Arquivo da tag: COP26

Crise climática é crise de classes, diz ator britânico que aponta racismo no debate (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Na peça ‘Can I Live?’, Fehinti Balogun, com rap, animação e poesia, apresenta a colonização e a exploração de países africanos como temas centrais na discussão

Cristiane Fontes

2 de novembro de 2022


Foi em 2017, durante a preparação para a peça “Myth”, uma parábola climática da Royal Shakespeare Company, que o artista Fehinti Balogun acabou se dando conta da gravidade da crise do clima.

“Após ter feito muitas coisas, consegui meu primeiro papel principal numa peça no West End em Londres. Era o ano mais quente da história”, lembra o ator e dramaturgo britânico. “E, pela primeira vez, percebi que as plantações estavam morrendo, os campos estavam secos. Comecei a desenvolver uma espécie de ansiedade que nunca tive antes”, completa.

Com isso, veio o choque: “Eu tinha o trabalho que eu sempre sonhei, algo que eu tinha estudado para fazer, e, de repente, isso não significava nada”.

Balogun se juntou ao grupo ativista Extinction Rebellion, participou de diversos protestos e organizou uma palestra sobre o tema. Essa jornada o levou à produção de uma peça teatral que, durante a pandemia, foi transformada em um filme.

O ator britânico Fehinti Balogun, que criou a peça ‘Can I live?’, sobre mudanças climáticas. Fonte: New York Times/Tom Jamieson, 29.out.2021

Intitulada “Can I Live?” (posso viver?), a produção explica as mudanças climáticas a partir da perspectiva de uma pessoa negra, usando diversas performances musicais.

A mãe de Balogun, imigrante nigeriana, é quem guia a história. Fora da tela, também foi ela quem inspirou a criação do texto, a partir de questionamentos ao filho —que ele gravou secretamente para escutar de novo e pensar a respeito.

“Por que você está sacrificando sua carreira para fazer parte desses grupos?”, ela perguntava.

Mesmo discordando, o filho reconheceu na indignação da mãe um ponto muito importante: a discussão climática ficou elitizada e branca e ainda não foi capaz de incluir os segmentos mais pobres da população.

“Can I Live?”, pelo contrário, se propõe a não só trazer os dilemas pessoais do autor, que se misturam aos problemas mundiais e aos dados científicos, como é didática e criativa ao explicar, por exemplo, o efeito estufa em forma de rap. Criado com a companhia de teatro britânica Complicité, o filme mescla linguagens como animação, poesia e música.

“O objetivo é criticar descaradamente o sistema, sem culpar uma pessoa específica. Não se trata de envergonhar as pessoas, mas, sim, de educá-las e conectar-se com elas”, define Balogun.

Depois de uma turnê online, o filme foi exibido em eventos como a COP26 (conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada em 2021 na Escócia) e a London Climate Action Week.

A ideia, diz Balogun, é fazer “Can I Live?”, que ainda não foi lançado no Brasil, chegar a movimentos de base, para estimular conversas sobre a crise climática entre aqueles que não costumam se conectar com o assunto.

Quando perguntado sobre a agenda climática no Reino Unido, o autor é categórico: “Temos um governo que não está levando isso tão a sério quanto deveria e que nunca levou o racismo tão a sério quanto deveria. Temos toda uma economia baseada num histórico de escravidão que não é debatida. Então, dentro das escolas, apagamos essa história. O que aprendemos neste país não está nem perto do que deveria ser”.

Quando e por que você se envolveu com a agenda da crise climática?

Após ter feito muitas coisas, consegui meu primeiro papel principal numa peça no West End em Londres. Era o ano mais quente da história, depois de outro ano ter sido o ano mais quente da história, depois de o último antes disso ter sido o mais quente… E, pela primeira vez, eu percebi que as plantações estavam morrendo, os campos estavam secos. Comecei a desenvolver uma espécie de ansiedade que nunca tive antes. Eu tinha o trabalho que eu sempre sonhei, algo que eu tinha estudado para fazer, e, de repente, isso não significava nada.

Então comecei a tentar me envolver em diferentes projetos e me juntei ao [grupo ativista] Extinction Rebellion. E comecei a discutir tudo com minha mãe, que perguntava: “Por que você está sacrificando sua carreira para fazer parte desses grupos?”. E eu pensava: “Não, essa é a única coisa importante que estou fazendo”. E nós continuamos discutindo muito isso tudo.

Eu gravei secretamente tudo o que ela me disse, peguei os pontos importantes dela e transformei numa apresentação sobre o clima, porque percebi que meu papel era poder usar meu privilégio de ser um ator e ter essa formação.

Eu não sou de uma família particularmente rica. Cresci sem muito dinheiro, morando em habitação social, e o que eu tenho agora é devido ao meu trabalho como ator, aos meus contatos e a todas essas perspectivas diferentes. Então eu montei essa palestra, que é como um TED Talk, usando as mensagens de voz da minha mãe.

Esse trabalho decolou, uma coisa levou à outra e começamos a trabalhar em uma peça, que depois virou um filme, “Can I Live?”. Foi assim que essa jornada climática de repente tomou conta da minha vida.

Sua mãe é a verdadeira estrela do filme. Quais foram as coisas importantes que ela levantou sobre o assunto?

Muitas. Uma delas é exatamente o que significa resistir quando você é uma minoria, e o que significa para a sua criação. Isso afeta não apenas o seu futuro, mas também a ideia que foi passada a pessoas como minha mãe, minhas tias, meus tios sobre o que é o “bom imigrante”.

Não é algo que ela tenha me dito explicitamente, mas que eu intuí de tudo o que ela estava me dizendo. Você não é capaz de reagir porque tem sorte de ter o que tem, entende? Ela dizia: “Há pessoas que estão esperando para entrar no país. Há pessoas que estão esperando conseguir a cidadania. E você acha que eles vão criticar aquele país que diz que eles não deveriam estar lá?”.

Para o público no Brasil que ainda não teve a chance de assistir ao filme, como você o descreveria?

Basicamente, o filme é uma explicação das mudanças climáticas a partir da perspectiva de uma pessoa negra. O objetivo é criticar descaradamente o sistema, sem culpar uma pessoa específica. Não se trata de envergonhar as pessoas, mas, sim, de educá-las e conectar-se com elas.

Eu quero que as pessoas assistam e vejam a si mesmas no filme todo ou em algumas partes, ou que vejam sua mãe ou sua avó ou seus amigos nas conversas. O filme tinha como objetivo levar as pessoas por essa jornada histórica até onde estamos agora e descobrirem o que podem fazer.

Colocamos o filme para distribuição online durante a pandemia. As pessoas pagavam o que podiam. A ideia era tentar torná-lo o mais acessível possível. Não foi algo como: “Ei, nós fizemos uma obra de arte!”, mas ela é exibida num teatro muito metido onde as pessoas se sentem desconfortáveis e têm dificuldades para acessar.

A ideia foi descentralizar esta obra e distribuí-la para o maior número de pessoas possível, e oferecê-la a movimentos de base, para que pudessem exibi-lo e conversar a partir disso e incluir nessas conversas pessoas que não costumavam se conectar.

A propósito, como envolver nas questões climáticas pessoas que estão lutando para sobreviver?

Acho que a coisa mais importante que aprendi sobre me comunicar com as pessoas é que você precisa ir ao encontro delas. Você não pode chegar em alguém esperando que essa pessoa tenha o seu mesmo nível de entusiasmo ou raiva, ou desgosto, ou desdém, porque todo mundo tem algo acontecendo em suas vidas.

O que temos no sistema é que constantemente nos dizem que temos que consertar algo individualmente, e que é nossa culpa individual. O fato de você estar passando por tanta insegurança alimentar é porque você não trabalhou duro o suficiente, ou porque 20 anos atrás você não economizou isso, ou fez aquilo. E se você tivesse feito todas essas coisas, você estaria bem e a culpa é sua e blá, blá, blá.

Você tem de olhar para essa questão de um ponto de vista estrutural. Estrutural e espiritual. Eu posso despejar todas as minhas ideias sobre estrutura e coisas de ativismo em cima de você, mas, no final das contas, se seu prato está cheio, seu prato está cheio; você já chegou no seu limite. A questão é muito mais profunda, e é muito solitário e difícil saber que você tem muitos problemas que precisa consertar. No final, o que está mesmo no centro disso é ter uma comunidade.

E como você descreveria o debate sobre mudanças climáticas no Reino Unido no momento?

Essa é uma pergunta difícil! Agora no Reino Unido temos um governo que não está levando isso tão a sério quanto deveria e que nunca levou o racismo tão a sério quanto deveria.

Temos toda uma economia baseada num histórico de escravidão que não é debatida. Então, dentro das escolas, apagamos essa história. O que aprendemos neste país não está nem perto do que deveria ser, na verdade. Mas, se estivermos falando de pensamentos e sentimentos em relação às mudanças climáticas, as pessoas sabem disso, embora não saibam o que fazer.

Na COP26, no ano passado, você participou de eventos com artistas e ativistas indígenas brasileiros. Como o discurso deles ecoou com você e no Reino Unido?

A COP é um evento decepcionante, via de regra. Não me inspirou nem um pouco. O que foi inspirador foram todos os ativistas que estavam lá e pessoas diferentes de muitos países diferentes, fazendo coisas incríveis e falando sobre tantas coisas. É uma comunidade muito forte.

Mas é muito difícil no Reino Unido. O patriotismo está apenas conectado a um ponto de vista ideológico e imperialista do mundo, que diz: “Eu sou superior a você”. Então por que aprender com aquele ativista brasileiro diferente? Já os indígenas eram o oposto disso. A mensagem deles era: “Estes somos nós! E vamos compartilhar isso com vocês! Vamos proteger isso para as gerações futuras!”.

Na sua visão, como fortalecer o movimento global de justiça climática, considerando o atual contexto político?

Parte do movimento dos direitos civis estava ligado à educação, à educação em massa e para certas comunidades. A ideia não é trabalhar com o medo, mas sim trabalhar através do medo para chegar a soluções.

Então, para fortalecer o movimento, [precisamos de] educação em massa, especificamente em certas zonas; e precisamos que diferentes movimentos de base se unam.

Em termos de mudança na narrativa, quais são as estratégias que você considera mais importantes?

Precisamos mudar a narrativa sobre riqueza e propriedade. Nós realmente precisamos entender que a crise climática é uma crise de classes, e dentro dessa crise de classes, há uma interseccionalidade muito racista.

Simplesmente entender essas coisas eu acho que vai ajudar muito; e é muito difícil, porque dentro do ideal capitalista, [a economia] só funciona se você sentir falta de alguma coisa. Eles só podem vender maquiagem para você se você acreditar que precisa de maquiagem. Eu não estou dizendo que as pessoas não devem usar maquiagem, mas, sim, que você só vai comprar algo se achar que precisa daquilo.

São essas mudanças de narrativas sobre o que achamos que é necessário e o que é, na verdade, necessário.

E precisamos de bondade radical. Radical no sentido de que não somos uma cultura muito indulgente.

O debate político anda muito polarizado, inclusive no Brasil, como você deve saber. Você poderia descrever melhor a ideia de bondade radical?

O que quero dizer com bondade radical não é apenas ser radicalmente gentil com a pessoa com opiniões opostas, mas também ser radicalmente gentil consigo mesmo.

Por que estou tentando fazer com que alguém que, fundamentalmente, me odeia goste de mim? Como isso me ajuda ou ajuda a outra pessoa? No final das contas, independentemente de eles terem dito que gostavam ou não de mim, eles vão embora e eu fico com esse sentimento. A única maneira de lidar com isso é ter uma comunidade atrás de você que esteja disposta a compartilhar isso com você.

Você sabe o que isso significa? Significa se afastar da postura individual de “eu vou consertar o mundo” para algo como “estas são as pessoas que eu preciso para poder fazer isso”.

Eu sempre falo, você tem que fazer uma escolha quando você fala com alguém, especialmente com alguém com uma opinião oposta a você que não tem interesse direto no assunto, como por exemplo, racismo, sexismo, ou mesmo mudanças climáticas.

Quando a pessoa não é afetada emocional, física e praticamente pela coisa e argumenta contra você, você tem que se perguntar: “Eu tenho condições de me envolver nisso hoje? Até onde quero ir? Vou ter alguém cuidando de mim quando a conversa terminar?”. Então a bondade radical não é apenas ter um espaço para a outra pessoa: é para você mesmo.


Raio-X

Fehinti Balogun

Ator, dramaturgo, escritor e pintor britânico de origem nigeriana, nascido em Greenwich, em Londres. Além de “Can I Live?”, participou de peças como “Myth” (mito), “The Importance of Being Earnest” (a importância de ser prudente) e “Whose Planet Are You On?” (você está no planeta de quem?). No cinema, fez trabalhos como “Juliet, Nua e Crua”, “Duna” e “Walden”. Na TV, participou das séries “I May Destroy You” (posso te destruir), “Informer” (informante) e “O Filho Bastardo do Diabo”, cuja primeira temporada estreia no fim de outubro na Netflix no Brasil.

Brasil oficializa ‘pedalada climática’ em nova meta de redução de gases (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Phillippe Watanabe

7 de abril de 2022


Uma atualização das metas de redução de gases estufa foi registrada pelo Brasil, nesta quinta-feira (7), na UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), formalizando, dessa forma, uma “pedalada climática“.

As novas metas aparecem mais de cinco meses depois da COP26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, e, mesmo assim, ainda não formalizam todas promessas feitas durante o evento à comunidade internacional.

Entre os objetivos atualizados está a neutralidade de carbono até 2050, a redução, em 2025, de 37% dos gase estufa, em comparação com as emissões de 2005, e a diminuição, em 2030, de 50% dos gases, também em comparação com 2005.

As emissões brasileiras são resultado, principalmente, de desmatamento e atividade pecuária.

As promessas, feitas durante a COP, de zerar o desmatamento até 2030 e de redução na emissão de metano não constam no documento, ausência apontada por entidades como o Política por Inteiro e o Observatório do Clima.

Os cortes de emissões de gases para 2030 e a neutralidade de carbono em 2050 tinham sido anunciados pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em 1º de novembro do ano passado.

As organizações também criticam a “pedalada climática” das metas apresentadas.

A pedalada ocorre pela mudança no dado das emissões de 2005, que foi atualizado nos mais recentes inventários nacionais de gases estufa, ou seja, ocorreu uma mudança na base de comparação.

A primeira NDC brasileira (sigla para contribuição nacional determinada e que pode ser, de modo mais simples, traduzida como meta climática) é de 2015, ano do Acordo de Paris. Nela, o Brasil se compromete a até 2030 reduzir em 43%, em relação a 2005, as emissões de gases estufa. Nesse cenário e com os dados disponíveis naquele momento, o país emitiria, em 2030, cerca de 1,208 gigatoneladas de gás carbônico equivalente (em linhas gerais, uma soma dos gases que causam o aquecimento global).

Com a evolução nas metodologias para medir os gases, os dados de 2005 sofreram correções e aumentaram. A meta brasileira, porém, não foi alinhada a essa correção e permaneceu em 43% de redução. Como os dados de base (2005) são menores, a redução de 43% passou a significar emissões maiores em 2030 (cerca de 1,620 gigatoneladas), em comparação ao prometido inicialmente. Surgiu, assim a pedalada climática.

Aumentando-se mais o percentual de corte de emissões, a situação poderia ser corrigida com a nota meta nacional submetida ao UNFCCC. Mas isso não aconteceu. Considerando o documento que foi submetido com 50% de redução de emissões, o Brasil em 2030 estará emitindo 1,281 gigatoneladas de CO2e (leia gás carbônico equivalente), segundo análises do Observatório do Clima e do Política por Inteiro.

O alerta sobre a manutenção da pedalada já tinha sido soado no momento em que Leite anunciou a nova meta, na COP26. No dia anterior à promessa, o Brasil havia, inclusive, submetido uma carta-adendo à UNFCCC em que oficializava somente a meta de neutralidade climática até 2050, sem citações aos objetivos desta década.

Organizações apontam que as novas metas nacionais não aumentam a ambição climática, algo que era esperado das nações que assinaram o Acordo de Paris.

“O teto de emissões estipulado para 2030 está uma Colômbia inteira (em termos de emissões anuais) acima daquele estipulado anteriormente pelo Governo do Brasil”, afirma uma análise produzida pelo Política por Inteiro. Já o teto de 2025 está uma Polônia inteira acima do estipulado anteriormente aponta o documento.

O Política por Inteiro ainda aponta que o país deve resolver em definitivo a questão de atualização de metas. “As sucessivas demonstrações de retrocesso afetam diretamente a credibilidade do país na esfera internacional”, diz a análise.

O Observatório do Clima aponta que o país está descumprindo o Acordo de Paris e que mente no documento enviado ao UNFCCC ao afirmar que está aumentando sua ambição.

“Continua sendo um retrocesso, num momento em que as Nações Unidas fazem um chamado para os países aumentarem suas ambições. O Brasil não responde ao chamado e ainda continua retrocedendo”, diz, em nota, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Another tool in the fight against climate change: storytelling (MIT Technology Review)

technologyreview.com

Stories may be the most overlooked climate solution of all. By

December 23, 2021

Devi Lockwood

There is a lot of shouting about climate change, especially in North America and Europe. This makes it easy for the rest of the world to fall into a kind of silence—for Westerners to assume that they have nothing to add and should let the so-called “experts” speak. But we all need to be talking about climate change and amplifying the voices of those suffering the most. 

Climate science is crucial, but by contextualizing that science with the stories of people actively experiencing climate change, we can begin to think more creatively about technological solutions.

This needs to happen not only at major international gatherings like COP26, but also in an everyday way. In any powerful rooms where decisions are made, there should be people who can speak firsthand about the climate crisis. Storytelling is an intervention into climate silence, an invitation to use the ancient human technology of connecting through language and narrative to counteract inaction. It is a way to get often powerless voices into powerful rooms. 

That’s what I attempted to do by documenting stories of people already experiencing the effects of a climate in crisis. 

In 2013, I was living in Boston during the marathon bombing. The city was put on lockdown, and when it lifted, all I wanted was to go outside: to walk and breathe and hear the sounds of other people. I needed to connect, to remind myself that not everyone is murderous. In a fit of inspiration, I cut open a broccoli box and wrote “Open call for stories” in Sharpie. 

I wore the cardboard sign around my neck. People mostly stared. But some approached me. Once I started listening to strangers, I didn’t want to stop. 

That summer, I rode my bicycle down the Mississippi River on a mission to listen to any stories that people had to share. I brought the sign with me. One story was so sticky that I couldn’t stop thinking about it for months, and it ultimately set me off on a trip around the world.

“We fight for the protection of our levees. We fight for our marsh every time we have a hurricane. I couldn’t imagine living anywhere else.” 

I met 57-year-old Franny Connetti 80 miles south of New Orleans, when I stopped in front of her office to check the air in my tires; she invited me in to get out of the afternoon sun. Franny shared her lunch of fried shrimp with me. Between bites she told me how Hurricane Isaac had washed away her home and her neighborhood in 2012. 

Despite that tragedy, she and her husband moved back to their plot of land, in a mobile home, just a few months after the storm.

“We fight for the protection of our levees. We fight for our marsh every time we have a hurricane,” she told me. “I couldn’t imagine living anywhere else.” 

Twenty miles ahead, I could see where the ocean lapped over the road at high tide. “Water on Road,” an orange sign read. Locals jokingly refer to the endpoint of Louisiana State Highway 23 as “The End of the World.” Imagining the road I had been biking underwater was chilling.

Devi with sign
The author at Monasavu Dam in Fiji in 2014.

Here was one front line of climate change, one story. What would it mean, I wondered, to put this in dialogue with stories from other parts of the world—from other front lines with localized impacts that were experienced through water? My goal became to listen to and amplify those stories.

Water is how most of the world will experience climate change. It’s not a human construct, like a degree Celsius. It’s something we acutely see and feel. When there’s not enough water, crops die, fires rage, and people thirst. When there’s too much, water becomes a destructive force, washing away homes and businesses and lives. It’s almost always easier to talk about water than to talk about climate change. But the two are deeply intertwined.

I also set out to address another problem: the language we use to discuss climate change is often abstract and inaccessible. We hear about feet of sea-level rise or parts per million of carbon dioxide in the atmosphere, but what does this really mean for people’s everyday lives? I thought storytelling might bridge this divide. 

One of the first stops on my journey was Tuvalu, a low-lying coral atoll nation in the South Pacific, 585 miles south of the equator. Home to around 10,000 people, Tuvalu is on track to become uninhabitable in my lifetime. 

In 2014 Tauala Katea, a meteorologist, opened his computer to show me an image of a recent flood on one island. Seawater had bubbled up under the ground near where we were sitting. “This is what climate change looks like,” he said. 

“In 2000, Tuvaluans living in the outer islands noticed that their taro and pulaka crops were suffering,” he said. “The root crops seemed rotten, and the size was getting smaller and smaller.” Taro and pulaka, two starchy staples of Tuvaluan cuisine, are grown in pits dug underground. 

Tauala and his team traveled to the outer islands to take soil samples. The culprit was saltwater intrusion linked to sea-level rise. The seas have been rising four millimeters per year since measurements began in the early 1990s. While that might sound like a small amount, this change has a dramatic impact on Tuvaluans’ access to drinking water. The highest point is only 13 feet above sea level.

A lot has changed in Tuvalu as a result. The freshwater lens, a layer of groundwater that floats above denser seawater, has become salty and contaminated. Thatched roofs and freshwater wells are now a thing of the past. Each home now has a water tank attached to a corrugated-­iron roof by a gutter. All the water for washing, cooking, and drinking now comes from the rain. This rainwater is boiled for drinking and used to wash clothes and dishes, as well as for bathing. The wells have been repurposed as trash heaps. 

At times, families have to make tough decisions about how to allocate water. Angelina, a mother of three, told me that during a drought  a few years ago, her middle daughter, Siulai, was only a few months old. She, her husband, and their oldest daughter could swim in the sea to wash themselves and their clothes. “We only saved water to drink and cook,” she said. But her newborn’s skin was too delicate to bathe in the ocean. The salt water would give her a horrible rash. That meant Angelina had to decide between having water to drink and to bathe her child.

The stories I heard about water and climate change in Tuvalu reflected a sharp division along generational lines. Tuvaluans my age—like Angelina—don’t see their future on the islands and are applying for visas to live in New Zealand. Older Tuvaluans see climate change as an act of God and told me they couldn’t imagine living anywhere else; they didn’t want to leave the bones of their ancestors, which were buried in their front yards. Some things just cannot be moved. 

Organizations like the United Nations Development Programme are working to address climate change in Tuvalu by building seawalls and community water tanks. Ultimately these adaptations seem to be prolonging the inevitable. It is likely that within my lifetime, many Tuvaluans will be forced to call somewhere else home. 

Tuvalu shows how climate change exacerbates both food and water insecurity—and how that insecurity drives migration. I saw this in many other places. Mess with the amount of water available in one location, and people will move.

In Thailand I met a modern dancer named Sun who moved to Bangkok from the rural north. He relocated to the city in part to practice his art, but also to take refuge from unpredictable rain patterns. Farming in Thailand is governed by the seasonal monsoons, which dump rain, fill river basins, and irrigate crops from roughly May to September. Or at least they used to. When we spoke in late May 2016, it was dry in Thailand. The rains were delayed. Water levels in the country’s biggest dams plummeted to less than 10% of their capacity—the worst drought in two decades.

“Right now it’s supposed to be the beginning of the rainy season, but there is no rain,” Sun told me. “How can I say it? I think the balance of the weather is changing. Some parts have a lot of rain, but some parts have none.” He leaned back in his chair, moving his hands like a fulcrum scale to express the imbalance. “That is the problem. The people who used to be farmers have to come to Bangkok because they want money and they want work,” he said. “There is no more work because of the weather.” 

family under sign in Nunavut
A family celebrates Nunavut Day near the waterfront in Igloolik, Nunavut, in 2018.

Migration to the city, in other words, is hastened by the rain. Any tech-driven climate solutions that fail to address climate migration—so central to the personal experience of Sun and many others in his generation around the world—will be at best incomplete, and at worst potentially dangerous. Solutions that address only one region, for example, could exacerbate migration pressures in another. 

I heard stories about climate-­driven food and water insecurity in the Arctic, too. Igloolik, Nunavut, 1,400 miles south of the North Pole, is a community of 1,700 people. Marie Airut, a 71-year-old elder, lives by the water. We spoke in her living room over cups of black tea.

“My husband died recently,” she told me. But when he was alive, they went hunting together in every season; it was their main source of food. “I’m not going to tell you what I don’t know. I’m going to tell you only the things that I have seen,” she said. In the 1970s and ’80s, the seal holes would open in late June, an ideal time for hunting baby seals. “But now if I try to go out hunting at the end of June, the holes are very big and the ice is really thin,” Marie told me. “The ice is melting too fast. It doesn’t melt from the top; it melts from the bottom.”

When the water is warmer, animals change their movement. Igloolik has always been known for its walrus hunting. But in recent years, hunters have had trouble reaching the animals. “I don’t think I can reach them anymore, unless you have 70 gallons of gas. They are that far now, because the ice is melting so fast,” Marie said. “It used to take us half a day to find walrus in the summer, but now if I go out with my boys, it would probably take us two days to get some walrus meat for the winter.” 

Marie and her family used to make fermented walrus every year, “but this year I told my sons we’re not going walrus hunting,” she said. “They are too far.”

Devi Lockwood is the Ideas editor at Rest of World and the author of 1,001 Voices on Climate Change.

The Water issue

This story was part of our January 2022 issue

Pressão por ‘ambição climática’ pauta COP-26: entenda em gráficos (O Globo)

Conheça o desafio de esfriar o planeta e saiba como o sucesso da conferência do clima pode ser medido

Rafael Garcia 31/10/2021 – 04:30 / Atualizado em 31/10/2021 – 09:10

Artigo original

Cientistas dão como certo que o planeta já vai estourar o "orçamento do carbono", mas é importante que não estoure muito, pois cada décimo de grau representa um clima mais prejudicial no futuro. Foto: Felipe Nadaes
Cientistas dão como certo que o planeta já vai estourar o “orçamento do carbono”, mas é importante que não estoure muito, pois cada décimo de grau representa um clima mais prejudicial no futuro. Foto: Felipe Nadaes

SÃO PAULO – A COP-26, a 26ª conferência das partes da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), será marcada por um ambiente de pressão acentuada para que os países aumentem suas promessas de corte de emissão de gases do efeito estufa. Na discussão sobre vários aspectos da implementação do Acordo de Paris contra o aquecimento global, um deles é central, resumido pela palavra “ambição”.

Este é o termo que diplomatas do clima usam para cobrar de seus pares a adesão a objetivos mais ambiciosos de redução das emissões. Cada país traduz a sua ambição (ou a falta dela) em sua contribuição nacionalmente determinada, ou NDC, documento onde suas metas são anunciadas.

A “ambição climática” atual de todos os países, somada, ainda é insuficiente para honrar os compromissos de Paris. O tratado clama para que se detenha um acréscimo de temperatura acima de 2°C no planeta, e que se faça o máximo de esforço possível para esse número não ir muito além do 1,5°C.

Segundo dados do Pnuma, o programa da ONU para o meio ambiente, as promessas atuais retiram o planeta da atual trajetória de acréscimo de 4°C e levam a um aumento de 2,7°C. Nesse cenário, a Terra ainda sofreria muito com eventos climáticos extremos, ondas de calor, elevação do nível do mar e outras consequências do aquecimento global.

Em outras palavras, a conta do Acordo de Paris não fecha, e a tentativa de adequar a ambição à realidade pouco avançou em relação às promessas de 2015, ano em que o tratado foi assinado.

Abaixo, explicamos em números o tamanho do desafio que o combate à mudança climática representa e mostramos como o sucesso da conferência poderá ser medido no futuro. Ativistas climáticos protestam antes da COP-26 para pressionar meta de reduzir em 1,5° C a temperatura global 1 de 12

Ativistas da Rebelião Oceânica se reúnem na frente do local da COP-26 em Glasgow, antes do início da cúpula do clima Foto: ANDY BUCHANAN / AFP - 29/10/2021
Ativistas da Rebelião Oceânica se reúnem na frente do local da COP-26 em Glasgow, antes do início da cúpula do clima Foto: ANDY BUCHANAN / AFP – 29/10/2021
Ativistas despejam óleo falso na frente do local onde a COP-26 será realizada em Glasgow para protestar contra as faltas de ações mais firmes para evitar uma catástrofe climática no mundo Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Ativistas despejam óleo falso na frente do local onde a COP-26 será realizada em Glasgow para protestar contra as faltas de ações mais firmes para evitar uma catástrofe climática no mundo Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Ativista da Rebelião Oceânica, Rob Higgs, protesta contra o arrasto de fundo durante uma manifestação antes da cúpula da COP26, em Glasgow, Escócia Foto: DYLAN MARTINEZ / REUTERS
Ativista da Rebelião Oceânica, Rob Higgs, protesta contra o arrasto de fundo durante uma manifestação antes da cúpula da COP26, em Glasgow, Escócia Foto: DYLAN MARTINEZ / REUTERS
Evento reunirá neste domingo, na Grã-Bretanha, mais de 120 líderes mundiais para discutir compromissos de combate ao aquecimento global Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Evento reunirá neste domingo, na Grã-Bretanha, mais de 120 líderes mundiais para discutir compromissos de combate ao aquecimento global Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Ativistas da Rebelião Oceânica protestam contra a pesca de arrasto de fundo perto do Scottish Event Centre, local da COP-26 Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Ativistas da Rebelião Oceânica protestam contra a pesca de arrasto de fundo perto do Scottish Event Centre, local da COP-26 Foto: ANDY BUCHANAN / AFP

PUBLICIDADE

Ativistas protestam em Glasgow antes da COP-26, que começa hoje: Meta de 1,5° C segue distante Foto: RUSSELL CHEYNE / REUTERS
Ativistas protestam em Glasgow antes da COP-26, que começa hoje: Meta de 1,5° C segue distante Foto: RUSSELL CHEYNE / REUTERS
A ativista climática Greta Thunberg é escoltada ao chegar à Estação Central de Glasgow para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP-26 Foto: DYLAN MARTINEZ / REUTERS
A ativista climática Greta Thunberg é escoltada ao chegar à Estação Central de Glasgow para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP-26 Foto: DYLAN MARTINEZ / REUTERS
Conferência da ONU sobre o clima que começa neste domingo em Glasgow, na Escócia Foto: BEN STANSALL / AFP
Conferência da ONU sobre o clima que começa neste domingo em Glasgow, na Escócia Foto: BEN STANSALL / AFP
Ativistas protestam em Glasgow antes da COP-26 Foto: YVES HERMAN / REUTERS
Ativistas protestam em Glasgow antes da COP-26 Foto: YVES HERMAN / REUTERS
Artistas climáticos chegam para uma "Procissão de Peregrinos", uma cerimônia de abertura para uma série de ações em Glasgow Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS / AFP
Artistas climáticos chegam para uma “Procissão de Peregrinos”, uma cerimônia de abertura para uma série de ações em Glasgow Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS / AFP

PUBLICIDADE

A COP acontece todos os anos, mas a edição de 2021 tem uma importância central. Países deverão revisar pela primeira vez as metas de redução das emissões de gases causadores de efeito estufa assumidas no Acordo de Paris Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
A COP acontece todos os anos, mas a edição de 2021 tem uma importância central. Países deverão revisar pela primeira vez as metas de redução das emissões de gases causadores de efeito estufa assumidas no Acordo de Paris Foto: ANDY BUCHANAN / AFP
Ativistas da mudança climática pintam mensagens durante um protesto fora da sede da empresa de investimento BlackRock, antes da COP-26, em San Francisco, Califórnia, EUA Foto: CARLOS BARRIA / REUTERS
Ativistas da mudança climática pintam mensagens durante um protesto fora da sede da empresa de investimento BlackRock, antes da COP-26, em San Francisco, Califórnia, EUA Foto: CARLOS BARRIA / REUTERS

O labirinto do clima

Desde o início da Revolução Industrial, quando o planeta começou a usar petróleo e carvão em grandes proporções, os humanos emitiram 1,5 trilhão de toneladas de CO2 pela queima desses combustíveis fósseis, pelo desmatamento, pela agricultura e outras atividades.

O CO2 emitido desde então ainda está todo no ar, porque a capacidade do planeta de processar e reabsorver esse gás é limitada. Como isso provocou o efeito estufa, essas emissões já fizeram a temperatura média do planeta subir 1,1 °C.

Isso deixa os cientistas preocupados, porque mesmo esse pequeno aumento médio bagunça o sistema climático do planeta. Após se convencerem do problema, países assinaram em 2015 o Acordo de Paris, que busca tentar reduzir as emissões para que o planeta não ultrapasse um aquecimento de 1,5°C antes do final deste século.PUBLICIDADE

Para impedir que o aquecimento chegue a esse ponto até o fim do século, os cientistas fazem contas periódicas de quanto CO2 ainda resta para o mundo emitir. Se os humanos produziram até agora um total de 1,5 trilhão de toneladas de CO2, nos restam apenas 0,4 trilhão de toneladas de CO2 para emitir antes que nós cheguemos a esse patamar dos 1,5°C a mais. Este é o chamado “orçamento de carbono”, tal qual foi calculado pelo IPCC (painel de cientistas do clima da ONU).

Um total de 0,4 trilhão parece muito, mas o patamar atual de cerca de 55 bilhões de toneladas de CO2/ano consumiria esse orçamento em 7 anos, mesmo que emissões parem de subir e se estabilizem. Cientistas dão como certo que o planeta vai estourar o orçamento do 1,5°C, mas  é importante que não estoure muito, pois cada décimo de grau representa um clima mais prejudicial no futuro.

Um segundo horizonte no Acordo de Paris é deter um aumento de 2°C, o que abre um orçamento maior, de 1,15 trilhão de toneladas de CO2. Nesse caso, o orçamento se esgotaria em duas décadas num cenário de estabilização de emissões. Por isso, o tratado pede que países aumentem periodicamente suas NDCs (contribuições nacionalmente determinadas), o compromisso de quanto pretendem cortar do carbono.

Hoje, aquilo que está prometido ainda é insuficiente para frear os 2°C, e levaria o planeta 2,7°C. Por isso a Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) pressiona os governos para que aumentem as suas ambições de corte de gases de efeito estufa para adequá-las aos 2°C ou, se possível, ao 1,5°C.PUBLICIDADE

Um ponto central da COP-26 é convencer países a adotarem NDCs mais “ambiciosas”, ou seja, cortes mais profundos de emissão. Segundo cientistas, é preciso ser rápido. O planeta precisa derrubar as emissões dos atuais quase 60 bilhões de toneladas de CO2/ano para 25 bilhões em dez anos. Mesmo nesse cenário otimista, o planeta ultrapassaria um pouco o 1,5° C, chegando a 1,7°C, depois recuaria de novo até o fim do século.

Impedir o aquecimento de 2°C, o segundo horizonte no Acordo de Paris, também requer um esforço tremendo, um corte de um terço nas emissões (para 41 bilhões de toneladas de CO2) até 2030. As promessas atuais dos países, porém, são suficientes apenas para frear o aumento de emissões nesta década, mas não para reduzi-las, projetando um planeta emissor de 52 bilhões de toneladas por ano em 2030.

O sucesso da COP-26 que começa em Glasgow neste domingo pode ser medido em quanto essa cifra vai ser reduzida caso países anunciem promessas mais ambiciosas. Se o termômetro do futuro ficar razoavelmente abaixo do aquecimento projetado de 2,7 °C, significa que o planeta está indo no rumo certo. Nenhum país, porém, tem ainda metas consonantes com a trajetória dos 2°C ou menos.

Organization Sends Warning Ahead of COP26 (The Maritime Executive)

maritime-executive.com

Published Oct 26, 2021 9:24 PM by The Maritime Executive


tanker ice warming
Public domain / Pixabay

As the world gathers in Glasgow, Scotland for the next United Nations climate change conference (COP26), the UN’s World Meteorological Organization (WMO) has warned the world is “way off track” in slowing down GHG emissions.  

This is because the abundance of heat-trapping GHG in the atmosphere once again reached a new record last year, with the annual rate of increase above the 2011-2020 average. Notably, the economic slowdown from COVID-19 did not have any discernible impact on the atmospheric levels of GHG emissions and their growth rates, although there was a temporary decline in new emissions.

WMO GHG Bulletin shows that concentration of carbon dioxide (CO2), the most important GHG, reached 413.2 parts per million in 2020 – nearly 150 percent of the pre-industrial level. The last time the Earth experienced a comparable concentration of CO2 was 3-5 million years ago, when the temperature was 2-3°C warmer and sea level was 30-60 feet higher than today. 

The concentration of methane (CH4) – a far more powerful greenhouse gas – has reached 262 percent of the levels seen in 1750, when human industry started disrupting Earth’s natural equilibrium. 

“The GHG Bulletin contains a stark, scientific message for climate change negotiators at COP26. At the current rate of increase in GHG concentrations, we will see a temperature increase by the end of this century far in excess of the Paris Agreement targets of 1.5 to 2 degrees Celsius above pre-industrial levels,” said Prof. Petteri Taalas, WMO Secretary General.

This cautionary message comes as world leaders, civil society and media are set to assemble in Glasgow, Scotland to discuss progress on the Paris Agreement and the UN Framework Convention on Climate Change. Concerns over rising temperatures have prompted many countries to set detailed timetables for decarbonization, and it is hoped that COP26 will see an increase in commitments. 

WMO notes that as long as emissions continue, global temperature will continue to rise. In fact, given the long life of CO2, the temperature level already observed will persist even if emissions are rapidly reduced to net zero. Alongside rising temperatures, this means more weather extremes, including intense heat and rainfall, ice melt, sea-level rise and ocean acidification, accompanied by far-reaching socioeconomic impacts.

Roughly half of the CO2 emitted by human activities today remains in the atmosphere with the other half taken up by oceans and land ecosystems. Concerns are mounting that the ability of land ecosystems and oceans to act as “sinks” may become less effective in the future, thus reducing their ability to absorb CO2 and act as a buffer against larger temperature increases.

Nobel de Física 2021 vai para pesquisa de sistemas complexos, com destaque para predição do aquecimento global (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Salvador Nogueira, 5 de outubro de 2021

Pesquisadores Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi vão dividir prêmio de 10 milhões de coroas suecas


O prêmio Nobel em Física deste ano foi dedicado ao estudo de sistemas complexos, dentre eles os que permitem a compreensão das mudanças climáticas que afetam nosso planeta. A escolha coloca um carimbo definitivo de consenso sobre a ciência do clima.

Os pesquisadores Syukuro Manabe, dos Estados Unidos, e Klaus Hasselmann, da Alemanha, foram premiados especificamente por modelarem o clima terrestre e fazerem predições sobre o aquecimento global. A outra metade do prêmio foi para Giorgio Parisi, da Itália, que revelou padrões ocultos em materiais complexos desordenados, das escalas atômica à planetária, em uma contribuição essencial à teoria de sistemas complexos, com relevância também para o estudo do clima.

“Muitas pessoas pensam que a física lida com fenômenos simples, como a órbita perfeitamente elíptica da Terra ao redor do Sol ou átomos em estruturas cristalinas”, disse Thors Hans Hansson, membro do comitê de escolha do Nobel, na coletiva que apresentou a escolha.

​”Mas a física é muito mais que isso. Uma das tarefas básicas da física é usar teorias básicas da matéria para explicar fenômenos e processos complexos, como o comportamento de materiais e qual é o desenvolvimento no clima da Terra. Isso exige intuição profunda por quais estruturas e quais progressões são essenciais, e também engenhosidade matemática para desenvolver os modelos e as teorias que as descrevem, coisas em que os laureados deste ano são poderosos.”

“Eu acho que é urgente que tomemos decisões muito fortes e nos movamos em um passo forte, porque estamos numa situação em que podemos ter uma retroalimentação positiva e isso pode acelerar o aumento de temperatura”, disse Giorgio Parisi, um dos vencedores, na coletiva de apresentação do evento. “É claro que para as gerações futuras nós temos de agir agora de uma forma muito rápida.”

​COMO É ESCOLHIDO O GANHADOR DO NOBEL

A tradicional premiação do Nobel teve início com a morte do químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Em 1895, em seu último testamento, Nobel registrou que sua fortuna deveria ser destinada para a construção de um prêmio —o que foi recebido por sua família com contestação. O primeiro prêmio só foi dado em 1901.

O processo de escolha do vencedor do prêmio da área de física começa no ano anterior à premiação. Em setembro, o Comitê do Nobel de Física envia convites (cerca de 3.000) para a indicação de nomes que merecem a homenagem. As respostas são enviadas até o dia 31 de janeiro.

Podem indicar nomes os membros da Academia Real Sueca de Ciências; membros do Comitê do Nobel de Física; ganhadores do Nobel de Física; professores física em universidades e institutos de tecnologia da Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia e Noruega, e do Instituto Karolinska, em Estocolmo; professores em cargos semelhantes em pelo menos outras seis (mas normalmente em centenas de) universidades escolhidas pela Academia de Ciências, com o objetivo de assegurar a distribuição adequada pelos continentes e áreas de conhecimento; e outros cientistas que a Academia entenda adequados para receber os convites.

Autoindicações não são aceitas.

Começa então um processo de análise das centenas de nomes apontados, com consulta a especialistas e o desenvolvimento de relatórios, a fim de afunilar a seleção. Finalmente, em outubro, a Academia, por votação majoritária, decide quem receberá o reconhecimento.

HISTÓRICO RECENTE DO NOBEL DE FÍSICA

A descoberta de buracos negros e o impacto disso na compreensão do Universo levaram o Nobel de Física de 2020. A láurea foi dividida entre Roger Penrose, Reihard Genzel e Andrea Ghez.

Ghez é somente a quarta mulher premiada com o Nobel de Física, entre 216 homenageados.

Já em 2019, o prêmio ficou James Peebles, Michel Mayor e Didier Queloz, mais uma vez, por pesquisas cósmicas, que ajudaram a explicar melhor o funcionamento do Universo.

Peebles ajudou a entender como o Universo evoluiu após o Big Bang, e Mayor e Queloz descobriram um exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar) que orbitava uma estrela do tipo solar.

Pesquisas com laser foram premiadas em 2018, com láureas para Arthur Ashkin, Donna Strickland e Gérard Mourou.

Indo um pouco mais longe, o prêmio já esteve nas mãos de Max Planck (1918), por ter lançado as bases da física quântica e de Albert Einstein (1921), pela descoberta do efeito fotoelétrico. Niels Bohr (1922), por suas contribuições para o entendimento da estrutura atômica, e Paul Dirac e Erwin Schrödinger (1933), pelo desenvolvimento de novas versões da teoria quântica, também foram premiados.

Papa reúne líderes religiosos em apelo por ‘ação urgente’ de cúpula do clima (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Tom Brenner, 4 de outubro de 2021

Francisco promoveu encontro ecumênico a pouco menos de um mês da COP 26


O papa Francisco reuniu cientistas e líderes religiosos, nesta segunda-feira (4), para pedir que a cúpula do clima que será realizada no Reino Unido a partir do próximo dia 31 ofereça “urgentemente” ações concretas de combate à crise climática.

“A COP 26 está sendo convocada a oferecer, urgentemente, respostas eficazes para a crise ecológica sem precedentes e para a crise de valores em que vivemos”, disse o pontífice. “Isso permitirá dar uma esperança concreta às futuras gerações. Vamos acompanhar com nosso compromisso e nossa proximidade espiritual.

O argentino transmitiu a mensagem em encontro no Vaticano batizado de “Fé e Ciência: Rumo à COP 26”. Estavam presentes líderes cristãos, como Justin Welby, arcebispo de Canterbury e líder espiritual dos anglicanos, e o patriarca ortodoxo Bartolomeu; mas também representantes muçulmanos, judeus, hindus, sikhs, budistas e taoistas, entre outros.

A reunião terminou com a assinatura de um apelo aos participantes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 26), que acontecerá em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro. O texto foi entregue ao chanceler italiano, Luigi Di Maio, e ao presidente da COP, Alok Sharma.

A menos de um mês do evento sobre o clima, o documento é mais um movimento de pressão para que os líderes mundiais ajam de forma rápida e contundente ante um aquecimento global chamado de “catastrófico” pelos religiosos.

Lá fora

Na newsletter de Mundo, semanalmente, as análises sobre os principais fatos do globo, explicados de forma leve e interessante.

Com frequência, Francisco denuncia o que ele considera comportamentos prejudiciais para o planeta.

Essas “sementes de conflito”, destacou o papa, “causam as graves feridas que provocamos ao meio ambiente, como as mudanças climáticas, a desertificação, a poluição, a perda da biodiversidade”.

Welby, por sua vez, criticou que “nos últimos 100 anos tenhamos declarado guerra à Criação”.

“Nossos abusos, nossa guerra contra o clima, afetam os mais pobres”, disse. Ele defendeu o que chamou de “arquitetura financeira global que se arrependa de seus pecados” para promover mudanças como impostos que estimulem atividades mais sustentáveis e a economia verde.

Outros líderes destacaram a importância de uma ação conjunta entre os países —e Francisco afirmou que diferenças culturais devem ser vistas como uma força, não uma fraqueza, nesse contexto. “Se um país naufragar, todos naufragamos”, disse Rajwant Singh, líder sikh americano.

Há um mês, o papa Francisco, Welby e o chefe da Igreja Ortodoxa, Bartolomeu, lançaram um “apelo urgente”. Nele, pediram “a todo mundo, independentemente de suas crenças, ou visão de mundo, que se esforce para ouvir o grito da Terra”.

Financiamento climático: a conta não fecha (Página22)

pagina22.com.br

Bruno Toledo – 10 de agosto de 2021


Em 2009, países desenvolvidos prometeram destinar ao menos US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a partir de 2020. Passado o prazo, a meta segue distante de ser atingida

Nos escombros do fracasso diplomático da Conferência do Clima de Copenhague (COP 15), em 2009, uma das poucas novidades que se salvaram foi a promessa de países desenvolvidos de ampliar os recursos oferecidos às nações mais pobres para financiar a ação contra a mudança do clima, de forma escalonada, ao longo da década de 2010. Ao final desse período, em 2020, a ideia era que esses recursos somassem ao menos US$ 100 bilhões anuais, valor que passaria a servir como “piso” para o financiamento da ação climática dali em diante. 

Passados oito meses do prazo definido pelos países ricos em Copenhague, a promessa de financiamento climático de US$ 100 bilhões não poderia estar mais distante de ser uma realidade. Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que o volume de recursos mobilizados em 2018, último ano com informações totalizadas, foi de cerca de US$ 80 bilhões. 

Economistas e especialistas em financiamento para o clima duvidam que os dados referentes aos anos de 2019 e 2020 indiquem um cenário diferente disso. Pior: é muito provável que a pandemia tenha prejudicado a disponibilidade de novos recursos financeiros para ação climática nos países pobres. A incerteza quanto à retomada econômica pós-pandemia também afeta as expectativas para o futuro de curto prazo: com os governos e as empresas na ponta dos pés, enquanto não houver uma normalização efetiva da atividade econômica, dificilmente haverá recursos adicionais para a ação climática internacional. 

O problema é que, com a crise climática se intensificando e a pandemia aprofundando o abismo do desenvolvimento entre países ricos e pobres, o financiamento externo para ação climática nas nações em desenvolvimento virou uma questão de vida ou morte. Sem dinheiro, esses países dificilmente terão condições de tirar do papel seus compromissos de mitigação apresentados no Acordo de Paris. A falta de uma sinalização dos países ricos quanto ao cumprimento dessa promessa ameaça gerar uma crise diplomática capaz de prejudicar as conversas na próxima Conferência do Clima (COP 26), programada para novembro em Glasgow, na Escócia, e colocar um incômodo ponto de interrogação no futuro do Acordo de Paris.

Tropeços do passado reforçam incertezas

Desde o começo, a incerteza em torno da viabilidade prática do compromisso financeiro estabelecido pelos governos ricos em 2009 era considerável. Mesmo com o sucesso diplomático obtido em 2015, na COP 21, quando os países aprovaram o Acordo de Paris, o financiamento climático seguiu como um problema político relevante na agenda de negociação.

Os anos subsequentes à Conferência de Paris não ajudaram: a articulação política internacional que tinha possibilitado a aprovação do Acordo na COP 21, encabeçada por Estados Unidos, China e União Europeia, se desfez depois da eleição do negacionista Donald Trump para a Casa Branca. Além de retirar os EUA do Acordo de Paris, Trump também voltou atrás nas promessas financeiras feitas pelo antecessor, Barack Obama. 

Sem os EUA, a economia mais rica do planeta, qualquer compromisso financeiro internacional seria inviável, especialmente para a agenda climática. A União Europeia tentou assumir o protagonismo nessa questão, reforçando os desembolsos financeiros junto ao Fundo Climático Verde (GCF, sigla em inglês), estabelecido pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para receber e administrar os recursos prometidos em Copenhague. Nos últimos anos, o bloco europeu destinou cerca de US$ 20 bilhões anuais, consolidando-se como o principal doador do GCF.

Ao mesmo tempo, os EUA de Trump limitaram-se a cumprir compromissos pregressos de financiamento que somaram pouco mais de US$ 2,5 bilhões. Para se ter ideia, a estimativa em 2009 era de que os americanos assumissem cerca de 40% do bolo do financiamento climático anual a partir de 2020 – ou seja, ao menos US$ 40 bilhões, somando recursos públicos e privados. 

O humor mudou um pouco em 2020. Mesmo com a pandemia, a grande novidade foi o retorno dos Estados Unidos à arena multilateral para o clima, com a vitória de Joe Biden. Diferentemente de Trump, Biden colocou a questão climática no centro de sua plataforma eleitoral e dos esforços de recuperação econômica pós-pandemia no país. Além de retornar ao Acordo de Paris, o novo governo dos EUA prometeu recuperar o tempo perdido com novos compromissos financeiros para ação climática nos países pobres.

Em abril, durante a Cúpula sobre o Clima realizada pela Casa Branca com líderes internacionais, Biden prometeu dobrar o volume de financiamento climático americano para US$ 5,7 bilhões até 2024. O dinheiro adicional é obviamente bem-vindo, mas a bagatela não esconde a realidade: os EUA seguirão muito distantes daquilo que deveria ser sua parcela justa de responsabilidade nessa questão. 

Essa realidade ficou ainda mais evidente nas últimas semanas, com o fracasso do G-7 e do G-20 em chegar a um acordo em torno de novos compromissos financeiros para a ação climática nos países em desenvolvimento. Havia uma grande expectativa de que esses “clubes”, tendo em vista a COP 26 em novembro, apresentassem ao menos alguma sinalização de dinheiro novo para as nações mais pobres tirarem do papel seus planos climáticos nacionais submetidos no âmbito do Acordo de Paris. No entanto, a decepção foi gritante.

Em xeque, o espírito do Acordo de Paris

Negociadores de países como Índia, Bangladesh e pequenas nações insulares do Pacífico não esconderam a irritação com a falta de novos compromissos financeiros por parte dos governos mais ricos. Ambientalistas também criticaram esse ponto, ressaltando o óbvio: sem recursos, a ação climática nos países pobres ficará inviabilizada, o que coloca em xeque o espírito do Acordo de Paris – por meio do qual todas as nações, ricas ou pobres, comprometeram-se a agir contra a mudança do clima. 

“A confiança [entre os países] está em jogo”, observou a negociadora Diann Black-Layne, de Antígua e Barbuda, ao Climate Home pouco após a cúpula do G-7, em junho passado. “O Acordo de Paris foi construído com base na confiança, e pode desmoronar se ela for quebrada”. Sem um compromisso renovado e ampliado para facilitar a ação climática no mundo em desenvolvimento, “só vai ficar mais difícil daqui em diante conseguir o tipo de consenso político necessário” para agir contra a crise climática em nível global. 

Clima, gênero e a interseccionalidade (Clima Info)

climainfo.org.br


Por Tatiane Matheus*

O planeta Terra vive uma emergência climática e a necessidade de soluções e ações se tornou ainda mais urgente com a crise mundial ocasionada pela pandemia da COVID-19. Um novo pacto social, político e econômico verde precisa ser debatido e muitas coisas precisam ser colocadas em prática para não haver um colapso ainda maior.

As mulheres não são (e nem devem ser vistas como) vítimas, nem heroínas. Mas, sim, estão nos grupos dos mais vulneráveis na emergência climática. Em diferentes aspectos, não apenas por questões de gênero. Raça, etnia, classe social, região, por exemplo, podem fazer com que esses impactos sejam vivenciados de formas distintas.

Mesmo representando a metade da população mundial e sendo as mais impactadas pelos efeitos do aquecimento global, as mulheres não possuem uma representatividade proporcional nas principais esferas de decisão; nem nas possíveis soluções das quais poderiam ser beneficiadas, elas são contempladas.

Até nos postos de trabalho gerados pelos investimentos em setores da Economia Verde – aqueles que colaboram para a redução dos efeitos da emergência climática – as mulheres têm igualdade. Importantes esferas de decisão, como as Conferências do Clima (COPs), também não possuem a devida proporcionalidade de gênero nos postos de liderança, como divulgado no final do ano passado: “Mulheres pedem igualdade de gênero no comando da COP26”.

O grupo de Trabalho sobre Gênero & Clima do Observatório do Clima também entende que as mulheres têm suas vidas significativamente afetadas pelas mudanças climáticas e muitos problemas são potencializados pelas injustiças estruturais em relação ao gênero.

Interseccionalidade é o estudo da sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação que nos permite compreender melhor as desigualdades e a sobreposição dessas opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Levando-se em conta o conceito de intersecção, mulheres indígenas, mulheres quilombolas, mulheres negras, mulheres da periferia, agricultoras, mães solteiras e chefes de família são impactadas de formas distintas. Até mesmo ao buscar responder a pergunta: Por que a produção de artigos científicos por mulheres caiu brutalmente durante a pandemia, vamos encontrar entre as respostas possíveis que a divisão sexual do trabalho doméstico e de cuidado existente em nossa sociedade acabam impactando as mulheres.

“Não existe hierarquia de opressão, já aprendemos. Identidades sobressaltam aos olhos ocidentais, mas a interseccionalidade se refere ao que faremos politicamente com a matriz de opressão responsável por produzir diferenças, depois de enxergá-las como identidades. Uma vez no fluxo das estruturas, o dinamismo identitário produz novas formas de viver, pensar e sentir, podendo ficar subsumidas a certas identidades insurgentes, ressignificadas pelas opressões”, como explica a doutora em Estudos Interdisciplinares de Gênero, Mulheres e Feminismos pela Universidade Federal da Bahia, Carla Akotirene, em seu livro Interseccionalidade.

Um exemplo emblemático sobre com muitas questões importantes podem se tornar “imperceptíveis” se não trouxermos o olhar da interseccionalidade é o discurso da intelectual Sojourner Truth, em 1851, “E eu não sou uma mulher?” em uma convenção pelos Direitos das Mulheres, onde ela questiona o conceito de “mulher universal”, sob seu ponto de vista de uma ex-escrava. Para se buscar uma retomada verde inclusiva — um novo pacto social econômico que seja de fato inclusivo —, deve-se  levar em conta o conceito de interseccionalidade para que possa tirar da invisibilidade muitas pessoas.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os países pobres são os que mais sofrem as consequências imediatas da mudança climática por causa das condições desfavoráveis pré-existentes. Apesar de todas as regiões do planeta estarem sendo afetadas, os danos serão maiores para aqueles que tenham mais vulnerabilidades socioeconômicas e a sua localização geográfica.

Segundo as estimativas do Parlamento Europeu, 70% das 1,3 bilhões de pessoas em situação de pobreza em todo o mundo são mulheres.  Entretanto, o relatório da ONU Mulheres (2020) mostra que apenas cinco dos 75 estados membros da Organização das Nações Unidas reconheceram que as considerações de gênero são importantes para responder aos riscos de segurança relacionados ao clima. A pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) trouxe à tona muitas diferenças sociais que já eram óbvias, mas não eram enxergadas — talvez não quisessem enxergá-las ou eram invisíveis por serem naturalizadas — por muitos.

Como apontado no artigo “Por que somente o investimento econômico em ‘setores verdes’ não basta”, para se reduzir as desigualdades estruturais de gênero e raça presentes no Brasil e trazer um desenvolvimento sustentável para uma retomada verde inclusiva são necessários: debater o tema e dar a devida nomenclatura para casos de racismo ambiental, falta de equidade de gênero e outras desigualdades;  ter ações coordenadas que busquem políticas macroeconômicas e de desenvolvimento, políticas industriais e setoriais que considerem as dimensões sociais, ambientais e climáticas; gerar apoio para que micro e pequenas empresas atuem nos novos setores da economia de baixo carbono; buscar desenvolvimento de habilidades e competências profissionais; priorizar saúde e segurança no trabalho; ampliar ofertas de proteção social; defender os direitos universais e os serviços públicos;  e criar políticas públicas e ações que promovam a garantia dos Direitos Fundamentais do Trabalho.

______

*Tatiane Matheus é pesquisadora no ClimaInfo e membro do Grupo de Trabalho de Gênero & Clima do Observatório do Clima.

ClimaInfo, 8 de março de 2021.

‘No One is Safe’: How The Heatwave Has Battered the Wealthy World (New York Times)

nytimes.com

Somini Sengupta


A firefighter battled the Sugar Fire in Doyle, Calif., this month.
C A firefighter battled the Sugar Fire in Doyle, Calif., this month. Credit: Noah Berger/Associated Press
Floods swept Germany, fires ravaged the American West and another heat wave loomed, driving home the reality that the world’s richest nations remain unprepared for the intensifying consequences of climate change.

July 17, 2021

Some of Europe’s richest countries lay in disarray this weekend, as raging rivers burst through their banks in Germany and Belgium, submerging towns, slamming parked cars against trees and leaving Europeans shellshocked at the intensity of the destruction.

Only days before in the Northwestern United States, a region famed for its cool, foggy weather, hundreds had died of heat. In Canada, wildfire had burned a village off the map. Moscow reeled from record temperatures. And this weekend the northern Rocky Mountains were bracing for yet another heat wave, as wildfires spread across 12 states in the American West.

The extreme weather disasters across Europe and North America have driven home two essential facts of science and history: The world as a whole is neither prepared to slow down climate change, nor live with it. The week’s events have now ravaged some of the world’s wealthiest nations, whose affluence has been enabled by more than a century of burning coal, oil and gas — activities that pumped the greenhouse gases into the atmosphere that are warming the world.

“I say this as a German: The idea that you could possibly die from weather is completely alien,” said Friederike Otto, a physicist at Oxford University who studies the links between extreme weather and climate change. “There’s not even a realization that adaptation is something we have to do right now. We have to save people’s lives.”

The floods in Europe have killed at least 165 people, most of them in Germany, Europe’s most powerful economy. Across Germany, Belgium, and the Netherlands, hundreds have been reported as missing, which suggests the death toll could rise. Questions are now being raised about whether the authorities adequately warned the public about risks.

Flood damage in Erftstadt, Germany, on Friday.
Credit: Sebastien Bozon/Agence France-Presse — Getty Images
A dry Hensley Lake in Madera, Calif., on Wednesday.
Credit: David Swanson/Reuters

The bigger question is whether the mounting disasters in the developed world will have a bearing on what the world’s most influential countries and companies will do to reduce their own emissions of planet-warming gases. They come a few months ahead of United Nations-led climate negotiations in Glasgow in November, effectively a moment of reckoning for whether the nations of the world will be able to agree on ways to rein in emissions enough to avert the worst effects of climate change.

Disasters magnified by global warming have left a long trail of death and loss across much of the developing world, after all, wiping out crops in Bangladesh, leveling villages in Honduras, and threatening the very existence of small island nations. Typhoon Haiyan devastated the Philippines in the run-up to climate talks in 2013, which prompted developing-country representatives to press for funding to deal with loss and damage they face over time for climate induced disasters that they weren’t responsible for. That was rejected by richer countries, including the United States and Europe.

“Extreme weather events in developing countries often cause great death and destruction — but these are seen as our responsibility, not something made worse by more than a hundred years of greenhouse gases emitted by industrialized countries,” said Ulka Kelkar, climate director at the India office of the World Resources Institute. These intensifying disasters now striking richer countries, she said, show that developing countries seeking the world’s help to fight climate change “have not been crying wolf.”

Indeed, even since the 2015 Paris Agreement was negotiated with the goal of averting the worst effects of climate change, global emissions have kept increasing. China is the world’s biggest emitter today. Emissions have been steadily declining in both the United States and Europe, but not at the pace required to limit global temperature rise.

A reminder of the shared costs came from Mohamed Nasheed, the former president of the Maldives, an island nation at acute risk from sea level rise.

“While not all are affected equally, this tragic event is a reminder that, in the climate emergency, no one is safe, whether they live on a small island nation like mine or a developed Western European state,” Mr. Nasheed said in a statement on behalf of a group of countries that call themselves the Climate Vulnerable Forum.

Municipal vehicles sprayed water in central Moscow on July 7 to fight midday heat.
Credit: Alexander Nemenov/Agence France-Presse — Getty Images
The Bootleg Fire in southern Oregon this week.
Credit: John Hendricks/Oregon Office of State Fire Marshal, via Associated Press

The ferocity of these disasters is as notable as their timing, coming ahead of the global talks in Glasgow to try to reach agreement on fighting climate change. The world has a poor track record on cooperation so far, and, this month, new diplomatic tensions emerged.

Among major economies, the European Commission last week introduced the most ambitious road map for change. It proposed laws to ban the sale of gas and diesel cars by 2035, require most industries to pay for the emissions they produce, and most significantly, impose a tax on imports from countries with less stringent climate policies.

But those proposals are widely expected to meet vigorous objections both from within Europe and from other countries whose businesses could be threatened by the proposed carbon border tax, potentially further complicating the prospects for global cooperation in Glasgow.

The events of this summer come after decades of neglect of science. Climate models have warned of the ruinous impact of rising temperatures. An exhaustive scientific assessment in 2018 warned that a failure to keep the average global temperature from rising past 1.5 degrees Celsius, compared to the start of the industrial age, could usher in catastrophic results, from the inundation of coastal cities to crop failures in various parts of the world.

The report offered world leaders a practical, albeit narrow path out of chaos. It required the world as a whole to halve emissions by 2030. Since then, however, global emissions have continued rising, so much so that global average temperature has increased by more than 1 degree Celsius (about 2 degrees Fahrenheit) since 1880, narrowing the path to keep the increase below the 1.5 degree Celsius threshold.

As the average temperature has risen, it has heightened the frequency and intensity of extreme weather events in general. In recent years, scientific advances have pinpointed the degree to which climate change is responsible for specific events.

For instance, Dr. Otto and a team of international researchers concluded that the extraordinary heat wave in the Northwestern United States in late June would almost certainly not have occurred without global warming.

A firefighting helicopter in Siberia in June.
Credit: Maksim Slutsky/Associated Press
Lytton, British Columbia, devastated by wildfires last month.
Credit: Darryl Dyck/The Canadian Press, via Associated Press

And even though it will take extensive scientific analysis to link climate change to last week’s cataclysmic floods in Europe, a warmer atmosphere holds more moisture and is already causing heavier rainfall in many storms around the world. There is little doubt that extreme weather events will continue to be more frequent and more intense as a consequence of global warming. A paper published Friday projected a significant increase in slow-moving but intense rainstorms across Europe by the end of this century because of climate change.

“We’ve got to adapt to the change we’ve already baked into the system and also avoid further change by reducing our emissions, by reducing our influence on the climate,” said Richard Betts, a climate scientist at the Met Office in Britain and a professor at the University of Exeter.

That message clearly hasn’t sunk in among policymakers, and perhaps the public as well, particularly in the developed world, which has maintained a sense of invulnerability.

The result is a lack of preparation, even in countries with resources. In the United States, flooding has killed more than 1,000 people since 2010 alone, according to federal data. In the Southwest, heat deaths have spiked in recent years.

Sometimes that is because governments have scrambled to respond to disasters they haven’t experienced before, like the heat wave in Western Canada last month, according to Jean Slick, head of the disaster and emergency management program at Royal Roads University in British Columbia. “You can have a plan, but you don’t know that it will work,” Ms. Slick said.

Other times, it’s because there aren’t political incentives to spend money on adaptation.

“By the time they build new flood infrastructure in their community, they’re probably not going to be in office anymore,” said Samantha Montano, a professor of emergency management at the Massachusetts Maritime Academy. “But they are going to have to justify millions, billions of dollars being spent.”

Christopher Flavelle contributed reporting.