Gastos com energia limpa representaram 4% do investimento do país em estruturas, equipamentos e bens duráveis
O investimento privado em projetos de energia limpa, como painéis solares, energia de hidrogênio e veículos elétricos, aumentou depois que o presidente Joe Biden sancionou uma lei abrangente sobre o clima, no ano passado, um desdobramento que mostra de que maneira os incentivos fiscais e os subsídios federais ajudaram a redirecionar alguns gastos dos consumidores e empresas dos Estados Unidos.
Novos dados divulgados nesta quarta-feira (13) sugerem que a lei do clima e outras partes da agenda econômica de Biden ajudaram a acelerar o desenvolvimento de cadeias de suprimentos automotivas no sudoeste dos Estados Unidos, gerando sustentação adicional para os centros tradicionais de fabricação de automóveis nas regiões industrias do centro-oeste e do sudeste.
A lei de 2022, que foi aprovada com apoio apenas do Partido Democrata, ajudou o investimento em fábricas em bastiões conservadores como o Tennessee e nos estados de Michigan e Nevada, que serão alvo de forte disputa na eleição presidencial do ano que vem. A lei também ajudou a sustentar uma onda de gastos com carros elétricos e painéis solares residenciais na Califórnia, Arizona e Flórida.
Os dados mostram que, no ano seguinte à aprovação da lei do clima, os gastos com tecnologias de energia limpa representaram 4% do investimento total do país em estruturas, equipamentos e bens de consumo duráveis —mais do que o dobro da participação registrada quatro anos atrás.
A lei não teve sucesso em estimular um setor importante na transição para além dos combustíveis fósseis que Biden está tentando acelerar: a energia eólica. O investimento americano em produção eólica diminuiu no ano passado, apesar dos grandes incentivos da lei do clima aos produtores. E a lei não alterou a trajetória dos gastos dos consumidores com determinadas tecnologias de economia de energia, como bombas de aquecimento de alta eficiência.
Mas o relatório, que avalia a situação até o nível estadual, fornece a primeira visão detalhada de como as políticas industriais de Biden estão afetando as decisões de investimento em energia limpa do setor privado.
Os dados são do Clean Investment Monitor, uma nova iniciativa da consultoria Rhodium Group e do Centro para a Pesquisa de Energia e Política Ambiental do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Suas constatações vão além de estimativas mais simples, da Casa Branca e de outras fontes, e oferecem a visão mais abrangente até o momento sobre os efeitos da agenda econômica de Biden sobre a emergente economia de energia limpa dos Estados Unidos.
Os pesquisadores que lideram essa primeira análise de dados incluem Trevor Houser, ex-funcionário do governo Obama, que é sócio da Rhodium; e Brian Deese, ex-diretor do Conselho Econômico Nacional de Biden, que pesquisa sobre inovação no MIT.
A Lei de Redução da Inflação, que Biden assinou em agosto de 2022, inclui uma ampla gama de incentivos para encorajar a fabricação nacional e acelerar a transição do país para longe dos combustíveis fósseis.
Isso inclui incentivos fiscais ampliados para a produção de baterias avançadas, instalação de painéis solares, compra de veículos elétricos e outras iniciativas. Muitas dessas isenções fiscais são ilimitadas, para todos os fins práticos, o que significa que podem acabar custando centenas de bilhões de dólares aos contribuintes —ou até mesmo mais de US$ 1 trilhão— se tiverem sucesso em gerar nível suficiente de novos investimentos.
Os funcionários do governo Biden tentaram quantificar os efeitos dessa lei, e da legislação bipartidária sobre infraestrutura e semicondutores assinada pelo presidente no início de seu mandato, por meio da contabilização dos anúncios empresariais de novos gastos vinculados à legislação.
Um site da Casa Branca estima que empresas tenham anunciado até agora US$ 511 bilhões em compromissos de gastos novos vinculados a essas leis, incluindo US$ 240 bilhões para veículos elétricos e tecnologia de energia limpa.
A análise da Rhodium e do MIT se baseia em dados de agências federais, organizações setoriais, anúncios de empresas e registros financeiros, reportagens e outras fontes, para tentar construir uma estimativa em tempo real de quanto investimento já foi realizado nas tecnologias de redução de emissões visadas pela agenda de Biden. Para fins de comparação, os dados remontam a 2018, quando o presidente Donald Trump ainda estava no poder.
Os números mostram que o investimento real —e não o anunciado— de empresas e consumidores em tecnologias de energia limpa atingiu US$ 213 bilhões no segundo semestre de 2022 e no primeiro semestre de 2023, depois que Biden assinou a lei do clima. Esse valor foi superior aos US$ 155 bilhões do ano anterior e aos US$ 81 bilhões do primeiro ano dos dados, sob Trump.
As tendências nos dados sugerem que o impacto da agenda de Biden sobre o investimento em energia limpa variou dependendo das condições econômicas existentes para cada tecnologia visada.
Os maiores sucessos de Biden ocorreram ao estimular o aumento do investimento industrial nos Estados Unidos e ao catalisar o investimento em tecnologias que permanecem relativamente novas no mercado.
Alimentado em parte por investimentos estrangeiros, por exemplo em fábricas de baterias na Geórgia, o investimento real na fabricação de energia limpa mais do que dobrou no ano passado, em relação ao ano anterior, mostram os dados, totalizando US$ 39 bilhões. Esse investimento foi quase inexistente em 2018.
A maior parte dos gastos se concentrou na cadeia de suprimentos de veículos elétricos, o que inclui o novo polo de atividades automotivas do sudoeste da Califórnia, Nevada e Arizona. A Lei de Redução da Inflação inclui vários incentivos fiscais para esse tipo de investimento, com requisitos de conteúdo nacional destinados a incentivar a produção de minerais essenciais e baterias, e a montagem de automóveis nos Estados Unidos.
No entanto, os grandes beneficiários em termos de investimentos em produção, como porcentagem das economias estaduais, continuam a ser os estados automotivos tradicionais: Tennessee, Kentucky, Michigan e Carolina do Sul.
A lei do clima também parece ter impulsionado o investimento no chamado hidrogênio verde, que divide átomos de água para criar um combustível industrial. O mesmo se aplica ao gerenciamento de carbono – que busca capturar e armazenar as emissões de gases causadores do efeito estufa pelas usinas de energia existentes, ou retirar o carbono da atmosfera. Todas essas tecnologias tiveram dificuldades para ganhar força nos Estados Unidos antes de a lei lhes conceder incentivos fiscais.
O hidrogênio e grande parte dos investimentos em captura de carbono estão concentrados ao longo da costa do Golfo do México, uma região repleta de empresas de combustíveis fósseis que começaram a se dedicar a essas tecnologias. Outro polo de investimentos em captura de carbono está concentrado em estados da região centro-oeste, como Illinois e Iowa, onde as empresas que produzem etanol de milho e outros biocombustíveis estão começando a investir em esforços para capturar suas emissões.
Os incentivos para essas tecnologias na Lei de Redução da Inflação, juntamente com outras medidas de apoio contidas na lei de infraestrutura bipartidária, “mudam fundamentalmente a economia dessas duas tecnologias, e pela primeira vez as tornam amplamente competitivas em termos de custos”, disse Houser em uma entrevista.
Outros incentivos ainda não alteraram a situação econômica de tecnologias essenciais, principalmente a energia eólica, que cresceu muito nos últimos anos mas agora está enfrentando retrocessos globais, pois o financiamento dos projetos está cada vez mais caro.
O investimento em energia eólica foi menor no primeiro semestre deste ano do que em qualquer outro momento desde que o banco de dados foi iniciado.
Nos Estados Unidos, os projetos eólicos estão enfrentando dificuldades para passar pelos processos governamentais de licenciamento, transmissão de energia e seleção de locais, incluindo a oposição de alguns legisladores estaduais e municipais.
Os projetos solares e os investimentos relacionados em armazenagem para energia solar, observou Houser, podem ser construídos mais perto dos consumidores de energia e têm menos obstáculos a superar, e o investimento neles cresceu 50% no segundo trimestre de 2023, com relação ao ano anterior.
Alguns mercados consumidores ainda não se deixaram influenciar pela promessa de incentivos fiscais para novas tecnologias de energia. Os americanos não aumentaram seus gastos com bombas de aquecimento, embora a lei cubra gastos de até US$ 2 mil para a compra de uma nova bomba. E, no ano passado, os estados com os maiores gastos em bombas de aquecimento, em proporção às dimensões de suas economias, estavam todos concentrados no sudeste —onde, segundo Houser, é mais provável que os consumidores já disponham de bombas desse tipo, e precisem substitui-las.
Mundo já ultrapassou 6 das 9 fronteiras planetárias, como são chamados os limites seguros para a existência no planeta
Os sistemas de suporte à vida na Terra enfrentam riscos e incertezas maiores do que nunca, e a maioria dos principais limites de segurança já foram ultrapassados como resultado de intervenções humanas em todo o planeta, apontou estudo científico divulgado nesta quarta-feira (13).
Em uma espécie de “check-up de saúde” do planeta publicado na revista Science Advances, uma equipe internacional de 29 especialistas concluiu que a Terra atualmente está “bem fora do espaço operacional seguro para a humanidade” devido à atividade humana.
Ao todo, afirma o estudo, 8 das 9 fronteiras estão sob pressão maior do que a verificada na avaliação de 2015, aumentando o risco de mudanças dramáticas nas condições de vida da Terra. A camada de ozônio é o único dos quesitos a melhorar.
“Não sabemos se podemos prosperar sob grandes e dramáticas alterações das nossas condições”, disse a principal autora do estudo, Katherine Richardson, da Universidade de Copenhague.
Os autores afirmam que cruzar as fronteiras não representa um ponto de inflexão no qual a civilização humana simplesmente entrará em colapso, mas pode trazer mudanças irreversíveis nos sistemas de suporte à vida na Terra.
“Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nos limites planetários como a pressão sanguínea. Acima de 120/80 [na medição da pressão sanguínea] não necessariamente indica um ataque cardíaco, mas aumenta o risco”, disse Richardson.
Os cientistas soaram o alarme sobre o aumento do desmatamento, o consumo excessivo de plantas como combustível, a proliferação de produtos como o plástico, organismos geneticamente modificados e produtos químicos sintéticos.
Dos nove limites avaliados, apenas a acidificação dos oceanos, a destruição da camada de ozônio e a poluição atmosférica —principalmente com partículas semelhantes à fuligem— foram consideradas ainda dentro de limites seguros. O teto da acidificação dos oceanos, no entanto, está perto de ser ultrapassado.
A concentração atmosférica de dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa, aumentou para cerca de 417 ppm (partes por milhão), significativamente superior ao nível seguro de 350 ppm.
Estima-se também que a atual taxa de extinção de espécies seja pelo menos dezenas de vezes mais rápida do que a taxa média dos últimos 10 milhões de anos, o que significa que o planeta já ultrapassou a fronteira segura para a diversidade genética.
“Na minha carreira nunca me baseei em tantas evidências como hoje”, disse Johan Rockström, coautor do estudo e diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático.
MIDLAND, TEXAS – A petroleum pipeline running along the ground in the Permian Basin oil field on March 13, 2022 in Midland, Texas. (Photo by Joe Raedle/Getty Images)
Does slow climate progress justify violence against fossil fuel infrastructure? This subject was thrust into the limelight by a recent movie, How to Blow Up a Pipeline, which is based on the book by Andreas Malm. In the film, eight activists seek to blow up a fossil fuel pipeline in Texas’ Permian Basin. Their argument is that given the severity of the climate crisis and the role of fossil fuel companies in enabling it, they have the moral authority to damage fossil fuel infrastructure.
In recent years, some climate groups have resorted to disruptive action to focus public attention on climate policy lethargy. Activists have thrown tomato soups on paintings in prominent museums, blocked trains and major highways, picketed oil terminals, and glued themselves to the floor of BMW showrooms. So, why not escalate disruption by attacking fossil fuel infrastructure?
Yet, when it comes to the climate question, some surveys suggest that the public does not support disruptive action. Indeed, Extinction Rebellion (XR), a prominent UK-based climate group, recently announced that that it will temporarily suspend mass disruptive action. This motivated a group of scholars to write an open letter in support of nonviolent direct action. They underlined the idea that radical action does not equal violence.
Why is violence problematic? Apart from the moral and legal issues, violent activism undermines the climate cause and diminishes positive sentiments about climate advocacy in policy conversations. Moreover, the theory of change motivating violent action is weak. Most in the world recognize the climate challenge. Climate inaction does not reflect media neglecting climate change which can be corrected by newsworthy action. It reveals deeper distributional conflicts rooted in pushback from the fossil fuel industry and unions, fossil-fuel-dependent communities, rural residents opposing renewable energy projects, and the working class opposing higher energy prices. Thus, slow climate progress is not a simple story of the ruling capitalist class impeding policy change over the objections of the majority.
This means that the movement should resolve these complex issues through political mechanisms. Moreover, violence-based activism allows climate opponents to brand climate movement as eco-terrorism. At least 17 U.S. states have enacted “critical infrastructure” laws criminalizing protests against fossil fuel pipelines. Violent actions to damage fossil fuel infrastructure will justify their actions and even motivate a wider crackdown.
Moral and Legal Implications of Property Violence
In How to Blow Up a Pipeline, eight activists view property violence as an advocacy tactic because they feel this is the only way forward and their lived experiences have convinced them about the moral justification for their actions. The problem with this position is that individuals prioritize different issues. Many also feel disenfranchised. Should these aggrieved individuals resort to violence? Who decides which issues are worthy of violent advocacy and which are not?
Democracies have a process for policy change. Sometimes, the policy we favor gets enacted, and sometimes it does not. If we feel that policy inaction causes an existential crisis, we are frustrated. But we can voice our frustration in elections, in the media, and through non-violent advocacy. This is how citizens negotiate their differences. A commitment to ballots not bullets is crucial because both liberals and conservatives have grievances. We must ensure that grievances do not spin out of control into violence—especially important in this era of sharp polarization and angry rhetoric.
Some might argue that violence against property is different from violence against people, and property violence against corporations is different from say burning down the home of an individual. We disagree. The modern corporation’s functional logic is to pool resources from shareholders (both individuals and institutional investors such as pension funds) and use them to run a business. Eventually, violence against corporations is an attack on the livelihood and financial security of people whose assets the corporation manages.
This does not mean that activists should avoid subjecting corporations to economic pressure; they should do so through legal means. Shareholders can assess how their wealth might suffer because the firm faces problems on regulatory issues or social legitimacy grounds. The risk-return trade-off is a part of the bargain shareholders strike with corporations. And if shareholders consider corporate actions or inaction to be harmful, they can use economic and legal mechanisms such as shareholders’ vote or even divest.
What if property violence against corporations hurts the livelihood of impoverished communities? There is widespread poverty in many fossil fuel communities. They often view climate change as an elite issue favored by a predominantly urban climate movement. Might these communities view violence against fossil fuel infrastructure as an attack on their livelihood—on their very existence?
Even lesser actions such as transportation disruption can invite a backlash from affected parties. Consider the incident in London in 2019: “as XR began a second two-week mass mobilization in London, one local branch staged an action in Canning Town, a predominantly Black and Asian working-class neighborhood, in which several XR members clambered onto a subway car, preventing the train from leaving. Commuters dragged the protesters down onto the platform and beat them.”
About 24% of U.S. counties have enacted local ordinances to restrict solar and wind facilities. They view such facilities as spoiling rural landscapes. In some cases, environmental groups and native nations have joined protests against new renewable energy sites. There is also a backlash against new mining projects that will provide critical minerals for energy transition. The lesson is that some actors and communities oppose climate policies, not because they question climate science, but because they view climate action as imposing unfair burdens on them. To mitigate the opposition, underlying climate justice issues need to be addressed and violence is clearly the wrong way to accomplish this task.
What is the Way Forward?
Climate efforts are impeded by, among other things, rising energy prices. As the Ukraine crisis has reminded us, energy politics has economic and national security dimensions. Energy inflation provokes domestic backlash. This is why the Biden administration, which has shown a remarkable commitment to climate issues, sold oil from Strategic Petroleum Reserve and allowed the Willow project. Instead of dismantling pipelines, it is permitting new LNG infrastructure for exporting natural gas to Europe. The lesson is that supply disruptions by destroying fossil fuel pipelines will not serve the climate cause. They will probably do the opposite—by raising energy prices, they could motivate new drilling and investments in fossil fuel infrastructure.
Biden has enacted at least two major laws to fund climate transition, the Bipartisan Infrastructure Deal and the Inflation Reduction Act. It is undertaking administrative actions as well, as in vehicular tailpipe emissions. The reality is that in most countries, the climate movement is supported by the political establishment. Moreover, in the U.S., the movement now has the opportunity to take on the fossil fuel industry in the legal arena. Last week, the U.S. Supreme Court allowed local governments to sue the fossil fuel industry in state courts as opposed to federal courts which the industry wanted. It is possible that the industry might seek a settlement instead of risking jury trials, as happened with the tobacco industry, the opioid industry, and more recently Fox News. Thus, the movement should exploit these new legal opportunities to push the fossil fuel industry to take aggressive pro-climate actions.
Nives Dolsak is Stan and Alta Barer Professor in Sustainability Science and Director of the School of Marine & Environmental Affairs. Aseem Prakash is the Walker Family Professor and the Director of the Center for Environmental Politics. Both are at the University of Washington, Seattle.
Technologically speaking, we live in a time of plenty. Today, I can ask a chatbot to render TheCanterbury Tales as if written by Taylor Swift or to help me write a factually inaccurate autobiography. With three swipes, I can summon almost everyone listed in my phone and see their confused faces via an impromptu video chat. My life is a gluttonous smorgasbord of information, and I am on the all-you-can-eat plan. But there is one specific corner where technological advances haven’t kept up: weather apps.
Weather forecasts are always a game of prediction and probabilities, but these apps seem to fail more often than they should. At best, they perform about as well as meteorologists, but some of the most popular ones fare much worse. The cult favorite Dark Sky, for example, which shut down earlier this year and was rolled into the Apple Weather app, accurately predicted the high temperature in my zip code only 39 percent of the time, according to ForecastAdvisor, which evaluates online weather providers. The Weather Channel’s app, by comparison, comes in at 83 percent. The Apple app, although not rated by ForecastAdvisor, has a reputation for off-the-mark forecasts and has been consistently criticized for presenting faulty radar screens, mixing up precipitation totals, or, as it did last week, breaking altogether. Dozens of times, the Apple Weather app has lulled me into a false sense of security, leaving me wet and betrayed after a run, bike ride, or round of golf.
People love to complain about weather forecasts, dating back to when local-news meteorologists were the primary source for those planning their morning commutes. But the apps have produced a new level of frustration, at least judging by hundreds of crankytweets over the past decade. Nearly two decades into the smartphone era—when anyone can theoretically harness the power of government weather data and dissect dozens of complex, real-time charts and models—we are still getting caught in the rain.
Weather apps are not all the same. There are tens of thousands of them, from the simply designed Apple Weather to the expensive, complex, data-rich Windy.App. But all of these forecasts are working off of similar data, which are pulled from places such as the National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) and the European Centre for Medium-Range Weather Forecasts. Traditional meteorologists interpret these models based on their training as well as their gut instinct and past regional weather patterns, and different weather apps and services tend to use their own secret sauce of algorithms to divine their predictions. On an average day, you’re probably going to see a similar forecast from app to app and on television. But when it comes to how people feel about weather apps, these edge cases—which usually take place during severe weather events—are what stick in a person’s mind. “Eighty percent of the year, a weather app is going to work fine,” Matt Lanza, a forecaster who runs Houston’s Space City Weather, told me. “But it’s that 20 percent where people get burned that’s a problem.”
No people on the planet have a more tortured and conflicted relationship with weather apps than those who interpret forecasting models for a living. “My wife is married to a meteorologist, and she will straight up question me if her favorite weather app says something different than my forecast,” Lanza told me. “That’s how ingrained these services have become in most peoples’ lives.” The basic issue with weather apps, he argues, is that many of them remove a crucial component of a good, reliable forecast: a human interpreter who can relay caveats about models or offer a range of outcomes instead of a definitive forecast.
Lanza explained the human touch of a meteorologist using the example of a so-called high-resolution forecasting model that can predict only 18 hours out. It is generally quite good, he told me, at predicting rain and thunderstorms—“but every so often it runs too hot and over-indexes the chances of a bad storm.” This model, if left to its own devices, will project showers and thunderstorms blanketing the region for hours when, in reality, the storm might only cause 30 minutes of rain in an isolated area of the mapped region. “The problem is when you take the model data and push it directly into the app with no human interpretation,” he said. “Because you’re not going to get nuance from these apps at all. And that can mean a difference between a chance of rain all day and it’s going to rain all day.”
But even this explanation has caveats; all weather apps are different, and their forecasts have varying levels of sophistication. Some pipe model data right in, whereas others are curated using artificial intelligence. Peter Neilley, the Weather Channel’s director of weather forecasting sciences and technologies, said in an email that the company’s app incorporates “billions of weather data points,” adding that “our expert team of meteorologists does oversee and correct the process as needed.”
Weather apps might be less reliable for another reason too. When it comes to predicting severe weather such as snow, small changes in atmospheric moisture—the type of change an experienced forecaster might notice—can cause huge variances in precipitation outcomes. An app with no human curation might choose to average the model’s range of outcomes, producing a forecast that doesn’t reflect the dynamic situation on the ground. Or consider cities with microclimates: “Today, in Chicago, the lakefront will sit in the lower 40s, and the suburbs will be 50-plus degrees,” Greg Dutra, a meteorologist at ABC 7 Chicago, told me. “Often, the difference is even more stark—20-degree swings over just miles.” These sometimes subtle temperature disparities can mean very different forecasts for people living in the same region—something that one-size-fits-all weather apps don’t always pick up.
Naturally, meteorologists think that what they do is superior to forecasting by algorithm alone, but even weather-app creators told me that the challenges are real. “It’s impossible for a weather-data provider to be accurate everywhere in the world,” Brian Mueller, the founder of the app Carrot Weather, told me. His solution to the problem of app-based imprecision is to give users more ability to choose what they see when they open Carrot, letting them customize what specific weather information the app surfaces as well as what data sources the app will draw from. Mueller said that he learned from Dark Sky’s success how important beautiful, detailed radar maps were—both as a source of weather data and for entertainment purposes. In fact, meteorology seems to be only part of the allure when it comes to building a beloved weather app. Carrot has a pleasant design interface, with bright colors and Easter eggs scattered throughout, such as geography challenges based off of its weather maps. He’s also hooked Carrot up to ChatGPT to allow people to chat with the app’s fictional personality.
But what if these detailed models and dizzying maps, in the hands of weather rubes like myself, are the real problem? “The general public has access to more weather information than ever, and I’d posit that that’s a bad thing,” Chris Misenis, a weather-forecasting consultant in North Carolina who goes by the name “Weather Moose,” told me. “You can go to PivotalWeather.com right now and pull up just about any model simulation you want.” He argues that these data are fine to look at if you know how to interpret them, but for people who aren’t trained to analyze them, they are at best worthless and at worst dangerous.
In fact, forecasts are better than ever, Andrew Blum, a journalist and the author of the book The Weather Machine: A Journey Inside the Forecast, told me. “But arguably, we are less prepared to understand,” he said, “and act upon that improvement—and a forecast is only as good as our ability to make decisions with it.” Indeed, even academic research around weather apps suggests that apps fail worst when they give users a false sense of certainty around forecasting. A 2016 paper for the Royal Meteorological Society argued that “the current way of conveying forecasts in the most common apps is guilty of ‘immodesty’ (‘not admitting that sometimes predictions may fail’) and ‘impoverishment’ (‘not addressing the broader context in which forecasts … are made’).”
The conflicted relationship that people have with weather apps may simply be a manifestation of the information overload that dominates all facets of modern life. These products grant anyone with a phone access to an overwhelming amount of information that can be wildly complex. Greg Dutra shared one such public high-resolution model from the NOAA with me that was full of indecipherable links to jargony terms such as “0-2 km max vertical vorticity.” Weather apps seem to respond mostly to this fire hose of data in two ways: By boiling them down to a reductive “partly sunny” icon, or by bombarding the user with information they might not need or understand. At its worst, a modern weather app seems to flatter people, entrusting them to do their own research even if they’re not equipped. I’m not too proud to admit that some of the fun of toying around with Dark Sky’s beautiful radar or Windy.App’s endless array of models is the feeling of role-playing as a meteorologist. But the truth is that I don’t really know what I’m looking at.
What people seem to be looking for in a weather app is something they can justify blindly trusting and letting into their lives—after all, it’s often the first thing you check when you roll over in bed in the morning. According to the 56,400 ratings of Carrot in Apple’s App Store, its die-hard fans find the app entertaining and even endearing. “Love my psychotic, yet surprisingly accurate weather app,” one five-star review reads. Although many people need reliable forecasting, true loyalty comes from a weather app that makes people feel good when they open it.
Our weather-app ambivalence is a strange pull between feeling grateful for instant access to information and simultaneously navigating a sense of guilt and confusion about how the experience is also, somehow, dissatisfying—a bit like staring down Netflix’s endless library and feeling as if there’s nothing to watch. Weather apps aren’t getting worse. In fact they’re only getting more advanced, inputting more and more data and offering them to us to consume. Which, of course, might be why they feel worse.
Cientista brasileira Thelma Krug, que pode se tornar a primeira mulher no cargo, destaca necessidade de medidas rápidas
Cristiane Fontes
9 de abril de 2023
O Brasil apresenta nesta segunda (10) a candidatura da cientista Thelma Krug à presidência do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU), para o ciclo de 2023 a 2028.
Se eleita, Krug, que já é uma das vice-presidentes do órgão, será a primeira mulher e a primeira representante da América Latina no cargo mais alto da instituição. As eleições ocorrerão em sessão plenária em julho.
A matemática, com atuação no IPCC desde 2002, afirma que, além dos aprendizados sobre a evolução da ciência do clima —que hoje aponta como inequívoca a associação da ação humana ao aquecimento global—, foram o comprometimento dos milhares de autores do painel e o estímulo do neto, Luca, de 10 anos, que a levaram se candidatar a essa função.
“Rápidas, profundas e sustentadas reduções de emissões [de gases de efeito estufa] são necessárias para limitar o aquecimento a 1,5°C ou mesmo abaixo de 2°C”, diz Krug, que ressalta que as escolhas que fizermos nesta década terão um impacto direto para um futuro sustentável.
“O custo da ação vai ser bem menor do que o custo da inação, quando o planeta todo estiver sofrendo com esses impactos do clima com um aquecimento maior.”
Com o aumento do volume e da velocidade da produção científica sobre mudanças climáticas, ela defende que o painel produza relatórios menores e mais frequentes. Krug adianta que no próximo ciclo do painel será elaborado um documento especial sobre cidades.
“As cidades contribuem para aproximadamente 90% das emissões se nós considerarmos todo o escopo”, explica ela, que trabalhou por 37 anos no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até 2019.
Krug decidiu se aposentar do instituto na época de acusações do então presidente Jair Bolsonaro (PL) de que os dados de desmatamento contabilizados pelo órgão seriam manipulados.
Como ser portadora de alertas tão sérios do IPCC sem levar o mundo ao cinismo e à inação? Os relatórios do IPCC já há muito tempo indicam a situação sobre a mudança do clima e, mais recentemente, essa inequívoca associação entre a ação humana e o aquecimento na atmosfera se tornou um fato.
A partir de 2018, o IPCC indicou a necessidade de transformações em todos os setores da sociedade, e a gente não viu uma resposta equivalente. Eu não diria que é inação, mas eu diria que a ação não corresponde à urgência que a ciência mostra, se quisermos ter um futuro sustentável.
Passados cinco anos, o que a gente vê é que esse desafio tornou-se ainda maior. Essa maior frequência de eventos extremos mostra que os custos já são grandes e serão muito maiores no futuro.
O custo da ação vai ser bem menor do que o custo da inação, quando o planeta todo estiver sofrendo com esses impactos do clima com um aquecimento maior.
O último relatório do IPCC diz que ainda temos tempo de conter os piores impactos da crise climática, se grandes e rápidas reduções de emissões de gases de efeito estufa forem feitas. Como isso pode ser realizado? O IPCC indica —e eu me fixo um pouco na parte de 1,5°C, porque 1,5°C [de aumento na temperatura] já vai ser insustentável para muitos países insulares— que as emissões têm de ser cortadas pela metade até 2030.
Não é que seja o final do mundo. Mas, se isso não acontecer, as coisas vão se tornando cada vez mais difíceis.
Poderia comentar essas opções de mitigação? Você tem opções para todos os setores. No setor de energia, a gente fala muito da questão de descarbonização. Hoje há essa eletrificação dos automóveis, que é questionável, mas em muitos lugares poderia funcionar bem.
Se olharmos os preços da energia solar, eram muito altos, mas hoje são mais acessíveis para uma implementação mais larga. A expansão indica avanços que não estão acontecendo só no Brasil, mas em outras partes do mundo.
Outros exemplos também estão ocorrendo, principalmente na questão do uso da terra na agricultura, ou seja, principalmente, a redução do desmatamento, que é indicada como uma das formas de grandes reduções de emissões, e o Brasil é um exemplo disso.
Além de toda a parte de planejamento urbano. No próximo ciclo do IPCC, vamos ter um relatório especial sobre a mudança do clima em cidades. As cidades contribuem para aproximadamente 90% das emissões se nós considerarmos todo o escopo das cidades.
Qual deveria ser o papel do IPCC nos próximos anos, considerando o robusto consenso científico existente sobre a crise do clima, a inação política e a revisão do Acordo de Paris em 2025? O IPCC, através de modelos cada vez mais robustos, faz essa avaliação da literatura [científica] em todo o mundo. E a velocidade de publicações científicas na temática de mudança do clima tem sido enorme.
Talvez o painel decida refletir sobre a importância e necessidade de uma frequência maior de relatórios menores, que permitam que a gente esteja sempre atualizado.
Quais foram os seus principais aprendizados na vice-presidência do IPCC e por que lançar agora a sua candidatura à presidência do painel? A submissão do meu nome como candidata à presidência do IPCC é prerrogativa do ponto focal do Brasil, que nesse caso é do Ministério das Relações Exteriores.
O Ministério das Relações Exteriores fez consultas com outros ministérios, e a indicação do meu nome foi bem recebida por todos, junto com a minha contribuição ao IPCC por 22 anos.
Durante esse período, houve um aprendizado enorme: não só de entender a evolução da ciência, mas também de ter um conjunto de autores que, de uma maneira voluntária, se dedicam a produzir essa ciência, porque acreditam que vai gerar ação.
Essa dedicação, essa vontade de fazer a diferença desses cientistas, dedicando tempo a isso de uma maneira muito profunda, me fizeram perguntar: será que eu também posso fazer uma diferença nesse papel [na presidência do IPCC]? Nós temos muito bons candidatos, eu sou uma delas.
Uma análise recente do portal Carbon Brief revelou que a proporção de mulheres e de autores do sul global no IPCC aumentou nas últimas décadas, mas ainda há muito a ser feito pela diversidade. Como o IPCC vem implementando a política de equidade de gênero, estabelecida em 2020, e quais são as suas propostas nesse sentido? Quando a gente fala da questão de gênero, acho que ela é um pouquinho mais complexa. Porque a gente normalmente trabalha com esse binário, feminino e masculino, mas hoje existe uma diversidade bem maior a ser analisada.
Eu particularmente penso que não é você aumentar o número de mulheres, aumentar a diversidade. Acho que a questão maior é se essas pessoas que estão lá, em maior número, estão sendo respeitadas. Elas estão sendo incluídas como tais, elas têm a percepção de pertencimento?
O painel autorizou que fosse contratada uma empresa que vai fazer uma pesquisa junto a todos que participaram de 2015 a 2023, para buscar entender se se sentiram parte desse conjunto de autores de uma maneira equitativa, se oportunidades foram dadas a todos que estão envolvidos. Acho que os resultados vão ser muito importantes para entender as ações necessárias.
Em uma entrevista recente à Agência Pública, a senhora afirmou que a vulnerabilidade da produção agropecuária no Brasil aos impactos das mudanças climáticas merece atenção especial. O que deveria ser feito nos próximos anos? Essa afirmação foi baseada nas projeções feitas para a região Centro-Oeste, que já está sendo impactada pela mudança do clima. Ou seja, com o aumento atual, essa região já está sendo impactada e, para 1,5°C [de aquecimento], esses riscos de impactos aumentam por conta de maiores secas.
A gente espera que planos de ação antecipem o que o futuro pode ser e, fazendo isso, eles não estão dizendo que não existe mais solução, mas, se chegarmos lá, como estaremos preparados. A própria Embrapa estava desenvolvendo espécies mais resilientes ao calor, à falta de água.
O que deveria ser priorizado pelo país para reconquistar credibilidade na cena climática internacional? E o que deveria ser negociado em termos de cooperação e financiamento, além de recursos para o Fundo Amazônia? O nosso grande gargalo continua sendo a questão do desmatamento, que foi um dos elementos que fizeram com que o Brasil perdesse muito da sua credibilidade.
Acho que o Fundo Amazônia não é suficiente. Ele tem sido importantíssimo, mas financeiramente é insuficiente. Esse fundo ele compensa, vamos assim dizer, as reduções de emissões quando estas são demonstradas, e nós não estamos num estágio onde isso seja sustentável.
Apesar da importância do fundo, a gente precisa de mais investimentos de outros países, que possibilitem com que essa cooperação possa vir sem vínculos iniciais, para dar ao Brasil condição de iniciar esse processo de reversão.
RAIO-X
Thelma Krug, 72
Graduada em matemática pela Roosevelt University (EUA), com doutorado em estatística espacial pela University of Sheffield (Inglaterra), foi pesquisadora no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) por 37 anos. Foi ainda secretária nacional adjunta no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e diretora de políticas de combate ao desmatamento no Ministério do Meio Ambiente. No IPCC, copresidiu a força-tarefa sobre inventários nacionais de gases de efeito estufa de 2002 a 2015 e ocupa, desde 2015, uma das três vice-presidências do painel.
Decisão é considerada histórica por poder abrir caminho para mais processos contra governos
Camila Hodgson
29 de março de 2023
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) avaliará as obrigações legais dos Estados de proteger as gerações atuais e futuras das mudanças climáticas, depois que os países apoiaram uma resolução na ONU.
A opinião consultiva da CIJ, o principal órgão jurídico da ONU, pode aumentar o risco de litígio para os países que não cumprirem as leis e tratados internacionais existentes, ao mesmo tempo em que orienta os governos sobre o que devem fazer para defender os direitos humanos e o meio ambiente dos danos climáticos.
Os países aprovaram a resolução por consenso sem votação, após uma campanha de anos liderada por Vanuatu, nação insular do Pacífico que corre risco devido à elevação do nível do mar. Mais de cem países copatrocinaram a resolução, mas não os Estados Unidos e a China, os dois maiores emissores anuais do mundo.
Delta Merner, cientista chefe do Polo Científico para Litígio Climático da União de Cientistas Preocupados, disse que a decisão de quarta-feira (29) na Assembleia Geral da ONU marcou “um momento histórico para a justiça climática internacional”.
A CIJ, que pode levar um ano ou mais para entregar suas conclusões, “alteraria a forma como pensamos sobre as responsabilidades pelas emissões e a prestação de contas, incluindo a responsabilidade corporativa”, e “reforçaria” as justificativas legais para “milhares de casos de litígio climático atualmente arquivados“, acrescentou ela.
Dirigindo-se à ONU, o secretário-geral António Guterres disse que os pareceres da CIJ têm “uma importância tremenda e poderão ter um impacto duradouro na ordem jurídica internacional”, embora não sejam juridicamente vinculantes.
O apoio ao que começou como uma iniciativa liderada por estudantes de Vanuatu cresceu no ano passado, pois muitos países sofreram eventos climáticos extremos devastadores. Com as emissões permanecendo teimosamente altas, os principais cientistas climáticos do mundo alertaram recentemente que as temperaturas médias provavelmente atingirão em breve 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Embora ativistas tenham recorrido aos tribunais para forçar governos e empresas a efetuarem cortes mais rápidos nas emissões, autoridades disseram que o parecer da CIJ não foi visto como um caminho para novos processos, mas uma forma de dar aos governos maior clareza sobre suas responsabilidades.
Ralph Regenvanu, ministro da Mudança Climática de Vanuatu, disse que a iniciativa “não foi dirigida a nenhum estado [individual]”, nem teve “a intenção de culpar, envergonhar ou buscar qualquer julgamento”.
No entanto, especialistas disseram que ela poderia afetar os processos climáticos mais diretamente. Lavanya Rajamani, professora de direito ambiental internacional da Universidade de Oxford, que apoiou a iniciativa de Vanuatu, disse que as descobertas poderiam “apoiar litígios climáticos nacionais e regionais” ao identificar “um padrão ou referência para o que se espera dos estados”.
A decisão de quarta-feira ocorre meses depois que uma coalizão de pequenos países insulares, incluindo Vanuatu e Antígua e Barbuda, pediu a outro órgão intergovernamental uma opinião sobre as obrigações legais dos países de proteger os ambientes oceânicos das mudanças climáticas.
As conclusões do Tribunal Internacional do Direito do Mar devem ser entregues em 2024, antes que a CIJ conclua seu trabalho.
Payam Akhavan, advogado que apoia a iniciativa dos oceanos, disse que a opinião do tribunal pode resultar em contestações legais contra os países, mas um resultado “mais importante” seria usá-la para pressionar os grandes poluidores nas cúpulas climáticas da COP e “colocar alguns dentes no Acordo de Paris”.
OUTRO LADO: Defesa Civil diz que enviou SMS para 34 mil celulares cadastrados na região do litoral norte
Isabela Palhares
22 de fevereiro de 2023
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta para Desastres Naturais) afirma ter alertado o Governo de São Paulo cerca de 48 horas antes sobre o alto risco de desastre no litoral paulista.
Segundo o Cemaden, que é um órgão federal, a Defesa Civil estadual foi alertada sobre a ocorrência de chuvas fortes na região e o alto risco de desastres em uma reunião online na manhã de sexta (17). A vila do Sahy, o ponto em que mais pessoas morreram, foi citada como uma área de alto risco para deslizamento.
Em nota, a Defesa Civil diz que emitiu alertas preventivos à população desde que foi informada da previsão de fortes chuvas.
“Nós alertamos e avisamos a Defesa Civil na sexta, foram quase 48 horas antes de o desastre acontecer. Seguimos o protocolo que é estabelecido, alertando a Defesa Civil estadual para que ela se organizasse com os municípios”, disse Osvaldo Moraes, presidente do Cemaden.
O Cemaden é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O centro é responsável por monitorar índices meteorológicos e geológicos e alertar, caso necessário, os órgãos de prevenção.
Moraes diz que, ainda na quinta-feira (16), um boletim meteorológico já indicava as fortes chuvas na região. Esse boletim foi repassado para a Defesa Civil do estado.
Depois desse primeiro alerta, o Cemaden se reuniu com um representante da Defesa Civil estadual na sexta de manhã. “Nós emitimos boletins diários, o de quinta já indicava o risco. Mas o de sexta-feira aumentou o nível de alerta para essa região.”
A Defesa Civil disse que enviou 14 alertas de mensagem de texto (SMS) para mais de 34 mil celulares cadastrados na região do litoral norte. O órgão informou ainda que começou a articular ações as defesas civis municipais na quinta-feira quando recebeu a previsão de fortes chuvas na região.
“Os primeiros avisos divulgados pela Defesa Civil do Estado, que ocorreram ainda de forma preventiva, foram publicados por volta das 15 horas de quinta-feira, nas redes sociais da Defesa Civil e do Governo com informações sobre o volume de chuvas estimado para o período, bem como as medidas de segurança que poderiam ser adotadas pela população em áreas de risco”, diz a nota.
O órgão disse ainda que à 00h52 de sexta, ao acompanhar imagens de radares e satélites, enviou a primeira mensagem de SMS com o alerta.
Nas redes sociais da Defesa Civil, a primeira mensagem de alertas para chuvas fortes no sábado foi feita às 12h22. A mensagem, no entanto, não fala sobre os riscos de desmoronamento.
Durante a noite, outros alertas foram postados pelo órgão e nenhum deles faz menção ao risco de desmoronamento de terra. Foi só às 19h49 uma mensagem recomendou que as pessoas deixassem o local se precisassem.
Para os especialistas, a proporção do desastre e o elevado número de vítimas mostram que apenas a estratégia de envio de SMS aos moradores não é eficiente. Além de não ser possível saber se as pessoas viram os alertas, não havia um plano ou orientação sobre o que fazer na situação.
“Você cria um sistema de aviso, as pessoas podem até receber a mensagem, mas não sabem o que fazer com aquela informação. Não há uma orientação para onde devem ir, quando sair de casa, o que levar”, diz Eduardo Mario Mendiondo, coordenador científico do Ceped (Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres) da USP.
Para ele, a estratégias devem pensar também criação de rotas de fugas em áreas de risco e na orientação aos moradores. “A população precisa saber qual o risco está correndo e como se proteger. É injusto depois dizer que eles não queriam sair de casa, eles não tinham orientação correta do que fazer.”
Segundo ele, em diversas cidades do país, como Petrópolis e Salvador, o alerta ocorre por uma sirene.
“Você garante que todo mundo vai ouvir a qualquer momento do dia. É o instrumento mais antigo, mas que funciona. Uma sirene dá o recado claro do risco iminente”, diz.
Para Fernando Rocha Nogueira, coordenador do LabGRIS (Laboratório Gestão de Riscos) da UFABC, as autoridade brasileiras assistem de forma inerte aos desastres que ocorrem no país. Segundo ele, o Brasil conta com bons sistemas de monitoramento, mas não desenvolve estratégias para proteger a população.
“Temos um problema grave de comunicação no país. Tinha o mapeamento de que iria chover muito, que havia um alto risco e não se deu a atenção devida. Milhares de pessoas desceram para o litoral, ignorando a previsão. Nós não temos conscientização do risco, nós vivemos um negacionismo das informações climáticas”, diz.
Como foram os avisos
Quinta-feira (16) Boletim do Cemaden alerta para a ocorrência de chuvas fortes e volumosas no litoral paulista durante o Carnaval
Sexta-feira (17) Em reunião virtual, o Cemaden faz alerta sobre a previsão de chuvas fortes e o risco de deslizamentos de terra para integrantes da Defesa Civil do estado. A vila do Sahy estava entre as áreas apontadas como de maior risco
Sábado (18)
12h22: Defesa Civil do Estado avisa nas redes sociais que a chuva estava se espalhando pela região de Ubatuba e Caraguatatuba. “Tem vento e raios. Atinge municípios vizinhos. Tenha cuidado nas próximas horas”, diz a mensagem
18h33: Uma nova mensagem da Defesa Civil é postada alertando para chuva persistente na região.
19h49: Outra mensagem é postada pela Defesa Civil diz que a “chuva está se espalhando” pelo Litoral Norte e pede para que as pessoas “tenham cuidado nas próximas horas”
23h13: A Defesa Civil alerta que a chuva persiste na região e recomenda “não enfrente alagamentos. Fique atento a inclinação de muros e a rachaduras. Se precisar saia do local”
03h15: O órgão volta a alerta sobre a chuva forte e persistente no litoral norte e diz “não enfrente alagamentos. Fique atento a inclinação de muros e a rachaduras. Se precisar saia do local.”
Especialistas apontam falta de investimento e defasagem do modelo; temporal foi agravado por ciclone extratropical, diz meteorologista
Carlos Petrocilo
22 de fevereiro de 2023
A falta de investimento em novas tecnologias, aliada à aceleração das mudanças climáticas, torna a previsão do tempo mais imprecisa no Brasil, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
O serviço de meteorologia é essencial para que órgãos públicos, como Defesa Civil, se preparem com antecedência na tentativa de mitigar os efeitos de um temporal.
Como consequência do temporal, 48 pessoas morreram, sendo 47 em São Sebastião e uma em Ubatuba, conforme os dados desta quarta (22).
Segundo o professor Eduardo Mario Mendiondo, coordenador científico do Ceped (Centro de Educação e Pesquisa de Desastres) da USP, os modelos atuais de previsão utilizam parâmetros atmosféricos calibrados por condições históricas e precisam ser atualizados.
“O clima está mudando, com maior magnitude e com maior frequência de ocorrência de extremos. Os modelos precisam ser atualizados de forma constante, em escala global e em regiões específicas, com microclima e dinâmicas peculiares, como é o caso da Serra do Mar e da Baixada Santista”, afirma Mendiondo.
O professor chama atenção para falta de investimentos públicos. Segundo ele, o governo precisa reforçar o quadro de servidores e investir em novas ferramentas para Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
“Falta aumentar em 20 vezes o potencial de supercomputadores atuais em território nacional, falta contratar até 20 vezes o número servidores de manutenção e operação de supercomputadores e falta contratar até em dez vezes o número atual de técnicos operadores”, afirma o professor da USP.
Para suprir tais necessidades, Mendiondo estima que é necessário investimentos de R$ 25 bilhões por ano. “Isto para converter essas novas evidências científicas, melhorando as previsões, seguindo exemplos como Japão, Europa e Estados Unidos.”
O meteorologista Mamedes Luiz Melo afirma que o volume de chuva foi agravado pela ação do ciclone extratropical associado a uma frente fria que passou pelo Sul do país e por São Paulo. “A tecnologia vinha alertando, mas estamos lidando com algo móvel na atmosfera”, afirma Melo.
A Defesa Civil diz, em nota, que os boletins especiais e de aviso de risco meteorológicos são emitidos com base em simulações numéricas de previsão do tempo. “Tais limiares baseiam-se no histórico da chuva da região em que a chuva acumulada representa risco para transtornos, como deslizamentos, desabamentos, alagamentos, enchentes e ocorrências relacionadas a raios e ventos”, disse a Defesa Civil.
As projeções do Inmet, que emite alertas sobre riscos de deslizamentos para órgãos públicos, previram volumes de chuva menores do que um modelo usado pela empresa de meteorologia MetSul.
O modelo da empresa, chamado WRF, apontou que algumas áreas poderiam ter chuva acima de 600 mm em alguns pontos do terreno, o que acabou se confirmando. As previsões mais graves do instituto federal falavam em chuvas no patamar de 400 mm.
A previsão do Inmet para a chuva no litoral norte utilizou seis modelos numéricos diferentes. O instituto também usa o WRF, mas com uma resolução menor do que a da MetSul. Ou seja, a empresa conseguiu fazer os cálculos a partir de detalhes mais precisos do relevo do que o órgão público.
“O WRF tem se mostrado uma ferramenta muito importante na identificação de eventos extremos de chuva”, diz a meteorologista Estael Sias, da MetSul. “É importante assinalar que o modelo WRF é meramente uma ferramenta de trabalho, um produto, e não a previsão, e que o prognóstico final divulgado ao público e clientes leva em conta outros modelos e também a experiência do meteorologista para eventos extremos.”
Segundo o meteorologista Franco Nadal Villela, da equipe do Inmet em São Paulo, a resolução não é o fator mais decisivo na previsão de chuvas. Ele diz que os modelos usados pelo instituto deram conta de prever que o temporal em São Sebastião seria muito grave, embora não tenham chegado ao valor de 600 mm.
“Há modelos de menor resolução que pontualmente previram menos precipitação”, diz Villela. “As previsões modeladas estavam prevendo bem este evento e as variações na quantificação de precipitação [volume de chuva por hora] são mais uma das varáveis que ponderamos para emitir alertas.”
A Folha enviou perguntas através de email ao Inpe, que coordena o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Para José Marengo, climatologista e coordenador do Cemaden, defende mudanças [sic]. Ele explica que o modelo de previsão do tempo divide a região em áreas de até 200 quilômetros quadrados. Com isso, não é possível prever a quantidade de chuva aproximada em toda a região.
“O Brasil não está preparado tecnologicamente. É como se dividisse o Brasil em caixas grandes de 200 quilômetros quadrados, por isso há distorções dentro da mesma região. Pode ter áreas em que chove menos e outras que superaram os 600 milímetros, a modelagem não é perfeita”, afirma Marengo.
Ele também alerta para a falta de novas tecnologias. “O supercomputador do Inpe, o Tupã, que resolve as equações matemáticas em alta velocidade, é de 2010 e considerado obsoleto”, afirma o climatologista.
O professor Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, concorda que é área precise de mais recursos, mas pondera que as previsões dos órgãos do governo foram suficientes para apontar que uma tempestade grave se aproximava.
“A espera pelo investimento não pode postergar a solução do problema, as previsões já funcionam.”
A Folha publicou, no dia 28 de dezembro de 2010, a inauguração do supercomputador. Na ocasião, o Tupã custou R$ 31 milhões e era utilizado em países como Estados Unidos, China, Alemanha e Rússia. Para operá-lo, o Inpe precisou construir uma nova central elétrica, de mil quilowatts —antes tinha só 280 quilowatts disponíveis no instituto.
Até hoje os especialistas apontam o Tupã como o melhor equipamento que o Brasil possui para prever, além de enchentes, ondas de calor e frio e os períodos de seca.
Microplastics found washed up on a beach. About 11 percent of microplastics in the atmosphere over the western U.S. come from the ocean. Visual: Alistair Berg/DigitalVision via Getty Images
Airborne microplastics can absorb or reflect sunlight and seed clouds. How might that change the planet’s trajectory?
Plastic has become an obvious pollutant over recent decades, choking turtles and seabirds, clogging up our landfills and waterways. But in just the past few years, a less obvious problem has emerged. Researchers are starting to get concerned about how tiny bits of plastic in the air, lofted into the skies from seafoam bubbles or spinning tires on the highway, might potentially change our future climate.
“Here’s something that people just didn’t think about — another aspect of plastic pollution,” says environmental analytical chemist Denise Mitrano of ETH Zürich University, in Switzerland, who co-wrote an article last November highlighting what researchers know — and don’t yet know — about how plastics can change clouds, potentially altering temperature and rainfall patterns.
This story was originally published by the Yale Environment 360 and is reproduced here as part of the Climate Desk collaboration.
Clouds form when water or ice condenses on “seeds” in the air: usually tiny particles of dust, salt, sand, soot, or other material thrown up by burning fossil fuels, forest fires, cooking, or volcanoes. There are plenty of these fine particles, or aerosols, in the skies — a lot more since the Industrial Revolution — and they affect everything from the quality of the air we breathe, to the color of sunsets, to the number and type of clouds in our skies.
Until recently, when chemists thought of the gunk in our air, plastics did not leap to mind. Concentrations were low, they thought, and plastic is often designed to be water repellent for applications like bags or clothing, which presumably made them unlikely to seed cloud droplets. But in recent years, studies have confirmed not only that microscopic pieces of plastic can seed clouds — sometimes powerfully — but they also travel thousands of miles from their source. And there are a lot more particles in the air than scientists originally thought. All this has opened researchers’ eyes to their potential contribution to atmospheric murk — and, possibly, to future climate change.
“The people who invented plastics all those decades ago, who were very proud of inventions that transformed society in many ways — I doubt they envisaged that plastics were going to end up floating around in the atmosphere and potentially influencing the global climate system,” says Laura Revell, an atmospheric scientist at the University of Canterbury in New Zealand. “We are still learning what the impacts are for humans, ecosystems, and climate. But certainly, from what we know so far, it doesn’t look good.”
Global annual production of plastics has skyrocketed from 2 million tons in 1950 to more than 450 million tons today. And despite growing concerns about this waste accumulating in the environment, production is ramping up rather than slowing down — some oil companies are building up their plastic production capacity as the demand for fossil fuel declines. To date, more than 9 billion tons of plastic has been produced, and about half of it has gone to landfills or been otherwise discarded. Some project that by 2025, 11 billion tons of plastic will have accumulated in the environment.
Plastic has been found in soils, water, crops, and on the ocean floor. And in recent years, several studies have suggested that microplastics (pieces less than 5 millimeters in length) and nanoplastics (smaller than approximately 1,000 nanometers) were being transported long distances through the air. In 2019, for example, researchers found microplastics in the Pyrenees that had arrived via rain or snowfall. In 2020, Janice Brahney of Utah State University and four co-authors published a high-profile Science paper revealing high amounts of plastic in federally protected areas of the United States. Brahney had found the plastic by accident; she had been looking for phosphorus, but was surprised by all the colorful bits of gunk in her ground-based filters. Her study led to a slew of headlines warning, “It’s raining plastic.”
Brahney’s extensive U.S. dataset also opened the door for modelers to figure out where, exactly, all this plastic was coming from. “It’s a really beautiful data set,” says Cornell University’s Natalie Mahowald, who did the modeling work.
Mahowald took the plastic concentrations Brahney had cataloged and mapped them against atmospheric patterns and known sources of plastics, including roads, agricultural dust, and oceans. On roadways, tires and brakes hurl microplastics into the air. Plastic winds up in agricultural dust, notes Mahowald, in part from plastics used on farm fields and in part because people toss fleece clothing into washing machines: The wastewater flows to treatment plants that separate solids from liquids, and about half the resulting biosolids get sent to farms for use as fertilizer. As for the ocean, Mahowald says, big globs of plastic in places like the Pacific Gyre degrade into microscopic pieces, which then float to the surface and are whipped up into the air by chopping waters and bursting air bubbles.
Mahowald’s model concluded that over the western U.S., 84 percent of microplastics were coming from roads, 5 percent from agricultural dust, and 11 percent from the oceans. Plastic is so lightweight that even chunks tens of micrometers across — the width of a human hair — can be lofted and blown great distances. The model revealed that some of this plastic was found thousands of miles from its presumed source. The smaller the pieces, the longer they can stay aloft.
While individual bits of plastic may stay in the air for only hours, days, or weeks, there’s so much being kicked up so consistently that there’s always some in the air: enough that plastic bits are now also found in human lungs. “We’re definitely breathing them right now,” says Mahowald.
Working out exactly how much plastic is in our skies is extremely difficult. Most of these studies are done by painstakingly teasing bits of plastic out of filters and examining them under a microscope to get an estimate of shape and color, then using spectroscopic techniques to confirm their source material. The smaller the pieces, the harder they are to identify. Studies can also be plagued by contamination: Walking into a lab wearing a fleece sweater, for example, can skew results with shedding plastic microfibers.
Nearly a dozen studies have shown airborne microplastic concentrations ranging from between 0.01 particles per cubic meter over the western Pacific Ocean to several thousand particles per cubic meter in London and Beijing. The cities showing higher levels are probably genuinely more polluted, says Revell, but it’s also true that those studies used a more-sensitive technique that could identify smaller bits of plastic (under 10 micrometers in size). The other studies would have missed such smaller pieces, which made up about half the plastic found in the London and Beijing studies.
Plastic bits are now found in human lungs. “We’re definitely breathing them right now,” says Mahowald.
Concentrations of airborne nanoplastics are understood even less. The numbers floating around today, says atmospheric chemist Zamin Kanji, Mitrano’s colleague at ETH Zürich, are likely to be “significantly underestimated.”
For now, the proportion of plastics to total airborne aerosols is tiny, so plastics aren’t contributing much to aerosol climate impacts, says Mahowald. Even in London and Beijing, plastic may account for only a millionth of the total aerosols. But plastic production, and the accumulation of plastic in the environment, keeps going up. Says Mahowald, “It’s only going to get worse.”
That’s especially true in less polluted regions — like over the oceans of the Southern Hemisphere, Kanji says. Since plastic can likely travel farther than other, denser aerosols, it could become a dominant airborne pollutant in more pristine areas. Brahney and Mahowald’s paper concludes that plastic currently makes up less than 1 percent of anthropogenic aerosols landing on the ground but they could, “alarmingly,” make up more than 50 percent of the aerosols landing on some parts of the ocean downwind from plastic sources.
Exactly how aerosols affect climate has been a critical sticking point in climate models, and many of the details are still unknown. Different aerosols can change the climate by either reflecting or absorbing sunlight, which can depend, in part, on their color. Black soot, for example, tends to have a warming effect, while salt reflects and cools. Aerosols can land on the ground and change the albedo, or reflectivity, of ice and snow.
Aerosols also affect cloud formation: Different bits and pieces can seed more and smaller droplets of water or ice, making for different types of clouds at different elevations that last for different amounts of time. High-altitude, thin, icy clouds tend to warm the Earth’s surface like a blanket, while low-altitude, bright and fluffy clouds tend to reflect sunlight and cool the Earth.
Though tiny, aerosols have an oversized influence on climate. The murk of anthropogenic aerosols in the sky has, overall, had a dramatic cooling effect since the Industrial Revolution (without them, global warming would be 30 to 50 percent greater than it is today). And they have more sway on extreme weather than greenhouse gases do: A world warmed by removing aerosols would have more floods and droughts, for example, than a world warmed the same amount by CO2.
Revell and her colleagues took a stab at trying to model how microplastics might affect temperature by either reflecting or absorbing sunlight, a calculation of what’s known as “radiative forcing.” For simplicity’s sake, they assumed that plastic is always clear, even though that’s not true (and darker material tends to absorb more sunlight), and that the global concentration is uniformly one particle per cubic meter, which is on the order of 1,000 times lower than concentrations measured in, say, London.
With those assumptions, Revell found that plastic’s direct impact on radiative forcing is “so small as to be insignificant.” But, importantly, if concentrations reach 100 particles per cubic meter (which they already have in many spots), plastics could have about the same magnitude of radiative forcing as some aerosols already included in Intergovernmental Panel on Climate Change assessments. In other words, plastics become noteworthy. But whether they would warm, or cool, the Earth is unknown.
Though tiny, aerosols have an oversized influence on climate.
Aerosols often have a greater impact on the climate through their influence on clouds. Pristine plastic beads, Kanji notes, repel water and so are unlikely to affect clouds. But plastic can “age” in a matter of hours, says Kanji, during its transit to the sky: It can be abraded, or it can accumulate salt from the ocean and other chemicals from the atmosphere, all of which can make the particles more water-loving. Plastic pieces can also contain nooks and crannies, which aid in the formation of ice.
In the lab, Kanji’s student Omar Girlanda has run preliminary tests showing that under such battered conditions, plastic pieces can be potent cloudmakers. “Some of them are as good as mineral dust particles,” says Kanji, “which is the most well-known, effective ice nucleus out there.”
Kanji says skies heavily polluted with plastic will probably make both more high-altitude ice clouds, which tend to warm the Earth’s surface, and more low-altitude water clouds, which tend to cool the Earth. Which effect will dominate is unknown. “It doesn’t make sense to model it at the moment, given the poor estimates we have of [atmospheric] plastic,” says Kanji. Plastic could also affect precipitation patterns: In general, Kanji says, clouds that are more polluted tend to last longer before bursting into rain than do less polluted clouds, and then they rain more heavily.
Revell and her colleagues are now whittling down the assumptions in their paper, working out more detailed calculations for more realistic estimates of plastic concentrations, colors, and sizes. “All we know is that the problem is not going to go away anytime soon,” she says. “These plastics are incredibly long lived. They’re breaking down, and they’re going to be forming new microplastics for centuries. We just don’t know how big the problem is that we’ve committed ourselves to.”
Nicola Jones is a freelance journalist based in Pemberton, British Columbia. Her work can be found in Nature, Scientific American, Globe and Mail, and New Scientist.
Some things can’t be said easily in polite company. They cause offence or stir up intense anxiety. Where one might expect a conversation, what actually occurs is what the sociologist Eviator Zerubavel calls a ‘socially constructed silence.’
In his book Don’t Even Think About It,George Marshall argues that after the fiasco of COP 15 at Copenhagen and ‘Climategate’—when certain sections of the press claimed (wrongly as it turned out) that leaked emails of researchers at the University of East Anglia showed that data had been manipulated—climate change became a taboo subject among most politicians, another socially constructed silence with disastrous implications for the future of climate action.
In 2013-14 we carried out interviews with leading UK climate scientists and communicators to explore how they managed the ethical and emotional challenges of their work. While the shadow of Climategate still hung over the scientific community, our analysis drew us to the conclusion that the silence Marshall spoke about went deeper than a reaction to these specific events.
Instead, a picture emerged of a community which still identified strongly with an idealised picture of scientific rationality, in which the job of scientists is to get on with their research quietly and dispassionately. As a consequence, this community is profoundly uncomfortable with the storm of political controversy that climate research is now attracting.
The scientists we spoke to were among a minority who had become engaged with policy makers, the media and the general public about their work. A number of them described how other colleagues would bury themselves in the excitement and rewards of research, denying that they had any responsibility beyond developing models or crunching the numbers. As one researcher put it, “so many scientists just want to do their research and as soon as it has some relevance, or policy implications, or a journalist is interested in their research, they are uncomfortable.”
We began to see how for many researchers, this idealised picture of scientific practice might also offer protection at an unconscious level from the emotional turbulence aroused by the politicisation of climate change.
In her classic study of the ‘stiff upper lip’ culture of nursing in the UK in the 1950s, the psychoanalyst and social researcher Isobel Menzies Lyth developed the idea of ‘social defences against anxiety,’ and it seems very relevant here. A social defence is an organised but unconscious way of managing the anxieties that are inherent in certain occupational roles. For example, the practice of what was then called the ‘task list’ system fragmented nursing into a number of routines, each one executed by a different person—hence the ‘bed pan nurse’, the ‘catheter nurse’ and so on.
Ostensibly, this was done to generate maximum efficiency, but it also protected nurses from the emotions that were aroused by any real human involvement with patients, including anxiety, something that was deemed unprofessional by the nursing culture of the time. Like climate scientists, nurses were meant to be objective and dispassionate. But this idealised notion of the professional nurse led to the impoverishment of patient care, and meant that the most emotionally mature nurses were the least likely to complete their training.
While it’s clear that social defences such as hyper-rationality and specialisation enable climate scientists to get on with their work relatively undisturbed by public anxieties, this approach also generates important problems. There’s a danger that these defences eventually break down and anxiety re-emerges, leaving individuals not only defenceless but with the additional burden of shame and personal inadequacy for not maintaining that stiff upper lip. Stress and burnout may then follow.
Although no systematic research has been undertaken in this area, there is anecdotal evidence of such burnout in a number of magazine articles like those by Madeleine Thomas and Faith Kearns, in which climate scientists speak out about the distress that they or others have experienced, their depression at their findings, and their dismay at the lack of public and policy response.
Even if social defences are successful and anxiety is mitigated, this very success can have unintended consequences. By treating scientific findings as abstracted knowledge without any personal meaning, climate researchers have been slow to take responsibility for their own carbon footprints, thus running the risk of being exposed for hypocrisy by the denialist lobby. One research leader candidly reflected on this failure: “Oh yeah and the other thing [that’s] very, very important I think is that we ought to change the way we do research so we’re sustainable in the research environment, which we’re not now because we fly everywhere for conferences and things.”
The same defences also contribute to the resistance of most climate scientists to participation in public engagement or intervention in the policy arena, leaving these tasks to a minority who are attacked by the media and even by their own colleagues. One of our interviewees who has played a major role in such engagement recalled being criticised by colleagues for “prostituting science” by exaggerating results in order to make them “look sexy.”“You know we’re all on the same side,” she continued, “why are we shooting arrows at each other, it is ridiculous.”
The social defences of logic, reason and careful debate were of little use to the scientific community in these cases, and their failure probably contributed to internal conflicts and disagreements when anxiety could no longer be contained—so they found expression in bitter arguments instead. This in turn makes those that do engage with the public sphere excessively cautious, which encourages collusion with policy makers who are reluctant to embrace the radical changes that are needed.
As one scientist put it when discussing the goal agreed at the Paris climate conference of limiting global warming to no more than 2°C: “There is a mentality in [the] group that speaks to policy makers that there are some taboo topics that you cannot talk about. For instance the two degree target on climate change…Well the emissions are going up like this (the scientist points upwards at a 45 degree angle), so two degrees at the moment seems completely unrealistic. But you’re not allowed to say this.”
Worse still, the minority of scientists who are tempted to break the silence on climate change run the risk of being seen as whistleblowers by their colleagues. Another research leader suggested that—in private—some of the most senior figures in the field believe that the world is heading for a rise in temperature closer to six degrees than two.
“So repeatedly I’ve heard from researchers, academics, senior policy makers, government chief scientists, [that] they can’t say these things publicly,” he told us, “I’m sort of deafened, deafened by the silence of most people who work in the area that we work in, in that they will not criticise when there are often evidently very political assumptions that underpin some of the analysis that comes out.”
It seems that the idea of a ‘socially constructed silence’ may well apply to crucial aspects of the interface between climate scientists and policy makers. If this is the case then the implications are very serious. Despite the hope that COP 21 has generated, many people are still sceptical about whether the rhetoric of Paris will be translated into effective action.
If climate change work is stuck at the level of ‘symbolic policy making’—a set of practices designed to make it look as though political elites are doing something while actually doing nothing—then it becomes all the more important for the scientific community to find ways of abandoning the social defences we’ve described and speak out as a whole, rather than leaving the task to a beleaguered and much-criticised minority.
Em entrevista exclusiva a SUMAÚMA, o líder político Davi Kopenawa conta de sua esperança de que Lula tenha se tornado mais sábio para ser capaz de proteger a Amazônia: “Antes, ele errou. Não quero que nos engane novamente”
O nome de Davi Kopenawa foi anunciado para compor a equipe de transição que discutirá a criação do Ministério dos Povos Originários, promessa de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Grande liderança política dos Yanomami, que ocupam há milênios a floresta amazônica entre o Brasil e a Venezuela, Davi é uma referências dos povos originários no planeta. Em sua trajetória de enfrentamento dos invasores de suas terras, não há notícia de que tenha jamais se corrompido. Nem por riqueza material nem por vaidade, mal que acomete alguns líderes ao penetrar no insidioso mundo dos brancos – ou napëpë, na língua Yanomam, palavra traduzida também como “inimigo”. Davi se manteve fiel a sua ancestralidade, aos seus mais velhos, à cosmopolítica xamânica, o que faz dele uma árvore muito sólida no complexo mundo que une numa palavra impingida pelos colonizadores – “indígenas” – mais de 300 povos no Brasil com culturas muito diversas. O xamã chega à equipe de transição com esperanças, mas também com memória: “Antes, Lula errou. Ele está mais velho, talvez tenha ficado mais sábio. Talvez Lula tenha aberto o seu pensamento, mas ninguém sabe o que ele esconde em seu coração. Não quero que nos engane novamente”.
Radical no seu compromisso com a palavra, que na política que aprendeu não pode ser sacrificada em nome de interesses, a verdade para Davi Kopenawa é inegociável. Dessa retidão que não admite uma “boca que fala mentiras” vêm as respostas do intelectual da Amazônia nesta entrevista feita na língua Yanomam pela indigenista e antropóloga Ana Maria Machado (e traduzida por ela) a pedido de SUMAÚMA. Autor, com o antropólogo francês Bruce Albert, de A queda do céu (Companhia das Letras, 2015), livro que representa uma inflexão na antropologia, Davi sabe que fala para aqueles que chama de “povo da mercadoria”. Observador atento dos debates climáticos que frequenta pelos palcos do mundo, ele acredita que Lula só irá se mover se houver forte pressão e financiamento da proteção da Amazônia pelos países monetariamente mais ricos, em especial os europeus.
Davi Kopenawa é também um competente tradutor de mundos. Consegue traduzir o universo dos brancos para os Yanomami e também traz até nós, nesta entrevista, recados que lhes são passados pelos xapiripë [espíritos auxiliares dos xamãs]. Traduz ainda o pedido de socorro de uma velha liderança, que não conhece o mundo dos brancos para além do horror da destruição do garimpo que devora toda vida em sua aldeia. Com o território invadido por milhares de garimpeiros, hoje o contexto é pior do que qualquer outro na trajetória de brutalidades vivida pelos Yanomami desde o primeiro contato com os brancos, na primeira metade do século 20: há envolvimento do crime organizado, com armas pesadas, e aliciamento dos indígenas mais jovens.
O líder Yanomami espera que a expulsão dos invasores do território de seu povo seja o primeiro ato do presidente após a posse, em 1º de janeiro. Para que a vitória de Lula se tornasse possível em uma disputa tão apertada com o extremista de direita Jair Bolsonaro, ele conta ter sido necessário um esforço conjunto dos xamãs em 30 de outubro, data do segundo turno da eleição. Faz ainda um apelo aos leitores, para que deixem de comprar ouro, esse ouro com sangue Yanomami e também de outros povos originários, esse ouro que destrói a verdadeira riqueza, a floresta, para colocar valor no metal convertido em mercadoria ordinária.
A seguir, a palavra de Davi Kopenawa.
ANA MARIA MACHADO: Agora que Lula venceu a eleição, o que você espera do novo presidente?
DAVI KOPENAWA: Eu vou explicar para os napëpë [napë = branco, inimigo, estrangeiro + pë = plural] o que nós, da comunidade do Watorikɨ, estamos pensando. Nós ficamos sabendo que aquele que já foi presidente voltará ao poder, então dissemos assim: “Dessa vez, ele talvez tenha se tornado mais sábio. Antes, ele errou, mas agora talvez esteja pensando corretamente, e por isso quero que ele se torne um presidente de verdade. Não quero que nos engane novamente. Ele vai voltar a ser o presidente e ficará de fato atento às nossas terras. Ele irá olhar para nós e pensar sobre nós. Se ele nos defender, ficaremos contentes com ele”.
O que está acontecendo hoje na Terra Indígena Yanomami que Lula precisa resolver com mais urgência?
Hoje, a fala dos velhos, dos líderes Yanomami, é cheia de sofrimento. Apenas eu frequento a cidade, e por isso consigo espalhar essas palavras. Tudo está muito ruim em nossas terras, os garimpeiros levam o horror. Agora que Lula virou presidente, em primeiro lugar precisa expulsá-los, retirá-los de verdade. Eu não estou dizendo isso sem razão, mas sim porque estamos vivendo o caos. E por quê? Porque eles assorearam os rios, porque poluem as águas e porque as águas se tornaram muito turvas nos lugares onde só tem um rio correndo. Eles estragaram as cabeceiras dos rios que nascem em nossas serras. Aqueles de nós que vivem perto do garimpo estão sofrendo, passando fome. Os garimpeiros não param de chegar. Nós [Yanomami] conversamos entre os diferentes lugares da nossa terra, temos a radiofonia para nos comunicar. Um parente mais velho da região do Xitei, que me trata como filho, disse que a situação ali está calamitosa. Ele disse que as pessoas mais velhas como ele estão cansadas de ver os garimpeiros sempre chegando, sempre trabalhando nas águas, sempre sujando as águas. E não é só isso: estão muito bravos por causa das armas. Aqueles Yanomami mais ignorantes disseram que os garimpeiros poderiam chegar lá levando armas. Porém, aquelas pessoas que destroem a floresta têm armas pesadas. Essas armas não são como as flechas, os garimpeiros distribuem revólveres. Eles tratam os mais novos como se fossem lideranças, iludem os Yanomami mais jovens dizendo: “Pegue uma arma! Se você tiver uma arma, será nosso amigo. Se você ficar contra nós, não irá receber uma arma”. Ao falarem assim com os jovens, aumentaram a quantidade de armas entre os Yanomami, e os garimpeiros fazem que nos matemos entre nós. Esse meu pai lá do Xitei explicou: “Se não estivéssemos nos matando entre nós, eu não precisaria estar aqui explicando. Meu filho, vá e diga isso para aquele que se tornou o líder [presidente]. Que afaste os garimpeiros que trabalham em nossa terra. Diga isso a ele. Você conhece os líderes dos napëpë, cobre que façam isso, que acabem com essas pessoas que estão em nossas terras, que as levem para longe”. Foi isso que meu pai me disse, e estou passando para a frente. É por tudo isso que eu estou reivindicando: Lula, não comece trabalhando nas terras dos brancos primeiro. Antes, retire os garimpeiros da nossa terra. Agora, Lula, você se tornou o presidente e, no mês de janeiro, vai se sentar no Palácio do Planalto. Nesse dia, comece a mandar os garimpeiros embora.
Era isso que eu queria dizer para vocês, brancos. E não estou dizendo isso à toa. Não quero ficar aqui sofrendo enquanto tiram minha imagem [filmam], o que estou reivindicando é verdadeiro, a terra adoecida está se espalhando por todos os cantos. É porque tem malária demais e porque o descontrole da malária chegou com o garimpo, é porque as nossas mulheres estão sofrendo demais, é porque nos lugares das terras altas onde não tem mais caça o espírito da fome, Ohinari, se aproximou. Já que eu conheço o novo presidente, vou cobrar, dizendo: “Quando você discursou, eu o escutei. Todos nós guardamos suas palavras em nossos ouvidos. Nós indígenas e também os napëpë, todos ouvimos suas palavras pelo celular. Não queremos ficar com nosso pensamento em sofrimento caso você esteja mentindo. Que seja verdade o que você disse em reunião, que caso se tornasse presidente novamente iria proteger os povos indígenas, que estão sofrendo no Brasil. Eu não quero que continuem destruindo a floresta que vocês brancos chamam de Amazônia. Portanto, Lula, é isso que estou te cobrando, que você faça isso primeiro”.
É verdade. Lula disse que não irá aceitar garimpo em terra indígena. Mas, nos anos 1990, quando seus parentes mais velhos morreram na primeira invasão garimpeira [1986-1993], quando aconteceu a operação Selva Livre, que tirou 40 mil garimpeiros, naquele tempo não havia crime organizado e milícias envolvidos nem os jovens Yanomami eram aliciados como agora. Hoje em dia o tráfico de drogas está misturado ali, assim como pessoas que fugiram da prisão. Eles têm armas pesadas e bombas. Será que não vai ser mais difícil tirar os garimpeiros hoje? Será que os jovens Yanomami que estão envolvidos vão opor alguma resistência? Apesar de termos Lula agora no governo, será possível acabar com o garimpo?
É verdade que hoje em dia a situação está muito ruim, tem muitas coisas misturadas. Os napëpë têm trazido drogas, cachaça e até cocaína. Com tudo isso misturado, os garimpeiros ficam alterados. Eles trabalham drogados. Os homens cheiram cocaína e ficam sentindo tesão pelas nossas mulheres. Como eles não vêm acompanhados de suas mulheres, eles cheiram cocaína e o pensamento deles fica alterado, eles ficam destemidos e pensam assim: “Já que eu estou drogado, estou sem medo. Já que estou sem medo, eu chamo as mulheres Yanomami, como suas vaginas e faço filhos nelas”. Hoje em dia essas pessoas também têm metralhadoras, bombas, e os garimpeiros dizem: “Se quiserem nos expulsar, mesmo sendo a Polícia Federal, nós vamos matá-los”. Além disso, tem também o mercúrio usado para separar o ouro, que está no meio de tudo. Tudo isso é terrível. O presidente Lula vai mandá-los sair, mas talvez não o escutem. Eu também fico pensando sobre isso. Se o escutarem, todas as pessoas do Brasil e da Europa, aqueles outros que querem que ele mantenha a floresta amazônica em pé e saudável, para mim está certo se eles o mandarem cuidar da floresta e lhe derem dinheiro para que retire os garimpeiros. Se for criada uma frente mundial em que todos nós conversemos juntos, unindo as autoridades dos napëpë e nós, indígenas, então conseguiremos nos defender, pois nós, indígenas, já sabemos lutar. Essa não é a terra dos garimpeiros, e já que eles têm causado o horror em nossas terras, levando muita desgraça misturada, já que eles têm feito as crianças sofrerem, magras e desnutridas, já que o garimpo mata os Yanomami pelo mal das epidemias, pelo mal da fome nos rios Uraricoera, Mucajaí, nas cabeceiras do rio Catrimani, e também em Homoxi, Xitei, Parafuri e Parima, nós temos que lutar.
Mas, para curar a Terra-floresta, vocês precisam também baixar o preço do ouro, precisam cortar isso. Vocês, napëpë, que pedem ouro, que compram ouro, precisam parar. Vocês das lojas de ouro, precisam baixar o preço. Como o ouro é muito caro, os garimpeiros estão sempre invadindo minha terra. Você, mulher que entende nossa língua Yanomam, vai escrever e traduzir, e para aqueles que captam minha imagem, quando eu aparecer, quando vocês ouvirem minhas palavras, me levem a sério, concordem comigo, e digam: “Sim, é verdade! Nós erramos. Nós não sabemos respeitar. Até falamos em respeito, mas estamos enganando, nossas bocas não dizem a verdade”. Era isso que eu queria dizer a vocês.
Quando Lula se tornou presidente pela primeira vez, em 2003, ele mudou a regulação das ONGs, o que levou ao fim da Urihi-Saúde Yanomami. A Urihi fez um excelente trabalho de atendimento de saúde para os Yanomami [entre 1999 e 2004] e conseguiu erradicar a malária em sua terra. Hoje, estamos vendo a malária fora de controle. O que o governo deve fazer com relação à saúde indígena?
Foi o seguinte: no início, Lula errou. Ele não sabia pensar direito. E, por ter errado no início, aconteceu isso. Ele também fez [a Usina Hidrelétrica de] Belo Monte, e esse foi um grande erro. Estragou um grande rio sem razão. Também errou com a saúde indígena. Lula errou na saúde, no assunto de viver bem e saudável, e tudo enfraqueceu. Os remédios pararam de chegar, os funcionários napëpë que trabalham em nossas terras, como técnico de enfermagem, médico e dentista, passaram a trabalhar de forma precária, já que não enviavam material. Então eu sei um pouco sobre isso, mas escondo essas palavras. Quando Lula se tornar mesmo o presidente, eu quero falar de perto com ele. “Lula, você me conhece, você precisa melhorar a saúde indígena. Precisa limpar novamente a saúde indígena, fazer os técnicos e profissionais de saúde trabalharem de verdade”. No governo de Bolsonaro, são os políticos que escolhem os coordenadores de saúde; [com Lula] eu e os conselheiros locais [representantes de toda a Terra Indígena Yanomami] vamos sentar para indicar alguém que a gente conheça, que seja nosso amigo e que trabalhe bem com a gente, só assim a saúde vai melhorar. É isso que quero dizer a Lula. Já que a saúde é prioridade para podermos viver bem, para nossos filhos crescerem bem, e considerando que estamos em uma situação lastimável, vou reivindicar isso. O presidente Jair Bolsonaro acabou com a nossa saúde. Ele nos matou como se fôssemos peixes.
Lula disse que vai criar o Ministério dos Povos Originários. O que você pensa disso?
É verdade. Ele disse que faria isso caso se tornasse presidente. E, já que ele disse, agora temos mulheres indígenas jovens que possuem o conhecimento dos napëpë, sabem agir como napëpë. Existem também jovens que sabem agir como os napëpë, sabem usar as máquinas, os celulares. E, já que temos essas pessoas que sabem trabalhar assim, eu penso o seguinte: “Awei, presidente Lula, já que você disse com clareza, eu deixei isso fixado no meu pensamento”. Acho que a dra. Joenia [Wapichana] já tem experiência, pois ela trabalhou como deputada federal por 4 anos, ela já sabe lutar. Como ela é advogada, já sabe escutar os políticos, e por isso eu gostaria que Lula a indicasse para ministra. Se Joenia disser que deseja se tornar ministra dos Povos Originários, nós vamos apoiá-la, faremos ela assentar naquela cadeira. Ter uma mulher indígena assentada ali nos trará mais sabedoria. Temos outras, como Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, que acabaram de se eleger deputadas. A dra. Joenia não foi eleita, por isso estou pensando nela, que é muito inteligente e já sabe lutar. Então, foi isso que os meus sonhos disseram, e por isso fiz aparecer essa ideia.
Nós, napëpë, somos o povo da mercadoria e estamos acabando com as florestas e com o planeta. Por isso o mundo está preocupado com a crise climática, e para contê-la é preciso conservar as florestas. Sabemos que vocês têm sabedoria para isso. Que recado você teria a dar sobre esse assunto?
Todos os napëpë ficam falando de proteger as florestas. Falam de mudanças climáticas, desmatamento, poluição dos rios, mercúrio, doenças, mineração. Assim, Lula atentou para essas questões. Outras pessoas, os europeus, falam sobre as mudanças climáticas, fazem reuniões. Mas as pessoas não resolvem isso, não resolveram nada. Esse termo, “mudanças climáticas”, para mim é outra coisa. Eu chamo mesmo de “vingança da Terra”, de “vingança do mundo”, é assim que eu digo. Os napëpë chamam de “mudanças climáticas”, mas nós, Yanomami, quando fazemos xamanismo, chamamos de “transformação do mundo, tornar o mundo ruim já que os napëpë causam a revolta da Terra”. Os napëpë incendeiam as árvores; a Terra-floresta está com raiva, está se vingando, está fazendo chover muito, ter grandes ondas de calor, em alguns lugares está faltando água e em outros está chovendo demais, e outros ainda estão frios. Foi pelo fato de as pessoas dizerem isso, por termos ficado falando sobre isso, que Lula abriu seu pensamento. Ou melhor: talvez tenha aberto seu pensamento. Nós não sabemos o que ele esconde em seu coração. O que eu escondo em meu coração e em meu pensamento, o que nós escondemos das pessoas, é um segredo. Por isso talvez Lula esteja ainda nos enganando. Se o pensamento dele estiver nos enganando, ele vai resolver os pequenos problemas, mas não os grandes. Mas se outros napëpë, aqueles que vivem na outra margem do oceano [Europa], se eles forem ajudar e oferecerem um grande financiamento, talvez o pensamento de Lula mude. É assim que eu penso. Lula não cresceu sozinho. O povo levantou as palavras de Lula, vocês fizeram ele assentar naquela cadeira [da presidência]. Hoje em dia ele está mais velho, talvez tenha se tornado mais sábio.
Davi, você me disse que vocês, xamãs, ajudaram Lula a se eleger. Conte como foi isso, por favor.
Nós, xamãs que vivemos no Watorikɨ e também os outros xamãs de outras casas, como o Maxokapi, eu os mandei fazer isso [xamanismo para apoiar Lula]. Nós ajudamos Lula, nós o levantamos: eu, Carlos, os xamãs mais jovens, Tenose, Valmir, Dinarte, Geremias, Pernaldo, Manoel. Lula ficou apoiado na hutukara [céu]. Então os xamãs pediram para eu dizer a Lula: “Awei! Você quase perdeu. Se os espíritos xapiripë [xapiri = espírito auxiliar dos xamãs + pë = plural] não tivessem chegado ali, você não teria se tornado presidente outra vez. Você não os viu, eles estavam no Watorikɨ, e no dia 30 chegaram [até você]. Já que eles conhecem Brasília, já que Davi conhece aquela terra, nós, xapiripë, também conhecemos, nós olhamos no mapa e, pelo fato de termos chegado lá, nós tivemos vitória”.
Nós, xamãs de duas comunidades, trabalhamos por isso. Nós inalamos yakoana [pó da árvore virola sp, usado pelos xamãs para ver os xapiripë]. Chegamos até o grande xapiri, Omama, e dissemos a ele: “Awei! Você que é grande xapiri, que conhece o mundo inteiro, conhece todas as terras, já que seus olhos enxergam essas coisas por dentro e também pela superfície, já que seus olhos estão atentos a tudo o que ocorre no mundo, nós queremos elevar Lula para que ele se torne presidente outra vez, nós iremos apoiar o pensamento dele. Vamos manter nosso pensamento primeiro no céu, na hutukara, e assim ele vai se levantar [ter chances de ganhar a eleição]. O outro, Bolsonaro, aquele que tem a boca cheia de ignorância, se o povo dele o apoiar e o levantar, iremos sofrer muito. O presidente Jair Bolsonaro é terrível, e, se ele ganhar as eleições, aí sim ficaremos sofrendo. Ele é um apoiador da ditadura militar, portanto não faz amizade com a floresta. Não cuida dos rios e não sente tristeza por nós, povos da floresta”. Então, como Omama fez a nossa terra nos primeiros tempos, ele escreveu em um papel a expressão “defensor da floresta”, e foi isso que nós, xamãs, decidimos e dissemos: “Vamos escolher aquele que quer nos manter vivendo com saúde, vamos negar o papel onde está escrito o nome daquele que não quer o nosso bem-viver”.
Por causa disso, nós, do Watorikɨ, chegamos até Lula, chegamos a Brasília. Ao chegarmos lá, os napëpë não nos viram, pois chegamos bem suavemente. Com calma e devagar, chegamos até o pensamento dele. “Awei! Você, Lula, já que quer se tornar presidente outra vez, se apoie aqui onde Omama apoiou o nosso pensamento. Se você se apoiar aqui, vai se tornar o presidente. E, caso você se torne o presidente, queremos que você pense em nós em primeiro lugar. Diminua aqueles que estão sempre fazendo coisas ruins, torne-os pequenos. Feche esse buraco da maldade.”
Brad Plumer, Max Bearak, Lisa Friedman, Jenny Gross
Nov. 20, 2022
Nations reached a landmark deal to compensate developing nations for climate harm. But some leaders said the summit didn’t go far enough in addressing the root causes of global warming.
Sameh Shoukry, the Egyptian foreign minister, seated, reading a statement at the closing session of climate talks in Sharm el Sheikh. Credit: Mohamed Abd El Ghany/Reuters
Nov. 20, 2022, 3:33 a.m. ET
SHARM EL SHEIKH, Egypt — Diplomats from nearly 200 countries concluded two weeks of climate talks on Sunday by agreeing to establish a fund that would help poor, vulnerable countries cope with climate disasters made worse by the greenhouse gases from wealthy nations.
The decision on payments for loss and damage caused by global warming represented a breakthrough on one of the most contentious issues at United Nations climate negotiations. For more than three decades, developing nations have pressed rich, industrialized countries to provide compensation for the costs of destructive storms, heat waves and droughts linked to rising temperatures.
But the United States and other wealthy countries had long blocked the idea, for fear that they could face unlimited liability for the greenhouse gas emissions that are driving climate change.
The loss and damage agreement hammered out in this Red Sea resort town makes clear that payments are not to be seen as an admission of liability. The deal calls for a committee with representatives from 24 countries to work over the next year to figure out exactly what form the fund should take, which countries and financial institutions should contribute, and where the money should go. Many of the other details are still to be determined.
Developing countries hailed the deal as a landmark victory.
“The announcement offers hope to vulnerable communities all over the world who are fighting for their survival from climate stress,” said Sherry Rehman, the climate minister of Pakistan, which suffered catastrophic flooding this summer that left one-third of the country underwater and caused $30 billion in damages. Scientists later found that global warming had worsened the deluges.
While the new climate agreement dealt with the damages from global warming, it did far less to address the greenhouse gas emissions that are the root cause of the crisis. Experts say it is crucial for all nations to slash their emissions much more rapidly in order to keep warming at relatively safe levels. But the deal did not go much beyond what countries agreed to last year at U.N. climate talks in Glasgow.
“The loss and damage deal agreed is a positive step, but it risks becoming a ‘fund for the end of the world’ if countries don’t move faster to slash emissions,” said Manuel Pulgar-Vidal, who presided over the United Nations summit in 2014 and is now the climate lead for the World Wide Fund for Nature. “We cannot afford to have another climate summit like this one.”
The new agreement emphasizes that countries should strive to limit global warming to 1.5 degrees Celsius, or 2.7 degrees Fahrenheit, above preindustrial levels. Beyond that threshold, scientists say, the risk of climate catastrophes increases significantly. Early in the summit, some negotiators feared that the talks would abandon a focus on that target, which many vulnerable nations, such as low-lying islands in the Pacific, see as essential to their survival.
Current policies by national governments would put the world on track for a much hotter 2.1 to 2.9 degrees Celsius of warming this century, compared with preindustrial levels. Staying at 1.5 degrees would require countries to slash their fossil-fuel emissions roughly in half this decade, a daunting task.
India and more than 80 other countries wanted language that would have called for a “phase-down” of all fossil fuels, not just coal, but also oil and gas. That would have gone beyond the deal at Glasgow, which called for a “phase-down” of coal only. But that effort was blocked by major oil producers like Canada and Saudi Arabia, as well as by China, according to people close to the negotiations.
“It is more than frustrating to see overdue steps on mitigation and the phaseout of fossil energies being stonewalled by a number of large emitters and oil producers,” said Annalena Baerbock, the German foreign minister, in a statement.
Xie Zhenhua, China’s special envoy for climate, and Sherry Rehman, Pakistan’s climate minister, at the COP27 closing session on Sunday. Credit: Peter Dejong/Associated Press
Frans Timmermans, the European Union’s top climate official, said the deal fell far short of what was needed and was a sign of the growing gap between climate science and national climate policies. Too many countries blocked measures needed to address global warming, he said.
“Friends are only friends if they also tell you things you might not want to hear,” Mr. Timmermans said. “This is the make-or-break decade, but what we have in front of us is not enough of a step forward for people and planet.”
The two-week summit, which had been scheduled to end on Friday, stretched until dawn on Sunday as exhausted negotiators from nearly 200 nations clashed over fine print. The talks came at a time of multiple crises. Russia’s invasion of Ukraine has roiled global food supply and energy markets, stoked inflation and spurred some countries to burn more coal and other alternatives to Russian gas, threatening to undermine climate goals.
At the same time, rising global temperatures have intensified deadly floods in places like Pakistan and Nigeria, as well as fueled record heat across Europe and Asia. In the Horn of Africa, a third year of severe drought has brought millions to the brink of famine.
Much of the focus over the past two weeks was on loss and damage.
Developing nations — largely from Asia, Africa, Latin America, the Caribbean and South Pacific — fought first to place the debate over a loss and damage fund on the formal agenda of the two-week summit. And then they were relentless in their pressure campaign, arguing that it was a matter of justice, noting they did little to contribute to a crisis that threatens their existence. They made it clear that a summit held on the African continent that ended without addressing loss and damage would be seen as a moral failure.
As the summit neared its end, the European Union consented to the idea of a loss and damage fund, though it insisted that any aid should be primarily focused on the most vulnerable nations, and that aid might include a wide variety of options such as new insurance programs in addition to direct payments.
That left the United States, which has pumped more greenhouse gases into the atmosphere than any nation in history, as the last big holdout. By Saturday, as talks stretched into overtime, American officials said that they would accept a loss and damage fund, breaking the logjam.
Still, major hurdles remain.
There is no guarantee that wealthy countries will deposit money into the fund. A decade ago, the United States, the European Union and other wealthy emitters pledged to mobilize $100 billion per year in climate finance by 2020 to help poorer countries shift to clean energy and adapt to future climate risks through measures like building sea walls. They are still falling short by tens of billions of dollars annually.
And while American diplomats agreed to a fund, money must be appropriated by Congress. Last year, the Biden administration sought $2.5 billion in climate finance but secured just $1 billion, and that was when Democrats controlled both chambers. With Republicans set to take over the House in January, the prospects of Congress approving an entirely new pot of money for loss and damage appear dim.
“Sending U.S. taxpayer dollars to a U.N. sponsored green slush fund is completely misguided,” said Senator John Barrasso, Republican of Wyoming. “The Biden administration should focus on lowering spending at home, not shipping money to the U.N. for new climate deals. Innovation, not reparations, is key to fighting climate change.”
The United States and the European Union secured language in the deal that could expand the donor base to include major emerging economies like China and Saudi Arabia. The United Nations currently classifies China as a developing country, which has traditionally exempted it from obligations to provide climate aid, even though it is now the world’s biggest emitter of greenhouse gases as well as the second-largest economy. The new changes are likely to spark fights in the future, since China has fiercely resisted being treated as a developed nation in global climate talks.
For their part, a variety of European nations have voluntarily pledged more than $300 million to address loss and damage so far, with most of that money going toward a new insurance program to help countries recover from disasters like flooding. Poorer countries have praised those early efforts while noting that they may ultimately face hundreds of billions of dollars per year in unavoidable, irreversible climate damages.
“We have the fund, but we need money to make it worthwhile,” said Mohamed Adow, executive director of Power Shift Africa, a group that aims to mobilize climate action across the continent. “What we have is an empty bucket. Now we need to fill it so that support can flow to the most impacted people who are suffering right now at the hands of the climate crisis.”
COP 27 acontece no Egito. Imagem: Sayed Sheasha/Reuters
Os integrantes dos povos indígenas de Abya Yala e dos povos negros e afrodescendentes em representação dos povos e comunidades e diásporas do Canadá, Estados Unidos, México, Chile, Honduras, Nicarágua, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Uruguai, Brasil, Haiti, Argentina, Guatemala, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Panamá, Suriname, Jamaica, Porto Rico, Uganda, Cuba, Venezuela, no marco da rememoração dos 530 anos de resistência dos Povos Indígenas, Negros e Afrodescendentes lançam na COP27 a “Declaração de Resistência anticolonial indígena, negra e afrodescendente“, com uma lista importante de proposições para outros tempos no mundo.
A articulação se apresenta como um movimento anticolonial, antirracista, antixenofóbico, antipatriarcal, antihomofóbico e antilesbotransfóbico.
Como Movimento de Libertação Negra e Indígena, a nossa luta é interseccional, transeccional, antirracista, feminista comunitária, Afrofeminista, mulherista africana, de identidades políticas diversas em comunidade.
Buscamos evidenciar e questionar a inegável relação existente entre colonialismo, capitalismo, patriarcado e racismo. Reivindicando a autonomia de seus corpos e reconhecendo a complementaridade dos que habitam os territórios e a participação das mulheres e dissidências para a defesa da vida, o território e a preservação dos saberes e conhecimentos ancestrais.
Em busca da formação de uma plataforma sustentada em redes comunitárias sólidas, integradas por organizações e coletivos sociais indígenas, negros e afrodescendentes do continente, com o fim de favorecer o acionar coletivo, solidário, coordenado e organizado.
No Brasil organizações como Instituto de Referência Negra Peregum, Uneafro Brasil, Criola, Instituto Perifa Sustentável e Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) assinaram a declaração, reforçando a importância de um diálogo internacional entre os povos.
Entre as proposições estão que o dia 12 de outubro seja declarado como o dia da resistência ao extermínio dos Povos Indígenas, Negros e Afrodescendentes de Abya Yala. Declarando que a luta dos povos é articulada, diversa, continental, inclusiva e plural. Sendo considerados com urgência protagonistas em igualdade de direitos em qualquer processo ou projeto que afete as comunidades e territórios.
Criação de projetos e a implementação de ações diretas, políticas públicas, ações afirmativas e de reparação interculturais e interseccionais que garantam a distribuição justa e equitativa da riqueza, o acesso à saúde, à soberania alimentar, à água potável e de qualidade para que possamos viver em ambientes seguros e dignos.
Direito ao território é direito e eles reivindicam isso. “Todas as terras indígenas e territórios negros devem ser devolvidos aos seus legítimos donos. As terras devem ser devolvidas aos seus respectivos povos. Todas as comunidades negras e afrodescendentes devem ter livre titulação sobre as terras em que habitam. E livre acesso aos seus recursos naturais como praias, selvas, pântanos, bosques andinos, planícies, bacias, rios, glaciares, vales interandinos, pântanos em altura, lagos, pradarias, manguezais, baías, ladeiras, quebradas e terras não-cultivadas as quais não devem ser privatizadas nem exploradas de nenhuma forma”.
E reforçando que não pode existir justiça climática sem justiça racial. Entendendo que a justiça climática reconhece que a mudança climática tem impactos distintos de acordo às condições econômicas, sociais, raciais e de gênero. E que a justiça racial é um eixo fundamental na luta contra as desigualdades produto do sistema colonial, capitalista, extrativista e agroexportador.
Na peça ‘Can I Live?’, Fehinti Balogun, com rap, animação e poesia, apresenta a colonização e a exploração de países africanos como temas centrais na discussão
Cristiane Fontes
2 de novembro de 2022
Foi em 2017, durante a preparação para a peça “Myth”, uma parábola climática da Royal Shakespeare Company, que o artista Fehinti Balogun acabou se dando conta da gravidade da crise do clima.
“Após ter feito muitas coisas, consegui meu primeiro papel principal numa peça no West End em Londres. Era o ano mais quente da história”, lembra o ator e dramaturgo britânico. “E, pela primeira vez, percebi que as plantações estavam morrendo, os campos estavam secos. Comecei a desenvolver uma espécie de ansiedade que nunca tive antes”, completa.
Com isso, veio o choque: “Eu tinha o trabalho que eu sempre sonhei, algo que eu tinha estudado para fazer, e, de repente, isso não significava nada”.
Balogun se juntou ao grupo ativista Extinction Rebellion, participou de diversos protestos e organizou uma palestra sobre o tema. Essa jornada o levou à produção de uma peça teatral que, durante a pandemia, foi transformada em um filme.
O ator britânico Fehinti Balogun, que criou a peça ‘Can I live?’, sobre mudanças climáticas. Fonte: New York Times/Tom Jamieson, 29.out.2021
Intitulada “Can I Live?” (posso viver?), a produção explica as mudanças climáticas a partir da perspectiva de uma pessoa negra, usando diversas performances musicais.
A mãe de Balogun, imigrante nigeriana, é quem guia a história. Fora da tela, também foi ela quem inspirou a criação do texto, a partir de questionamentos ao filho —que ele gravou secretamente para escutar de novo e pensar a respeito.
“Por que você está sacrificando sua carreira para fazer parte desses grupos?”, ela perguntava.
Mesmo discordando, o filho reconheceu na indignação da mãe um ponto muito importante: a discussão climática ficou elitizada e branca e ainda não foi capaz de incluir os segmentos mais pobres da população.
“Can I Live?”, pelo contrário, se propõe a não só trazer os dilemas pessoais do autor, que se misturam aos problemas mundiais e aos dados científicos, como é didática e criativa ao explicar, por exemplo, o efeito estufa em forma de rap. Criado com a companhia de teatro britânica Complicité, o filme mescla linguagens como animação, poesia e música.
“O objetivo é criticar descaradamente o sistema, sem culpar uma pessoa específica. Não se trata de envergonhar as pessoas, mas, sim, de educá-las e conectar-se com elas”, define Balogun.
Depois de uma turnê online, o filme foi exibido em eventos como a COP26 (conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada em 2021 na Escócia) e a London Climate Action Week.
A ideia, diz Balogun, é fazer “Can I Live?”, que ainda não foi lançado no Brasil, chegar a movimentos de base, para estimular conversas sobre a crise climática entre aqueles que não costumam se conectar com o assunto.
Quando perguntado sobre a agenda climática no Reino Unido, o autor é categórico: “Temos um governo que não está levando isso tão a sério quanto deveria e que nunca levou o racismo tão a sério quanto deveria. Temos toda uma economia baseada num histórico de escravidão que não é debatida. Então, dentro das escolas, apagamos essa história. O que aprendemos neste país não está nem perto do que deveria ser”.
Quando e por que você se envolveu com a agenda da crise climática?
Após ter feito muitas coisas, consegui meu primeiro papel principal numa peça no West End em Londres. Era o ano mais quente da história, depois de outro ano ter sido o ano mais quente da história, depois de o último antes disso ter sido o mais quente… E, pela primeira vez, eu percebi que as plantações estavam morrendo, os campos estavam secos. Comecei a desenvolver uma espécie de ansiedade que nunca tive antes. Eu tinha o trabalho que eu sempre sonhei, algo que eu tinha estudado para fazer, e, de repente, isso não significava nada.
Então comecei a tentar me envolver em diferentes projetos e me juntei ao [grupo ativista] Extinction Rebellion. E comecei a discutir tudo com minha mãe, que perguntava: “Por que você está sacrificando sua carreira para fazer parte desses grupos?”. E eu pensava: “Não, essa é a única coisa importante que estou fazendo”. E nós continuamos discutindo muito isso tudo.
Eu gravei secretamente tudo o que ela me disse, peguei os pontos importantes dela e transformei numa apresentação sobre o clima, porque percebi que meu papel era poder usar meu privilégio de ser um ator e ter essa formação.
Eu não sou de uma família particularmente rica. Cresci sem muito dinheiro, morando em habitação social, e o que eu tenho agora é devido ao meu trabalho como ator, aos meus contatos e a todas essas perspectivas diferentes. Então eu montei essa palestra, que é como um TED Talk, usando as mensagens de voz da minha mãe.
Esse trabalho decolou, uma coisa levou à outra e começamos a trabalhar em uma peça, que depois virou um filme, “Can I Live?”. Foi assim que essa jornada climática de repente tomou conta da minha vida.
Sua mãe é a verdadeira estrela do filme. Quais foram as coisas importantes que ela levantou sobre o assunto?
Muitas. Uma delas é exatamente o que significa resistir quando você é uma minoria, e o que significa para a sua criação. Isso afeta não apenas o seu futuro, mas também a ideia que foi passada a pessoas como minha mãe, minhas tias, meus tios sobre o que é o “bom imigrante”.
Não é algo que ela tenha me dito explicitamente, mas que eu intuí de tudo o que ela estava me dizendo. Você não é capaz de reagir porque tem sorte de ter o que tem, entende? Ela dizia: “Há pessoas que estão esperando para entrar no país. Há pessoas que estão esperando conseguir a cidadania. E você acha que eles vão criticar aquele país que diz que eles não deveriam estar lá?”.
Para o público no Brasil que ainda não teve a chance de assistir ao filme, como você o descreveria?
Basicamente, o filme é uma explicação das mudanças climáticas a partir da perspectiva de uma pessoa negra. O objetivo é criticar descaradamente o sistema, sem culpar uma pessoa específica. Não se trata de envergonhar as pessoas, mas, sim, de educá-las e conectar-se com elas.
Eu quero que as pessoas assistam e vejam a si mesmas no filme todo ou em algumas partes, ou que vejam sua mãe ou sua avó ou seus amigos nas conversas. O filme tinha como objetivo levar as pessoas por essa jornada histórica até onde estamos agora e descobrirem o que podem fazer.
Colocamos o filme para distribuição online durante a pandemia. As pessoas pagavam o que podiam. A ideia era tentar torná-lo o mais acessível possível. Não foi algo como: “Ei, nós fizemos uma obra de arte!”, mas ela é exibida num teatro muito metido onde as pessoas se sentem desconfortáveis e têm dificuldades para acessar.
A ideia foi descentralizar esta obra e distribuí-la para o maior número de pessoas possível, e oferecê-la a movimentos de base, para que pudessem exibi-lo e conversar a partir disso e incluir nessas conversas pessoas que não costumavam se conectar.
A propósito, como envolver nas questões climáticas pessoas que estão lutando para sobreviver?
Acho que a coisa mais importante que aprendi sobre me comunicar com as pessoas é que você precisa ir ao encontro delas. Você não pode chegar em alguém esperando que essa pessoa tenha o seu mesmo nível de entusiasmo ou raiva, ou desgosto, ou desdém, porque todo mundo tem algo acontecendo em suas vidas.
O que temos no sistema é que constantemente nos dizem que temos que consertar algo individualmente, e que é nossa culpa individual. O fato de você estar passando por tanta insegurança alimentar é porque você não trabalhou duro o suficiente, ou porque 20 anos atrás você não economizou isso, ou fez aquilo. E se você tivesse feito todas essas coisas, você estaria bem e a culpa é sua e blá, blá, blá.
Você tem de olhar para essa questão de um ponto de vista estrutural. Estrutural e espiritual. Eu posso despejar todas as minhas ideias sobre estrutura e coisas de ativismo em cima de você, mas, no final das contas, se seu prato está cheio, seu prato está cheio; você já chegou no seu limite. A questão é muito mais profunda, e é muito solitário e difícil saber que você tem muitos problemas que precisa consertar. No final, o que está mesmo no centro disso é ter uma comunidade.
E como você descreveria o debate sobre mudanças climáticas no Reino Unido no momento?
Essa é uma pergunta difícil! Agora no Reino Unido temos um governo que não está levando isso tão a sério quanto deveria e que nunca levou o racismo tão a sério quanto deveria.
Temos toda uma economia baseada num histórico de escravidão que não é debatida. Então, dentro das escolas, apagamos essa história. O que aprendemos neste país não está nem perto do que deveria ser, na verdade. Mas, se estivermos falando de pensamentos e sentimentos em relação às mudanças climáticas, as pessoas sabem disso, embora não saibam o que fazer.
Na COP26, no ano passado, você participou de eventos com artistas e ativistas indígenas brasileiros. Como o discurso deles ecoou com você e no Reino Unido?
A COP é um evento decepcionante, via de regra. Não me inspirou nem um pouco. O que foi inspirador foram todos os ativistas que estavam lá e pessoas diferentes de muitos países diferentes, fazendo coisas incríveis e falando sobre tantas coisas. É uma comunidade muito forte.
Mas é muito difícil no Reino Unido. O patriotismo está apenas conectado a um ponto de vista ideológico e imperialista do mundo, que diz: “Eu sou superior a você”. Então por que aprender com aquele ativista brasileiro diferente? Já os indígenas eram o oposto disso. A mensagem deles era: “Estes somos nós! E vamos compartilhar isso com vocês! Vamos proteger isso para as gerações futuras!”.
Na sua visão, como fortalecer o movimento global de justiça climática, considerando o atual contexto político?
Parte do movimento dos direitos civis estava ligado à educação, à educação em massa e para certas comunidades. A ideia não é trabalhar com o medo, mas sim trabalhar através do medo para chegar a soluções.
Então, para fortalecer o movimento, [precisamos de] educação em massa, especificamente em certas zonas; e precisamos que diferentes movimentos de base se unam.
Em termos de mudança na narrativa, quais são as estratégias que você considera mais importantes?
Precisamos mudar a narrativa sobre riqueza e propriedade. Nós realmente precisamos entender que a crise climática é uma crise de classes, e dentro dessa crise de classes, há uma interseccionalidade muito racista.
Simplesmente entender essas coisas eu acho que vai ajudar muito; e é muito difícil, porque dentro do ideal capitalista, [a economia] só funciona se você sentir falta de alguma coisa. Eles só podem vender maquiagem para você se você acreditar que precisa de maquiagem. Eu não estou dizendo que as pessoas não devem usar maquiagem, mas, sim, que você só vai comprar algo se achar que precisa daquilo.
São essas mudanças de narrativas sobre o que achamos que é necessário e o que é, na verdade, necessário.
E precisamos de bondade radical. Radical no sentido de que não somos uma cultura muito indulgente.
O debate político anda muito polarizado, inclusive no Brasil, como você deve saber. Você poderia descrever melhor a ideia de bondade radical?
O que quero dizer com bondade radical não é apenas ser radicalmente gentil com a pessoa com opiniões opostas, mas também ser radicalmente gentil consigo mesmo.
Por que estou tentando fazer com que alguém que, fundamentalmente, me odeia goste de mim? Como isso me ajuda ou ajuda a outra pessoa? No final das contas, independentemente de eles terem dito que gostavam ou não de mim, eles vão embora e eu fico com esse sentimento. A única maneira de lidar com isso é ter uma comunidade atrás de você que esteja disposta a compartilhar isso com você.
Você sabe o que isso significa? Significa se afastar da postura individual de “eu vou consertar o mundo” para algo como “estas são as pessoas que eu preciso para poder fazer isso”.
Eu sempre falo, você tem que fazer uma escolha quando você fala com alguém, especialmente com alguém com uma opinião oposta a você que não tem interesse direto no assunto, como por exemplo, racismo, sexismo, ou mesmo mudanças climáticas.
Quando a pessoa não é afetada emocional, física e praticamente pela coisa e argumenta contra você, você tem que se perguntar: “Eu tenho condições de me envolver nisso hoje? Até onde quero ir? Vou ter alguém cuidando de mim quando a conversa terminar?”. Então a bondade radical não é apenas ter um espaço para a outra pessoa: é para você mesmo.
Raio-X
Fehinti Balogun
Ator, dramaturgo, escritor e pintor britânico de origem nigeriana, nascido em Greenwich, em Londres. Além de “Can I Live?”, participou de peças como “Myth” (mito), “The Importance of Being Earnest” (a importância de ser prudente) e “Whose Planet Are You On?” (você está no planeta de quem?). No cinema, fez trabalhos como “Juliet, Nua e Crua”, “Duna” e “Walden”. Na TV, participou das séries “I May Destroy You” (posso te destruir), “Informer” (informante) e “O Filho Bastardo do Diabo”, cuja primeira temporada estreia no fim de outubro na Netflix no Brasil.
Mudanças sociais e globais levam terceiro mandato a ver na política do clima uma oportunidade para novas alianças e reformas programáticas
Mathias Alencastro
1 de novembro de 2022
A ascensão da COP do Egito a primeiro palco da nova diplomacia do governo eleito se deve a duas dinâmicas interdependentes. A eleição de Lula encerra um ano terrível, porém transformador, para a política climática.
Por um lado, a Guerra da Ucrânia deu ímpeto às indústrias fósseis, que atravessavam um raro período de declínio, enquanto as divisões crescentes entre o Ocidente e o Oriente, mas também entre o Norte e o Sul Global, agravaram a crise da governança climática.
Por outro, a transição energética se tornou uma questão de segurança nacional para os países desenvolvidos, com implicações extraordinárias para a diplomacia e os investimentos internacionais.
Em seguida, a sociedade civil brasileira se fortaleceu através da emergência de uma geração de cientistas, ativistas e políticos de excelência e da multiplicação de organizações que estabeleceram a relação entre democracia, clima e justiça social. Essas mudanças tornaram inevitável a metamorfose do terceiro mandato de Lula em primeiro governo climático do Brasil.
Na América Latina, a onda rosa tem sido quase sempre acompanhada por uma onda verde. A plataforma climática do chileno Gabriel Boric era uma exigência do movimento de contestação popular, enquanto a do colombiano Gustavo Petro veio junto com a renovação da esquerda depois do acordo de paz.
O caso brasileiro, todavia, é excepcional, porque a política climática transformou de fora para dentro o Partido dos Trabalhadores, que tem na luta sindical e nacionalista das energias fósseis uma das suas principais referências históricas. O PT segue o caminho de outros partidos de centro-esquerda que viram na política climática uma oportunidade para novas alianças e reformas programáticas.
Além dos símbolos e dos discursos, o governo Lula será avaliado pela sua capacidade de superar o enfrentamento com os movimentos populistas que acomete tantas outras democracias.
Na Europa e nos Estados Unidos, os oportunistas que encabeçaram os movimentos antivacinas se converteram em expoentes dos protestos contra a alta dos preços de energia. O próprio movimento de caminhoneiros golpistas a favor de Jair Bolsonaro também é uma manifestação da hiperdependência do Brasil do sistema rodoviário e da indústria de carbono.
A partir de agora, toda a política é política climática.
O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.
Greenhouse gases are among the chief causes of global warming and climate change. Getty Images
An international team led by Oregon State University researchers says in a report published today that the Earth’s vital signs have reached “code red” and that “humanity is unequivocally facing a climate emergency.”
In the special report, “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency 2022,” the authors note that 16 of 35 planetary vital signs they use to track climate change are at record extremes. The report’s authors share new data illustrating the increasing frequency of extreme heat events and heat-related deaths, rising global tree cover loss because of fires, and a greater prevalence of insects and diseases thriving in the warming climate. Food insecurity and malnutrition caused by droughts and other climate-related extreme events in developing countries are increasing the number of climate refugees.
William Ripple, a distinguished professor in the OSU College of Forestry, and postdoctoral researcher Christopher Wolf are the lead authors of the report, and 10 other U.S. and global scientists are co-authors.
“Look at all of these heat waves, fires, floods and massive storms,” Ripple said. “The specter of climate change is at the door and pounding hard.”
“As we can see by the annual surges in climate disasters, we are now in the midst of a major climate crisis, with far worse to come if we keep doing things the way we’ve been doing them,” Wolf said.
“As Earth’s temperatures are creeping up, the frequency or magnitude of some types of climate disasters may actually be leaping up,” said the University of Sydney’s Thomas Newsome, a co-author of the report. “We urge our fellow scientists around the world to speak out on climate change.”
“The Scientist’s Warning” is a documentary by the research team summarizing the report’s results and can be watched online:
Era uma ideia valiosa com potencial de expansão: o carbono, um modo simplificado de se referir à emissão de gases que causam o aquecimento global, vai ao mercado como um certificado, que pode ser vendido para países e, como se decidiu posteriormente, para empresas e pessoas físicas. Cada certificado —o chamado crédito de carbono— garante que 1 tonelada de dióxido de carbono foi impedida de ser lançada na atmosfera.
Esses créditos talvez tivessem se espalhado pelo planeta não fosse o desastre financeiro global de 2008. “Os países da Europa, os grandes compradores de créditos de carbono naquele momento, foram afetados. Esse mercado teve que se reestruturar”, conta Plínio Ribeiro, CEO da Biofílica Ambipar, uma das principais companhias brasileiras que desenvolvem projetos florestais para a geração de créditos de carbono.
Há pouco mais de cinco anos, esse caminho voltou a demonstrar seu potencial vigoroso —no caso do Brasil, muito mais pelas ações da iniciativa privada do que por medidas do governo federal.
A partir daí, iniciativas brasileiras que patinavam começaram a crescer. Foram emitidos 5,2 milhões de créditos de carbono em 2019, de acordo com as certificadoras Verified Carbon Standard e Gold Standard. Em 2020, esse número subiu para 13,5 milhões; no ano passado, chegou a 44,4 milhões.
Nesse período, empresas voltadas ao desenvolvimento de projetos ambientais alcançaram um novo patamar. No ano passado, a Biofílica foi comprada pela Ambipar, o que permitiu que ampliasse seus negócios. Ao receber aporte de R$ 200 milhões da Shell, a Carbonext também se fortaleceu.
David Canassa, da Reservas Votorantim, lembra caso recente para mostrar a ascensão do setor. “Acabo de voltar do Climate Week, em Nova York. Há quatro anos, o Pacto Global Brasil, que integra a programação, encheu uma sala com 30 brasileiros. Desta vez, eram 250.”
O dado mais incisivo sobre o potencial de crescimento desse mercado no Brasil vem de relatório lançado há cerca de um mês pela consultoria McKinsey & Company. “O mercado de créditos no país deve saltar de US$ 1 bilhão atual para US$ 50 bilhões em 2030”, afirma.
O crescimento é bem-vindo, mas ainda parece insuficiente, avalia Janaína Dallan, CEO da Carbonext. “A urgência climática é tão grande que precisaríamos de muito mais empresas nesse mercado para não atingir o aumento de 1,5ºC”, diz. Ela se refere ao principal objetivo acordado na cúpula de Glasgow (COP26), na Escócia, em 2021.
O evento reforçou como meta evitar que o aquecimento global ultrapasse um aumento de 1,5°C em relação ao século 19, o que implicaria cortes substanciais nas emissões de CO2. A quase totalidade das iniciativas se concentra na Amazônia, mas, aos poucos, novos projetos se consolidam em outras regiões. No início de outubro, a Biofílica Ambipar conquistou o prêmio Environmental Finance pelo projeto AR Corredores de Vida, no oeste paulista. A iniciativa é feita em parceria com o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas).
Com a experiência na administração do Legado das Águas, maior reserva privada de mata atlântica do Brasil, a Reserva Votorantim acaba de lançar uma metodologia que permite o pagamento de serviços ambientais nesse bioma.
Mas vale lembrar: só a ampliação do mercado de créditos de carbono não será suficiente para evitar que se alcance o temido 1,5ºC, segundo Ricardo Piquet, diretor do Museu do Amanhã, que se tornou referência na área ambiental. “Gerar créditos a serem pagos por empresas ou países poluidores não resolve o problema. A solução conjugada é a ideal: você reduz emissão de gases e, no caso daquilo que não consegue gerar de imediato, compensa com o crédito de carbono”, diz Piquet.
O objetivo essencial é que, ao cotejar emissão e captura de carbono, sob métodos auditados, a empresa chegue à soma zero ou acumule créditos. A Klabin coleciona prêmios nesse setor sem que comercialize crédito de carbono, o que é possível graças, entre outros motivos, ao fato de manter áreas de floresta nativa.
Com 23 unidades no Brasil, a produtora de papéis captura cerca de 11 milhões de toneladas de carbono/ano. Suas operações emitem por volta de 6,5 toneladas, segundo Francisco Razzolini, diretor de sustentabilidade. No cardápio de medidas tomadas pela Klabin, está a substituição do óleo combustível por materiais renováveis de biomassa.
MERCADO DE CARBONO EM 10 PONTOS
1 – O QUE É CARBONO?
Neste contexto, não se trata, é claro, de um produto físico. Carbono é um modo bem simplificado de chamar a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Como o mais comum deles é o CO2 (gás carbônico), o termo carbono passou a ser um sinônimo desses gases nas discussões climáticas.
2 – COMO FUNCIONA ESTE MERCADO?
De modo geral, como a maioria dos outros: quem tem sobrando vende para quem precisa, de preferência a um preço que satisfaça aos dois lados.
3 – COMO O CARBONO É QUANTIFICADO PARA QUE SEJA NEGOCIADO?
Cada tonelada de gás carbônico corresponde a um crédito de carbono, que pode ser comprado ou vendido. Um exemplo: uma empresa precisava reduzir sua emissão em 1.000 toneladas de CO2, mas consegue cortar 1.500 toneladas. Assim, ela fica com 500 créditos de carbono, que pode vender a uma outra companhia que não conseguiu bater sua meta.
4 – OS CRÉDITOS VALEM SÓ PARA EMISSÕES CORTADAS?
Não, valem também para o gás carbônico capturado —por exemplo, por novas árvores plantadas, que absorvem a substância da atmosfera para crescer. Cada tonelada de CO2 adicional absorvida por uma nova mata dá direito a um crédito.
5 – O QUE A COP26 (NOV.2021 EM GLASGLOW) DECIDIU SOBRE O MERCADO DE CARBONO?
O encontro aprovou a taxa de 5% sobre a transação de créditos de carbono comercializados entre projetos do setor privado ou de ONGs. Mas as transações entre os países ficaram livres de taxa e, portanto, sem contribuição para os fundos de adaptação. Pelo mercado de carbono regulamentado na COP26, países podem comprar “autorizações” de emissão de carbono para ajudar a cumprir suas metas climáticas, remunerando aqueles países cujas ações, em compensação, reduzem emissões.
6 – E O BRASIL? COMO ESTÁ?
O país, infelizmente, ainda não tem um mercado de carbono regulado, ao contrário do que acontece em países da Europa, na China, na Nova Zelândia e no Cazaquistão. Em maio deste ano, o governo federal publicou um decreto com as bases para a criação de um mercado, mas ainda existem muitas lacunas sobre sua execução, que impedem que o país entre plenamente no circuito global. Assim, as transações têm se restringido a projetos internos do setor privado.
7 – COMO ESSE MERCADO FUNCIONA PARA AS EMPRESAS?
Com o apoio de especialistas, responsáveis por calcular a emissão de CO2, as companhias chegam à conclusão de qual é a meta a ser alcançada. Caso polua acima dessa cota, a empresa precisará comprar mais créditos de carbono, que são vendidos por organizações que desenvolvem projetos de sustentabilidade, como a Biofílica Ambipar, e/ou pelas organizações que conseguiram cortar suas emissões.
Sim. Empresas como a Carbonext, uma das principais desenvolvedoras de projetos de geração de créditos de carbono no Brasil, oferecem iniciativas para pessoas físicas.
9 – O QUE É ‘GREENWASHING’?
A expressão, que em inglês significa “lavagem verde”, costuma ser usada no sentido de propaganda sustentável enganosa, o que vale tanto para empresas quanto para governos e até mesmo para eventos climáticos. Em outras palavras, o “greenwashing” se dá quando uma organização tenta mostrar que faz mais em prol do meio ambiente do que realmente faz.
10 – COMO EVITAR O ‘GREENWASHING’?
Transparência é fundamental para não embarcar no “greenwashing”. Empresas devem dar visibilidade não só aos compromissos estabelecidos, mas às estratégias e evidências de resultados. Estimular o envolvimento de profissionais de ESG nas discussões das áreas de marketing e comunicação corporativa também pode ajudar a evitar distorções.
Gillian Caldwell, responsável pela nova estratégia da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, diz que plano prioriza apoio a indígenas e mulheres
Cristiane Fontes
5 de outubro de 2022
“Esse dinheiro não apenas tornará nosso planeta mais limpo, mais verde e mais seguro, mas também nos poupará dinheiro a longo prazo, tanto por meio dos empregos verdes quanto do que não precisaremos gastar em respostas humanitárias no futuro”, afirmou Samantha Power, chefe da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), no lançamento da nova estratégia climática do órgão.
“Sabemos que cada dólar investido em adaptação às mudanças climáticas pode render de US$ 2 a US$ 10 em benefícios. Portanto, implementar essa estratégia não é apenas a coisa necessária a fazer, é também a decisão mais econômica e inteligente a ser feita”, completou ela, que foi embaixadora dos EUA na ONU de 2013 a 2017, no governo de Barack Obama.
O plano, anunciado em abril, conta com um orçamento de US$ 600 milhões e inaugura a intenção de transformar a Usaid em uma agência climática. À frente desse projeto está Gillian Caldwell, diretora de assuntos climáticos.
A estratégia estabelece metas ambiciosas, como alcançar até 2030 a redução das emissões de carbono em 6 bilhões de toneladas. “Isso equivale a quase todas as emissões dos EUA num ano inteiro”, diz à Folha Caldwell, que já foi CEO da ONG Global Witness e liderou a campanha 1Sky, responsável pela mobilização de mais de 600 entidades para aprovar leis sobre clima nos EUA.
Para isso, além da gestão de projetos em diversos países e da mobilização de múltiplos setores do governo americano, faz parte da estratégia dar assistência técnica também ao setor privado. A ideia é que investidores tenham acesso a projetos confiáveis relacionados às mudanças climáticas. Assim, como um todo, a meta é mobilizar US$ 150 bilhões para financiamento climático até 2030, incluindo aportes públicos e privados.
Apesar da cifra elevada, Caldwell pondera que são necessários “de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões por ano até 2030 para atender às necessidades globais de mitigação e adaptação”. “Precisamos acelerar substancialmente os investimentos”, alerta.
Outros objetivos são aumentar a resiliência e a capacidade adaptativa de 500 milhões de pessoas no planeta, especialmente de povos indígenas, mulheres e jovens, e promover a conservação, o uso sustentável e a restauração de 100 milhões de hectares de locais que são grandes estoques de carbono, como é o caso da Amazônia.
No Brasil, a Usaid mantém projetos em parceria com o governo federal e gestões estaduais. “No ano passado, nossas ações na área de biodiversidade no Brasil protegeram habitats de espécies ameaçadas de extinção e geraram impactos positivos em 45 milhões de hectares de terras em todo o país. Para fins de comparação, é uma área maior que a Califórnia”, conta Caldwell.
Na entrevista, a gestora também comenta, entre outros pontos, a Lei de Redução da Inflação, pacote ambiental recém-lançado pelo governo Biden.
Quais são os principais objetivos da nova estratégia climática da Usaid? Ela foi lançada nos EUA no Dia da Terra, 22 de abril, e permanecerá em vigor até 2030. Trata-se da estratégia mais ambiciosa que a Usaid já lançou para tentar enfrentar a crise climática. De fato, todos os órgãos do governo Biden estão sendo encorajados a adotar uma postura mais ambiciosa em relação à mitigação e adaptação climáticas.
Portanto, a estratégia estabelece uma série de metas muito ambiciosas e de alto nível a serem alcançadas até 2030, como, a redução das emissões de carbono em 6 bilhões de toneladas. Isso equivale a quase todas as emissões dos EUA num ano inteiro. Além disso, muito será realizado por meio de soluções baseadas na natureza. Queremos proteger e preservar 100 milhões de hectares de paisagens com grande estoque de carbono.
Ademais, por meio da iniciativa Prepare de adaptação e resiliência, promovida pelo presidente [Biden], da qual a Usaid é a implementadora líder, queremos aumentar a resiliência e a capacidade adaptativa de meio bilhão de pessoas em todo o mundo.
Por fim, queremos garantir intervenções capazes de mudar os sistemas em pelo menos 40 países ao redor do mundo, para aumentar a participação de comunidades marginalizadas, tais como povos indígenas e comunidades locais, mulheres e jovens.
Qual é o orçamento que vocês têm para implementar a estratégia? O orçamento total da Usaid é de cerca de US$ 25 bilhões para o exercício financeiro atual. [Samantha] Power, nossa administradora, repetidamente se refere à Usaid como uma agência climática, então, em certo nível, estamos pensando no que podemos fazer com esses US$ 25 bilhões. O orçamento especificamente destinado a questões climáticas está na casa de US$ 600 milhões.
Como a senhora pretende trabalhar com países como o Brasil para a conservação dos 100 milhões de hectares? Já somos muito ativos no Brasil. No ano passado, nossas ações na área de biodiversidade no Brasil protegeram habitats de espécies ameaçadas de extinção e geraram impactos positivos em 45 milhões de hectares de terras em todo o país. Para fins de comparação, é uma área maior que a Califórnia.
Também estamos contribuindo para evitar mais de 300 milhões de toneladas métricas de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, fortalecemos a gestão de 189 áreas protegidas no Brasil, 83% das quais são territórios indígenas e quilombolas.
Em termos gerais, conforme já mencionei, a estratégia climática enfatiza o envolvimento de povos indígenas e comunidades locais em todo o nosso trabalho de formulação [de políticas e programas]. Isso se deve ao fato de as comunidades indígenas cuidarem das paisagens mais importantes do mundo em termos de estoque de carbono.
O atual desmantelamento das políticas ambientais brasileiras afeta o que a Usaid vem tentando fazer no país? Bem, nós temos uma cooperação com o governo brasileiro para proteger a biodiversidade. Nosso foco é colaborar não apenas com o governo federal, mas também com os governos subnacionais e regionais no Brasil, que é onde temos uma colaboração mais próxima.
Na sua opinião, como a agenda de adaptação e resiliência deve ser modificada ou atualizada, considerando os últimos eventos climáticos extremos observados no mundo todo? Os impactos da crise climática estão sendo sentidos de forma muito intensa em todo o mundo, ainda mais do que haviam previsto os cientistas. Sabemos que as consequências serão desastrosas. Basta ver o que está acontecendo no Paquistão, onde níveis recorde de monções deixaram mais de um terço do país debaixo d’água.
Portanto, a necessidade é urgente, tanto de reduzir as emissões e evitar as piores consequências da crise climática quanto de ajudar as comunidades a aumentar sua resiliência e capacidade de adaptação. É por isso que a Usaid trabalha em ambas as frentes: mitigação e adaptação.
Na iniciativa Prepare, que é nosso plano emergencial de adaptação e resiliência, temos três focos. O primeiro é apoiar o trabalho de cientistas e meteorologistas, tomadores de decisão e comunidades para fortalecer os sistemas de alerta precoce e outros serviços de informação climática. Isso está de acordo com o apelo do secretário-geral da ONU [o português António Guterres] por alerta antecipado para todos.
Muitas comunidades não são alertadas sobre eventos climáticos e meteorológicos extremos que podem ameaçar suas vidas e meios de subsistência. Mesmo 24 horas de antecedência são capazes de reduzir substancialmente os riscos e as perdas de vidas e meios de subsistência.
Em segundo lugar, estamos apoiando iniciativas locais para integrar boas práticas de adaptação climática às políticas de planejamento e aos orçamentos nacionais e locais. Quando examinamos as políticas de planejamento e os orçamentos de infraestrutura, saúde, segurança hídrica e alimentar, deslocamentos e migração, percebemos que os riscos climáticos nem sempre são abordados de forma sistemática. Por isso, estamos fornecendo conhecimentos técnicos para garantir que as análises climáticas sejam incorporadas ao modelo de todos esses programas.
Em terceiro lugar, queremos realmente tentar eliminar o déficit em investimentos financeiros e adaptação climática. Nossa meta é catalisar US$ 150 bilhões em financiamento público e privado, e uma grande ênfase deve ser dada à adaptação. O setor privado está começando a investir em respostas climáticas, especialmente na mitigação. Contudo, apenas 3% dos recursos privados são destinados a ações de adaptação.
Sabemos que precisamos de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões por ano até 2030 para atender às necessidades globais de mitigação e adaptação. Precisamos acelerar substancialmente os investimentos.
Como está, até o momento, a implementação do plano internacional de financiamento climático? Estamos nos concentrando em quatro áreas principais. A primeira é fornecer assistência técnica e desenvolvimento de “pipelines”para garantir que o setor privado tenha acesso a projetos confiáveis e capazes de receber investimentos em mitigação e adaptação.
Se observarmos a proliferação global de compromissos relativos a zerar as emissões líquidas —em Glasgow [na Escócia, onde foi realizada a última conferência do clima da ONU, a COP26, em 2021] e além—, veremos que há bilhões de dólares em recursos do setor privado disponíveis, apenas aguardando a oportunidade certa para que sejam investidos em projetos climáticos positivos. Muitos investidores do setor privado dirão que simplesmente não há projetos suficientes com a credibilidade ou a integridade que eles buscam.
A segunda área tem a ver com o que chamamos de ambiente propício. Em outras palavras, ajudar os governos a aumentar o investimento, garantindo que haja políticas e incentivos fiscais adequados em vigor. É pouco provável que alguém consiga estimular investimentos em economias de energias renováveis sem fornecer créditos fiscais, como os que a Lei de Redução da Inflação nos EUA acaba de oferecer.
Os US$ 369 bilhões que a Lei de Redução da Inflação de 2022 direcionou para a transição das energias renováveis já deram resultados. Estamos vendo bilhões de dólares em novos compromissos.
A terceira é usar nosso poder de mobilização para reunir uma diversidade de partes interessadas —governos, investidores do setor privado ou instituições multilaterais como o Banco Mundial— para realmente garantir que estejamos unindo forças para maximizar nosso potencial de investimento.
Por fim, estamos ampliando o uso de ferramentas financeiras inovadoras. Como um órgão público de desenvolvimento internacional, obviamente temos condições de fornecer subsídios capazes de reduzir os riscos de investimentos do setor privado. O que queremos fazer é fornecer capital concessional que reduza a percepção de riscos e aumente o retorno potencial dos investimentos do setor privado.
O presidente Biden estava disposto a mobilizar mais de US$ 11 bilhões em financiamento climático para países em desenvolvimento, o que não foi possível, como sabemos. Na sua opinião, como mobilizar fundos para a crise climática neste momento tão crucial e tão desafiador? O presidente Biden se comprometeu a quadruplicar o financiamento climático dos EUA e chegar a US$ 11,4 bilhões até 2024, e esse compromisso permanece firme. Obviamente, precisamos do apoio do Congresso para conseguirmos fazer isso.
Se houver dotação orçamentária, o que também depende do Congresso, o orçamento da Presidência para o exercício financeiro de 2023 —um ano antes da meta prometida de 2024— seria capaz de cumprir a promessa por meio de uma combinação de financiamento direto e indireto.
Além disso, precisamos trabalhar em conjunto com nossos aliados para cumprir a promessa feita no Acordo de Paris, de US$ 100 bilhões anuais para mitigação e adaptação climáticas em países em desenvolvimento. Isso ainda não é, nem de longe, o suficiente, mas ainda temos que atingir essa meta, que é muito importante.
Qual a sua opinião sobre o mercado voluntário de carbono? Ele é considerado por certas pessoas uma fonte de financiamento importante, enquanto, para outras, é prejudicial para as comunidades locais e ineficaz para a redução de emissões? Bem, creio que os mercados de carbono constituem uma das muitas ferramentas para catalisar todas as mudanças necessárias. É inegável que, em certas situações, os mercados de carbono se mostraram ineficazes na mobilização de financiamento para as comunidades locais ou na geração de benefícios reais de conservação.
Ao mesmo tempo, o mercado voluntário de carbono está crescendo exponencialmente. Em 2021, já era avaliado em US$ 2 bilhões. Então precisamos achar a solução certa: isso já está acontecendo, quer você queira, quer não.
Meu foco é garantir que ele seja o mais íntegro e equitativo possível. Precisamos de dados e monitoramento transparentes para garantir que as reduções de emissões sejam reais e que os fundos gerados por meio das reduções de emissões realmente beneficiem as comunidades locais.
Raio-X
Gillian Caldwell, 56
Com formação nas universidades Harvard e Georgetown, é advogada, ativista e cineasta. Atualmente é diretora para assuntos climáticos da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), além de administradora-adjunta do órgão. Antes, foi CEO da ONG Global Witness. De 2007 a 2010, foi diretora da campanha 1SKy, iniciativa de mais de 600 organizações para aprovar a legislação climática nos EUA. Caldwell já recebeu diversos reconhecimentos no setor de empreendedorismo social, incluindo o Prêmio Skoll.
Artificial lakes like this one in Dubai are helping fuel an insatiable demand for water in the United Arab Emirates.
As climate change makes the region hotter and drier, the U.A.E. is leading the effort to squeeze more rain out of the clouds, and other countries are rushing to keep up.
Aug. 28, 2022
ABU DHABI, United Arab Emirates — Iranian officials have worried for years that other nations have been depriving them of one of their vital water sources. But it was not an upstream dam that they were worrying about, or an aquifer being bled dry.
In 2018, amid a searing drought and rising temperatures, some senior officials concluded that someone was stealing their water from the clouds.
“Both Israel and another country are working to make Iranian clouds not rain,” Brig. Gen. Gholam Reza Jalali, a senior official in the country’s powerful Revolutionary Guards Corps, said in a 2018 speech.
The unnamed country was the United Arab Emirates, which had begun an ambitious cloud-seeding program, injecting chemicals into clouds to try to force precipitation. Iran’s suspicions are not surprising, given its tense relations with most Persian Gulf nations, but the real purpose of these efforts is not to steal water, but simply to make it rain on parched lands.
As the Middle East and North Africa dry up, countries in the region have embarked on a race to develop the chemicals and techniques that they hope will enable them to squeeze rain drops out of clouds that would otherwise float fruitlessly overhead.
With 12 of the 19 regional countries averaging less than 10 inches of rainfall a year, a decline of 20 percent over the past 30 years, their governments are desperate for any increment of fresh water, and cloud seeding is seen by many as a quick way to tackle the problem.
And as wealthy countries like the emirates pump hundreds of millions of dollars into the effort, other nations are joining the race, trying to ensure that they do not miss out on their fair share of rainfall before others drain the heavens dry — despite serious questions about whether the technique generates enough rainfall to be worth the effort and expense.
Morocco and Ethiopia have cloud-seeding programs, as does Iran. Saudi Arabia just started a large-scale program, and a half-dozen other Middle Eastern and North African countries are considering it.
China has the most ambitious program worldwide, with the aim of either stimulating rain or halting hail across half the country. It is trying to force clouds to rain over the Yangtze River, which is running dry in some spots.
While cloud seeding has been around for 75 years, experts say the science has yet to be proven. And they are especially dismissive of worries about one country draining clouds dry at the expense of others downwind.
The life span of a cloud, in particular the type of cumulus clouds most likely to produce rain, is rarely more than a couple of hours, atmospheric scientists say. Occasionally, clouds can last longer, but rarely long enough to reach another country, even in the Persian Gulf, where seven countries are jammed close together.
But several Middle Eastern countries have brushed aside the experts’ doubts and are pushing ahead with plans to wring any moisture they can from otherwise stingy clouds.
Today, the unquestioned regional leader is the United Arab Emirates. As early as the 1990s, the country’s ruling family recognized that maintaining a plentiful supply of water would be as important as the nation’s huge oil and gas reserves in sustaining its status as the financial and business capital of the Persian Gulf.
While there had been enough water to sustain the tiny country’s population in 1960, when there were fewer than 100,000 people, by 2020 the population had ballooned to nearly 10 million. And the demand for water soared, as well. United Arab Emirates residents now use roughly 147 gallons per person a day, compared with the world average of 47 gallons, according to a 2021 research paper funded by the emirates.
After 20 years of research and experimentation, the center runs its cloud-seeding program with near military protocols. Nine pilots rotate on standby, ready to bolt into the sky as soon as meteorologists focusing on the country’s mountainous regions spot a promising weather formation — ideally, the types of clouds that can build to heights of as much as 40,000 feet.
They have to be ready on a moment’s notice because promising clouds are not as common in the Middle East as in many other parts of the world.
“We are on 24-hour availability — we live within 30 to 40 minutes of the airport — and from arrival here, it takes us 25 minutes to be airborne,” said Capt. Mark Newman, a South African senior cloud-seeding pilot. In the event of multiple, potentially rain-bearing clouds, the center will send more than one aircraft.
The United Arab Emirates uses two seeding substances: the traditional material made of silver iodide and a newly patented substance developed at Khalifa University in Abu Dhabi that uses nanotechnology that researchers there say is better adapted to the hot, dry conditions in the Persian Gulf. The pilots inject the seeding materials into the base of the cloud, allowing it to be lofted tens of thousands of feet by powerful updrafts.
And then, in theory, the seeding material, made up of hygroscopic (water attracting) molecules, bonds to the water vapor particles that make up a cloud. That combined particle is a little bigger and in turn attracts more water vapor particles until they form droplets, which eventually become heavy enough to fall as rain — with no appreciable environmental impact from the seeding materials, scientists say.
That is in theory. But many in the scientific community doubt the efficacy of cloud seeding altogether. A major stumbling block for many atmospheric scientists is the difficulty, perhaps the impossibility, of documenting net increases in rainfall.
“The problem is that once you seed, you can’t tell if the cloud would have rained anyway,” said Alan Robock, an atmospheric scientist at Rutgers University and an expert in evaluating climate engineering strategies.
Another problem is that the tall cumulus clouds most common in summer in the emirates and nearby areas can be so turbulent that it is difficult to determine if the seeding has any effect, said Roy Rasmussen, a senior scientist and an expert in cloud physics at the National Center for Atmospheric Research in Boulder, Colo.
Israel, a pioneer in cloud seeding, halted its program in 2021 after 50 years because it seemed to yield at best only marginal gains in precipitation. It was “not economically efficient,” said Pinhas Alpert, an emeritus professor at the University of Tel Aviv who did one of the most comprehensive studies of the program.
Cloud seeding got its start in 1947, with General Electric scientists working under a military contract to find a way to de-ice planes in cold weather and create fog to obscure troop movements. Some of the techniques were later used in Vietnam to prolong the monsoon season, in an effort to make it harder for the North Vietnamese to supply their troops.
While the underlying science of cloud seeding seems straightforward, in practice, there are numerous problems. Not all clouds have the potential to produce rain, and even a cloud seemingly suitable for seeding may not have enough moisture. Another challenge in hot climates is that raindrops may evaporate before they reach the ground.
Sometimes the effect of seeding can be larger than expected, producing too much rain or snow. Or the winds can shift, carrying the clouds away from the area where the seeding was done, raising the possibility of “unintended consequences,” notes a statement from the American Meteorological Society.
“You can modify a cloud, but you can’t tell it what to do after you modify it,” said James Fleming, an atmospheric scientist and historian of science at Colby College in Maine.
“It might snow; it might dissipate. It might go downstream; it might cause a storm in Boston,” he said, referring to an early cloud-seeding experiment over Mount Greylock in the Berkshire Mountains of western Massachusetts.
This seems to be what happened in the emirates in the summer of 2019, when cloud seeding apparently generated such heavy rains in Dubai that water had to be pumped out of flooded residential neighborhoods and the upscale Dubai mall.
Despite the difficulties of gathering data on the efficacy of cloud seeding, Mr. Al Mandous said the emirates’ methods were yielding at least a 5 percent increase in rain annually — and almost certainly far more. But he acknowledged the need for data covering many more years to satisfy the scientific community.
Over last New Year’s weekend, said Mr. Al Mandous, cloud seeding coincided with a storm that produced 5.6 inches of rain in three days — more precipitation than the United Arab Emirates often gets in a year.
In the tradition of many scientists who have tried to modify the weather, he is ever optimistic. There is the new cloud-seeding nanosubstance, and if the emirates just had more clouds to seed, he said, maybe they could make more rain for the country.
And where would those extra clouds come from?
“Making clouds is very difficult,” he acknowledged. “But, who knows, maybe God will send us somebody who will have the idea of how to make clouds.”
Crise climática impacta chuvas, e dois terços do país enfrentam problemas no fornecimento de água
Maria Abi-Habib e Bryan Avelar
7 de agosto de 2022
O homem vestindo um boné de beisebol azul enche baldes com água de um caminhão do governo. Fonte: New York Times
O México —ou grande parte do país— está ficando sem água. Uma seca extrema tem deixado as torneiras secas, e quase dois terços dos municípios enfrentam escassez que vem obrigando as pessoas a encarar horas em filas para entregas de água feitas pelo governo em alguns locais.
A falta d’água está tão grave que moradores já fizeram barreiras em rodovias e sequestraram funcionários para exigir mais carregamentos. Os números são mesmo assustadores: em julho, 8 dos 32 estados enfrentaram estiagem de extrema a moderada, levando 1.546 dos 2.463 municípios a enfrentar cortes no fornecimento, segundo a Comissão Nacional de Água.
Em meados de julho, a seca atingia 48% do território do México —no ano passado, a situação afetou 28% do país.
Vincular uma seca isolada à crise climática requer análise, mas cientistas não têm dúvida de que o aquecimento global pode alterar os padrões de chuva no mundo e está elevando a probabilidade de ocorrência de secas.
A crise está especialmente aguda em Monterrey, um dos centros econômicos mais importantes do México, com uma região metropolitana de 5 milhões de habitantes. Alguns bairros estão sem água há 75 dias, levando escolas a fechar as portas antes das férias de verão. Um jornalista percorreu várias lojas à procura de água potável, incluindo um supermercado Walmart, em vão.
Baldes estão em falta no comércio ou são vendidos a preços astronômicos, enquanto os habitantes juntam recipientes para coletar a água distribuída por caminhões enviados aos bairros mais afetados. Alguns usam latas de lixo limpas, e crianças lutam para ajudar a carregar a água.
A crise afeta inclusive as regiões de alta renda. “Aqui a gente tem que sair à caça de água”, diz Claudia Muñiz, 38, cuja família frequentemente tem passado uma semana sem água corrente. “Num momento de desespero, as pessoas explodem.”
Monterrey fica no norte do México e viu sua população crescer nos últimos anos, acompanhando o boom econômico. O clima tipicamente árido da região não ajuda a suprir as necessidades da população, e a crise climática reduz as chuvas já escassas.
Hoje os moradores podem caminhar sobre o leito da represa da barragem de Cerro Prieto, que no passado era uma das maiores fontes de água da cidade e uma importante atração turística, com animados restaurantes à beira da água, pesca, passeios de barco e esqui aquático.
A chuva que caiu em julho em partes do estado de Nuevo León, que faz divisa com o Texas e cuja capital é Monterrey, representou apenas 10% da média mensal registrada desde 1960, segundo Juan Ignacio Barragán Villareal, diretor-geral da agência local de recursos hídricos. “Nem uma gota caiu no estado inteiro em março”, diz. Foi o primeiro março sem chuvas desde que se começou a registrar esses dados, em 1960.
Hoje o governo distribui 9 milhões de litros de água por dia para 400 bairros. O motorista de caminhão-pipa Alejandro Casas conta que, quando começou na função há cinco anos, ajudava os bombeiros e era chamado uma ou duas vezes por mês para levar água a um local incendiado. Ele passava muitos dias de trabalho apenas olhando para o telefone.
Mas desde janeiro ele trabalha sem parar, fazendo até dez viagens por dia, para suprir cerca de 200 famílias a cada vez. Quando ele chega a um local, uma longa fila já serpenteia pelas ruas. Pessoas levam recipientes que comportam até 200 litros e passam a tarde sob o sol para receber água só à meia-noite —e ela pode ser a única entregue por até uma semana.
Ninguém policia as filas, por isso é comum ocorrerem brigas, com moradores de outras comunidades tentando se infiltrar. Em maio o caminhão de Casas foi assaltado por jovens que subiram no assento do passageiro e o ameaçaram, exigindo que ele levasse o veículo ao bairro deles. “Se a gente não fosse para onde eles queriam, iam nos sequestrar.”
Casas seguiu a ordem, encheu os baldes dos moradores e foi libertado.
Maria de los Angeles, 45, nasceu e cresceu em Ciénega de Flores, cidade próxima a Monterrey. Ela diz que a crise está afetando sua família e seu negócio. “Nunca antes vi isso. Só temos água nas torneiras a cada quatro ou cinco dias”, diz.
O viveiro de plantas de jardim é a única fonte de renda de sua família e requer mais água do que a que chega apenas ocasionalmente às torneiras. “Toda semana sou obrigada a comprar um tanque que me custa 1.200 pesos [R$ 300] de um fornecedor particular”, diz. É metade de sua receita semanal. “Não aguento mais.”
Pequenos e microempresários como ela estão frustrados por serem abandonados à própria sorte, enquanto as grandes indústrias podem operar quase normalmente: as fábricas conseguem receber 50 milhões de metros cúbicos de água por ano, devido a concessões federais que lhes garantem acesso especial aos aquíferos da cidade.
O governo está tendo dificuldade em responder à crise. Para tentar mitigar estiagens futuras, o estado está investindo US$ 97 milhões na construção de uma estação de tratamento de águas servidas e pretende comprar água de uma estação de dessalinização em construção num estado vizinho. Também gastou US$ 82 milhões para alugar mais caminhões, pagar motoristas adicionais e cavar mais poços.
O governador de Nuevo León, Samuel García, recentemente exortou o mundo a agir em conjunto para combater a crise climática. “Ela nos alcançou”, escreveu no Twitter. “Hoje precisamos cuidar do ambiente, é uma questão de vida ou morte.”
Image caption, The 19-year-old activist criticised world leaders in a speech to festival-goers
Greta Thunberg has made a surprise appearance at Glastonbury, to warn of the dangers of climate change.
The earth’s biosphere is “not just changing, it is destabilising, it is breaking down,” the 19-year-old told festival-goers from the Pyramid Stage.
She criticised world leaders for “creating loopholes” to protect firms whose emissions cause climate change.
“That is a moral decision… that will put the entire living planet at risk”, she added.
But she ended on a message of hope, telling festival-goers they had the power to make a difference.
“We are capable of the most incredible things,” she said. “Once we are given the full story… we will know what to do. There is still time to choose a new path, to step back from the cliff.
“Instead of looking for hope, start creating that hope yourself.
Image caption, The climate activist also visited the festival’s Park area during her visit
“Make no mistake, no-one else is going to do this for us,” she concluded. “Right here and now is where we stand our ground.”
Thunberg was introduced on stage by Glastonbury organiser Emily Eavis, who called her “the most inspirational speaker of her generation.”
The activist spoke against a backdrop of the “warming stripes”, a vivid illustration of how the average global temperature has soared in recent decades.
Her appearance was warmly received by the crowd, who joined her in a chant of “climate justice” at the end of her speech.
The broadcaster thanked festival-goers for cutting their plastic use, after organisers banned single-use plastic bottles.
Grenfell plea
Thunberg spoke after an invigorating performance from rapper AJ Tracey, who opened his set with a powerful, angry message about the Grenfell Tower disaster.
In a pre-recorded video, the West London musician accused those responsible for the fire of “hiding behind a legal framework”, while young black men were being “arrested and convicted every day with haste for acts a lot less significant”.
Image caption, AJ Tracey gave one of the most compelling performances of the day so far
“The worst thing of the whole situation is [that] Grenfell could happen again,” he continued.
“Our buildings are not safe and thousands of low-income people, people who grew up just like I did, go to bed every night not knowing if it’ll be their last. They tuck their children in at night and don’t know if they’ll wake up in flames.”
Tracey, who grew up in Ladbroke Grove, knows many of the victims, survivors and bereaved.
He ended his message by addressing the Prime Minister directly.
“Boris Johnson, I want to ask you a question: 72 of our friends and family are dead and there’s been zero arrests,” he said. “Why?”
The rapper went on to perform a muscular set of hip-hop, grime and 2-step, rearranging many of his songs to work with a live band.
“I’m hoping that the crowd are receptive to me trying to give them a different take on my usual set,” he told BBC News ahead of the performance.
He said his musical versatility came from his upbringing.
“My dad used to be a rapper, my mum used to be a DJ on the radio, playing jungle, house, garage… so I’ve got quite a mix.
“My mum’s Welsh and my dad’s from Trinidad – so the British sounds and the Caribbean sounds come into one, and I’ve been inspired by it.”
The star brought his mother to Glastonbury and she watched his show from the side of the Pyramid stage.
“She’s going to be rocking out, man. She’s my biggest fan,” he said.
“She doesn’t have a scrapbook but she’s a photographer so she takes loads of personal pictures and has her own little personal archive.”
Paul McCartney will headline the festival later on Saturday night, and is scheduled to play a marathon two-and-three-quarter hour set.
Fans arrived at the barriers in front of the Pyramid stage early on Saturday morning to make sure they had a front row seat for the show.
Uma atualização das metas de redução de gases estufa foi registrada pelo Brasil, nesta quinta-feira (7), na UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), formalizando, dessa forma, uma “pedalada climática“.
Entre os objetivos atualizados está a neutralidade de carbono até 2050, a redução, em 2025, de 37% dos gase estufa, em comparação com as emissões de 2005, e a diminuição, em 2030, de 50% dos gases, também em comparação com 2005.
As promessas, feitas durante a COP, de zerar o desmatamento até 2030 e de redução na emissão de metano não constam no documento, ausência apontada por entidades como o Política por Inteiro e o Observatório do Clima.
Os cortes de emissões de gases para 2030 e a neutralidade de carbono em 2050 tinham sido anunciados pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em 1º de novembro do ano passado.
As organizações também criticam a “pedalada climática” das metas apresentadas.
A pedalada ocorre pela mudança no dado das emissões de 2005, que foi atualizado nos mais recentes inventários nacionais de gases estufa, ou seja, ocorreu uma mudança na base de comparação.
A primeira NDC brasileira (sigla para contribuição nacional determinada e que pode ser, de modo mais simples, traduzida como meta climática) é de 2015, ano do Acordo de Paris. Nela, o Brasil se compromete a até 2030 reduzir em 43%, em relação a 2005, as emissões de gases estufa. Nesse cenário e com os dados disponíveis naquele momento, o país emitiria, em 2030, cerca de 1,208 gigatoneladas de gás carbônico equivalente (em linhas gerais, uma soma dos gases que causam o aquecimento global).
Com a evolução nas metodologias para medir os gases, os dados de 2005 sofreram correções e aumentaram. A meta brasileira, porém, não foi alinhada a essa correção e permaneceu em 43% de redução. Como os dados de base (2005) são menores, a redução de 43% passou a significar emissões maiores em 2030 (cerca de 1,620 gigatoneladas), em comparação ao prometido inicialmente. Surgiu, assim a pedalada climática.
Aumentando-se mais o percentual de corte de emissões, a situação poderia ser corrigida com a nota meta nacional submetida ao UNFCCC. Mas isso não aconteceu. Considerando o documento que foi submetido com 50% de redução de emissões, o Brasil em 2030 estará emitindo 1,281 gigatoneladas de CO2e (leia gás carbônico equivalente), segundo análises do Observatório do Clima e do Política por Inteiro.
O alerta sobre a manutenção da pedalada já tinha sido soado no momento em que Leite anunciou a nova meta, na COP26. No dia anterior à promessa, o Brasil havia, inclusive, submetido uma carta-adendo à UNFCCC em que oficializava somente a meta de neutralidade climática até 2050, sem citações aos objetivos desta década.
Organizações apontam que as novas metas nacionais não aumentam a ambição climática, algo que era esperado das nações que assinaram o Acordo de Paris.
“O teto de emissões estipulado para 2030 está uma Colômbia inteira (em termos de emissões anuais) acima daquele estipulado anteriormente pelo Governo do Brasil”, afirma uma análise produzida pelo Política por Inteiro. Já o teto de 2025 está uma Polônia inteira acima do estipulado anteriormente aponta o documento.
O Política por Inteiro ainda aponta que o país deve resolver em definitivo a questão de atualização de metas. “As sucessivas demonstrações de retrocesso afetam diretamente a credibilidade do país na esfera internacional”, diz a análise.
O Observatório do Clima aponta que o país está descumprindo o Acordo de Paris e que mente no documento enviado ao UNFCCC ao afirmar que está aumentando sua ambição.
“Continua sendo um retrocesso, num momento em que as Nações Unidas fazem um chamado para os países aumentarem suas ambições. O Brasil não responde ao chamado e ainda continua retrocedendo”, diz, em nota, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
O planeta Terra vive uma emergência climática e a necessidade de soluções e ações se tornou ainda mais urgente com a crise mundial ocasionada pela pandemia da COVID-19. Um novo pacto social, político e econômico verde precisa ser debatido e muitas coisas precisam ser colocadas em prática para não haver um colapso ainda maior.
As mulheres não são (e nem devem ser vistas como) vítimas, nem heroínas. Mas, sim, estão nos grupos dos mais vulneráveis na emergência climática. Em diferentes aspectos, não apenas por questões de gênero. Raça, etnia, classe social, região, por exemplo, podem fazer com que esses impactos sejam vivenciados de formas distintas.
Mesmo representando a metade da população mundial e sendo as mais impactadas pelos efeitos do aquecimento global, as mulheres não possuem uma representatividade proporcional nas principais esferas de decisão; nem nas possíveis soluções das quais poderiam ser beneficiadas, elas são contempladas.
Até nos postos de trabalho gerados pelos investimentos em setores da Economia Verde – aqueles que colaboram para a redução dos efeitos da emergência climática – as mulheres têm igualdade. Importantes esferas de decisão, como as Conferências do Clima (COPs), também não possuem a devida proporcionalidade de gênero nos postos de liderança, como divulgado no final do ano passado: “Mulheres pedem igualdade de gênero no comando da COP26”.
O grupo de Trabalho sobre Gênero & Clima do Observatório do Clima também entende que as mulheres têm suas vidas significativamente afetadas pelas mudanças climáticas e muitos problemas são potencializados pelas injustiças estruturais em relação ao gênero.
Interseccionalidade é o estudo da sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação que nos permite compreender melhor as desigualdades e a sobreposição dessas opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Levando-se em conta o conceito de intersecção, mulheres indígenas, mulheres quilombolas, mulheres negras, mulheres da periferia, agricultoras, mães solteiras e chefes de família são impactadas de formas distintas. Até mesmo ao buscar responder a pergunta: Por que a produção de artigos científicos por mulheres caiu brutalmente durante a pandemia, vamos encontrar entre as respostas possíveis que a divisão sexual do trabalho doméstico e de cuidado existente em nossa sociedade acabam impactando as mulheres.
“Não existe hierarquia de opressão, já aprendemos. Identidades sobressaltam aos olhos ocidentais, mas a interseccionalidade se refere ao que faremos politicamente com a matriz de opressão responsável por produzir diferenças, depois de enxergá-las como identidades. Uma vez no fluxo das estruturas, o dinamismo identitário produz novas formas de viver, pensar e sentir, podendo ficar subsumidas a certas identidades insurgentes, ressignificadas pelas opressões”, como explica a doutora em Estudos Interdisciplinares de Gênero, Mulheres e Feminismos pela Universidade Federal da Bahia, Carla Akotirene, em seu livro Interseccionalidade.
Um exemplo emblemático sobre com muitas questões importantes podem se tornar “imperceptíveis” se não trouxermos o olhar da interseccionalidade é o discurso da intelectual Sojourner Truth, em 1851, “E eu não sou uma mulher?” em uma convenção pelos Direitos das Mulheres, onde ela questiona o conceito de “mulher universal”, sob seu ponto de vista de uma ex-escrava. Para se buscar uma retomada verde inclusiva — um novo pacto social econômico que seja de fato inclusivo —, deve-se levar em conta o conceito de interseccionalidade para que possa tirar da invisibilidade muitas pessoas.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os países pobres são os que mais sofrem as consequências imediatas da mudança climática por causa das condições desfavoráveis pré-existentes. Apesar de todas as regiões do planeta estarem sendo afetadas, os danos serão maiores para aqueles que tenham mais vulnerabilidades socioeconômicas e a sua localização geográfica.
Segundo as estimativas do Parlamento Europeu, 70% das 1,3 bilhões de pessoas em situação de pobreza em todo o mundo são mulheres. Entretanto, o relatório da ONU Mulheres (2020) mostra que apenas cinco dos 75 estados membros da Organização das Nações Unidas reconheceram que as considerações de gênero são importantes para responder aos riscos de segurança relacionados ao clima. A pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) trouxe à tona muitas diferenças sociais que já eram óbvias, mas não eram enxergadas — talvez não quisessem enxergá-las ou eram invisíveis por serem naturalizadas — por muitos.
Como apontado no artigo “Por que somente o investimento econômico em ‘setores verdes’ não basta”, para se reduzir as desigualdades estruturais de gênero e raça presentes no Brasil e trazer um desenvolvimento sustentável para uma retomada verde inclusiva são necessários: debater o tema e dar a devida nomenclatura para casos de racismo ambiental, falta de equidade de gênero e outras desigualdades; ter ações coordenadas que busquem políticas macroeconômicas e de desenvolvimento, políticas industriais e setoriais que considerem as dimensões sociais, ambientais e climáticas; gerar apoio para que micro e pequenas empresas atuem nos novos setores da economia de baixo carbono; buscar desenvolvimento de habilidades e competências profissionais; priorizar saúde e segurança no trabalho; ampliar ofertas de proteção social; defender os direitos universais e os serviços públicos; e criar políticas públicas e ações que promovam a garantia dos Direitos Fundamentais do Trabalho.
______
*Tatiane Matheus é pesquisadora no ClimaInfo e membro do Grupo de Trabalho de Gênero & Clima do Observatório do Clima.
[Linking solar activity to the onset of droughts in places like Northeast Brazil has historically been treated as something that did not deserve attention by mainstream meteorology. The El Niño Southern Oscillation – of which La Niña is part – was always presented as the main causal factor for droughts. This new study connects solar activity with the La Niña. The interesting thing here is that many local farmers seen as knowledgeable about rains and drought in NE Brazil mention a 10 years period for the repetition of climate events. -RT]
Date: April 5, 2021
Source: National Center for Atmospheric Research/University Corporation for Atmospheric Research
Summary: A new study shows a correlation between the end of solar cycles and a switch from El Nino to La Nina conditions in the Pacific Ocean, suggesting that solar variability can drive seasonal weather variability on Earth.
A new study shows a correlation between the end of solar cycles and a switch from El Nino to La Nina conditions in the Pacific Ocean, suggesting that solar variability can drive seasonal weather variability on Earth.
If the connection outlined in the journal Earth and Space Science holds up, it could significantly improve the predictability of the largest El Nino and La Nina events, which have a number of seasonal climate effects over land. For example, the southern United States tends to be warmer and drier during a La Nina, while the northern U.S. tends to be colder and wetter.
“Energy from the Sun is the major driver of our entire Earth system and makes life on Earth possible,” said Scott McIntosh, a scientist at the National Center for Atmospheric Research (NCAR) and co-author of the paper. “Even so, the scientific community has been unclear on the role that solar variability plays in influencing weather and climate events here on Earth. This study shows there’s reason to believe it absolutely does and why the connection may have been missed in the past.”
The study was led by Robert Leamon at the University of Maryland-Baltimore County, and it is also co-authored by Daniel Marsh at NCAR. The research was funded by the National Science Foundation, which is NCAR’s sponsor, and the NASA Living With a Star program.
Applying a new solar clock
The appearance (and disappearance) of spots on the Sun — the outwardly visible signs of solar variability — have been observed by humans for hundreds of years. The waxing and waning of the number of sunspots takes place over approximately 11-year cycles, but these cycles do not have distinct beginnings and endings. This fuzziness in the length of any particular cycle has made it challenging for scientists to match up the 11-year cycle with changes happening on Earth.
In the new study, the researchers rely on a more precise 22-year “clock” for solar activity derived from the Sun’s magnetic polarity cycle, which they outlined as a more regular alternative to the 11-year solar cycle in several companion studies published recently in peer-reviewed journals.
The 22-year cycle begins when oppositely charged magnetic bands that wrap the Sun appear near the star’s polar latitudes, according to their recent studies. Over the cycle, these bands migrate toward the equator — causing sunspots to appear as they travel across the mid-latitudes. The cycle ends when the bands meet in the middle, mutually annihilating one another in what the research team calls a terminator event. These terminators provide precise guideposts for the end of one cycle and the beginning of the next.
The researchers imposed these terminator events over sea surface temperatures in the tropical Pacific stretching back to 1960. They found that the five terminator events that occurred between that time and 2010-11 all coincided with a flip from an El Nino (when sea surface temperatures are warmer than average) to a La Nina (when the sea surface temperatures are cooler than average). The end of the most recent solar cycle — which is unfolding now — is also coinciding with the beginning of a La Nina event.
“We are not the first scientists to study how solar variability may drive changes to the Earth system,” Leamon said. “But we are the first to apply the 22-year solar clock. The result — five consecutive terminators lining up with a switch in the El Nino oscillation — is not likely to be a coincidence.”
In fact, the researchers did a number of statistical analyses to determine the likelihood that the correlation was just a fluke. They found there was only a 1 in 5,000 chance or less (depending on the statistical test) that all five terminator events included in the study would randomly coincide with the flip in ocean temperatures. Now that a sixth terminator event — and the corresponding start of a new solar cycle in 2020 — has also coincided with an La Nina event, the chance of a random occurrence is even more remote, the authors said.
The paper does not delve into what physical connection between the Sun and Earth could be responsible for the correlation, but the authors note that there are several possibilities that warrant further study, including the influence of the Sun’s magnetic field on the amount of cosmic rays that escape into the solar system and ultimately bombard Earth. However, a robust physical link between cosmic rays variations and climate has yet to be determined.
“If further research can establish that there is a physical connection and that changes on the Sun are truly causing variability in the oceans, then we may be able to improve our ability to predict El Nino and La Nina events,” McIntosh said.
Robert J. Leamon, Scott W. McIntosh, Daniel R. Marsh. Termination of Solar Cycles and Correlated Tropospheric Variability. Earth and Space Science, 2021; 8 (4) DOI: 10.1029/2020EA001223
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