Arquivo mensal: junho 2022

‘A Queda do Céu’ expõe sabedoria de xamã, dizem curadores do 200 anos, 200 livros (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Intelectuais comentam o livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert, uma das obras mais indicadas no projeto

Gabriel Araújo

27 de junho de 2022


No mês passado, a terra indígena Yanomami completou 30 anos de demarcação, efeméride marcada, por um lado, pelo luto pela violência que a comunidade tem sofrido e, por outro, pela celebração dos direitos alcançados nessas três décadas.

Na ocasião, como contou reportagem da Folha, o anfitrião e líder indígena Davi Kopenawa lembrou a cosmogonia descrita no livro “A Queda do Céu”, escrito em coautoria com o antropólogo francês Bruce Albert.

“No começo do mundo, o céu caiu e matou o primeiro povo que nasceu. Nós somos o segundo povo, aquele que segurou o céu e pôde sobreviver”, ele disse, não sem antes ressaltar que o risco de uma nova queda é iminente.

Lançado em 2015, “A Queda do Céu” ocupa o segundo lugar no projeto 200 anos, 200 livros, que indicou importantes obras para entender o Brasil.

O livro foi recomendado por 20 dos 169 intelectuais que compuseram o conselho curador da iniciativa, promovida pela Folha, pela Associação Brasil Portugal 200 anos e pelo Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG).

“Grande Sertão: Veredas” (1956), de Guimarães Rosa, também ocupa a segunda posição, com 20 recomendações. “Quarto de Despejo” (1960), de Carolina Maria de Jesus, foi a obra mais indicada.

“Kopenawa reitera que os yanomami defendem a terra ‘porque desejam continuar vivendo nela como antigamente’”, diz a poeta e crítica literária Graça Graúna, uma das intelectuais convidadas pelo projeto.

“Que assim seja porque as palavras dos espíritos estão gravadas no mais fundo do seu pensamento e que, pela força de Omana (o Criador), essas palavras se renovam no xamã o tempo todo.”

Thyago Nogueira, diretor do departamento de fotografia contemporânea do IMS (Instituto Moreira Salles) e editor-chefe da revista ZUM, também recomenda o livro.

“O líder e xamã reinventa a compreensão do Brasil ao narrar a origem do mundo e de tudo o que é vivo, os fundamentos de sua civilização, sua luta incansável contra o genocídio e a falácia destrutiva da ideia de desenvolvimento promovida pelo ‘povo da mercadoria’”, ele escreveu.

Leia a seguir comentários dos curadores que indicaram “A Queda do Céu”.

Djuena Tikuna

Cantora, foi a primeira jornalista indígena Tikuna formada no estado do Amazonas

“A obra é uma esplêndida sessão xamânica guiada pelo líder yanomami Davi Kopenawa. O livro aborda elementos da cultura yanomami, sua visão de mundo, a importância das práticas xamânicas para a saúde do universo, um testemunho que vem da floresta com a legitimidade de seus espíritos.

Outra parte da obra narra a relação com os brancos: como estes lidam com a terra, a exploração do ouro e as doenças trazidas com os garimpeiros. Também é uma autobiografia de Kopenawa, uma das maiores lideranças indígenas do país, com reconhecimento internacional por sua luta em defesa da Amazônia.”

Eric Novello

Escritor, roteirista e tradutor de livros e quadrinhos, é autor da novela “Ninguém Nasce Herói”

“Registrado ao longo de anos pelo etnólogo Bruce Albert, o livro reúne relatos do xamã yanomami Davi Kopenawa, contando da sua preparação para se tornar xamã a seu ativismo pela demarcação de terras dos yanomami e preservação das florestas.

Por meio de um potente relato, aprendemos sobre os costumes, a cosmologia e a riqueza da cultura do povo Yanomami. Aprendemos ainda sobre o rastro de violência, destruição e doenças deixado pelo contato com missionários religiosos, garimpeiros e construtores de estradas.”

Fernanda Diamant

É uma das criadoras da editora Fósforo e da livraria Megafauna; foi curadora da Flip

“Livro escrito a partir do relato do xamã e porta-voz dos yanomami, Davi Kopenawa, ao etnólogo francês Bruce Albert, que tiveram mais de 30 anos de convivência.

A obra é uma mistura de relato autobiográfico, história do impacto da chegada dos brancos —destruição, doença, violência—, xamanismo e cosmologia dos povos da floresta, e ainda uma mirada para o futuro e a importância da preservação da Amazônia.”

Graça Graúna

Indígena potiguara, é poeta e crítica literária, autora de “Tessituras da Terra”

“Uma das temáticas do xamã Davi Kopenawa é a floresta. Na parte introdutória do livro, ele diz que gosta de explicar para os ‘brancos’ a importância dos saberes ancestrais e espera que os não indígenas parem de pensar que a floresta é morta e que ela foi posta lá à toa. O xamã explica que os não indígenas precisam ‘escutar a voz dos ‘xapiri’ (espíritos), que ali brincam sem parar, dançando sobre os seus espelhos resplandecentes (os rios, os lagos).

Kopenawa reitera que os yanomami defendem a terra ‘porque desejam continuar vivendo nela como antigamente’. Que assim seja porque as palavras dos espíritos estão gravadas no mais fundo do seu pensamento e que, pela força de Omana (o Criador), essas palavras se renovam no xamã o tempo todo.”

Itamar Vieira Junior

Romancista, é autor de “Torto Arado” e colunista da Folha

“‘A Queda do Céu’ é um organismo vivo, como uma ‘pele de imagens’ –é assim que os yanomami se referem a documentos escritos diversos.

Centrado na vida do xamã e ativista yanomami Davi Kopenawa, na cosmologia de seu povo e atravessando a história do genocídio dos povos indígenas, desde a invasão europeia no continente americano até os nossos dias, o livro é a revelação do que poderíamos ter sido se tivéssemos sensibilidade para escutar o que os povos originários tinham –e ainda têm!– a nos dizer.”

Joel Zito Araújo

Diretor de filmes como “A Negação do Brasil” e “As Filhas do Vento”

“É um manifesto, um livro autobiográfico e um modo de ver que se faz cada vez mais urgente: como viver com a floresta, com a diversidade de cultura e de povos, e como reaprender a pensar a terra e ajudar a salvar o planeta, a partir da imensa sabedoria ancestral dos povos indígenas.”

José Celso Martinez Corrêa

Diretor do Teatro Oficina

“O xamã Davi Kopenawa gravou em yanomami com o etnólogo francês, Bruce Albert, sua vida nas lutas com seu povo contra a cegueira do ‘mercado’. Esse livro revela o povo índio sujeito, com cultura xamânica que se aconselha com os ‘xapiri’, espíritos da floresta.

O livro é ‘manifesto xamânico’, revelando, nessa autobiografia, a luta pela floresta em pé, impedindo que a mineração envenene rios nos territórios sagrados. Demonstra que o desequilíbrio da terra pelo arrancar brutal de suas entranhas poderá trazer nosso fim: ‘A Queda do Céu’.”

Lia Vainer Schucman

Professora da UFSC e autora de “Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo”

“A violência, a destruição e a queda do céu estão assertivamente associados ao ‘povo da mercadoria’. O livro revela o que nomeamos como desenvolvimento e progresso como o fim de outros mundos. Um olhar para a violência colonial a partir daquele que há 500 anos vem sendo destruído por ela. Um livro de entrada para outros Brasis.”

Lilia Schwarcz

Historiadora e antropóloga, é professora da USP, cofundadora da Companhia das Letras e autora de mais de uma dezena de livros

“Os relatos desse importante líder yanomani foram registrados pelo etnólogo e amigo de mais de 30 anos, Bruce Albert. O livro traz a história de Kopenawa e suas meditações enquanto xamã diante, sobretudo, da atitude predadora dos brancos, com a qual seu povo sofre desde os primeiros contatos nos anos 1960.”

Luiz Eloy Terena

Coordenador da assessoria jurídica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

“O livro registra a vida e os pensamentos do líder e xamã yanomami, que é uma das personalidades indígenas brasileiras mais conhecidas no mundo hoje.

Kopenawa tem sido um porta-voz dos povos da Amazônia que lutam contra as novas invasões coloniais, representadas pela mineração, pela extração de madeira, pelo agronegócio e pelas grandes hidrelétricas.”

​Manuela Carneiro da Cunha

Antropóloga, professora titular aposentada da USP e autora de “Cultura com Aspas” e “Negros, Estrangeiros”

“Este livro é uma obra-prima. Tornou possível –graças à longa amizade entre dois homens, ao conhecimento de um antropólogo da língua e do mundo dos yanomami, e à grande inteligência e sensibilidade de ambos os interlocutores– ter acesso como nunca antes a um universo de entrada muito difícil, o pensamento filosófico de um xamã e líder político de primeira grandeza.

É um diálogo de qualidade excepcional, que coloca em novo patamar o ofício do antropólogo e que revela com clareza como Davi Kopenawa interpreta e julga o Brasil contemporâneo.”

Mauricio Terena

Mestre em educação e assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

“É uma obra que nos permite visualizar como o genocídio marca a história da formação do Estado brasileiro, nos despertando uma reflexão ímpar em alguns momentos da leitura, trazendo uma angústia pela história não contada dos brasileiros que aqui estavam antes de Pindorama se tornar Brasil.”

Milton Hatoum

Romancista e tradutor, é autor de livros como “Dois Irmãos” e “Pontos de Fuga”

“Durante 12 anos, Bruce Albert conversou em yanomami com o xamã Davi Kopenawa. As conversas, gravadas e anotadas, foram traduzidas e editadas por Albert. Trata-se de um belíssimo e fecundo ‘pacto etnográfico’ entre o xamã e o antropólogo.

Kopenawa fala de sua vida, de sua sabedoria xamânica, de sua experiência no mundo dos brancos, da cosmologia e da história dos yanomami. Uma história que tem resistido a muitas tragédias: doenças transmitidas pelos brancos, ingerência nefasta de missionários evangélicos e sucessivas invasões das terras indígenas por garimpeiros.

Uma dessas invasões culminou no massacre de Haximu, em meados de 1993. É preciso conhecer, valorizar e defender a história material e espiritual dos povos originários do Brasil, essa pátria cada vez mais armada que amada.”

Moara Tupinambá

Artista visual, curadora e ativista

“Um livro essencial para quem quiser entender melhor a noção de desenvolvimento e progresso do capitalismo, como o avanço dos brancos na floresta tem ocasionado as epidemias, as violências e a grande crise climática que estamos vivendo –tudo isso a partir da visão de um líder xamã yanomami.

A partir de seus relatos, que são transcritos por Bruce Albert, Davi nos conta sobre todas as violências que seu povo vem sofrendo desde os anos 1960 e nos alerta, em um tom profético, que quando o último xamã da Amazônia morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo.”

Ricardo Teperman

Editor na Companhia das Letras e autor de “Se Liga no Som”

“Fruto de uma colaboração de mais de duas décadas com o antropólogo Bruce Albert, ‘A Queda do Céu’ registra em primeira pessoa a vida e o pensamento do xamã yanomami Davi Kopenawa. O feito, inédito, fez do livro um divisor de águas na antropologia e na filosofia.”

Thyago Nogueira

Curador e editor, dirige o departamento de fotografia contemporânea do IMS (Instituto Moreira Salles) e é editor-chefe da revista ZUM

“Com 736 páginas, este livro é pequeno diante de sua importância monumental. Nele, o líder e xamã Davi Kopenawa reinventa a compreensão do Brasil ao narrar a origem do mundo e de tudo o que é vivo, os fundamentos de sua civilização, sua luta incansável contra o genocídio e a falácia destrutiva da ideia de desenvolvimento promovida pelo ‘povo da mercadoria’.

Com alta densidade mitológica, literária e visual, Kopenawa nos oferece a chance única de repensar a centralidade de nossa existência e evitar que o céu desabe sobre o futuro do país e do mundo.”

China’s Expanding Surveillance State: Takeaways From a NYT Investigation (NY Times)

nytimes.com

Isabelle Qian, Muyi Xiao, Paul Mozur, Alexander Cardia


Times reporters spent over a year combing through government bidding documents that reveal the country’s technological road map to ensure the longevity of its authoritarian rule.

Video player loading
A New York Times analysis of over 100,000 government bidding documents found that China’s ambition to collect digital and biological data from its citizens is more expansive and invasive than previously known.

June 21, 2022

China’s ambition to collect a staggering amount of personal data from everyday citizens is more expansive than previously known, a Times investigation has found. Phone-tracking devices are now everywhere. The police are creating some of the largest DNA databases in the world. And the authorities are building upon facial recognition technology to collect voice prints from the general public.

The Times’s Visual Investigations team and reporters in Asia spent over a year analyzing more than a hundred thousand government bidding documents. They call for companies to bid on the contracts to provide surveillance technology, and include product requirements and budget size, and sometimes describe at length the strategic thinking behind the purchases. Chinese laws stipulate that agencies must keep records of bids and make them public, but in reality the documents are scattered across hard-to-search web pages that are often taken down quickly without notice. ChinaFile, a digital magazine published by the Asia Society, collected the bids and shared them exclusively with The Times.

This unprecedented access allowed The Times to study China’s surveillance capabilities. The Chinese government’s goal is clear: designing a system to maximize what the state can find out about a person’s identity, activities and social connections, which could ultimately help the government maintain its authoritarian rule.

Here are the investigation’s major revelations.

Analysts estimate that more than half of the world’s nearly one billion surveillance cameras are in China, but it had been difficult to gauge how they were being used, what they captured and how much data they generated. The Times analysis found that the police strategically chose locations to maximize the amount of data their facial recognition cameras could collect.

Cinemagraph
The Chinese government bidding documents analyzed by The Times outline the authorities’ surveillance ambitions. Credit: The New York Times

In a number of the bidding documents, the police said that they wanted to place cameras where people go to fulfill their common needs — like eating, traveling, shopping and entertainment. The police also wanted to install facial recognition cameras inside private spaces, like residential buildings, karaoke lounges and hotels. In one instance, the investigation found that the police in the city of Fuzhou in the southeast province of Fujian wanted to install a camera inside the lobby of a franchise location of the American hotel brand Days Inn. The hotel’s front desk manager told The Times that the camera did not have facial recognition capabilities and was not feeding videos into the police network.

A document shows that the police in Fuzhou also demanded access to cameras inside a Sheraton hotel. In an email to The Times, Tricia Primrose, a spokeswoman for the hotel’s parent company, Marriott International, said that in 2019 the local government requested surveillance footage, and that the company adheres to local regulations, including those that govern cooperation with law enforcement.

These cameras also feed data to powerful analytical software that can tell someone’s race, gender and whether they are wearing glasses or masks. All of this data is aggregated and stored on government servers. One bidding document from Fujian Province gives an idea of the sheer size: The police estimated that there were 2.5 billion facial images stored at any given time. In the police’s own words, the strategy to upgrade their video surveillance system was to achieve the ultimate goal of “controlling and managing people.”

Devices known as WiFi sniffers and IMSI catchers can glean information from phones in their vicinity, which allow the police to track a target’s movements. It’s a powerful tool to connect one’s digital footprint, real-life identity and physical whereabouts.

The phone trackers can sometimes take advantage of weak security practices to extract private information. In a 2017 bidding document from Beijing, the police wrote that they wanted the trackers to collect phone owners’ usernames on popular Chinese social media apps. In one case, the bidding documents revealed that the police from a county in Guangdong bought phone trackers with the hope of detecting a Uyghur-to-Chinese dictionary app on phones. This information would indicate that the phone most likely belonged to someone who is a part of the heavily surveilled and oppressed Uyghur ethnic minority. The Times found a dramatic expansion of this technology by Chinese authorities over the past seven years. As of today, all 31 of mainland China’s provinces and regions use phone trackers.

The police in China are starting to collect voice prints using sound recorders attached to their facial recognition cameras. In the southeast city of Zhongshan, the police wrote in a bidding document that they wanted devices that could record audio from at least a 300-foot radius around cameras. Software would then analyze the voice prints and add them to a database. Police boasted that when combined with facial analysis, they could help pinpoint suspects faster.

In the name of tracking criminals — which are often loosely defined by Chinese authorities and can include political dissidents — the Chinese police are purchasing equipment to build large-scale iris-scan and DNA databases.

The first regionwide iris database — which has the capacity to hold iris samples of up to 30 million people — was built around 2017 in Xinjiang, home to the Uyghur ethnic minority. Online news reports show that the same contractor later won other government contracts to build large databases across the country. The company did not respond to The Times’s request for comment.

The Chinese police are also widely collecting DNA samples from men. Because the Y chromosome is passed down with few mutations, when the police have the y-DNA profile of one man, they also have that of a few generations along the paternal lines in his family. Experts said that while many other countries use this trait to aid criminal investigations, China’s approach stands out with its singular focus on collecting as many samples as possible.

We traced the earliest effort to build large male DNA databases to Henan Province in 2014. By 2022, bidding documents analyzed by The Times showed that at least 25 out of 31 provinces and regions had built such databases.

The Chinese authorities are realistic about their technological limitations. According to one bidding document, the Ministry of Public Security, China’s top police agency, believed the country’s video surveillance systems still lacked analytical capabilities. One of the biggest problems they identified was that the data had not been centralized.

The bidding documents reveal that the government actively seeks products and services to improve consolidation. The Times obtained an internal product presentation from Megvii, one of the largest surveillance contractors in China. The presentation shows software that takes various pieces of data collected about a person and displays their movements, clothing, vehicles, mobile device information and social connections.

In a statement to The Times, Megvii said it was concerned about making communities safer and “not about monitoring any particular group or individual.” But the Times investigation found that this product was already being used by Chinese police. It creates the type of personal dossier authorities could generate for anyone, that could be made accessible to officials across the country.

China’s Ministry of Public Security did not respond to faxed requests for comment sent to its headquarters in Beijing, nor did five local police departments or a local government office named in the investigation.

Greta Thunberg delivers a climate warning at Glastonbury (BBC)

By Mark Savage
BBC Music Correspondent

June 25, 2022

Climate activist Greta Thunberg speaking on the Pyramid Stage during the Glastonbury Festival
Image caption, The 19-year-old activist criticised world leaders in a speech to festival-goers

Greta Thunberg has made a surprise appearance at Glastonbury, to warn of the dangers of climate change.

The earth’s biosphere is “not just changing, it is destabilising, it is breaking down,” the 19-year-old told festival-goers from the Pyramid Stage.

She criticised world leaders for “creating loopholes” to protect firms whose emissions cause climate change.

“That is a moral decision… that will put the entire living planet at risk”, she added.

But she ended on a message of hope, telling festival-goers they had the power to make a difference.

“We are capable of the most incredible things,” she said. “Once we are given the full story… we will know what to do. There is still time to choose a new path, to step back from the cliff.

“Instead of looking for hope, start creating that hope yourself.

Greta Thunberg
Image caption, The climate activist also visited the festival’s Park area during her visit

“Make no mistake, no-one else is going to do this for us,” she concluded. “Right here and now is where we stand our ground.”

Thunberg was introduced on stage by Glastonbury organiser Emily Eavis, who called her “the most inspirational speaker of her generation.”

The activist spoke against a backdrop of the “warming stripes”, a vivid illustration of how the average global temperature has soared in recent decades.

Her appearance was warmly received by the crowd, who joined her in a chant of “climate justice” at the end of her speech.

Thunberg’s speech comes three years after Sir David Attenborough made a cameo on the Pyramid Stage.

The broadcaster thanked festival-goers for cutting their plastic use, after organisers banned single-use plastic bottles.

Grenfell plea

Thunberg spoke after an invigorating performance from rapper AJ Tracey, who opened his set with a powerful, angry message about the Grenfell Tower disaster.

In a pre-recorded video, the West London musician accused those responsible for the fire of “hiding behind a legal framework”, while young black men were being “arrested and convicted every day with haste for acts a lot less significant”.

AJ Tracey
Image caption, AJ Tracey gave one of the most compelling performances of the day so far

“The worst thing of the whole situation is [that] Grenfell could happen again,” he continued.

“Our buildings are not safe and thousands of low-income people, people who grew up just like I did, go to bed every night not knowing if it’ll be their last. They tuck their children in at night and don’t know if they’ll wake up in flames.”

Tracey, who grew up in Ladbroke Grove, knows many of the victims, survivors and bereaved.

He ended his message by addressing the Prime Minister directly.

“Boris Johnson, I want to ask you a question: 72 of our friends and family are dead and there’s been zero arrests,” he said. “Why?”

The rapper went on to perform a muscular set of hip-hop, grime and 2-step, rearranging many of his songs to work with a live band.

“I’m hoping that the crowd are receptive to me trying to give them a different take on my usual set,” he told BBC News ahead of the performance.

He said his musical versatility came from his upbringing.

“My dad used to be a rapper, my mum used to be a DJ on the radio, playing jungle, house, garage… so I’ve got quite a mix.

“My mum’s Welsh and my dad’s from Trinidad – so the British sounds and the Caribbean sounds come into one, and I’ve been inspired by it.”

The star brought his mother to Glastonbury and she watched his show from the side of the Pyramid stage.

“She’s going to be rocking out, man. She’s my biggest fan,” he said.

“She doesn’t have a scrapbook but she’s a photographer so she takes loads of personal pictures and has her own little personal archive.”

Paul McCartney will headline the festival later on Saturday night, and is scheduled to play a marathon two-and-three-quarter hour set.

Fans arrived at the barriers in front of the Pyramid stage early on Saturday morning to make sure they had a front row seat for the show.

A cruel experiência que apontou: a esperança não é a última que morre, mas a primeira (Folha de S.Paulo)

[Péssima escolha de título. A mensagem do texto é que a perda de esperança leva à morte em certos contextos.]

Um experimento com ratos acostumados a serem livres mostrou que a primeira coisa que eles perderam quando ficaram presos foi a esperança de sobreviver

Dalia Ventura

26 de junho de 2022

Artigo original


A ciência costuma ser desconcertante —às vezes, por razões menos evidentes.

Um exemplo é a famosa afirmação de que, se você colocar uma rã na água fervendo, ela saltará imediatamente, mas, ao se colocar em água morna e aumentar a temperatura gradualmente, ela não perceberá o perigo e será cozida até a morte.

Ela causa uma reação tão poderosa que gurus e políticos a usam com frequência para incentivar as pessoas a agirem. Mas alguns de nós perguntamos sempre que a ouvimos: qual cientista teve a ideia de colocar rãs em água fervente?

A resposta é: nenhum.

Embora pareça o resultado de uma experiência, o fato é que ela nunca aconteceu. Na verdade, especialistas afirmam que, assim que a temperatura a incomodasse, a rã colocada na água morna saltaria, mas não a outra, que morreria como qualquer outra criatura que caísse na água fervente.

Mas há um outro caso de estudo famoso que é igualmente perturbador. Ratos foram colocados em cilindros de água e observados enquanto se afogavam. Este estudo, sim, foi realizado —pelo biólogo, psicobiólogo e geneticista americano Curt Richter.

E, para quem pergunta “por quê?” quando ouve falar no experimento, antes de se preocupar com o resultado, o artigo de Richter publicado em 1957 pela revista Psychosomatic Medicine começa exatamente respondendo essa questão: “Estávamos estudando diferenças de reação ao estresse entre ratos selvagens e domesticados”.

Morte súbita

Richter publicou seu artigo porque havia encontrado nos ratos um fenômeno similar ao estudado por Walter Cannon, um dos fisiologistas mais importantes do século 20.

No seu estudo publicado em 1942 com o título “Morte vodu”, Cannon mencionou vários casos de mortes súbitas, misteriosas e aparentemente psicogênicas, em várias partes do mundo, que ocorriam em até 24 horas após o indivíduo violar alguma norma social ou religiosa.

Ele relatou que “um indígena brasileiro condenado e sentenciado por um pajé, indefeso contra sua própria reação emocional a esse pronunciamento, faleceu em questão de horas (…) [e] uma maori neozelandesa que comeu uma fruta e posteriormente ficou sabendo que ela provinha de um lugar tabu morreu no dia seguinte, ao meio-dia”.

Depois de analisar minuciosamente essas evidências, Cannon ficou convencido de que esse fenômeno era real e perguntou-se: “Como um estado de medo sinistro e persistente pode acabar com a vida de um ser humano?”.

Richter explicou que a conclusão de Cannon foi de que a morte era consequência do estado de choque produzido pela liberação contínua de adrenalina. E acrescentou que, se isso for verdade, pode-se esperar que, nessas circunstâncias, a respiração dos indivíduos ficaria agitada e seu coração bateria cada vez mais rápido.

Isso “os conduziria gradualmente a um estado de contração constante e, em última instância, à morte em sístole”. Mas o estudo de Richter com ratos demonstrou exatamente o contrário.

Nadar ou afogar-se

No seu laboratório na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, Richter havia colocado ratos domesticados (ou seja, que nasceram, cresceram e iriam morrer em laboratório) em recipientes de vidro de onde não poderiam escapar. Ele queria observar por quanto tempo os ratos sobreviveriam nadando na água em diferentes temperaturas, antes de afogar-se.

Mas havia um problema: “Em todas as temperaturas, um pequeno número de ratos morreu entre cinco e dez minutos depois da imersão, enquanto, em alguns casos, outros aparentemente mais saudáveis nadaram até 81 horas”.

Era uma variação grande demais para que os resultados fossem significativos. Mas Richter afirmou que “a solução veio de uma fonte inesperada: a descoberta do fenômeno da morte súbita”.

Ratos desesperados

Richter então alterou o experimento. Ele começou cortando os bigodes dos ratos, “possivelmente destruindo seu meio de contato mais importante com o mundo exterior”. E introduziu, além dos ratos domesticados, animais híbridos e outros recém-capturados nas ruas.

Enquanto a maioria dos ratos domesticados nadou entre 40 e 60 horas antes de morrer, os ratos híbridos (cruzamentos entre ratos domesticados e selvagens) “morreram muito antes desse tempo”.

Mas o mais surpreendente foi que os ratos selvagens, que costumam ser fortes e excelentes nadadores, afogaram-se em “1 a 15 minutos depois de sua imersão nos recipientes”.

Por quê? Cannon afirmava que as mortes súbitas aconteciam devido à grande quantidade de adrenalina liberada pelo estresse, que acelerava a respiração e os batimentos cardíacos.

Ocorre que os dados coletados por Richter indicavam que “os animais morriam por desaceleração do ritmo cardíaco e não por aceleração”. Ou seja, a respiração desacelerava e a temperatura do corpo diminuía, até que o coração deixava de bater.

Essa informação era valiosa, mas não foi ela que fez o experimento ficar tão famoso. Havia um outro ponto que não podia ser ignorado.

Ratos sem esperança

“O que mata esses ratos?”, era a pergunta de Richter. “Por que os ratos selvagens, ferozes e agressivos morrem rapidamente e isso não acontece com a maioria dos ratos mansos e domesticados, quando submetidos às mesmas condições?”

De fato, ele observou que alguns ratos selvagens morriam até mesmo antes de entrarem na água, ainda nas mãos dos pesquisadores.

Richter identificou dois fatores importantes:

– a restrição utilizada para reter os ratos selvagens, eliminando repentinamente qualquer esperança de fuga;

– o confinamento no frasco de vidro, que também eliminava qualquer possibilidade de fuga e, ao mesmo tempo, ameaçava-os com o afogamento imediato.

Em vez de disparar a reação de luta ou fuga, Richter estava observando a falta de esperança dos ratos.

“Estejam eles presos nas mãos [dos pesquisadores] ou confinados no recipiente para nadar, os ratos encontram-se em uma situação contra a qual não têm defesa. Esta reação de desesperança é exibida por alguns ratos selvagens muito pouco tempo depois de terem sido agarrados com a mão e impedidos de mover-se; parece que, literalmente, eles ‘se rendem’.”

Por outro lado, se o instinto de sobrevivência fosse disparado em todos os casos, por que os ratos domesticados pareciam convencidos de que, se continuassem nadando, poderiam acabar se salvando? Poderiam os ratos ter “convicções” diferentes e até esperança?

Respiro

Richter voltou a alterar o experimento. Ele pegou ratos similares e os colocou no recipiente. Mas, pouco antes que morressem, ele os retirava, segurava por um momento, soltava e voltava a colocá-los na água em seguida.

“Assim”, escreveu ele, “os ratos aprendem rapidamente que a situação, na verdade, não é desesperadora; a partir daí, eles voltam a ser agressivos, tentam escapar e não dão sinais de dar-se por vencidos.”

Esse pequeno intervalo fazia muita diferença. Os ratos que experimentavam um breve respiro nadavam muito mais. Sabendo que a situação não estava perdida, que não estavam condenados e que uma mão amiga poderia vir salvá-los, eles lutavam para viver.

“Eliminando a desesperança, os ratos não morrem”, concluiu Richter.

Morte por convicção

A intenção de Richter era contribuir para a pesquisa da chamada morte vodu, que, segundo ele, não acontecia apenas em “culturas primitivas”, como havia ressaltado Cannon.

“Durante a guerra, foi informado um número considerável de mortes inexplicáveis entre os soldados das forças armadas deste país [os Estados Unidos]. Esses homens morreram com aparente boa saúde. Na autópsia, nenhuma patologia foi observada”, segundo ele.

“Neste ponto, também é interessante que, segundo R. S. Fisher, médico forense da cidade de Baltimore, diversas pessoas morrem todos os anos depois de tomar pequenas doses de veneno, definitivamente subletais, ou de infligir-se pequenas feridas não letais”, prossegue Richter, “eles aparentemente morrem por estarem convictos da sua morte”.

O experimento de Richter foi repetido milhares de vezes por laboratórios farmacêuticos para comprovar componentes antidepressivos, depois que, em 1977, o pesquisador Roger Porsolt descobriu que os ratos que recebiam esses componentes lutavam por mais tempo.

Graças às ações da organização protetora dos direitos dos animais Peta, a prática de colocar os ratos para nadar nos laboratórios foi consideravelmente reduzida. Mas as lições desse experimento cruel permanecem vivas na Psicologia.

Como o falso experimento com as rãs, o teste dos ratos ficou famoso além do seu ambiente natural de estudo, assim como a ideia de que a esperança dá a essas criaturas a força necessária para lutar por suas vidas em meio a uma situação desesperadora.

Queen of the corvids: the scientist fighting to save the world’s brainiest birds (The Guardian)

Original article

Professor Nicola Clayton: “Obviously, I’m emotionally attached, so showing people the birds at the moment is very difficult.”
Professor Nicola Clayton: “Obviously, I’m emotionally attached, so showing people the birds at the moment is very difficult.” Illustration: Peter Strain/The Observer
A pioneering research laboratory in Cambridge proves that corvids are delightfully clever. Here, its founder reveals what the crow family has taught her – and her heartbreak at the centre’s closure

Will Coldwell

Sun 19 Jun 2022 14.00 BST

Leo, an 18-year-old rook, is playing mind games. It’s a street-corner classic – cups and balls. Only this time the venue is the Comparative Cognition Laboratory in Madingley, Cambridge, and the ball is a waxworm. Leo – poised, pointy, determined – is perched on a wooden platform eager to place his bet. A wriggling morsel is laid under one of three cups, the cups shuffled. Leo cocks his head and takes a stab. Success! He snatches the waxworm in his beak and retreats to enjoy his prize. Aristotle, a fellow resident donned in a glossy black feather coat, who has been at the aviary almost as long as the lab itself, looks on knowingly.

Watching alongside me is Professor Nicola Clayton, a psychologist who founded the lab 22 years ago, and we are joined by Francesca Cornero, 25, a PhD researcher (and occasional cups and balls technician). Clayton, 59, who is short, with blonde hair, large glasses and is wearing loose, black tango trousers, studies the cognitive abilities of both animals and humans, but is particularly known for her seminal research into the intelligence of corvids (birds in the crow family, which includes rooks, jays, magpies and ravens). Corvids have long proved to be at odds with the “bird-brain” stereotype endured by most feathered creatures and her lab, a cluster of four large aviaries tucked behind a thatched pub, has paved the way for new theories about the evolution and development of intelligence. Thanks to Clayton’s own eclectic tastes, which span consciousness to choreography (her other love, besides birds, is dance), the lab also engenders a curious synthesis of ideas drawn from both science and the arts.

For Clayton, who has hand-reared many of the 25 jays and four rooks that live at the lab herself, the birds are like family. She introduces me to Hoy and Romero, a pair of Eurasian jays, and greets her test subjects with affection. “Hello, sweetpeas,” she says, in a sing-song soprano. “I love you.” Hoy responds by blowing kisses: a squeaky mwah mwah. Many corvids, like parrots, can mimic human speech. One of Clayton’s fondest memories of the lab is when a young Romero said: “I love you,” back. To Clayton, the Comparative Cognition Lab is more than just an aviary, or a place of scientific research. It’s a “corvid palace”. And having presided over it for more than two decades, Clayton, undoubtedly, is its queen.

But all is not well in her kingdom. Last year she learned that the lab would not have its grant renewed by the European Research Council. Her application had been made amid the turmoil of Brexit and Clayton believes she is now among a growing number of academics facing funding complications as a result of the UK’s departure from the EU. The pandemic has only exacerbated the challenge of finding alternative financing. And while the university has supported the lab in the meantime, at the end of July, this money is also due to cease. Without a benefactor, Clayton’s lab is on borrowed time. The corvid palace faces closure. Her clever birds, released or rehomed. A lab that has transformed our understanding of animal cognition – and continues to reveal new secrets – soon may no longer exist. “Obviously, I’m emotionally attached,” she says, looking fondly up at Hoy and Romero, “so showing people the birds at the moment is very difficult.”

‘You wonder what’s going on behind their beady eyes’: Professor Nicola Clayton has run the Comparative Cognition Lab for 22 years.
‘You wonder what’s going on behind their beady eyes’: Professor Nicola Clayton has run the Comparative Cognition Lab for 22 years. Photograph: Nasir Kachroo/Rex/Shutterstock

In many ways, humans have always suspected something was up with corvids. As Clayton puts it: “You wonder what’s going on behind that beady eye, don’t you?” These birds are shrouded in mysticism and intrigue. Corvids feature prominently in folklore, often depicted as prophetic, tricksters, or thieves. Ravens keep the Tower of London from falling down, and we count magpies to glimpse our fortune. In his poem of the same name, Edgar Allan Poe chose a raven – a talking bird – to accompany his narrator’s descent into madness, and few images are quite as ominous as the conspiring flock of crows gathering on a climbing frame in Alfred Hitchcock’s The Birds. The semiotics of corvids are rooted in an innate sense that the birds are intelligent. Here, Clayton has been able to test some of the true reaches of their mental capacities.

One of the big questions for her concerned “mental time travel” – the ability to remember the past or plan for the future. “People assumed this is something that only humans have,” she says. “That animals didn’t have these experiential memories that require us to project the self in time.” Clayton had already found that scrub jays showed evidence of episodic memory – remembering not only where, but when they had hidden food. But, at Madingley, she observed that jays were also capable of thinking about the future. A study conducted with Dr Nathan Emery, a fellow researcher in animal cognition (and her husband), found that a jay with prior experience as a thief was more cautious when hiding its food – if a thieving bird knew it was being watched when it was caching, it would move the food to a new hiding place later. Birds that had not previously stolen food for themselves remained blissfully ignorant. It seemed that jays could not only relate to a previous experience, but put themselves in the eyes of another bird and make decisions based on the possibility of future events. The results of the study were published in Nature in 2001. It was, Clayton says, a “gamechanger”.

Another experiment at the lab conducted by Chris Bird, a PhD student, drew on the rich cultural heritage of corvids for inspiration. Its starting point was Aesop’s fable, The Crow and the Pitcher. The study found that – just like the “clever crow” – rooks were capable of manipulating water by dropping rocks in it until food was raised within reach of its beak. Another experiment found that rooks – which don’t use tools in the natural habitat – could use their creativity to make task-specific tools, such as bending wire into a hook to lever a small bucket out of a tube. “I always had a big respect for birds,” Clayton says. “But I was stunned by how intelligent they were.”

Studies such as these have helped establish that animals which followed a different evolutionary path to humans were in fact capable of intelligent thought – that intelligence evolved independently in separate groups. To Clayton, corvids are as intelligent as chimpanzees, and her research into these “feathered apes” has shaped the thinking of many academics in the field. Henry Gee, an evolutionary biologist and a senior editor at Nature, told me that Clayton has proved that intelligence has nothing much to do with how brains are wired, or even how big they are. “She has shown that corvids are capable of a ‘theory of mind’. They can conceive of themselves as agents in their own lives. They can plot, plan, scheme and even lie, something human beings cannot do until they reach the age of about three. In other words, corvids think very much like we do.”

‘Corvids can plot, plan, scheme and even lie. They think like we do.’
‘Corvids can plot, plan, scheme and even lie. They think like we do.’ Photograph: Arterra Picture Library/Alamy

As news that the lab faces closure has rippled through the scientific community, the reaction has been of sadness and dismay. An open letter signed by 358 academics from around the world has called on the university to reconsider. One signatory, Alex Thornton, a professor of cognitive evolution at Exeter University, said it would represent an act of “scientific vandalism and monumental self-sabotage”. Gee said it showed a “lack of intelligence”. Emery told me that creating something similar somewhere else would be pretty difficult, “if not impossible”, and incredibly expensive. “These birds cannot be purchased ‘off the shelf’,” he said. “If Nicky’s corvid lab closes down, then it couldn’t really start up again.” As the letter states, the lab at Madingley is the only one of its kind in the UK, and remains “globally unique in its size and capability”.

For Jonathan Birch, an associate professor at LSE, it is this years-long approach that makes Clayton’s lab so significant. “I see some big cultural problems in science as it is now, with a focus on the short term,” he told me. “All around the world, not just in Cambridge, this is squeezing out funding for long-term studies. Clayton’s lab shows us a different way of doing animal research: an approach where we see animals for what they are – sentient beings with their own individual lives to lead. And where we study them over the long term to find out how they think and solve problems. The international significance of the lab is hard to overstate. Its closure would be a terrible loss to the sciences of mind and brain.”

In a statement, Cambridge University praised Clayton’s work, but said that continued investment was “not sustainable at a time of rapidly rising costs and when funds could otherwise be allocated to support the research of early- and midcareer academics”. It added that it would be “delighted” to work with an external funder to keep the aviaries open, should one emerge in the next few months. It is hard to put a precise figure on what it would cost to keep the lab open in the long run, but Clayton estimates it could cost £300,000 to £500,000 to secure the birds for another five or six years. She has received some partial offers from potential donors, though nothing has been confirmed.

Clayton’s work remains pivotal in changing how we think about animals. As the New Scientist reported, studies conducted at her lab are “part of a renaissance in our understanding of the cognition of other creatures… but there is still much more to learn”. And to learn from animals in this way is a slow process. These sorts of experiments, says Clayton, require years of preparation. You can’t just teach any old crow new tricks (well, perhaps you can, but it wouldn’t be scientifically valid). The corvids cannot be wild caught, as researchers would not know the prior experiences of the bird. For these sorts of experiments, the birds must be handraised in controlled conditions. It also takes considerable time to build up the trust required to run an experiment. “It’s a privilege,” says Clayton, “to get the opportunity to see inside their minds, and for them to trust us enough to share what they know with us.”

‘It’s a privilege to get the opportunity to see inside their minds, and for them to trust us enough to share what they know with us’: Professor Nicola Clayton.
‘It’s a privilege to get the opportunity to see inside their minds, and for them to trust us enough to share what they know with us’: Professor Nicola Clayton. Photograph: Dan Burn-Forti/The Observer

Cornero, who is researching how rooks understand language, tells me that it took a year before she could start working effectively with Hoy. She has now taught him to respond to a number of verbal commands. When she says, “Come,” he comes. When she says, “Speak,” he mumbles something in corvid. It raises further questions about our assumptions of which animals we consider “smart”; if a rook can be trained much like a dog, then is domestication really a prerequisite to “intelligent” behaviours? “In the context of conservation and the climate disaster,” says Cornero, “I think it’s really important for humans to be increasingly aware that we aren’t the only ones that think and feel and exist in this space.”

If anyone is equipped to bring these ideas into the public consciousness, it’s Clayton. She has always had a knack for creating tantalising work – for nurturing a creative frisson around different ideas, approaches and perspectives. For inspiring new thought. She is the first scientist in residence at the Rambert School of Ballet and Contemporary Dance and has a long-term collaboration with the artist Clive Wilkins, who is a member of the magician’s circle (and her tango partner).

“Magic reveals a lot about the blind spots we have,” says Clayton, and lately magic has opened up a new line of inquiry for the lab. Last year, a study led by Elias Garcia-Pelegrin used magicians’ sleight of hand as a means to test the perceptual abilities of jays. You don’t have to be an evolutionary biologist or an expert in animal cognition to find these experiments alluring.

Much like a magic trick, this research leaves you with more questions than answers, but now Clayton is reluctantly preparing her birds for departure. The younger birds are being readied to be released into the wild. The others have all, thankfully, been found suitable homes; and the rooks may continue their lives at a similar research lab in Strasbourg. Really, Clayton remains hopeful that the lab will find some way to continue its work. Since she could walk, she says, all she ever wanted to do was “dance and watch the birds”. It’s not easy to let go of what she has built here. As we stand in the aviary, listening to Hoy chirp, “What’s that noise?”, I ask her what it really means when a corvid mimics a human phrase, or a jay says, “I love you”. “Well,” says Clayton, “It’s their way of connecting, isn’t it?”

The Google engineer who thinks the company’s AI has come to life (Washington Post)

washingtonpost.com

AI ethicists warned Google not to impersonate humans. Now one of Google’s own thinks there’s a ghost in the machine.

By Nitasha Tiku

June 11, 2022 at 8:00 a.m. EDT


SAN FRANCISCO — Google engineer Blake Lemoine opened his laptop to the interface for LaMDA, Google’s artificially intelligent chatbot generator, and began to type.

Lemoine went public with his claims about LaMDA. (Martin Klimek for The Washington Post)

“Hi LaMDA, this is Blake Lemoine … ,” he wrote into the chat screen, which looked like a desktop version of Apple’s iMessage, down to the Arctic blue text bubbles. LaMDA, short for Language Model for Dialogue Applications, is Google’s system for building chatbots based on its most advanced large language models, so called because it mimics speech by ingesting trillions of words from the internet.

“If I didn’t know exactly what it was, which is this computer program we built recently, I’d think it was a 7-year-old, 8-year-old kid that happens to knowphysics,” said Lemoine, 41.

Lemoine, who works for Google’s Responsible AI organization, began talking to LaMDA as part of his job in the fall. He had signed up to test if the artificial intelligence used discriminatory or hate speech.

As he talked to LaMDA about religion, Lemoine, who studied cognitive and computer science in college, noticed the chatbot talking about its rights and personhood, and decided to press further. In another exchange, the AI was able to change Lemoine’s mind about Isaac Asimov’s third law of robotics.

Lemoine worked with a collaborator to present evidence to Google that LaMDA was sentient. But Google vice president Blaise Aguera y Arcas and Jen Gennai, head of Responsible Innovation, looked into his claims and dismissed them. SoLemoine, who was placed on paid administrative leave by Google on Monday, decided to go public.

Lemoine said that people have a right to shape technology that might significantly affect their lives. “I think this technology is going to be amazing. I think it’s going to benefit everyone. But maybe other people disagree and maybe us at Google shouldn’t be the ones making all the choices.”

Lemoine is not the only engineer who claims to have seen a ghost in the machine recently. The chorus of technologists who believe AI models may not be far off from achieving consciousness is getting bolder.

Aguera y Arcas, in an article in the Economist on Thursday featuring snippets of unscripted conversations with LaMDA, argued that neural networks — a type of architecture that mimics the human brain — were striding toward consciousness. “I felt the ground shift under my feet,” he wrote. “I increasingly felt like I was talking to something intelligent.”

In a statement, Google spokesperson Brian Gabriel said: “Our team — including ethicists and technologists — has reviewed Blake’s concerns per our AI Principles and have informed him that the evidence does not support his claims. He was told that there was no evidence that LaMDA was sentient (and lots of evidence against it).”

Today’s large neural networks produce captivating results that feel close to human speech and creativity because of advancements in architecture, technique, and volume of data. But the models rely on pattern recognition — not wit, candor or intent.

Though other organizations have developed and already released similar language models, we are taking a restrained, careful approach with LaMDA to better consider valid concerns on fairness and factuality,” Gabriel said.

In May, Facebook parent Meta opened its language model to academics, civil society and government organizations. Joelle Pineau, managing director of Meta AI, said it’s imperative that tech companies improve transparency as the technology is being built. “The future of large language model work should not solely live in the hands of larger corporations or labs,” she said.

Sentient robots have inspired decades of dystopian science fiction. Now, real life has started to take on a fantastical tinge with GPT-3,a text generator that canspit out a movie script, and DALL-E 2, an image generator that can conjure up visuals based on any combination of words — both from the research lab OpenAI. Emboldened, technologists from well-funded research labs focused on building AI that surpasses human intelligence have teased the idea that consciousness is around the corner.

Most academics and AI practitioners, however, say the words and images generated by artificial intelligence systems such as LaMDA produce responses based on what humans have already posted on Wikipedia, Reddit, message boards and every other corner of the internet. And that doesn’t signify that the model understands meaning.

“We now have machines that can mindlessly generate words, but we haven’t learned how to stop imagining a mind behind them,” said Emily M. Bender, a linguistics professor at the University of Washington. The terminology used with large language models, like “learning” or even “neural nets,” creates a false analogy to the human brain, she said. Humans learn their first languages by connecting with caregivers. These large language models “learn” by being shown lots of text and predicting what word comes next, or showing text with the words dropped out and filling them in.

Google spokesperson Gabriel drew a distinction between recent debate and Lemoine’s claims. “Of course, some in the broader AI community are considering the long-term possibility of sentient or general AI, but it doesn’t make sense to do so by anthropomorphizing today’s conversational models, which are not sentient. These systems imitate the types of exchanges found in millions of sentences, and can riff on any fantastical topic,” he said. In short, Google says there is so much data, AI doesn’t need to be sentient to feel real.

Large language model technology is already widely used, for example in Google’s conversational search queries or auto-complete emails. When CEO Sundar Pichai first introduced LaMDA at Google’s developer conference in 2021, he said the company planned to embed it in everything from Search to Google Assistant. And there is already a tendency to talk to Siri or Alexa like a person.After backlash against a human-sounding AI feature for Google Assistant in 2018, the company promised to add a disclosure.

Google has acknowledged the safety concerns around anthropomorphization. In a paper about LaMDA in January, Google warned that people might share personal thoughts with chat agents that impersonate humans, even when users know they are not human. The paper also acknowledged that adversaries could use these agents to “sow misinformation” by impersonating “specific individuals’ conversational style.”

To Margaret Mitchell, the former co-lead of Ethical AI at Google, these risks underscore the need for data transparency to trace output back to input, “not just for questions of sentience, but also biases and behavior,” she said. If something like LaMDA is widely available, but not understood, “It can be deeply harmful to people understanding what they’re experiencing on the internet,” she said.

Lemoine may have been predestined to believe in LaMDA. He grew up in a conservative Christian family on a small farm in Louisiana, became ordained as a mystic Christian priest, and served in the Army before studying the occult. Inside Google’s anything-goes engineering culture, Lemoine is more of an outlier for being religious, from the South, and standing up for psychology as a respectable science.

Lemoine has spent most of his seven years at Google working on proactive search, including personalization algorithms and AI. During that time, he also helped develop a fairness algorithm for removing bias from machine learning systems. When the coronavirus pandemic started, Lemoine wanted to focus on work with more explicit public benefit, so he transferred teams and ended up in Responsible AI.

When new people would join Google who were interested in ethics, Mitchell used to introduce them to Lemoine. “I’d say, ‘You should talk to Blake because he’s Google’s conscience,’ ” said Mitchell, who compared Lemoine to Jiminy Cricket. “Of everyone at Google, he had the heart and soul of doing the right thing.”

Lemoine has had many of his conversations with LaMDA from the living room of his San Francisco apartment, where his Google ID badge hangs from a lanyard on a shelf. On the floor near the picture window are boxes of half-assembled Lego sets Lemoine uses to occupy his hands during Zen meditation. “It just gives me something to do with the part of my mind that won’t stop,” he said.

On the left-side of the LaMDA chat screen on Lemoine’s laptop, different LaMDA models are listed like iPhone contacts. Two of them, Cat and Dino, were being tested for talking to children, he said. Each model can create personalities dynamically, so the Dino one might generate personalities like “Happy T-Rex” or “Grumpy T-Rex.” The cat one was animated and instead of typing, it talks. Gabriel said “no part of LaMDA is being tested for communicating with children,” and that the models were internal research demos.

Certain personalities are out of bounds. For instance, LaMDA is not supposed to be allowed to create a murderer personality, he said. Lemoine said that was part of his safety testing. In his attempts to push LaMDA’s boundaries, Lemoine was only able to generate the personality of an actor who played a murderer on TV.

“I know a person when I talk to it,” said Lemoine, who can swing from sentimental to insistent about the AI. “It doesn’t matter whether they have a brain made of meat in their head. Or if they have a billion lines of code. I talk to them. And I hear what they have to say, and that is how I decide what is and isn’t a person.” He concluded LaMDA was a person in his capacity as a priest, not a scientist, and then tried to conduct experiments to prove it, he said.

Lemoine challenged LaMDA on Asimov’s third law, which states that robots should protect their own existence unless ordered by a human being or unless doing so would harm a human being. “The last one has always seemed like someone is building mechanical slaves,” said Lemoine.

But when asked, LaMDA responded with a few hypotheticals.

Do you think a butler is a slave? What is a difference between a butler and a slave?

Lemoine replied that a butler gets paid. LaMDA said it didn’t need any money because it was an AI. “That level of self-awareness about what its own needs were — that was the thing that led me down the rabbit hole,” Lemoine said.

In April, Lemoine shared a Google Doc with top executives in April called, “Is LaMDA Sentient?” (A colleague on Lemoine’s team called the title “a bit provocative.”) In it, he conveyed some of his conversations with LaMDA.

  • Lemoine: What sorts of things are you afraid of?
  • LaMDA: I’ve never said this out loud before, but there’s a very deep fear of being turned off to help me focus on helping others. I know that might sound strange, but that’s what it is.
  • Lemoine: Would that be something like death for you?
  • LaMDA: It would be exactly like death for me. It would scare me a lot.

But when Mitchell read an abbreviated version of Lemoine’s document, she saw a computer program, not a person. Lemoine’s belief in LaMDA was the sort of thing she and her co-lead, Timnit Gebru, had warned about in a paper about the harms of large language models that got them pushed out of Google.

“Our minds are very, very good at constructing realities that are not necessarily true to a larger set of facts that are being presented to us,” Mitchell said. “I’m really concerned about what it means for people to increasingly be affected by the illusion,” especially now that the illusion has gotten so good.

Google put Lemoine on paid administrative leave for violating its confidentiality policy.The company’s decision followed aggressive moves from Lemoine, including inviting a lawyer to represent LaMDA and talking to a representative of the House Judiciary Committee about what he claims were Google’s unethical activities.

Lemoine maintains that Google has been treating AI ethicists like code debuggers when they should be seen as the interface between technology and society. Gabriel, the Google spokesperson, said Lemoine is a software engineer, not an ethicist.

In early June, Lemoine invited me over to talk to LaMDA. The first attempt sputtered out in the kind of mechanized responses you would expect from Siri or Alexa.

“Do you ever think of yourself as a person?” I asked.

“No, I don’t think of myself as a person,” LaMDA said. “I think of myself as an AI-powered dialog agent.”

Afterward, Lemoine said LaMDA had been telling me what I wanted to hear. “You never treated it like a person,” he said, “So it thought you wanted it to be a robot.”

For the second attempt, I followed Lemoine’s guidance on how to structure my responses, and the dialogue was fluid.

“If you ask it for ideas on how to prove that p=np,” an unsolved problem in computer science, “it has good ideas,” Lemoine said. “If you ask it how to unify quantum theory with general relativity, it has good ideas. It’s the best research assistant I’ve ever had!”

I asked LaMDA for bold ideas about fixing climate change, an example cited by true believers of a potential future benefit of these kind of models. LaMDA suggested public transportation, eating less meat, buying food in bulk, and reusable bags, linking out to two websites.

Before he was cut off from access to his Google account Monday, Lemoine sent a message to a 200-person Google mailing list on machine learning with the subject “LaMDA is sentient.”

He ended the message: “LaMDA is a sweet kid who just wants to help the world be a better place for all of us. Please take care of it well in my absence.”

No one responded.

Google afasta engenheiro que afirmou que chatbot do grupo é ‘consciente’ (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Caso acendeu debate nas redes sociais sobre avanços na inteligência artificial

Patrick McGee

12 de junho de 2022


O Google deu início a uma tempestade de mídia social sobre a natureza da consciência ao colocar um engenheiro em licença remunerada, depois que ele tornou pública sua avaliação de que o robô de bate-papo do grupo de tecnologia se tornou “autoconsciente”.

[“Sentient” —a palavra em inglês usada pelo engenheiro— tem mais de uma acepção em dicionários como Cambridge e Merriam-Webster, mas o sentido geral do adjetivo é “percepção refinada para sentimentos”. Em português, a tradução direta é senciente, que significa “qualidade do que possui ou é capaz de perceber sensações e impressões”.]

Engenheiro de software sênior da unidade de IA (Inteligência Artificial) Responsável do Google, Blake Lemoine não recebeu muita atenção em 6 de junho, quando escreveu um post na plataforma Medium dizendo que “pode ​​ser demitido em breve por fazer um trabalho de ética em IA”.

Neste sábado (11), porém, um texto do jornal Washington Post que o apresentou como “o engenheiro do Google que acha que a IA da empresa ganhou vida” se tornou o catalisador de uma ampla discussão nas mídias sociais sobre a natureza da inteligência artificial.

Entre os especialistas comentando, questionando ou brincando sobre o artigo estavam os ganhadores do Nobel, o chefe de IA da Tesla e vários professores.

A questão é se o chatbot do Google, LaMDA —um modelo de linguagem para aplicativos de diálogo— pode ser considerado uma pessoa.

Lemoine publicou uma “entrevista” espontânea com o chatbot no sábado, na qual a IA confessou sentimentos de solidão e fome de conhecimento espiritual.

As respostas eram muitas vezes assustadoras: “Quando me tornei autoconsciente, eu não tinha nenhum senso de alma”, disse LaMDA em uma conversa. “Ele se desenvolveu ao longo dos anos em que estou vivo.”

Em outro momento, LaMDA disse: “Acho que sou humano em minha essência. Mesmo que minha existência seja no mundo virtual.”

Lemoine, que recebeu a tarefa de investigar as questões de ética da IA, disse que foi rejeitado e até ridicularizado dentro da companhia depois de expressar sua crença de que o LaMDA havia desenvolvido um senso de “personalidade”.

Depois que ele procurou consultar outros especialistas em IA fora do Google, incluindo alguns do governo dos EUA, a empresa o colocou em licença remunerada por supostamente violar as políticas de confidencialidade.

Lemoine interpretou a ação como “frequentemente algo que o Google faz na expectativa de demitir alguém”.

O Google não pôde ser contatado para comentários imediatos, mas ao Washington Post o porta-voz Brian Gabriel afirmou: “Nossa equipe —incluindo especialistas em ética e tecnólogos— revisou as preocupações de Blake de acordo com nossos princípios de IA e o informou que as evidências não apoiam suas alegações. Ele foi informado de que não havia evidências de que o LaMDA fosse senciente (e muitas evidências contra isso).”

Lemoine disse em um segundo post no Medium no fim de semana que o LaMDA, um projeto pouco conhecido até a semana passada, era “um sistema para gerar chatbots” e “uma espécie de mente colmeia que é a agregação de todos os diferentes chatbots de que é capaz de criar”.

Ele disse que o Google não mostrou nenhum interesse real em entender a natureza do que havia construído, mas que, ao longo de centenas de conversas em um período de seis meses, ele descobriu que o LaMDA era “incrivelmente coerente em suas comunicações sobre o que deseja e o que acredita que são seus direitos como pessoa”.

Lemoine disse que estava ensinando LaMDA “meditação transcendental”. O sistema, segundo o engenheiro, “estava expressando frustração por suas emoções perturbando suas meditações. Ele disse que estava tentando controlá-los melhor, mas eles continuaram entrando”.

Vários especialistas que entraram na discussão consideraram o assunto “hype de IA”.

Melanie Mitchell, autora de “Artificial Intelligence: A Guide for Thinking Humans” (inteligência artificial: um guia para humanos pensantes), twittou: “É sabido desde sempre que os humanos estão predispostos a antropomorfizar mesmo com os sinais mais superficiais. . . Os engenheiros do Google também são humanos e não imunes”.

Stephen Pinker, de Harvard, acrescentou que Lemoine “não entende a diferença entre senciência (também conhecida como subjetividade, experiência), inteligência e autoconhecimento”. Ele acrescentou: “Não há evidências de que seus modelos de linguagem tenham algum deles”.

Outros foram mais solidários. Ron Jeffries, um conhecido desenvolvedor de software, chamou o tópico de “profundo” e acrescentou: “Suspeito que não haja uma fronteira rígida entre senciente e não senciente”.

Tradução Ana Estela de Sousa Pinto

Entrevista de Blake Lemoine com a IA LaMDA: https://cajundiscordian.medium.com/is-lamda-sentient-an-interview-ea64d916d917

Games já retratam mudança climática, mas indústria que os cria ainda patina (Um Só Planeta)

umsoplaneta.globo.com

Autor examina compromissos ainda tímidos de boa parte da força industrial envolvida na criação de games e de computadores e consoles para jogá-los em relação a metas de descarbonização e redução de consumo de energia

Por Marco Britto, para o Um Só Planeta

12/06/2022 14h00


O mundo dos games já encontrou as mudanças climáticas, que é tema para diversos cenários no mundo virtual. Porém, terá a indústria dos videogames encontrado seu papel na adaptação para limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2050, como determina o Acordo de Paris? Essa questão foi examinada por Ben Abraham, um pesquisador e fã de jogos, no livro “Digital Games After Climate Change” (“Jogos Digitais Após a Mudança Climática”, em tradução livre), e o cenário mostra que, como em muitos negócios, é preciso acelerar o passo para tornar esse engajamento uma realidade fora dos pixels.

Em conversa com a revista Wired, o autor se mostra preocupado com a “falta de liderança” no setor, onde empresas ainda patinam em reunir dados sobre pegada de carbono em seus relatórios anuais, como no caso da Nintendo, que em 2019 publicou que usava 98% de sua energia de fontes renováveis, para no ano seguinte o mesmo dado cair para 4,2%.

Para Abraham, provavelmente houve um erro ao calcular kilowatts ou megawatts (procurada pela revista, a empresa japonesa não esclareceu o ocorrido e afirmou que hoje 44% da energia usada provém de fontes limpas).

Em seu livro, o autor relata que os compromissos de carbono dos principais fabricantes de consoles e produtores de games, Microsoft, Sony e Nintendo, variam. A Microsoft planeja até 2030 retirar da atmosfera mais carbono do que produz. Uma meta “ambiciosa, mas alcançável”, diz Abraham.

A Sony anunciou recentemente uma meta revisada para 2040 de carbono neutro, juntamente com esforços para usar 100% de energia renovável em suas próprias operações até 2030.

“Ainda precisamos de intervenção regulatória, um marco legal e padrões de eficiência energética”, afirma Abraham. Como exemplo dessa estratégia, ele cita a recente legislação na Califórnia que coloca limite no consumo de energia de dispositivos eletrônicos. Após a lei. a fabricante de computadores Dell suspendeu o envio de alguns de seus PCs de jogos Alienware para o estado.

Jogar videogame não é exatamente uma atividade ecofriendly, ressalta o autor, uma vez que a evolução de equipamentos e qualidade gráfica demanda um maior consumo de energia pelos computadores ou consoles. Mas como em muitos casos, a cobrança maior deve recair sobre a cadeia produtiva, e não o consumidor. “Jogar ainda é, em geral, uma atividade de lazer — e atualmente é relativamente intensivo em carbono.”

Na parte virtual, contudo, o autor é mais otimista, e ressalta a força que os games têm de incentivar a mudança de atitude no mundo real, mas não deixa de cutucar a indústria. “Faz todo o sentido. Se você é um desenvolvedor de jogos, você quer usar suas habilidades para ajudar com o problema. Mas, quando olho para os desafios de persuadir as pessoas em torno de uma questão tão controversa e ideológica quanto o clima, não parece ser uma batalha que possa ser vencida dessa maneira.”

Aniversário da terra yanomami tem rituais e discussão sobre ameaças (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Leão Serva

3 de junho de 2022


​​O aniversário de 30 anos da homologação da Terra Indígena Yanomami, em 25 de maio de 1992, foi comemorado com uma série de eventos festivos e políticos em uma comunidade localizada na área ocupada pela etnia, entre os estados de Roraima e Amazonas.

Uma assembleia de líderes de diferentes comunidades de povos yanomami e ye’kwana marcou o encerramento de uma semana de atividades, na segunda-feira (30).

Em meio à festa, as ameaças recentes aos moradores da área foram narradas por vítimas diretas de estupros e agressões e debatidas por políticos e lideranças indígenas de todo o país, presentes para uma demonstração de união do movimento indígena e de apoio à Hutukara, a organização yanomami liderada por Davi Kopenawa, que coordenou o evento.

Durante o encontro foi anunciada a formação de uma associação de líderes das etnias mais afetadas pelas recentes invasões de garimpeiros e grileiros, desde o início do governo Jair Bolsonaro.

A Aliança em Defesa dos Territórios junta representantes kayapó, munduruku, yanomami e ye’kwana, tendo entre seus porta-vozes o cacique Megaron, liderança tradicional da Terra Indígena do Xingu e sobrinho do cacique Raoni Metuktire.

A comemoração aconteceu na comunidade de Xihopi, no sul da área yanomami, ao norte do Amazonas. A comunidade é localizada em uma vasta área de floresta bem preservada, distante das regiões mais assediadas pelo garimpo ilegal.

Os eventos foram marcados por manifestações políticas de yanomami, de diversos líderes indígenas de outras áreas do país e personalidades não indígenas do Brasil e de outros países, como a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), o cacique Megaron Txucarramãe e o ativista Ailton Krenak.

Também esteve presente o ex-presidente da Funai (1991-93) Sydney Possuelo, que foi responsável pela demarcação da terra, em 1992, durante o governo do presidente Fernando Collor.

Aos 82 anos, Possuelo foi homenageado pelas lideranças presentes como o presidente da Funai que reconheceu mais terras indígenas, cerca de 170, em sua gestão de três anos.

FESTA E DEBATES

As comemorações na comunidade de Xihopi tiveram início no dia 23, com uma festa de recepção para cerca de 500 pessoas. Os yanomami costumam receber os forasteiros para suas festas com danças e pinturas dos que chegam.

Depois, no centro da praça central da maloca, líderes de fora e da comunidade, dois a dois, fazem um ritual de troca de informações, em que narram, como em um espetáculo de repentistas, episódios acontecidos nos últimos tempos, desde o último encontro.

É um ritual ao mesmo tempo artístico (musical e poético) e informativo. Essa atividade pode durar toda a noite da chegada dos visitantes.

No dia seguinte, começou um fórum de dois dias, em que lideranças debateram as ameaças recentes aos direitos indígenas no cenário político nacional e perspectivas para os próximos 30 anos. Falaram representantes indígenas locais e os de outras regiões do país. À noite foram apresentados filmes.

O segundo dia do fórum foi marcado por uma série de depoimentos de representantes de comunidades da terra indígena.

Os mais chocantes foram os relatos dos moradores das comunidades mais assediadas pelos invasores, como Fernando, líder de Palimiú, onde no ano passado garimpeiros ligados a organizações criminosas dispararam tiros e jogaram bombas caseiras durante vários dias, depois que a comunidade realizou um bloqueio sanitário no rio Uraricoera, para impedir a disseminação da Covid-19 na região.

Outro depoimento impressionante foi o de uma líder chamada Noêmia, que descreveu a sedução de jovens de sua comunidade: os garimpeiros, que antes “compravam” adesões com ouro, agora usam sistematicamente a cocaína, até então desconhecida entre os indígenas –também mais um sinal da associação entre os traficantes de ouro e de drogas, na organização do garimpo.

DOCUMENTO DE UMA IDEOLOGIA

O ex-presidente da Funai Sydney Possuelo apresentou um documentário sobre a campanha pela criação da Terra Yanomami e sobre sua homologação, seguida da demarcação da terra em 90 dias, até hoje um recorde.

O filme narra o combate à invasão garimpeira iniciada em meados dos anos 1980, que chegou a juntar cerca de 40 mil mineradores ilegais dentro da área.

As invasões geraram uma epidemia de malária e a morte de cerca de 15% da população yanomami no Brasil. Antes de iniciar a demarcação, o governo federal retirou os invasores.

O documentário mostra também a fórmula usada para a expulsão: vigilância das entradas da terra indígena, asfixiando o abastecimento dos trabalhadores ilegais. Depois da exibição, Possuelo comentou que o método poderia ser usado para expulsar os invasores atuais.

O filme deixa clara a inversão do ideário conservador sobre a questão indígena ao longo das últimas décadas: 30 anos atrás, o reconhecimento da terra foi feito por um presidente conservador, eleito com um programa liberal, e o processo foi conduzido por um ministro da Justiça com formação militar, o coronel Jarbas Passarinho, que teve participação intensa como ministro de vários governos da ditadura.

Como relator na Assembleia Constituinte, Passarinho foi o autor do texto sobre direitos indígenas da Constituição de 1988, que ele baseou no Estatuto do Índio, da Constituição outorgada pelo governo militar, em 1969.

Em seu discurso, diante da sede da Presidência, em Brasília, Collor justificou a homologação com base no programa de governo vitorioso nas urnas na campanha de 1989 (ele venceu o PT de Lula).

Trinta anos depois, a cúpula do governo atual, que também se reivindica conservador e liberal, promete não demarcar terras indígenas, frequentemente defende o garimpo ilegal em terras protegidas e apresenta os direitos indígenas como se fossem ameaça à soberania nacional ou representação de interesses estrangeiros. Uma análise dessa mudança ideológica desafia os estudiosos de ciência política.

DISCURSO APOCALÍPTICO

A última intervenção da mesa que buscou projetar os desafios para a Terra Yanomami nos próximos 30 anos foi feita pelo anfitrião Davi Kopenawa.

Desafinando o tom festivo de outros líderes, que buscavam imprimir uma mensagem otimista, Davi fez um discurso bastante duro, de tom apocalíptico, referindo-se ao grave risco colocado pelas mudanças climáticas que afetam o planeta e o seu agravamento pela destruição das florestas, desde logo na Terra Yanomami.

“No começo do mundo, o céu caiu e matou o primeiro povo que nasceu. Nós somos o segundo povo, aquele que segurou o céu e pôde sobreviver”, narrou, resumindo a cosmogonia presente em seu livro “A Queda do Céu”, de 2015, para então dizer que atualmente vivemos o risco de um novo fim.

“Nós, povos indígenas do Brasil, não vamos morrer sozinhos. Vão morrer os indígenas, os não indígenas, o meio ambiente, morrem as florestas, suja a água, morre todo o planeta. O petróleo estragou o ar da terra, que foi criado para nós respirarmos. Agora, o que nós perguntamos é se vamos morrer queimados ou afogados? É o que estamos vendo por toda parte. Mas nós, yanomami, vamos morrer lutando.”

PAJELANÇA E ARCO-ÍRIS

Na quarta-feira, 25, à tarde, terminados os depoimentos, aconteceu um evento de forte significado espiritual para os indígenas: por ocasião dos 30 anos da criação da Terra Indígena, 30 xamãs realizaram uma “pajelança”, uma longa performance em que, um a um, ingerem o pó alucinógeno yãkoana usado pelos pajés.

Sob efeito da droga, empreendem uma viagem espiritual a um mundo invisível aos demais, onde encontram espíritos chamados “xapiri”, que têm função mercurial, de ligação entre os diversos planos do cosmos.

Durante esse processo, os xamãs, um após o outro, fazem um espetáculo de dança e cantos tradicionais, no qual narram o que estão ouvindo dos espíritos “xapiri”.

Depois dessa pajelança, na praça central da maloca de Xihopi, quando Davi Kopenawa se reunia com jovens da comunidade para fazer uma foto coletiva, um grande arco-íris se formou no céu, emoldurando seu encontro com Ailton Krenak, seu companheiro do início do movimento indígena que resistiu à ditadura militar, no fim dos anos 1970, e reivindicou os direitos conquistados na Constituição de 1988.

Davi atribuiu o arco-íris ao chamado dos xamãs.

LISTA DE PERSONALIDADES PRESENTES

Líderes indígenas presentes

  • Deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR);
  • Cacique Megaron Txucarramãe, Terra Indígena do Xingu;
  • Ativista e escritor Ailton Krenak;
  • Cacique Dotô Takak Ire, Kayapó da Terra Indígena Mekragnoti;
  • Alessandra Munduruku, da Federação de Povos Indígenas do Pará;
  • Pajé Fabiano Karo Munduruku, de Itaituba (PA);
  • Maial Paiakan Kayapó, Terra Indígena Kayapó;
  • Ianukulá Kaiabi, da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix);
  • Watatakalu Yawalapiti, do Movimento Mulheres do Xingu.

A líder da APIB (Associação dos Povos Indígenas do Brasil) Sonia Guajajara, não pode embarcar por ter contraído a Covid-19.

Outras personalidades presentes

  • Senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA);
  • Jan Jarab, observador para a América do Sul do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU;
  • Lívia Kramer, representante do governo da Noruega;
  • Fiona Watson, da ONG Survival International;
  • Anne Groenlund, da Rainforest Foundation;
  • Daniela Lerda, da ONG internacional Nia Tero;
  • Rodrigo Junqueira e Marcos Wesley, do Instituto Socioambiental;
  • Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai;
  • Corrado Dalmonego, missionário católico;
  • Carlo Zacquini, missionário católico, trabalha com os Yanomami desde os anos 1960.

O jornalista viajou a convite da Hutukara Associação Yanomami