Arquivo mensal: fevereiro 2011

Brasileiros são mais europeus do que se imaginava (O Globo, JC)

JC e-mail 4203, de 18 de Fevereiro de 2011.

As conclusões estão na pesquisa coordenada pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, e publicada na revista científica “PLoS”

Os brasileiros são bem mais europeus do que africanos. Esqueça todas as análises já feitas com base em conceitos como raça e cor da pele. O primeiro grande estudo a medir a ancestralidade da população do País a partir de sua genética revela uma participação europeia muito maior do que se imaginava preponderante em todo o território, inclusive nas regiões Norte e Nordeste. As conclusões estão na pesquisa coordenada pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, e publicada na revista científica “PLoS”.

O trabalho revelou que, em todas as regiões, a ancestralidade europeia é dominante, com percentuais que variam de 60,6% no Nordeste a 77,7% no Sul. Mesmo as pessoas que se denominam negras pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentam, na verdade, uma alta ancestralidade branca. Para se ter uma ideia, na Bahia, os negros tem 53,9% de raízes europeias. Na análise dos especialistas envolvidos no trabalho, a “europeização” do Brasil se deu a partir do fim do século 19, com o fim do tráfico negreiro e da escravidão e o início do fluxo migratório de aproximadamente 6 milhões de trabalhadores europeus.

Para além do impacto histórico e antropológico que os resultados do novo estudo podem ter, Sérgio Pena ressalta ainda a sua importância do ponto de vista médico: os tratamentos podem ser mais homogêneos do que se imaginava.

Formada por três diferentes raízes ancestrais, indígena, europeia e africana, a população brasileira sempre se acreditou muito heterogênea. Mas o estudo conclui que, independentemente de eventuais classificações baseadas na cor da pele, os brasileiros são muito homogêneos do ponto de vista de sua ancestralidade.
(Roberta Jansen de O Globo)

[Para uma discussão mais sofisticada da questão, ver: Santos, Ricardo Ventura, Peter H. Fry, Simone Monteiro, Marcos Chor Maio, José Carlos Rodrigues, Luciana Bastos‐Rodrigues, and Sérgio D. J. Pena. Color, Race, and Genomic Ancestry in Brazil: Dialogues between Anthropology and Genetics. Current Anthropology Volume 50, Number 6, 2009, pp. 787‐819.]

>Yale Project on Knowledge of Climate Change Across Global Warming’s Six Americas

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From Anthony Leiserowitz, Yale Project on Climate Change Communication

“Today we are pleased to announce the release of a new report entitled “Knowledge of Climate Change Across Global Warming’s Six Americas.” This report draws from a national study we conducted last year on what Americans understand about how the climate system works, and the causes, impacts, and potential solutions to global warming and is available here.

Overall, we found that knowledge about climate change varies widely across the Six Americas – 49 percent of the Alarmed received a passing grade (A, B, or C), compared to 33 percent of the Concerned, 16 percent of the Cautious, 17 percent of the Doubtful, 4 percent of the Dismissive, and 5 percent of the Disengaged. In general, the Alarmed and the Concerned better understand how the climate system works and the causes, consequences, and solutions to climate change than the Disengaged, the Doubtful and the Dismissive. For example:

· 87% of the Alarmed and 76% of the Concerned understand that global warming is caused mostly by human activities compared to 37% of the Disengaged, 6% of the Doubtful and 3% of the Dismissive;
· 86% of the Alarmed and 71% of the Concerned understand that emissions from cars and trucks contribute substantially to global warming compared to 18% of the Disengaged, 16% of the Doubtful and 10% of the Dismissive;
· 89% of the Alarmed and 64% of the Concerned understand that a transition to renewable energy sources is an important solution compared to 12% of the Disengaged, 13% of the Doubtful and 7% of the Dismissive.

However, this study also found that occasionally the Doubtful and Dismissive have as good or a better understanding than the Alarmed or Concerned. For example:

· 79% of the Dismissive and 74% of the Doubtful correctly understand that the greenhouse effect refers to gases in the atmosphere that trap heat, compared to 66% of the Alarmed and 64% of the Concerned;
· The Dismissive are less likely to incorrectly say that “the greenhouse effect” refers to the Earth’s protective ozone layer than all other groups, including the Alarmed (13% vs. 24% respectively);
· 50% of the Dismissive and 57% of the Doubtful understand that carbon dioxide traps heat from the Earth’s surface, compared to 59% of the Alarmed, and 45% of the Concerned.

This study also identified numerous gaps between expert and public knowledge about climate change. For example, only:

· 13% of the Alarmed know how much carbon dioxide there is in the atmosphere today (approximately 390 parts per million) compared to 5% of the Concerned, 9% of the Cautious, 4% of the Disengaged, 6% of the Doubtful and 7% of the Dismissive;
· 52% of the Alarmed have heard of coral bleaching, vs. 24% of the Concerned, 23% of the Cautious, 5% of the Disengaged, 21% of the Doubtful and 24% of the Dismissive;
· 46% of the Alarmed have heard of ocean acidification, vs. 22% of the Concerned, 25% of the Cautious, 6% of the Disengaged, 23% of the Doubtful and 16% of the Dismissive.

This study also found important misconceptions leading many to misunderstand the causes and therefore the solutions to climate change. For example, many Americans confuse climate change and the hole in the ozone layer. Such misconceptions were particularly apparent for the Alarmed and Concerned segments:

· 63% of the Alarmed and 49% of the Concerned believe that the hole in the ozone layer is a significant contributor to global warming compared to 32% of the Cautious, 12% of the Disengaged, 6% of the Doubtful and 7% of the Dismissive;
· 49% of the Alarmed and 36% of the Concerned believe that aerosol spray cans are a significant contributor to global warming compared to 20% of the Cautious, 9% of the Disengaged, 7% of the Doubtful and 5% of the Dismissive;
· 39% of the Alarmed and 23% of the Concerned believe that banning aerosol spray cans would reduce global warming compared to 13% of the Cautious, 3% of the Disengaged, 4% of the Doubtful and 1% of the Dismissive.

Concerned, Cautious and Disengaged Americans also recognize their own limited understanding of the issue. Fewer than 1 in 10 say they are “very well informed” about climate change, and 75 percent or more say they would like to know more. The Alarmed also say they need more information (76%), while the Dismissive say they do not need any more information about global warming (73%).

Overall, these and other results within this report demonstrate that most Americans both need and desire more information about climate change. While information alone is not sufficient to engage the public in the issue, it is often a necessary precursor of effective action.”

>Mudança Climática e conflito social estão associados? (JC)

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JC e-mail 4202, de 17 de Fevereiro de 2011

Artigo do ambientalista Sérgio Abranches, do Ecopolítica para o Plural em site

Eventos climáticos extremos podem ter tido efeito importante nos levantes populares no Oriente Médio e Norte da África? A mudança climática já está afetando as relações sociais?

A questão pode parecer uma dessas vias forçadas para alertar sobre a mudança climática. Mas não é. É uma preocupação relevante e essa conexão já vem sendo estudada por cientistas das mais diversas áreas, climatologistas, ecologistas, sociólogos, economistas. A pergunta é mais complexa do que ela aparenta à primeira vista. Ela indaga sobre duas relações nada triviais: entre eventos climáticos extremos e mudança climática e entre anomalias climáticas e conflito social.

Os cientistas resistem sempre a atribuir à emergência de eventos climáticos extremos específicos à mudança climática. Argumentam, com razão, que não há base científica para associar um evento em particular ao fenômeno global e de longo prazo da mudança climática. Mas o climatologista Kevin Trenberth, diretor da Seção de Análise Climática do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, nos Estados Unidos, defendeu recentemente uma visão diferente desse problema, conhecido na ciência climática como “o problema da atribuição”. Em entrevista exclusiva ao editor do blog Climate Progress, o físico Joseph Romm, Trenberth disse que:

Os cientistas sempre começam com a afirmação de que não se pode atribuir um evento isolado à mudança climática. Mas ela tem uma influência sistemática sobre todos esses eventos climáticos atuais, segundo ele, por causa do fato de que há mais vapor d’água circulando na atmosfera do que se tinha, digamos, trinta anos atrás. É uma quantidade extra de 4% de vapor d’água. Ele aumenta a força das tempestades, dá mais umidade para essas tempestades e é ruim que o público não veja isto como uma manifestação da mudança climática. A perspectiva é que esse tipo de coisa só aumentará e piorará no futuro.

A quantidade de gases estufa na atmosfera, segundo a maioria dos cientistas, já tem um efeito de aceleração do aquecimento da Terra. Portanto, a mudança climática decorrente deve ser vista como um processo em curso com tendência de agravamento ao longo do tempo. Ou seja, é de longo prazo, mas as coisas não acontecem todas no futuro de uma vez só. Vão acontecendo progressivamente, com aumento de frequência e intensidade.

E qual a relação com os fatos no Oriente Médio e na África do Norte?

Tivemos um período atípico de grande quantidade de eventos climáticos extremos em 2010 e no início deste ano. Secas, enchentes, ondas de calor e frio, tempestades intensas, nevascas, queimadas. Esses eventos afetaram negativamente a produção agrícola mundial em todas as partes do mundo: os casos mais exemplares foram no Casaquistão, na Rússia, no Canadá, na Austrália, nos Estados Unidos, na China e no Brasil. O resultado foi uma forte alta dos preços internacionais das commodities agrícolas e inflação de preços de alimentos. Uma inflação climática.

O blog Climate Progress organizou uma série de referências de cientistas e da imprensa a essas relações. Entre elas, estudo dos economistas Rabah Arezki, do FMI, e Markus Brückner, da Universidade de Adelaide na Austrália. Eles estudaram o efeito de variações nos preços internacionais de alimentos sobre as instituições democráticas e conflitos internos em mais de 120 países, entre 1970 e 2007. Essa análise mostra que existe uma clara relação para os países de baixa renda: observa-se a deterioração das instituições democráticas e o aumento da incidência de conflitos de rua, demonstrações anti-governo, e movimentos de massa.

Por que nos países de baixa renda? Nos países de renda alta essa relação não é significativa. Porque quanto menor a renda do país, maior a participação dos alimentos no orçamento doméstico e, portanto, maior a sensibilidade da população a elevações fortes do preço da comida.

Estudos históricos mostram que há relação entre mudança climática e colapso social. Quebras de safra e consequente elevação dos preços de comida são causas frequentes de levantes populares e revoluções na história da sociedade moderna e contemporânea. A história do próprio Egito registra casos históricos de conflitos associados ao preço dos grãos (infelizmente não tenho cópia digital deste artigo). Na Índia, também foram muitos os episódios. O mais notável talvez tenha sido a “revolta dos grãos” de 1918, provocada por desabastecimento e elevação de preços dos grãos resultante de monções com chuvas excepcionalmente fracas.

Em vários desses episódios históricos a relação era direta: a elevação dos preços dos alimentos causava a revolta. No caso atual, as causas são outras. Para entender o que se passa no Egito, por exemplo, é preciso distinguir entre o que causa o descontentamento profundo e o que detona a revolta. O que causou o descontentamento foi a própria tirania. Um governo autocrático, um ditador no poder por 30 anos, uma administração corrupta. Repressão, censura, prisões arbitrárias, tortura. No plano social, muita pobreza, imensa desigualdade de renda e de riqueza, falta de perspectiva de mobilidade social para os jovens. Nos últimos anos houve várias manifestações de protesto, todas duramente reprimidas, mas nenhuma do porte da revolta de massas que começou no dia 25.

O que detona o levante das massas? Uma conjuntura, isto é, uma convergência de fatores, antes dissociados, que se encontram e formam “a gota d’água”, provocam a virada, o tipping point, que levam um protesto como outros inúmeros se transformar em explosão de descontentamento geral, em revolta incontrolável e espontânea da massa.

No Egito houve fatores econômicos, políticos e aceleradores importantes que criaram essa conjuntura. O econômico foi a elevação dos preços dos alimentos, que atingiu duramente as famílias mais pobres. A subida dos preços do petróleo, moradia e educação, bateu no orçamento da classe média. Esse choque de preços ocorreu em uma economia debilitada, na qual o desemprego de jovens é muito alto. O desemprego agrava uma situação de baixa mobilidade social, anulando as perspectivas de futuro dos jovens. Em alguns casos, jovens com qualificação sofrem descenso social, sendo forçados a trabalhar em setores de baixa qualificação. O desespero dos jovens se transmite facilmente para os pais e famílias.

O fator político foi a notícia de que o filho de Hosni Mubarak, Gamal Mubarak, seria seu sucessor, provavelmente já como candidato nas eleições de cartas marcadas previstas para setembro. A possibilidade de uma dinastia Mubarak provocou enorme rejeição, em um país de passado dinástico.

O quadro sócio-econômico no Egito não é muito diferente do que se observa nos outros países. Na Tunísia, no Sudão, mesmo na Arábia Saudita, há tirania, muita pobreza, desigualdade de renda e riqueza, desemprego de jovens e elevação de preços de alimentos. Ouvi recentemente entrevista de um dos príncipes sauditas, na CNN, falando que a situação em seu país é diferente, mas que há, realmente, insatisfação com o aumento de preços dos alimentos e da moradia. O governo aumentou os salários para que pudessem absorver o custo adicional. A evidência mostra que subsídios e aumentos salariais para compensar os efeitos da inflação alimentar têm efeito temporário e acabam por realimentar os preços.

No Egito, o aumento dos preços dos alimentos foi muito forte, como se vê no gráfico em – http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Inflation-in-Egypt.jpg

Os preços dos alimentos subiram 40% e os de moradia e educação, mais de 10%. Os pobres são sensíveis à inflação nos alimentos e na moradia. A classe média à inflação na educação, na moradia e nos combustíveis.

O que acelerou a revolta e permitiu que se transformasse em um movimento de massa, muito rapidamente? As mídias e redes sociais e o efeito-demonstração do levante na Tunísia, que se propagou por essas vias digitais. É evidente que as mídias e redes sociais não fazem revoluções. Elas são uma revolução na forma como nos comunicamos e trocamos informação. Nisso têm sido revolucionárias. Mas, na sociologia dos conflitos sociais seu papel é de acelerador e transmissor, permitindo, por exemplo, o contágio inicial, que depois passa a se dar por contato físico, nas ruas e nas praças, e na propagação de eventos que acabam tendo o efeito de aumentar a propensão à ação.

Além disso, podem ter o efeito de prolongar o contágio. A sociologia já decifrou como terminam os processos por contágio, como os arrastões, por exemplo: quando não há mais pessoas a contagiar e a cadeia se quebra. As redes e mídias sociais – no caso do Egito principalmente o SMS – trazem mais pessoas para o movimento e realimentam o contágio.

Não é por acaso que essas revoltas ocupam as ruas e praças das cidades. O meio urbano é muito mais propício ao contágio das massas. O crescimento da população com acesso à telefonia celular dá o principal instrumento de contágio. Veja os gráficos para o Egito (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Egypt-Mobile-subs.jpg) e a Tunísia (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Tunisia-Mobile-subs.jpg).

Mas a internet teve importante papel de manter o mundo informado sobre o que se passava no Egito, provavelmente evitando um banho de sangue, e na comunicação entre os egípcios. E por isso o governo fechou o acesso à Web.

Nada é simples nesse processo. Estamos falando da convergência de processos complexos no sistema climático, no sistema social e na sociedade global. Essa convergência só aumentará nos próximos anos e décadas. Viveremos mais turbulência climática e social, no meio de uma revolução científica e tecnológica sem precedentes.

Para ouvir o comentário do autor na rádio CBN acesse http://www.ecopolitica.com.br/2011/02/02/mudanca-climatica-e-conflito-social-estao-associados

>Increased flood risk linked to global warming (Nature)

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Published online 16 February 2011 | Nature 470, 316 (2011) | doi:10.1038/470316a


Likelihood of extreme rainfall may have been doubled by rising greenhouse-gas levels.

The effects of severe weather — such as these floods in Albania — take a huge human and financial toll.
The effects of severe weather — such as these floods in Albania — take a huge human and financial toll. REUTERS/A. CELI


Climate change may be hitting home. 


Rises in global average temperature are remote from most people’s experience, but two studies in this week’s 
Nature1,2conclude that climate warming is already causing extreme weather events that affect the lives of millions. The research directly links rising greenhouse-gas levels with the growing intensity of rain and snow in the Northern Hemisphere, and the increased risk of flooding in the United Kingdom.

Insurers will take note, as will those developing policies for adapting to climate change. “This has immense importance not just as a further justification for emissions reduction, but also for adaptation planning,” says Michael Oppenheimer, a climate-policy researcher at Princeton University in New Jersey, who was not involved in the studies.

There is no doubt that humans are altering the climate, but the implications for regional weather are less clear. No computer simulation can conclusively attribute a given snowstorm or flood to global warming. But with a combination of climate models, weather observations and a good dose of probability theory, scientists may be able to determine how climate warming changes the odds. An earlier study3, for example, found that global warming has at least doubled the likelihood of extreme events such as the 2003 European heatwave.

More-localized weather extremes have been harder to attribute to climate change until now. “Climate models have improved a lot since ten years ago, when we basically couldn’t say anything about rainfall,” says Gabriele Hegerl, a climate researcher at the University of Edinburgh, UK. In the first of the latest studies1, Hegerl and her colleagues compared data from weather stations in the Northern Hemisphere with precipitation simulations from eight climate models (see page 378). “We can now say with some confidence that the increased rainfall intensity in the latter half of the twentieth century cannot be explained by our estimates of internal climate variability,” she says.

The second study2 links climate change to a specific event: damaging floods in 2000 in England and Wales. By running thousands of high-resolution seasonal forecast simulations with or without the effect of greenhouse gases, Myles Allen of the University of Oxford, UK, and his colleagues found that anthropogenic climate change may have almost doubled the risk of the extremely wet weather that caused the floods (see page 382). The rise in extreme precipitation in some Northern Hemisphere areas has been recognized for more than a decade, but this is the first time that the anthropogenic contribution has been nailed down, says Oppenheimer. The findings mean that Northern Hemisphere countries need to prepare for more of these events in the future. “What has been considered a 1-in-100-years event in a stationary climate may actually occur twice as often in the future,” says Allen.

But he cautions that climate change may not always raise the risk of weather-related damage. In Britain, for example, snow-melt floods may become less likely as the climate warms. And Allen’s study leaves a 10% chance that global warming has not affected — or has even decreased — the country’s flood risk.

Similar attribution studies are under way for flood and drought risk in Europe, meltwater availability in the western United States and drought in southern Africa, typical of the research needed to develop effective climate-adaptation policies. “Governments plan to spend some US$100 billion on climate adaptation by 2020, although presently no one has an idea of what is an impact of climate change and what is just bad weather,” says Allen.

Establishing the links between climate change and weather could also shape climate treaties, he says. “If rich countries are to financially compensate the losers of climate change, as some poorer countries would expect, you’d like to have an objective scientific basis for it.”

The insurance industry has long worried about increased losses resulting from more extreme weather (see ‘Fatal floods’), but conclusively pinning the blame on climate change will take more research, says Robert Muir-Wood, chief research officer with RMS, a company headquartered in Newark, California, that constructs risk models for the insurance industry. “This is a key part of our research agenda and insurance companies do accept the premise” that there could be a link, he says. “If there’s evidence that risk is changing, then this is something we need to incorporate in our models.” 
See News and Views p.344


References

  1. Min, S.-K. et alNature 470, 378-381 (2011).
  2. Pall, P. et alNature 470, 382-385 (2011).
  3. Stott, P. A. et alNature 432, 610-614 (2004).

>Catástrofe na região serrana do Rio já é o maior desastre climático do País (Estadão)

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[Talvez o pior evento de deslizamento, mas não chega sequer perto do pior desastre climático. A seca de 1877-1879 matou cerca de 500 MIL pessoas no Nordeste, segundo a maioria dos autores.]



Mortos são 785, mesmo número de enchente no Rio em 1967. Em ranking da ONU, também é o 8º maior deslizamento do mundo

22 de janeiro de 2011 | 0h 00
Bruno Tavares – O Estado de S.Paulo
A tragédia da região serrana do Rio se igualou ontem ao maior desastre climático da história do País. Até as 22 horas de ontem, as autoridades contabilizavam 785 mortos, o mesmo número de vítimas da enchente do Rio em 1967, segundo ranking da ONU. O número tende a aumentar, pois o Ministério Público fluminense estima que ainda existam 400 desaparecidos nos seis municípios devastados pelas chuvas do dia 12.
Marcos de Paula/AE
Marcos de Paula/AE
Fotos de desaparecidos em Teresópolis
O desastre também entra para os registros da ONU como o 8.º pior deslizamento da história mundial. O maior evento dessa natureza, segundo o Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres, ocorreu em 1949, na antiga União Soviética, com 12 mil mortes. O segundo maior foi no Peru, em dezembro de 1941, e deixou 5 mil vítimas.
O deslizamento da região serrana já havia superado o número de vítimas registrado em 1967, em Caraguatatuba, quando 436 pessoas morreram. Por suas características devastadoras, o evento ocorrido há mais de quatro décadas na Serra do Mar paulista era considerado emblemático pelos geólogos.
Apesar da grande quantidade de água que desceu dos morros fluminenses e de vários rios terem transbordado, especialistas brasileiros e da própria ONU classificam o evento como deslizamento de terra. Na avaliação dos estudiosos, grande parte da destruição e das mortes foi causada pelas avalanches de terra e detritos – tecnicamente chamadas de corrida de lama.
O fenômeno é raro, pois depende de uma conjunção de fatores para ocorrer. No caso da região serrana do Rio, todos eles estavam presentes. Os morros são íngremes, o que favorece os escorregamentos de terra. Além disso, é preciso um grande volume de chuva concentrado em um curto espaço de tempo. Foi o que aconteceu ali. Segundo dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as estações climáticas localizadas no núcleo da tempestade registraram 249 e 297 milímetros de chuva em 24 horas – a partir das 20 horas do dia 11. Na avaliação da presidente do Inea, Marilene Ramos, um temporal dessa intensidade tem probabilidade de acontecer a cada 350 anos.
Enterro. Por questão “não só humanitária, mas também de saúde pública”, o juiz da 2.ª Vara de Família de Teresópolis, José Ricardo Ferreira de Aguiar, determinou o enterro dos corpos de 25 vítimas das chuvas que estavam em um caminhão e trailers frigoríficos. No Cemitério Carlinda Berlim, o principal dos cinco da cidade, foram 232 enterros desde a semana passada. Pelo Instituto Médico-Legal, até ontem já tinham passado 312 cadáveres. O juiz crê que existam “no mínimo quatro vezes mais soterrados” do que os encontrado.
A maioria dos corpos enterrados ontem – 22 adultos e três crianças – teve a identificação levantada pela equipe de papiloscopistas do IML, da Força Nacional e do Instituto Félix Pacheco. Mas, como os corpos não foram reclamados por parentes, o enterro foi determinado pelo juiz. No caso dos corpos sepultados sem identificação, houve coleta de DNA. Assim, será possível confrontar dados dos parentes que buscarem informações.
A partir de agora, segundo decisão do juiz, os corpos não reconhecidos serão liberados após coleta de material biológico. “Em duas horas o corpo sairá dignamente para ser sepultado.”
No caso dos desaparecidos, o Ministério Público afirma que informações registradas por parentes e amigos têm sido confrontadas com dados de hospitais e do IML. Ontem, fotos foram colocadas na frente de um centro de informações em Teresópolis. / COLABOROU MARCELO AULER

>Modelo climático brasileiro mostrará o clima sob o olhar do Brasil (Fapesp, JC)

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JC e-mail 4200, de 15 de Fevereiro de 2011

Nos modelos climáticos globais divulgados no mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), divulgado em 2007, o Pantanal e o Cerrado são retratados como se fossem savanas africanas

Já fenômenos como as queimadas, que podem intensificar o efeito estufa e mudar as características das chuvas e nuvens de uma determinada região, por exemplo, não são caracterizados por não serem considerados relevantes para os países que elaboraram os modelos numéricos utilizados.

É por isso, e para auxiliar nas pesquisas mundiais sobre as mudanças climáticas e avaliar o impacto que as atividades humanas têm sobre elas, que cientistas brasileiros estão desenvolvendo o Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG).

O esforço congrega cientistas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Mudanças Climáticas (INCT-MC), do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais e da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima).

Modelo brasileiro

Com conclusão estimada para 2013, o modelo climático brasileiro deverá permitir aos climatologistas realizar estudos sobre mudanças climáticas com base em um modelo que represente processos importantes para o Brasil e que são considerados secundários nos modelos climáticos estrangeiros.

“Boa parte desses modelos internacionais não atende às nossas necessidades. Temos muitos problemas associados ao clima em virtude de ações antropogênicas, como as queimadas e o desmatamento, que não são retratados e que agora serão incluídos no modelo que estamos desenvolvendo no Brasil”, explica Gilvan Sampaio de Oliveira, pesquisador Inpe e um dos coordenadores do MBSCG.

Segundo ele, o modelo brasileiro incorporará processos e interações hidrológicas, biológicas e físico-químicas relevantes do sistema climático regional e global.

Dessa forma, possibilitará gerar cenários, com resolução de 10 a 50 quilômetros, de mudanças ambientais regionais e globais que poderão ocorrer nas próximas décadas para prever seus possíveis impactos em setores como agricultura e energia.

“Com esse modelo, teremos capacidade e autonomia para gerar cenários futuros confiáveis, de modo que o país possa se preparar para enfrentar os fenômenos climáticos extremos”, disse Sampaio.

Impactos do clima na agricultura

A primeira versão do modelo brasileiro com indicações do que pode ocorrer com o clima no Brasil nos próximos 50 anos deverá ficar pronta até o fim de 2011. Para isso, os pesquisadores estão instalando e começarão a rodar em fevereiro, no supercomputador Tupã, instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), em Cachoeira Paulista (SP), uma versão preliminar do modelo, com módulos computacionais que analisam os fenômenos climáticos que ocorrem na atmosfera, no oceano e na superfície terrestre.

Os módulos computacionais serão integrados gradualmente a outros componentes do modelo, que avaliarão os impactos da vegetação, do ciclo de carbono terrestre, do gelo marinho e da química atmosférica no clima.

Em contrapartida, um outro componente apontará as influências das mudanças climáticas em cultivares agrícolas como a cana-de-açúcar, soja, milho e café.
“No futuro, poderemos tentar estimar a produtividade da cana-de-açúcar e da soja, por exemplo, frente ao aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”, disse Sampaio.

Contribuição ao IPCC

Segundo o cientista, como a versão final do MSBCG só ficará pronta em 2013, o modelo climático brasileiro não será utilizado no próximo relatório que o IPCC divulgará em 2014, o AR-5. Mas o modelo que será utilizado pelo Painel Intergovernamental para realizar as simulações do AR5, o HadGEM2, contará com participação brasileira.

Por meio de uma cooperação entre o Hadley Center, no Reino Unido, e o Inpe, os pesquisadores brasileiros introduziram no modelo internacional módulos computacionais que avaliarão o impacto das plumas de fumaça produzidas por queimadas e do fogo florestal sobre o clima global, que até então não eram levados em conta nas projeções climáticas.

Com isso, o modelo passou a ser chamado HadGEM2-ES/Inpe. “Faremos simulações considerando esses componentes que introduzimos nesse modelo”, contou Sampaio.

Uso da terra e meteorologia

Em 2013, quando será concluída a versão final do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global, o sistema ganhará um módulo computacional de uso da terra e outro meteorológico, com alta resolução espacial. No mesmo ano, também serão realizadas as primeiras simulações de modelos regionais de alta resolução para a elaboração de um modelo climático para América do Sul com resolução de um a 10 km. “Até hoje, levávamos meses e até anos para gerar cenários regionais. Com o novo sistema de supercomputação os esforços em modelagem climática regional ganharão outra escala”, afirmou Sampaio.

(Site da Inovação Tecnológica, com informações da Agência Fapesp)

Desafios para a democratização da informação ambiental no Brasil (REBIA)

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Informação ambiental para que, e por quê? Estas parecem ser as primeiras questões a serem respondidas por quem tem interesse no assunto da democratização da informação ambiental no Brasil. Numa sociedade que se diz e se espera democrática e sustentável, o acesso à informação ambiental é fundamental para assegurar o fortalecimento da democracia. Para fazer escolhas no rumo da sustentabilidade, a sociedade precisa de informações para a sustentabilidade, diferentes das atuais. Se a população não recebe informações ambientais em quantidade e qualidade adequadas, tenderá a reproduzir as mesmas escolhas que trouxeram a humanidade à beira de um colapso ambiental.

Então, surge uma segunda questão, afinal, existe ou não falta de democratização da informação ambiental no Brasil? A questão é relevante e a resposta fundamental para se definir o tipo de esforço necessário e a direção deste esforço. O problema da resposta é que ela não é única, mas diferente em função do observador.

Existe uma diferença entre a informação que se busca, proativamente, e a informação que se recebe, passivamente. Para quem busca a informação ambiental e dispõe dos meios necessários, encontrá-la pode ser relativamente fácil. Entretanto, mesmo para esta parcela de público, que é incluída digitalmente, lê jornais e revistas, e tem um mínimo de conhecimentos de direitos e deveres ambientais, nem sempre a informação que se encontra é a que se quer. Como qualquer outra informação, a ambiental também não está livre da meia verdade, da mentira, da manipulação tendenciosa, da especulação, do exagero, da falta de base científica, do emocionalismo, etc.

Por exemplo, existem leis que asseguram o acesso da sociedade a informações ambientais legais, entretanto, conseguir tais informações não é nada fácil. Só querer e ter as condições e o acesso à internet não bastam. Se a intenção for obter informações, por exemplo, sobre licenças ambientais, TACs (Termo de Ajuste de Conduta), compensação ambiental, a dificuldade será enorme, e se quiser ir mais além, e obter informações sobre as condicionantes – onde estão listados os projetos e obrigações -, então a informação ambiental pode se tornar quase inacessível, sem algum QI (quem indica) bem posicionado, coisa para poucos iniciados. Existem licenças que chegam a ter mais de 100 condicionantes, e se a imprensa e a sociedade não conseguem acesso a esta informação, muito menos tem como saber o que foi ou não cumprido, e daí não tem como divulgar ou cobrar responsabilidades. Para quem tiver alguma dúvida, faca um teste, escolha uma única empresa e tente obter estas informações ambientais, e então compreenderá o quanto a democratização da informação ambiental no Brasil ainda é uma promessa. E se conseguir, tente descobrir, do que foi comprometido, o que foi efetivamente realizado, e descobrirá que a falta da democratização da informação ambiental não se dá por um acaso.

Veja os fatos. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), entre janeiro de 2005 e outubro 2009, o IBAMA deixou de receber 99,4% do valor total das multas aplicadas contra crimes ambientais. Em quase cinco anos, foram R$ 14,6 bilhões não pagos por pessoas e empresas autuadas. Vivemos uma espécie de conto de fadas ambiental. O IBAMA finge que é capaz de exercer o Poder de Polícia, que tem estrutura e competência para isso, e todo mundo acredita. O que o TCU mostra é que, na prática, a verdade é outra. Falta estrutura e competência. Se acontece em relação a dinheiro vivo que o Governo Federal poderia estar recebendo, imagine o que acontece com as centenas de exigências condicionantes de licenças ambientais, ou dos Termos de Ajuste, ou de medidas compensatórias que deveriam se traduzir em projetos ambientais! Se acontece no nível federal, imagine o que acontece nos níveis estaduais e municipais!

Diante de um quadro como este, e preciso ter claro que a falta de falta de recursos ou prioridade para a democratização da informação ambiental não é fruto do acaso ou de alguma incompetência, mas trata-se de uma escolha deliberada pelo ´nada a declarar´ambiental. O desgaste que pode haver para infratores e órgãos ambientais ineptos na não informação é amplamente recompensado pelos benefícios da falta de transparência na informação ambiental, por que se a sociedade não sabe, então também não cobra. Já diz o ditado, o que os olhos não vêem o coração não sente! Manter a imprensa longe é uma maneira de se proteger e ganhar tempo. A falta de informação ambiental é o biombo onde algumas empresas e órgãos de governos se escondem da sociedade para fazer de conta que está tudo bem.

Outro exemplo está nos relatórios de sustentabilidade das empresas. Mesmo nos melhores casos, não existe empresa cem por cento correta, nem se espera isso de ninguém, pois a perfeição é utopia presente apenas nos sonhos, nos ideais, nas promessas. O problema é que os relatórios tenderão a divulgar o que acontece de bom e mascarar ou ocultar o que ainda não vai bem, e ainda tende a demonstrar como mérito próprio resultados ambientais que na verdade são obrigações em função de licenciamento ou termos de ajuste. A relação entre o que as empresas lucram retirando da natureza e o que devolvem na forma de projetos ambientais é absolutamente desproporcional. Alguém poderá dizer que isso é da natureza humana, e que mostrar o que vai mal é papel dos críticos. Entretanto, abre uma brecha enorme para a ficção literária, para palavras e promessas até bonitinhas, em papel reciclado, mas vazios de conteúdo e credibilidade. Quando uma empresa divulga, por exemplo, que reduziu em 30 por cento sua poluição, desperdício ou embalagens, na verdade confessa que repassa 70 por cento dos seus custos ambientais para a sociedade, enquanto segue capitalizando lucros. Informação depende de credibilidade, e isso se torna um problema para empresas responsáveis que fazem um trabalho sério, pois tenderão a ser niveladas com as demais, tornando seus relatórios no mínimo suspeitos. Não é à toa que as tiragens são limitadas, mais para o público interno e acionistas, e as empresas não convidem a mídia ambiental para seus lançamentos, muito menos a incluam em seus planos de mídia, para não correrem o risco de perguntinhas inoportunas e desagradáveis nessas horas quando tudo o que se espera é brilho e festa.

Quanto ao acesso da grande maioria da população brasileira à informação ambiental, este se limita ao interesse da mídia de massa pelo assunto que, importante que se diga, com o agravamento das mudanças climáticas, tem se dedicado bastante aos temas ambientais. Entretanto, existe uma tendência – sempre com as raras exceções -, de abordar o assunto mais pelo viés do paraíso perdido do qual fomos expulsos, ou da natureza exótica, violenta, e distante de nós, reforçando a idéia de como é bom estarmos separados da natureza, vivendo em cidades, pois assim também não temos de sentir culpa nem nos sentir ameaçados pelo que fizermos a ela. Ou então quando ocorre algum acidente ambiental. A prática demonstra que, assim que o problema deixa de ser visível, também tende a desaparecer das pautas. O mercado trata a comunicação como um negócio que só vale a pena se der lucro, então a informação ambiental estará presente na pauta enquanto der audiência ou vender jornais e revistas.

É preciso compreender a diferença entre a informação que o público quer – e que se dispõe a pagar por ela – da informação que ele precisa, e que nem sempre se dispõe a pagar para ter. A informação ambiental nem sempre é uma informação que o público se dispõe a pagar para ter. Uma rápida visita a qualquer banca mostrará a realidade. Existem publicações diversas sobre todos os assuntos, menos sobre meio ambiente, excetuando-se uma ou outra publicação sobre turismo e paisagismo. E, para o mercado, a solução é muito simples, se a sociedade não se dispõe a pagar pela informação ambiental, então ela não deve existir. Por outro lado, a falta de interesse do publico pela informação ambiental é compreensível, primeiro por que temos um leque de interesses muito mais amplo que só o ambiental, por que a vida é naturalmente complexa. Segundo, por que a informação ambiental nem sempre serve para entreter e mais incomoda que outra coisa, ao mostrar os abusos contra a natureza, denuncia a poluição e a agressão ambiental, questiona valores consumistas e desperdiçadores, e incomoda até mesmo quando mostra alternativas de tecnologias e atitudes, pois os que optaram por tecnologias e atitudes poluidoras e predatórias não poderão mais argumentar desconhecimento.

Para assegurar a existência e o acesso do público à informação ambiental, os governos deveriam assegurar políticas públicas e recursos, como, aliás, já fazem com a mídia de massa, através de mecanismos de repasse de verbas de publicidade. Mas os governos não são neutros e ainda estão muito mais comprometidos com um modelo de desenvolvimento comprometido com o gigantismo das escalas, com a exportação para gerar excedentes que equilibrem as contas, onde tradicionalmente a natureza teve e tem de ceder. A não ser no campo das idéias e das utopias, a sociedade brasileira ainda está longe de um modelo ambientalmente sustentável e socialmente justo de desenvolvimento, e naturalmente a informação ambiental reflete isso. Quanto mais crítica ela for, quanto mais apontar as contradições entre as práticas e as promessas, menos recursos e audiência terá de quem recebem as críticas. Entretanto, este é o seu papel, e por mais que não gostem de críticas, precisam delas para avançar e aumentar a velocidade das mudanças entre um modelo predatório e injusto de desenvolvimento e outro mais justo e sustentável.

Outra fonte de recursos deveria vir das empresas, entretanto, em vez de ajudar a financiar a informação ambiental, quando querem divulgar alguma coisa, preferem investir no envio de releases em massa na esperança de obter mídia ambiental espontânea. Mais ou menos como acreditar em almoço grátis ou em Papai Noel. Divulgação custa caro, é verdade, mais uma razão para não imaginar que uma mídia ambiental empobrecida vá dar de graça o que tem para vender! As empresas preferem editar folhetos ou publicações próprias, em ambiente controlado, onde não correm o risco de ser alvo de alguma crítica. E, para não se verem expostas a perguntinhas inoportunas sobre outros assuntos, contratam serviços de comunicação de terceiros e ocultam seus telefones e e-mails dos releases.

O tendão de Aquiles dos que negam recursos para a informação ambiental são os voluntários que conseguem manter a democratização da informação ambiental mesmo sem recurso algum, por que não se subordinam às regras do mercado, e teimam em oferecer a informação ambiental como uma espécie de apostolado ideológico, até mesmo para quem não quer pagar por ela. Claro que este trabalho voluntário tem limitações, sejam técnicas ou financeiras, mas ainda assim, presta um importante serviço de interesse público, onde o estado e a iniciativa privada estão falhando.

Como diz o ditado popular, sem povo não se cria nada de novo, por isso, o desafio pela democratização da informação ambiental continua mais desafiador do que nunca, tanto no sentido de falarmos uma linguagem que o povo entenda quanto encontrar os meios que assegurem que a informação ambiental possa ir além dos atuais nichos de publico especializado.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas – http://www.escritorvilmarberna.com.br

Petrobras vira nome de dinossauro na Argentina (FSP, JC)


JC e-mail 4199, de 14 de Fevereiro de 2011

Titanossauro recém-descoberto no país se chamará “Petrobrasaurus”. Animais “patrocinados” estão ficando comuns, e mesmo pessoas podem pagar para colocar seu nome em espécies

Sinal dos tempos: hoje em dia até dinossauro tem “naming rights” – o termo que se usa quando uma empresa coloca o seu nome em um estádio de futebol ou em uma sala de cinema, por exemplo.

O caso de merchandising paleontológico mais recente é o de um titanossauro argentino herbívoro e quadrúpede com 85 milhões de anos de idade, 22 metros e até 35 toneladas que ganhou o nome da Petrobras, descoberto por pesquisadores de lá.

Casos parecidos aconteceram recentemente com outras empresas do ramo da Petrobras. O dino Futalognkosaurus dukei, de 2007, por exemplo, tem esse nome por causa da Duke Energy. O Panamericansaurus, de 2010, refere-se à Pan American Energy.

A homenagem dos hermanos não é, claro, só um gesto de camaradagem latino-americana: a Petrobras, que hoje tem vários poços pelo país, dá suporte logístico (como alojamento e alimentação) a paleontólogos do país que tentam encontrar fósseis perto das perfurações.

Segundo Leonardo Filippi, paleontólogo do Museo Municipal Argentino Urquiza e autor do artigo científico, não é bem, então, que a Petrobras tenha “comprado” o nome do bicho. Nas palavras dele, é um “reconhecimento da colaboração constante” da empresa brasileira.

Involuntariamente, os argentinos acabaram revivendo a crítica de que a Petrobras, supostamente gigante e lenta, seria um dinossauro. Ao menos não deram ao bicho o famigerado apelido de “Petrossauro”, mas sim o nome de Petrobrasaurus puestohernandezi – o segundo nome por causa de Puesto Hernández, na Patagônia, local onde o animal foi achado.

“De um tempo para cá, dar a empresas e instituições que financiam pesquisas os animais recém-descobertos tem se tornado muito comum. Nos EUA, é prática. A National Geographic, por exemplo, é bastante lembrada”, diz Mario Cozzuol, paleontólogo da Universidade Federal de Minas Gerais.

Espécies grandes e chamativas como dinossauros, claro, são consideradas mais valiosas. Quem não é uma gigante do setor petrolífero, porém, pode se contentar em nomear espécies de menor destaque – e há um vasto mercado de nomenclatura científica se consolidando.

Uma ONG europeia chamada Biopat se especializou em intermediar a venda de nomes de espécies recém-descobertas. Qualquer um pode colocar o nome que quiser em um bicho ou planta, basta pagar. É caro: eternizar o seu nome em um beija-flor, por exemplo, chega a custar mais de R$ 20 mil.

O problema é que empresas e pessoas só querem mesmo nomear espécies carismáticas como beija-flores ou orquídeas – mesmo que o pessoal da Biopat faça um bom desconto, ninguém se interessa por uma coitada de uma baratinha, digamos.

O fato de ninguém querer dar nome para insetos é tão sério que a empresa achou estranho quando um cliente alemão quis pagar para isso. Entrou em contato com ele e descobriu que o nome que ele queria colocar no bicho era… bom, era o da sua sogra.

O caso da sogra-inseto chegou a ser assunto nas páginas da normalmente sisuda revista acadêmica Science em março de 2005, em um texto que desejava justamente chamar a atenção para a grave desigualdade que a preferência por bichos e plantas fofas estava criando.

Tinha-se receio que os milhares de dólares estimulando a descoberta de espécies bonitas acabassem minando a busca por espécies na ala desprezada que natureza -vamos lá, não é porque os bichos são feios que não tem o seu valor científico.

No Brasil, esse capitalismo todo ainda não chegou à nomeação de espécies.

Homenagens são mais comuns. Foi assim que o jornalista José Hamilton Ribeiro, por votação na internet, passou a nomear um antúrio-mirim, planta ornamental de nome científico Aceae anthurium hamiltoni, encontrada em uma reserva da Vale no Espírito Santo. (Folha de São Paulo)

A RIO+20, o IV CBJA e a democratização da informação ambiental (REBIA)

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Durante a ECO 92, os países se comprometeram a encontrar alternativas para a democratização da informação ambiental sempre que existissem obstáculos como os que existem para a mídia ambiental no Brasil, e até assinaram o capitulo 40.18 da Agenda 21, com este compromisso. Entretanto, vinte anos depois, a promessa ainda esta no papel.

Em 2012, o Brasil estará sediando a RIO+20, de novo na Cidade do Rio de Janeiro, um novo encontro global para avaliar o que avançou das promessas feitas a 20 anos. Pode ser um momento oportuno para a união de forcas dos que estão conscientes sobre a importância estratégica da democratização da informação ambiental para que a sociedade possa fazer escolhas melhores no rumo da sustentabilidade.

Os jornalistas ambientais já saíram na frente e anteciparam seu congresso para outubro desde ano, entre os dias 12 e 15, na Cidade do Rio de Janeiro. O IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental estará sendo realizado em paralelo a outros três eventos, o encontro da RedCalc – Rede Latino-Americana de Periodismo Ambiental, o Iº Encontro Nacional da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e o Iº Encontro da ECOMIDIAS – Associação Brasileira de Mídias Ambientais, uma tentativa ao mesmo tempo de economizar esforços e recursos, e também uma estratégia para facilitar a aglutinação de forcas entre movimentos e organizações com objetivos comuns.

A organização do IV CBJA estará, ainda, identificando e convidando parceiros estratégicos como a FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas, a ABI – Associação Brasileira de Imprensa, entre outros cuja missão inclua o compromisso com a democratização e a formação e fortalecimento da cidadania, para reforçar esta luta.

Detalhe: os eventos serão carbono negativo, ou seja, a OSCIP PRIMA estará plantando mais árvores que o necessário para a neutralização das emissões de carbono, além de adotar práticas ecoeficientes, pois os congressistas querem ser o exemplo que esperam ver na sociedade.

Entre os desafios a enfrentar, está o de formar uma Coalizão de organizações pela democratização da informação, com representação permanente em Brasília, capaz de ir além das promessas e reclamações, e pressionar de forma efetiva e constante por políticas publicas e financiamento público para a informação ambiental, por que existe uma diferença entre a informação que o público quer – e se dispõe a pagar por ela – e a informação que ele precisa.  O mercado consegue ser uma solução no primeiro caso, pois para ele a comunicação é vista como um negócio qualquer, precisa dar lucros, ou não terá razão para existir. Para o segundo caso, o país requer políticas públicas inclusive para o financiamento da informação ambiental que o público precisa.  No verão, por exemplo, o público dá audiência aos assuntos das catástrofes provocadas pelas chuvas, mas com o passar dos dias, o interesse vai diminuindo junto com as chuvas, até virar desinteresse e então o assunto some da mídia, como se o problema tivesse sido resolvido, para retornar com as catástrofes do verão seguinte. O mesmo acontece diante de algum acidente ambiental. Enquanto o problema permanecer visível ao interesse público estará na pauta da mídia de massa, mas assim que deixar de ser visível, desaparecerá também da mídia. Quem já acompanhou graves acidentes de vazamentos de petróleo ou de produtos químicos em rios e oceanos sabe bem disso. A informação ambiental precisa ir além apenas da dor. O quanto pior, melhor, é pior para todo mundo, ainda que assegure o interesse do público, e, portanto, da mídia em geral, por alguns breves momentos.

Uma rápida olhada nos títulos das revistas expostas nas bancas mostra a falta de oferta de informação ambiental, para este público, que freqüenta as bancas, em torno de 20% da população. Enquanto existem diversos títulos diferentes sobre a vida dos ricos e famosos, ou de mulheres nuas, ou sobre moda e beleza, automóveis, culinária, arquitetura, não existe nenhuma mídia específica sobre meio ambiente, educação e cidadania ambiental, consumo responsável, sustentabilidade, excetuando-se um ou outro título com viés mais para turismo ou paisagismo. O que não significa que a mídia ambiental não exista. Existe, só não consegue chegar ao Grande Publico, permanecendo como uma mídia marginal, mal conseguindo atender direito a uns poucos segmentos de interesse especializado.

O Governo Federal já dispõe de mecanismos para o repasse de dinheiro público para a iniciativa privada, através das verbas de publicidade, mas não existe uma política pública que priorize a informação que o público precisa, mas não se dispõe a pagar por ela. A maior parte desses recursos é destinada à mídia de massa – inclusive para os veículos de comunicação ligados à base aliada do Governo -, e acaba ajudando a financiar `realyts shows´e outras informações que o público quer. A mídia ambiental costuma ser contemplada com algumas poucas migalhas dessas verbas, mas o suficiente para não deixá-la morrer de inanição, e não o bastante para que chegue a incomodar nem ao próprio governo nem às empresas com suas críticas ao modelo predatório de desenvolvimento.

A mídia ambiental é uma mídia de resistência, e incomoda aos poderosos ao criticar o modelo predatório e injusto que avança sobre os limites e a capacidade de suporte da natureza. E incomoda até quando aponta soluções e caminhos que poderiam ajudar a nos tirar do rumo de um colapso ambiental cada vez mais visível, pois deixa claro que as escolhas pelas tecnologias sujas e predatórias não resultam do acaso ou da falta de opção. E incomoda e desagrada também ao próprio público em geral, ao criticar seus hábitos e atitudes consumistas e ambientalmente irresponsáveis. Então, não é de se estranhar que as pessoas não queiram a informação ambiental, embora precisem dela.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br ).  Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas – www.escritorvilmarberna.com.br.

 

>In Denial – Climate on the Couch (BBC)

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Thu 10 Feb 2011
BBC Radio 4

http://www.bbc.co.uk/programmes/b00y92mn

Something strange is happening to the climate – the climate of opinion. On the one hand, scientists are forecasting terrible changes to the planet, and to us. On the other, most of us don’t seem that bothered, even though the government keeps telling us we ought to be. Even climate scientists and environmental campaigners find it hard to stop themselves taking holidays in long haul destinations.

So why the gap between what the science says, and what we feel and do? In this programme Jolyon Jenkins investigates the psychology of climate change. Have environmentalists and the government been putting out messages that are actually counterproductive? Might trying to scare people into action actually be causing them to consume more? Are images of polar bears actually damaging to the environmentalists’ case because they alienate people who don’t think of themselves as environmentalists – and make climate change seem like a problem that’s a long way off and doesn’t have much relevance to normal life? Does the message that there are “simple and painless” steps we can take to reduce our carbon footprint (like unplugging your phone charger) unintentionally cause people to think that the problem can’t be that serious if the answers are so trivial?

Jolyon talks to people who are trying to move beyond the counterproductive messages. On the one hand there are projects like Natural Change, run by WWF Scotland, which try to reconnect people with nature using the therapeutic techniques of “ecopsychology” – intense workshops that take place in the wilderness of the west of Scotland, and which seem to convert the uncommitted into serious greens. On the other, there are schemes that try to take the issue out of the green ghetto and engage normal people with climate change. Jolyon visits a project in Stirling which has set itself the ambitious challenge of talking face to face with 35,000 people, through existing social groups like rugby clubs, knitting circles and art groups. It wants to sign up these groups to carbon cutting plans, and make carbon reduction a social norm rather than something that only eco-warriors bother with.

And he attends a “swishing party” in London, which tries to replicate the buzz women get from clothes shopping, but in a carbon neutral way. Can the green movement find substitutes for consumerism that are as fun and status-rich, that will deliver carbon reduction but without making people feel they have signed up to a life of grim austerity? And even if the British and Europeans shift their attitudes, can the Americans ever be reconciled to the climate change message? Producer Jolyon Jenkins.

Aplicativo de iPhone para confissão não substitui padre, diz Vaticano (BBC)

RELIGIÃO

BBC Online – 9 de fevereiro, 2011 – 13:26 (Brasília) 15:26 GMT

Representantes da Igreja aprovaram o novo aplicativo

O Vaticano alertou que um novo aplicativo para o iPhone, que ajuda fiéis a confessarem nunca poderá substituir o diálogo pessoal com um padre.

O programa, chamado Confissão, foi colocado à venda semana passada pela loja virtual da Apple, iTunes, por US$ 1,99 (aproximadamente R$ 3,32).

O aplicativo foi aprovado por representantes da Igreja Católica nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.

Mas, em entrevista à BBC, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o programa Confissão não serve como substituto para a confissão dos pecados a um sacerdote, como há séculos é feito.

Segundo ele, no passado, era comum que os católicos se preparassem para a confissão escrevendo sobre seus pecados e seus pensamentos, e é natural que na era digital eles substituam a escrita em papel por recursos de informática, como o aplicativo.

O comentário de Lombardi vem em um momento em que a prática da confissão entre os católicos está em queda.

Exame de consciência

O aplicativo guia os usuários no sacramento da confissão e permite que o fiel mantenha um registro de seus pecados.

Ele também facilita que os usuários façam um exame de consciência com base em fatores como idade, sexo e estado civil – mas afirma que não tem como objetivo substituir a confissão inteiramente.

De acordo com o fabricante do programa, a Little iApps, em vez de substituir a confissão inteiramente, o aplicativo procura incentivar os usuários a compreender suas ações e então buscar um padre para obter absolvição.

“Nosso desejo é convidar católicos a se envolverem com sua fé por meio da tecnologia digital”, disse Patrick Leinen, criador do Confissão.

O lançamento foi feito logo após o papa Bento 16 ter exortado católicos a usarem a comunicação digital e mostrarem-se presentes online.

Os criadores do aplicativo disseram ter levado em conta as palavras do papa enquanto preparavam a ferramenta para consumo público.

 

>O composto antiesquizofrenia (O Globo, JC)

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JC e-mail 4196, de 09 de Fevereiro de 2011.

Substância de plantas e frutas se une a células-tronco para tratar doenças mentais

Uma substância encontrada em plantas e frutas como o maracujá, a laranja e o limão pode ser a chave para o tratamento de transtornos mentais como a esquizofrenia, que afeta 1% da população mundial.

O primeiro passo para essa terapia seria um estudo publicado por oito pesquisadores brasileiros na próxima edição da revista “Stem cells and development”, uma das principais do mundo na área de células-tronco.

A equipe, coordenada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, é a primeira a estudar o efeito de flavonoides – um composto fartamente encontrado na natureza – em células-tronco embrionárias ou reprogramadas. O grupo não almejava o combate de doenças psíquicas, mas já avalia que esta poderia ser uma aplicação de seu trabalho.

Uma série de pesquisas já havia identificado os efeitos antioxidantes dos flavonoides. Trata-se de uma característica benéfica, que reduz o risco de diversas doenças e até retarda o envelhecimento.

– É um composto estudado há muito tempo. Já se descreveu sua ação hormonal, anti-hemorrágica, anticâncer – lembra Stevens Rehen, diretor do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias. – O flavonoide também está presente em alimentos processados, como chá e vinho. Ainda assim, nunca haviam experimentado o seu efeito sobre o metabolismo de células-tronco.

Rehen, então, resolveu incluir a substância em sua pesquisa. E o fez de duas formas. A primeira, com células-tronco embrionárias, que têm o potencial de se transformar em diversos tipos. Para isso, são diferenciadas em laboratório, de modo que ocupem adequadamente o tecido onde são necessárias.

A segunda forma, e a mais importante para ele, é com células reprogramadas.

– Extraímos célula da pele de indivíduos adultos, reprogramamos este material e transformamos em neurônios- explica Rehen.

Aí entra o flavonoide. O composto, retirado da catingueira – uma planta típica do Nordeste semiárido -, impediu a morte celular e praticamente triplicou o número de neurônios gerado pelas células.

– Podemos dizer que o flavonóide deixa a célula-tronco mais propensa a se transformar em um neurônio – comemora Rehen. – Para haver essa conversão, a célula precisa ter acesso a uma substância chamada ácido retinoico. Chegar a ela exige um receptor. E o flavonóide aumenta justamente o número desses receptores. Como a célula reprogramada vem da pele do próprio paciente, será possível criarmos uma medicina individualizada.

Uma substância que, como o flavonoide, é um antioxidante e favorece a formação de neurônios, poderia ser usada para aumentar a memória de um cérebro já formado. Também reduziria a possibilidade de qualquer transtorno que prejudicasse o desenvolvimento daquele órgão. Essas utilidades, no entanto, ainda dependem de novos estudos. Mas a prioridade da equipe é outra: testar o componente natural no combate a doenças mentais. Algumas enfermidades, como a esquizofrenia, destroem a via que liga
o ácido retinoico às células. O flavonoide poderia reparar essa ligação, facilitando a produção de neurônios – e, assim, combatendo os sintomas característicos daquele transtorno.

Para isso, no entanto, é preciso conhecer melhor o material que protagoniza esse tratamento. A equipe de Rehen prepara-se para estudar os efeitos antioxidantes do flavonoide sobre neurônios reprogramados de pacientes com transtornos mentais.

– O desenvolvimento da esquizofrenia tem como característica disfunções no sistema antioxidante – lembra o pesquisador. – Portanto, ao estudarmos as propriedades desse
composto encontrado em frutas e plantas, estamos nos informando sobre como podemos usá-lo para combater os transtornos mentais.

O estudo foi realizado com camundongos, a partir de células embrionárias e reprogramadas daquele animal. Nos últimos seis meses, no entanto, os pesquisadores já ensaiam o início de um levantamento semelhante com humanos.
(Renato Grandelle)
(O Globo, 9/2)

Of course scientists can communicate (Nature)

Tim Radford takes aim at the popular myth that researchers are hopeless at explaining their work to a general audience.

Tim Radford

Published online 26 January 2011 | Nature 469, 445 (2011) | doi:10.1038/469445a

There are several canards about scientists, but one is more pernicious simply because so many scientists themselves repeat it: scientists are not good communicators.

Once again, the allegation is to be the subject of discussions, this time at next month’s annual meeting of the American Association for the Advancement of Science in Washington DC. It can be found onNature ‘s website, heard in research councils, it is even occasionally propagated by the public-engagement community, and sometimes endorsed by journalists. In response, I can only say bosh, balderdash and Bronowski, and follow with other intemperate expletives such as Haldane, Hawking and Huxley, Eddington and E. O. Wilson, not to mention, as if in a state of terminal exasperation, Dawkins!

Between 1980 and 2005, I commissioned working scientists to write for The Guardian newspaper — from astronomers royal to impoverished doctoral students — and almost all of them delivered high-standard, well-focused newspaper prose and many of them went on to live by the pen. I also encountered distinguished scientists who had already become literary stars.

One was the astronomer Carl Sagan, who told me that his literary hero was Thomas Henry Huxley. Another was the industrial chemist, poet and writer Primo Levi, who when I tried to ask him about the Two Cultures debate — the apparent divide between the humanities and sciences — gently reminded me that Dante Alighieri (himself the subject of at least one paper in Nature), was a member of the Florentine guild of physicians and apothecaries. And a third was the Czech poet and dissident Miroslav Holub, who wrote his occasionalGuardian column in English, and asked that at the end of each I describe him as the author of Immunology of Nude Mice (1989). All three were better writers than most writers: two will still be famous as writers a century from now.

“Enthusiasm is infectious, but to command an audience of readers, scientists should exploit their other natural gifts.”

 

They were, of course, exceptions. We all inherit the gift of words; the gift for words, however, is unevenly distributed. Even so, there are reasons why scientists, in particular, should be and often are good communicators. One is that most scientists start with the engaging quality of enthusiasm — to get through a degree course, the PhD and all the research-council hoops, you would need it — and enthusiasm is derived from a Greek term that means divinely intoxicated. Enthusiasm is infectious, but to command an audience of readers, scientists should exploit their other natural gifts. One of these is training in clarity. Another is training in observation. And a third is knowledge.

Those who can think clearly can usually write clearly: thoughts have value only when expressed, and the more clearly they are expressed, the greater their potential value. Those whose business is to observe are aware of subtle differences that must be described, or the observations would be meaningless. And those who write must have something new or useful to say: if not, why say anything? A novelist who does not publish is not a novelist. A scientist who does not publish remains a scientist — at least for the duration of the research-council grant — but the science performed is of no apparent value until somebody else hears about it.

The problems for the scientist as a public communicator start with academic publishing: the language, form and conventions of the published scientific paper could almost have been devised to conceal information. Even in conversation, scientists start with a communication problem — words that are perfectly ordinary within science are simply never heard on a football terrace or in a tavern or bus queue. So to be effective communicators, scientists have to learn to stand back from their own work and see it as strangers might do.

It is not a difficult trick: even journalists have learned it. What is the most significant thing about your research? Is it that, at cosmological distances, type Ia supernovae in high redshift galaxies seem insufficiently lustrous? Or is it that you have just realized that you cannot account for 71% of the Universe; make that 96% if you throw in dark matter alongside this newly discovered dark energy? Which is more likely to make people attend? Humphry Davy and Michael Faraday were stars of the lecture halls. Many distinguished scientists — Richard Feynman, J. B. S. Haldane and Peter Medawar among them — knew how to hold a popular audience, and they weren’t afraid to address their peers with the same vividness and economy. In fact, their fame became inseparable from their gift for words. So the case for scientists as inherently bad communicators is a canard.

And while we have our ducks in a row, let me invoke the canard that scientists occasionally propagate about the media: that it does not appreciate scientific uncertainty. That one is especially irritating. It seems to say “I, as a scientist, wish to have it both ways. I want the privilege of knowing better than you, and the indulgence of being wrong without guilt, because science, don’t you see, is really about uncertainty.” To which the foolish answer might be “In which case, why should we listen?” But alas, people in any case listen selectively, even to the best communicators, which might be why so many Americans think Darwin’s theory of evolution is “only a theory”. Scientists are not the only people to blame for a problem in communication.

Tim Radford was science editor of The Guardian until 2005. e-mail: tim.radford@guardian.co.uk

Astonishing Photos of One of Earth's Last Uncontacted Tribes (Fox News)

February 01, 2011 | FoxNews.com

 

Tribe members painted with red and black vegetable dye watch a Brazilian government plane overhead.

Gleison Miranda/FUNAI/Survival International

Tribe members painted with red and black vegetable dye watch a Brazilian government plane overhead.

Stunning new photos taken over a jungle in Brazil reveal new images of one of the last uncontacted tribal groups on the planet.

The photos reveal a thriving, healthy community living in Brazil near the Peruvian border, with baskets full of manioc and papaya fresh from their gardens, said Survival International, a rights organization working to preserve tribal communities and organizations worldwide.

Survival International created a stir in 2008, when it released similar images of the same tribal groups — images that sparked widespread allegations that the pictures were a hoax. Peru’s President Garcia has publicly suggested uncontacted tribes have been ‘invented’ by ‘environmentalists’ opposed to oil exploration in the Amazon, while another spokesperson compared them to the Loch Ness monster, the group explains on its site.

Survival International strongly disputes those allegations, however. A spokeswoman for the group told FoxNews.com that the Brazilian government has an entire division dedicated to helping out uncontacted tribes.

“In fact, there are more than one hundred uncontacted tribes around the world,” the group explains.

Peru has yet to make a statement about the newly released pictures, which were taken by Brazil’s Indian Affairs Department, the group said. Survival International is using them as part of its campaign to protect the tribe’s survival — they are in serious jeopardy, the organization argues, due to an influx of illegal loggers invading the Peru side of the border.

Brazilian authorities believe the influx of loggers is pushing isolated Indians from Peru into Brazil, and the two groups are likely to come into conflict. Marcos Apurina, coordinator of Brazil’s Amazon Indian organization COIAB said in a statement that releasing the images was necessary to prove the logging was going on — and to protect the native groups.

“It is necessary to reaffirm that these peoples exist, so we support the use of images that prove these facts. These peoples have had their most fundamental rights, particularly their right to life, ignored … it is therefore crucial that we protect them,” he said.

“The illegal loggers will destroy this tribe,” agreed Survival International’s director Stephen Corry. “It’s vital that the Peruvian government stop them before time runs out. The people in these photos are self-evidently healthy and thriving. What they need from us is their territory protected, so that they can make their own choices about their future.”

Read more: http://www.foxnews.com/scitech/2011/02/01/astonishing-photos-reveal-earths-uncontacted-tribes/#ixzz1DKZgWVgW

 

>Can We Trust Climate Models? Increasingly, the Answer is ‘Yes’

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18 JAN 2011: ANALYSIS

Yale Environment 360

Forecasting what the Earth’s climate might look like a century from now has long presented a huge challenge to climate scientists. But better understanding of the climate system, improved observations of the current climate, and rapidly improving computing power are slowly leading to more reliable methods.

by michael d. lemonick

A chart appears on page 45 of the 2007 Synthesis Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), laying out projections for what global temperature and sea level should look like by the end of this century. Both are projected to rise, which will come as no surprise to anyone who’s been paying even the slightest attention to the headlines over the past decade or so. In both cases, however, the projections span a wide range of possibilities. The temperature, for example, is likely to rise anywhere from 1.8 C to 6.4 C (3.2 F to 11.5 F), while sea level could increase by as little as 7 inches or by as much as 23 — or anywhere in between.

It all sounds appallingly vague, and the fact that it’s all based on computer models probably doesn’t reassure the general public all that much. For many people, “model” is just another way of saying “not the real world.” In fairness, the wide range of possibilities in part reflects uncertainty about human behavior: The chart lays out different possible scenarios based on how much CO2 and other greenhouse gases humans might emit over the coming century. Whether the world adopts strict emissions controls or decides to ignore the climate problem entirely will make a huge difference to how much warming is likely to happen.

But even when you factor out the vagaries of politics and economics, and assume future emissions are known perfectly, the projections from climate models still cover a range of temperatures, sea levels, and other manifestations of climate change. And while there’s just one climate, there’s more than one way to simulate it. The IPCC’s numbers come from averaging nearly two dozen individual models produced by institutions including the National Center for Atmospheric Research (NCAR), the Geophysical Fluid Dynamics Laboratory (GFDL), the U.K.’s Met Office, and more. All of these models have features in common, but they’re constructed differently — and all of them leave some potentially important climate processes out entirely. So the question remains: How much can we really trust climate models to tell us about the future?

The answer, says Keith Dixon, a modeler at GFDL, is that it all depends on questions you’re asking. “If you want to know ‘is climate change something that should be on my radar screen?’” he says, “then you end up with some very solid results. The climate is warming, and we can say why. Looking to the 21st century, all reasonable projections of what humans will be doing suggest that not only will the climate continue to warm, you have a good chance of it accelerating. Those are global-scale issues, and they’re very solid.”

The reason they’re solid is that, right from the emergence of the first crude versions back in the 1960s, models have been at their heart a series of equations that describe airflow, radiation and energy balance as the Sun

The problem is that warming causes changes that act to accelerate or slow the warming.

warms the Earth and the Earth sends some of that warmth back out into space. “It literally comes down to mathematics,” says Peter Gleckler, a research scientist with the Program for Climate Model Diagnosis and Intercomparison at Livermore National Laboratory, and the basic equations are identical from one model to another. “Global climate models,” he says, echoing Dixon, “are designed to deal with large-scale flow of the atmosphere, and they do very well with that.”

The problem is that warming causes all sorts of changes — in the amount of ice in the Arctic, in the kind of vegetation on land, in ocean currents, in permafrost and cloud cover and more — that in turn can either cause more warming, or cool things off. To model the climate accurately, you have to account for all of these factors. Unfortunately, says James Hurrell, who led the NCAR’s most recent effort to upgrade its own climate model, you can’t. “Sometimes you don’t include processes simply because you don’t understand them well enough,” he says. “Sometimes it’s because they haven’t even been discovered yet.”

A good example of the former, says Dixon, is the global carbon cycle — the complex interchange of carbon between oceans, atmosphere, and biosphere. Since atmospheric carbon dioxide is driving climate change, it’s obviously important, but until about 15 years ago, it was too poorly understood to be included in the models. “Now,” says Dixon, “we’re including it — we’re simulating life, not just physics.” Equations representing ocean dynamics and sea ice also have been added to climate models as scientists have understood these crucial processes better.

Other important phenomena, such as changes in clouds, are still too complex to model accurately. “We can’t simulate individual cumulus clouds,” says Dixon, because they’re much smaller than the 200-kilometer grid boxes that make up climate models’ representation of the world. The same applies to aerosols — tiny particles, including natural dust and manmade soot — that float around in the atmosphere and can cool or warm the planet, depending on their size and composition.

But there’s no one right way to model these small-scale phenomena. “We don’t have the observations and don’t have the theory,” says Gleckler. The best they can do on this point is to simulate the net effect of all the clouds or aerosols in a grid box, a process known as “parameterization.” Different

‘It’s not a science for which everything is known, by definition,’ says one expert.

modeling centers go about it in different ways, which, unsurprisingly, leads to varying results. “It’s not a science for which everything is known, by definition,” says Gleckler. “Many groups around the world are pursuing their own research pathways to develop improved models.” If the past is any guide, modelers will be able to abandon parameterizations one by one, replacing them with mathematical representations of real physical processes.

Sometimes, modelers don’t understand a process well enough to include it at all, even if they know it could be important. One example is a caveat that appears on that 2007 IPCC chart. The projected range of sea-level rise, it warns, explicitly excludes “future rapid dynamical changes in ice flow.” In other words, if land-based ice in Greenland and Antarctica starts moving more quickly toward the sea than it has in the past — something glaciologists knew was possible, but hadn’t yet been documented — these estimates would be incorrect. And sure enough, satellites have now detected such movements. “The last generation of NCAR models,” says Hurrell, “had no ice sheet dynamics at all. The model we just released last summer does, but the representation is relatively crude. In a year or two, we’ll have a more sophisticated update.”

Sophistication only counts, however, if the models end up doing a reasonable job of representing the real world. It’s not especially useful to wait until 2100 to find out, so modelers do the next best thing: They perform “hindcasts,” which are the inverse of forecasts. “We start the models from the middle of the 1800s,” says Dixon, “and let them run through the present.” If a model reproduces the overall characteristics of the real-world climate record reasonably well, that’s a good sign.

What the models don’t try to do is to match the timing of short-term climate variations we’ve experienced. A model might produce a Dust Bowl like that of the 1930s, but in the model it might happen in the 1950s. It should produce the ups and downs of El Niño and La Niña currents in the Pacific with about the right frequency and intensity, but not necessarily at the same times as they happen in the real Pacific. Models should show slowdowns and accelerations in the overall warming trend, the result of natural fluctuations, at about the rate they happen in the real climate. But they won’t necessarily show the specific flattening of global warming we’ve observed during the past decade — a temporary slowdown that had skeptics declaring the end of climate change.

It’s also important to realize that climate represents what modelers call a boundary condition. Blizzards in the Sahara are outside the boundaries of our current climate, and so are stands of palm trees in Greenland next year. But within those boundaries, things can bounce around a great deal from year to year or decade to decade. What modelers aim to produce is a virtual climate that resembles the real one in a statistical sense, with El Niños, say, appearing about as often as they do in reality, or hundred-year storms coming once every hundred years or so.

This is one essential difference between weather forecasting and climate projection. Both use computer models, and in some cases, even the very same models. But weather forecasts start out with the observed state of the

Many decisions about how to adapt to climate change can’t wait for better climate models.

atmosphere and oceans at this very moment, then project it forward. It’s not useful for our day-to-day lives to know that September has this average high or that average low; we want to know what the actual temperature will be tomorrow, and the day after, and next week. Because the atmosphere is chaotic, anything less than perfect knowledge of today’s conditions (which is impossible, given that observations are always imperfect) will make the forecast useless after about two weeks.

Since climate projections go out not days or weeks, but decades, modelers don’t even try to make specific forecasts. Instead, they look for changes in averages — in boundary conditions. They want to know if Septembers in 2050 will be generally warmer than Septembers in 2010, or whether extreme weather events — droughts, torrential rains, floods — will become more or less frequent. Indeed, that’s the definition of climate: the average conditions in a particular place.

“Because models are put together by different scientists using different codes, each one has its strengths and weaknesses,” says Dixon. “Sometimes one [modeling] group ends up with too much or too little sea ice but does very well with El Niño and precipitation in the continental U.S., for example,” while another nails the ice but falls down on sea-level rise. When you average many models together, however, the errors tend to cancel.

Even when models reproduce the past reasonably well, however, it doesn’t guarantee that they’re equally reliable at projecting the future. That’s in part because some changes in climate are non-linear, which is to say that a small nudge can produce an unexpectedly large result. Again, ice sheets are a good example: If you look at melting alone, it’s pretty straightforward to calculate how much extra water will enter the sea for every degree of temperature rise. But because meltwater can percolate down to lubricate the undersides of glaciers, and because warmer oceans can lift the ends of glaciers up off the sea floor and remove a natural brake, the ice itself can end up getting dumped into the sea, unmelted. A relatively small temperature rise can thus lead to an unexpectedly large increase in sea level. That particular non-linearity was already suspected, if not fully understood, but there could be others lurking in the climate system.

Beyond that, says Dixon, if three-fourths of the models project that the Sahel (the area just south of the Sahara) will get wetter, for example, and a fourth says it will dry out, “there’s a tendency to go with the majority. But we can’t rule out without a whole lot of investigation whether the minority is doing something right. Maybe they have a better representation of rainfall patterns.” Even so, he says, if you have the vast majority coming up with similar results, and you go back to the underlying theory, and it makes physical sense, that tends to give you more confidence they’re right. The best confidence-builder of all, of course, is when a trend projected by models shows up in observations — warmer springs and earlier snowmelt in the Western U.S., for example, which not only makes physical sense in a warming world, but which is clearly happening.

Climate Forecasts: The Case For Living with Uncertainty

As climate science advances, predictions about the extent of future warming and its effects are likely to become less — not more — precise, journalist Fred Pearce writes. That may make it more difficult to convince the public of the reality of climate change, but it hardly diminishes the urgency of taking action.
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And the models are constantly being improved. Climate scientists are already using modified versions to try and predict the actual timing of El Ninos and La Niñas over the next few years. They’re just beginning to wrestle with periods of 10, 20 and even 30 years in the future, the so-called decadal time span where both changing boundary conditions and natural variations within the boundaries have an influence on climate. “We’ve had a modest amount of skill with El Niños,” says Hurrell, “where 15-20 years ago we weren’t so skillful. That’s where we are with decadal predictions right now. It’s going to improve significantly.”

After two decades of evaluating climate models, Gleckler doesn’t want to downplay the shortcomings that remain in existing models. “But we have better observations as of late,” he says, “more people starting to focus on these things, and better funding. I think we have better prospects for making some real progress from now on.” 

POSTED ON 18 JAN 2011 IN BUSINESS & INNOVATION CLIMATE ENERGY SCIENCE & TECHNOLOGY NORTH AMERICA NORTH AMERICA 

>Clima sob o olhar do Brasil (Fapesp)

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Especiais

1/2/2011

Por Elton Alisson


Agência FAPESP – Nos modelos climáticos globais divulgados no mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), divulgado em 2007, o Pantanal e o Cerrado são retratados como se fossem savanas africanas.

Já fenômenos como as queimadas, que podem intensificar o efeito estufa e mudar as características de chuvas e nuvens de uma determinada região, por exemplo, não são caracterizados por não serem considerados relevantes para os países que elaboraram os modelos numéricos utilizados.

Para dispor de um modelo capaz de gerar cenários de mudanças climáticas com perspectiva brasileira, pesquisadores de diversas instituições, integrantes do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Mudanças Climáticas (INCT-MC), estão desenvolvendo o Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG).

Com conclusão estimada para 2013, o MSBCG deverá permitir aos climatologistas brasileiros realizar estudos sobre mudanças climáticas com base em um modelo que represente processos importantes para o Brasil e que são considerados secundários nos modelos climáticos estrangeiros.

“Boa parte desses modelos internacionais não atende às nossas necessidades. Temos muitos problemas associados ao clima em virtude de ações antropogênicas, como as queimadas e o desmatamento, que não são retratados e que agora serão incluídos no modelo que estamos desenvolvendo no Brasil”, disse Gilvan Sampaio de Oliveira, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos pesquisadores que coordena a construção do MBSCG.

Segundo ele, o modelo brasileiro incorporará processos e interações hidrológicas, biológicas e físico-químicas relevantes do sistema climático regional e global. Dessa forma, possibilitará gerar cenários, com resolução de 10 a 50 quilômetros, de mudanças ambientais regionais e globais que poderão ocorrer nas próximas décadas para prever seus possíveis impactos em setores como agricultura e energia.

“Com esse modelo, teremos capacidade e autonomia para gerar cenários futuros confiáveis, de modo que o país possa se preparar para enfrentar os fenômenos climáticos extremos”, disse Sampaio à Agência FAPESP.

A primeira versão do modelo brasileiro com indicações do que pode ocorrer com o clima no Brasil nos próximos 50 anos deverá ficar pronta até o fim de 2011.

Para isso, os pesquisadores estão instalando e começarão a rodar em fevereiro no supercomputador Tupã, instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), em Cachoeira Paulista (SP), uma versão preliminar do modelo, com módulos computacionais que analisam os fenômenos climáticos que ocorrem na atmosfera, no oceano e na superfície terrestre.

Os módulos computacionais serão integrados gradualmente a outros componentes do modelo, que avaliarão os impactos da vegetação, do ciclo de carbono terrestre, do gelo marinho e da química atmosférica no clima. Em contrapartida, um outro componente apontará as influências das mudanças climáticas em cultivares agrícolas como a cana-de-açúcar, soja, milho e café.

“No futuro, poderemos tentar estimar a produtividade da cana-de-açúcar e da soja, por exemplo, frente ao aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”, disse Sampaio.


Classe IPCC

Segundo o cientista, como a versão final do MSBCG só ficará pronta em 2013, o modelo climático brasileiro não será utilizado no próximo relatório que o IPCC divulgará em 2014, o AR-5. Mas o modelo que será utilizado pelo Painel Intergovernamental para realizar as simulações do AR5, o HadGEM2, contará com participação brasileira.

Por meio de uma cooperação entre o Hadley Center, no Reino Unido, e o Inpe, os pesquisadores brasileiros introduziram no modelo internacional módulos computacionais que avaliarão o impacto das plumas de fumaça produzidas por queimadas e do fogo florestal sobre o clima global, que até então não eram levados em conta nas projeções climáticas.

Com isso, o modelo passou a ser chamado HadGEM2-ES/Inpe. “Faremos simulações considerando esses componentes que introduzimos nesse modelo”, contou Sampaio.

Em 2013, quando será concluída a versão final do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global, o sistema ganhará um módulo computacional de uso da terra e outro metereológico, com alta resolução espacial. No mesmo ano, também serão realizadas as primeiras simulações de modelos regionais de alta resolução para a elaboração de um modelo climático para América do Sul com resolução de 1 a 10 km.

“Até hoje, levávamos meses e até anos para gerar cenários regionais. Com o novo sistema de supercomputação os esforços em modelagem climática regional ganharão outra escala”, afirmou Sampaio.

Leia reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP sobre o modelo climático brasileiro. 

>O povo ribeirinho do São Francisco traduz as lutas populares do Brasil (IHU Online)

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 Instituto Humanitas Unisinos – IHU Online – 2/2/2011
“Existe um sertão com bastante água. A questão é que esta água é colocada majoritariamente a serviço dos interesses do capital e suas oligarquias, a água é apropriada privadamente”, aponta o fotógrafo.

Confira a entrevista.

 
 

Um fotógrafo operário. Assim se define João Zinclar que já foi metalúrgico e hoje vive da fotografia. O gaúcho, que hoje vive em Campinas-SP, durante seis anos percorreu as margens do rio São Francisco e registrou a vida deste e de quem depende dele para viver. Assim nasceu o livro O Rio São Francisco e as Águas no Sertão (Campinas: sem editora, 2010). Em entrevista à IHU On-Line, realizada por email, Zinclar conta como foi esse processo de captação das imagens e convivência com o povo da região. “Percorremos a extensão do rio, que é de 2.700 quilômetros várias vezes, perfazendo mais de 15 mil quilômetros nesses seis anos”, descreve.

Nesse tempo, Zinclar acompanhou todo o processo de transposição do rio São Francisco, desde as discussões sobre o projeto até o início das obras. “A natureza vem sendo constantemente privatizada, transformada em mercadoria. Esse processo não é novo, faz parte da natureza do capitalismo em todos os tempos. Hoje, o controle sobre a água indica um novo patamar dessa disputa. A transposição é parte dessa apropriação privada das riquezas comuns. A água é um bem comum, não há vida sem água e hoje uma parte considerável da humanidade não tem acesso a este recurso”, afirmou. Ao longo da entrevista é possível ver algumas das imagens que Zinclar publicou em seu livro.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como foi a viagem e a produção das imagens para conhecer as águas do sertão brasileiro?

João Zinclar – O trabalho que resultou no livro O Rio São Francisco e as Águas no Sertão lançado em novembro de 2010 em Campinas-SP tem durado seis (6) anos, desde janeiro de 2005 até os dias de hoje. É motivado pela questão política envolvendo a grande polêmica e os conflitos acerca da equivocada proposta do governo federal de efetivar as obras da transposição das águas rio São Francisco para o chamado nordeste setentrional.

Por entender a questão da água como valor de luta estratégica para os trabalhadores e o povo, (a guerra pela água em Cochabamba na Bolívia no início do século é um exemplo disso), considerei que a fotografia poderia contribuir nessa polêmica sobre o futuro das águas do velho Chico. Ajudar na divulgação e documentação das lutas populares de resistência ao projeto de transposição, mostrar a grave situação de degradação na vida do rio, para uma compreensão melhor no principal caso real e de relevância nacional sobre conflitos em torno da defesa, do uso e controle de águas no Brasil.

Percorremos a extensão do rio, que é de 2.700 quilômetros várias vezes, perfazendo mais de 15 mil quilômetros nesses seis anos. Nesse tempo, contarei e convivi com comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, sem terra, pescadores, trabalhadores rurais. Assim, fotografei e documentei suas lutas para defender o rio do veneno capitalista que contamina e usurpa suas águas, com suas mineradoras, barragens e monoculturas agroexportadoras que devastam criminosamente biomas importantes para a formação do São Francisco como o cerrado e a caatinga.

Além das margens do rio, também percorremos várias regiões por onde estão sendo construídos e passando os canais da transposição. Estivemos no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde procuramos mostrar e abordar o sertão de outra forma, um sertão em tom azul, azul de água, com uma quantidade enorme estocadas em grandes, médios e pequenos açudes espalhados pelo sertão, construídos ao longo do último século em nome do “combate à seca”. Aí foi possível revelar uma das principais críticas ao projeto de transposição: a de que a obra vai chover no molhado, vai levar água para onde já tem água, água essa que, se distribuída para o povo, seria suficiente para abastecer todos os usos, desfazendo o mito da falta dela no sertão.

Quero destacar que esse processo todo só foi possível com o importante apoio nas mais variadas formas de pessoas amigas, dos movimentos sociais, sindicatos, pastorais sociais, de profissionais jornalistas, tanto de Campinas-SP, como do povo da beira do rio e no sertão. Foi a solidariedade desse povo que me ajudou a compreender realidades distantes de nosso dia a dia e também entender melhor a luta de classes no Brasil. Antes de virar livro, essas fotos percorreram várias cidades da beira do rio, de outros estados e países e serviram para ilustrar reportagens e debates sobre o rio São Francisco.

IHU On-Line – Você é um operário fotógrafo. Que diferenças o seu olhar de “operário” ressalta sobre o povo e a vida do rio São Francisco?

João Zinclar – A fotografia é paixão antiga. Hoje consigo sobreviver dela, como free-lancer, a serviço da luta operária e popular, mas minha profissão primeira é operário metalúrgico. Trabalhei no chão de fábrica durante muitos anos, fui dirigente sindical da categoria, onde forjei minha consciência de classe e visão socialista de mundo.

Não existe neutralidade jornalística nessa história. Portanto, a visão que conduz o livro é a de uma postura classista e anticapitalista e que a luta do povo ribeirinho em defesa de sua sobrevivência, de seu trabalho e da qualidade da água de seu rio contribui, à sua maneira, no conflito mais geral contra o capital, no campo e na cidade, resistindo à nova fase do avanço predatório do capitalismo no campo brasileiro.

A diversidade das lutas dos povos que habitam o velho Chico, com indígenas e quilombolas enfrentando o poder econômico em disputas para retomar terras, pescadores na defesa da pesca artesanal, sem terra em luta pela reforma agrária e outras manifestações, deveria ter a devida atenção dos trabalhadores urbanos e suas organizações políticas.

IHU On-Line – O Rio São Francisco passa por um momento de conflito em função das obras da transposição. O que você viu sobre as obras? O que você ouviu do povo sobre isso?

João Zinclar – Entre 2005 e 2008, vários movimentos sociais e pessoas se colocaram contrários ao projeto. Pessoas se mobilizaram com as greves de fome de Dom Luiz Cappio, com as ocupações de barragens e dos canteiros das obras da transposição. Vários protestos foram realizados, bem como denúncias de arbitrariedades aos direitos humanos e alertas sobre os impactos ambientais para iniciar a obra. O governo triturou tudo isso e as obras iniciaram e, hoje, estão em andamento.

Algumas lutas recentes (como greves de trabalhadores das empreiteiras por melhorias salariais e reclamações contra as péssimas condições de trabalho) produziram uma redução nos ritmos das obras. Agora, as questões se colocam de outra maneira e nem por isso são menos importantes. A desinformação sobre o projeto e os impactos negativos sobre a vida das comunidades atingidas pela transposição na região receptora das águas do velho Chico é a regra. A máquina propagandística do governo é poderosa e isso tem enorme potencial desmobilizador. Os atingidos pelas obras da transposição têm tido grandes dificuldades em se articular. Reclamam dos valores recebidos e das compensações materiais pagas pelo governo, pois anos de trabalho não se contabilizam facilmente. Muitos deixam sua história de vida e seu trabalho em troca de valores irrisórios em sua tentativa de recomeçar tudo de novo em outras localidades, atingidas pela crescente valorização das terras em torno dos canais da transposição.

Há uma insatisfação grande com o enfraquecimento das economias locais e a destruição das bases de vida de pequenos agricultores. A oferta de emprego não cumpre o prometido: são temporários e poucos. As obras afetam os povos originários, que têm na terra um referencial cultural, de vida com outros valores, que não apenas econômicos, pois a construção do eixo norte devasta terras Trukás em Cabrobró-PE, e território Anacé no Ceará, o eixo leste ameaça território sagrado dos pipipã em Pernambuco.

Além disso, o debate em torno da revitalização do rio continua atual, uma vez que as iniciativas do governo pouco realizaram nesse aspecto, mantendo o mesmo padrão de degradação do rio que afeta duramente da qualidade de vida dos ribeirinhos. A controvérsia e a oposição ao projeto de transposição continuam, essa é uma questão mal resolvida, que terá desdobramentos futuros, sustentada na insatisfação popular, quando perceberem a contradição, além de ser a água mais cara do Brasil, ás águas da transposição não são para servir ao povo do sertão, como diz o discurso do governo.

IHU On-Line – Qual a importância de registrar o São Francisco e as águas do sertão nesse momento atual em que vivemos?

João Zinclar – Sempre que pensamos no sertão nordestino vem em nossa cabeça a imagem dramática de seca, da caatinga retorcida, de vida difícil, quase inviável. A imagem cunhada por Euclides da Cunha de que “O sertanejo é antes de tudo um forte” ilustra essa ideia. Só um forte é capaz de conviver com isso. No entanto, olhando com outra abordagem também real, existe um sertão com bastante água. A questão é que esta água é colocada majoritariamente a serviço dos interesses do capital e suas oligarquias, a água é apropriada privadamente. O atual modelo de desenvolvimento na região, com o agronegócio à frente, se apropria das riquezas naturais, de forma radical, na medida em que novas frentes de negócios vão se abrindo. Essa é a questão central, em minha opinião.

A natureza vem sendo constantemente privatizada, transformada em mercadoria. Esse processo não é novo, faz parte da natureza do capitalismo em todos os tempos. Hoje o controle sobre a água indica um novo patamar dessa disputa. A transposição é parte dessa apropriação privada das riquezas comuns. A água é um bem comum, não há vida sem água e hoje uma parte considerável da humanidade não tem acesso a este recurso. Eu posso escolher se compro um jeans novo ou não, um livro ou um celular, mas não posso optar por não consumir água. A transposição do São Francisco, a nova polêmica em torno da construção da Usina de Belo Monte, assim como a ocupação das margens dos rios e encostas, a proteção das nascentes são temas políticos, não apenas técnico e ambiental. A luta social dos povos atingidos por esse “desenvolvimento” precisa se articular num horizonte político mais amplo, capaz de resgatar o caráter de classe desse debate. Porque são as populações pobres e os trabalhadores que mais sofrem com os efeitos desse processo.

IHU On-Line – O que suas imagens revelam sobre a Alma do Velho Chico?

João Zinclar – As imagens captadas revelam a diversidade de um povo. Expressão de um Brasil contraditório e de luta. O povo ribeirinho traduz as lutas populares no Brasil. Muitas vezes desarticuladas, essas ações estão repletas de vida e inovação. Lutas que incorporam tradições seculares, povos indígenas, a religiosidade, a luta contra a opressão num momento em que elas assumem a vanguarda numa luta pela preservação dos bens comuns, não em oposição ao desenvolvimento, mas propondo pensar as questões: Qual desenvolvimento? E pra quem? Busquei captar essa relação entre um projeto “moderno” que se apropria dos bens coletivos em nome de um único desenvolvimento possível e um mundo que se constrói, pensando na preservação dos valores coletivos sem abrir mão de avançar por melhores condições de vida.

IHU On-Line – O que o São Francisco representa para o povo que vive em seu entorno?

João Zinclar – Representa a vida em todos os sentidos, sem chavão, o São Francisco é a sobrevivência de homens e mulheres que dependem de suas águas, contam com a potencialidade de sua biodiversidade para desenvolverem sua forma de economia independente, sua cultura de vida, amparados na pesca e na agricultura de vazante e familiar.

>Baixo retorno político (Fapesp)

>Especiais

2/2/2011

Por Fábio de Castro

Mais educação não se traduz automaticamente em mais democracia, segundo estudo realizado na USP. Entre 1989 e 2006, diminuiu a diferença entre a participação política dos mais e menos escolarizados (ABr)

Agência FAPESP – Na avaliação do senso comum, educação e politização andam de mãos dadas. Para a elite brasileira – de acordo com pesquisas de opinião –, o aumento da escolaridade da população tem o poder de gerar cidadãos que participam mais da vida política do país e que valorizam mais a democracia. Mas um novo estudo mostra que essa visão não corresponde à realidade.

A pesquisa de doutorado de Rogério Schlegel, defendida no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), utilizou análises estatísticas para interpretar os dados de pesquisas de opinião realizadas entre 1989 e 2006. O trabalho concluiu que a educação brasileira está trazendo ganhos decrescentes em termos políticos.

“O estudo mostrou que os cidadãos mais escolarizados já não se tornam tão participativos e democráticos como ocorria há duas décadas. O maior nível de escolaridade ainda diferencia os cidadãos, mas essa diferença encolheu muito em 20 anos – isto é, os retornos políticos da educação têm sido decrescentes no Brasil. Em alguns quesitos de participação e apoio à democracia, a diferença entre os mais e os menos escolarizados chega a ser inexistente”, disse Schlegel à Agência FAPESP.

A pesquisa de Schlegel foi orientada pelo professor José Álvaro Moisés, da FFLCH-USP, e integra o Projeto Temático “A Desconfiança do Cidadão nas Instituições Democráticas”, coordenado por Moisés e financiado pela FAPESP.

Segundo Schlegel, uma pesquisa de opinião coordenada em 2000 pela professora Elisa Reis, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já mostrava que, na avaliação da elite brasileira, a baixa escolaridade é o maior entrave para a democracia no país.

“Por trás dessa ideia há um pressuposto de que a educação só tem impacto no comportamento político por meio da capacitação cognitiva – isto é, basta fornecer mais educação e as pessoas terão mais recursos para acompanhar a política, discutindo, lendo jornais e fazendo exigências. Mas na realidade há caminhos alternativos para a entrada nessa vida política. Os resultados do estudo indicam que não há uma relação linear entre obter mais acesso à educação e obter mais instrumentos para participar da democracia”, afirmou.

Foram analisados vários mecanismos capazes de explicar os retornos políticos decrescentes da escolarização. A hipótese mais plausível é que o fenômeno tenha sido causado pela queda na qualidade da educação brasileira.

“Ao falhar na capacitação cognitiva do indivíduo e na transmissão de conhecimentos, o sistema educacional brasileiro estaria deixando de dar as ferramentas que ajudam o cidadão a atuar na esfera política. O resultado é que o aumento do acesso ao ensino ou do volume de escolarização – em tempo passado na escola ou anos de estudo completados – não é acompanhado pelos ganhos esperados em matéria de comportamento político”, disse.

O estudo teve fundamento em quatro pesquisas de opinião realizadas pelo grupo ligado ao Projeto Temático, a primeira realizada logo após a redemocratização, em 1989, e a mais recente – financiada pela FAPESP –, em 2006.

A partir desses dados, Schlegel utilizou análises estatísticas para controlar as diversas variáveis sociodemográficas disponíveis e observar, de forma isolada, o efeito da escolaridade no comportamento do cidadão ao longo do tempo.

“Na sociologia econômica é comum o uso, por exemplo, do conceito de ‘retorno econômico da educação’ para avaliar até que ponto uma maior escolaridade pode se refletir em maior renda, ou em maior arrecadação de impostos. A partir desse conceito, o estudo trabalha com a ideia de ‘retorno político da educação’”, explicou.

Indiferença política

O retorno político foi avaliado por meio de diferentes quesitos, como participação, apoio aos princípios democráticos e confiança nas instituições. Os resultados mostraram que a distância entre mais e menos escolarizados caiu marcadamente em relação à demonstração de interesse por política, consumo de notícias sobre o tema e hábito de conversar sobre ele.

“Em alguns quesitos, o nível de escolaridade é praticamente indiferente. No caso da participação em partidos, sindicatos e associações de bairro, por exemplo, o envolvimento é igualmente baixo entre os menos e mais escolarizados”, disse Schlegel.

A maior perda de retorno político, durante os 17 anos do período analisado, deu-se na faixa do ensino médio – faixa de escolarização que teve a maior expansão de alunos nas últimas duas décadas.

“Na média, hoje não se diferencia alguém que se formou no ensino médio de um cidadão com fundamental incompleto, em termos de preferir a democracia como forma de governo ou rejeitar a concentração de poder nas mãos de um líder centralizador”, afirmou.

Em 1993, de acordo com o estudo, a chance de um universitário ser muito interessado em política era 3,6 vezes maior que a de alguém com o ensino fundamental incompleto. Em 2006, as chances se reduziram para 1,6. “A diferença entre o universitário e alguém sem nenhum diploma escolar era enorme, em termos de interesse na política. Agora, a diferença ainda existe, mas é muito menor”, ressaltou Schegel.

Em 1989, uma pessoa com o segundo grau completo tinha 66% mais chance de preferir a democracia a qualquer outro regime, em comparação com alguém sem diploma do ensino fundamental. “Em 2006, já não havia mais diferença estatística entre os dois públicos. Nesse quesito, havia no passado uma distância que desapareceu entre os diferentes níveis de escolaridade em termos de comportamento político”, disse.

A confiança nas instituições tem uma relação especial com a escolaridade. Em 1993, quem tinha mais escolaridade confiava mais nos partidos que em 2006. Mas os dados não permitem concluir se houve de fato um aumento ou diminuição da confiança.

“Tratava-se de um momento em que os partidos estavam em reconstrução e havia uma noção generalizada de que eles eram o caminho para construir a democracia. Em 2006, essa noção já havia sido desfeita pelos partidos de aluguel e isso pode ter desencadeado a maior desconfiança dos mais escolarizados”, explicou.

Para Schlegel, os resultados do estudo, ao identificar que a escolarização vem trazendo ganhos decrescentes em termos políticos, desaconselham apostas na educação como panaceia capaz de promover uma cidadania superior e fazer superar os déficits democráticos no Brasil.

“A educação importa, mas sozinha não resolve. Os efeitos benéficos da escolarização para a convivência democrática precisam de ensino de qualidade para todos para se concretizarem plenamente”, disse.

>Cinema, psicoses e neurônios reprogramados (CH)

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Em sua coluna de estreia, o biólogo Stevens Rehen aproveita o lançamento do filme ‘Cisne Negro’ no Brasil para falar das origens, desenvolvimento e efeitos da esquizofrenia, doença que atinge 1% da população mundial.

Por: Stevens Rehen
Publicado em 28/01/2011 | Atualizado em 28/01/2011

Natalie Portman em ‘Cisne Negro’. O filme, que estreia no Brasil no dia 4 de fevereiro, fala sobre situações que podem desencadear psicoses, transtornos mentais caracterizados por deterioração afetiva e perda do contato com a realidade. (foto: divulgação)

No próximo dia 4 de fevereiro estreia no Brasil Cisne Negro. Com seis indicações ao Oscar, o filme retrata as demandas físicas e emocionais que as bailarinas enfrentam no competitivo mundo do balé profissional.

O enredo do longa-metragem, dirigido por Darren Aronofsky, gira em torno do primeiro surto psicótico de Nina (Natalie Portman), dançarina que luta para se firmar como figura central de uma companhia de balé que ensaia uma nova versão do Lago dos Cisnes.

Cisne Negro é um retrato cinematográfico sobre situações que podem desencadear psicoses e, a reboque, suscita o interesse dos espectadores a respeito da esquizofrenia, um dos mais misteriosos transtornos mentais.

A incidência da esquizofrenia na população mundial é de 1%, com homens e mulheres igualmente afetados. Há mais pacientes esquizofrênicos do que doentes com Alzheimer ou esclerose múltipla, por exemplo.

Há mais pacientes esquizofrênicos do que doentes com Alzheimer ou esclerose múltipla

Os prejuízos sociais decorrentes do desenvolvimento da esquizofrenia são bastante significativos. A doença é caracterizada por delírios e alucinações que levam a uma deterioração afetiva e perda do contato com a realidade.

Os primeiros sintomas surgem na adolescência e começo da vida adulta. Há um forte componente genético associado à enfermidade, que, entretanto, não explica a maioria dos casos. Infecções virais durante o período perinatal, desnutrição materna e disfunções do sistema imunológico também são fatores de risco.

Atualmente, é considerada uma doença do desenvolvimento, associada à má formação do sistema nervoso. Apesar de não existir uma teoria de consenso capaz de explicar suas causas, há indícios de que o estresse oxidativo tenha papel fundamental na geração da patologia.

Entre o bem e o mal

O estresse oxidativo ocorre quando as defesas antioxidantes de nosso corpo falham em controlar as espécies reativas de oxigênio geradas pelo metabolismo normal de nossas células. Para entendermos como essa condição biológica está associada aos transtornos mentais, é preciso que conheçamos o “paradoxo do oxigênio”.

O oxigênio desempenha papéis contraditórios. É essencial para a vida e, ao mesmo tempo, pode ser tóxico. A molécula de oxigênio, formada por dois átomos, é quebrada durante a respiração, para a conversão de nutrientes em energia. Durante esse processo, subprodutos conhecidos como espécies reativas de oxigênio são gerados. Aí é que está o problema.

Estrutura do ácido ascórbico, um conhecido antioxidante. Disfunções no sistema antioxidante estão relacionadas ao desenvolvimento da esquizofrenia. (foto: Wikimedia Commons)

Espécies reativas de oxigênio são capazes de interferir em processos inflamatórios e na diferenciação de neurônios, mas estão principalmente relacionadas a modificações deletérias de macromoléculas como ácidos nucleicos, proteínas e lipídeos.

Infelizmente, em pacientes com esquizofrenia, elementos essenciais que normalmente reagem ao estresse oxidativo encontram-se comprometidos. Há relatos de disfunção do sistema antioxidante nesses indivíduos e de pequenas alterações em seus genes que reduzem a capacidade de se protegerem da ação danosa dos radicais livres.

Estudos em animais e relatos de pacientes sugerem, inclusive, que o aumento induzido nos níveis de radicais livres causa alterações cognitivas em indivíduos saudáveis e exacerbam psicoses em pacientes esquizofrênicos.

Cérebro frágil

Curiosamente, o hábito de fumar é até três vezes mais comum em pacientes esquizofrênicos do que na população em geral. Há indícios de que tal hábito seja uma tentativa inconsciente de compensar a carência de receptores para nicotina em seus cérebros. Por outro lado, o fumo reduz drasticamente os níveis de antioxidantes, comprometendo mais ainda a capacidade desses pacientes em lidar com o acúmulo de espécies reativas de oxigênio.

Devido ao alto consumo de oxigênio, o cérebro é mais vulnerável ao estresse oxidativo do que outros órgãos do corpo. Alterações de expressão gênica e de proteínas causadas por radicais livres comprometem a plasticidade neural e o funcionamento do sistema nervoso.

Já há antioxidantes que previnem ou aliviam distúrbios associados à esquizofrenia

Em concordância com essas observações, há uma relação entre a eficácia de sistemas antioxidantes e a severidade dos sintomas da esquizofrenia, o que pode levar ao desenvolvimento de novos medicamentos.

Já há, inclusive, descrições sobre antioxidantes que previnem ou aliviam distúrbios associados à doença. Sua utilização aumentaria a eficácia dos antipsicóticos, melhorando o quadro clínico de pacientes com transtornos mentais.

Múltiplo impacto

De fato, há evidências que todo o metabolismo energético esteja comprometido nessas pessoas. As mitocôndrias, organelas essenciais à respiração celular, também parecem alteradas nos pacientes esquizofrênicos.

Para a geração de energia, além de oxigênio, é necessário açúcar. Em 1919, F.H. Kooy descreveu um aumento na incidência de hiperglicemia em pacientes esquizofrênicos, sugerindo que comportamentos depressivos influenciariam os níveis de glicose no sangue.

Mais recentemente, pôde-se comprovar uma maior prevalência de diabetes com resistência à insulina nesses pacientes. Há novas pesquisas avaliando a aplicação de medicamentos antidiabéticos como co-fatores no tratamento da esquizofrenia.

As principais evidências de alterações bioquímicas dos sistemas antioxidantes associadas à esquizofrenia foram obtidas a partir de fragmentos cerebrais de pacientes já falecidos.

O estabelecimento de novos modelos de estudo, como, por exemplo, neurônios reprogramados a partir de células da pele de pacientes esquizofrênicos, deverá contribuir para um melhor entendimento sobre a influência do estresse oxidativo no desenvolvimento do sistema nervoso desses indivíduos.

Neurônios reprogramados a partir de células da pele (na foto) de pacientes esquizofrênicos podem ajudar a explicar a influência do estresse oxidativo no desenvolvimento do sistema nervoso desses indivíduos. (foto: Bruna Paulsen/LaNCE-UFRJ)

Sem revelar mais detalhes sobre o filme, o surto psicótico da bailarina Nina deve ter sido provocado por uma combinação de herança genética, abuso na infância, estresse ambiental e má alimentação.

Apesar de ainda serem necessários muitos estudos para comprovar o papel das espécies reativas de oxigênios como agente causador da esquizofrenia, cabe dizer que Nina deveria ter se preocupado um pouco mais com a dieta, optando por alimentos saudáveis, principalmente numa fase da vida de estresse ambiental tão extremo. Melhor prevenir do que remediar.

Stevens Rehen
Instituto de Ciências Biomédicas
Universidade Federal do Rio de Janeiro

>Um céu de probabilidades (O Povo)

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O cearense carrega uma memória cultural, muitas vezes inconsciente, sobre a escassez de água que afetou as famílias no passado. Em entrevista ao Vida&Arte Cultura, o professor da UFRJ, Renzo Taddei, traça aspectos sobre a compreensão do clima e como isso reflete no cidadão

05.02.2011| 17:00

Em Quixadá, os profetas da chuva fazem suas previsões todos os anos (DÁRIO GABRIEL, EM 9/1/2010)

Diante dos ciclos da natureza, profetas preveem o futuro. Os cientistas tornam públicas as medições matemáticas e físicas que ditam a probabilidade de nublar ou fazer sol. Mediadas pela imprensa, as previsões meteorológicas afetam o cidadão e sua maneira de perceber o clima e a cidade. Professor-adjunto da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renzo Taddei tem relacionamento íntimo com o semi-árido cearense.

Pesquisador há quase uma década das manifestações populares na previsão do clima, em especial na atuação dos profetas da chuva de Quixadá, Renzo vez por outra vem à Fortaleza ministrar palestras, participar de encontros e pesquisas sobre o tema. Na última quarta, o professor recebeu a reportagem numa das salas da Funceme. Na entrevista que você lê a seguir, o pesquisador chama a atenção para alertas globais, como o aquecimento climático. “Já se percebeu que o tom alarmista de catástrofe iminente raramente produz algum efeito positivo. O que produz é uma sensação de impotência geral, como se não há nada que se possa fazer”. (Elisa Parente)

O POVO – Como é possível entender o clima para além do efeito atmosférico?
Renzo Taddei – A questão do clima no Ceará é muito interessante porque, ano passado, segundo a Seplag (Secretaria do Planejamento e Gestão), a economia cearense cresceu 8%. O que é um número incrível. Em 2010, tivemos o pior ano em chuvas nos últimos 30 anos. Foi a pior seca e um ano de bom crescimento para o Estado. Claramente, a agricultura contribui pouco para a economia no Ceará e, cada vez menos, as pessoas se sentem terrivelmente vulneráveis com relação ao clima. Por vários fatores, inclusive por causa dos programas sociais do governo Lula, pelas melhorias de infra-estrutura dos últimos governos do Ceará. Ou seja, a vida está um pouco mais fácil.

OP – De que maneira isto afeta na organização da cidade?
Renzo – Existiu uma estatística onde mais da metade da população acima de 40, 50 anos tinha nascido fora da Capital. Então a presença do imaginário rural é muito forte. Esse é um dos elementos do peso psicológico da seca. Até quem não tem nada a ver com agricultura, se alegra ao ver chuva. A história do bonito pra chover traz uma continuidade e uma ruptura, principalmente com relação às gerações mais novas que nasceram em Fortaleza. Entrevistei um agrônomo que me disse ter o hábito de desligar a água enquanto se ensaboava no chuveiro. E o filho dele perguntou por que ele desligava a água se o banho não tinha acabado. Ele se deu conta de que a geração mais nova sequer tem memória a respeito da escassez de água do seu Estado. A última grande crise em Fortaleza foi 1993, na construção do Canal do Trabalhador. Fortaleza é a única capital encravada no semi-árido, mesmo assim as pessoas não têm essa consciência. Você anda por Fortaleza e vê que cada lançamento imobiliário precisa ter um parque aquático, não é nem piscina. É o uso arquitetônico e recreativo da água. Só se compara a Las Vegas, que é outro lugar de abundância irresponsável encravado no deserto. Então as pessoas não têm experiência da falta de água, mas têm uma herança cultural de hipervalorização dela. Fortaleza é orgulhosa de sua pujança e gasta como novo rico. É um lance que tem a ver com cultura. Enquanto isso, o Canal da Integração está trazendo um mundo de água e a transposição do Rio São Francisco vai trazer ainda mais para Fortaleza não ter problema pelos próximos 30 anos.

OP – Mas isso também pode ter efeito contrário.
Renzo – Isso é perigoso porque, a longo prazo, não dá para achar que é sustentável você consumir. O grande debate da transposição, da construção do Castanhão e do Canal da Integração é esse. Está sempre aumentando a infra-estrutura que acumula água ao invés de educar a população para consumir menos. Não que dê para fazer os dois ao mesmo tempo, mas o fato é que os últimos governos têm preferido aumentar a oferta de água.

OP – Uma das linhas da sua pesquisa centra foco na antropologia da incerteza e do futuro. De que maneira isto está ligado ao estudo do clima?
Renzo – Isto talvez seja a parte mais desafiadora de entender qual o papel que o clima tem na nossa vida cotidiana. Porque a meteorologia rapidamente se deu conta de que a atmosfera é algo muito complexo. Agora a estação chuvosa no Ceará é algo muito mais complicado. Porque o agricultor quer saber hoje se vai ter chuva em maio. Não tem nenhum radar que mostre isso, mas a meteorologia usa a física e a matemática criando modelos que simulam no computador a maneira como funciona a natureza. Mas isso tem limitações. Por isso se fala em termos de probabilidade, porque às vezes uma coisa pequena pode mudar tudo. Então a meteorologia tem que conviver com essa relação complicada com a sociedade.

OP – Porque é tão difícil lidar com a incerteza?
Renzo – Tem inúmeras pesquisas que mostram que temos dificuldade tremenda de reter isso. A informação probabilística demanda um esforço cognitivo muito grande. É realmente complexo. É como se fôssemos programados mentalmente para não operar com probabilidade e para fingir que tudo é certo ou errado. Temos essa tendência a polarizar as coisas. E isso influencia a relação da sociedade com o clima. Veja, por exemplo, a estratégia dos agricultores. O agricultor familiar está o tempo inteiro prestando atenção em previsões do clima, só que não usa nenhuma. Ele espera o solo ficar úmido numa certa profundidade, para depositar a semente. Só que as primeiras chuvas da estação são fracas, o broto morre e ele precisa começar tudo de novo.

OP – A incerteza é parte da natureza.
Renzo – Acompanho os profetas da chuva desde 2002. É muito recorrente que alguns deles se digam observadores da natureza, e não profetas. Ser profeta tem uma carga simbólica religiosa muito forte e é um peso muito grande pra eles carregarem nas costas. Então eles fazem as previsões e, no final, dizem que quem sabe mesmo é Deus. O interessante é que, em termos de conteúdo, eles dizem exatamente o que a Funceme diz em termos de probabilidade. Existe uma incerteza envolvida. Então as pessoas aceitam, mas não dão à ciência o direito de viver as incertezas.

OP – Como a meteorologia figura nesta história?
Renzo – Uma parte dessa confusão tem a ver com a história da meteorologia no Ceará. Ela começou com muita fanfarronice, voando de avião, fazendo uma pulverização nas nuvens com sal de prata pra fazer chover mais rápido. Só que você percebe que o spray não produz chuva, só apressa. Então essa tecnologia sempre foi muito controvertida. Para uma mentalidade do sertão, isso equivaleria dizer que o homem da cidade se acreditava com o poder de produzir chuva. E tanto é assim que o Patativa do Assaré fez o poema Ao dotô do avião, onde ele coloca vários elementos importantes. O homem se adequa ao ciclo da natureza e não vice-versa. No Ceará, o clima sempre esteve ligado à religião. Então era desrespeitoso e absurdo achar que o cidadão iria produzir chuva.

OP – As pessoas já absorveram a gravidade do aquecimento global?
Renzo – Não sei se, algum dia, entenderemos o aquecimento global. A natureza funciona em ciclos. O dia e a noite, as estações do ano. São ciclos que, por serem curtos, a gente consegue entender bem. Só que existem aqueles que são muito longos. Costuma-se dizer que, aqui no semi-árido, existem ciclos onde duas ou três décadas são mais secas, depois outras mais chuvosas. Pode ser que exista um ciclo bem mais longo que a gente não tem nem ideia. Se o futuro provar que estamos errados, tudo bem, fizemos o que tinha de ser feito.

OP – Então existe uma visão positiva para o futuro?
Renzo – A ciência é feita por incertezas, ela só caminha porque ensina o que não sabe. Mas existe o que chamam de princípio precaucionário. Que diz que você precisa medir o quanto você perde se tiver certo e não fazer nada e o quanto perde se estiver errado e fizer muita coisa. Então imagina que não existe aquecimento global nenhum, só que tomamos as atitudes necessárias. O que a gente perde? Existe uma perda em termos de crescimento econômico. Agora a outra opção é que existe um aquecimento global, ele está acontecendo, tem a ver com produção industrial, mas a gente assume que não está acontecendo e não faz nada. O que perdemos no futuro? Várias pessoas dizem que não fazer nada pode ter um custo muito alto. A chance de estarmos certos é grande e mesmo que estejamos errados, tem como recuperar. Existe ainda um outro lado em que talvez não tenhamos como recuperar. Talvez a gente de fato passe por uma sequência grande de eventos extremos. O lance do aquecimento climático não tem a ver com o mundo ficar mais quente todo dia. O ponto é que eventos extremos, como chuva, furacão, tendam a ser mais frequentes. O nível do mar já está subindo, algumas nações já começam a se transferir. E voltamos à história de Fortaleza ser a Las Vegas do semi-árido. Não dá pra falar em cortar a emissão de carbono sem reduzir atividade industrial. E não podemos falar de aquecimento global sem redução de consumo. E como faz para a população da Aldeota parar de consumir tanto? Nos meus momentos mais pessimistas, eu penso que a humanidade só consegue se re-programar mentalmente em escala continental numa experiência de quase morte. O que significa uma imensa catástrofe. E aí todo mundo para e se repensa. Mas eu sou professor e tenho que acreditar que a educação tem o seu valor.

Dr. Google e seus bilhões de pacientes (Ciência Hoje)

Uma análise mais cuidadosa da relação de doentes com a internet leva a crer que médicos e cientistas precisam aprender a lidar com a nova geração de enfermos.

Por: Thiago Camelo

Publicado em 02/02/2011 | Atualizado em 03/02/2011

Dr. Google e seus bilhões de pacientes
Pintura do século 19 retrata visita de médico a casa do paciente. A profissão está longe, bem longe, de ser questionada. Mas muitas pessoas valem-se, atualmente, da pesquisa na internet para entender melhor algumas doenças. (Wikimedia Commons)

Regina Elizabeth Bisaglia, em mais uma consulta de rotina, indicava ao paciente a melhor maneira de cuidar da pressão. Ao mesmo tempo, observava a expressão introspectiva do homem a sua frente. A cardiologista não entendia ao certo a desconfiança em seu olhar, mas começava a presumir o motivo. Logo, entenderia o porquê.

Depois de uma explicação um pouco mais técnica, o senhor abriu um sorriso e o olhar tornou-se mais afável. A médica acabara de falar o que o paciente queria ouvir e, por isso, passava a ser merecedora de sua confiança.

“Entendi. O senhor andou consultando o doutor Google, certo?”, disse, de modo espirituoso, Bisaglia.

A médica atesta: muitas vezes os pacientes chegam ao consultório com o diagnóstico já pronto e buscam apenas uma confirmação. Ou mais: vão ao médico dispostos a testar e aprovar (ou não) o especialista.

“Não adianta os médicos reclamarem. Os pacientes vão à internet pesquisar e isso é um caminho sem volta. Informação errada existe em todos os meios, mas eu diria que muitas vezes é interessante que a pessoa procure se informar melhor”, diz a cardiologista, com mais de 30 anos de profissão.

“Há momentos em que o paciente não confia no que o médico diz ou se faz de desentendido. Nessas horas, é muito importante que ele perceba que existem mais pessoas falando a mesma coisa e passando pelo mesmo problema e que, portanto, é fundamental se cuidar. Nada melhor do que a conversa na rede para isso”, completa a médica.

Discussão antiga

Não é de hoje que a questão do ‘doutor Google’ e do ‘paciente expert‘ é debatida. Mas se antes a maioria dos argumentos pendia a favor dos médicos e contra a pesquisa dos leigos na área – sob o medo compreensível da automedicação ou dá má informação –, agora o viés da conversa caminha para um olhar mais relativista. Estudos sobre o assunto já propõem, inclusive, que os médicos tenham na sua formação uma espécie de aula especial para lidar com os pacientes internautas.

“Médicos e pesquisadores precisam estar cientes de que a informação está lá fora e que os pacientes estão tentando se educar da melhor forma possível”, diz, em conversa por e-mail, a neurocientista norte-americana Katie Moisse.

A cientista também é repórter da Scientific American e escreveu, na edição de fevereiro da revista, um artigo que fala justamente sobre a tríade médico-paciente-internet. No texto, Moisse conta a história do cirurgião vascular Paulo Zamboni, que no final de 2009 relatou um experimento que prometia ajudar os portadores de esclerose múltipla. A questão: Zamboni estava no início da pesquisa e não tinha, até o momento, feito testes rigorosos o suficiente para colocar sua técnica em prática.

Em outros tempos, diz Moisse, poucas pessoas teriam acesso ao estudo. Não foi, naturalmente, o que aconteceu com o cirurgião, que se viu pressionado por grupos de pacientes e seus familiares para disponibilizar, o quanto antes, o procedimento desenvolvido por ele.

Esse fenômeno também não é recente. O primeiro ‘motim’ de um grupo de doentes para que resultados de pesquisas fossem liberados e aplicados rapidamente é amplamente conhecido na literatura médica: na década de 1980, os infectados pelo vírus da Aids não se conformavam com a ideia de que, enquanto pacientes morriam aos milhares, poucos tinham acesso aos primeiros medicamentos (à altura, ainda em fase de teste).

Um verdadeiro grupo de ativistas, alguns com e outros sem a doença, formou-se e, se a relação entre médico e paciente mudou desde então, muito se deve a esses manifestantes.

Novo fenômeno

Hoje, a internet propicia a formação de grupos sobre não apenas uma, mas várias doenças: salas de discussão, fóruns e páginas sobre as mais diversas patologias. Um dos sites mais conhecidos é o Patients like me (Pacientes como eu, em português), uma rede social com quase 50 mil pessoas que reúne pacientes com os mais diversos problemas. O objetivo, como a maioria dos grupos, é o de trocar informação sobre doenças e, também, encontrar alento e apoio naqueles que partilham o mesmo sofrimento.

“A internet certamente faz do mundo um lugar menor. É uma oportunidade maravilhosa para as pessoas compartilharem ideias. Algumas redes de pacientes usam a internet para coletar dados e, até mesmo, publicá-los em periódicos revisados por pares”, conta Moisse.

Em alguns casos, os portais sobre doenças – sejam elas nada letais como a psoríase ou extremamente perigosas como a hepatite C – podem ajudar o paciente a se inteirar mais sobre a doença que, anteriormente, desconhecia.

“A informação disponível na internet pode trabalhar a favor da saúde, como o caso de uma pessoa que descobre que a sua timidez excessiva pode ser na verdade um quadro de transtorno de ansiedade, um transtorno psiquiátrico que tem tratamentos de eficácia comprovada”, diz o psiquiatra Rafael Freire.

É a mesma linha defendida pelo biólogo e neurocientista Daniel Cadilhe, responsável pela mediação entre o leitor-paciente e o portal do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias.

“No Orkut há uma comunidade com quase 26 mil membros sobre o assunto [células-tronco]. Chegam perguntas diariamente sobre possibilidades de tratamentos utilizando o que estudamos.

Tentamos responder da forma mais clara, realista e responsável possível, sempre passando a informação verdadeira ou indicando quem poderá ajudar a tirar a dúvida”, explica Cadilhe, absolutamente ciente do reboliço que causam as palavras ‘células-tronco embrionárias’.

A grande maioria dos especialistas, como era de se esperar, dá o mesmo conselho para o paciente na hora de pesquisar e se juntar a grupos na internet: seja responsável, busque as melhores referências e procure saber quem está dando a informação. E ainda: lembre-se de que nem sempre o que se deseja ler/ouvir é o diagnóstico correto.

Como diz, com certo humor, a cardiologista Regina Elizabeth Bisaglia, a primeira busca na internet pode ser a mais simplória: “A pesquisa mais importante na rede é o nome de um bom médico para se consultar”.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line

>Amazônia teve pior seca em cem anos (FSP, JC, Fapesp)

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JC e-mail 4193, de 04 de Fevereiro de 2011

Árvores mortas pela seca de 2010 podem liberar quantidade de CO2 semelhante às emissões dos EUA, diz estudo

A seca de 2010 da Amazônia foi a pior dos últimos cem anos. E a quantidade de CO2 emitido pelas árvores mortas pode ser parecida com as emissões dos EUA.

As constatações são de estudiosos britânicos (da Universidade de Leeds) e brasileiros, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Eles publicaram um artigo na revista “Science”.

O grupo de pesquisadores, liderado pelo britânico Simon Lewis, mostrou que a seca de 2010 foi mais intensa e afetou uma área maior que a estiagem de 2005 -até então considerada recorde em várias décadas.

No ano passado, uma área de 3 milhões km2 foi atingida pela estiagem, contra 1,9 milhão km2 em 2005.

Os cientistas fizeram um cálculo do desvio da média de chuvas comuns nas estações secas da Amazônia (chamado de desvio padrão).

“A intensidade da seca foi maior em 2010 em relação à média”, explica o biólogo Paulo Brando, do Ipam, um dos autores do trabalho.

A segunda parte do estudo, explica ele, verificou quais as consequências dessa seca do ponto de vista dos estoques de carbono. Aí vem a outra má notícia: com as secas, a floresta emitirá mais CO2 do que absorverá.

Os pesquisadores relacionaram os dados de seca de 2010 com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).

A conclusão foi que a seca do ano passado pode emitir 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2010 e nos próximos anos. Isso não acontece de uma vez, já que a decomposição das árvores mortas é um processo lento.

Para se ter uma ideia do que isso significa: a emissão da queima de combustíveis fósseis dos EUA é de 5,4 bilhões de toneladas por ano. Em condições “normais”, estima-se que a Amazônia absorva 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera.

“A seca de 2010 talvez tenha matado as árvores que já estavam vulneráveis por causa de 2005”, explica Brando.

“Pode ser que a floresta se recupere, mas ainda não fomos para campo medir. Ainda temos muito trabalho de campo pela frente”, diz.

Para o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é preciso analisar os dados com cuidado.

“Reduzimos o desmatamento em cinco anos, mas um fenômeno natural deixou nossa absorção de CO2 na estaca zero. Se esses cálculos não forem bem interpretados, poderão ser usados a favor do desmatamento”, diz.

Marengo e sua equipe já mostraram que a seca de 2010 reduziu mais os níveis dos rios amazônicos que a estiagem anterior, de 2005.
(Sabine Righetti)
(Folha de SP, 4/2)

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Divulgação Científica
Amazônia mais seca
4/2/2011

Em artigo na Science, cientistas do Brasil e do exterior destacam que seca de 2010 na Floresta Amazônica foi ainda pior do que a de 2005, que havia sido considerado evento único no século.


Agência FAPESP – Em 2005, a Floresta Amazônica passou por uma seca tão severa que foi classificada como um fenômeno raro, dos que costumam ocorrer uma vez a cada cem anos. Entretanto, apenas cinco anos depois a região teve uma seca ainda mais forte.

Segundo estudo feito por cientistas do Brasil e do Reino Unido, publicado nesta sexta-feira (4/2) na revista Science, em 2010 a maior floresta tropical do mundo teve ainda menos chuvas do que em 2005. Como secas severas são danosas à vegetação, menos carbono foi capturado no ano passado.

Paulo Brando e Daniel Nepstead, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, e colegas analisaram dados climáticos, pluviométricos e de perda de vegetação para concluir a repetição do “evento único no século”.

Segundo eles, a Floresta Amazônica costuma atuar fortemente no sequestro de carbono atmosférico, mas secas podem revertar essa característica. Em 2005, estima-se que a morte das árvores resultante da seca tenha promovido a liberação, nos anos seguintes, de cerca de 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Em um ano normal, a floresta sequestra cerca de 1,5 bilhão de toneladas de CO2.

Para efeito de comparação, o valor é quase toda a emissão de CO2 a partir de combustíveis fósseis nos Estados Unidos em 2009. Com mais árvores tendo morrido em 2010 do que em 2005, os cientistas destacam que muito mais carbono permaneceu na atmosfera e mais de 5 bilhões de toneladas ainda serão lançados em decorrência da morte de árvores.

Os autores ainda vão estimar o impacto da vegetação perdida em 2010 e apontam que a seca de 2005 pode ter impactado na gravidade da estiagem cinco anos depois.

Os resultados indicam que secas semelhantes e repetidas na região poderão ter impacto importante no ciclo global de carbono e, por consequência, no clima terrestre. Se tais secas intensas se tornarem frequentes, apontam os autores, os dias da Amazônia como equilibrador natural das emissões de carbono promovidas pelo homem podem estar ameaçados.

O artigo The 2010 Amazon Drought (doi:10.1126/science.1200807), de Simon Lewis e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org.