Arquivo mensal: fevereiro 2016

Todo inocente é um fdp? (El País)

Como se mover num mundo em que se tornou impossível não enxergar o mal que se pratica

ELIANE BRUM

29 FEV 2016 – 14:44 BRT

O golfinho que pode ter morrido por desidratação tirando selfie com turistas na Argentina.

O golfinho que pode ter morrido por desidratação tirando selfie com turistas na Argentina.

Lembro uma cena do primeiro filme da trilogia Matrix, ícone do final do século 20. Os membros da resistência eram aqueles que, em algum momento, enxergaram que a vida cotidiana era só uma trama, um programa de computador, uma ilusão. A realidade era um deserto em que os rebeldes lutavam contra “as máquinas” num mundo sem beleza ou gosto. Fazia-se ali uma escolha: tomar a pílula azul ou a vermelha. Quem escolhesse a vermelha, deixaria de acreditar no mundo como nos é dado para ver e passaria a ser confrontado com a verdade da condição humana.

Na cena que aqui me interessa recordar, um traidor da resistência negocia os termos de sua rendição enquanto se delicia com um suculento filé. Ele sabe que o filé não existe de fato, que é um programa de computador que o faz ver, sentir o cheiro e o gosto da carne, mas se esbalda. Entregaria sua alma às máquinas em troca de voltar na melhor posição – rico e famoso – ao mundo das ilusões. Delataria os companheiros se a ele fosse devolvida a inocência sobre a realidade do real. Sacrifica a luta, os amigos e a ética em troca de um desejo: voltar a ser cego. Ou voltar a acreditar no filé.

A frase exata, pronunciada enquanto olha para um naco da carne espetada no garfo, é: “Eu sei que esse filé não existe. Sei que, quando o coloco na boca, a Matrix diz ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso”. Faz uma pausa: “Depois de nove anos, sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa”.

Naquela época, véspera da virada do milênio, o filme deu ao público uma porta para o debate filosófico sobre o real. Tomar a pílula vermelha logo tornou-se uma metáfora para quem escolhe enxergar a Matrix – ou enxergar para além das aparências. Desde então, nestes últimos anos de corrosão acelerada das ilusões, penso que a escolha se tornou bem mais complicada.

A ilusão, que desempenhou um papel estrutural na constituição subjetiva da nossa espécie, pode já não estar ao nosso alcance

Talvez o mal-estar do nosso tempo seja o de que já não é possível escolher entre a pílula azul e a vermelha – ou entre continuar cego ou começar a enxergar o que está por trás da trama dos dias. O mal-estar se deve ao fato de que talvez já não exista a pílula azul – ou já não seja mais possível a ilusão, esta que desempenhou um papel estrutural na constituição subjetiva da nossa espécie ao longo dos milênios.

Se fosse um de nós o membro da resistência disposto a trair os companheiros, a negociar a rendição com as máquinas diante de um suculento filé num restaurante, aqui, agora, e não mais no final dos anos 90, o dilema poderia sofrer um deslocamento. O drama não seria enxergar o filé como filé, no sentido de poder acreditar que ele existe, assim como acreditar que o restaurante existe e que o cenário a que chamamos de mundo existe tal qual está diante dos nossos olhos.

Não. O dilema atual pode ser também este, mas só na medida em que também é outro. O drama é que acreditamos no filé, sabemos que ele existe e sabemos que é gostoso. Desejamos o filé, nos lambuzamos dele e temos prazer com ele. Ao olhar para ele, porém, não enxergamos apenas “o deserto do real”, mas algo muito mais encarnado e cada vez mais inescapável: enxergamos o boi.

É terrível enxergar o boi. E, como os mais sensíveis já descobriram, é impossível deixar de enxergá-lo. Nossa superpopulação de humanos extrapolou a lógica dos vivos, matar para comer. E impôs a escravização e a tortura cotidiana de outras espécies. Milhões de bois, galinhas e porcos nascem apenas para nos alimentar em campos de concentração aos quais damos nomes mais palatáveis. São sacrificados em holocaustos diários sem que nem mesmo tenham tido uma vida.

Animais confinados, presos, às vezes sem sequer poder se mover por uma existência inteira. Criamos profissões capazes de reconhecer em segundos se um pinto é macho ou fêmea para separar as fêmeas que viverão espremidas, muitas vezes sem conseguir sequer abrir as asas, botando ovos e depois virando bandejas no supermercado e jogar os machos para serem moídos ainda vivos no triturador de lixo. Escravidão e tortura/sacrifício e lixo, estes são os destinos que determinamos aos frangos.

Somos os nazistas das outras espécies – e produzimos holocaustos cotidianos

Somos os nazistas das outras espécies. E, se antes era possível ignorar, desqualificando a questão como algo menor ou coisa de “adoradores de alface”, a internet e a disseminação de informações tornaram impossível não enxergar o olho do boi. Ao olhar para o filé, o olho do boi nos olha de volta. O olho vidrado de quem está aterrorizado porque pressente que caminha no corredor da morte, o boi que se caga de medo enquanto é obrigado a dar o passo para o sacrifício, o boi que tenta escapar, mas não encontra saída. O olho do boi alcança até gente como eu, que pode ser colocada na categoria “adoradores de churrasco”.

A publicidade do século 20 perdeu a ressonância em tempos de internet. Porque a ilusão já não é possível. Nada era mais puro do que o leite branco tirado de uma vaquinha no pasto. Era fácil acreditar na imagem bucólica do alimento saudável. Nosso leite vinha do paraíso, de nosso passado rural perdido, da vida nos bosques de Walden. Assim como a longa série de produtos dele originados, como queijo, iogurte e manteiga.

Mas a vaca da imagem não existe. A real é a vaca que nasce em cativeiro, filha de outra escrava. A vaca que quase não se move, cuja existência consiste numa longa série de estupros por instrumentos que se enfiam pelo seu corpo para fecundá-la com o sêmen de outro escravo. Então ela engravida e engravida e engravida de bezerros que dela serão sequestrados para virar filés, para que suas tetas sigam dando leite delas tirados por outras máquinas. E, como sabemos disso, o leite que chega à nossa mesa já não pode mais ser branco, mas vermelho do horror da vaca cujo corpo virou um objeto, a vaca para quem cada dia é tortura, estupro e escravidão.

Para não beber sangue procuramos nas prateleiras leites à base de vegetais. Vegetais não gritam. Soja, apenas um dos tantos exemplos. Bifes de soja, hambúrgueres de soja, linguiças de soja, leite de soja. Mas como ignorar o desmatamento, a destruição de ecossistemas inteiros e com eles toda a vida que lá havia? Como ignorar que a soja pode ter sido plantada em terra indígena e que, enquanto ela vira mercadoria no supermercado, jovens Guarani Kaiowá se enforcam porque já não sabem como viver? Já não é possível fingir que não enxergamos isso. Assim, nem os veganos mais radicais podem se salvar do pecado original.

Os mais sensíveis sentem a textura de suas roupas e sabem que são costuradas com carne humana

Olhamos para nossas roupas e horrorizados sabemos que em algum lugar da linha globalizada de produção há nelas o sangue de crianças, homens e mulheres em regime de trabalho análogo à escravidão. Como o casal que morreu abraçado na fábrica de Bangladesh, gerando a fotografia que comoveu o mundo mas não eliminou o horror que seguiu em escala industrial. Ou mesmo de um imigrante boliviano enfiado num quarto insalubre trabalhando horas e horas por quase nada bem aqui ao lado. Mas os mais sensíveis sentem a textura de suas roupas e sabem que são costuradas com carne humana. E já não sabem como vesti-las. Nem sabem como dar brinquedos para seus filhos porque sabem que os bonecos, os carrinhos, os castelos e os dinossauros contêm neles o sangue das crianças sem infância, ou o de suas mães e pais.

Já não é possível levar crianças a zoológicos ou aquários porque sabemos que a única educação próxima da verdade que receberiam ali é a do horror a que os animais são submetidos para serem exibidos, por melhor que seja a imitação de seu habitat. Lembro uma reportagem que fui fazer num zoológico, planejada para ser divertida, e só pude contar, entre outros horrores, que o babuíno chamado Beto era mantido à custa de Valium, para evitar que arrancasse pedaços do próprio corpo. Mesmo dopado jogava-se contra as grades, atirava fezes nos visitantes e espancava a companheira. Pinky, a elefanta, vivia só. Seus dois companheiros tinham morrido ao cair no fosso tentando escapar do cativeiro. Sabemos hoje que os golfinhos e as baleias dos shows acrobáticos são escravos brutalizados para servir de entretenimento a humanos. E, desde que sabemos, aqueles que gozam com esses espetáculos de morte podem se descobrir não mais como famílias felizes num momento de lazer, como nas imagens dos folhetos publicitários, mas como hordas de sádicos.

No simples ato de acender a luz já existe a consciência de que estamos destruindo o mundo de alguém e de que nada mais será simples. Neste momento, para ficar apenas num exemplo, dezenas de milhares já perderam suas casas no rio Xingu, na Amazônia, para a operação da Hidrelétrica de Belo Monte. Povos indígenas que vivem na região atingida já não conseguem suportar o aumento exponencial de mosquitos desde que o lago da usina começou a encher, alterando o ecossistema e dizimando culturas, no que já foi denunciado pelo Ministério Público Federal como etnocídio. Os impactos mal começaram e, em menos de três meses, mais de 16 toneladas de peixes morreram. E talvez também esteja chegando ao fim o tempo em que ainda é aceitável contar vidas por toneladas, mesmo que seja a vida de peixes. Ou a morte de peixes. Um dedo no interruptor e uma cadeia de mortes. E agora também já sabemos disso.

Ao pedir um café e um pão com manteiga na padaria, nos implicamos numa cadeia de horrores

O tempo das ilusões acabou. Nenhum ato do nosso cotidiano é inocente. Ao pedir um café e um pão com manteiga na padaria, nos implicamos numa cadeia de horrores causados a animais e a humanos envolvidos na produção. Cada ato banal implica uma escolha ética – e também uma escolha política.

A descrição das atrocidades que cometemos rotineiramente pode aqui seguir por milhares de caracteres. Comemos, vestimos, nos entretemos, transportamos e nos transportamos à custa da escravidão, da tortura e do sacrifício de outras espécies e também dos mais frágeis da nossa própria espécie. Somos o que de pior aconteceu ao planeta e a todos que o habitam. A mudança climática já anuncia que não apenas tememos a catástrofe, mas nos tornamos a catástrofe. Desta vez, não só para todos os outros, mas também para nós mesmos.

Já não é possível a pílula azul – ou já não é possível à adesão às ilusões. Há várias implicações profundas numa época em que o conhecimento não liberta, mas condena. A começar, talvez, pela pergunta: quem é o inocente num mundo em que a inocência já não é possível? Seria o inocente o pior humano de todos? Seria o inocente um psicopata?

O que seremos nós, subjetivamente, agora que estamos condenados a enxergar? As redes sociais têm nos dado algumas pistas. O que a internet fez foi arrancar da humanidade as ilusões sobre si mesma. O cotidiano nas redes sociais nos mostrou a verdade que sempre esteve lá, mas era protegida – ou mediada – pelo mundo das aparências. Sobre isso já escrevi um artigo, chamado A boçalidade do mal, que pode ser lido aqui. As implicações de perder este véu tão arduamente tecido são profundas e recém começam a ser investigadas. O impacto sobre a subjetividade estrutural de nossa espécie é tremendo, exatamente porque é estrutural e desabou num espaço de tempo muito curto, quase num soluço.

Já não é mais possível pensar apenas em humanos quando se aborda o tema dos direitos

O que faremos diante da impossibilidade da pílula azul, a que garantia as ilusões? A ridicularização daqueles que levantam esse tema ainda é um caminho, mas convencem menos que no passado. Também a piada se torna anacrônica. As interrogações vêm mudando, e já não é possível afirmar, sem revelar considerável ignorância, inclusive sobre a ciência produzida, que os animais não têm vida mental nem emocional, são “irracionais”. Ou, lembrando um argumento religioso, “que não têm alma”. Toda a ideologia que um dia justificou a escravidão de humanos, até que foi questionada, derrubada e transformada numa mancha de crime e vergonha na história da humanidade, passou a ser confrontada também com relação aos animais.

Cada vez mais as outras espécies começam a ser vistas como diferentes – e não mais como inferiores. Assim, o que se coloca no campo da ética são questões fascinantes e muito mais espinhosas. Mesmo o termo “direitos humanos” passa a ser questionável, porque pensar apenas em “humanos” já não é mais possível. No momento em que nos tornamos a própria definição de catástrofe, o conceito de “espécie”, em sua expressão cultural, se desloca. Outras formas de compreender e nomear o lugar dos humanos ganham espaço no horizonte filosófico e no exercício da política.

Resta o cinismo, sempre o último reduto. Dizer que, diante de mais de 7 bilhões de seres humanos ocupando o planeta e crescendo, não há outra maneira a não ser comer e vestir exploração, escravidão e tortura é a afirmação mais óbvia. É a afirmação expandida usada para todas as desigualdades de direitos. Desde que não seja eu – ou os meus – os sacrificados, tudo bem.

Vale a pena dedicar um parágrafo aos cínicos, essa categoria que prolifera com o ímpeto de um Aedes aegypti no Brasil e no mundo. O cínico é aquele que olha com calculado enfado para todos os outros, porque ele acredita que entende o mundo como ele de fato é. Ele é o que sabe das coisas, o único esperto. Todos os outros são tolinhos com ideias irreais. O cínico é aquele que deixa o mundo como está. Mas talvez, neste momento, o cínico seja justamente o inocente. Sua inocência consiste em acreditar que a pílula azul ainda está disponível.

Como ser ético num mundo sem ilusões, em que cada ato implica na tortura e no sacrifício de um outro?

Há um preço para enxergar e, mesmo assim, assumir o extermínio cotidiano como dado, como parte intrínseca da condição de ser um humano. Nem toda a crescente gourmetização da comida, nem todas as narrativas ficcionais que contam uma história idílica sobre a origem daquele produto, nada ocultará esse preço. E nada reduzirá seu impacto subjetivo. Não é fácil viver na pele do algoz. Não é simples viver sabendo-se. Aquele que se olha no espelho e se enxerga carregará essa autoimagem consigo. E se tornará algo que já não é mais o mesmo.

Há uma imagem recente que pode dar algumas pistas sobre esse caminho. Numa praia da Argentina, um golfinho foi carregado por turistas. Alguns dizem que ainda estava vivo, outros que já estava morto. Vivo ou morto, os turistas preocuparam-se apenas com tirar selfies para postar nas redes sociais. O site de humor Sensacionalista postou: “Golfinho morre ao ser retirado do mar para turistas fazerem selfie e Deus anuncia recall do ser humano”.

Ainda assim, quem se horrorizou com a falta de horror alheia, à noite seguiu diante do olho do boi. O que fazer diante do olho do boi? Como ser ético num mundo sem ilusões, em que cada ato implica na tortura e no sacrifício de um outro, humano e não humano? Se somos os nazistas das outras espécies, quando não da mesma, aceitar que assim é não seria se tornar um Eichmann, o nazista julgado em Jerusalém que alegou apenas cumprir ordens, o homem tão banalmente ordinário que inspirou a filósofa Hannah Arendt a criar o conceito da “banalidade do mal”? Não seríamos, aos olhos do boi, todos Eichmann, justificando-nos pelo senso comum de que assim é e se faz o que é preciso para sobreviver? Se sim, o que implica viver assumidamente nesta pele?

Talvez estejamos, como espécie que se pensa, diante de um dos maiores dilemas éticos da nossa história. Sem poder optar pela pílula azul, a das ilusões, condenados à pílula vermelha, a que nos obriga a enxergar, como construir uma escolha que volte a incluir a ética? Como não paralisar diante do espelho, reduzidos ou ao horror ou ao cinismo, eliminando a possibilidade de transformação? Como nos mover?

Diante do filé que desejamos e do olho boi que nos interroga, há pelo menos uma hipótese cada vez mais forte: o inocente é um assassino.

Mais respeito pela Funceme (O Povo)

ARTIGO 29/02/2016

Fátima Sudário

Na semana que passou, a Funceme atualizou a previsão para a estação de chuva, que se estende até maio na região em que o Ceará está inserido. Reafirmou, em dia de chuva intensa na Capital, probabilidade de chuva em torno de 70% abaixo da média.

Isso é seca braba. É caso de se cobrar atitude do poder público e se compromissar com mobilização social para um cenário desfavorável.
Pela primeira vez, o volume do Castanhão, principal fornecedor da água na Região Metropolitana de Fortaleza, caiu a menos de 10%.

Mas a reação, de um modo geral, se restringe ao ceticismo em relação às previsões da Funceme. Não faltam comentários pejorativos, piadas e ironias, uma espécie de cultura instaurada sempre que se trata da instituição que, além da meteorologia, se dedica a meio ambiente e recursos hídricos.

Penso que há de se atribuir essa postura a imprecisões de previsão, como de fato acontecem, ao uso político de informações como aconteceu no passado ou mesmo à ignorância. Mas me incomoda. A meteorologia lida com parâmetros globais complexos, como temperatura do ar e dos oceanos, velocidade e direção dos ventos, umidade, pressão atmosférica, fenômenos como El Niño… Já avançou consideravelmente na confiabilidade das previsões feitas por meteorologistas, com o uso de dados de satélites, balões atmosféricos e um tanto mais de aparato tecnológico que alimentam modelos matemáticos complicados para desenhar probabilidades, mas não exatidões.

Erra-se, aqui como no resto mundo. Mas geram-se informações de profundo impacto social, econômico, científico e cultural, essenciais a tomadas de decisões, de natureza pública e privada. Algo que nenhum gestor ou comunidade pode dispensar, especialmente em uma região como a nossa, vulnerável às variações climáticas e dependente da chuva. Carecemos de uma troca de mentalidade em relação ao trabalho da Funceme. Falo de respeito mesmo pelo que nos é caro e fundamentalmente necessário.

A propósito, é difícil, mas torço para que a natureza contrarie o prognóstico e caia chuva capaz de garantir um mínimo de segurança hídrica, produtividade e dignidade a um Ceará que muito depende das informações sobre o clima, geradas pela Funceme.

Fátima Sudário

Jornalista do O POVO

Fossil analysis pushes back human split from other primates by 2 million years (Los Alamos National Laboratory)

16-FEB-2016

Nature paper places human evolution in Africa, not Eurasia

DOE/Los Alamos National Laboratory

IMAGEIMAGE: TEAM ANALYSIS OF THESE 8-MILLION-YEAR-OLD CHORORAPITHECUS TEETH FOSSILS PROVIDED INSIGHTS INTO THE HUMAN-GORILLA EVOLUTIONARY SPLIT. CREDIT: GEN SUWA

LOS ALAMOS, N.M., February 16, 2015–A paper in the latest issue of the journal Nature suggests a common ancestor of apes and humans, Chororapithecus abyssinicus, evolved in Africa, not Eurasia, two million years earlier than previously thought.

“Our new research supports early divergence: 10 million years ago for the human-gorilla split and 8 million years ago for our split from chimpanzees,” said Los Alamos National Laboratory geologist and senior team member Giday WoldeGabriel. “That’s at least 2 million years earlier than previous estimates, which were based on genetic science that lacked fossil evidence.”

“Our analysis of C. abyssinicus fossils reveals the ape to be only 8 million years old, younger than previously thought. This is the time period when human and African ape lines were thought to have split, but no fossils from this period had been found until now,” WoldeGabriel said.

Chimpanzees, gorillas, orangutans and humans compose the biological family Hominidae. Our knowledge of hominid evolution–that is, when and how humans evolved away from the great ape family tree–has significantly increased in recent years, aided by unearthed fossils from Ethiopia, including the C. abyssinicus, a species of great ape.

The renowned international team that discovered the extinct gorilla-like species C. abyssinicus(reported in the journal Nature in 2007) reports new field observations and geological techniques that the authors say revise the age-constraint of the human split from their brethren.

The authors’ new paper, “New geological and palaeontological age constraint for the gorilla-human lineage split,” was published this week in Nature. WoldeGabriel coauthored the paper and his role was to characterize the volcanic ash and provide chemistry for local and regional correlation of the ashes sandwiching the fossils from Ethiopia’s Chorora area, a region where copious volcanic eruptions and earthquakes entombed fossils recently uplifted via ground motion and erosion.

Filling Gaps in the Fossil Record

Most of the senior members of the Chorora research team also belong to the Middle Awash project team that has recovered the fossil remains of at least eight hominid species, including some of the earliest hominids, spanning nearly 6 million years.

In the 1990s, before this team excavated the gorilla-like C. abyssinicus, they discovered the nearly intact skeleton of the 4.4-million-year-old species Ardipithecus ramidus (nicknamed “Ardi”) and its relative, the million-year-older species Ardipithecus kadabba. These Ardipithecusfossils were the earliest ancestor of humans after they diverged from the main ape lineage of the primate family tree, neither ape-like nor chimp-like, yet not human either. Notably, both were bipedal–they walked upright.

While the team was still investigating Ardi and Kadabba, they published their results about C. abyssinicus. From the collection of nine fossilized teeth from multiple C. abyssinicus individuals, the team surmised that these teeth were gorilla-like, adapted for a fibrous diet. Based on their research from the Chorora, Kadabba and Ardi finds, the team says the common ancestor of chimps and humans lived earlier than had been evidenced by genetic and molecular studies, which placed the split about 5 million years ago.

According to the paper, C. abyssinicus revealed answers about gorilla lineage but also provided fossil evidence that our common ancestor migrated from Africa, not Eurasia, where fossils were more prolific prior to this discovery of multiple skeletons. While some skeptics say that more fossil evidence is needed before they accept this team’s conclusions, many agree that the discovery of a fossil ape from this time period is important since only one other had been found.

Extensive Analysis Provides New Evidence

WoldeGabriel and the research team used a variety of methods to determine the age of teeth they found at the Chorora Formation. They estimated the age of the volcanic rocks and sediments that encased the fossils with argon-dating and paleomagnetic methods. The team investigated patterns of magnetic reversals–another method to determine age based on knowledge about an era’s magnetic orientation–and calibrated the sediments containing the fossils using Geomagnetic Polarity Time Scale (GPTS).

Through fieldwork, volcanic ash chemistry and geochronology, WoldeGabriel helped nail down the age of the fossils to approximately 8 million years old. Based on this new fossil evidence and analysis, the team suggests that the human branch of the tree (shared with chimpanzees) split away from gorillas about 10 million years ago–at least 2 million years earlier than previously claimed.

Oxford’s Halley Professor on How the Climate Challenge Could Derail a Brilliant Human Destiny (Dot Earth/NYT)

By 

FEBRUARY 15, 2016 9:04 AM February 15, 2016 9:04 am

Updated, 11:51 p.m. | Sustained large investments in fundamental science paid off in a big way last week, as Dennis Overbye so beautifully reported in The Times’s package on confirmation of Einstein’s 1916 conclusion that massive moving objects cause ripples in spacetime — gravitational waves.

Raymond Pierrehumbert, a climate scientist and the Halley Professor of Physics at Oxford University.

Raymond Pierrehumbert, a climate scientist and the Halley Professor of Physics at Oxford University. Credit Eva Dalin, Stockholm University

This finding, and the patient investments and effort through which it was produced, came up in the context of humanity’s global warming challenge in an email exchange a few days ago with Raymond T. Pierrehumbert, a veteran climate scientist who was recently appointed the Halley Professor of Physics at Oxford University.*

The common context is the importance of sustained engagement on a big challenge — whether it is intellectual, as in revealing spacetime ripples, or potentially existential, as in pursuing ways to move beyond energy choices that are reshaping Earth for hundreds of generations to come.

I reached out to Pierrehumbert because he is one of many authors of “Consequences of twenty-first-century policy for multi-millennial climate and sea-level change,” an important new Nature Climate Change analysis reinforcing past work showing a very, very, very long impact (tens of millenniums) on the Earth system — climatic, coastal and otherwise — from the carbon dioxide buildup driven by the conversion, in our lifetimes, of vast amounts of fossil fuels into useful energy.

The core conclusion:

This long-term view shows that the next few decades offer a brief window of opportunity to minimize large-scale and potentially catastrophic climate change that will extend longer than the entire history of human civilization thus far. [Read the Boston College news release for even more.]**

summary from Columbia University’s Lamont-Doherty Earth Observatory captures the basic findings:

Humans have been burning fossil fuels for only about 150 years, yet that has started a cascade of profound changes that at their current pace will still be felt 10,000 years from now.

Here’s a snippet from a figure in the paper showing how arguments about the pace of coastal change between now and 2100 distract from a profoundly clear long-term reality — that there will be no new “normal” coastal for millenniums, even with aggressive action to curb emissions:

Photo

A detail from a figure in a new paper shows the projected possible rise in sea levels over the next 10,000 years from today under four levels of emissions of heat-trapping greenhouse gases. The highest blue line at right is 50 meters (164 feet) above today’s sea level. Even the lowest scenario eventually floods most of today’s coastal cities.<br /><br />The darker line to the left of today marks sea levels over the last 10,000 years — a geological epoch called the Holocene. The figures below show ice amounts on Greenland and Antarctica today and if humans burn most known fossil fuels. <a href="http://www.nature.com/nclimate/journal/vaop/ncurrent/fig_tab/nclimate2923_F2.html">The full figure and legend is here.</a>
A detail from a figure in a new paper shows the projected possible rise in sea levels over the next 10,000 years from today under four levels of emissions of heat-trapping greenhouse gases. The highest blue line at right is 50 meters (164 feet) above today’s sea level. Even the lowest scenario eventually floods most of today’s coastal cities.

The darker line to the left of today marks sea levels over the last 10,000 years — a geological epoch called the Holocene. The figures below show ice amounts on Greenland and Antarctica today and if humans burn most known fossil fuels. The full figure and legend is here.Credit Nature Climate Change

I’d asked Pierrrehumbert to reflect on the time-scale conundrum laid out in the Nature Climate Change paper in the context of another important and provocative proposal by Princeton’s Robert Socolow, published in the Bulletin of the Atomic Scientists in December, proposing a new field of inquiry — Destiny Studies — to examine the tough intersection of ethics, risk perception and science. His essay is titled, “Climate change and Destiny Studies: Creating our near and far futures.” Here’s the abstract:

Climate change makes stringent demands on thinking about our future. We need two-sided reasoning to contend equitably with the risks of climate change and the risks of “solutions.” We need to differentiate the future 500 years from now and 50 years from now. This essay explores three pressing climate change issues, using both the 500-year and the 50-year time frames: sea level rise, the nuclear power “solution,” and fossil carbon abundance.

Here’s Pierrehumbert’s “Your Dot” contribution, tying together these elements:

The day of the release of the spectacular LIGO gravitational wave discovery is a good time to be pondering human destiny, the great things we can achieve as a species if only we don’t do ourselves in, and the responsibility to provide a home for future generations to flourish in. It is beyond awesome that we little lumps of protoplasm squinting out at the Universe from our shaky platform in the outskirts of an insignificant galaxy can, after four decades of indefatigable effort, detect and characterize a black hole merger over a billion light years away.

This is just one of the most dramatic examples of what we are capable of, given the chance to be our best selves. In science, I’d rate the revolution in detecting and characterizing exoplanets way up there as well. There’s no limit to what we can accomplish as a species.

But we have to make it through the next two hundred years first, and this will be a crucial time for humanity. This is where Destiny Studies and our paper on the Anthropocene come together. The question of why we should care about the way we set the climate of the Anthropocene is far better answered in terms of our vision for the destiny of our species than it is in terms of the broken calculus of economics and discounting.

For all we know, we may be the only sentience in the Galaxy, maybe even in the Universe. We may be the only ones able to bear witness to the beauty of our Universe, and it may be our destiny to explore the miracle of sentience down through billions of years of the future, whatever we may have turned into by that time. Even if we are not alone, it is virtually certain that every sentient species will bring its own unique and irreplaceable perspectives to creativity and the understanding of the Universe around us.

Thinking big about our destiny, think of this: the ultimate habitability catastrophe for Earth is when the Sun leaves the main sequence and turns into a Red Giant. That happens in about 4 billion years. However, long before that — in only about 500 million years — the Sun gets bright enough to trigger a runaway greenhouse effect and turn us into Venus, sterilizing all life on Earth. We waste half the main sequence lifetime of the Sun.

However, if we last long enough, technology will make it easy to block enough sunlight to save the Earth from a runaway, buying us another 4 billion years of habitability. That’s the only kind of albedo-modification geoengineering I could countenance, and by the time that is needed, presumably we’ll have the wisdom to deploy it safely and the technology to make it robust.

But we have to make it through the next 200 years first.

If we do what humanity has always done in the past, we’re likely to burn all the fossil fuels, and then have a hard landing at a time of high population, with an unbearable climate posing existential risks, at just the time when we’re facing the crisis fossil fuels running out. That will hardly make for ideal conditions under which to decarbonize, and there is a severe risk civilization will collapse, leaving our descendants with few resources to deal with the unbearable environment we will have bequeathed them.

It’s been pointed out that fossil fuels came in just about when we had run out of whale oil, but the whales had been hunted to the brink of extinction when that happened. If we do the same with coal, it’s not going to make for a pretty transition. With regard to the Anthropocene, it’s true that given a thousand years or so — if technological civilization survives — it becomes likely that we would develop ways to remover CO2 from the atmosphere and accelerate the recovery to more livable conditions. But if things get bad enough in the next two hundred years, we may never have that chance.

The alternative future is one where we decide to make the transition to a carbon-free economy before we’re forced into it by the depletion of fossil fuels. We’re going to run out anyway, and will need to learn to do without fossil fuels, so why not get weaned early, before we’ve trashed the climate? If we do that, we might not just buy ourselves a world, but a whole Universe.

Shorthand summary: Can we do better than bacteria smeared on agar?

This passage from a 2011 post, “Confronting the Anthropocene,” conveys my sense of the core focus of “destiny studies”:

We’re essentially in a race between our potency, our awareness of the expressed and potential ramifications of our actions and our growing awareness of the deeply embedded perceptual and behavioral traits that shape how we do, or don’t, address certain kinds of risks [or time scales].

Another author of the Nature Climate Change paper, Daniel Schrag of Harvard, gave a highly relevant talk at the Garrison Institute a couple of years ago in which he raised, but did not answer, a question I hope you’ll all ponder:

Is there a moral argument for some threshold of environmental conditions that we must preserve for future generations?

This would be a cornerstone question in destiny studies. I moderated a conversation on this question and the rest of the lecture with Schrag and Elke U. Weber of Columbia University. I hope you can spare some time to watch.

There are plenty of efforts to build such a field, including Oxford’s Future of Humanity Institute, the Frederick S. Pardee Center for the Study of the Longer-Range Future at Boston University and the Arizona State University effort I described in this post: “Building Visions of Humanity’s Climate Future – in Fiction and on Campus.”

Here are other relevant past pieces:

2015 – “Avoiding a Climate Inferno

2013 – “Could Climate Campaigners’ Focus on Current Events be Counterproductive?

2011 – “Pedal to the Metal

2010 – “Which Comes First – Peak Everything or Peak Us?

2009 – “Puberty on the Scale of a Planet

Updated, 11:50 p.m. | David Roberts at Vox today put the Nature Climate Change paper in political context when he wrote: “The U.S. presidential election will matter for 10,000 years.” Read the rest here.

Footnotes |

** This excerpt from the paper was added at 1:36 p.m.

*Pierrehumbert has contributed valuable insights here in the past, writes on Slate on occasion and is a fine accordion player. He contributed sensitively wrought parts on a song on my first album.

O painel do clima quer falar com você (Observatório do Clima)

15/02/2016

O australiano John Cook, editor do site Skeptical Science, fala durante encontro do IPCC em Oslo. Foto: Claudio Angelo/OC

O australiano John Cook, editor do site Skeptical Science, fala durante encontro do IPCC em Oslo. Foto: Claudio Angelo/OC

IPCC faz sua primeira reunião sobre comunicação disposto a mudar a cultura do segredo e a linguagem arcana de seus relatórios – mas esbarra numa estrutura de governança conservadora.

Por Claudio Angelo, do OC, em Oslo –

Luís Bernardo Valença, protagonista do romance Equador, do português Miguel de Souza Tavares, recebe do rei de Portugal uma missão virtualmente impossível: assumir o governo de São Tomé e Príncipe para convencer os compradores ingleses de cacau de que não existe trabalho escravo nas ilhas – e, ao mesmo tempo, garantir que o sistema de trabalho escravo não mude, de forma a não prejudicar a economia local.

A história guarda uma analogia com o momento pelo qual passa o IPCC, o painel do clima da ONU, que na semana passada realizou em Oslo, na Noruega, a primeira reunião de sua história dedicada à comunicação. O comitê internacional de cientistas, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007, reconhece que a forma como se comunica com seus diversos públicos precisa mudar: os sumários de seus relatórios de avaliação são indecifráveis para leigos e para os próprios formuladores de políticas públicas a quem supostamente se dedicam; as decisões são tomadas em reuniões fechadas, o que alimenta rumores de que o painel é ora uma conspiração de ambientalistas para distorcer a ciência, ora uma vítima de ações de governos para aguar conclusões impactantes sobre a gravidade das mudanças do clima; a maneira como a incerteza e o risco são expressos pelo painel é bizantina.

A vontade de abrir-se mais ao público, porém, esbarra no conservadorismo do próprio painel, que preserva um modo de operação da década de 1990, quando lançou seu primeiro relatório de avaliação). Os métodos, as regras e os rituais do IPCC precisam permanecer os mesmos – e seus líderes parecem não querer abrir mão disso. Ao mesmo tempo, eles mesmos pedem mais transparência e mais acessibilidade. Qual é a chance de isso dar certo?

O próprio encontro de Oslo pode ser um termômetro. Foram convidados a participar cerca de 50 especialistas em comunicação do mundo inteiro e mais duas dezenas de autoridades do próprio painel. A reunião foi a primeira em toda a história do IPCC a ser transmitida ao vivo pela internet. Mas isso que só aconteceu depois da cobrança de algumas personalidades da área, como o jornalista americano Andrew Revkin. Ela foi aberta também pela internet pelo presidente do painel, o sul-coreano Hoesung Hwang. Os co-presidentes dos três grupos de trabalho que cuidam de avaliar os três grandes aspectos da mudança do clima (a base física, impactos e vulnerabilidades e mitigação) estiveram presentes o tempo todo, assim como dois dos três vice-presidentes, a americana Ko Barrett e o malês Youba Sokona. Cientistas que coordenaram a produção do AR5, o quinto relatório do IPCC, também estiveram nos dois dias de encontro.

Um consenso importante formado em Oslo foi que a comunicação precisa integrar o processo de produção dos relatórios desde o início. O modelo atual seguido pelo IPCC consiste em preparar primeiro os relatórios e então divulgá-los aos diversos públicos – tomadores de decisão, imprensa e o público geral. É o que Paul Lussier, especialista em mídia da Universidade Yale, chamou de “passar batom num porco” durante sua apresentação.

Enfeitar o suíno, até aqui, tem sido a receita para o fiasco de comunicação do painel. Isso foi mais ou menos matematicamente demonstrado pelo cientista ambiental português Suraje Dessai, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e coautor do AR5 (Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, publicado entre 2013 e 2014). Uma análise dos sumários do IPCC conduzida por Dessai e colegas com a ajuda de softwares que olham simplicidade e legibilidade foi publicada no ano passado no periódico Nature Climate Change. O trabalho mostrou que não apenas o IPCC é menos legível do que outras publicações científicas, como também o grau de compreensibilidade dos sumários despencou de 1990 para cá.

Uma das recomendações feitas ao final do encontro, e que serão encaminhadas à plenária do IPCC em abril, é para que se incorporem comunicadores profissionais, jornalistas de ciência, psicólogos e antropólogos desde a chamada fase de “definição do escopo” dos relatórios. Isso começaria no AR6, o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, que deverá ser publicado em algum momento entre 2020 e 2022. Essa própria definição, que hoje é feita pelas autoridades do painel e pelos governos, poderá vir a ser realizada numa espécie de consulta pública – na qual diferentes atores, desde a sociedade civil até empresários e mesmo crianças, digam o que querem que o painel avalie sobre a mudança climática. Tamanha abertura seria uma revolução no IPCC, rompendo a lógica professoral que impera hoje na definição das perguntas às quais os relatórios tentam responder.

Outra sugestão, apresentada por um grupo que discutiu as relações entre o IPCC e os meios de comunicação, foi para que os rascunhos dos sumários executivos sejam abertos para o público antes da aprovação final pelos governos. Cada sumário passa por uma série de rascunhos até chegar ao formato final de revisão, que é enviado aos governos para comentários. Os sumários são aprovados por governos e cientistas na plenária do IPCC, onde recebem alterações finais. A regra é que os governos modifiquem muito o texto, mas – e este é um “mas” importante, porque é o que define a credibilidade do IPCC – a palavra final é sempre dos cientistas.

Os rascunhos hoje não são públicos, mas qualquer pessoa pode solicitar ao IPCC fazer parte do comitê de revisores – e ganham, assim, acesso aos documentos. Em 2013, um negacionista do clima vazou em seu blog uma versão do AR5, alegando que o painel estava escondendo evidências de que o aquecimento global se devia a raios cósmicos (não estava). A proposta apresentada em Oslo foi para que os rascunhos de revisão fossem tornados públicos, de forma a minimizar o impacto de vazamentos e a conter desinformação na imprensa.

Outras recomendações feitas em Oslo vão de dar ao site do IPCC uma nova interface pública até produzir infográficos animados da ciência avaliada pelos relatórios.

Na prática, porém, a teoria é outra: um dos dogmas do IPCC é que ele não pode produzir prescrições políticas, ou seja, precisa se limitar a dizer aos países o que acontece com o mundo em cada cenário de emissões e o que é preciso fazer para atingir níveis de emissão x, y ou z no futuro. A rigor, o painel do clima não pode incitar as pessoas a combater a mudança climática – isso seria uma posição de militância. Pior, entre os mais de 150 governos que integram o IPCC e de fato mandam nele (daí a sigla significar Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) há os que não querem resolver o problema, porque vivem da sua causa – os combustíveis fósseis. Essas são amarras importantes à comunicação.

Outro problema é que o IPCC ainda vive no século XX, num sentido bem real. Enquanto a comunicação hoje é digital, o painel do clima decidiu, por consenso, que seus relatórios são aprovados linha por linha pelos governos – e isso significa caneta e papel. Não há nem sequer método para submeter um infográfico animado à plenária, caso alguém ache que é o caso usar esse tipo de recurso no AR6. Sugestões de ter uma equipe de vídeo acompanhando o “making of” dos relatórios foram rejeitadas no passado, porque algumas pessoas no painel não queriam que ninguém ficasse “espionando” seu trabalho. E por aí vai.

O IPCC foi criado em 1988, mas só ganhou uma estratégia de comunicação em 2012. Tem um longo aprendizado pela frente e precisa começar de algum lugar. Pessoas com quem conversei em Oslo disseram duvidar que a maior parte das recomendações seja acatada. Mas é auspicioso, num momento em que o mundo se prepara para implementar o Acordo de Paris, que o templo do conhecimento climático esteja disposto a embarcar na tarefa da comunicação. Ela é mais necessária do que nunca agora. (Observatório do Clima/ #Envolverde)

* O jornalista viajou a convite do IPCC.

** Publicado originalmente no site Observatório do Clima.

Queda de homicídios em SP é obra do PCC, e não da polícia, diz pesquisador (BBC Brasil)

Thiago Guimarães
De Londres

12/02/2016, 15h21 

Policiais militares da Rota durante operação na periferia de São Paulo

Policiais militares da Rota durante operação na periferia de São Paulo. Mario Ângelo/ SigmaPress/AE

Em anúncio recente, o governo de São Paulo informou ter alcançado a menor taxa de homicídios dolosos do Estado em 20 anos. O índice em 2015 ficou em 8,73 por 100 mil habitantes – abaixo de 10 por 100 mil pela primeira vez desde 2001.

“Isso não é obra do acaso. É fruto de muita dedicação. Policiais morreram, perderam suas vidas, heróis anônimos, para que São Paulo pudesse conseguir essa conquista”, disse na ocasião o governador Geraldo Alckmin (PSDB).Para um pesquisador que acompanhou a rotina de investigadores de homicídios em São Paulo, o responsável pela queda é outro: o próprio crime organizado – no caso, o PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção que atua dentro e fora dos presídios do Estado.

“A regulação do PCC é o principal fator sobre a vida e a morte em São Paulo. O PCC é produto, produtor e regulador da violência”, diz o canadense Graham Willis, em defesa da hipótese que circula no meio acadêmico e é considerada “ridícula” pelo governo paulista.

Professor da Universidade de Cambridge (Inglaterra), Willis lança nova luz sobre a chamada “hipótese PCC”, num trabalho de imersão que acompanhou a rotina de policiais do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de São Paulo entre 2009 e 2012.

A pesquisa teve acesso a dezenas de documentos internos apreendidos com um membro do PCC e ouviu moradores, comerciantes e criminosos em uma comunidade dominada pela facção na zona leste de São Paulo, em 2007 e 2011.

Teorias do ‘quase tudo’

O trabalho questiona teorias que, segundo Willis, procuram apoio em “quase tudo” para explicar o notório declínio da violência homicida em São Paulo: mudanças demográficas, desarmamento, redução do desemprego, reforço do policiamento em áreas críticas.

“O sistema de segurança pública nunca estabeleceu por que houve essa queda de homicídios nos últimos 15 anos. E nunca transmitiu uma história crível. Falam em políticas públicas, policiamento de hotspots (áreas críticas), mas isso não dá para explicar”, diz.

Em geral, a argumentação de Willis é a seguinte: a queda de 73% nos homicídios no Estado desde 2001, marco inicial da atual série histórica, é muito brusca para ser explicada por fatores de longo prazo como avanços socioeconômicos e mudanças na polícia.

Isso fica claro, diz o pesquisador, quando se constata que, antes da redução, os homicídios se concentravam de forma desproporcional em bairros da periferia da capital paulista: Jardim Ângela, Cidade Tiradentes, Capão Redondo, Brasilândia.

A pacificação nesses locais – com quedas de quase 80% – coincide com o momento, a partir de 2003, em que a estrutura do PCC se ramifica e chega ao cotidiano dessas regiões.

“A queda foi tão rápida que não indica um fator socioeconômico ou de policiamento, que seria algo de longo prazo. Deu-se em vários espaços da cidade mais ou menos na mesma época. E não há dados sobre políticas públicas específicas nesses locais para explicar essas tendências”, diz ele, que baseou suas conclusões em observações de campo.

Vídeo: http://tvuol.tv/bgdw3x

Canal de autoridade

Criado em 1993 com o objetivo declarado de “combater a opressão no sistema prisional paulista” e “vingar” as 111 mortes do massacre do Carandiru, o PCC começa a representar um canal de autoridade em áreas até então caracterizadas pela ausência estatal a partir dos anos 2000, à medida que descentraliza suas decisões.

Os pilares dessa autoridade, segundo Willis e outros pesquisadores que estudaram a facção, são a segurança relativa, noções de solidariedade e estruturas de assistência social. Nesse sentido, a polícia, tradicionalmente vista nesses locais como violenta e corrupta, foi substituída por outra ordem social.

“Quando estive numa comunidade controlada pela facção, moradores diziam que podiam dormir tranquilos com portas e janelas destrancadas”, escreve Willis no recém-lançado The Killing Consensus: Police, Organized Crime and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil (O Consenso Assassino: Polícia, Crime Organizado e a Regulação da Vida e da Morte no Brasil Urbano, em tradução livre), livro em que descreve os resultados da investigação.

Antes do domínio do PCC, relata Willis, predominava uma violência difusa e intensa na capital paulista (que responde por 25% dos homicídios no Estado). Gangues lutavam na economia das drogas e abriam espaço para a criminalidade generalizada. O cenário muda quando a facção transpõe às ruas as regras de controle da violência que estabelecera nos presídios.

“Para a organização manter suas atividades criminosas é muito melhor ficar ‘muda’ para não chamar atenção e ter um ambiente de segurança controlado, com regras internas muito rígidas que funcionem”, avalia Willis, que descreve no livro os sistemas de punição da facção.

O pesquisador considera que as ondas de violência promovidas pelo PCC em São Paulo em 2006 e em 2012, com ataques a policiais e a instalações públicas, são pontos fora da curva, episódios de resposta à violência estatal.

“Eles não ficam violentos quando o problema é a repressão ao tráfico, por exemplo, mas quando sentem a sua segurança ameaçada. E a resposta da polícia é ser mais violenta, o que fortalece a ideia entre criminosos de que precisam de proteção. Ou seja, quanto mais você ataca o PCC, mais forte ele fica.”

Apuração em xeque

Willis critica a forma como São Paulo contabiliza seus mortos em situações violentas – e diz que o cenário real é provavelmente mais grave do que o discurso oficial sugere.

Ele questiona, por exemplo, a existência de ao menos nove classificações de mortes violentas em potencial (ossadas encontradas, suicídio, morte suspeita, morte a esclarecer, roubo seguido de morte/latrocínio, homicídio culposo, resistência seguida de morte e homicídio doloso) e diz que a multiplicidade de categorias mascara a realidade.

“Em geral, a investigação de homicídios não acontece em todo o caso. Cada morte suspeita tem que ser avaliada primeiramente por um delegado antes de se decidir se vai ser investigado como homicídio, enquanto em varias cidades do mundo qualquer morte suspeita é investigada como homicídio.”

Para ele, deveria haver mais transparência sobre a taxa de resolução de homicídios (que em São Paulo, diz, fica em torno de 30%, mas inclui casos arquivados sem definições de responsáveis) e sobre o próprio trabalho dos policiais que apuram os casos, que ele vê como um dos mais desvalorizados dentro da instituição.

“Normalmente se pensa em divisão de homicídios como organização de ponta. Mas é o contrário: é um lugar profundamente subvalorizado dentro da polícia, de policiais jovens ou em fim de carreira que desejam sair de lá o mais rápido possível. Policiais suspeitam de quem trabalha lá, em parte porque investigam policiais envolvidos em mortes, mas também porque as vidas que investigam em geral não têm valor, são pessoas de partes pobres da cidade.”

Para ele, o desaparelhamento da investigação de homicídios contrasta com a estrutura de batalhões especializados em repressão, como a Rota e a Força Tática da Polícia Militar.

“Esses policiais têm carros incríveis, caveirões, armas de ponta. Isso mostra muito bem a prioridade dos políticos, que é a repressão física a moradores pobres e negros da periferia. Não é investigar a vida dessas pessoas quando morrem.”

Outro lado

Críticos da chamada “hipótese PCC” costumam levantar a seguinte questão: se a retração nos homicídios não ocorreu por ação da polícia, como explicar a queda em outros índices criminais? Segundo o governo, por exemplo, São Paulo teve queda geral da criminalidade no ano passado em relação a 2014. A facção, ironizam os críticos, estaria então ajudando na queda desses crimes também?

“Variações estatísticas não necessariamente refletem ações do Estado”, diz Willis. Para ele, estudos já mostraram que mais atividade policial não significa sempre menor criminalidade.

Willis diz ainda que as variações estatísticas nesses outros crimes não são significativas, e que o PCC não depende de roubos de carga, veículos ou bancos, mas do pequeno tráfico de drogas com o qual os membros bancam as contribuições obrigatórias à facção.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse considerar a hipótese de Willis sobre o declínio dos homicídios “ridícula e amplamente desmentida pela realidade de todos os índices criminais” do Estado.

Afirma que a taxa no Estado é quase três vezes menor do que a média nacional (25,1 casos por 100 mil habitantes) e “qualquer pesquisador com o mínimo de rigor sabe que propor uma relação de causa e efeito neste sentido é brigar contra as regras básicas da ciência”.

A pasta informou que todos crimes cometidos por policiais no Estado são punidos – citou 1.445 expulsões, 654 demissões e 1.849 policiais presos desde 2011 – e negou a existência de grupos de extermínio nas corporações.

Sobre o fato de não incluir mortes cometidas por policiais na soma oficial dos homicídios, mas em categoria à parte, disse que “todos os Estados” brasileiros e a “maioria dos países, inclusive os Estados Unidos” adotam a mesma metodologia.

A secretaria não comentou as considerações de Willis sobre a estrutura da investigação de homicídios no Estado e a suposta prioridade dada à forças voltadas à repressão.

Poor air quality kills 5.5 million worldwide annually (Science Daily)

Date: February 12, 2016

Source: University of British Columbia

Summary: New research shows that more than 5.5 million people die prematurely every year due to household and outdoor air pollution. More than half of deaths occur in two of the world’s fastest growing economies, China and India.


New research shows that more than 5.5 million people die prematurely every year due to household and outdoor air pollution. More than half of deaths occur in two of the world’s fastest growing economies, China and India. Credit: Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), University of Washington

New research shows that more than 5.5 million people die prematurely every year due to household and outdoor air pollution. More than half of deaths occur in two of the world’s fastest growing economies, China and India.

Power plants, industrial manufacturing, vehicle exhaust and burning coal and wood all release small particles into the air that are dangerous to a person’s health. New research, presented today at the 2016 annual meeting of the American Association for the Advancement of Science (AAAS), found that despite efforts to limit future emissions, the number of premature deaths linked to air pollution will climb over the next two decades unless more aggressive targets are set.

“Air pollution is the fourth highest risk factor for death globally and by far the leading environmental risk factor for disease,” said Michael Brauer, a professor at the University of British Columbia’s School of Population and Public Health in Vancouver, Canada. “Reducing air pollution is an incredibly efficient way to improve the health of a population.”

For the AAAS meeting, researchers from Canada, the United States, China and India assembled estimates of air pollution levels in China and India and calculated the impact on health.

Their analysis shows that the two countries account for 55 per cent of the deaths caused by air pollution worldwide. About 1.6 million people died of air pollution in China and 1.4 million died in India in 2013.

In China, burning coal is the biggest contributor to poor air quality. Qiao Ma, a PhD student at the School of Environment, Tsinghua University in Beijing, China, found that outdoor air pollution from coal alone caused an estimated 366,000 deaths in China in 2013.

Ma also calculated the expected number of premature deaths in China in the future if the country meets its current targets to restrict coal combustion and emissions through a combination of energy policies and pollution controls. She found that air pollution will cause anywhere from 990,000 to 1.3 million premature deaths in 2030 unless even more ambitious targets are introduced.

“Our study highlights the urgent need for even more aggressive strategies to reduce emissions from coal and from other sectors,” said Ma.

In India, a major contributor to poor air quality is the practice of burning wood, dung and similar sources of biomass for cooking and heating. Millions of families, among the poorest in India, are regularly exposed to high levels of particulate matter in their own homes.

“India needs a three-pronged mitigation approach to address industrial coal burning, open burning for agriculture, and household air pollution sources,” said Chandra Venkataraman, professor of Chemical Engineering at the Indian Institute of Technology Bombay, in Mumbai, India.

In the last 50 years, North America, Western Europe and Japan have made massive strides to combat pollution by using cleaner fuels, more efficient vehicles, limiting coal burning and putting restrictions on electric power plants and factories.

“Having been in charge of designing and implementing strategies to improve air in the United States, I know how difficult it is. Developing countries have a tremendous task in front of them,” said Dan Greenbaum, president of Health Effects Institute, a non-profit organization based in Boston that sponsors targeted efforts to analyze the health burden from different air pollution sources. “This research helps guide the way by identifying the actions which can best improve public health.”

Video: https://youtu.be/Kwoqa84npsU

Background:

The research is an extension of the Global Burden of Disease study, an international collaboration led by the Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) at the University of Washington that systematically measured health and its risk factors, including air pollution levels, for 188 countries between 1990 and 2013. The air pollution research is led by researchers at the University of British Columbia and the Health Effects Institute.

Additional facts about air pollution:

  • World Health Organization (WHO) air quality guidelines set daily particulate matter at 25 micrograms per cubic metre.
  • At this time of year, Beijing and New Delhi will see daily levels at or above 300 micrograms per cubic meter metre; 1,200 per cent higher than WHO guidelines.
  • While air pollution has decreased in most high-income countries in the past 20 years, global levels are up largely because of South Asia, Southeast Asia, and China. More than 85 per cent of the world’s population now lives in areas where the World Health Organization Air Quality Guideline is exceeded.
  • The researchers say that strict control of particulate matter is critical because of changing demographics. Researchers predict that if air pollution levels remain constant, the number of deaths will increase because the population is aging and older people are more susceptible to illnesses caused by poor air quality.
  • According to the Global Burden of Disease study, air pollution causes more deaths than other risk factors like malnutrition, obesity, alcohol and drug abuse, and unsafe sex. It is the fourth greatest risk behind high blood pressure, dietary risks and smoking.
  • Cardiovascular disease accounts for the majority of deaths from air pollution with additional impacts from lung cancer, chronic obstructive pulmonary disease (COPD) and respiratory infections.

New appreciation for human micro biome leads to greater understanding of human health (Science Daily)

Date: February 14, 2016

Source: University of Oklahoma

Summary: Anthropologists are studying the ancient and modern human micro biome and the role it plays in human health and disease. By applying genomic and proteomic sequencing technologies to ancient human microbiomes, such as coprolites and dental calculus, as well as to contemporary microbiomes in traditional and industrialized societies, Researchers are advancing the understanding of the evolutionary history of our microbial self and its impact on human health today.


University of Oklahoma anthropologists are studying the ancient and modern human microbiome and the role it plays in human health and disease. By applying genomic and proteomic sequencing technologies to ancient human microbiomes, such as coprolites and dental calculus, as well as to contemporary microbiomes in traditional and industrialized societies, OU researchers are advancing the understanding of the evolutionary history of our microbial self and its impact on human health today.

Christina Warinner, professor in the Department of Anthropology, OU College of Arts and Sciences, will present, “The Evolution and Ecology of Our Microbial Self,” during the American Association for the Advancement of Science panel on Evolutionary Biology Impacts on Medicine and Public Health, at 1:30 pm, Sunday, Feb. 14, 2016 in the Marriott Marshall Ballroom West, Washington, DC. Warinner will discuss how major events, such as the invention of agriculture and the advent of industrialization, have affected the human microbiome.

“We don’t have a complete picture of the microbiome,” Warinner said. “OU research indicates human behavior over the past 2000 years has impacted the gut microbiome. Microbial communities have become disturbed, but before we can improve our health, we have to understand our ancestral microbiome. We cannot make targeted or informed interventions until we know that. Ancient samples allow us to directly measure changes in the human microbiome at specific times and places in the past.”

Warinner and colleague, Cecil M. Lewis, Jr., co-direct OU’s Laboratories of Molecular Anthropology and Microbiome Research and the research focused on reconstructing the ancestral human oral and gut microbiome, addressing questions concerning how the relationship between humans and microbes has changed through time and how our microbiomes influence health and disease in diverse populations, both today and in the past. Warinner and Lewis are leaders in the field of paleogenomics, and the OU laboratories house the largest ancient DNA laboratory in the United States.

Warinner is pioneering the study of ancient human microbiomes, and in 2014 she published the first detailed metagenomics and metaproteomic characterization of the ancient oral microbiome in the journal Nature Genetics. In 2015, she published a study on the identification of milk proteins in ancient dental calculus and the reconstruction of prehistoric European dairying practices. In the same year, she was part of an international team that published the first South American hunter-gatherer gut microbiome and identified Treponema as a key missing ancestral microbe in industrialized societies.

A new form of frozen water? (Science Daily)

New study describes what could be the 18th known form of ice

Date:
February 12, 2016
Source:
University of Nebraska-Lincoln
Summary:
A research team has predicted a new molecular form of ice with a record-low density. If the ice can be synthesized, it would become the 18th known crystalline form of water and the first discovered in the US since before World War II.

This illustration shows the ice’s molecular configuration. Credit: Courtesy photo/Yingying Huang and Chongqin Zhu 

Amid the season known for transforming Nebraska into an outdoor ice rink, a University of Nebraska-Lincoln-led research team has predicted a new molecular form of the slippery stuff that even Mother Nature has never borne.

The proposed ice, which the researchers describe in a Feb. 12, 2016 study in the journal Science Advances, would be about 25 percent less dense than a record-low form synthesized by a European team in 2014.

If the ice can be synthesized, it would become the 18th known crystalline form of water — and the first discovered in the United States since before World War II.

“We performed a lot of calculations (focused on) whether this is not just a low-density ice, but perhaps the lowest-density ice to date,” said Xiao Cheng Zeng, an Ameritas University Professor of chemistry who co-authored the study. “A lot of people are interested in predicting a new ice structure beyond the state of the art.”

This newest finding represents the latest in a long line of ice-related research from Zeng, who previously discovered a two-dimensional “Nebraska Ice” that contracts rather than expands when frozen under certain conditions.

Zeng’s newest study, which was co-led by Dalian University of Technology’s Jijun Zhao, used a computational algorithm and molecular simulation to determine the ranges of extreme pressure and temperature under which water would freeze into the predicted configuration. That configuration takes the form of a clathrate — essentially a series of water molecules that form an interlocking cage-like structure.

It was long believed that these cages could maintain their structural integrity only when housing “guest molecules” such as methane, which fills an abundance of natural clathrates found on the ocean floor and in permafrost. Like the European team before them, however, Zeng and his colleagues have calculated that their clathrate would retain its stability even after its guest molecules have been evicted.

Actually synthesizing the clathrate will take some effort. Based on the team’s calculations, the new ice will form only when water molecules are placed inside an enclosed space that is subjected to ultra-high, outwardly expanding pressure.

Just how much? At minus-10 Fahrenheit, the enclosure would need to be surrounded by expansion pressure about four times greater than what is found at the Pacific Ocean’s deepest trench. At minus-460, that pressure would need to be even greater — roughly the same amount experienced by a person shouldering 300 jumbo jets at sea level.

The guest molecules would then need to be extracted via a vacuuming process pioneered by the European team, which Zeng credited with inspiring his own group to conduct the new study.

Yet Zeng said the wonders of ordinary ice — the type that has covered Earth for billions of years — have also motivated his team’s research.

“Water and ice are forever interesting because they have such relevance to human beings and life,” Zeng said. “If you think about it, the low density of natural ice protects the water below it; if it were denser, water would freeze from the bottom up, and no living species could survive. So Mother Nature’s combination is just so perfect.”

If confirmed, the new form of ice will be called “Ice XVII,” a naming quirk that resulted from scientists terming the first two identified forms “Ice I.”

Zeng and Zhao co-authored the Science Advances study with UNL postdoctoral researcher Chongqin Zhu; Yingying Huang, a visiting research fellow from the Dalian University of Technology; and researchers from the Chinese Academy of Sciences and the University of Science and Technology of China.

The team’s research was funded in part by the National Science Foundation and conducted with the assistance of UNL’s Holland Computing Center.


Journal Reference:

  1. Y. Huang, C. Zhu, L. Wang, X. Cao, Y. Su, X. Jiang, S. Meng, J. Zhao, X. C. Zeng. A new phase diagram of water under negative pressure: The rise of the lowest-density clathrate s-IIIScience Advances, 2016; 2 (2): e1501010 DOI: 10.1126/sciadv.1501010

Viveiros, indisciplina-te! (GEAC)

Posted on Fevereiro 12, 2016

viveiros

Por Alex Martins Moraes e Juliana Mesomo

Enquanto agita a bandeira da descolonização do pensamento e nos alimenta com uma fonte inesgotável de alteridade radical, Viveiros de Castro permanece aferrado à disciplina antropológica e ao senso comum policialesco que a sustenta. Fora da academia, contudo, sua obra vem sendo reconectada à ação política transformadora. Resta-nos, então, a esperança de que Viveiros indiscipline-se

* * *

A minha hipótese é que as teorias e disciplinas reagirão de modo não-teórico e não disciplinar quando forem objeto de questões não previstas por elas. 

Boaventura de Sousa Santos

Como eu “vivo a política?” Ora, vtnc.

Viveiros de Castro

Quando fazemos uso de nomes próprios e referências diretas a determinadas declarações públicas não estamos buscando discutir características pessoais, mas sim a relevância e o poder de interpelação de determinadas posturas teórico-políticas.

I.

Faz quarenta anos que a prática antropológica em geral e especificamente as práticas da antropologia disciplinar vêm sendo problematizadas a partir de enfoques variados em diversos países. O triunfo dos movimentos de libertação nacional em África, Ásia e Oceania, associado aos processos de descolonização epistêmica que problematizaram os regimes de representação da alteridade enraizados nas academias metropolitanas, desencadeou um movimento reflexivo que repercutiu com força nas antropologias hegemônicas. O antropólogo haitiano Michel Trouillot caracterizou tal processo como o esvaziamento empírico do “nicho do Selvagem”: enquanto disciplina, a antropologia dependia do Selvagem-objeto, mas este agora enunciava a si mesmo, sua história e seus projetos em primeira pessoa. Para Trouillot, a antropologia surgiu no final do século XIX incumbida de disciplinar o “nicho do Selvagem”, anteriormente objeto de especulações em novelas utópicas, relatos de viagens ao Novo Mundo e informes para-etnográficos. Dentro do esquema discursivo evidenciado pelo autor, o Selvagem é aquele que alimenta diferentes Utopias destinadas a refundar a Ordem, entendida como expressão da universalidade legítima. A tríade Ordem-Utopia-Selvagem que sustentava as metanarrativas ocidentais estava, no entanto, dissolvendo-se e tal processo ameaçava a autossuficiência da disciplina antropológica.

Abalados pelo impacto da crítica pós-colonial, os domínios da disciplina pareciam inférteis aos olhos daqueles que ainda cultuavam a velha e boa Antropologia, outrora presidida sem embaraço pelos mandarins de Cambridge. O setor mais cético e enclassado da disciplina manteve uma desconfiança profunda em relação a qualquer tipo de engajamento intelectual que se deixasse afetar – no tocante às suas preocupações e aos seus objetivos – por vetores políticos extra-acadêmicos. Para referido setor o panorama desolador do período que poderíamos definir como “pós-crítica” exigia Restauração. A avidez por restaurar a Antropologia encontrou eco, num primeiro momento, no cinismo de tipo geertziano. Hermenêutica em punho, Geertz profetizou que o novo destino da Antropologia seria contribuir para a expansão dos horizontes da racionalidade humana através da tradução intercultural. Malgrado seu passado colonial, a disciplina antropológica preservaria uma tendência inata de valor não desprezível: a capacidade de ouvir o outro e decodificar sua cultura. Não era exatamente disso que precisávamos num mundo marcado pela intolerância e pela incompreensão?

As alternativas a la Geertz não bastavam, contudo, para devolver à Antropologia sua antiga auto-suficiência. Passar o resto da vida operando traduções interculturais para mitigar as catástrofes da modernidade tardia não parecia um destino à altura daquela disciplina que havia dispendido boa parte do século XX na ousada tarefa de confrontar o narcisismo moderno com a imagem desafiadora do seu outro selvagem. Entretanto, a “linha forte” do restauracionismo disciplinar teria de esperar até os anos noventa para encontrar no perspectivismo ameríndio um dos seus mais promissores cavalos de batalha. A potência do paradigma esgrimido por Viveiros de Castro residia em sua capacidade de matar dois coelhos numa cajadada só: ao passo que flertava com o espírito do seu tempo, respondendo ao compromisso político com a descolonização da disciplina, também restaurava o “nicho do selvagem”, objeto que, como apontou Trouillot, havia sido herdado e nunca verdadeiramente questionado pelas expressões hegemônicas da antropologia. Na “geografia da imaginação” que engendrou o Ocidente e a antropologia disciplinar, o Selvagem foi frequentemente uma projeção utópica. “Agora, como então – diz Trouillot –, o Selvagem é apenas evidência num debate cuja importância ultrapassa não só seu entendimento, mas também sua existência. Assim como a Utopia pode ser oferecida como uma promessa ou como uma ilusão perigosa, o Selvagem pode ser nobre, sábio, bárbaro, vítima ou agressor, dependendo do debate e dos propósitos dos interlocutores” (p.67 [acessar texto aqui])

Diante do encerro de alguns antropólogos nos corredores da academia e do desinteresse de outros em vincular sua produção a grandes debates estruturais, foi Viveiros quem soube construir uma ponte entre o discurso antropológico e a formulação de enunciados políticos radicais e abrangentes. Por outro lado – e paradoxalmente – Viveiros erigiu seu lugar de fala sobre o velho “nicho do selvagem”, que agora retorna a nós em sua faceta utópica, capaz de iluminar alternativas imediatas e anistóricas às vicissitudes da modernidade ocidental. Reivindicado em entrevistas e ensaios teóricos, o Pensamento Selvagem serve de “controle” para imaginar Utopias – virtualidades que poderiam ser atualizadas em “nossa” própria antropologia, em “nosso” próprio mundo, etc. Aqui cabe recuperar novamente a súplica de Michel Trouillot: os sujeitos históricos com voz própria aos quais se reporta Viveiros merecem muito mais do que um “nicho”; merecem ser muito mais do que a projeção das ânsias de refundar a metafísica. Para o autor, devemos ser capazes de desestabilizar e, eventualmente, destruir o “nicho do Selvagem” para poder relacionar-nos com a alteridade em sua especificidade e legitimidade histórica, que sempre escapam ao universalismo. A dicotomia “nós e o resto”, implícita na ordem simbólica que engendra a ideia de Ocidente, é um construto ideológico, afinal “não há apenas um Outro, mas multidões de outros que são outros por diferentes razões, a pesar das narrativas totalizantes, incluindo a do capital” (p. 75).

Ao lançar mão do recurso ao nicho do Selvagem, Viveiros provoca um efeito de sedução que resulta não tanto das suas manobras conceituais, mas da necessidade que temos de alimentar a fonte inesgotável de exterioridade radical que poderia nos salvar do Ocidente. A outridade termina, assim, subsumida à mesmidade dos projetos de sempre – transformar a Antropologia, por exemplo. Em tal cenário, a disciplina antropológica é chamada a continuar seu trabalho, reassumindo a vocação de perscrutar fielmente o Outro selvagem refratado pela teoria de Viveiros de Castro. Trouillot vaticina: “enquanto o nicho [do Selvagem] existir, no melhor dos casos o Selvagem será uma figura de fala, uma metáfora num argumento sobre a natureza e o universo, sobre o ser e a existência – em suma, um argumento sobre o pensamento fundacional” (p. 68).

II.

Deixemos que Viveiros fale um pouco mais sobre a forma como concebe o promissor entrelaçamento entre a “nossa” Antropologia e o Pensamento Selvagem: “por transformações indígenas da antropologia entendo as transformações da estrutura conceitual do discurso antropológico suscitadas por seu alinhamento em simetria com as pragmáticas reflexivas indígenas, isto é, com aquelas etno-antropologias alheias que descrevem nossa própria (etno-) antropologia precisamente ao e por divergirem dela” (p.163 [acessar texto aqui]). O pensamento ameríndio consistiria, ele próprio, em uma ontologia política do sensível que, ao se alinhar com o discurso antropológico, se tornaria capaz de redefini-lo e de convertê-lo em enunciador de uma antropologia outra. Neste sentido, o conhecimento antropológico não operaria sobre um repertório cultural fechado em si mesmo, mas sim em meio a outro movimento reflexivo – o ameríndio – que é concebido como dinâmica ontológica transformacional capaz de instaurar, pelo menos no plano do conceito, uma mundaneidade completamente nova e potencialmente transgressora dos parâmetros epistemológicos da nossa etno-antropologia.

O problema começa quando dizemos que a dinâmica transformacional inerente à ontologia ameríndia possui um modus operandi determinado que nós, antropólogos, poderíamos abstrair mediante procedimento de “coloração contrastiva” (p.157). Procedendo assim, o antropólogo transforma a transformação outra em algo completamente desencarnado – fruto da construção artificial, laboratorial, em suma, contrastiva da alteridade radical. Na verdade essas dinâmicas transformacionais outras nas quais o discurso antropológico supostamente se imiscui não são outra coisa senão o resultado de um procedimento enunciativo disciplinar e disciplinador que submete a experiência ao conceito (“A revolução, ou a essa altura será melhor dizer, a insurreição e a alteração começam pelo conceito”, Viveiros, p. 155).

O “perspectivismo imanente” depreendido por Viveiros da análise formal dos mitos só pode existir enquanto subproduto da alteridade radical laboratorialmente forjada por uma antropologia que se obstina em negar a experiência e a voz própria dos homens e mulheres que são os verdadeiros sujeitos da história. Mesmo abundantes, os eufemismos de Viveiros são insuficientes para dissimular o recurso ao “nicho do selvagem” que abastece sua máquina textual. No final das contas, Viveiros quer comparar “transformações” – outro nome para cultura – e depois mobilizá-las na construção de enunciados políticos que suspendem a política, que nos conclamam ao estarrecimento resmungão e, no pior dos casos, nos transformam em moralistas que repetem insistentemente que as coisas poderiam – ou deveriam – ser diferentes do que são sem saber como, objetivamente, engajar-se nas dinâmicas transformacionais imanentes à realidade.

A ideia de transformação da antropologia enunciada por Viveiros de Castro é caudatária da ego-política do conhecimento. Nesta perspectiva profundamente desencarnada, a antropologia aparece como uma “estrutura conceitual” – e não como a expressão localizada de certo processo de institucionalização – que pode sofrer alinhamentos com a “pragmática reflexiva” indígena. Quem promove esses alinhamentos? Viveiros não explicita, mas só podemos concluir que são os próprios antropólogos que o fazem. Se now is the turn of the native, quem distribui os “turnos” na fila da legitimidade epistêmica (ou ontológica) é o próprio antropólogo.

No sentido oposto ao da ego-política do conhecimento, o Grupo de Estudos em Antropologia Crítica (GEAC) retomou a noção descolonial de corpo-política do conhecimento. Esta noção nos leva a definir a transformação da antropologia como um processo localizado de disputa encarnada – corporalizada – pela construção de outros lugares de enunciação e de novas formas de produzir efeitos de verdade. Pensar com os outros, como propõe Viveiros, significa, para nós algo muito mais radical. Significa pensar na presença concreta do outro, engajados corpo-politicamente com ele. O resultado disso não precisa ser, necessariamente, “antropologia”, “etnografia” ou qualquer outra forma de subsunção da radicalidade da ação histórica e da especificidade dos sujeitos à mesmidade do texto acadêmico. Não vemos necessidade de construir, laboratorialmente e por contraste, o pensamento do outro – ou, sendo fiéis a Viveiros, as formas outras de empreender a transformação – para, só depois, proceder à construção do comum.

III.

Viveiros quer transformar as estruturas conceituais da antropologia e colocá-las a serviço da descolonização do pensamento. Nós perguntamos: é possível fazê-lo sem abrir mão das formas específicas de exercício do poder que a antropologia avaliza enquanto disciplina? Viveiros reforça um senso comum de longa data cujo efeito é a neutralização de quaisquer práticas intelectuais dissidentes. Ele agita a bandeira da descolonização do pensamento sem prestar atenção às bases institucionais conservadoras sobre as quais repousa comodamente. Evidência disso é a facilidade com que o antropólogo descolonizador ironizou a interpelação que lhe fizemos anos atrás (acessar texto aqui) recorrendo àquela pergunta tão frequente nos espaços mais policialescos da disciplina: onde está a etnografia dessa gente?

Quando Viveiros procura deslegitimar nossa interpelação recorrendo à pergunta irônica sobre as “etnografias” que fomos ou não capazes de produzir, ele se inscreve completamente na história da qual pretende emancipar a disciplina. Uma história que erigiu a etnografia (o texto) em única expressão legítima do enunciado antropológico. Isso para não falar da leitura completamente narcísica feita por ele de nossa intervenção. Para Viveiros, tudo o que dissemos era a reprodução do discurso de nossos “orientadores” ou, até mesmo, uma tentativa de atacá-lo para salvar o Partido dos Trabalhadores (!). Enquanto líamos essas assertivas, nos lembrávamos da forma como alguns docentes reagiram à greve dos estudantes de mestrado em antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2011. Incrédulos diante das críticas que os estudantes faziam ao produtivismo acadêmico desenfreado, à escassez de bolsas e à nula participação discente na definição das políticas do programa de pós-graduação, determinados professores só puderam explicar o acontecimento recorrendo à lógica da cooptação: era o Partido Comunista (!) que estava por trás daquela imensa insensatez. A voz própria enunciada em primeira pessoa continua a ser desacreditada fortemente nos domínios da disciplina: não há sujeito histórico verdadeiramente autêntico, sempre “há algo” por trás que o explica e conduz. Reações desta ordem, que se recusam a reconhecer a autenticidade da fala do outro, são sintomas de um narcisismo antropológico-disciplinar que priva a si mesmo da possibilidade de mudar a própria perspectiva sobre as coisas: “ao adentrarmos o espaço da exterioridade e da verdade, só conseguimos ver reflexos e simulacros obsedantes de nós mesmos” (p.23 [acessar texto aqui]). Tudo aquilo que o establishment disciplinar contempla não pode ser outra coisa senão o reflexo da sua própria lógica de funcionamento.

Ao mesmo tempo que Viveiros atualiza em sua performance acadêmica as hierarquias silenciadoras e os sistemas de visibilidade que sustentam a disciplina que o legitima, ele também nos entrega, paradoxalmente, uma retórica descolonizadora. Sua crítica aguda e implacável à fé cega nas ideias-força da modernidade capitalocêntrica possui, sem dúvidas, uma potência suscetível de ser atualizada por quem deseja incidir nas relações de força concretas. Não só no Brasil, mas também em outros países da América do Sul, os enunciados produzidos por Viveiros de Castro são constelados em agenciamentos coletivos que ensaiam uma ruptura pragmática com o consenso das commodities e inauguram, assim, renovados espaços de imaginação política. Nestes casos, Viveiros é vivificado pela ação coletiva; sua crítica se associa com os imperativos das lutas atuais e é potencializada por uma poética materialista capaz de desenterrar outro mundo possível das entranhas deste mundo subsumido pelo capital. Peter Perbart tem razão: “ainda os que costumam planejar uma abstração radical (…) podem ser reconectados à terra ao entrar em contato com uma situação real e deixar para trás a imagem da qual muitas vezes são prisioneiros e na qual o poder insiste em enclausurá-los” (acessar texto).

Viveiros é vivificado pela política fora da academia. Dentro dela, no entanto, é disciplinado e sabe disciplinar. Aprisiona entre aspas todas as palavras que correm o risco de serem abastardadas pelo uso canalha (“grupo” de “antropologia” “crítica” – dizia no twitter). Insinua que por detrás da interpelação crítica a ele destinada se oculta o repreensível desejo de “aparecer”. É que ao atrair para si uma atenção da qual a priori não são merecedores, os responsáveis pela mais mínima inversão dos regimes convencionais de visibilidade acadêmica só podem ser encarados como usurpadores.

Nós questionamos estas tendências e procuramos problematizá-las através do espaço autônomo de diálogo e reflexão que é o GEAC. Enquanto a “filosopausa” não chega – e com ela a possibilidade de publicar textos aforísticos em revistas indexadas – decidimos construir, de direito próprio, um lugar amigável para desenvolver engajamentos e debates cuja emergência costuma ser obturada pelos estabelecimentos antropológicos mais conservadores.

Apesar da deriva filosófica, Viveiros de Castro continua aferrado à disciplina antropológica e ao senso comum que a sustenta. Resta-nos a esperança de que as ruas e a história o absolvam.  E de que Viveiros indiscipline-se.

Uma década de avanços em biotecnologia (Folha de S.Paulo)

11 de fevereiro de 2016

Lei de Biossegurança completa 10 anos dialogando com as mais recentes descobertas da ciência

Walter Colli – Instituto de Química, Universidade de São Paulo

Ao longo de 2015, uma silenciosa revolução biotecnológica aconteceu no Brasil. Neste ano a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) analisou e aprovou um número recorde de tecnologias aplicáveis à agricultura, medicina e produção de energia. O trabalho criterioso dos membros da CTNBio avaliou como seguros para a saúde humana e animal e para o ambiente 19 novos transgênicos, dentre os quais 13 plantas, três vacinas e três microrganismos ou derivados.

A CTNBio, priorizando o rigor nas análises de biossegurança e atenta às necessidades de produzir alimentos de maneira mais sustentável aprovou, no ano passado, variedades de soja, milho e algodão tolerantes a herbicidas com diferentes métodos de ação. Isso permitirá que as sementes desenvolvam todo seu potencial e que os produtores brasileiros tenham mais uma opção para a rotação de tecnologias no manejo de plantas daninhas. Sem essa ferramenta tecnológica, os agricultores ficariam reféns das limitações impostas pelas plantas invasoras. As tecnologias de resistência a insetos proporcionam benefícios semelhantes.

Na área da saúde, a revolução diz respeito aos métodos de combate a doenças que são endêmicas das regiões tropicais. Mais uma vez, mostrando-se parceira da sociedade, a CTNBio avaliou a biossegurança de duas vacinas recombinantes contra a Dengue em regime de urgência e deu parecer favorável a elas. Soma-se a estes esforços a aprovação do Aedes aegypti transgênico. O mosquito geneticamente modificado aprovado em 2014 tem se mostrado um aliado no combate ao inseto que, além de ser vetor da dengue, também está associado a casos de transmissão dos vírus Zika, Chikungunya e da febre amarela.

Nos últimos 10 anos, até o momento, o advento da nova CTNBio pela Lei 11.105 de 2005 – a Lei de Biossegurança – proporcionou a aprovação comercial de 82 Organismos Geneticamente Modificados (OGM): 52 eventos em plantas; 20 vacinas veterinárias; 7 microrganismos; 1 mosquito Aedes aegypti; e 2 vacinas para uso humano contra a Dengue. Essas liberações comerciais são a maior prova de que o Brasil lança mão da inovação para encontrar soluções para os desafios da contemporaneidade.

Entretanto, é necessário enfatizar que assuntos não relacionados com Ciência também se colocaram, como em anos anteriores, no caminho do desenvolvimento da biotecnologia em 2015. Manifestantes anti-ciência invadiram laboratórios e destruíram sete anos de pesquisas com plantas transgênicas de eucalipto e grupos anti-OGM chegaram a interromper reuniões da CTNBio, pondo abaixo portas com ações truculentas. Diversas inverdades foram publicadas na tentativa de colocar em dúvida a segurança e as contribuições que a transgenia vem dando para a sociedade. A ação desses grupos preocupa, pois, se sua ideologia for vitoriosa, tanto o progresso científico quanto o PIB brasileiros ficarão irreversivelmente prejudicados.

Hoje, a nossa Lei de Biossegurança é tida internacionalmente como um modelo de equilíbrio entre o rigor nas análises técnicas e a previsibilidade institucional necessária para haver o investimento. O reconhecimento global, o diálogo com a sociedade e a legitimidade dos critérios técnicos mostram que esses 10 anos são apenas o início de uma longa história de desenvolvimento e inovação no Brasil.

Argentine and Brazilian doctors suspect mosquito insecticide as cause of microcephaly (The Ecologist)

Claire Robinson / GMWatch

10th February 2016

With the proposed connection between the Zika virus and Brazil’s outbreak of microcephaly in new born babies looking increasingly tenuous, Latin American doctors are proposing another possible cause: Pyriproxyfen, a pesticide used in Brazil since 2014 to arrest the development of mosquito larvae in drinking water tanks. Might the ‘cure’ in fact be the poison?

Malformations detected in thousands of children from pregnant women living in areas where the Brazilian state added Pyriproxyfen to drinking water are not a coincidence, even though the Ministry of Health places direct blame on the Zika virus.

The World Health Organization view that the microcephaly outbreak in Brazil’s impoverished northeast is caused by the Zika virus has, so far, received few challenges.

Brazil’s Health Minister, Marcelo Castro, has gone so far as to say that he has “100% certainty”that there is a link between Zika and microcephaly, a birth defect in which babies are born with small heads.

The view is widely supported in the medical community worldwide, including by the US’s influential Center for Disease Control. But there is no hard evidence of the link, rather a mixture of epidemiological indications and circumstantial evidence.

One of the key scientific papers, by A S Oliveira Melo et al in the journal Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, found Zika virus in the amniotic fluids and other tissues of the affected babies and their mothers. But only two women were examined, far too small a number to establish a statistically significant link.

The New York Times also reported on 3rd February on the outcome of analyses by Brazil’s Health Ministry: “Of the cases examined so far, 404 have been confirmed as having microcephaly. Only 17 of them tested positive for the Zika virus. But the government and many researchers say that number may be largely irrelevant, because their tests would find the presence of the virus in only a tiny percentage of cases.”

And last weekend, the most powerful indicator yet that the microcephaly may have another cause altogether was announced by Colombia’s president, Juan Manuel Santos, as reported by the Washington Post. Colombian public health officials, stated Santos, have so far diagnosed 3,177 pregnant women with the Zika virus- but in no case had microcephaly been observed in the foetus.

Argentine doctors: it’s the insecticide

Now a new report has been published by the Argentine doctors’ organisation, Physicians in the Crop-Sprayed Towns (PCST), [1] which not only challenges the theory that the Zika virus epidemic in Brazil is the cause of the increase in microcephaly among newborns, but proposes an alternative explanation.

According to PCST, the Ministry failed to recognise that in the area where most sick people live, a chemical larvicide that produces malformations in mosquitoes was introduced into the drinking water supply in 2014.

This pesticide, Pyriproxyfen, is used in a state-controlled programme aimed at eradicating disease-carrying mosquitos. The Physicians added that the Pyriproxyfen is manufactured by Sumitomo Chemical, a Japanese ‘strategic partner‘ of Monsanto. – a company they have learned to distrust due to the vast volume of the company’s pesticides sprayed onto Argentina’s cropland.

Pyriproxyfen is a growth inhibitor of mosquito larvae, which alters the development process from larva to pupa to adult, thus generating malformations in developing mosquitoes and killing or disabling them. It acts as an insect juvenile hormone or juvenoid, and has the effect of inhibiting the development of adult insect characteristics (for example, wings and mature external genitalia) and reproductive development.

The chemical has a relatively low risk profile as shown by its WHO listing, with low acute toxicity. Tests carried out in a variety of animals by Sumitomo found that it was not a teratogen (did not cause birth defects) in the mammals it was tested on. However this cannot be taken as a completely reliable indicator of its effects in humans – especially in the face of opposing evidence.

The PCST commented: “Malformations detected in thousands of children from pregnant women living in areas where the Brazilian state added Pyriproxyfen to drinking water are not a coincidence, even though the Ministry of Health places a direct blame on the Zika virus for this damage.”

They also noted that Zika has traditionally been held to be a relatively benign disease that has never before been associated with birth defects, even in areas where it infects 75% of the population.

Brazilian doctors also suspect pyriproxyfen

Pyriproxyfen is a relatively new introduction to the Brazilian environment; the microcephaly increase is a relatively new phenomenon. So the larvicide seems a plausible causative factor in microcephaly – far more so than GM mosquitos, which some have blamed for the Zika epidemic and thus for the birth defects.

The PCST report, which also addresses the Dengue fever epidemic in Brazil, concurs with the findings of a separate report on the Zika outbreak by the Brazilian doctors’ and public health researchers’ organisation, Abrasco. [2]

Abrasco also names Pyriproxyfen as a possible cause of the microcephaly. It condemns the strategy of chemical control of Zika-carrying mosquitoes, which it says is contaminating the environment as well as people and is not decreasing the numbers of mosquitoes.

Instead Abrasco suggests that this strategy is in fact driven by the commercial interests of the chemical industry, which it says is deeply integrated into the Latin American ministries of health, as well as the World Health Organization and the Pan American Health Organisation.

Abrasco names the British GM insect company Oxitec as part of the corporate lobby that is distorting the facts about Zika to suit its own profit-making agenda. Oxitec sells GM mosquitoes engineered for sterility and markets them as a disease-combatting product – a strategy condemned by the Argentine Physicians as “a total failure, except for the company supplying mosquitoes.”

Both the Brazilian and Argentine doctors’ and researchers’ associations agree that poverty is a key neglected factor in the Zika epidemic. Abrasco condemned the Brazilian government for its “deliberate concealment” of economic and social causes: “In Argentina and across America the poorest populations with the least access to sanitation and safe water suffer most from the outbreak.” PCST agrees, stating, “The basis of the progress of the disease lies in inequality and poverty.”

Abrasco adds that the disease is closely linked to environmental degradation: floods caused by logging and the massive use of herbicides on (GM) herbicide-tolerant soy crops – in short, “the impacts of extractive industries.”

The notion that environmental degradation may a factor in the spread of Zika finds backing in the view of Dino Martins, PhD, a Kenyan entomologist. Martins said that “the explosion of mosquitoes in urban areas, which is driving the Zika crisis” is caused by “a lack of natural diversity that would otherwise keep mosquito populations under control, and the proliferation of waste and lack of disposal in some areas which provide artificial habitat for breeding mosquitoes.”

Community-based actions

The Argentine Physicians believe that the best defence against Zika is “community-based actions”. An example of such actions is featured in a BBC News report on the Dengue virus in El Salvador.

A favourite breeding place for disease-carrying mosquitoes is storage containers of standing water. El Salvadorians have started keeping fish in the water containers, and the fish eat the mosquito larvae. Dengue has vanished along with the mosquitoes that transmit the disease. And so far, the locals don’t have any Zika cases either.

Simple yet effective programmes like this are in danger of being neglected in Brazil in favour of the corporate-backed programmes of pesticide spraying and releasing GM mosquitoes. The latter is completely unproven and the former may be causing far more serious harm than the mosquitoes that are being targeted.

 


 

Claire Robinson is an editor at GMWatch.

This article was originally published by GMWatch. This version includes additional reporting by The Ecologist.

Notes

1. ‘Report from Physicians in the Crop-Sprayed Towns regarding Dengue-Zika, microcephaly, and mass-spraying with chemical poisons‘. 2016. Physicians in the Crop-Sprayed Towns.

2. ‘Nota técnica e carta aberta à população: Microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti: os perigos das abordagens com larvicidas e nebulização química – fumacê‘. January 2016. GT Salud y Ambiente. Asociación Brasileña de Salud Colectiva. ABRASCO.

 

Nota técnica sobre microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti: os perigos das abordagens com larvicidas e nebulizações químicas – fumacê (Abrasco)

Grupos Temáticos da Abrasco produzem Nota Técnica com reflexões, questionamentos e proposições de orientação

Nós, sanitaristas e pesquisadores da Saúde Coletiva que atuamos no GTs Saúde e Ambiente; Saúde do Trabalhador; Vigilância Sanitária; Promoção da Saúde e Desenvolvimento Sustentável; Educação Popular e Saúde e Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), vimos a público porque temos o dever de elaborar reflexões, questionamentos e fazer proposições que possam orientar as políticas públicas na intervenção preventiva frente às epidemias de microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti. Dentre os eventos sanitários clinicamente visíveis, as problemáticas relacionadas às doenças vetoriais surgem como  um dos mais importantes eventos sanitários pós Segunda Guerra Mundial.

Como se sabe, foi decisão do Ministério da Saúde (MS) imputar a associação da epidemia de microcefalia à infecção materno-fetal pelo vírus da Zika, supostamente introduzido no Brasil em 2014, no Nordeste brasileiro. Diante da inusitada incidência foi determinado o estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, desencadeando a intensificação do controle vetorial do Aedes aegypti, dentro da mesma abordagem utilizada para Dengue, que há cerca 40 anos é realizada sem efetividade para os objetivos pretendidos.

Contexto do surgimento da epidemia

O quadro sanitário no qual emerge a epidemia de microcefalia deve ser analisado considerando-se os graves problemas que estão presentes na realidade socioambiental em que ocorreram os casos e no modelo operacional de controle vetorial. A distribuição espacial por local de moradia das mães dos recém-nascidos com microcefalia (ou suspeitos) é maior nas áreas mais pobres, com urbanização precária e com saneamento ambiental inadequado, com provimento de água de forma intermitente, fato que leva essas populações ao armazenamento domiciliar inseguro de água, condição muito favorável para a reprodução do Aedes aegypti, constituindo-se em “criadouros” que não deveriam existir, e que são passíveis de eliminação mecânica.

Alguns fatos que ainda precisam ser questionados e investigados podem justificar a introdução e a disseminação do vírus Zika. É necessário avaliar quais contextos e contingências existiram e aconteceram em 2014 nos locais de aparecimento dos casos de microcefalia. Podemos aventar alguns por saltarem aos olhos, como:

1) Na região Nordeste, em especial na periferia das suas Regiões Metropolitanas, como a de Recife, pode ter havido aumento da degradação ambiental, por existirem nelas todas as condições para a manutenção da alta densidade do Aedes aegypti, pelos baixos indicadores de saneamento ambiental, relacionados ao abastecimento de água, ao esgotamento sanitário, à imensa presença de resíduos sólidos junto aos domicílios e às deficiências de drenagem de águas pluviais. A propósito desta questão, a Revista RADIS Comunicação e Saúde da Fiocruz (n.154, julho 2015) traz uma esclarecedora matéria sobre saneamento ambiental mostrando sua defasagem e os graves problemas ainda não solucionados, o que se agrava pelos indícios de que haverá um retardo de anos no Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) com o ajuste fiscal.[1]

2) A utilização continuada de larvicidas químicos na água de beber dessas famílias há mais de 40 anos sem, contudo, implicar na redução do número de casos de doenças provocadas por arbovírus. Em 2014 foi introduzido na água de beber das populações nos domicílios e nas vias públicas um novo larvicida o Pyriproxyfen. Conforme orientação técnica do MS[2] esse larvicida é um análogo do hormônio juvenil ou juvenóide, tendo como mecanismo de ação a inibição do desenvolvimento das características adultas do inseto (por exemplo, asas, maturação dos órgãos reprodutivos e genitália externa), mantendo-o com aspecto “imaturo” (ninfa ou larva), quer dizer age por desregulação endócrina e é teratogênico e inibe a formação do inseto adulto.

3) A intensificação de processos migratórios pela atração de grandes empreendimentos, cujos trabalhadores passam a viver em condições sanitárias precárias nas periferias dos polos industriais (como o de Suape-PE, com trabalhadores vindos de outras regiões e estados do país e de Pecém-CE, com a presença de milhares de coreanos);

4) A Copa do Mundo de 2014, evento de massa de grande porte, teve uma subsede em Recife (Arena Pernambuco). Instalada no município de São Lourenço da Mata (IDH de 0,614), está em uma região com precárias condições sanitárias. Foi observada a maior concentração dos casos de microcefalia inicialmente notificados (600 casos suspeitos) nessas áreas;

5) Fragilidade da vigilância epidemiológica dos municípios e dos estados no diagnóstico diferencial, na investigação de arboviroses e na diferenciação entomológica;

6) As dificuldades na condução da vigilância da Zika e Chinkungunya, ao tratá-las como “dengue branda”.  Frise-se que a capacidade vetorial do Aedes aegypti para transmitir o vírus da Zyka e Chikungunya em nosso meio ainda não está devidamente estudada nem pelos entomologistas em nossos contextos socioambientais. Daí caber indagações: o que fez os casos de dengue se tornar mais graves, se antes era considerada doença benigna desde 1779 até 1950, sem provocar sequela e sem alterações hematológicas, conforme dados da OMS? Como está o sistema imunológico da população diante do modelo químico de controle vetorial e adotadas pelo MS em curso no País há cerca de 30 anos?

As estratégias adotadas pelo MS

Apesar das razões e incertezas que estão na determinação da ocorrência da epidemia de microcefalia, o caminho para o que se chama de “enfrentamento” foi o de intensificar o “combate” ao mosquito pela repetição do que vem sendo adotado há mais de 40 anos sem sucesso. Chamamos a atenção da sociedade para esta questão. Por quais razões, apesar de todos os indicadores de ineficácia, o MS continua a utilizar a mesma abordagem para o controle do mosquito transmissor do vírus da dengue, doença cuja transmissão depende também de outros elementos? Mesmo desencadeando diversas capacitações para os profissionais de saúde e trabalhando em salas de situação para aprimorar o diagnostico e a notificação de casos das novas doenças virais; permanece sem integração as ações das Vigilâncias Epidemiológica, Sanitária e a Promoção da Saúde. O problema que queremos destacar nesta Nota Técnica de alerta está na essência do modelo de controle vetorial, haja vista a intensificação do uso de larvicidas e adulticidas para o Aedes aegypti, sendo que segundo as orientações adotadas pelo MS desde 2014, retrocede-se à orientação de utilização da técnica Ultra Baixo Volume (UBV)[3] com Malathion a 30% diluído em água, abrangendo  todo território nacional.

É preciso também problematizar o uso de produtos químicos numa escala que desconsidera as vulnerabilidades biológicas e socioambientais de pessoas e comunidades. O consumo de tais substâncias pela Saúde Pública só interessa aos seus produtores e comerciantes desses venenos. São insumos produzidos por um cartel de negócios muito lucrativo, que atua em todo o mundo e que, mesmo com evidências dos riscos provocados pelos organofosforados e piretroides, dos quais se conhecem tantos efeitos deletérios, têm tido o apoio de agências internacionais de Saúde Pública, como o Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma simples consulta às fichas de segurança química de tais produtos entregues pelas empresas aos órgãos de Saúde Pública mostra que esses produtos, a exemplo do Malathion, são neurotóxicos para o sistema nervoso central e periférico, além de provocarem náusea, vômito, diarreia, dificuldade respiratória e sintomas de fraqueza muscular, inclusive nas concentrações utilizadas no controle vetorial. Quanto à toxicidade ambiental é recomendado evitar seu uso no meio ambiente, o que não tem sido observado, pois seu lançamento é feito da forma como aqui denunciamos. Tais agências se constituem em instâncias de decisão para a compra e distribuição de venenos para todos os países vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU). Os fornecedores são os mesmos cartéis de empresas produtoras de agrotóxicos que operam na agricultura, tornando-a também tóxica e químico-dependente. Esse modelo, pós-II Guerra Mundial, destacamos, impôs-se também para o controle das doenças vetoriais em Saúde Pública.

As tecnologias de controle químico dos vetores foram introduzidas amplamente no Brasil a partir de 1968, não se podendo desconsiderar que sua origem deve-se às armas químicas de destruição em massa, amplamente utilizadas pelo exército norte-americano, naquela época, na guerra do Vietnã. A adoção da técnica de tratamento por UBV foi uma prática introduzida nesse mesmo período e, não por acaso, um dos primeiros documentos de sua normatização foi elaborado pelo Exército Americano[4].

Essa mesma lógica já está adotada para oferecer a solução mediante a transgenia e outras biotecnologias imprecisas, duvidosas e perigosas para os ecossistemas, focando a ação apenas no mosquito, sem levar em conta os efeitos em organismos não-alvo. Atenção deve ser dada a empresa inglesa OXITEC nas pesquisas e comercialização do mosquito transgênico, cuja fábrica foi implantada em Campinas-SP em 2013 e que, em 2014, obteve a autorização da CTNBio para comercialização desse Organismo Geneticamente Modificado (OGM), e sobre essa questão a Abrasco publicou Nota Técnica[5].

O foco no mosquito e as consequências para a saúde humana

O lado invisível dos danos ao ambiente e à saúde humana, decorrentes do uso de produtos químicos no controle vetorial, ainda não foi devidamente estudado ou revelado às populações vulneráveis, incluindo os trabalhadores de Saúde Pública. Seus efeitos nocivos são totalmente desconsiderados tanto no agravamento das viroses, quanto no surgimento de outras patologias tais como: alergias, imunotoxicidade, câncer, distúrbios hormonais, neurotoxicidade, dentre outras.

Frisamos o simplismo no trato da questão por parte do MS que reduz a causalidade da Dengue, da Zika e da Chicungunya, centrando as ações na tentativa de eliminar ou reduzir o vetor, o que deve ser substituído, insistimos, pela ação de medidas de cunho intersetoriais para intervir no contexto socioeconômico e ambiental. Visando eliminar o mosquito a ação orientada pelo MS acaba, também, envenenando seres humanos. Mas isto não é reconhecido: ao contrário, há uma ocultação desses perigos. As vozes oficiais repetem até tornar verdadeiros diversos absurdos como: “As doses de larvicidas são tão baixas e pouco tóxicas que podemos colocar na água de beber, sem perigo”[6].

Este despreparo também leva a defender que a epidemia é um problema de Saúde Pública que justifica o uso do “fumacê”, mesmo com produtos químicos sabidamente tóxicos, como o Malathion, um verdadeiro contrassenso sanitário. Este produto é um agrotóxico organofosforado considerado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como potencialmente cancerígeno para os seres humanos[7].

Assim, na tentativa de eliminar o mosquito estão sendo atingidos os humanos mediante efeitos agudos (de morbimortalidade) e de morte lenta, gradual, invisível e que é ocultada. Além das doenças agudas, as crônicas causadas por tais produtos aparecem a médio e longo prazos, a maioria delas chamadas “idiopáticas”, isto é, de causa indefinida ou desconhecida, que não são diagnosticadas ou se quer investigadas.

Ocorre que em pleno século XXI, no caso das doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti, houve mais um complicador em termos de Saúde Pública, pois dois novos vírus entraram em nosso país, para cujas doenças – Chikungunya e Zika – não havia experiência no manejo clínico e nem epidemiológico.

A dengue e o sistema de vigilância epidemiológica

O sistema de vigilância epidemiológica da maioria dos serviços de saúde não investigou adequadamente esta nova realidade. Agora, com a tragédia do surgimento dos casos de microcefalia, revela-se este despreparo técnico-gerencial. Historicamente essas questões de Saúde Pública estão imersas em “razões de Estado”, desconhecidas pela maioria da sociedade. Devemos perguntar: que razões são essas? Para tal basta examinar os documentos oficiais do MS sobre controle vetorial.

Neste sentido, é pedagógico examinarmos os documentos orientadores emanados do MS. É o caso, por exemplo, da NOTA TÉCNICA N.º 109/2010 CGPNCD/DEVEP/SVS/MS[8] de COMBATE à DENGUE, na qual estão bem ilustrados os equívocos que aqui sinalizamos, ou seja, a intensificação do uso da UBV motorizada e costal nos domicílios e nas vias públicas. Nela se reitera os vários absurdos cometidos no controle vetorial do Aedes aegypti e que o MS insiste em manter e ampliar.

O envenenamento da população pobre

No Brasil, a Dengue tornou-se uma doença endêmica com surtos epidêmicos e isto precisa ser assumido de uma vez por todas. Quais são as áreas específicas de maior circulação viral? Justamente aquelas onde habitam as populações mais pobres, que tem piores condições imunológicas e sem saneamento adequado, o que vai se agravar conforme noticias do jornal FOLHA de SÃO PAULO, edição de 11-01-2016. E por que não se divulgam essas vulnerabilidades para a própria população? Acima referida Nota Técnica faz menção à outra, de nº 118/2010, que formula um parâmetro composto, com o que se busca introduzir  indicadores ambientais[9].

Ocorre que o faz apenas para a “delimitação das áreas que necessitam de maior intensificação das ações do combate ao vetor”. Ou seja, a aplicação de veneno (inseticidas e larvicidas) acaba aumentando a nocividade sobre o sistema imune.

A NT 109/2010 informa ainda, que “as ações de controle larvário a serem implementadas estão voltadas, principalmente, para as atividades de redução de fontes criadoras do mosquito (caixas d’água, depósitos diversos, pneus, entre outros)”. Ao assim proceder, admite-se que caixa d´água seja criadouro de mosquito e, portanto, deve ser “tratada” com veneno. Ocorre que a água de beber deve ter sua potabilidade garantida. Por que as ações não incidem na limpeza e na proteção dos reservatórios destinados a armazenar o líquido mais precioso para a vida? Como é possível aceitar a perda da potabilidade da água destinada aos mais pobres? Sim aos mais pobres, justamente aqueles que têm a maior vulnerabilidade. Que equidade é essa na qual aqueles que deveriam ser os mais protegidos e são, paradoxalmente, os mais expostos às situações de nocividade química por quem deveria protegê-los? A alegação de que a população é passiva também decorre desse modelo vertical e autoritário. Prioriza-se a potência do veneno contra os insetos desconsiderando o perigo aos seres humanos e, assim, nada mais precisa ser feito.

Ainda na NT 109/2010 o MS advoga que o sucesso do controle de doenças transmitidas por vetores possa ser atribuído aos agrotóxicos, quando cita como referência para sua justificativa nesse documento a “National Academy of Sciences, National Research Council. Pesticides in the Diets of Infants and Children. National Academy Press, Washington”.  Ressaltamos que o MS é a autoridade máxima em saúde e deveria se pautar pelo princípio da precaução quando se coloca o tema relacionado às exposições humanas a produtos químicos perigosos.

Também nela se lê que em razão do crescente agravamento do processo de resistência de mosquitos aos inseticidas, uma das principais missões do Comitê de Especialistas em Praguicidas da OMS (WHOPES) é encontrar novos biocidas para os quais não haja insetos resistentes, não havendo qualquer abertura para outros métodos, não perigosos, de controle. É fato bem demonstrado que a resistência adquirida pelo mosquito está a demonstrar a insustentabilidade do modelo químico-dependente de controle vetorial, pois já é sabido há muitos anos que os venenos desenvolvem e/ou aumentam a frequência de insetos portadores de mecanismos de resistência aos inseticidas e larvicidas, como vem ocorrendo com o Aedes aegypti.

Ademais a NT 109/2010 admite que “todos os inseticidas que se utilizam em saúde pública – por razões de mercado – são produtos originalmente desenvolvidos para a agricultura, não havendo nenhum que tenha sido desenvolvido exclusivamente para uso em saúde”. E cita como parâmetro de sustentação do sucesso da medida, as pesquisas realizadas em Cingapura para avaliar possível impacto da utilização das diversas medidas utilizadas no enfrentamento de uma epidemia de dengue naquele país. Por que não analisar nossas próprias experiências, afinal temos um tempo de controle vetorial de mais de 40 anos. Será que não são edificantes?

Mais venenos, mais resistência, mais venenos

É utilizado o exemplo do inseticida organofosforado Temephós (conhecido comercialmente como ABATE®), a 1%, introduzido no Brasil em 1968, como larvicida em água potável especialmente no Norte e Nordeste brasileiro, cujos impactos na saúde das populações não foram estudados. Sabemos que apesar da constatação da resistência do mosquito o MS continuou a utilizá-lo até o esgotamento de seu estoque, a despeito de ter sido demonstrado a resistência nos insetos alvo e a farta informação toxicológica dos potenciais riscos para a saúde humana.

A continuidade da adição de outros larvicidas substitutos na água de beber das pessoas se dá até hoje sem qualquer preocupação sobre sua concentração final, pois por orientação das normas do MS é indicada a diluição dos larvicidas apenas considerando o volume físico do recipiente e não pela  quantidade interna de água no recipiente. Em 1998, um alerta formal sobre este erro de diluição foi feito por químicos, médicos e engenheiros sanitaristas reconhecidos, mas nada mudou! Teimosamente, até hoje os documentos oficiais do MS recomendam a adição do larvicida nas caixas d’água considerando apenas o volume físico e não a quantidade de água que de fato existe em seu interior.

Um fato agravante é que em Pernambuco e outras regiões do Nordeste há racionamento frequente de água. Diante disso, cabe indagar: há quanto tempo o povo dessas regiões bebe água envenenada? De forma não cuidadosa e com falta de precaução, a introdução dos larvicidas classificados como reguladores de crescimento de insetos (IGR) dá-se mediante Notas Técnicas ainda mais abusivas no que se refere a “despotabilização” da água de beber.

Entendemos que aqui está a chave mestra para discutir porque o MS admite e defende esse modelo. Por trás disso estão a OMS e OPAS com o peso institucional de seus comitês de “pesticidas” que não dialogam com os comitês: ambiental, de saneamento e de promoção da saúde. Naqueles comitês internacionais, os que fazem a prescrição do uso e a regulação da compra dos insumos de controle vetorial para o mundo são imperiais. São tais organismos que convencem e dão o aval aos processos licitatórios dos governos nacionais.

Os larvicidas reguladores de crescimento como o Diflubenzuron e Novaluron, introduzidos no lugar do Temephós, mostram-se problemáticos. Em Recife, foi realizado estudo de efeito sobre a saúde dos trabalhadores que os aplicam constatou-se a ocorrência de metahemoglobinemia; também se sabe que seus metabólitos têm diversos efeitos tóxicos, e que não são considerados. Tais resultados foram amplamente divulgados no II Seminário da Rede Dengue da Fiocruz em novembro de 2010, na cidade do Rio de Janeiro; no Primeiro Simpósio de Saúde e Ambiente em 2010, realizado na cidade de Belém e no 10º. Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva em 2012, na cidade de Porto Alegre.

Com sua política centralizadora, os setores do MS responsáveis pelo controle vetorial contraindicam que os municípios adotem outros meios independentes do uso químico. Mesmo diante da constatação da ineficácia do modelo utilizado. Os municípios gastam inutilmente seus parcos recursos em produtos químicos perigosos e fazem os trabalhadores da saúde atuarem apenas nesse ponto, expondo-os ainda aos venenos.

Insistindo nessa estratégia, houve, em 2014, a introdução do larvicida Pyriproxyfen, e mesmo sabendo-se de sua toxicidade como teratogênico e de desregulação endócrina para o mosquito, foi considerado de baixa toxicidade. E, mais uma vez, o MS recomenda o seu uso em água potável, para ser adicionado nos reservatórios e caixas de água, independentemente da quantidade de água no seu interior, tornando a concentração mais elevada quando em situações de racionamento de água[10][11].

Diante de produtos que têm efeito teratogênico em artrópodes, o que pelas normatizações para registro de agrotóxicos seria vedado seu uso na agricultura, por razões de segurança alimentar, perguntamos como aceitar o uso em água potável destinado ao consumo humano? O que dizer desse uso em um contexto epidêmico de má formação fetal? No estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, recentemente decretado pelo MS, conforme noticia a grande mídia, está sendo preconizado o uso de larvicida diretamente nos carros-pipas que distribuem água nas regiões do Agreste e Sertão do Nordeste. Alertamos que esta é a mais recente medida sanitária absurda e imprudente imposta pelos gestores do modelo químico de controle vetorial.

Embora a NT 109/2010 reconheça que “A inserção de ações intersetoriais, tais como o abastecimento regular de água e coleta de resíduos sólidos, constitui-se em uma atividade fundamental para impactar na redução da densidade do vetor Aedes aegypti”, pouco se propõe nesse sentido. Insistimos na pergunta: por que é mantido o controle vetorial centrado em um programa que há mais de 40 anos vem mostrando ineficácia e ineficiência para fazê-lo? Impõe-se, pois, uma estratégia centrada na identificação e eliminação dos criadouros e no Saneamento Ambiental. O que de fato está sendo feito para o abastecimento regular de água nas periferias das cidades? Como as pessoas podem proteger as águas reservadas para consumo? Por que apesar de muitas cidades terem coleta de lixo regular ainda se observa uma quantidade enorme de resíduos sólidos diariamente dispostos no ambiente? O que está sendo feito para cuidar desta questão? E a drenagem urbana de águas pluviais? E o esgotamento sanitário?

Merece ainda destaque a NT 109/2010, quando afirma que “o maior problema reside nos “adulticidas espacial e residual”, lamentando que os venenos disponíveis estejam restritos apenas aos “grupos dos organofosforados e piretróides. Nos organofosforados a oferta restringe-se ao Malathion (espacial) e o Fenitrothion (residual)”. Esclarecemos que a menção ao termo “espacial” se refere a uso em nebulizadores (Ultra Baixo Volume – UBV, conhecido como “fumacê”, ou por equipamento costal). Dos venenos acima referidos, sabe-se, como já dito, que o Malathion é um potente cancerígeno para animais e, recentemente, foi reconhecido como potencialmente cancerígeno para humanos pela IARC da OMS[12]. Vale o destaque, de que diversos produtos utilizados no controle vetorial do Aedes aegypti como o  Fenitrothion, Malathion e Temephós vem sendo estudados desde 1998, no Departamento de Química Fundamental da UFPE e mostram ter efeitos potencialmente carcinogênicos para humanos. As recomendações pelo MS do uso de Malathion encontram-se no documento Recomendações sobre o uso de Malathion Emulsão Aquosa-EA 44% para o controle de Aedes aegypti em aplicações espaciais a Ultra Baixo Volume UBV, de 2014[13]. Com a adoção dessas nebulizações o envenenamento é potencialmente, ainda mais amplo e perigoso.

Sem trocadilhos, chega-se assim, ao fundo do poço, em termos de falta de compreensão dos processos de determinação socioambiental e de cuidados na prevenção das doenças relacionadas aos vetores, aos quais se somam os interesses nacionais e internacionais estranhos às questões de saúde públicas e relacionadas às agendas de consumo dos agrotóxicos.

Onde fica o saneamento ambiental?

Uma pergunta que não quer calar precisa ser aqui posta com total indignação: por que não foram priorizadas até agora as ações de saneamento ambiental, estratégia que parece ficar ainda mais distante?

A propósito, se visitarmos as periferias das grandes cidades e as chamadas zonas especiais socialmente vulneráveis, onde as carências são de toda ordem, ver-se-á um quadro sanitário tão grave que nenhuma quantidade de veneno poderá resolver o controle vetorial, ao que acresce o fato de que as pessoas terão sua saúde gravemente comprometida.

As políticas urbanas e de saneamento são, em geral, desarticuladas. As precárias condições de moradia, de urbanização e de saneamento ambiental, contexto característico da grande maioria dos casos de microcefalia, refletem um modelo de desenvolvimento e de políticas urbanas que atinge aos pobres, já vulnerabilizados historicamente pela abissal desigualdade social brasileira. Habitações sem condições para adequado armazenamento de água domiciliar, localizadas em áreas íngremes ou alagadas, com precária infraestrutura e urbanização e com serviços de saneamento precários. Um contexto que reflete a mazela social que destina melhor infraestrutura e melhores serviços para as classes média e alta. O exemplo da desigualdade no acesso à água potável no Brasil é emblemático dessa assimetria de acesso. O consumo per capita pode variar em uma cidade de 30 a 500 litros/hab/dia. Uma das expressões dessa desigualdade é no rodízio semanal do acesso ou na intermitência do abastecimento de água. A grande maioria de casos de microcefalia ocorreu em cidades com problemas sérios de rodízios ou intermitência, onde os mais pobres ficam mais dias sem água por semana e os mais ricos ou não tem rodízio ou intermitência ou os tem por poucos dias. A crise hídrica e a má gestão dos serviços de saneamento também tem imposto o rodízio ou intermitência a cidades inteiras, e mesmo o colapso no abastecimento, cenário de muitos casos de microcefalia no Nordeste.

Diante da inoperância dos métodos de controle do Aedes aegypti, a gravidade da situação se aprofunda. Em Pernambuco a Secretaria de Estado da Saúde (SES) notificou ao MS, em 28 de outubro de 2015, a existência de 29 casos de microcefalia naquele ano, até então mais do que o dobro do que vinha ocorrendo nos anos anteriores. Destaca-se que apenas 07 estados tinham a prática de notificação obrigatória de má-formação congênita. Em dezembro de 2015 constatava-se que 14 estados estavam com prevalência de microcefalia elevada. A proporção de novos casos em Pernambuco tornou-se assustadora. No dia 18 de novembro de 2015, o MS decreta o estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, situação que apenas fora adotada em 1917, com a ocorrência de Gripe Espanhola. Conforme noticiado pelo Diário de Pernambuco, em 20/01/2016, o número de casos suspeitos de microcefalia subiu para 3.893. Os registros foram feitos em 764 municípios, distribuídos em 21 unidades da federação. Até essa data, foram notificadas 49 mortes provocadas por essa má-formação. Do total desses óbitos, 05 tiveram confirmadas a presença do vírus Zika. Embora sabemos que, em uma situação de exposição materna ao vírus, e este ultrapassando a barreira placentária, é esperado que o feto também se exponha. Neste campo ainda há muitas questões em processo de pesquisa. Segundo informações do MS, Pernambuco continua a ser o Estado com o maior número de casos suspeitos (1.306), o que representa 33% do total registrado em todo o país[14].

Deve-se alertar e assinalar que a entrada no Brasil do vírus Zika não foi acompanhada de um conhecimento da sua dispersão pela vigilância epidemiológica e entomológica. Uma série de medidas, todas centradas na prática do uso de venenos foi intensificada, a partir da aceitação de relação direta entre microcefalia e Zika vírus. Como aditivo temos a recomendação para gestantes de uso de repelente[15]. Com isso o DEET (N,N-dimetil-meta-toluamida) vem sendo comercializado sem restrição para mulheres grávidas, outra banalização de exposição química[16].

O quadro de crise epidemiológica das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti é ainda mais grave e aqui é importante dizer que no Brasil, entre 2014 e 2015, ocorreram cerca de 1,5 milhão de casos, a metade no estado de São Paulo. Porque nesse estado, onde ocorrem periodicamente epidemias de Dengue, que anteriormente registrava pouquíssimos óbitos, e que, nesse período, houve inusitadamente mais de 400 mortes associadas a complicações de Dengue? Será que tal fato tem relação com a informação de que, em São Paulo, vem se intensificando o controle vetorial com uso de Malathion em nebulização química? Esse veneno é utilizado desde 2001, a 30% na formulação final, em processo de nebulização, pela Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), sendo que no segundo semestre de 2014, foi introduzida  pelo MS uma nova formulação de Malathion diluído em água[17], contendo emulsificantes e estabilizantes não declarados. A justificativa dessa substituição foi o seu menor custo. Será que pode haver alguma associação entre a exposição ao Malathion e essa mortalidade considerada tão aumentada por complicações da Dengue? Quem são esses que morreram? São idosos, portadores de doenças crônicas, crianças? É preciso saber mais. A população exposta ao Malathion foi investigada? A possibilidade de essas mortes estarem associadas à exposição ao Malathion foi aventada e pesquisada? Salientamos que devido ao uso massivo e contínuo de substância tão tóxica essa investigação precisa ser realizada.

Finalizando, reivindicamos das autoridades competentes a adoção das medidas a seguir:

1) Imediata revisão do modelo de controle vetorial. O foco deve ser a ELIMINAÇÃO DO CRIADOURO e não o mosquito como centro da ação; com a suspensão do uso de produtos químicos e adoção de métodos mecânicos de limpeza e de saneamento ambiental. Nos reservatórios de água de beber utilizar medidas de limpeza e proteção da qualidade da água e garantia de sua potabilidade;

2) Nas campanhas de Saúde Pública para controle de Aedes aegyptiimediata suspensão do uso de Malathion ou qualquer outro organofosforado, carbamato, piretróide ou organopersistente, seja em nebulização aérea ou em cortinados tratados com veneno (mosquiteiros impregnados). Substituir o uso desses produtos por barreiras mecânicas, limpeza, aspiração, telagem de janelas, portas entre outras medidas;

3) Nas medidas adotadas pelo MS para controle de Aedes aegypti em suas formas larva e adulto, imediata suspensão do  Pyriproxyfen (0,5 G) e de todos os inibidores de crescimento como o Diflubenzuron e o Novaluron, ou qualquer outro produto químico ou biológico em água potável. O conceito de potabilidade da água não pode ser perdido, ele é a chave para as medidas participativas de eliminação de vetores.

4) Que sejam realizados esforços intersetoriais para a acabar com a intermitência do abastecimento de água nas áreas de urbanização precária. Água é um direito humano. As populações mais vulneráveis devem, por equidade, serem as mais protegidas;

5) Que as ações de controle vetorial no ambiente seja uma atribuição dos órgãos de saneamento e de controle ambiental municipais, estaduais e nacional e não só do SUS, que deve atuar na vigilância entomológica, sanitária, ambiental, epidemiológica, virológica e da saúde do trabalhador, aferindo se as medidas de saneamento ambiental estão resultando em melhoria das condições de saúde;

6) Que as políticas urbanas e de saneamento ambiental promovam programas integrados para a resolução dos problemas de moradia, saneamento e urbanização;

7) Que a vigilância epidemiológica seja realizada por profissionais experientes em clínica, fisiopatologia e epidemiologia, em diversos níveis do SUS. Esta proposição se dá no fortalecimento da integração e atuação articuladas das áreas de vigilância da saúde com as áreas de produção de conhecimentos.

8) Que sejam realizadas pesquisas clínicas e informadas outras disfunções ou malformações relativas as viroses da Dengue, da Zika e da Chincungunya e que sejam estudados os efeitos da exposição a produtos químicos utilizados no controle vetorial do Aedes aegypti;

9) Que o amparo às famílias acometidas pelo surto de microcefalia se dê mediante uma política pública perene e não transitória. Que esse apoio seja integral, incluindo neste atenção a família pelo trauma psíquico decorrente desse desfecho gestacional.

10) Que seja realizada uma auditoria nos modelos de controle vetorial por uma comissão multidisciplinar de especialistas  independentes, incluindo avaliação do modos operados do Fundo Rotatório da OPAS/OMS a ser solicitado pelo governo brasileiro, quiçá em conjunto com outros países latino-americanos que sofrem as mesmas imposições,  à Organização da Nações Unidas;

12) Que seja ratificada a imediata elaboração pelo Ministério da Saúde de orientações técnicas para a Atenção à Saúde dos Trabalhadores da Saúde que NO PASSADO se expuseram aos agrotóxicos utilizados no controle do Aedes aegypti, a serem adotadas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, em acordo com a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e com experiência exitosas;

13) Que seja criado, pelo MS, um Portal para acesso amplo da população a todos processos e fatos associados ao controle vetorial, às epidemias relacionadas à ação do Aedes aegypti e a epidemia de microcefalia. Nele deve também ser informado quando utilizados, o volume, os tipos de produtos químicos, o número de domicílios e imóveis nebulizados, por Unidade da Federação e por município, pois são do maior interesse dos profissionais de saúde e da sociedade.

 

Por fim, chamamos atenção da sociedade civil, diante da atual declaração de Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional para epidemia de microcefalia e arboviroses, que: a) todas as medidas de controle vetorial sejam realizadas com mobilização social no sentido da proteção e respeito da cidadania pela Saúde Pública, priorizando-se as medidas de saneamento ambiental, com garantia da potabilidade da água de beber, como parte do respeito aos Direitos Humanos e orientados pelos princípios da Política Nacional de Educação Popular em Saúdeb) que o SUS deve rever as estratégias e conteúdos da comunicação social à população, tirando o foco na responsabilidade individual e das famílias, explicitando as responsabilidades dos diversos setores estatais, com ênfase na importância das medidas de saneamento, coleta de resíduos, cumprimentos das políticas de resíduos sólidos, garantia de abastecimento de água; e c) melhoria da qualidade da assistência às famílias e às crianças acometidas e da atenção pré-natal, pois se agrava a fragilidade observada que já era conhecida – a exemplo dos casos de sífilis congênita – e que se comprova com a ocorrência de casos de microcefalia identificados após o parto.

 

Grupos Temáticos da Abrasco: 

GT Saúde e Ambiente

GT Saúde do Trabalhador

GT Vigilância Sanitária

GT Promoção da Saúde e Desenvolvimento Sustentável

GT Educação Popular e Saúde

GT Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

 

[1] Livro editado pela CNBB no final de 2015.

[2] Disponível em http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/15/Instrucoes-para-uso-de-pyriproxifennmaio-2014.pdf)

[3] UBV é uma técnica que utiliza equipamentos motorizados ou costal de alta pressão fazendo com que as partículas sejam menores, aumentando sua dispersão no ambiente e a penetração nos pulmões pela inalação das pessoas expostas.

[4] Armed Forces Pest Management Board, por meio do Memorando nº 13 – TECHNICAL INFORMATION MEMORANDUM NO. 13, do Centro Médico do Instituto Walter Reed). Disponível em: http://www.afpmb.org/pubs/tims/tim13.htm#Equipment

[5] Ver NT da Abrasco de 2014 https://goo.gl/GbAXx7

[6] Disponível em: http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/30/Instrucoes-para-uso-de-pyriproxifen-maio-2014.pdf

[7] Disponível em: https://www.iarc.fr/en/media-centre/iarcnews/pdf/MonographVolume112.pdf

[8] Coordenação Geral do Programa Nacional de Controle da Dengue / Departamento de Vigilância em Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde

[9] Disponível em: http://www.saude.mppr.mp.br/arquivos/File/dengue/nt_aval_vul_epid_dengue_verao_10_11.pdf

[10] Disponível em: http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/30/Instrucoes-para-uso-de-pyriproxifen-maio-2014.pdf

[12] Disponível em: https://www.iarc.fr/en/media-centre/iarcnews/pdf/MonographVolume112.pdf

[13] Disponível em: http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/setembro/02/Recomenda—-es-para-o-uso-de-malathion-EW.pdf

[14] Disponível em: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/brasil/2016/01/20/interna_brasil,622575/sobe-para-3-893-o-numero-de-casos-de-microcefalia-no-pais.shtml

[15] Disponível em: http://ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/zika-microcephaly-Brazil-rapid-risk-assessment-Nov-2015.pdf

[16] Ver aspectos toxicológicos do DEET em: http://www.health.state.mn.us/divs/eh/risk/guidance/gw/deet.pdf

[17] Fabricado pela Bayer.

Study suggests different written languages are equally efficient at conveying meaning (Eureka/University of Southampton)

PUBLIC RELEASE: 1-FEB-2016

UNIVERSITY OF SOUTHAMPTON

IMAGE

IMAGE: A STUDY LED BY THE UNIVERSITY OF SOUTHAMPTON HAS FOUND THERE IS NO DIFFERENCE IN THE TIME IT TAKES PEOPLE FROM DIFFERENT COUNTRIES TO READ AND PROCESS DIFFERENT LANGUAGES. view more  CREDIT: UNIVERSITY OF SOUTHAMPTON

A study led by the University of Southampton has found there is no difference in the time it takes people from different countries to read and process different languages.

The research, published in the journal Cognition, finds the same amount of time is needed for a person, from for example China, to read and understand a text in Mandarin, as it takes a person from Britain to read and understand a text in English – assuming both are reading their native language.

Professor of Experimental Psychology at Southampton, Simon Liversedge, says: “It has long been argued by some linguists that all languages have common or universal underlying principles, but it has been hard to find robust experimental evidence to support this claim. Our study goes at least part way to addressing this – by showing there is universality in the way we process language during the act of reading. It suggests no one form of written language is more efficient in conveying meaning than another.”

The study, carried out by the University of Southampton (UK), Tianjin Normal University (China) and the University of Turku (Finland), compared the way three groups of people in the UK, China and Finland read their own languages.

The 25 participants in each group – one group for each country – were given eight short texts to read which had been carefully translated into the three different languages. A rigorous translation process was used to make the texts as closely comparable across languages as possible. English, Finnish and Mandarin were chosen because of the stark differences they display in their written form – with great variation in visual presentation of words, for example alphabetic vs. logographic(1), spaced vs. unspaced, agglutinative(2) vs. non-agglutinative.

The researchers used sophisticated eye-tracking equipment to assess the cognitive processes of the participants in each group as they read. The equipment was set up identically in each country to measure eye movement patterns of the individual readers – recording how long they spent looking at each word, sentence or paragraph.

The results of the study showed significant and substantial differences between the three language groups in relation to the nature of eye movements of the readers and how long participants spent reading each individual word or phrase. For example, the Finnish participants spent longer concentrating on some words compared to the English readers. However, most importantly and despite these differences, the time it took for the readers of each language to read each complete sentence or paragraph was the same.

Professor Liversedge says: “This finding suggests that despite very substantial differences in the written form of different languages, at a basic propositional level, it takes humans the same amount of time to process the same information regardless of the language it is written in.

“We have shown it doesn’t matter whether a native Chinese reader is processing Chinese, or a Finnish native reader is reading Finnish, or an English native reader is processing English, in terms of comprehending the basic propositional content of the language, one language is as good as another.”

The study authors believe more research would be needed to fully understand if true universality of language exists, but that their study represents a good first step towards demonstrating that there is universality in the process of reading.

###

Notes for editors:

1) Logographic language systems use signs or characters to represent words or phrases.

2) Agglutinative language tends to express concepts in complex words consisting of many sub-units that are strung together.

3) The paper Universality in eye movements and reading: A trilingual investigation, (Simon P. Liversedge, Denis Drieghe, Xin Li, Guoli Yan, Xuejun Bai, Jukka Hyönä) is published in the journal Cognition and can also be found at: http://eprints.soton.ac.uk/382899/1/Liversedge,%20Drieghe,%20Li,%20Yan,%20Bai,%20%26%20Hyona%20(in%20press)%20copy.pdf

 

Semantically speaking: Does meaning structure unite languages? (Eureka/Santa Fe Institute)

1-FEB-2016

Humans’ common cognitive abilities and language dependance may provide an underlying semantic order to the world’s languages

SANTA FE INSTITUTE

We create words to label people, places, actions, thoughts, and more so we can express ourselves meaningfully to others. Do humans’ shared cognitive abilities and dependence on languages naturally provide a universal means of organizing certain concepts? Or do environment and culture influence each language uniquely?

Using a new methodology that measures how closely words’ meanings are related within and between languages, an international team of researchers has revealed that for many universal concepts, the world’s languages feature a common structure of semantic relatedness.

“Before this work, little was known about how to measure [a culture’s sense of] the semantic nearness between concepts,” says co-author and Santa Fe Institute Professor Tanmoy Bhattacharya. “For example, are the concepts of sun and moon close to each other, as they are both bright blobs in the sky? How about sand and sea, as they occur close by? Which of these pairs is the closer? How do we know?”

Translation, the mapping of relative word meanings across languages, would provide clues. But examining the problem with scientific rigor called for an empirical means to denote the degree of semantic relatedness between concepts.

To get reliable answers, Bhattacharya needed to fully quantify a comparative method that is commonly used to infer linguistic history qualitatively. (He and collaborators had previously developed this quantitative method to study changes in sounds of words as languages evolve.)

“Translation uncovers a disagreement between two languages on how concepts are grouped under a single word,” says co-author and Santa Fe Institute and Oxford researcher Hyejin Youn. “Spanish, for example, groups ‘fire’ and ‘passion’ under ‘incendio,’ whereas Swahili groups ‘fire’ with ‘anger’ (but not ‘passion’).”

To quantify the problem, the researchers chose a few basic concepts that we see in nature (sun, moon, mountain, fire, and so on). Each concept was translated from English into 81 diverse languages, then back into English. Based on these translations, a weighted network was created. The structure of the network was used to compare languages’ ways of partitioning concepts.

The team found that the translated concepts consistently formed three theme clusters in a network, densely connected within themselves and weakly to one another: water, solid natural materials, and earth and sky.

“For the first time, we now have a method to quantify how universal these relations are,” says Bhattacharya. “What is universal – and what is not – about how we group clusters of meanings teaches us a lot about psycholinguistics, the conceptual structures that underlie language use.”

The researchers hope to expand this study’s domain, adding more concepts, then investigating how the universal structure they reveal underlies meaning shift.

Their research was published today in PNAS.

Feyerabend and the harmfulness of the ontological turn (Agent Swarm)

Posted on 

by Terence Blake

Feyerabend stands in opposition to the demand for a new construction that some thinkers have made after the supposed failure or historical obsolescence of deconstruction and of post-structuralism in general. On the contrary, he wholeheartedly endorses the continued necessity of deconstruction. Feyerabend also rejects the idea that we need an overarching system or a unified theoretical framework, arguing that in many cases a system or theoretical framework is just not necessary or even useful:

a theoretical framework may not be needed (do I need a theoretical framework to get along with my neighbor?) . Even a domain that uses theories may not need a theoretical framework (in periods of revolution theories are not used as frameworks but are broken into pieces which are then arranged this way and that way until something interesting seems to arise) (Philosophy and Methodology of Military Intelligence, 13).

Further, not only is a unified framework often unnecessary, it is undesirable, as it can be a hindrance to our research and to the conduct of our lives:

“frameworks always put undue constraints on any interesting activity” (ibid, 13).

Feyerabend emphasises that our ideas must be sufficiently complex to fit in and to cope with the complexity of our practices (11). More important than a new theoretical construction which only serves “to confuse people instead of helping them” we need ideas that have the complexity and the fluidity that come from close connection with concrete practice and with its “fruitful imprecision” (11).

Lacking this connection, we get only school philosophies that “deceive people but do not help them”. They deceive people by replacing the concrete world with their own abstract construction

that gives some general and very mislead[ing] outlines but never descends to details.

The result is a simplistic set of slogans and stereotypes that

“is taken seriously only by people who have no original ideas and think that [such a school philosophy] might help them getting ideas”.

Applied to the the ontological turn, this means that an ontological system is useless, a hindrance to thought and action, whereas an ontology which is not crystallised into a unified system and a closed set of fixed principles, but which limits itself to proposing an open set of rules of thumb and of free study of concrete cases is both acceptable and desirable. The detour through ontology is both useless and harmful, according to Feyerabend, because a freer, more open, and less technical approach is possible.

OMS declara vírus zica e microcefalia ‘emergência pública internacional’ (JC)

Comitê de Emergência se reuniu pela primeira vez nesta segunda-feira (1) para reagir ao aumento do número de casos de desordens neurológicas e malformações congênitas, sobretudo nas Américas. País mais atingido é o Brasil

A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou nesta segunda-feira (1) a primeira reunião do Comité de Emergência que trata dos recentes casos de microcefalia e outros distúrbios neurológicos em áreas afetadas pelo vírus zika, sobretudo nas Américas. O país mais atingido é o Brasil.

O Secretariado da OMS informou ao Comitê sobre a situação dos casos de microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré, circunstancialmente associados à transmissão do vírus zika. O Comitê foi recebeu informações sobre a história do vírus zika, sua extensão, apresentação clínica e epidemiologia.

As representações do Brasil, França, Estados Unidos e El Salvador apresentaram as primeiras informações sobre uma potencial associação entre a microcefalia – bem como outros distúrbios neurológicos – e a doença provocada pelo vírus zika.

Segundo o comunicado da OMS, os especialistas reunidos em Genebra concordam que uma relação causal entre a infecção do zika durante a gravidez e microcefalia é “fortemente suspeita”, embora ainda não comprovada cientificamente.

A falta de vacinas e testes de um diagnóstico rápido e confiável, bem como a ausência de imunidade da população em países recém-afetados, foram citadas como novos motivos de preocupação.

Para a Comissão da OMS, o recente conjunto de casos microcefalia e outros distúrbios neurológicos relatados no Brasil, logo após ocorrências semelhantes na Polinésia Francesa, em 2014, constituem uma “emergência de saúde pública de importância internacional”, condição conhecida também pela sua sigla em inglês (PHEIC).

Em uma decisão aceita pela diretora-geral da OMS, Margaret Chan, o Comitê da agência da ONU busca assim coordenar uma resposta global de modo a minimizar a ameaça nos países afetados e reduzir o risco de propagação internacional.

Recomendações à diretora-geral da OMS

O Comitê, em resposta às informações fornecidas, fez recomendações à OMS sobre medidas a serem tomadas.

Em relação aos distúrbios neurológicos e microcefalia, o Comitê sugere que a vigilância de microcefalia e da Síndrome de Guillain-Barré deve ser padronizada e melhorada, particularmente em áreas conhecidas de transmissão do vírus zika, bem como em áreas de risco de transmissão.

O Comitê também recomendou que seja intensificada a investigação acerca da etiologia – a causa das doenças – nos novos focos onde ocorrem os casos de distúrbios neurológicos e de microcefalia, para determinar se existe uma relação causal entre o vírus zika e outros fatores desconhecidos.

Como estes grupos se situam em áreas recém-infectadas com o vírus zika, de acordo com as boas práticas de saúde pública e na ausência de outra explicação para esses agrupamentos, o Comitê destaca a importância de “medidas agressivas” para reduzir a infecção com o vírus zika, especialmente entre as mulheres grávidas e mulheres em idade fértil.

Como medida de precaução, o Comitê fez as seguintes recomendações adicionais:

Transmissão do vírus zika

A vigilância para infecção pelo vírus zika deve ser reforçada, com a divulgação de definições de casos padrão e diagnósticos para áreas de risco.

O desenvolvimento de novos diagnósticos de infecção pelo vírus zika devem ser priorizados para facilitar as medidas de vigilância e de controle.

A comunicação de risco deve ser reforçada em países com transmissão do vírus zika para responder às preocupações da população, reforçar o envolvimento da comunidade, melhorar a comunicação e assegurar a aplicação de controle de vetores e medidas de proteção individual.

Medidas de controle de vetores e medidas de proteção individual adequada devem ser agressivamente promovidas e implementadas para reduzir o risco de exposição ao vírus zika.

Atenção deve ser dada para assegurar que as mulheres em idade fértil e mulheres grávidas em especial tenham as informações e materiais necessários para reduzir o risco de exposição.

As mulheres grávidas que tenham sido expostas ao vírus zika devem ser aconselhadas e acompanhadas por resultados do nascimento com base na melhor informação disponível e práticas e políticas nacionais.

Medidas de longo prazo

Esforços de pesquisa e desenvolvimento apropriados devem ser intensificados para vacinas, terapias e diagnósticos do vírus zika.

Em áreas conhecidas de transmissão do vírus zika, os serviços de saúde devem estar preparados para o aumento potencial de síndromes neurológicas e/ou malformações congênitas.

Medidas de viagem

Não deve haver restrições a viagens ou ao comércio com países, regiões e/ou territórios onde esteja ocorrendo a transmissão do vírus zika.

Viajantes para áreas com transmissão do vírus zika devem receber informações atualizadas sobre os potenciais riscos e medidas adequadas para reduzir a possibilidade de exposição a picadas do mosquito.

Recomendações da OMS sobre padrões em matéria de desinfestação de aeronaves e aeroportos devem ser implementadas.

Compartilhamento de dados

As autoridades nacionais devem garantir a comunicação e o compartilhamento ágeis e em tempo de informações relevantes de importância para a saúde pública, para esta Emergência.

Dados clínicos, virológicos e epidemiológicos, relacionados com o aumento das taxas de microcefalia e/ou Síndrome de Guillain-Barré, ou com a transmissão do vírus zika, devem ser rapidamente compartilhados com a OMS para facilitar a compreensão internacional destes eventos, para orientar o apoio internacional para os esforços de controle, priorizando a pesquisa e desenvolvimento de produtos.

Acompanhe:

http://who.int/emergencies/zika-virus

http://new.paho.org/bra

http://combateaedes.saude.gov.br

http://bit.ly/zikaoms

ONU

 

Leia também:

Agência Brasil – Notificação de casos de Zika passa a ser obrigatória no Brasil

The controversy about the relationship between GM mosquitoes and the Zika virus outbreak in Brazil

 

Pandora’s box: how GM mosquitos could have caused Brazil’s microcephaly disaster (The Ecologist)

Oliver Tickell

1st February 2016

Aedes Aegypti mosquito feeding on human blood. Photo: James Gathany via jentavery on Flickr (CC BY).

Aedes Aegypti mosquito feeding on human blood. This is the species that transmits Zika, and that was genetically engineered by Oxitec using the piggyBac transposon. Photo: James Gathany via jentavery on Flickr (CC BY).

In Brazil’s microcephaly epidemic, one vital question remains unanswered: how did the Zika virus suddenly learn how to disrupt the development of human embryos? The answer may lie in a sequence of ‘jumping DNA’ used to engineer the virus’s mosquito vector – and released into the wild four years ago in the precise area of Brazil where the microcephaly crisis is most acute.

These ‘promiscuous’ transposons have found special favour with genetic engineers, whose goal is to create ‘universal’ systems for transferring genes into any and every species on earth. Almost none of the geneticists has considered the hazards involved.

Since August 2015, a large number of babies in Northeast Brazil have been born with very small heads, a condition known as microcephaly, and with other serious malformations. 4,180 suspected cases have been reported.

Epidemiologists have found a convincing correlation between the incidence of the natal deformities and maternal infections with the Zika virus, first discovered in Uganda’s Zika Valley in 1947, which normally produces non-serious illness.

The correlation has been evidenced through the geographical distrubution of Zika infections and the wave of deformities. Zika virus has also been detected in the amniotic fluids and other tissues of the affected babies and their mothers.

This latter finding was recently reported by AS Oliveira Melo et al in a scientific paperpublished in the journal Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, which noted evidence of intra-uterine infection. They also warn:

“As with other intrauterine infections, it is possible that the reported cases of microcephaly represent only the more severely affected children and that newborns with less severe disease, affecting not only the brain but also other organs, have not yet been diagnosed.”

The Brazilian Health Minister, Marcelo Castro, says he has “100% certainty” that there is a link between Zika and microcephaly. His view is supported by the medical community worldwide, including by the US Center for Disease Control.

Oliveira Melo et al draw attention to a mystery that lies at the heart of the affair: “It is difficult to explain why there have been no fetal cases of Zika virus infection reported until now but this may be due to the underreporting of cases, possible early acquisition of immunity in endemic areas or due to the rarity of the disease until now.

“As genomic changes in the virus have been reported, the possibility of a new, more virulent, strain needs to be considered. Until more cases are diagnosed and histopathological proof is obtained, the possibility of other etiologies cannot be ruled out.”

And this is the key question: how – if indeed Zika really is the problem, as appears likely – did this relatively innocuous virus acquire the ability to produce these terrible malformations in unborn human babies?

Oxitec’s GM mosquitoes

An excellent article by Claire Bernish published last week on AntiMedia draws attention to an interesting aspect of the matter which has escaped mainstream media attention: the correlation between the incidence of Zika and the area of release of genetically modified Aedes aegypti mosquitos engineered for male insterility (see maps, above right).

The purpose of the release was to see if it controlled population of the mosquitos, which are the vector of Dengue fever, a potentially lethal disease. The same species also transmits the Zika virus.

The releases took in 2011 and 2012 in the Itaberaba suburb of the city of Juazeiro, Bahia, Northeast Brazil, about 500 km west of ther coastal city of Recife. The experiment was written up in July 2015 in the journal PLOS Neglected Tropical Diseases in a paper titled ‘Suppression of a Field Population of Aedes aegypti in Brazil by Sustained Release of Transgenic Male Mosquitoes’ by Danilo O. Carvalho et al.

An initial ‘rangefinder of 30,000 GM mosquitos per week took place between 19th May and 29th June 2011, followed by a much larger release of 540,000 per week in early 2012, ending on 11th February.

At the end of it the scientists claimed “effective control of a wild population of Ae. aegypti by sustained releases of OX513A male Ae. aegypti. We diminished Ae. aegypti population by 95% (95% CI: 92.2%-97.5%) based on adult trap data and 78% (95% CI: 70.5%-84.8%) based on ovitrap indices compared to the adjacent no-release control area.”

So what’s to worry about?

    The idea of the Oxitec mosquitoes is simple enough: the males produce non-viable offspring which all die. So the GM mosqitoes are ‘self-extinguishing’ and the altered genes cannot survive in the wild population. All very clever, and nothing to worry about!

    But in fact, it’s not so simple. In 2010 geneticist Ricarda Steinbrecher wrote to the biosafety regulator in Malaysia – also considering a release of the Oxitec mosquitoes – with a number of safety concerns, pointing out the 2007 finding by Phuc et al that 3-4% of the first generation mosquitos actually survive.

    The genetic engineerig method employed by Oxitec allows the popular antibiotic tetracycline to be used to repress the lethality during breeding. But as a side-effect, the lethality is also reduced by the presence of tetracycline in the environment; and as Bernish points out, Brazil is among the world’s biggest users of anti-microbials including tetracycline in its commercial farming sector:

    “As a study by the American Society of Agronomy, et. al., explained, ‘It is estimated that approximately 75% of antibiotics are not absorbed by animals and are excreted in waste.’ One of the antibiotics (or antimicrobials) specifically named in that report for its environmental persistence is tetracycline.

    In fact, as a confidential internal Oxitec document divulged in 2012, that survival rate could be as high as 15% – even with low levels of tetracycline present. ‘Even small amounts of tetracycline can repress’ the engineered lethality. Indeed, that 15% survival rate was described by Oxitec.”

    She then quotes the leaked Oxitec paper: “After a lot of testing and comparing experimental design, it was found that [researchers] had used a cat food to feed the [OX513A] larvae and this cat food contained chicken. It is known that tetracycline is routinely used to prevent infections in chickens, especially in the cheap, mass produced, chicken used for animal food. The chicken is heat-treated before being used, but this does not remove all the tetracycline. This meant that a small amount of tetracycline was being added from the food to the larvae and repressing the [designed] lethal system.”

    So in other words, there is every possibility for Oxitec’s modified genes to persist in wild populations of Aedes aegypti mosquitos, especially in the environmental presence of tetracycline which is widely present in sewage, septic tanks, contaminated water sources and farm runoff.

    ‘Promiscuous’ jumping genes

    On the face of it, there is no obvious way in which the spread of Oxitec’s GM mosquitos into the wild could have anything to do with Brazil’s wave of micrcophaly. Is there?

    Actually, yes. The problem may arise from the use of the ‘transposon’ (‘jumping’ sequence of DNA used in the genetic engineering process to introduce the new genes into the target organism). There are several such DNA sequences in use, and one of the most popular is known as known as piggyBac.

    As a 2001 review article by Dr Mae Wan Ho shows, piggyBac is notoriously active, inserting itself into genes way beyond its intended target: “These ‘promiscuous’ transposons have found special favour with genetic engineers, whose goal is to create ‘universal’ systems for transferring genes into any and every species on earth. Almost none of the geneticists has considered the hazards involved …

    “It would seem obvious that integrated transposon vectors may easily jump out again, to another site in the same genome, or to the genome of unrelated species. There are already signs of that in the transposon, piggyBac, used in the GM bollworms to be released by the USDA this summer.

    The piggyBac transposon was discovered in cell cultures of the moth Trichopulsia, the cabbage looper, where it caused high rates of mutations in the baculovirus infecting the cells by jumping into its genes … This transposon was later found to be active in a wide range of species, including the fruitfly Drosophila, the mosquito transmitting yellow fever, Aedes aegypti, the medfly, Ceratitis capitata, and the original host, the cabbage looper.

    “The piggyBac vector gave high frequencies of transpositions, 37 times higher than mariner and nearly four times higher than Hirmar.”

    In a later 2014 report Dr Mae Wan Ho returned to the theme with additional detail and fresh scientific evidence (please refer to her original article for references): “The piggyBac transposon was discovered in cell cultures of the moth Trichopulsia, the cabbage looper, where it caused high rates of mutations in the baculovirus infecting the cells by jumping into its genes …

    “There is also evidence that the disabled piggyBac vector carrying the transgene, even when stripped down to the bare minimum of the border repeats, was nevertheless able to replicate and spread, because the transposase enzyme enabling the piggyBac inserts to move can be provided by transposons present in all genomes.

    “The main reason initially for using transposons as vectors in insect control was precisely because they can spread the transgenes rapidly by ‘non-Mendelian’ means within a population, i.e., by replicating copies and jumping into genomes, thereby ‘driving’ the trait through the insect population. However, the scientists involved neglected the fact that the transposons could also jump into the genomes of the mammalian hosts including human beings …

    “In spite of instability and resulting genotoxicity, the piggyBac transposon has been used extensively also in human gene therapy. Several human cell lines have been transformed, even primary human T cells using piggyBac. These findings leave us little doubt that the transposon-borne transgenes in the transgenic mosquito can transfer horizontally to human cells. The piggyBac transposon was found to induce genome wide insertionmutations disrupting many gene functions.” 

    Has the GM nightmare finally come true?

    So down to the key question: was the Oxitec’s GM Aedes aegypti male-sterile mosquito released in Juazeiro engineered with the piggyBac transposon? Yes, it was. And that creates a highly significant possibility: that Oxitec’s release of its GM mosquitos led directly to the development of Brazil’s microcephaly epidemic through the following mechanism:

    1. Many of the millions of Oxitec GM mosquitos released in Juazeiro in 2011/2012 survive, assisted, but not dependent on, the presence of tetracycline in the environment.

    2. These mosquitos interbreed with with the wild population and their novel genes become widespread.

    3. The promiscuous piggyBac transposon now present in the local Aedes aegyptipopulation takes the opportunity to jump into the Zika virus, probably on numerous occasions.

    4. In the process certain mutated strains of Zika acquire a selective advantage, making them more virulent and giving them an enhanced ability to enter and disrupt human DNA.

    5. One way in which this manifests is by disrupting a key stage in the development of human embryos in the womb, causing microcephaly and the other reported deformations. Note that as Melo Oliveira et al warn, there are almost certainly other manifestations that have not yet been detected.

    6. It may be that the piggyBac transposon has itself entered the DNA of babies exposed in utero to the modified Zika virus. Indeed, this may form part of the mechanism by which embryonic development is disrupted.

    In the latter case, one implication is that the action of the gene could be blocked by giving pregnant women tetracycline in order to block its activity. The chances of success are probably low, but it has to be worth trying.

    No further releases of GM insects!

    While I am certainly not claiming that this is what actually took place, it is at least a credible hypothesis, and moreover a highly testable one. Nothing would be easier for genetic engineers than to test amniotic fluids, babies’ blood, wild Aedes mosquitos and the Zika virus itself for the presence of the piggyBac transposon, using well established and highly sensitive PCR (polymerase chain reaction) techniques.

    If this proves to be the case, those urging caution on the release of GMOs generally, and transgenic insects bearing promiscuous transposons in particular, will have been proved right on all counts.

    But most important, such experiments, and any deployment of similar GM insects, must be immediately halted until the possibilities outlined above can be safely ruled out. There are plans, for example, to release similarly modified Anopheles mosquitos as an anti-malarial measure.

    There are also calls for even more of the Oxitec Aedes aegypti mosquitos to be released in order to halt the transmission of the Zika virus. If that were to take place, it could give rise to numerous new mutations of the virus with the potential to cause even more damage to the human genome, that we can, at this stage, only guess at.

    Oliver Tickell edits The Ecologist.


     

    No, GM Mosquitoes Didn’t Start The Zika Outbreak (Discovery)

    By Christie Wilcox | January 31, 2016 9:56 pm

    ZIka_conspiracy_theory_cat

    A new ridiculous rumor is spreading around the internets. According to conspiracy theorists, the recent outbreak of Zika can be blamed on the British biotech company Oxitec, which some are saying even intentionally caused the disease as a form of ethnic cleansing or population control. The articles all cite a lone Redditor who proposed the connection on January 25th to the Conspiracy subreddit. “There are no biological free lunches,” says one commenter on the idea. “Releasing genetically altered species into the environment could have disastrous consequences” another added. “Maybe that’s what some entities want to happen…?”

    For some reason, it’s been one of those months where random nonsense suddenly hits mainstream. Here are the facts: there’s no evidence whatsoever to support this conspiracy theory, or any of the other bizarre, anti-science claims that have popped up in the past few weeks. So let’s stop all of this right here, right now: The Earth is round, not flat (and it’s definitely not hollow). Last year was the hottest year on record, and climate change is really happening (so please just stop, Mr. Cruz). And FFS, genetically modified mosquitoes didn’t start the Zika outbreak. 

    Background on Zika

    The Zika virus is a flavivirus closely related to notorious pathogens including dengue, yellow fever, Japanese encephalitis, and West Nile virus. The virus is transmitted by mosquitoes in the genus Aedes, especially A. aegypti, which is a known vector for many of Zika’s relatives. Symptoms of the infection appear three to twelve days post bite. Most people are asymptomatic, which means they show no signs of infection. The vast majority of those who do show signs of infection report fever, rash, joint pain, and conjunctivitis (red eyes), according to the U.S. Centers for Disease Control. After a week or less, the symptoms tend to go away on their own. Serious complications have occurred, but they have been extremely rare.

    The Zika virus isn’t new. It was first isolated in 1947 from a Rhesus monkey in the Zika Forest in Uganda, hence the pathogen’s name. The first human cases were confirmed in Uganda and Tanzania in 1952, and by 1968, the virus had spread to Nigeria. But since then, the virus has found its way out of Africa. The first major outbreak occurred on the island of Yap in Micronesia for 13 weeks 2007, during which 185 Zika cases were suspected (49 of those were confirmed, with another 59 considered probable). Then, in October 2013, an outbreak began in French Polynesia; around 10,000 cases were reported, less than 100 of which presented with severe neurological or autoimmune complications. One confirmed case of autochthonous transmission occurred in Chile in 2014, which means a person was infected while they were in Chile rather than somewhere else. Cases were also reported that year from several Pacific Islands. The virus was detected in Chile until June 2014, but then it seemed to disappear.

    Fast forward to May 2015, when the Pan American Health Organization (PAHO) issued an alert regarding the first confirmed Zika virus infection in Brazil. Since then, several thousand suspected cases of the disease and a previously unknown complication—a kind of birth defect known as microcephaly where the baby’s brain is abnormally small—have been reported from Brazil. (It’s important to note that while the connection between the virus and microcephaly is strongly suspected, the link has yet to be conclusively demonstrated.)

    Currently, there is no vaccine for Zika, though the recent rise in cases has spurred research efforts. Thus, preventing mosquito bites is the only prophylactic measure available.

    The recent spread of the virus has been described as “explosive”; Zika has now been detected in 25 countries and territories. The rising concern over both the number of cases and reports of serious complications has led the most affected areas in Brazil to declare a state of emergency, and on Monday, The World Health Organization’s Director-General will convene an International Health Regulations Emergency Committee on Zika virus and the observed increase in neurological disorders and neonatal malformations. At this emergency meeting, the committee will discuss mitigation strategies and decide whether the organization will officially declare the virus a “Public Health Emergency of International Concern.”

    GM to the Rescue

    aedes_aegypti

    The mosquito to blame for the outbreak—Aedes aegypti—doesn’t belong in the Americas. It’s native to Africa, and was only introduced in the new world when Europeans began to explore the globe. In the 20th century, mosquito control programs nearly eradicated the unwelcome menace from the Americas (largely thanks to the use of the controversial pesticide DDT); as late as the mid 1970s, Brazil and 15 other nations were Aedes aegypti-free. But despite the successes, eradication efforts were halted, allowing the mosquito to regain its lost territory.

    The distribution of Aedes aegypti in the Americas in 1970 and 2002.

    Effective control measures are expensive and difficult to maintain, so at the tail end of the 20th century and into the 21st, scientists began to explore creative means of controlling mosquito populations, including the use of genetic modification. Oxitec’s mosquitoes are one of the most exciting technologies to have emerged from this period. Here’s how they work, as I described in a post almost exactly a year ago:

    While these mosquitoes are genetically modified, they aren’t “cross-bred with the herpes simplex virus and E. colibacteria” (that would be an interkingdom ménage à trois!)—and no, they cannot be “used to bite people and essentially make them immune to dengue fever and chikungunya” (they aren’t carrying a vaccine!). The mosquitoes that Oxitec have designed are what scientists call “autocidal” or possess a “dominant lethal genetic system,” which is mostly fancy wording for “they die all by themselves”. The males carry inserted DNA which causes the mosquitoes to depend upon a dietary supplement that is easy to provide in the lab, but not available in nature. When the so-called mutants breed with normal females, all of the offspring require the missing dietary supplement because the suicide genes passed on from the males are genetically dominantThus, the offspring die before they can become adults. The idea is, if you release enough such males in an area, then the females won’t have a choice but to mate with them. That will mean there will be few to no successful offspring in the next generation, and the population is effectively controlled.

    Male mosquitoes don’t bite people, so they cannot serve as transmission vectors for Zika or any other disease. As for fears that GM females will take over: less than 5% of all offspring survive in the laboratory, and as Glen Slade, director of Oxitec’s Brazilian branch notes, those are the best possible conditions for survival. “It is considered unlikely that the survival rate is anywhere near that high in the harsher field conditions since offspring reaching adulthood will have been weakened by the self-limiting gene,” he told me. And contrary to what the conspiracy theorists claim, scientists have shown that tetracycline in the environment doesn’t increase that survival rate.

    Brazil, a hotspot for dengue and other such diseases, is one of the countries where Oxitec is testing their mozzies—so far, everywhere that Oxitec’s mosquitoes have been released, the local populations have been suppressed by about 90%.

    Wrong Place, Wrong Time

    Now that we’ve covered the background on the situation, let’s dig into the conspiracy theory. We’ll start with the main argument laid out as evidence: that the Zika outbreak began in the same location at the same time as the first Oxitec release:

    Though it’s often said, it’s worth repeating: correlation doesn’t equal causation. If it did, then Nicholas Cage is to blame for people drowning (Why, Nick? WHY?). But even beyond that, there are bigger problems with this supposed correlation: even by those maps, the site of release is on the fringe of the Zika hotspot, not the center of it. Just look at the two overlaid:

    The epicenter of the outbreak and the release clearly don’t line up—the epicenter is on the coast rather than inland where the map points. Furthermore, the first confirmed cases weren’t reported in that area, but in the town of Camaçari, Bahia, which is—unsurprisingly—on the coast and several hundred kilometers from the release site indicated.

    But perhaps more importantly, the location on the map isn’t where the mosquitoes were released. That map points to Juazeiro de Norte, Ceará, which is a solid 300 km away from Juazeiro, Bahia—the actual site of the mosquito trial. That location is even more on the edge of the Zika-affected area:

    1: Juaziero de Norte, the identified location in by conspiracy theorists. 2: Juaziero, the actual location of Oxitec's release trial, about 300 km away.

    The mistake was made initially by the Redditor who proposed the conspiracy theory and has been propagated through lazy journalistic practices by every proponent since. Here’s a quick tip: if you’re basing your conspiracy theory on location coincidence, it’s probably a good idea to actually get the location right.

    They’re also wrong about the date. According to the D.C. Clothesline:

    By July 2015, shortly after the GM mosquitoes were first released into the wild in Juazeiro, Brazil, Oxitec proudly announced they had “successfully controlled the Aedes aegypti mosquito that spreads dengue fever, chikungunya and zika virus, by reducing the target population by more than 90%.”

    However, GM mosquitoes weren’t first released in Juazeiro, Bahia (let alone Juazeiro de Norte, Ceará) in 2015. Instead, the announcement by Oxitec was of the published results of a trial that occurred in Juaziero between May 2011 and Sept 2012—a fact which is clearly stated in the methods and results of the paper that Oxitec was so excited to share.

    A new control effort employing Oxitec mosquitoes did begin in April 2015, but not in Juaziero, or any of the northeastern states of Brazil where the disease outbreak is occurring. As another press release from Oxitec states, the 2015 releases of their GM mosquitoes were in Piracicaba, São Paulo, Brazil:

    Following approval by Brazil’s National Biosafety Committee (CTNBio) for releases throughout the country, Piracicaba’s CECAP/Eldorado district became the world’s first municipality to partner directly with Oxitec and in April 2015 started releasing its self-limiting mosquitoes whose offspring do not survive. By the end of the calendar year, results had already indicated a reduction in wild mosquito larvae by 82%. Oxitec’s efficacy trials across Brazil, Panama and the Cayman Islands all resulted in a greater than 90% suppression of the wild Ae. aegypti mosquito population–an unprecedented level of control.

    Based on the positive results achieved to date, the ‘Friendly Aedes aegypti Project’ in CECAP/Eldorado district covering 5,000 people has been extended for another year. Additionally, Oxitec and Piracicaba have signed a letter of intent to expand the project to an area of 35,000-60,000 residents. This geographic region includes the city’s center and was chosen due to the large flow of people commuting between it and surrounding neighborhoods which may contribute to the spread of infestations and infections.

    Piracicaba mosquito control results

     

    Piracicaba, for the record, is more than 1300 miles away from the Zika epicenter:

    TKTK

    So not only did the conspiracy theorists get the location of the first Brazil release wrong, they either got the date wrong, too, or got the location of the 2015 releases really, really off. Either way, the central argument that the release of GM mosquitoes by Oxitec coincides with the first cases of Zika virus simply doesn’t hold up.

    Scientists Speak Out

    As this ludicrous conspiracy theory has spread, so, too, has the scientific opposition to it. “Frankly, I’m a little sick of this kind of anti-science platform,” said vector ecologist Tanjim Hossain from the University of Miami, when I asked him what he thought. “This kind of fear mongering is not only irresponsible, but may very well be downright harmful to vulnerable populations from a global health perspective.”

    Despite the specious allusions made by proponents of the conspiracy, this is still not Jurassic Park, says Hossain.

    “We have a problem where ZIKV is spreading rapidly and is widely suspected of causing serious health issues,” he continued. “How do we solve this problem? An Integrated Vector Management (IVM) approach is key. We need to use all available tools, old and new, to combat the problem. GM mosquitoes are a fairly new tool in our arsenal. The way I see it, they have the potential to quickly reduce a local population of vector mosquitoes to near zero, and thereby can also reduce the risk of disease transmission. This kind of strategy could be particularly useful in a disease outbreak ‘hotspot’ because you could hypothetically stop the disease in its tracks so to speak.”

    Other scientists have shared similar sentiments. Alex Perkins, a biological science professor at Notre Dame, told Business Insider that rather than causing the outbreak, GM mosquitoes might be our best chance to fight it. “It could very well be the case that genetically modified mosquitos could end up being one of the most important tools that we have to combat Zika,” Perkins said. “If anything, we should potentially be looking into using these more.”

    Brazilian authorities couldn’t be happier with the results so far, and are eager to continue to fight these deadly mosquitoes by any means they can. “The initial project in CECAP/Eldorado district clearly showed that the ‘friendly Aedes aegypti solution’ made a big difference for the inhabitants of the area, helping to protect them from the mosquito that transmits dengue, Zika and chikungunya,” said Pedro Mello, secretary of health in Piracicaba. He notes that during the 2014/2015 dengue season, before the trial there began, there were 133 cases of dengue. “In 2015/2016, after the beginning of the Friendly Aedes aegypti Project, we had only one case.”

    It’s long past time to stop villainizing Oxitec’s mosquitoes for crimes they didn’t commit. Claire BernishThe Daily MFailMirror and everyone else who has spread these baseless accusations: I’m talking to you. The original post was in the Conspiracy subreddit—what more of a red flag for “this is wildly inaccurate bullsh*t” do you need? (After all, if this is a legit source, where are your reports on the new hidden messages in the $100 bill? or why the Illuminati wants people to believe in aliens?). It’s well known that large-scale conspiracy theories are mathematically challenged. Don’t just post whatever crap is spewed on the internet because you know it’ll get you a few clicks. It’s dishonest, dangerous, and, frankly, deplorable to treat nonsense as possible truth just to prey upon your audience’s very real fears of an emerging disease. You, with your complete lack of integrity, are maggots feeding on the decay of modern journalism, and I mean that with no disrespect to maggots.