwater?
Claudia Faunt: Yes.
Lesley Stahl: Is there any limit on a farmer, as to how much he can actually take out of this groundwater?
Claudia Faunt: Not right now in the state of California.
Lesley Stahl: None?
Claudia Faunt: As long as you put it to a beneficial use, you can take as much as you want.
But what’s beneficial to you may not be beneficial to your neighbor.
Lesley Stahl: When you dig a well like this, are you taking water from the next farm?
Steve Arthur: I would say yeah. We’re taking water from everybody.
Lesley Stahl: Well, is that neighbor going to be unhappy?
Steve Arthur: No. Everybody knows that there’s a water problem. Everybody knows you got to drill deeper, deeper. And it’s funny you say that because we’re actually going to drill a well for that farmer next door also.
“I can’t believe how brave I am. 45 minutes ago, this was sewer water.”
Making things worse, farmers have actually been planting what are known as “thirsty” crops. We saw orchard after orchard of almond trees. Almonds draw big profits, but they need water all year long, and farmers can never let fields go fallow, or the trees will die.
But with all the water depletion here, we did find one place that is pumping water back into its aquifer.
Lesley Stahl: Look, it really looks ickier up close.
We took a ride with Mike Markus, general manager of the Orange County Water District and a program some call “toilet to tap.” They take 96-million gallons a day of treated wastewater from a county sanitation plant — and yes, that includes sewage — and in effect, recycle it. He says in 45 minutes, this sewage water will be drinkable.
Mike Markus: You’ll love it.
Lesley Stahl: You think I’m going to drink that water?
Mike Markus: Yes, you will.
They put the wastewater through an elaborate three-step process: suck it through microscopic filters, force it through membranes, blast it with UV light. By the end, Markus insists it’s purer than the water we drink. But it doesn’t go straight to the tap. They send it to this basin and then use it to replenish the groundwater.
Jay Famiglietti: It’s amazing. Because of recycling of sewage water, they’ve been able to arrest that decline in the groundwater.
Lesley Stahl: All right. I’m going to do it. I’m going to do it.
All that was left was to try it. To tell the truth, it wasn’t bad.
Lesley Stahl: I can’t believe how brave I am. Forty-five minutes ago, this was sewer water.
Mike Markus: And now, it’s drinkable.
He says it’s a great model for big cities around the country. But it’s not the answer for areas like the Central Valley, which is sparsely populated and therefore doesn’t produce enough waste. So at least for now, it’s continuing withdrawals from that savings account.
Lesley Stahl: Will there be a time when there is zero water in the aquifer for people in California?
Jay Famiglietti: Unless we take action, yes.
California has taken several actions. Last month, Governor Brown mandated a 25 percent cut in water use by homes and businesses. And the state also enacted a law that for the first time takes steps toward regulating groundwater. But the law could take 25 years to fully implement.
‘Painel sobre defesa’ organizado pelo Comando Militar do Sudeste tratou possibilidade de capital paulista ficar sem água a partir de julho deste ano como assunto de segurança nacional
Volume morto na represa Jaguari-Jacareí, no Sistema Cantareira, em janeiro desse ano (Mídia Ninja)
Por que o Comando Militar do Sudeste (CMSE) está interessado na crise da falta de água em São Paulo?
A resposta veio na tarde da última terça-feira, 28 de abril, durante o painel organizado pelo Exército, que ocorreu dentro de seu quartel-general no Ibirapuera, zona sul da capital paulista.
Durante mais de três horas de debate, destinado a oficiais, soldados e alguns professores universitários e simpatizantes dos militares que lotaram o auditório da sede do comando em São Paulo, foi se delineando o real motivo do alto generalato brasileiro estar preocupado com um assunto que aparentemente está fora dos padrões de atuação militar.
A senha foi dada pelo diretor da Sabesp, Paulo Massato, que ao lado de Anicia Pio, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e do professor de engenharia da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, traçaram um panorama sobre como a crise hídrica está impactando o Estado paulista.
Massato foi claro. Se as obras emergenciais que estão sendo feitas pela companhia não derem resultado e se chover pouco, São Paulo ficará sem água a partir de julho deste ano. O cenário descrito pelo dirigente da Sabesp é catastrófico e digno de roteiro de filme de terror.
“Vai ser o terror. Não vai ter alimentação, não vai ter energia elétrica… Será um cenário de fim de mundo. São milhares de pessoas e o caos social pode se deflagrar. Não será só um problema de desabastecimento de água. Vai ser bem mais sério do que isso…”, enfatiza durante sua intervenção, para na sequência lançar uma súplica de esperança: “Mas espero que isso não aconteça”.
Ele destaca que na região metropolitana de São Paulo vivem 20 milhões de pessoas, quando o ideal seriam quatro milhões. Destas, segundo Massato, três milhões seriam faveladas que furtariam água. “Furtam água ou pegam sem pagar”, conta, arrancando risos da platéia.
Blindagem
Nenhuma crítica, no entanto, foi dirigida ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) pelos presentes durante todo o evento. Apenas uma pessoa se manifestou durante a fala de Massato, afirmando que faltou planejamento estatal. Mas foi interrompido por uma espécie de mestre de cerimônias do comando militar que ciceroneava o evento, pedindo que ele deixasse a questão para as perguntas a serem dirigidas aos debatedores. A pergunta não voltou a ser apresentada.
Mas o resultado pela falta de investimento e planejamento do governo paulista já provoca calafrios na cervical do establishment do Estado. As cenas de Itu podem se reproduzir em escala exponencial na região metropolitana de São Paulo. E é contra isso que o Exército quer se precaver.
O dirigente da Sabesp citou um caso que ocorreu na região do Butantã, zona oeste da capital. De acordo com ele, houve uma reação violenta porque a água não chegou em pontos mais altos do bairro. “Não chegou na casa do ‘chefe’, e aí ele mandou incendiar três ônibus. Aqui o pessoal é mais organizado…”
Em sua intervenção, a dirigente da Fiesp, Anícia Pio, frisa que muito se tem falado sobre a crise de abastecimento da população, mas que não se pode desconsiderar o impacto sobre a indústria paulista. “A crise só não foi maior, porque a crise econômica chegou (para desacelerar a produção).”
De acordo com ela, o emprego de milhares de pessoas que trabalham no setor está em risco se houver o agravamento da crise hídrica.
Se depender das projeções apresentadas pelo professor Zuffo, da Unicamp, a situação vai se complicar. Segundo ele, o ciclo de escassez de água pode durar 20, 30 anos.
Moradores do Jardim Umuarama, em rodízio não oficializado pelo governo de SP (Sarah Pabst)
A empresária destaca ainda que não se produz água em fábricas e que, por isso, é preciso investir no reuso e em novas tecnologias de sustentabilidade. E critica o excesso de leis para o setor, que de acordo com ela é superior a mil.
O comandante militar do Sudeste, general João Camilo Pires de Campos, anfitrião do evento, se sensibilizou com as criticas da representante da Fiesp e prometeu conversar pessoalmente com o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB), sobre o excesso de legislação que atrapalha o empresariado.
Ele também enfatiza que é preciso conscientizar a população sobre a falta de água e lamenta a grande concentração populacional na região. “Era preciso quatro milhões e temos 20 milhões…”, afirma se referindo aos números apresentados por Massato.
O general Campos destaca a importância da realização de obras, mas adverte que “não se faz engenharia para amanhã”. E cita para a plateia uma expressão do ex-presidente, e também general do Exército, Ernesto Geisel, para definir o que precisa ser feito. “O presidente Geisel dizia que na época de vacas magras é preciso amarrar o bezerro.”
“Não há solução fácil, o problema é sério”, conclui o comandante.
Sério e, por isso, tratado como assunto de segurança nacional pelo Exército. O crachá distribuído aos presentes pelo Comando Militar do Sudeste trazia a inscrição: Painel sobre defesa.
Fabio Leite e Lucas Sampaio – O Estado de S. Paulo
31 Março 2015 | 03h 00
Pela primeira vez, governo admite que chuvas não vão tirar o Sistema Cantareira da dependência da reserva profunda
SÃO PAULO – Mesmo com as chuvas acima da média em fevereiro e março, o Sistema Cantareira não vai conseguir recuperar totalmente o volume morto até o fim de abril, admitiu pela primeira vez o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Projeção feita pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) revela que o principal manancial paulista deve encerrar o próximo mês com nível 6% abaixo de zero, ou seja, ainda na reserva profunda.
“Poderemos atingir um total armazenado em torno de 420 bilhões de litros, ao fim de abril, 65 bilhões de litros abaixo do ‘zero’ do volume útil por gravidade”, afirmou o superintendente do DAEE, Ricardo Borsari, em ofício encaminhado ao presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, no dia 20 deste mês.
O volume de água é o mesmo registrado em 21 de agosto do ano passado. Os dois órgãos são responsáveis pela gestão conjunta do Sistema Cantareira.
Sistema Cantareira abastece 5,6 milhões
O manancial, formado por quatro represas, tem 1,47 trilhão de litros, dos quais 982 bilhões fazem parte do volume útil, porque ficam acima do nível dos túneis de captação e podem ser retirados por gravidade, e 485 bilhões, do volume morto, que só podem ser captados por bombas. Destes, 287,5 bilhões de litros foram liberados em duas cotas para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) abastecer a região metropolitana, onde 5,6 milhões de pessoas ainda dependem da água do sistema.
Nesta segunda-feira, 30, o Cantareira operava com 18,9% da capacidade, segundo a Sabesp, que inclui as duas cotas do volume morto no cálculo. Na prática, contudo, o nível estava em -10,4%, se considerada a quantidade de água da reserva profunda usada como negativo, como quer o Ministério Público Estadual (MPE). No sábado, o Estado mostrou que o sistema tem atualmente 57% menos água do que há um ano, déficit de 243 bilhões de litros.
O documento faz parte das negociações entre a ANA, do governo Dilma Rousseff, e o DAEE, do governo Alckmin, para definir a retirada de água do Cantareira. Por causa das discordâncias entre os órgãos, desde 15 de março o manancial é operado pela Sabesp sem uma regra estabelecida.
O presidente da agência federal quer definir uma metodologia de operação e metas futuras de armazenamento até 30 de novembro.
No ofício, Borsari diz que a projeção considera a manutenção das atuais condições de entrada de água (60% das médias mensais históricas) e retirada (10 mil litros por segundo), como ocorre desde fevereiro. Neste cenário, o volume morto só será recuperado no dia 22 de julho, segundo o simulador lançado em janeiro pelo Estado.
Justiça. Em ação civil movida em 2014, o MPE pede que os gestores do Cantareira e da Sabesp operem o manancial para que ele chegue ao fim de abril com 10% positivos, mesmo índice registrado em 30 de abril do ano passado. O governo Alckmin afirma que essa meta é impossível de ser atingida.
Após duas liminares terem sido concedidas e depois derrubas pela Justiça, o juiz federal Wilson Zauhy Filho decidiu, na semana passada, suspender o processo até o dia 11 de maio, quando o DAEE se comprometeu a entregar, em juízo, os estudos da proposta que será feita pela Sabesp para a renovação da outorga do Sistema Cantareira e as respostas às propostas feitas pela ANA para a gestão do manancial durante a crise.
FABRÍCIO LOBEL GUSTAVO URIBE
DE SÃO PAULO EDUARDO SCOLESE
EDITOR DE “COTIDIANO”
30/03/2015 03h00
Em meio à pior crise de abastecimento enfrentada pela Grande SP, o secretário estadual Benedito Braga (Recursos Hídricos) diz que a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) teve de escolher: levar água para a população no período de seca ou respeitar o rito ambiental tradicional para dar andamento a obras emergenciais.
Foi escolhida a primeira opção, de acordo com ele.
“Se fossem respeitados os ritos, não teríamos condições de prover essa água à população em julho [de 2015]”, afirma o secretário, que diz que deverão ser usados “atalhos” para cumprir as exigências.
Em entrevista à Folha, o secretário, que assumiu a pasta em janeiro em meio à crise de abastecimento, avaliou como muito reduzidas as chances de um rodízio de água neste ano.
Para Braga, que é professor de engenharia hidráulica da USP e presidente do Conselho Mundial da Água, as pessoas que torcem pelo rodízio querem ver uma “situação realmente ruim” em SP.
Entre as principais obras emergenciais previstas para este ano está a ligação entre dois mananciais, o Rio Grande e o Alto Tietê. Outras deverão reverter rios da Serra do Mar, alguns em área de Mata Atlântica, para abastecer os reservatórios da Grande SP.
Karime Xavier/Folhapress
O secretário estadual de Recursos Hídricos, Benedito Braga, durante entrevista à Folha
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Folha – Um rodízio neste ano está completamente descartado em São Paulo?
Benedito Braga – Em função das condições que prevalecem nos nossos sistemas de armazenamento, as chances de termos um rodízio são bastante baixas –e nós estamos trabalhando da forma mais conservadora possível, não fazendo hipóteses de que vamos ter grandes chuvas daqui para frente.
É importante observar que, depois dessa crise, não temos uma condição de previsibilidade [de chuvas] muito boa, como tínhamos antes.
Então, não podemos garantir que não vamos ter rodízio. Temos tudo preparado para tomar as decisões dependendo da condição do clima que prevalecer neste ano. Tudo vai depender de como vem a estação seca [de abril a setembro].
Qual deve ser o custo da crise neste ano para a população?
O custo não será diferente do que está sendo agora. Durante este ano, nós teremos ainda que adotar medidas de redução de pressão que incomodam as pessoas, porque é uma situação fora do normal.
É muito importante termos em conta que a situação que vivemos é muito melhor do que uma situação de rodízio.
Haverá um custo muito menor do que aquele que teríamos se implantássemos o rodízio [interrupção completa do fornecimento de água].
O balanço financeiro da Sabesp relativo a 2014 mostrou que o lucro da empresa caiu pela metade. Essa queda será repassada ao consumidor?
O que houve foi uma queda no lucro [de R$ 1,9 bilhão para R$ 903 milhões]. A redução do lucro era esperada, em função da redução do consumo e da concessão de bônus.
Não tem como repassar para a população, isso é um resultado que tivemos em função da crise da água.
Mas essa queda poderá impactar as obras programadas para este ano?
Não. O custo dessas obras não é exagerado. Há previsão orçamentária e não há atraso nenhum nas obras sob o ponto de vista físico e financeiro.
Pela urgência das obras, a questão ambiental não está sendo atropelada?
Nós temos uma situação em que, se fossem seguidos os ritos tradicionais do setor ambiental, nós não teríamos condições de prover essa água à população em julho.
Então, a questão é uma escolha. O que vocês preferem: seguir o rito ambiental ou trazer água para a população?
O governo fez a escolha?
Fez a escolha de seguir o rito dentro da emergência. E, dentro da emergência, você tem atalhos para o setor ambiental. Tudo está sendo feito dentro da mais absoluta regra da lei e da ordem.
A única coisa é que isso teve que ser feito de uma forma mais rápida. E o rito, dentro dessa forma mais rápida, é diferente das obras tradicionais, em que você tem o relatório de impacto ambiental, audiência pública e assim por diante.
Mas a Cetesb faz todas as análises, (…) e o governo não está fazendo nada fora da lei.
Está sendo feita uma obra de emergência, mas dentro de todos os ritos da lei de licitações e da lei ambiental.
As chuvas recentes fizeram com que o governo estadual recuasse na transparência em relação à crise, como não informar o real risco de um rodízio? Não são os mesmos erros do ano passado?
Não, não há erros nem em 2014 nem em 2015 e não haverá erros em 2016. Trabalhamos com uma boa expectativa de passar este ano, mas nos preparando para o pior, que é um plano de contingência.
Estamos fazendo tudo dentro da mais absoluta técnica. Não existe falta de transparência, porque informamos diariamente a situação dos reservatórios da região metropolitana. Não há nenhuma falta de transparência.
Como o senhor classifica a atual situação?
Nós estamos caminhando para ocupar minimamente o volume morto, o que significa que ainda é uma situação muito difícil. Nós gostaríamos que o reservatório estivesse praticamente cheio.
Mas, com essa reserva que estamos acumulando e com as obras que estamos trazendo, temos a possibilidade de superar a crise, mas não é ainda uma situação confortável.
O sr. disse que não houve erros em 2014. Como eleitor, mesmo fora do cargo, o sr. se sentiu atendido pelas declarações do governo sobre a crise?
As decisões tomadas foram corretas. Em 2014, ainda havia o final do ano como uma época em que normalmente há as chuvas e os reservatórios enchem.
Então, tomar uma medida como o rodízio, como muita gente queria, eu sempre fui publicamente contra. Entraram com o incentivo econômico [bônus para quem economizar], depois com as válvulas redutoras de pressão. E foi tudo muito lógico.
Mas a sobretaxa veio só depois da eleição…
Não quero entrar nesse detalhe de sobretaxa [pagamento adicional para quem extrapolar o consumo médio]. O que estou dizendo é que o que foi feito em 2014 foi certo.
Esse negócio de dizer que o governo errou não está certo. Talvez, as pessoas que insistiram muito em rodízio queriam ver uma situação realmente ruim. Seria fácil fazer o rodízio, é só fechar a manivela. O duro é fazer o que a Sabesp fez: colocar válvulas e sofrer o impacto econômico de colocar o bônus.
Então o sr. acha que ter negado que haveria desabastecimento e que seriam usados os dois volumes mortos foram medidas acertadas?
O resultado foi muito bom. Não tivemos desabastecimento, tivemos 1% da população impactada com as medidas. Portanto não tenho crítica.
Mas há problemas de desabastecimento em alguns bairros na periferia de São Paulo…
Não se pode negar que haja uma crise hídrica. É como em uma guerra dizer: “Você vai me matar com uma uma [arma calibre] 45 ou com uma 22?”. É querer colocar regra em meio a uma situação muito complicada. É querer que todo mundo tenha água quando tivemos um ano de 2014 que teve 50% menos água que a mínima de 1953.
A tarifa hoje é muito barata?
São Paulo tem uma das menores tarifas do Brasil. Tem 21 Estados que praticam tarifas acima da tarifa da Sabesp.
Acho que o custo da água, em função da dificuldade de encontrar novos mananciais e dos custos operacionais… Acho que a tarifa hoje no Estado é aquém do necessário.
A crise traz algum benefício?
Acho que sim. O pessoal no Sudeste não sabia que tinha que fazer a barba abrindo e fechando a torneira. O nordestino já sabia disso há muito tempo. A crise trouxe essa consciência.
Trabalhadores contestam as demissões que estão ocorrendo na empresa e vão parar as atividades no dia 19 de março. “Os trabalhadores e a população não podem ser penalizados enquanto a Sabesp quer agradar e atender a demanda dos acionistas”, diz presidente do Sintaema
Os funcionários da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) convocaram, na noite de ontem (10), greve geral a partir do dia 19 de março, por tempo indeterminado. A decisão foi tomada em assembleia no Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
Foto: Sintame. Em assembléia, centenas de trabalhadores da Sabesp aprovaram greve a partir do dia 19 de março.
O sindicato exige a readmissão dos 400 funcionários pensados pela companhia somente neste ano. “A Sabesp já demitiu 400 e pretende chegar aos 600, não podemos admitir isso. Os trabalhadores são essenciais em todas as situações, e principalmente em um momento como este de crise hídrica”, disse o presidente do Sintaema, Rene Vicente, durante o encontro.
“Somos totalmente contra qualquer demissão. Os trabalhadores e a população não podem ser penalizados enquanto a Sabesp quer agradar e atender a demanda dos acionistas”, concluiu.
Na última semana, a Sabesp iniciou um plano de reestruturação em seu quadro pessoal. De acordo com o Sintaema, 300 dispensas já haviam sido homologadas em todo o estado, sendo 70% na área operacional da empresa.
por Laura Capriglione da Ponte com fotos de Mídia NINJA
3 de março de 2015
Relato da viagem de dois paulistas açoitados pela crise hídrica à maior cheia da história do estado amazônico.
Enquanto o sudeste angustia-se com reservatórios de água em situação crítica, e dá boas vindas às águas de março, o Estado do Acre, no extremo oeste do país, vive realidade absolutamente oposta. O nível do rio Acre atingiu os 17,80 metros na segunda-feira (2/03), em Rio Branco, a capital. Com a cheia histórica, o rio bateu seu próprio recorde de altura, obtido em 1997, quando cravou a cota de 17,66 metros acima do leito normal.
Já se contam mais de 8.000 desabrigados em todo o Estado, 5.450 apenas na capital, divididos em cinco abrigos públicos. A cheia atinge 40 dos 212 bairros da cidade. E as águas não param de subir.
Vista aérea de Brasiléia no ápice da cheia. Foto: Secom/AC
Nas ruas, no comércio, o Acre só fala nisso. Em períodos normais de chuvas, o rio sobe de seis a oito metros. Nas estações secas, desce três metros.
“Eu nunca vi uma situação como esta”, disse Raimundo Nonato da Silva, 85 anos, seringueiro aposentado, que perdeu tudo na atual cheia.
Com o nível do rio subindo dia após dia, Raimundo foi pouco a pouco subindo as coisas de casa. A televisão foi para cima do armário, a geladeira ficou deitada em cima da mesa, roupas escalaram os ganchos mais altos da rede.
Centenas de casas alagadas no Bairro 6 de Agosto, na capital Rio Branco. Foto: Mídia NINJA
Mas a cheia do rio surpreendeu e ultrapassou o teto da casa do seringueiro, no bairro 6 de Agosto –nesta segunda-feira quase totalmente submerso. Isso apesar de a casa ficar em cima de palafitas.
Raimundo só saiu no último instante, quando um bote de resgate da Defesa Civil do município propôs-lhe a derradeira chance de ainda tentar a retirada de umas coisinhas, agora pelo telhado da casa. Não deu tempo.
Selva urbana, o bairro de Taquari foi um dos mais afetados da capital. Foto: Mídia NINJA
O prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre (PT), decretou no domingo o estado de calamidade pública. Estado e município cancelaram as atividades normais do funcionalismo e pediram a todos os servidores públicos que ajudem na assistência aos desabrigados.
A equipe do Conta D’água acompanhou de perto a operação de resgate e suporte da alagação, realizada pela defesa civil na zona rural do estado. Foto: Mídia NINJA
O Acre está assustado com a cheia inédita, mas está também encantado com o espetáculo promovido pelo rio amazônicos.
No domingo, enquanto o rio Acre subia rapidamente, e engordava, avançando sobre o calçadão da Gameleira, um dos principais cartões postais de Rio Branco, milhares de moradores saíram de suas casas para apreciar o espetáculo da corredeira.
Carrinhos vendendo pipocas verdes, amarelas e vermelhas, as cores da bandeira do Acre, disputavam terreno com camelôs que ofereciam balões coloridos do Mickey, dos Angrybirds, de Minions (R$ 10 cada).
Turismo hídrico: a cheia virou atração nesse domingo na capital Rio Branco. Foto: Mídia NINJA
Foto: Mídia NINJA
Meninos jogavam-se no rio feroz e cheio de galhos arrancados das florestas por onde passou. Eram arrastados até a ponte velha, de lá emergindo. E, de novo, jogavam-se no rio. E, de novo.
Os ricos exibiam-se em acrobacias a bordo de jet skis.
Pulos dos mais diversos lugares e alturas marcaram o entretenimento fluvial dos acrianos. Foto: Mídia NINJA
“É triste ver as pessoas perderem tudo com a cheia do rio, mas que é bonito ver essa força das águas, ah, isso é!”, disseram, com variações pequenas, todas as pessoas que entrevistamos.
“Trata-se de uma outra relação com o rio, com a natureza, com os ciclos da vida”, explicou–nos a irmã Maria Amélia, uma freira católica gaúcha que morou em São Paulo durante oito anos. Ela também se admirava com o espetáculo fluvial, enquanto conversava com outra freira, traçando planos de viagem para Brasiléia, na fronteira com a Bolívia, para ajudar os desabrigados de lá.
Centro comercial de Brasiléia, no interior do estado, devastado pela alagação. Foto: Mídia NINJA
Banhada pelo rio Acre, Brasiléia é um município difícil de definir, por causa das incríveis contradições que contém. É por lá que entram os haitianos trazidos por coiotes (especialistas em tráfico de gente). São centenas (já foram milhares) esperando a documentação de refugiados no posto da Polícia Federal.
Também se veem cholas e bolivianos em geral andando pelas ruas, sempre acompanhados por suas famílias. Provêm do vizinho município de Cobija, onde se pode comprar muambas variadas, já que possui uma zona franca à moda de Ciudad Del Leste, no Paraguai. “Chegou Notebook — HP, Asus, Apple, Celulares”, lê-se à guisa de boas vindas, na fronteira.
Pela proximidade com a Bolívia, a região de Brasiléia é marcada pelo comércio. Foto: Mídia NINJA
A ação de limpeza e recuperação da cidade já dura dias. Foto: Mídia NINJA
Separados de Brasiléia apenas pelo rio Acre, os bolivianos pobres de Cobija percorrem as ruas brasileiras, investigando o lixo que os acrianos jogam fora. Reaproveitam quase tudo.
Com as inundações atingiram o centro comercial de Brasiléia como um tsunami fluvial, os brasileiros descartaram de tudo: de mesas com a madeira inchada pela água, roupas e sapatos sujos de lama, fantasias, fogões, geladeiras, colchões, pedaços de vidraças estouradas pela força das águas, pacotes de alimentos e até remédios.
Tudo que aparecesse envolto em um creme cor de chocolate, mas que pudesse recuperar alguma função uma vez lavado era ente recolhido pelas famílias bolivianas, e levado para o outro lado da fronteira.
Mesas, vidros, restos de roupas: de tudo se aproveita. Foto: Mídia NINJA
A inundação criou uma apreensão absolutamente original (e em boa parte imaginária) em Brasiléia. Nos bairros Leonardo Barbosa e Samaúma, situados em uma curva do rio Acre, a cheia ilhou os moradores brasileiros dentro do território boliviano.
“Minha família perdeu quase tudo. Estamos sem energia, sem água; estamos agora ilhados. Perdemos muito, porque não acreditamos que a água fosse subir tanto. Mas não perdemos a vida e o amor pelo Brasil. Não aceito, a esta altura da minha vida, virar boliviano”, disse Francisco Nogueira Cavalcanti, casado, uma filha, enquanto acompanhava a movimentação de uma retroescavadeira cedida pela Prefeitura, que recompunha a ligação entre os dois bairros e o Brasil. Ufa!
Oito dias sem luz, Dona Maria improvisa a iluminação de sua casa com velas. Foto: Mídia NINJA
A cheia dos rios da região amazônica é diferente da cheia dos rios em outras regiões do país. Na bacia amazônica, as cheias fazem parte do regime hidrológico da região. Quando chove, um rio não transborda imediatamente, como acontece em São Paulo, por exemplo. Como vasos comunicantes, os rios sofrem o impacto das cheias nas regiões altas, que “descem” por gravidade para as partes mais baixas do leito fluvial.
Eis porque Rio Branco viveu em suspense toda a semana passada, acompanhando as notícias sobre o comportamento do rio Acre quando passou por Brasiléia primeiro e, depois, por Xapuri. Se subisse fortemente em Brasiléia, se mantivesse a mesma força ao varrer Xapuri, provavelmente as águas chegariam desvastadoras em Rio Branco.
Foi o que aconteceu.
Continuaremos este relato de viagem com as histórias sobre como a cheia devastou a cidade de Xapuri, terra do líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes. Também postaremos a entrevista com seu companheiro de sindicato e de luta pela preservação da floresta, Luiz Targino de Oliveira de 83 anos.
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A alagação vista dos céus
Confira imagens de Rio Branco, no Acre, durante a maior cheia de sua história
fotos de Mídia NINJA
3 de março de 2015
Já se contam mais de 8.000 desabrigados em todo o Estado, 5.450 apenas na capital, divididos em cinco abrigos públicos. A cheia atinge 40 dos 212 bairros da cidade, com a elevação de 18m do rio. E as águas não param de subir..
Seca em SP revela carros, construções antigas e lixo
19.fev.2015 – As chuvas que têm atingido São Paulo em fevereiro estão recuperando o nível do sistema Cantareira, que fornece água para 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Na montagem, a imagem onde aparece menos água foi feita em dezembro de 2014. Já a foto que mostra a represa mais cheia é deste mês. Com a elevação, carros que surgiram com a seca e não foram retirados voltam a ser encobertos pelas águas Leia mais Estadão Conteúdo
A carcaça de um carro que se tornou uma espécie de símbolo da falta de água no Cantareira, sistema que abastece um terço da população da Grande São Paulo(6,5 milhões de pessoas), foi furtado há 20 anos.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), após averiguar o número do chassi, a polícia descobriu que o veículo foi furtado em 1995 na cidade de São Paulo.
O caso é investigado pela delegacia de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo). A polícia ainda não identificou os suspeitos pelo crime.
A carcaça passou a chamar a atenção de quem passava pela região da represa Atibainha, que faz parte do sistema Cantareira, depois que foi grafitada em 2014 pelo artista Mundano. No carro, foi escrito “Bem-vindo ao deserto da Cantareira”, um protesto contra a crise de falta de água.
Os primeiros começaram a aparecer em meados de agosto de 2014, à medida que foram caindo os níveis de água das represas de São Paulo por causa da falta de chuva.
Evelson de Freitas/Agência Estado
Grafite em pilastra na represa Atibainha reproduz carro que virou símbolo da seca
Emmanuel Levinas disse que a “consciência é a urgência de uma destinação dirigida a outro, e não um eterno retorno sobre si mesmo”. Penso que, embora não pareça, a frase se relaciona intimamente à “crise hídrica” em São Paulo.
Temos sido obrigados a ouvir e a falar em “crise hídrica”, na “maior seca em 84 anos” e expressões afins, que culpam a natureza, e não em catástrofe, colapso, responsabilidade ou palavras de igual gravidade.
O cidadão comum vive, na gestão do governo paulista, sob um regime eufemístico de linguagem, em aparência elegante, mas, na verdade, retoricamente totalitário, com o qual somos obrigados a conviver e, ainda, forçados a mimetizar.
“Crise hídrica”, “plano de contingência”, “obras emergenciais”, “volume morto”, “reservatórios”, tal como vêm sendo usados, não são mais que desvios covardes da linguagem e da política para ocultar o enfrentamento do real.
Não há água, houve grande incompetência, haverá grandes dificuldades, é necessário um plano emergencial de orientação e a criação de redes de contenção e de solidariedade. É preciso construir e distribuir cisternas, caixas d’água para a população carente, ensinar medidas de economia, mobilizar as subprefeituras para ações localizadas e, sobretudo, expor pública e claramente medidas restritivas à grande indústria e à agricultura, que podem ser bem mais perdulárias do que o cidadão.
Mas nada disso se diz ou faz. E por quê? A impressão que tenho é a de que a maioria dos políticos não trabalha sob o regime da responsabilidade –a condição de “destinação ao outro”–, mas sim na forma do “eterno retorno sobre si mesmo”.
Vive-se, em São Paulo, uma situação de absurdo, em que, além das enormes dificuldades cotidianas –deslocamento, saúde, segurança, educação, enchentes, e agora, a de ter água–, ainda é preciso ouvir o presidente da Sabesp dizer que São Pedro “tem errado a pontaria”.
Meu impulso é o de partir para o vocativo: “Ei, presidenta Dilma, deputados federais, governador Alckmin, prefeito Haddad, vereadores! Ouçam! Nós os elegemos para que vocês batalhem por nós, e não por seus mandatos! Nós é que somos aquele, o outro, a quem vocês devem responsabilidade!”.
Ou não tem relação com a “crise hídrica” um deputado federal receber cerca de R$100.000,00 por mês em “verbas de gabinete”? Por que deputados têm direito a um benefício que, entre outros, lhes garante seguro de saúde e carro, se quem ganha muitíssimo menos não tem?
Desafio os deputados, um a um, a abrirem mão publicamente de seus seguros de saúde e a usarem o transporte público para irem ao trabalho –a entrarem no real.
Até quando a população, sobretudo a mais carente, que tem poucos instrumentos para amenizar o que já sofre, vai ser tutelada e oprimida sob o manto eufemístico da “maior seca em 84 anos”?
Queremos o real, a linguagem responsável, que explicita o olhar para o outro e dá sustentação e liberdade para que se possam superar as dificuldades com autonomia.
O eufemismo livra os políticos e aliena a população da chapa maciça do real. Ele representa um estado semelhante à burocracia ineficaz. Como ser responsável se, para cada ação, há infinitas mediações?
O resultado é que as mediações acabam por alimentar muito mais a si mesmas do que ao objetivo final e inicial de governar: ser para o outro –no caso, nós, impotentes diante do que nos obrigam e do que, há meses, nos forçam a presenciar.
NOEMI JAFFE, 52, é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de “O que os Cegos Estão Sonhando?” (editora 34)
Hoje assistimos e ouvimos nos noticiários sobre mais uma elevação no nível do Sistema Cantareira. Finalmente — e só no fim de Fevereiro — saímos da Reserva Técnica 2 (Volume Morto 2) e atingimos a “cota zero” da Reserva Técnica 1. Mas o que isso quer dizer na prática? Já é possível respirarmos um pouco mais aliviados com relação a segurança do nosso abastecimento de água? Infelizmente e definitivamente, não!
Como podemos ver no gráfico, estamos muito abaixo dos níveis registrados nos últimos quatro anos para esta mesma data. Ainda são necessários mais 182 bilhões de litros apenas para encher a Reserva Técnica 1 e atingir a “cota zero” do chamado Volume Útil. Tivemos um Fevereiro bem chuvoso na Cantareira (ninguém pode culpar S. Pedro este mês), já são quase 70mm acima da média histórica. Mas, a partir de agora as médias mensais tendem a diminuir continuamente — e drasticamente — até o final do inverno. Não vai bastar rezar, com certeza.
A SABESP divulgou no seu boletim de hoje que atingimos 10,7% do volume total do sistema. Essa informação não ajuda — na verdade confunde — o entendimento da realidade nos reservatórios. E cremos que essa confusão se dá por duas características desse índice:
1. O cálculo é feito a partir da soma do Volume Útil (antes de maio/2014) + Reserva Técnica 1 (após maio/2014) + Reserva Técnica 2 (após outubro/2014);
2. Mesmo utilizando esse total, o cálculo está simplesmente errado.
No primeiro caso, ao optar por utilizar o volume total de água disponível para calcular a porcentagem, a SABESP parece querer que esqueçamos que na verdade estamos utilizando as Reservas Técnicas, que só podem ser utilizadas em caráter extraordinário. Melhor seria que ela separasse e deixasse explícito o que é Reserva Técnica do que é Volume Útil no seu índice. Por exemplo, como fizemos no gráfico, colocando as porcentagens como negativas enquanto não ultrapassarmos as cotas das Reservas Técnicas.
No segundo caso é ainda mais grave e básico: um erro matemático. Uma vez que a SABESP está considerando a soma total (Volume Útil + Reservas Técnicas) no cálculo do índice, tinha de utilizar o volume somado para calcular as porcentagens, mas está usando apenas o valor do Volume Útil [!]. Resultado: um índice com valor nominal maior do que o correto. No índice de hoje, por exemplo, o resultado correto é de 8,3% e não 10,7% [!!]. Em se mantendo o procedimento e caso atinjamos a cota máxima do sistema em algum momento futuro — tomara! — o índice que representará o sistema “cheio” será de absurdos 129,2% [!].
Dada esta inusitada situação, com o objetivo de contribuir para o melhor entendimento da realidade e para a maior transparência dos dados, o Rios e Ruas decidiu atualizar e publicar diariamente o gráfico de comparação do volume do Sistema Cantareira de 2011 a 2015 na mesma data de cada ano, utilizando as duas formas de representá-los.
Fonte dos Dados: SABESP
Para saber mais sobre o erro no cálculo: Guia Rápido
O racionamento de água no estado de São Paulo já está consolidado e não é novidade para ninguém. Independente da região, não é difícil encontrar casas ou estabelecimentos que fiquem um ou mais dias sem água, todas as semanas. Os que não ficam só conseguem se segurar graças aos caminhões pipa. Ainda que essa situação seja um consenso, o governador Geraldo Alckmin e a Sabesp seguem negando o rodízio, negligenciando informação e adiando medidas para conter, de fato, a crise pela qual eles mesmos são os responsáveis.
Diante da inércia do poder público, a população vem se organizando para encontrar maneiras de adiar o pior ou mesmo pressionar os governantes para que se mude a lógica de como a água é administrada no estado. Do final do ano passado para o início deste ano, uma série de atos, atividades e aulas públicas relacionadas à crise hídrica vêm acontecendo independentemente da ação do poder público.
Para esta quinta-feira (26), por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) convocou um grande ato — a Marcha pela Água — com o intuito de cobrar do governo transparência na gestão da crise e o direito universal à água.
Outros coletivos, entidades e movimentos pautados pela crise da água vêm nascendo e alguns deles, inclusive, atuando já há algum tempo. Com o objetivo em comum — o de garantir o acesso à água para todos — cada um desses grupos propõe diferentes métodos, caminhos e soluções.
Saiba quem é quem nessa nova configuração de lutas nascida no solo seco do estado de São Paulo.
Coletivo de Luta pela Água
O Coletivo de Luta pela Água publicou seu manifesto em janeiro deste ano diante do acirramento da crise no abastecimento no estado de São Paulo. Trata-se de um coletivo composto por movimentos sociais, sindicatos, gestores municipais e ONG’s que busca articular a sociedade civil na luta pelo direito à água. Como solução para a crise, a entidade propõe que o governo apresente imediatamente um Plano de Emergência que explicite de forma clara os próximos passos que serão tomados a partir de um amplo diálogo com a sociedade e representantes dos municípios.
Aliança pela Água
A Aliança pela Água reúne uma série de entidades com diferentes áreas de atuação, mas principalmente as ligadas à questão ambiental. A ideia é construir, junto à sociedade — diante da inércia do governo estadual para com a crise no abastecimento — soluções para a segurança hídrica através de várias iniciativas.
Para isso, o coletivo tem realizado uma série de mapeamentos, aulas públicas, atos e consultas com especialistas para traçar caminhos, o que já levou à divulgação de uma Agenda Mínima, com 10 ações urgentes e 10 ações a médio e a longo prazo. Entre as propostas, estão a criação de um comitê de gestão da crise, a divulgação aberta de informações para a população, ação diferenciada das agências reguladoras para grandes consumidores (indústrias e agronegócio), incentivo às novas tecnologias, implantação de políticas de reuso, recuperação e proteção dos mananciais, transcrição de um novo modelo para a gestão da água, entre outras.
Assembleia Estadual da Água
A Assembleia Estadual da Água surgiu a partir de entidades, como o coletivo Juntos!, do PSOL, que desde o ano passado vem realizando mobilizações contra a crise no abastecimento. No final do ano, a entidade teve contato com o movimento Itu Vai Parar, que lutava contra a calamidade ocorrida em Itu, uma das primeiras cidades a sentir mais intensamente os efeitos da crise. A partir do diálogo, diversas outras entidades decidiram se reunir para, em dezembro, realizar oficialmente a Assembleia Estadual da Água, em Itu, que contou com a participação de mais de 70 coletivos, entidades e movimentos. A Assembleia vem realizando uma série de atividades para mobilizar a população em torno do tema, inclusive em parceria com outros movimentos, como a Aliança pela Água.
MTST
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) também resolveu abraçar a causa da água. O movimento, que conta com milhares de militantes e com o apoio de dezenas de entidades, vai realizar o ato Marcha pela Água, no próximo dia 26. Eles exigem transparência do governo estadual para com a situação, a elaboração urgente de um plano de emergência e o fim da sobre taxa em relação ao consumo.
Lute pela água
O coletivo Lute pela Água busca fazer reuniões de bairro para articular a população na luta pelo direito à água e já realizou, desde o ano passado, três protestos contra a crise no abastecimento. Formado por membros do coletivo Território Livre e da Frente Independente Popular (FIP), o movimento defende a estatização da Sabesp e a gestão popular da companhia.
Conta D’água
O Conta D’água é um coletivo de comunicação, que reúne diversos veículos de mídia independente, bem como movimentos e entidades, com o intuito de fazer um contraponto à narrativa da mídia tradicional, que insiste em blindar o governo estadual e a Sabesp pela crise no abastecimento. Com matérias, reportagens, informes, entrevistas e eventos, o Conta D’água vem, desde o ano passado, participando das principais mobilizações em torno do tema e pautando o assunto com o viés e as demandas da população.
Agenda das mobilizações
26/2 (quinta-feira) — Marcha pela Água em São Paulo Local: Largo da Batata, Pinheiros Horário: 17h
20/03 (sexta-feira) — Dia de Luta pela Água Realização: Coletivo de Luta pela Água Local: Vão livre do MASP Horário: 14h30
27/03 (sexta-feira) — 4º Ato Sem Água São Paulo vai Parar Realização: Lute pela Água Local: Largo da Batata, Pinheiros Horário: 18h00
Você vem tomando banho de gato para economizar água? Não descarrega a privada se ela estiver apenas com xixi? Usa a água da lavadora de roupas para limpar o quintal? Sua casa está cheia de caixas d’água e baldes para armazenar chuva?
Oi! Estamos falando com você porque estamos na mesma situação.
O governador Geraldo Alckmin e a Sabesp — que vivem no reino da fantasia — dizem que não há racionamento, que não há falta de água na cidade.
Mas –na vida real– ou falta água todo dia, ou falta durante muitos dias seguidos, como já vem acontecendo na zona leste da capital.
Agora, o governador e a Sabesp dizem que os mananciais estão se recuperando com as chuvas de verão.
Eles querem nos tranquilizar porque têm medo do povo na rua.
A verdade é que os reservatórios de água, as represas e os rios que abastecem a região metropolitana de São Paulo estão nos níveis mais baixos da história.
As chuvas que têm desabado sobre a cidade são como uns caraminguás entrando numa conta que já está estourada no cheque especial. Sim, porque explorar o volume morto do sistema Cantareira (como ainda está acontecendo) é como entrar no cheque especial: fácil entrar, difícil sair.
Quando começar a estiagem, a partir de abril, aí é que a coisa vai ficar feia:
Seca climática sem reserva de água é o mesmo que aumento de doenças, fechamento de fábricas, comércio e escolas, desemprego.
Em uma palavra: sofrimento.
O pior de tudo é que enquanto nós fazemos uma economia danada e enfrentamos a interrupção no fornecimento de água, a Sabesp premiou 500 empresas privilegiadas com o direito de receber todo santo dia milhões de litros de água potável — e elas pagam uma tarifa camarada, bem mais baixa do que a dos cidadãos comuns.
É justo isso?
A reponsabilidade por tanto desmando é do governo do Estado, que não fez os investimentos necessários para reduzir os vazamentos nos canos de água da rede de abastecimento; que privatizou parte da Sabesp e distribuiu gordas fatias dos lucros para acionistas na bolsa de valores de Nova York; que preferiu culpar São Pedro a tomar providências; que presenteia com agrados os amigos da empresa.
E eles ainda querem aumentar a tarifa da água em abril!
Porque não queremos mais ser enganados; porque a população exige a elaboração de um plano de emergência para lidar com a seca; porque não queremos pagar nem um centavo a mais pela água que a Sabesp não entrega, porque não aceitamos privilégios no acesso à água, vamos fazer um grande ato público nesta quinta-feira (26 de fevereiro).
A iniciativa, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), já conseguiu a adesão de vários movimentos sociais e de ambientalistas. A concentração será às 17h no Largo da Batata, em Pinheiros. De lá sairemos em passeata para o Palácio dos Bandeirantes, mansão onde vive o governador Geraldo Alckmin.
Vamos dizer bem alto para ele que não aceitamos pagar o pato pela crise que não criamos;
Que exigimos água boa, limpa e cristalina para todos (e não só para os mais ricos e privilegiados);
Chega de irresponsabilidade com a vida da população!
A forte chuva que atingiu a Grande SP na tarde de quarta-feira (25) fez com que o nível do Cantareira aumentasse 0,3 ponto percentual em comparação com o dia anterior. O manancial opera agora com 11,1%, índice ainda considerado crítico.
Apesar de ter subido mais do que nos dias anteriores, o aumento não foi tão alto porque, segundo meteorologistas, a chuva forte que atingiu São Paulo não passou pela região do manancial. Lá, a chuva foi mais moderada.
Representantes da Sabesp, no entanto, reiteraram na quarta-feira em sessão na Câmara Municipal de São Paulo que não está previsto um rodízio de água para a Grande SP. mesmo com as chuvas abaixo do previsto para março.
Fevereiro, segundo dados divulgados pela Sabesp, vai fechar com chuvas bem acima da média histórica. Até agora, no Cantareira registrou 293 mm de chuva quando a média para o mês é de 199,1 mm.
O Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas na zona norte e partes das zonas leste, oeste, central e sul da capital paulista -eram cerca de 9 milhões antes da crise. Essa diferença passou a ser atendida por outros sistemas.
Desde julho de 2014, em meio à grave crise hídrica, o governo paulista utilizou duas reservas do fundo da represa, conhecidas como volume morto. Esse volume, no Cantareira espalhado em três diferentes represas, é a porção que fica abaixo das tubulações que captam água. E, para ser utilizada, precisa ser bombeada.
A segunda cota do volume morto, de 105 bilhões de litros, começou a ser usada em novembro. Nesta terça, quando o sistema atingiu 10,7% de sua capacidade, o equivalente a ela foi recuperado. Já a primeira cota do volume morto, de 182,5 bilhões, talvez somente possa ser recuperada em um ou dois anos. Isso ocorrerá quando o nível do manancial atingir 29,2%.
A utilização do volume morto, segundo especialistas, pode ser comparada ao uso do cheque especial. Ambientalistas também apontam alguns riscos, como o de extinção de uma reserva técnica do manancial, por exemplo.
Rubens Fernando Alencar e Pilker/Folhapress
OUTROS RESERVATÓRIOS
Já o nível do reservatório Alto Tietê, que também sofre as consequências da seca, opera com 18,3% de sua capacidade, o mesmo índice registrado há quatro dias.
O sistema abastece 4,5 milhões de pessoas na região leste da capital paulista e Grande São Paulo. No dia 14 de dezembro, o Alto Tietê passou a contar com a adição do volume morto , que gerou um volume adicional de 39,5 milhões de metros cúbicos de água da represa Ponte Nova, em Salesópolis (a 97 km de São Paulo).
O nível da represa de Guarapiranga, que fornece água para 5,2 milhões de pessoas nas zonas sul e sudeste da capital paulista, avançou 1,1 ponto percentual e opera com 59,8% de sua capacidade.
O reservatório Rio Grande, que atendem a 1,5 milhão de pessoas, caiu 0,1 ponto percentual e opera agora com 83,3%. Já o reservatório Rio Claro, que também atende 1,5 milhão de pessoas, avançou 0,2 percentual. O sistema opera com 35,7%
O sistema Alto Cotia também teve melhora passando de 36,4% para 37,7%. O reservatório fornece água para 400 mil pessoas.
A medição da Sabesp é feita diariamente e compreende um período de 24 horas: das 7h às 7h.
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