Arquivo mensal: maio 2019

Projeto Rios Voadores

https://riosvoadores.com.br/


Fenômeno dos rios voadores

Os rios voadores são “cursos de água atmosféricos”,  formados por massas de ar carregadas de vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens, e são propelidos pelos ventos. Essas correntes de ar invisíveis passam em cima das nossas cabeças carregando umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Essa umidade, nas condições meteorológicas propícias como uma frente fria vinda do sul, por exemplo, se transforma em chuva. É essa ação de transporte de enormes quantidades de vapor de água pelas correntes aéreas que recebe o nome de rios voadores – um termo que descreve perfeitamente, mas em termos poéticos, um fenômeno real que tem um impacto significante em nossas vidas.

A floresta amazônica funciona como uma bomba d’água. Ela puxa para dentro do continente a umidade evaporada pelo oceano Atlântico e carregada pelos ventos alíseos. Ao seguir terra adentro, a umidade cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da árvores sob o sol tropical, a floresta devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água. Dessa forma, o ar é sempre recarregado com mais umidade, que continua sendo transportada rumo ao oeste para cair novamente como chuva mais adiante.

Propelidos em direção ao oeste, os rios voadores (massas de ar) recarregados de umidade – boa parte dela proveniente da evapotranspiração da floresta – encontram a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes. Eles se precipitam parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formando as cabeceiras dos rios amazônicos. Porém, barrados pelo paredão de 4.000 metros de altura, os rios voadores, ainda transportando vapor de água, fazem a curva e partem em direção ao sul, rumo às regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e aos países vizinhos.

É assim que o regime de chuva e o clima do Brasil se deve muito a um acidente geográfico localizado fora do país! A chuva, claro, é de suma importância para nossa vida, nosso bem-estar e para a economia do país. Ela irriga as lavouras, enche os rios terrestres e as represas que fornecem nossa energia.

diagrama

O caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto Rios Voadores

O diagrama ao lado mostra os caminhos dos rios voadores. Clique na imagem para abrir em tamanho maior, para melhor visualização.

Na página dos Vídeos e das Animações Didáticas, há outros recursos que explicam os processos de formação dos rios voadores.

Por incrível que pareça, a quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta amazônica pode ter a mesma ordem de grandeza, ou mais, que a vazão do rio Amazonas (200.000 m3/s), tudo isso graças aos serviços prestados da floresta.

Estudos promovidos pelo INPA já mostraram que uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro é capaz de bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água, em forma de vapor, em um único dia – ou seja, mais que o dobro da água que um brasileiro usa diariamente! Uma árvore maior, com copa de 20 metros de diâmetro, por exemplo, pode evapotranspirar bem mais de 1.000 litros por dia. Estima-se que haja 600 bilhões de árvores na Amazônia: imagine então quanta água a floresta toda está bombeando a cada 24 horas!

Todas as previsões indicam alterações importantes no clima da América do Sul em decorrência da substituição de florestas por agricultura ou pastos. Ao avançar cada vez mais por dentro da floresta, o agronegócio pode dar um tiro no próprio pé com a eventual perda de chuva imprescindível para as plantações.

O Brasil tem uma posição privilegiada no que diz respeito aos recursos hídricos. Porém, com o aquecimento global e as mudanças climáticas que ameaçam alterar regimes de chuva em escala mundial, é hora de analisarmos melhor os serviços ambientais prestados pela floresta amazônica antes que seja tarde demais.

Obs. O termo “rios voadores” foi popularizada pelo prof. José Marengo do CPTEC.

Links de sites relacionados ao tema.
CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: www.inpe.br
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: www.inpa.gov.br
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia : lba.inpa.gov.br/lba/
IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia: www.imazon.org.br

Reservas legais preservam o poder da floresta de fazer chover (O Globo)

Ana Lucia Azevedo

02/05/2019 – 04:30

Projeto de lei que revoga unidades de conservação pode provocar impactos em setores como agricultura, geração de energia e turismo

Para especialistas, projeto de lei que revoga obrigatoriedade de reservas legais em propriedades rurais coloca em risco equilíbrio e a proteção da floresta Foto: CARL DE SOUZA/AFP/22-9-2017
Para especialistas, projeto de lei que revoga obrigatoriedade de reservas legais em propriedades rurais coloca em risco equilíbrio e a proteção da floresta Foto: CARL DE SOUZA/AFP/22-9-2017

RIO — Um dos ditados populares da Amazônia diz que “a floresta faz chover”. E faz, não só na Região Norte, mas muito distante, no Sul do Brasil e até em partes da Argentina e do Uruguai, com impacto sobre a agricultura, a geração de energia e o turismo.

A discussão sobre as consequências do projeto de lei 2.362/2019, dos senadores Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Márcio Bittar (MDB-AC), que revoga a obrigatoriedade de se manter a chamada reserva legal nas propriedades rurais, acabou por destacar a relevância da Floresta Amazônica para o clima do Brasil. É na Amazônia que nascem os rios voadores que distribuem chuvas no país.

A expressão rios voadores foi criada há quase duas décadas pelo meteorologista José Marengo, coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ela se refere aos jatos de ar carregados de umidade que se originam sobre a floresta e atravessam o Brasil, a cerca de 3 mil metros de altitude.

Um de seus efeitos bem estabelecidos é permitir a existência das florestas do oeste do Paraná, como as das cataratas do Parque Nacional do Iguaçu e as que protegem a Usina de Itaipu.

O climatologista Carlos Nobre, um dos mais respeitados especialistas do mundo em mudanças climáticas, explica que está comprovado que, quando uma seca castiga a Amazônia, chove menos em toda a vasta região que vai do oeste do Paraná, onde estão as florestas de Iguaçu, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e chega até o centro-leste da Argentina, Uruguai e Paraguai.

Impacto na agricultura

Só existe floresta no Paraná porque chove no inverno por lá, e chove porque os rios voadores levam a umidade da Amazônia.

— Se não fosse a umidade da Amazônia, toda essa região seria uma savana — afirma Nobre.

Chove menos em Foz do Iguaçu, por exemplo, do que em Brasília. Enquanto nesta caem de 1.600 a 1700 milímetros de chuva por ano, em Foz a média é de 1.300 mm. Porém, Brasília tem uma estiagem de meio ano e vegetação de Cerrado. Já em Foz e em toda a área coberta pelos rios voadores, a chuva é distribuída ao longo do ano, graças a eles.

Os rios voadores são canais de umidade que transportam vapor d’água e fazem com que chova durante todo o ano, inclusive no inverno, normalmente seco no Centro-sul. Sem chuva ao longo de todo o ano, não há condições para existir uma floresta, observa Nobre.

As reservas legais protegem 80% das florestas de uma propriedade rural e são essenciais para deter o desmatamento e, assim, preservar a Amazônia e os rios voadores que ela gera. Mas, para Nobre, a maior importância das reservas legais está na proteção da própria Amazônia.

As florestas prestam serviços, como redução da temperatura — são até 3 graus Celsius menos quentes que plantações e pastagens —, produção de água, prevenção de erosão e polinização de culturas comerciais.

— O maior impacto do desmatamento das reservas legais será para a agricultura da região, que já enfrenta um clima hostil e um solo pobre — salienta.

Professor titular do Instituto de Física da USP e reconhecido como o maior especialista do mundo em química da atmosfera da Amazônia, Paulo Artaxo vê ameaça concreta de perdas para os investidores nos setores agrícola e de energia, que dependem da disponibilidade de água e da regularidade climática.

— O desmatamento afeta o fluxo de umidade na atmosfera e traz desequilíbrio. A destruição de reservas legais trará incerteza para o Brasil. Para quem investe, é um fator de risco.