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Cemaden faz nova projeção da reserva do Cantareira no período de seca (MCTI/Cemaden)

Levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais indica chuvas e reservas abaixo da média histórica até dezembro

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI) aponta no último relatório, publicado na quarta-feira (27), as situações críticas do Reservatório do Sistema Cantareira, indicando chuvas e reservas abaixo da média histórica, até dezembro deste ano.

Essa situação ocorrerá mesmo com a inclusão dos dados da diminuição da captação de água do reservatório, prevista para os meses de setembro até novembro, anunciada pelo Comunicado Conjunto da Agência Nacional de Água (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), na última semana de maio.

Com base nas redes pluviométricas do Cemaden e do DAEE, cobrindo as sub-bacias de captação do Sistema Cantareira, durante o período de outubro de 2014 a março de 2015, a precipitação média espacial acumulada foi de 879 milímetros (mm), equivalente a 73,5% da média climatológica, registrada em 1.161 mm para o mesmo período.

A precipitação média espacial acumulada no mês de abril de 2015 foi de 52,4 mm, representando 58,4% da média climatológica do mês, registrado em 89,83 mm. A chuva acumulada no período de 1º até 29 de maio de 2015 foi registrada com uma precipitação média de 55,3 mm, que representa 70,7% do total de chuvas da média histórica do mesmo período, registrada em 78,2 mm. No relatório, também são indicados os valores da precipitação média dos dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que têm algumas variações com relação aos dados do Cemaden.

Na situação atual, a vazão média do Sistema Cantareira, ou seja, o cálculo entre o volume de água e o seu reabastecimento com as chuvas, está abaixo da média climatológica. A vazão média afluente ao Sistema Cantareira no mês de maio foi de 14,02 metros cúbicos por segundo (m3/s), ou seja, 63,4% abaixo da vazão média mensal de 38,27 m3/s. Também está abaixo da vazão mínima histórica de 19,90 m3/s, representando apenas 29,5% do total da média histórica.

Projeções

O relatório do cenário hídrico do Sistema Cantareira, divulgado, periodicamente, desde janeiro de 2015, tem os cálculos das projeções da vazão afluente no modelo hidrológico, implementado pelo Cemaden, com base na previsão de chuva do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe para sete dias. A partir do oitavo dia, são apresentadas projeções com base em cinco cenários de chuvas (na média histórica, 25% e 50% abaixo e acima da média). Finalmente, considerando um cenário de extração ou captação de água do Sistema Cantareira são obtidas as projeções da evolução do armazenamento.

No último relatório, considerou-se a extração total do Sistema Cantareira igual a 17,0 m³ por segundo no período de 1º de junho a 31 de agosto e também no mês de dezembro de 2015. No período de 1º de setembro a 30 de novembro, considerou-se a captação de água dos reservatórios igual a 13,5 m³ por segundo.

No cenário de precipitações pluviométricas na média climatológica, no final da estação seca, início de outubro, o volume armazenado seria de 188,66 milhões de m3, aproximadamente. “Esse volume armazenado representa 14,9% da reserva total do Cantareira, ou seja, a soma do volume útil e os dois volumes mortos, com o total estimado em 1.269,5 milhões de m³”, destaca a hidróloga do Cemaden Adriana Cuartas, responsável pelo relatório do Cantareira.

Nesse cenário de precipitações dentro da média histórica, no dia 1º de dezembro de 2015, o volume armazenado seria, aproximadamente, de 227,72 milhões de m³, que representaria 17,9% do volume da reserva total do Cantareira.

Para um cenário de precipitações pluviométricas iguais à média climatológica, o chamado volume morto 1 seria recuperado ao longo da última semana de dezembro, aproximadamente. Considerando o cenário de chuvas 25% acima da média climatológica, o volume morto 1 seria recuperado na última semana de novembro.

Acesse o documento.

(MCTI, via Cemaden)

Sabesp faz investimento milionário em questionada técnica para fazer chover (UOL)

Thamires Andrade*

Do UOL, em São Paulo

28/05/201512h09

Até o fim deste ano, a Sabesp terá repassado R$ 12,5 milhões sem ter feito uma licitação

Até o fim deste ano, a Sabesp terá repassado R$ 12,5 milhões sem ter feito uma licitação (Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo)

Enquanto alega necessidade de “garantir o equilíbrio econômico-financeiro” para justificar a alta na conta de água, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) mantém um negócio de mais de R$ 8 milhões com a ModClima, uma empresa que oferece uma técnica de indução de chuvas artificiais. Especialistas ouvidos pelo UOL dizem, porém, que o método não é eficaz.

De acordo com documentos da Sabesp obtidos via Lei de Acesso à Informação, a companhia já fechou quatro contratos com a empresa. Nos dois mais recentes, assinados no ano passado, a Sabesp já pagou R$ 2,4 milhões de um total de R$ 8,1 milhões previstos para fazer chover nos sistemas Cantareira e Alto Tietê, os mais afetados pela crise da água na região metropolitana de São Paulo.

Nos dois anteriores, com vigência 2007/2008 e 2009/2013, respectivamente, foram repassados R$ 4,3 milhões — já somados os reajustes. Desde 2007, portanto, a ModClima recebeu quase R$ 7 milhões da Sabesp.

Até o fim deste ano, a Sabesp terá repassado R$ 12,5 milhões sem ter feito nenhum tipo de contrato de licitação. A empresa alega que não era necessário abrir esse processo, pois a ModClima possui “patente de tecnologia utilizada”. Ou seja, ela seria a única empresa detentora desse tipo de tecnologia e, consequentemente, a única capaz de prestar o serviço.

Para o professor livre-docente do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo) Augusto Jose Pereira Filho, a Sabesp contratou a empresa para não ser acusada de não fazer nada diante da crise de abastecimento de água.

“Foi dinheiro jogado fora. Era melhor utilizar essa verba para outros objetivos, como campanhas de conscientização e redução de perda de água, do que usar em técnicas que ainda não têm comprovação científica”, afirma.

A técnica

A tecnologia, utilizada pela ModClima, é chamada de semeadura e é realizada com um avião que lança gotículas de água dentro da nuvem para acelerar sua precipitação.

As gotas ganham volume e, quando estão pesadas o suficiente, a chuva localizada acontece. Segundo a empresa, chove de 5 a 40 milímetros. O tempo de semeadura dura entre 20 e 40 minutos.

“A semeadura consiste em imitar o processo de crescimento dos hidrometeoros [meteoros aquosos] que, quando atingem o tamanho correto dentro da nuvem, provocam a precipitação. Um avião lança dentro da nuvem gotículas de gelo, cristais ou outra partícula – de acordo com o tipo desta nuvem [quente ou fria] – para acelerar o início da chuva, mas para isso é necessário estar no lugar certo e na hora certa”, explica o professor Carlos Augusto Morales Rodriguez, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP.

A nuvem deve ter uma densidade adequada para que ocorra a precipitação, mas, segundo Rodriguez, a meteorologia tem dificuldades para identificar as nuvens em condições para a efetivação do processo.

“O radar meteorológico usado pela empresa contratada pela Sabesp não é capaz de identificar a nuvem que está em processo de precipitação, mas, sim, as nuvens que já estão chovendo. Portanto a técnica da empresa é ineficaz, já que, quando o avião entra na nuvem, ela já está chovendo”, explica Rodriguez.

Rodriguez afirma ainda que a empresa fez a semeadura no sistema Cantareira como se o local tivesse nuvens do tipo quente. “O Estado de São Paulo é composto por nuvens frias e, para acelerar a precipitação, era necessário uma técnica adequada para esta região, como o uso de iodeto de prata e gelo seco”, explica.

Tanto Rodriguez quanto Pereira Filho fizeram avaliações independentes do trabalho da empresa e concluíram que a técnica não tinha a eficácia desejada.

“Em uma avaliação de 2003/2004 constatamos que a técnica não funcionou, mas mesmo assim a Sabesp contratou a empresa novamente”, diz Filho. “Fui convidado pelo diretor da Sabesp para conversar com os representantes da ModClima e, durante a reunião, os relatos eram descabidos do ponto de vista científico.”

Ele também questiona os resultados da técnica no ano passado. De acordo com o documento da Sabesp obtido via Lei de Acesso à Informação, só no ano passado a técnica induziu precipitação de 25 hm³ (hectômetro cúbico, o equivalente a 25 bilhões de litros) no sistema Cantareira e 6 hm³ no sistema Alto Tietê (equivalente a 6 bilhões de litros).

“Relatos da Sabesp diziam que houve aumento de 30% de chuvas nos sistemas por causa da técnica, mas a porcentagem e os resultados são duvidosos, pois não é fácil medir de que maneira a semeadura contribuiu de fato para aumentar a precipitação local”, argumenta Filho.

Procurada, a empresa ModClima informou que sua comunicação atual está concentrada na Sabesp e que não responderia as perguntas da reportagem.

A Sabesp não indicou nenhum representante para explicar a contratação dos serviços para provocar chuvas artificiais nem respondeu questões complementares enviadas pelo UOL. *Com colaboração de Wellington Ramalhoso

Presidente de CPI defende que prefeitura de SP aplique multas à Sabesp (Estadão)

Em São Paulo

13/05/201515h19

11.mai.2015 - Carroceria de veículo fica visível na margem da represa Jaguari-Jacareí, no interior de São Paulo, devido ao baixo nível das águas

11.mai.2015 – Carroceria de veículo fica visível na margem da represa Jaguari-Jacareí, no interior de São Paulo, devido ao baixo nível das águas. Pablo Schettini/Futura Press/Futura Press/Estadão Conteúdo

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Sabesp na Câmara Municipal de São Paulo, vereador Laércio Benko (PHS), afirmou nesta quarta (13) que a comissão defenderá uma posição mais efetiva da prefeitura de São Paulo em relação à aplicação de multas contra a Sabesp. A companhia de saneamento comandada pelo governo paulista cortou o fornecimento sem aviso prévio, enfrenta dificuldades na atividade de recapeamento de ruas após obras realizadas e ainda despeja esgoto em mananciais, segundo ele.

“Temos que fazer com que Sabesp devolva à Prefeitura, através de multas, aquilo que ela não praticou. Temos que propor penalidades ao prefeito, e também cobrar dele que a prefeitura realize a regularização dos nossos mananciais onde há ocupação indevida”, afirmou Benko, após o encerramento da sessão de hoje da CPI da Sabesp.

O relatório que está sendo elaborado pelo vereador Nelo Rodolfo (PMDB) também cita outra medida importante que deve ser levada à avaliação dos vereadores que compõem a CPI. Ele defende a criação de uma agência reguladora municipal, nos mesmos moldes da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), esta estadual. “Mas ainda quero pensar mais sobre essa questão, para não estarmos apenas criando mais uma autarquia”, disse.

Benko reforçou, após a sessão da CPI, a contrariedade em relação ao fato de a Sabesp ser uma empresa listada em Bolsa. Durante a sessão, que contou com a presença do presidente da Sabesp, Jerson Kelman, o vereador criticou a distribuição de dividendos em um momento no qual a companhia precisa fazer investimentos para garantir o abastecimento de água.

Kelman rebateu a afirmação alegando que a Sabesp, por ser uma empresa aberta, deve respeitar a legislação e distribuir o equivalente a 25% do lucro líquido anual, o que foi proposto para 2015. Benko classificou com um “tapa na cara do cidadão paulistano” a distribuição de dividendos em um momento como o atual.

O vereador chegou a propor que a Sabesp fizesse provisões para recursos a serem destinados a obras, mas a possibilidade foi descartada pelo presidente da companhia de saneamento. “A provisão é um detalhe contábil. Para garantirmos investimentos em nosso planejamento plurianual, é preciso que tenhamos lucro para poder investir”, disse Kelman após a sessão.

O relatório do vereador Rodolfo também deve levantar a possibilidade de o contrato entre Sabesp e a prefeitura de São Paulo ser reavaliado. Nesse caso, pondera Benko, a grande dúvida estaria em quem assumiria o trabalho de saneamento feito pela Sabesp. O presidente da CPI afirmou que ainda não há convergência em relação ao pré-relatório elaborado pelo colega do PMDB. As atividades da CPI serão encerradas no próximo dia 29 de maio e o relator tem um prazo de até 15 dias, após essa data, para a conclusão do documento.

Responsabilidade

Questionado sobre a não convocação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à CPI da Sabesp, Benko ressaltou que a comissão convocou aqueles que eram considerados os principais envolvidos no processo: Kelman e a ex-presidente da Sabesp, Dilma Pena. “Acredito que o governador estava muito mal assessorado pela antiga presidência da Sabesp, e que agora chegou uma pessoa que abriu os olhos de todos”, disse Benko, que disputou a eleição a governador de São Paulo em 2014 contra o governador reeleito Alckmin. O governo de São Paulo é controlador da Sabesp e, como tal, indica o maior número de membros do conselho de administração da companhia de saneamento.

“Após o início do trabalho da CPI, em que nós desmascaramos a Dilma Pena, mostramos que ela estava administrando a Sabesp de uma forma péssima e foi trocada a presidência da Sabesp, as coisas começaram a funcionar”, disse. “Mas não estou dizendo que o governador não tenha responsabilidade, nem que ele tenha”, complementou. Benko disse que os vereadores podem entrar com ação popular, medida que pode ser feita por qualquer cidadão, e criticou a ausência do procurador geral do Estado às sessões da CPI.

Em relação à situação de abastecimento da cidade neste momento, o presidente da CPI destacou que não há um rodízio, mas sim a redução da pressão, o que afeta o abastecimento principalmente na região Norte do município, atendida pelo sistema Cantareira. “Precisamos torcer para a chuva. Rodízio eu acredito que não vai haver, mas a falta de água vai se agravar”, previu Benko.

Torneiras secam em São Paulo. Nível baixo do reservatório Atibainha, do sistema Cantareira, é percebido pela marca de água na ponte; desmatamento do Rio Amazonas, a centenas de quilômetros de São Paulo, pode estar contribuindo para a seca. Ao se cortar a floresta, sua capacidade de liberar umidade no ar é reduzida, diminuindo as chuvas no Sudeste Mauricio Lima/The New York Times

Alckmin descarta repor volume morto até abril (Estadão)

Fabio Leite e Lucas Sampaio – O Estado de S. Paulo

31 Março 2015 | 03h 00

Pela primeira vez, governo admite que chuvas não vão tirar o Sistema Cantareira da dependência da reserva profunda

SÃO PAULO – Mesmo com as chuvas acima da média em fevereiro e março, o Sistema Cantareira não vai conseguir recuperar totalmente o volume morto até o fim de abril, admitiu pela primeira vez o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Projeção feita pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) revela que o principal manancial paulista deve encerrar o próximo mês com nível 6% abaixo de zero, ou seja, ainda na reserva profunda.

“Poderemos atingir um total armazenado em torno de 420 bilhões de litros, ao fim de abril, 65 bilhões de litros abaixo do ‘zero’ do volume útil por gravidade”, afirmou o superintendente do DAEE, Ricardo Borsari, em ofício encaminhado ao presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, no dia 20 deste mês.

O volume de água é o mesmo registrado em 21 de agosto do ano passado. Os dois órgãos são responsáveis pela gestão conjunta do Sistema Cantareira.

Sistema Cantareira abastece 5,6 milhões 

Sistema Cantareira abastece 5,6 milhões

O manancial, formado por quatro represas, tem 1,47 trilhão de litros, dos quais 982 bilhões fazem parte do volume útil, porque ficam acima do nível dos túneis de captação e podem ser retirados por gravidade, e 485 bilhões, do volume morto, que só podem ser captados por bombas. Destes, 287,5 bilhões de litros foram liberados em duas cotas para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) abastecer a região metropolitana, onde 5,6 milhões de pessoas ainda dependem da água do sistema.

Nesta segunda-feira, 30, o Cantareira operava com 18,9% da capacidade, segundo a Sabesp, que inclui as duas cotas do volume morto no cálculo. Na prática, contudo, o nível estava em -10,4%, se considerada a quantidade de água da reserva profunda usada como negativo, como quer o Ministério Público Estadual (MPE). No sábado, o Estado mostrou que o sistema tem atualmente 57% menos água do que há um ano, déficit de 243 bilhões de litros.

O documento faz parte das negociações entre a ANA, do governo Dilma Rousseff, e o DAEE, do governo Alckmin, para definir a retirada de água do Cantareira. Por causa das discordâncias entre os órgãos, desde 15 de março o manancial é operado pela Sabesp sem uma regra estabelecida.

O presidente da agência federal quer definir uma metodologia de operação e metas futuras de armazenamento até 30 de novembro.

No ofício, Borsari diz que a projeção considera a manutenção das atuais condições de entrada de água (60% das médias mensais históricas) e retirada (10 mil litros por segundo), como ocorre desde fevereiro. Neste cenário, o volume morto só será recuperado no dia 22 de julho, segundo o simulador lançado em janeiro pelo Estado.

Justiça. Em ação civil movida em 2014, o MPE pede que os gestores do Cantareira e da Sabesp operem o manancial para que ele chegue ao fim de abril com 10% positivos, mesmo índice registrado em 30 de abril do ano passado. O governo Alckmin afirma que essa meta é impossível de ser atingida.

Após duas liminares terem sido concedidas e depois derrubas pela Justiça, o juiz federal Wilson Zauhy Filho decidiu, na semana passada, suspender o processo até o dia 11 de maio, quando o DAEE se comprometeu a entregar, em juízo, os estudos da proposta que será feita pela Sabesp para a renovação da outorga do Sistema Cantareira e as respostas às propostas feitas pela ANA para a gestão do manancial durante a crise.

Sabesp inicia obras às pressas sem avaliar risco (OESP)

Fabio Leite – O Estado de S. Paulo

15 Março 2015 | 02h 01

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo desengavetou planos sem ter tempo de estudar impacto ambiental

SÃO PAULO – A busca por novos mananciais para suprir a escassez hídrica a curto prazo e tentar evitar o rodízio oficial de água na Grande São Paulo levou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a tirar do papel uma série de projetos engavetados há anos e a executá-los a toque de caixa sem Estudo de Impacto Ambiental (EIA), aprovação em comitês ou decreto de estado de emergência.

Até o momento, são seis obras (uma já concluída) que envolvem transposições entre rios e reservatórios com o objetivo de aumentar a oferta de água para conseguir abastecer 20 milhões de pessoas durante o período seco (que vai de abril a setembro) sem decretar racionamento generalizado. A principal delas é a interligação do Sistema Rio Grande com o Alto Tietê, o segundo manancial mais crítico (21% da capacidade), melhor só que o Cantareira.

Segundo a Sabesp, já foi iniciada a construção de 11 quilômetros de adutora e uma estação de bombeamento para levar até 4 mil litros por segundo da Billings, no ABC, para a Represa Taiaçupeba, em Suzano. A conclusão está prevista para julho. Técnicos do governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmam, contudo, que uma obra desse porte precisaria de EIA, aprovação no Comitê da Bacia do Alto Tietê, além da outorga do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).

A principal das obras é a interligação do Sistema Rio Grande com o Alto Tietê, o segundo manancial mais crítico (21% da capacidade), melhor só que o Cantareira.

A principal das obras é a interligação do Sistema Rio Grande com o Alto Tietê, o segundo manancial mais crítico (21% da capacidade), melhor só que o Cantareira.

Com a provável reversão das águas do poluído corpo central da Billings para o Braço Rio Grande, já manifestada pela Sabesp, seria preciso ainda aprovação prévia do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e de outorga da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já que a represa também fornece água para geração de energia na Usina Henry Borden, em Cubatão. Todo esse trâmite teve de ser seguido para a execução da ligação Billings-Guarapiranga, pelo Braço Taquacetuba, na crise de 2000.

“Ou o governo decreta estado de emergência para tocar as chamadas obras emergenciais sem licitação e estudo de impacto ambiental, com perda de capacidade de concorrência e de participação social, ou então licita e produz os relatórios necessários. Do jeito que está, há uma incoerência brutal”, afirmou o engenheiro Darcy Brega Filho, especialista em gestão de sustentabilidade e ex-funcionário da Sabesp.

Mar. No pacote de obras emergenciais estão a interligação de dois rios de vertente marítima (que deságuam no mar), Itatinga e Capivari, para rios que são afluentes das Represas Jundiaí (Alto Tietê) e Guarapiranga. As duas intervenções recém-anunciadas pela Sabesp já constavam do Plano Diretor de Águas e Abastecimento (PDAA) de 2004 e ficaram engavetadas. Cada uma deve aumentar a vazão dos sistemas em 1 mil litros por segundo e também precisariam de aprovação do Comitê da Bacia da Baixada Santista.

“Sem dúvida, é preciso de obras emergenciais para trazer água para a região metropolitana, mas isso não anula uma avaliação mais acurada desse conjunto de transposições para calcular a eficiência desses projetos e seus efeitos indiretos”, afirmou o especialista em recursos hídricos José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia e vice-presidente do Instituto Acqua.

Um exemplo citado por funcionários do governo sobre a falta de avaliação dos projetos é a construção de 9 quilômetros de adutora para levar 1 mil litros por segundo do Rio Guaió para a Represa Taiaçupeba. As obras começaram em fevereiro e devem ser concluídas em maio, segundo a Sabesp. Técnicos da área afirmam que durante o período de estiagem a vazão média desse rio é de apenas 300 litros por segundo, ou seja, 70% menor do que a pretendida.

Carro “símbolo” da falta de água no Cantareira foi roubado há 20 anos em SP (UOL)

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

03/03/201509h26 Atualizada 03/03/201515h11 

Seca em SP revela carros, construções antigas e lixo

19.fev.2015 – As chuvas que têm atingido São Paulo em fevereiro estão recuperando o nível do sistema Cantareira, que fornece água para 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Na montagem, a imagem onde aparece menos água foi feita em dezembro de 2014. Já a foto que mostra a represa mais cheia é deste mês. Com a elevação, carros que surgiram com a seca e não foram retirados voltam a ser encobertos pelas águas Leia mais Estadão Conteúdo

A carcaça de um carro que se tornou uma espécie de símbolo da falta de água no Cantareira, sistema que abastece um terço da população da Grande São Paulo(6,5 milhões de pessoas), foi furtado há 20 anos.

Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), após averiguar o número do chassi, a polícia descobriu que o veículo foi furtado em 1995 na cidade de São Paulo.

O caso é investigado pela delegacia de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo). A polícia ainda não identificou os suspeitos pelo crime.

A carcaça passou a chamar a atenção de quem passava pela região da represa Atibainha, que faz parte do sistema Cantareira, depois que foi grafitada em 2014 pelo artista Mundano. No carro, foi escrito “Bem-vindo ao deserto da Cantareira”, um protesto contra a crise de falta de água.

O veículo foi removido da represa em 25 de fevereiro. Um dia depois, o desenho do carro com a mesma mensagem foi grafitado na pilastra perto de onde a carcaça ficava e que servia de referência para as subidas e quedas do nível do reservatório.

De acordo com a SSP, 31 carros foram retirados do Atibainha desde o ano passado. Levantamento feito pela reportagem do UOL revela que, desde o meio do ano passado, ao menos 83 veículos foram tirados do fundo de reservatórios em São Paulo.

Os primeiros começaram a aparecer em meados de agosto de 2014, à medida que foram caindo os níveis de água das represas de São Paulo por causa da falta de chuva.

Evelson de Freitas/Agência Estado

Grafite em pilastra na represa Atibainha reproduz carro que virou símbolo da seca

Seco e colorido: Grafiteiros vão ao Cantareira em protesto artístico (Conta D’Água)

Em tempos de seca grafiteiros fazem arte-protesto no complexo cantareira e dão medidor de nível de água para a população

Por Henrique Santana, da Revista Vaidapé

2 de março de 2015

Submersos no maior colapso de abastecimento de água da história do Estado de São Paulo, grafiteiros resolveram dar um rolê pela represa de Atibainha, em Nazaré Paulista, para fazer o que sabem melhor: grafitar. A Vaidapé participou da ação do início ao fim e o registro vocês conferem nesta reportagem.

O time foi composto por grandes nomes do graffite da cidade: Thiago Mundano, encabeçador do projeto “Pimp My Carroça”, que estiliza o principal objeto de trabalho dos carroceiros paulistas; Mauro, do movimento Imargem; Enivo, um dos responsáveis pelo polêmico graffite nos Arcos do Jânio, criticado por fazer uma suposta exaltação ao líder venezuelano, Hugo Chavez; Subtu, famoso pelos desenhos de macacos brancos espalhados pela cidade; e Fel, exímio escalador de prédios, que estampa desenhos gigantes edifícios da cidade.

O APARELHO DE MEDIÇÃO

A trupe do spray foi ao Cantareira com o objetivo de fazer um graffite-medidor. As pinturas, realizadas em baixo da ponte da represa de Atibainha , serão usadas de parâmetro para acompanhar o nível da água. “Estamos aqui para ver, de fato, o nível da água do Cantareira, porque não dá para confiar muito no que a gente vê na TV, no que a Sabesb diz, no que dizem nossos governadores. Então a gente veio fazer uma arte para ser um nivelador, para a população que vem aqui também possa acompanhar a situação da água Não é porque cresceu um pouquinho que está bem. O nível está negativo e a gente vai acompanhar por essa arte, que é um jeito de trazer um novo olhar para essa crise hídrica”, explica Mundano.

Torneiras colocadas por Mundano em cactos da represa (Foto: André D’Elia)

Subtu, o famoso pintor de macacos brancos, criticou o desperdício de água e não deixou de lado seu carro chefe, estampando na ponte mais um de seus primatas. “Eu fiz o macaco assim, desperdiçando água, porque o macaco é o ser humano desprovido de inteligência. Então ele é meio burro e tal. É para fazer uma referência a essas pessoas que não se tocaram ainda que a gente está numa crise violenta de água, que continua lavando o carro, que não reutiliza a água. Então é meio que isso, ele tá na ‘gozolândia’, ele tá aqui na Cantareira despejando água da garrafinha”, provoca.

“A gente está aqui hoje, na Cantareira, fazendo o que a gente mais gosta de fazer, que é arte, que é pintar. E hoje tá servindo como um alerta, como uma crítica”, conta Enivo ao falar que a ideia é que os graffites sejam submerso — caso o nível da represa volte a subir.

O protesto artístico surgiu de uma camaradagem que aflorou nas ruas de São Paulo. Apesar dos grafiteiros atuarem em diferentes regiões da cidade, a afinidade entre seus projetos individuais e os roles pelo asfalto quente da terra da garoa fez com que seus caminhos se cruzassem. Enivo pontua que a ação “acaba sendo um encontro de amigos para pintar, mas agora com um porquê”.

ARTE DENTRO E FORA DE CASA

Além do graffite-medidor, a ida para a represa de Atibainha teve outros porquês. Tanto Mundano quanto Mauro irão, no dia 7 de março, inaugurar a exposição “Ver-A-Cidade Mudana”, na galeria A7MA, Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. O nome da mostra faz referência ao trabalho dos dois artistas. A ideia é construir um diálogo entre a arte exposta dentro e fora das galerias. Enivo é um dos sócios da A7MA, que abriu espaço para que artistas independentes consigam vender obras para garantir sua subesistência.

“Para a gente, que é artista, grafiteiro, é um prazer e uma missão poder falar disso, seja nas ruas, seja aqui nesse marco, nesse lugar monumental, importante para a sociedade paulistana. E também poder mostrar isso em um ambiente fechado, relacionando toda essa nossa poética em obras móveis que as pessoas podem olhar, podem até levar para casa. Então, na galeria A7MA, a gente vai fazer está exposição e vai relacionar tudo isso: arte na rua e arte dentro dos espaços”, diz Mauro, que também é idealizador de outros projetos, como o Cartograffiti.

Grafites de Mauro e Mundano, lado a lado na represa de Atibainda (Foto: André D’Elia)

Os artistas também vão abordar temas relativos a crise de abastecimento, levando para a galeria o projeto dos cinco grafiteiros no Cantareira. A arte ganha moldes de protesto e navega de Nazaré Paulista ao centro. Do subúrbio seco aos bairros em que o racionamento não veio.

A arte vai ao sertão paulista e os arredores da terra rachada ganham vida. Enquanto isso, os moradores da ‘gozolândia’ central continuam sem ver a cor da falta d’água. Na periferia, por outro lado, a torneira que não pinga já virou rotineira.

Afinal quanta água tem no Cantareira? (Conta d’Água)

Saindo do volume morto: 10%, 8% ou -19%?

25 fev 2015

por José Bueno e Luiz de Campos Jr para Rios e Ruas

Hoje assistimos e ouvimos nos noticiários sobre mais uma elevação no nível do Sistema Cantareira. Finalmente — e só no fim de Fevereiro — saímos da Reserva Técnica 2 (Volume Morto 2) e atingimos a “cota zero” da Reserva Técnica 1. Mas o que isso quer dizer na prática? Já é possível respirarmos um pouco mais aliviados com relação a segurança do nosso abastecimento de água? Infelizmente e definitivamente, não!

Como podemos ver no gráfico, estamos muito abaixo dos níveis registrados nos últimos quatro anos para esta mesma data. Ainda são necessários mais 182 bilhões de litros apenas para encher a Reserva Técnica 1 e atingir a “cota zero” do chamado Volume Útil. Tivemos um Fevereiro bem chuvoso na Cantareira (ninguém pode culpar S. Pedro este mês), já são quase 70mm acima da média histórica. Mas, a partir de agora as médias mensais tendem a diminuir continuamente — e drasticamente — até o final do inverno. Não vai bastar rezar, com certeza.

A SABESP divulgou no seu boletim de hoje que atingimos 10,7% do volume total do sistema. Essa informação não ajuda — na verdade confunde — o entendimento da realidade nos reservatórios. E cremos que essa confusão se dá por duas características desse índice:

1. O cálculo é feito a partir da soma do Volume Útil (antes de maio/2014) + Reserva Técnica 1 (após maio/2014) + Reserva Técnica 2 (após outubro/2014);
2. Mesmo utilizando esse total, o cálculo está simplesmente errado.

No primeiro caso, ao optar por utilizar o volume total de água disponível para calcular a porcentagem, a SABESP parece querer que esqueçamos que na verdade estamos utilizando as Reservas Técnicas, que só podem ser utilizadas em caráter extraordinário. Melhor seria que ela separasse e deixasse explícito o que é Reserva Técnica do que é Volume Útil no seu índice. Por exemplo, como fizemos no gráfico, colocando as porcentagens como negativas enquanto não ultrapassarmos as cotas das Reservas Técnicas.

No segundo caso é ainda mais grave e básico: um erro matemático. Uma vez que a SABESP está considerando a soma total (Volume Útil + Reservas Técnicas) no cálculo do índice, tinha de utilizar o volume somado para calcular as porcentagens, mas está usando apenas o valor do Volume Útil [!]. Resultado: um índice com valor nominal maior do que o correto. No índice de hoje, por exemplo, o resultado correto é de 8,3% e não 10,7% [!!]. Em se mantendo o procedimento e caso atinjamos a cota máxima do sistema em algum momento futuro — tomara! — o índice que representará o sistema “cheio” será de absurdos 129,2% [!].

Dada esta inusitada situação, com o objetivo de contribuir para o melhor entendimento da realidade e para a maior transparência dos dados, o Rios e Ruas decidiu atualizar e publicar diariamente o gráfico de comparação do volume do Sistema Cantareira de 2011 a 2015 na mesma data de cada ano, utilizando as duas formas de representá-los.


Fonte dos Dados: SABESP
Para saber mais sobre o erro no cálculo: 
Guia Rápido

Após forte chuva, sistema Cantareira sobe de novo e chega a 11,1% (Folha de S.Paulo)

DE SÃO PAULO

26/02/2015  09h44

A forte chuva que atingiu a Grande SP na tarde de quarta-feira (25) fez com que o nível do Cantareira aumentasse 0,3 ponto percentual em comparação com o dia anterior. O manancial opera agora com 11,1%, índice ainda considerado crítico.

Apesar de ter subido mais do que nos dias anteriores, o aumento não foi tão alto porque, segundo meteorologistas, a chuva forte que atingiu São Paulo não passou pela região do manancial. Lá, a chuva foi mais moderada.

Representantes da Sabesp, no entanto, reiteraram na quarta-feira em sessão na Câmara Municipal de São Paulo que não está previsto um rodízio de água para a Grande SP. mesmo com as chuvas abaixo do previsto para março.

Fevereiro, segundo dados divulgados pela Sabesp, vai fechar com chuvas bem acima da média histórica. Até agora, no Cantareira registrou 293 mm de chuva quando a média para o mês é de 199,1 mm.

O Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas na zona norte e partes das zonas leste, oeste, central e sul da capital paulista -eram cerca de 9 milhões antes da crise. Essa diferença passou a ser atendida por outros sistemas.

Desde julho de 2014, em meio à grave crise hídrica, o governo paulista utilizou duas reservas do fundo da represa, conhecidas como volume morto. Esse volume, no Cantareira espalhado em três diferentes represas, é a porção que fica abaixo das tubulações que captam água. E, para ser utilizada, precisa ser bombeada.

A segunda cota do volume morto, de 105 bilhões de litros, começou a ser usada em novembro. Nesta terça, quando o sistema atingiu 10,7% de sua capacidade, o equivalente a ela foi recuperado. Já a primeira cota do volume morto, de 182,5 bilhões, talvez somente possa ser recuperada em um ou dois anos. Isso ocorrerá quando o nível do manancial atingir 29,2%.

A utilização do volume morto, segundo especialistas, pode ser comparada ao uso do cheque especial. Ambientalistas também apontam alguns riscos, como o de extinção de uma reserva técnica do manancial, por exemplo.

Rubens Fernando Alencar e Pilker/Folhapress

OUTROS RESERVATÓRIOS

Já o nível do reservatório Alto Tietê, que também sofre as consequências da seca, opera com 18,3% de sua capacidade, o mesmo índice registrado há quatro dias.

O sistema abastece 4,5 milhões de pessoas na região leste da capital paulista e Grande São Paulo. No dia 14 de dezembro, o Alto Tietê passou a contar com a adição do volume morto , que gerou um volume adicional de 39,5 milhões de metros cúbicos de água da represa Ponte Nova, em Salesópolis (a 97 km de São Paulo).

O nível da represa de Guarapiranga, que fornece água para 5,2 milhões de pessoas nas zonas sul e sudeste da capital paulista, avançou 1,1 ponto percentual e opera com 59,8% de sua capacidade.

O reservatório Rio Grande, que atendem a 1,5 milhão de pessoas, caiu 0,1 ponto percentual e opera agora com 83,3%. Já o reservatório Rio Claro, que também atende 1,5 milhão de pessoas, avançou 0,2 percentual. O sistema opera com 35,7%

O sistema Alto Cotia também teve melhora passando de 36,4% para 37,7%. O reservatório fornece água para 400 mil pessoas.

A medição da Sabesp é feita diariamente e compreende um período de 24 horas: das 7h às 7h.

Seca no sistema Cantareira

Nacho Doce – 4.dez.14/Reuters

Cantareira recupera 2º volume morto (Estadão)

Sistema Cantareira atingiu ontem 10,7% da capacidade

Após a 19.ª alta consecutiva, o nível do Sistema Cantareira atingiu ontem 10,7% da capacidade, índice que marca a “recuperação” da segunda cota do volume morto, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Agência Nacional de Águas (ANA).

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2015/02/25/A15.pdf

(O Estado de S.Paulo)

Mais informações sobre o assunto na Folha de S.Paulo – http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209589-cantareira-recupera-2-parte-do-volume-morto.shtml

Água: crise e colapso em São Paulo (Revista Greenpeace)

Reportagem: Luciano Dantas

Fotografia: Carol Quintanilha

Edição 1, 2014

Desde o início do ano os moradores de São Paulo têm ido dormir sem saber se haverá água pela manhã em suas casas. Por meio de diferentes fontes, reunimos informações para levantar as causas, consequências e soluções para a crise hídrica que atinge o Estado.

Omissão e descaso: a falta d’água era prevista

Marussia Whately, coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) e uma das maiores especialistas em recursos hídricos de São Paulo, dá o seu diagnóstico. Assista:

“O uso do volume morto não é uma solução. Ele seca a represa, os lençóis freáticos e a capacidade do sistema em se recompor. Isso mostra a falta de preparo do governo do Estado para a crise.”

Marussia Whately

Dias difíceis

Desde maio deste ano a Sabesp se utiliza da água proveniente do chamado volume morto do Sistema Cantareira, principal manancial abastecedor da Grande São Paulo, para nutrir a capital.

“…Não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.”

Antonio Carlos Zuffo

Para o professor Antonio Carlos Zuffo, da área de Hidrologia e Gestão de Recursos Ambientais da Unicamp, o prognóstico é de dias difíceis. Segundo ele, além de enfrentar a escassez, os paulistas terão de lidar com a impureza da pouca água do reservatório. “Os peixes já vêm sofrendo com a falta de oxigênio dos rios e represas, e isso tende a piorar. Com um volume menor de água para a diluição de impurezas, a saída será o tratamento com maiores quantidades de cloro, o que compromete a qualidade da água que abastece residências, a produção agropecuária e industrial do Estado”, explica.

Zuffo acredita que a estiagem dure entre três e quatro décadas, e que a única saída para minimizar os prejuízos a curto-prazo é conscientizar a população. “A água economizada hoje será responsável pelo abastecimento de amanhã”, diz. E garante: não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.

A seca vira arte

Foto: Marcelo Delduque

Foto: Marcelo Delduque

Na contramão do que pensa a maioria dos moradores do Estado, Marcelo Delduque, morador de Bragança Paulista, não enxerga com tanta estranheza a seca que toma conta da represa que passa por sua propriedade, a Fazenda da Serrinha, já que a barragem foi construída artificialmente na década de 1970 para compor o Sistema Cantareira.

“Quando nasci, a represa não existia. Acompanhei durante a infância o povoado sendo alagado por ela. Por isso, para mim não é estranho ver tudo seco novamente”, conta.

É na centenária fazenda da família que há 13 anos acontece o Festival de Arte da Serrinha, produzido por Marcelo e seu irmão, Fábio Delduque, curador-responsável do evento. O festival propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. É lá que artistas, estilistas, apaixonados e curiosos pela arte se embrenham, a cada ano, em produções artísticas livres e muito criativas.

Hoje a paisagem no entorno da fazenda é completamente diferente de quando a represa comportava seu nível normal de água. Assim, o que Marcelo pode acompanhar é o movimento contrário do qual vivenciou quando criança: o resgate das condições naturais do local, a retomada das raízes da Serrinha.

Curiosamente, o tema do Festival de 2014 foi justamente “Raízes”, e a paisagem do chão de barro rachado, que antes dava lugar à represa, tornou-se protagonista do evento.

O festival de arte da Serrinha propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. (Foto: Carol Quintanilha)

Performance artística na paisagem lamacenta que transformou a represa. Fazenda da Serrinha. (Foto: Carol Quintanilha)

Antes da seca: a represa da fazenda Serrinha é parte do Sistema Cantareira (Foto: Marcelo Delduque)

O festival de arte da Serrinha propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. (Foto: Marcelo Delduque)

Performance artística na paisagem árida que antes dava lugar às águas da represa. Fazenda da Serrinha. (Foto: Marcelo Delduque)

Sistema Cantareira – vista geral do reservatório Cachoeira em sua capacidade normal. (Foto: Instituto Socioambiental)

A represa de Vargem, componente do sistema Cantareira com sua capacidade hídrica já bastante reduzida. (Foto: Luiz Augusto Daidone/ Prefeitura de Vargem)

Racionamento velado

  • Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Aenean euismod bibendum laoreet. (Foto: Fabio Nascimento/Greenpeace)

    Falta de transparência: João exibe a quantidade de cloro contida na água após horas sem abastecimento. (Foto: acervo pessoal)

Morador do Mandaqui, zona norte da cidade de São Paulo, o estudante de jornalismo João Tiago Soares, 32, se queixa da falta de transparência praticada pela Sabesp. “Inacreditável. Até a Copa, tudo correu bem. Dias depois da final do campeonato, sem aviso prévio, o racionamento começou” – relata.

João afirma que no início faltava água por quatro horas durante a tarde e que depois foi faltando água cada vez mais tarde e por mais tempo. “Fechavam os reservatórios por volta das 22h, quando as pessoas se preparavam para dormir. Só abriam lá pelas 04h, quando estavam prestes a acordar”, conta. João diz que sempre que ele ou algum vizinho telefonam para a Sabesp, a resposta é a mesma: estão realizando uma “adequação” no sistema hídrico.

“Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.”

Declaração Universal dos Direitos da Água

No último dia nove de setembro, Catarina de Albuquerque, relatora da ONU (Organização das Nações Unidas), declarou que a crise da água não pode ser justificada pela estiagem: cabe ao Estado prever e prevenir a população de circunstâncias como esta. Diante da crise, o recém-eleito governador Geraldo Alckmin continua negando a interrupção do abastecimento – praticada há pelo menos três meses – e descartou a necessidade de racionamento em 2014. Com mais quatro anos de mandato, veremos que medidas ele tomará para tirar a população do sufoco. Nem o cantor Chico Science seria capaz de prever lama e caos tão próximos um do outro.

Brazil drought: water rationing alone won’t save Sao Paulo (The Guardian)

The solutions to the severe drought in Brazil must go deeper than water rationing and pressure changes, says the Alliance for Water network

An aerial view of the Atibainha dam, part of the Cantareira reservoir, during a drought in Nazare Paulista, Sao Paulo state in this November 18, 2014.

An aerial view of the Atibainha dam, part of the Cantareira reservoir, during the drought in Nazare Paulista, Sao Paulo state last November. Photograph: Nacho Doce/Reuters

It should be the rainy season. Instead Sao Paulo state is experiencing a third consecutive year with soaring temperatures and rainfall patterns well below historic records.

The main water reservoirs are operating at their lowest capacity. The Cantareira reservoir system, which serves more than nine million people in the state, is only 5% full. At the Alto Tietê reservoir network, which supplies three million people in greater Sao Paulo, water levels are below 15%.

Simple calculations indicate that given the current level of consumption versus the predicted raining patterns there is only enough water on the system to last four to six months. That means the water could run out before the next rainy season starts in November. State officials recently announced a potential rationing program of five days without water and two days with, in case the February and March rains do not refill the reservoirs.

This extreme climate scenario, combined with a series of management flaws, political negligence and a culture of waste and pollution, is bringing the largest metropolitan region of Brazil to the brink of collapse.

Since 2013, after decades of warnings about misguided development policies and destructive land use practices, experts and civil society organisations have been calling for increasingly strong measures to reduce water consumption to keep the minimum secure levels for supply reservoirs. The calls have been ignored by the state government – the system’s main operator – and federal and municipal authorities turned a blind eye to the severity of the situation.

The government took a few small steps in early 2014, such as offering a discount on water bills for people who voluntarily reduced their consumption. It also increased supply from the Billings and Guarapiranga reservoirs, but as these sources receive most of the urban waste from Sao Paulo, the water needs to be carefully tested and treated to be adequate for human consumption, adding to the complexity of securing safe water supply during the drought.

The government’s main initiative has been to reduce pressure on the distribution network, so that it pumps less water through the system. As the measure was not officially recognised by leaders or the media, people were unprepared to live without drinkable water for a couple of days when the supply glitches started to happen. Taken by the population as a de facto rationing, the lack of transparency about the times and places affected by pressure reduction caused more problems and increased distrust among Sao Paulo’s citizens.

brazil drought cracked ground

The Cantareira reservoir system serving more than nine million people in Sao Paulo state is only 5% full.Photograph: Nacho Cubero/Reuters

The recovery measures adopted so far account for a 22% reduction on the water volume extracted from reservoirs. Experts, however, advise that the reduction should be around 50% to sustain the minimal conditions needed for the system.

Many might be surprised that such a scenario is happening in a tropical country famous for its abundance of natural resources, crossed by hundreds of rivers and with plenty of underground water. But for regional environmentalists and experts it comes as no surprise. They have been raising the alarm on water pollution and campaigning for watershed protection and safety standards since the 1980s. But scientific and technical reports, advocacy measures and pressures on companies were lost among the apparently unstoppable powers of real estate, agriculture and industry development. Urban land use, extensive monocultures and illegal occupation of watersheds have damaged and polluted the water production areas, jeopardising their capacity to survive and recover from extended dry seasons.

National development policies strongly focus on macro-infrastructure plans such as large hydrodams, ports and roads, the expansion of agribusiness into the Amazon, and the predatory mining industry. These sustain the exports of soya, beef and pig iron while being responsible for the majority of Brazilian greenhouse gas emissions. More and more scientific studies show the link between deforestation in the north and the reduction of rainfall in the southeast, presenting further evidence of how the effects of climate change are already upon us.

Despite the relative gains in poverty reduction over the last decade, the imminent collapse of the water supply system of the richest region in Brazil shows that basic development structures have yet to be addressed and fundamental human rights have yet to be secured in this country. Millions of people from the poorest communities have entered the consumer market, but their access to housing, sanitation, clean water, citizen security and transport remain unguarded.

brazil drought dried reservoir

A sign reading ‘Don’t jump in the water’ at the dried up part of the Guarapiranga reservoir in November 2014. Photograph: Paulo Whitaker/Reuters

This is where an old cliché becomes real: major opportunities lie within this crisis. The transcending effect of the water shortage creates a space for unity and coordination among Brazilian social movements. It offers the chance for environmental organisations to link deforestation with urban issues, to communicate that social justice will not be achieved as long as the priority is given to an unequal and unsustainable development model. Moreover, the urgency and scale of the water crisis is likely to bring NGOs and labour unions closer to the organic and youth protests that drew hundreds of thousands of people to the streets in 2013. The time and place for a solid narrative that links poverty reduction to ecological protection seems finally to have arrived.

In October 2014, more than 40 NGOs, experts, independent collectives and social movements joined forces to launch the Alliance for Water, a network that is monitoring the government’s response to the crisis and presenting positive solutions for surviving the probable collapse. The alliance aims to collaborate to build a new culture of water use and conservation in Sao Paulo and is producing a series of technical reports and events to qualify the debate among a wide range stakeholders, from specialists to politicians to social movements and grassroots groups.

Today more than 13 million inhabitants of Sao Paulo state find themselves on the edge of an unprecedented public calamity. The absence of political leadership and government transparency fuels panic and fear. Until now, the government has not outlined a clear emergency plan to guarantee minimum water supplies for essential services such as hospitals, police stations and prisons, and for the poorest people who have no structure to store or buy mineral water. A chaotic scenario might take place where, faced with a severe and sustained lack of water, many communities will resort to polluted sources or even violence, raising significant concerns over safety and health.

Civil society has a pivotal role to play by challenging development models, establishing social control over emergency plans, securing human rights and promoting the values of ethics and solidarity. As is usual in calamity situations, the most vulnerable, poorest communities are likely to pay the highest price with their health and their dignity. These people need to know they can count on organised civil society to support them across the turbulent times that lie ahead.

Marussia Whately is the programme director and Rebeca Lerer is the communications coordinator for the Alliance for Water network.

Seca em São Paulo – 16 de janeiro de 2015

Chuvas devem continuar abaixo da média em 2015, diz Cemaden (G1)

Ano deve ser influenciado por eventos extremos de 2014, diz especialista

Se o ano passado foi um período de condições climáticas extremas no Brasil, entre elas a seca em diversas regiões, a situação em 2015 pode piorar. Esta é a avaliação feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em Cachoeira Paulista (SP), que já prevê chuvas abaixo da média novamente.

De acordo com o meteorologista do Cemaden, Marcelo Seluchi, neste verão choveu pouco mais da metade do normal para o período. O órgão é uma das extensões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para estudos e alertas de desastres naturais. “Comparado com o ano passado, a situação de 2015 pode piorar nas metrópoles em várias regiões do Brasil e no Vale do Paraíba”, afirma.

Leia mais: http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/01/chuvas-devem-continuar-abaixo-da-media-em-2015-diz-cemaden.html

(Portal G1)

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Cantareira pode secar em julho, prevê centro de monitoramento (O Globo)

Governador Alckmin diz que foi mal interpretado ao falar sobre racionamento

O Sistema Cantareira, responsável por abastecer 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, pode secar em julho, caso o consumo de água na Região Metropolitana continue o mesmo e a chuva mantenha o ritmo observado nos últimos meses. A projeção foi feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Leia mais: http://oglobo.globo.com/brasil/cantareira-pode-secar-em-julho-preve-centro-de-monitoramento-15066400

(O Globo)

Mais informações sobre o assunto: Presidente da Cedae prevê uso inédito do volume morto de Paraibuna ainda este semestre – http://oglobo.globo.com/rio/presidente-da-cedae-preve-uso-inedito-do-volume-morto-de-paraibuna-ainda-este-semestre-15066522

(O Globo)

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Combinação de seca e calor extremo agrava crise do Cantareira (Estadão)

Dados oficiais mostram que nos primeiros 15 dias do ano o sistema recebeu 35% menos água do que a média de janeiro passado, enquanto as temperaturas máximas na capital batem recordes

Apontada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) como a causa da crise hídrica paulista no início de 2014, a combinação de seca severa nos mananciais e calor extremo na capital está ainda mais crítica em 2015. Dados oficiais mostram que nos primeiros 15 dias do ano o Sistema Cantareira recebeu 35% menos água do que a média de janeiro passado, enquanto as temperaturas máximas na cidade estão batendo o recorde registrado no mesmo período do ano anterior.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,combinacao-de-seca-e-calor-extremo-agrava-crise-do-cantareira,1620492

(Fabio Leite/O Estado de S. Paulo)

Mais informações sobre o assunto: Na Folha de S.Paulo – Cantareira tem ainda menos chuva em 2015 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/204210-cantareira-tem-ainda-menos-chuva-em-2015.shtml)

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Seca de São Paulo na mídia

JC 5078, 4 de dezembro de 2014

Sabesp vai bombear menos água do Cantareira em dezembro (Agência Brasil)

Medida será tomada independentemente do volume de chuva que possa se acumular ao longo do período

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) terá de reduzir, ao longo deste mês, a retirada de água do Sistema Cantareira, o principal manancial para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo, independentemente do volume de chuva que possa se acumular ao longo do período.

Segundo definição conjunta da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), o volume de retirada baixou de 39 milhões de metros cúbicos (m³) para 30 milhões de m³, o equivalente a 30 bilhões de litros.

A medida faz parte de um acordo fechado no dia 17 de novembro, pelo qual os dois órgãos avaliarão mensalmente o uso da segunda cota do chamado volume morto ou reserva técnica, que é a água bombeada abaixo da captação por gravidade.

O mesmo critério é seguido no caso das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A determinação encaminhada ao presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Gabriel dos Santos, informa que a ANA e o Daee concordaram diminuir de quatro para três metros cúbicos por segundo a liberação de água dos reservatórios para os rios da região.

(Marli Moreira / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/sabesp-vai-bombear-menos-agua-do-cantareira-em-dezembro

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

Mesmo com chuva, Cantareira continua em queda e registra 8,2% (Agência Brasil)

Os dados são da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

As chuvas sobre São Paulo não interromperam a sequência de quedas do Sistema Cantareira. Hoje (5), o nível dos reservatórios registrou 8,2%, uma redução de 0,1 ponto percentual em relação a ontem (4), segundo medição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Ontem, uma leve precipitação de 1,9 milímetro atingiu as cabeceiras do sistema. A pluviometria esperada para o mês é alta, 220,9 milímetros. No mês passado, a média histórica indicava precipitações acumuladas no patamar de 161,2 milímetros, mas as chuvas acumularam 135 milímetros.

Outros sistemas de abastecimento de São Paulo também sofreram perdas. O Alto Tietê baixou de 5,2% ontem para 5,1% hoje, mesmo diante da precipitação de 9,1 milímetros que atingiu o reservatório.

Guarapiranga, localizado na zona sul da capital, apresentou leve melhora. O sistema passou de 32,2% ontem para 33,3% hoje. A chuva que ajudou a elevar o sistema e atingiu a cidade de São Paulo acumulou 10,8 milímetros.

Hoje, o tempo nublado e chuvas isolados predominam na capital paulista. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), a nebulosidade ocorre pela passagem de um sistema frontal, que se afasta rapidamente para o oceano. Chuvas mais consistentes estão previstas para o norte paulista e o sul de Minas Gerais, na área do Sistema Cantareira.

No fim de semana, o tempo abre, as temperaturas sobem e a probabilidade de chuva diminui. O sábado (6) terá sol entre nuvens e temperatura média de 18ºC. A umidade relativa do ar fica entre 45% e 85%.

(Fernanda Cruz / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/mesmo-com-chuva-cantareira-segue-em-queda-e-registra-82

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

São Paulo receberá R$ 2,6 bilhões para novo sistema de abastecimento de água (Agência Brasil)

A água do novo sistema, que virá do Rio São Lourenço, será captada a 83 quilômetros da capital e armazenada na Represa do França

A presidenta Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assinaram hoje (4) contrato para construção de um novo sistema de abastecimento de água para a região metropolitana da capital paulista.

O Sistema Produtor São Lourenço está orçado em R$ 2,6 bilhões e será financiado por meio de uma parceria público-privada, com parte dos recursos oriunda do Fundo de Garantia do Tempo do Serviço, gerido pela Caixa Econômica Federal. A obra vai beneficiar 1,5 milhão de pessoas em sete municípios da parte oeste da região metropolitana de São Paulo e deve reduzir a dependência dos outros sistemas, entre eles o Cantareira, que está em colapso devido à  falta de chuva. A obra está em andamento e deverá ser concluída em meados de 2017.

A água do novo sistema, que virá do Rio São Lourenço, será captada a 83 quilômetros da capital e armazenada na Represa do França.

Alckmin, do PSDB, agradeceu a parceria com a União para a construção do novo sistema de abastecimento de água e disse que a relação entre o governo federal e o estado “é um exemplo de cooperação federativa”.

Dilma também destacou a união entre os governos federal e estadual para enfrentar a crise hídrica na maior cidade do país. “Vou dar sequência à forma de relacionamento que construímos ao longo de quatro anos do meu governo e do governador Alckmin em São Paulo”, ponderou.

“Não é possível o Brasil ter uma situação ameaçando a capital do maior estado do país e a maior cidade da América Latina. Por isso estamos aqui fazendo esta parceria, em beneficio não só da população da cidade, do estado de São Paulo, mas de toda a população brasileira, uma vez que temos um processo no Brasil em que cada estado depende do crescimento dos outros para ter mercado interno, uma política industrial, um desenvolvimento agrícola compatível com a prosperidade do país”, disse  Dilma.

A presidenta explicou que as diferenças partidárias entre o governo federal e administração de São Paulo, comandados pelo PT e o PSDB respectivamente, ficaram para trás com o fim da eleição. “Durante a campanha, é natural divergir, criticar e disputar e mesmo, em alguns momentos, é compreensível que as temperaturas se elevem. Mas temos que respeitar as escolhas legitimas da população brasileira, estamos em um país que preza a democracia”.

Segundo Dilma, os dois governos já estão discutindo um novo conjunto de investimentos na área de segurança hídrica em São Paulo, que serão anunciados no começo do próximo ano.

Dilma e Alckmin também assinaram um contrato de R$ 630 milhões para a ampliação da Linha 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. O trecho compreende 4,4 quilômetros e duas novas estações entre Grajaú e Varginha, na zona sul de São Paulo. Serão R$ 500 milhões do Orçamento Geral da União e R$133 milhões de contrapartida do governo estadual. A obra será entregue até o primeiro trimestre de 2016.

(Luana Lourenço / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2014-12/sao-paulo-recebera-r-26-bilhoes-para-novo-sistema-de-abastecimento-de-agua

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

Escassez de água pode afetar 55% dos municípios em 2015, diz ANA (Agência Câmara Notícias)

Representantes de organizações e do governo apontaram para a necessidade de um plano de segurança hídrica

Apesar de o problema da crise hídrica ser mais evidente em São Paulo, dados da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer deficit de abastecimento até 2015. O alerta foi feito nesta quinta-feira (4), em audiência sobre a crise da água no Brasil, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Os participantes chamaram atenção para outras bacias do País, como a do São Francisco.

De acordo com a ANA, o Brasil já está trabalhando em um plano nacional de segurança hídrica. O documento está sendo elaborado pela Agência de Águas e pelo Ministério da Integração Nacional a partir de conversas com os estados e deverá ficar pronto entre 2015 e 2016.

A expectativa do superintendente da ANA Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho é que as ações comecem ser implementadas ainda no decorrer do processo, à medida que os problemas forem sendo identificados.

O deputado Sarney Filho (PV-MA), que solicitou o debate, anunciou que vai trabalhar pela criação, na Câmara dos Deputados, de um comitê de crise hídrica. Ele pretende retomar o assunto no início da próxima legislatura, em fevereiro. “É preciso que se tomem medidas urgentes, porque sem água não tem como viver”, afirmou o deputado.

São Paulo
No caso dos problemas de abastecimento de água em São Paulo, situação mais comentada no debate, a percepção dos especialistas é que a crise pode ficar ainda pior se não chover nos próximos meses. E o problema será agravado se o estado não contar com um plano de contingência dos recursos hídricos.

“Se o período chuvoso deste ano se configurar como o do ano passado, essa água não será suficiente para o ano que vem. Independentemente de chover mais ou menos, nós estamos em uma situação bastante crítica”, observou a especialista em gestão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately.

Segundo ela, os sistemas que produzem água para a região metropolitana de São Paulo, como o Cantareira, encontram-se com níveis de armazenamento muito baixos. “O Cantareira está hoje em torno de 8%, isso já considerando duas cotas do volume morto. Ou seja, ele está em um volume negativo, algo em torno de 20% negativo”, complementou a especialista.

A coordenadora do Programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Maria Luísa Ribeiro, relatou que, em Itu, as pessoas ficaram de fevereiro até agora com racionamento de 100%, “sem nenhuma água na torneira, vivendo uma realidade de caminhões-pipa com água sabe-se lá de onde”.

Sarney Filho lamentou a ausência de representantes do governo de São Paulo na reunião.

Oferta e demanda
Especialistas apontaram a política de gestão dos recursos hídricos como um dis principais problemas no processo. Como observou Marussia Whately, a gestão hoje se baseia na oferta de água, sem o devido cuidado com mananciais. Além disso, é preciso lidar com a falta de chuvas e de transparência no sistema. “Enquanto isso, o Brasil vem aumentando o consumo e isso é uma tendência que deve ser levada em consideração”, observou Marussia.

À demanda crescente os governos respondem de uma forma: com a tentativa de aumentar a oferta. “Tenta-se resolver o problema com o aumento da oferta, sempre procurando novas fontes, mas isso tem limitações. Hoje a questão que se coloca é que, antes de procurar novas fontes, você atue na gestão da demanda, no controle de perdas, nessas ações mais fáceis e mais baratas”, defendeu Joaquim Gondim Filho.

Maria Luísa Ribeiro pediu aos parlamentares que coloquem a água em uma agenda estratégica. Ela defendeu ações integradas entre os estados e mais voz para os comitês de bacias hidrográficas e chamou a atenção para a necessidade de combater o desmatamento, que tem forte influência nas secas.

(Noéli Nobre / Agência Câmara Notícias)

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/MEIO-AMBIENTE/478860-ANA-ALERTA-PARA-AGRAVAMENTO-DA-FALTA-DE-AGUA.html

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JC 5080, 8 de dezembro de 2014

Sem chuva, cai nível dos reservatórios em São Paulo (Agência Brasil)

O nível do Sistema Cantareira, que atende a 6,5 milhões de pessoas, passou de 8,1% para 8%

Sem chuva, o nível de todas as represas que abastecem a região metropolitana de São Paulo caiu hoje (7), informou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Segundo a companhia, o nível do Sistema Cantareira, que atende a 6,5 milhões de pessoas, registrava ontem 8,1% e hoje passou a 8%.

O Alto Tietê, segundo maior sistema de São Paulo, também apresentou queda, passando de 5% para 4,8%. O Guarapiranga, que atende a 4,9 milhões de pessoas, está operando com 32% de sua capacidade. Os sistemas Alto Cotia e Rio Claro operavam com 29,7% e 29,4% de suas capacidades, respectivamente. O Sistema Rio Grande opera com 62,5% da capacidade.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), não há previsão de chuvas para a capital paulista hoje. Amanhã (8), entre o final da tarde e início da noite, a chegada de uma brisa marítima aumentará a nebulosidade e pode favorecer a ocorrência de chuva na forma de pancadas isoladas.

(Elaine Patricia Cruz / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/sem-chuva-cai-o-nivel-dos-reservatorios-de-sp

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O possível colapso do Cantareira (Estadão)

O possível colapso do Cantareira

22.11.2014 | 03:00

O Estado de S. Paulo

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o governo estadual estão se comportando como médicos do século passado. Sabendo que a doença é séria, se recusam a discutir o futuro com o paciente. Fazem o que podem para curar o doente, mas o poupam da angústia de enfrentar a realidade. Hoje, os médicos são educados para contar a verdade. Isso causa angústia, mas ao menos não priva o doente da liberdade de decidir como e onde quer viver enquanto espera o desfecho.

O Sistema Cantareira está se aproximando rapidamente do colapso. Quando não for possível retirar mais água das represas, 6 milhões de pessoas ficarão literalmente sem uma gota de água. É a parte da população de São Paulo que só pode ser abastecida pelo Cantareira. Esta é uma possibilidade real, cuja probabilidade é difícil de calcular. É por isso que vou tentar descrever de maneira objetiva a realidade hoje, deixando para os leitores as especulações sobre o futuro. Todos as informações foram extraídas de documentos oficiais da Agencia Nacional de Águas (ANA), do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e da Sabesp.

Gráficos

O Sistema Cantareira é composto por três represas. As duas maiores, Jaguari/Jacareí e Atibainha, representam 92% do sistema. Quando cheia até a borda, a Represa Jaguari/Jacareí (acompanhe pelo quadro nesta página) atinge a conta 844 (ou seja, 844 metros acima do nível do mar), armazena 1,047 bilhão de m3 de água (um m3 são 1.000 litros) e cobre uma área de 50 km2 (cada km2 corresponde a 100 quarteirões). No último dia 18, ela estava na cota 815,5, tendo baixado 28,5 metros, e continha somente 140 milhões de m3 de água (13,3% do máximo). Sua superfície cobria somente uma área de 16 km2, deixando 34 km2 de terra e lama expostos (é o que você pode ver nas fotografias publicadas diariamente).

Neste dia, foi iniciada a retirada da segunda fração da reserva técnica – também chamada de volume morto -, o que vai reduzir o volume para 42 milhões de m3 (4% do máximo) e reduzir a área coberta por água para 8 km2. O barro vai cobrir 84% da área da represa (o quadro mostra os mesmos números para a Represa do Atibainha).

É muito difícil acreditar que seja possível extrair dessas represas uma reserva técnica 3. Se ela existir, será muito pequena. A reserva técnica 1, de 182,5 milhões de m3, já foi consumida. A reserva técnica 2, de 106 milhões de m3, já começou a ser retirada da Represa de Jaguari/Jacareí e praticamente já foi toda retirada da Represa do Atibainha.

Os dados mostram que ainda restam 232 milhões de m3 nessas duas represas, sendo possível retirar 99 milhões de m3. Grande parte do restante não será possível utilizar.

Quando o nível da água baixou para 820, a água deixou de fluir por gravidade para o túnel. Para evitar a interrupção do fornecimento, foi construído um dique em volta do túnel. Grandes bombas flutuantes transportam a água para o interior do dique, de onde ela flui pelo túnel. Dessa maneira, foi possível retirar a chamada reserva técnica 1. Quando a água da parte de fora do dique acabou, um segundo dique foi construído, isolando um grande braço da represa para permitir a retirada da reserva técnica 2. Nesse segundo dique foi instalado um outro grupo de bombas. Hoje, as bombas do segundo dique transportam a água para esse braço isolado da represa e a água chega no primeiro dique, onde é bombeada novamente para poder alcançar a entrada do túnel. Como os locais em que a Sabesp decidiu instalar esses dois grupos de bombas não têm energia elétrica, grandes geradores movidos a diesel foram transportados até a proximidade das bombas. Caminhões-tanque levam o diesel por estradas precárias para manter os geradores ligados 24 horas. É desse esquema improvisado que agora dependem os 6 milhões de pessoas que recebem água do Sistema Cantareira.

O sistema de bombas é capaz de retirar até 20 m3 por segundo da represa (20 pequenas caixas de água por segundo). Mas o problema é que, atualmente, só chegam às represas, trazidos pelos rios, 6 m3 por segundo de água. Assim, a cada segundo, 14 m3 a mais do que chega são retirados da represa. A rápida velocidade de perda das reservas significa que a, cada dia, a represa perde 1,2 milhão de m3 de água.

Mantido esse ritmo de perdas, é fácil calcular que a duração das reservas atuais é de 79 dias até o término da reserva técnica 2 e de 6 meses até que toda a água existente na represa se esgote.

Para que esse prazo seja estendido é necessário que a entrada de água na represa aumente. Se os atuais 6 m3 por segundo aumentarem para um número menor do que 20 m3 por segundo, a represa vai continuar a ser delapidada, mais lentamente. Se ela chegar a 20 m3 por segundo (o mesmo que as bombas retiram hoje), a represa vai parar de esvaziar. Mas são necessários mais de 20 m3 por segundo, um aumento constante de 4 vezes no fluxo atual dos rios, para que a represa volte a encher.

O problema é que isso não está ocorrendo nestes dois primeiros meses de chuva deste final de ano (outubro e novembro) e não ocorreu nenhuma vez nos meses de chuva do início de 2014 (janeiro, fevereiro, março e abril).

É claro que pode chover, e espero que chova muito, mas se o futuro próximo se comportar como o passado próximo, 6 milhões de pessoas ficarão sem água. E, infelizmente, é impossível abastecer 6 milhões com caminhões-pipa. Como e onde essas pessoas vão viver até que o Cantareira se recupere ou outras represas tomem seu lugar? É isso que eu gostaria de saber.

MAIS INFORMAÇÕES: BOLETIM ANA/DAEE DE MONITORAMENTO DO SISTEMA CANTAREIRA (18/11/2014). PROJEÇÃO DE DEMANDA DO SISTEMA CANTAREIRA, SABESP, 2014, E DADOS DE REFERÊNCIA ACERCA DA OUTORGA DO SISTEMA CANTAREIRA ANA/DAEE, 2013

Crise hídrica em São Paulo – 10 de novembro de 2014

Mais da metade das 54 nascentes de SP estão secas, revela pesquisa (Portal do Meio Ambiente)

PUBLICADO 04 NOVEMBRO 2014.

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Desrespeito do homem pela natureza é a principal causa. Pesquisa da Unesp foi feita no interior de São Paulo.

Uma pesquisa feita por biólogos da UNESP revela uma situação alarmante, no interior de São Paulo. Mais da metade das 54 nascentes de água que estão sendo monitoradas secaram na última década. A falta de chuva agravou o problema, mas a causa principal é o desrespeito do homem pela natureza.

Em 2003, os pesquisadores recolheram amostras de dezenas de córregos e nascentes do interior de São Paulo. Agora, eles voltaram a esses locais e constataram que a situação piorou muito. “Nesse período a gente conseguiu quantificar que 81% desses riachos anteriormente mostrados, perderam qualidade aquática de maneira geral e perderam volume de água”, fala a pesquisadora da UNESP Lilian Casatti.

Das 54 nascentes documentadas na pesquisa, 34 tem menos da metade de água que tinham há dez anos e 29 estão secas. É o caso da nascente do rio São José dos Dourados, um dos mais importantes da região noroeste de São Paulo. Até pouco tempo atrás, a área era coberta de água e agora a nascente simplesmente desapareceu e deu lugar a um caminho tomado de lixo.
Em outra nascente, a do Rio Preto, um dos mais importantes do interior paulista, quase não dá para ver água. Foto feita pelos pesquisadores há onze anos mostra uma área bem diferente. Dava para ver o curso da água bem definido. Agora ele quase não aparece. No lugar cresceu uma vegetação típica de terrenos assoreados.

“O que é o assoreamento, nada mais é que a entrada de terra dentro desses riachos. Essa vegetação só cresce em locais úmidos e locais que tem um substrato – uma terre para ela crescer porque ela é enraizada”, explica a pesquisadora da UNESP Jaquelini Zeni.
O que faltou na maior parte das nascentes que secaram são as chamadas matas ciliares. Elas impedem que terra, areia e outros sedimentos acabem bloqueando a saída da água nas nascentes.

Há dez anos, uma das nascentes quase não tinha água. Nesse período, a área foi toda reflorestada e hoje, apesar da seca recorde em São Paulo, a água está em quantidade bem razoável. “A gente tem que começar a plantar realmente árvores nesses riachos, do lado desses riachos pra gente poder daqui um tempo colher água, porque senão, a gente vai enfrentar situações extremas, como a gente está vendo”, completa Jaquelini.

Veja a matéria no site do Jornal Hoje

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10/11/2014 – 12h50

Falta d’água: não é uma crise ocasional (IHU On-Line)

por Patricia Fachin e Andriolli Costa, do IHU On-Line

Entre as razões que explicam a crise hídrica e de abastecimento no estado de São Paulo, “uma mudança climática intensa” é, “sem dúvida”, o elemento central para compreender a “maior crise de abastecimento e a maior crise hídrica nos últimos 100 anos”, diz o pesquisador José Galizia Tundisi à IHU On-Line, em entrevista concedida por telefone.

“As causas dessa crise estão relacionadas a uma seca muito intensa e à falta de precipitação. Para dar um exemplo, em outubro deste ano teríamos de ter tido 130 milímetros de chuva, como é o esperado, mas tivemos só 30”, exemplifica.

Na avaliação do especialista, a “magnitude da crise” foi uma surpresa, mas a resolução do problema não passa por “fazer mais do que já estava sendo feito”. Segundo ele, “o estado de São Paulo tem um sistema de controle de qualidade e quantidade de água bem estabelecido” e, portanto, “nem o Sistema Federal, nem o Sistema Estadual poderiam fazer muito mais, dada a magnitude da crise e a rapidez com que ela ocorreu”. Tundisi critica e alerta a politização que tem sido feita em relação ao tema. “Não poderia haver uma politização da crise, uma vez que isso não é benéfico para ninguém”, pontua.

De acordo com ele, o “Sistema da Cantareira está sofrendo uma enorme depressão de volume de água”, e se não chover nos próximos 30 dias “vamos ter de usar as últimas reservas de água do Cantareira e a partir daí tenho impressão de que deverão ser mobilizados outros tipos de transposição de águas, de outras represas, para que com isso se possa aportar mais água ao sistema e para que ele não entre em colapso”, esclarece.

Tundisi explica ainda que a crise hídrica pode ser estendida a outros estados brasileiros, pois há um “desequilíbrio hidrológico”. “Estamos passando por uma série de mudanças climáticas muito sérias, está havendo extremos hidrológicos. (…)Há um processo de desequilíbrio hidrológico em algumas áreas, por exemplo, em áreas muita secas, há excesso de chuva. Por outro lado, a seca no Nordeste esse ano foi a maior dos últimos cinquenta anos, e o excesso de chuva e de precipitações no Sul resultou que, nas Cataratas do Iguaçu, em julho deste ano, houve um excesso de 46 milhões de litros de água por segundo despejados, sendo que a média é um milhão e meio, ou seja, há desequilíbrios. Portanto, é com esses problemas regionais e continentais que o país terá de lidar”.

José Galizia Tundisi é graduado em História Natural, mestre em Oceanografia na University of Southampton e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor titular aposentado da USP e professor titular do curso de Qualidade Ambiental da Feevale. É presidente da Associação Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental – IIEGA e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia – IIE. Suas pesquisas são financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

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Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais são as razões da crise de abastecimento de água em São Paulo?

José Tundisi – A principal razão, sem dúvida nenhuma, é uma mudança climática muito intensa que está ocorrendo, e disso temos praticamente a maior crise de abastecimento e a maior crise hídrica nos últimos 100 anos. E, portanto, as causas dessa crise estão relacionadas a uma seca muito intensa e à falta de precipitação. Para dar um exemplo, em outubro deste ano deveríamos ter tido 130 milímetros de chuva, como é o esperado, mas tivemos só 30, portanto, essa é a causa principal.

IHU On-Line – Durante a disputa eleitoral deste ano, a crise de abastecimento de água foi usada como método de acusação de um partido contra o outro. Era possível em âmbito federal e estadual ter tomado medidas que evitassem essa crise?

José Tundisi – Acredito que não. O estado de São Paulo tem um sistema de controle de qualidade e quantidade de água bem estabelecido há muito tempo e não se trata de fazer mais do que já estava sendo feito. Na verdade houve, sob certo ponto de vista, uma surpresa até na magnitude da crise, porque se esperava uma crise, mas não dessa magnitude.

A crise vem se estabelecendo já há alguns anos, mas havia uma diminuição. De todo modo, acho que nem o Sistema Federal nem o Sistema Estadual poderiam ter feito muito mais, dada a magnitude da crise e a rapidez com que ela ocorreu, porque a crise foi muito rápida, de modo que em outra entrevista, dada ao jornal Folha de S. Paulo, eu já tinha alertado que não poderia haver uma politização da crise, uma vez que isso não é benéfico para ninguém.

Continuo achando isso e continuo dizendo que deve haver uma união de esforços no sentido de procurar soluções de longo prazo e que sejam mais adequadas. Na verdade, o que está se desenhando é que a crise será muito mais longa do que parece; ela não é uma crise ocasional, é uma crise quase que permanente pelo menos por alguns anos. E evidentemente é preciso encontrar soluções que enfrentem esse problema de uma forma por um lado emergencial e, de outra, com medidas estruturais e não estruturais de longo prazo.

IHU On-Line – É possível pensar que uma crise de abastecimento, tal qual ocorre em São Paulo, se alastre por outros estados brasileiros?

José Tundisi – É possível, sim. Nós estamos passando por uma série de mudanças climáticas muito sérias, estão ocorrendo extremos hidrológicos, porque quando se fala em crise de água, quer dizer que em alguns casos no Brasil há excessos hidrológicos, que é o próprio caso do Rio Grande do Sul. Portanto, há um processo de desequilíbrio hidrológico, em algumas áreas com muitas secas, e, em outras, com excesso de chuva. Por exemplo, a seca no Nordeste este ano foi a maior dos últimos cinquenta anos, enquanto o excesso de chuva e de precipitações no Sul resultou que, nas Cataratas do Iguaçu, em julho deste ano, houve um excesso de 46 milhões de litros de água por segundo despejados, sendo que a média é um milhão e meio. Portanto, é com esses problemas regionais e continentais que o país terá de lidar.

IHU On-Line – Quais são os reservatórios de água considerados críticos hoje no país?

José Tundisi – Se você olhar as hidrelétricas de Minas Gerais, por exemplo, elas têm problemas, Furnas também, todos os reservatórios do Rio Grande do sul, do Paranapanema, do próprio Tietê, têm problemas de seca. A hidrovia Tietê-Paraná parou de funcionar por causa da seca e, portanto, a crise atinge uma área grande do Brasil, atinge também uma parte do Rio de Janeiro e uma parte do Paraíba. Portanto, todo esse conjunto deve ser considerado como uma séria ameaça à economia e à saúde pública do país e a uma grande parte da população do país, que se concentra principalmente na região Sudeste.

O que é muito significativo é que se fala muito em “quantidade de água”, mas não existe uma preocupação com “qualidade de água” e esse é outro problema. Inclusive levantei essa questão na semana passada com o presidente da Academia Brasileira de Ciências, e sugeri que a Academia faça um alerta aos governos federal, estaduais e municipais para chamar a atenção para o problema da qualidade da água e da saúde pública associada à seca ou às enchentes, porque isso também tem problemas com as enchentes.

O pessoal quer água, muito bem, mas que tipo de água? O que essa água vai causar? Hoje, em certas regiões de São Paulo, se distribui água em caminhões-pipa. De onde vem essa água e qual a sua qualidade? Então isso precisa ser considerado.

IHU On-Line – Quem é o presidente atual da Academia Brasileira de Ciências e qual a posição que a academia demonstrou?

José Tundisi – O presidente atual é o professor Jacob Palis. A Academia Brasileira de Ciências vai fazer uma reunião dias 21 e 22 de novembro em São Paulo, juntamente com a Academia de Ciências do Estado de São Paulo, para discutir a crise de abastecimento e a seca no Sudeste do estado. Aí vai ser discutido e provavelmente vamos apresentar um comunicado ao país em função da discussão dos especialistas; seguramente deveremos produzir um documento que vai incluir também a questão da qualidade e um alerta às secretarias da saúde, por exemplo, com a finalidade de que se possa chamar a atenção para o problema e pedir que as autoridades tomem medidas preventivas de extremo cuidado com relação à qualidade da água.

IHU On-Line – Qual o papel de cientistas e especialistas para chamar a atenção dos poderes públicos para as medidas mais efetivas no combate e prevenção nesse tipo de crise?

José Tundisi – Nós temos de atuar de uma forma propositiva e ao mesmo tempo de alerta, propondo medidas seguras para que se possa enfrentar a crise. Vou dar um exemplo: uma represa que é frequentada por cerca de 10 mil pessoas nos finais de semana, que não tinha nenhum problema de qualidade de água, começou a apresentar problemas severos de qualidade de água na região de São Carlos, de Pirapina e de Brotas, e isso me obrigou a escrever um laudo aos prefeitos dessas cidades, aos secretários da saúde e à promotoria pública no sentido de impedir o contato direto da população com essa água, ou seja, impedir o banho, porque as condições de balneabilidade da represa, em 43 anos, superaram e muito as condições mínimas da Organização Mundial da Saúde para a balneabilidade. Então, o que nós temos de fazer é alertar os poderes públicos e os sistemas de controle de vigilância sanitária para impedir que a população possa, por exemplo, utilizar a água de má qualidade e sofrer efeitos de saúde. Nós não temos o poder de impedir isso, mas os setores públicos têm, e a nossa função é alertá-los para que eles possam tomar as medidas necessárias.

IHU On-Line – Qual é a atual situação do Sistema da Cantareira?

José Tundisi – O Sistema da Cantareira está sofrendo uma enorme depressão de volume de água, e com isso nós estamos esperando que se não chover dentro de mais ou menos 30 dias, vamos ter de usar as últimas reservas de água da Cantareira. A partir daí tenho a impressão de que deverão ser mobilizados outros tipos de transposição de águas, de outras represas, para que com isso se possa aportar mais água ao sistema e para que ele não entre em colapso.

No caso de São Paulo especificamente, o problema não é só para abastecimento público; a hidrovia fechou, mas a hidroeletricidade é fundamental, porque, por exemplo, São Paulo é o maior produtor de suco de laranja do mundo, São Carlos é um dos maiores produtores de etanol do mundo, e tudo isso depende de água e de abastecimento. Bom, esse é um problema que deve ser considerado dentro de um contexto mais amplo, não só de abastecimento público, de modo que a questão da Cantareira entra na questão do abastecimento público, mas há outros problemas subjacentes de saúde pública, de economia, geração de emprego e renda, por exemplo, de queda na produção, os quais devem ser considerados.

IHU On-Line – Especialistas dizem que o desmatamento em bacias hidrográficas contribui para diminuir a quantidade e a qualidade das águas. Quais são as bacias hidrográficas de São Paulo mais degradadas e por quais razões elas se encontram em tal estado?

José Tundisi – São várias razões. Apesar dos esforços que têm sido feitos para a recuperação de bacias hidrográficas, com reflorestamento, etc. — e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP tem tido um papel fundamental nesse projeto de recuperação da biodiversidade terrestre através do reflorestamento, porque ela teve um grande programa que mobilizou justamente no sentido de restaurar bacias hidrográficas —, nós temos algumas bacias, especialmente nas regiões metropolitanas, que sofreram esses processos de desmatamento. No interior do estado também, por causa da urbanização, há um impacto de desmatamento dos mananciais em muitas cidades; por outro lado, algumas cidades utilizam recursos hídricos subterrâneos, que também estão sob pressão. Então, entre essas causas todas, sem dúvida nenhuma, o desmatamento é um dos problemas mais sérios da escassez de água.

IHU On-Line – Qual o nome das bacias em estado crítico?

José Tundisi – Bacia do Baixo Cotia, na região metropolitana de São Paulo; no Rio Sorocaba tem um programa de reflorestamento muito bem sucedido, no Rio Jundiaí também, no Rio Jacaré Pepira também. Já outros rios afluentes do Tietê, por exemplo, na Bacia do Tietê Jacaré, sofreram desmatamento forte por causa da plantação de cana-de-açúcar. Então, não é algo contínuo, é espalhado no estado em função dos impactos da urbanização, da industrialização e da agricultura.

IHU On-Line – Como e em que sentido a degradação dos biomas brasileiros impacta nos recursos hídricos? Nesse sentido, qual é o papel do Cerrado para garantir o abastecimento de água no país?

José Tundisi – O Cerrado tem um papel importante porque tem um milhão e meio de metros quadrados, mas o bioma foi muito impactado com o movimento da agroindústria, especialmente de soja, e evidentemente a recomposição das áreas de mananciais no Cerrado é uma das grandes prioridades. Nessa próxima etapa de governo — e eu dizia isso antes da eleição, qualquer que fosse o governo —, o grande fator de mobilização pode ser um megaprojeto de reflorestamento no Brasil todo; isso gera empregos, protege o meio ambiente, os mananciais, a qualidade da água, porque, em regiões onde há proteção a partir do manancial, se gasta muito pouco para tratar a água. Em contrapartida, num manancial degradado, sem cobertura vegetal e sem proteção, o custo do tratamento pode ser até cem vezes maior. Portanto, há uma relação muito forte entre a questão da proteção da biota terrestre, especialmente a vegetação e a biodiversidade terrestre, e a qualidade e quantidade de água. Isso é fundamental para restaurar as reservas hídricas do país; isso em nível de Brasil, não é apenas em São Paulo.

IHU On-Line – Já é possível vislumbrar os impactos do Código Florestal nos recursos hídricos? Quais são os principais equívocos do Código Florestal aprovado há pouco mais de dois anos sobre os recursos hídricos?

José Tundisi – Por enquanto, ainda não, até porque esse Código Florestal já vem sendo “estuprado” há muito tempo, não é de agora que ele tem sido alterado. Eu fui muito contra o estabelecimento de metas físicas para proteger a vegetação ao longo dos rios, porque se falou muito em cinco metros, dez metros, trinta metros. Isso não existe; o que existe é o rio e a sua calha e a área de inundação do rio. A proteção deve ir até onde o rio pode inundar as suas margens, porque aí é que está a vegetação que tolera a inundação: podem ser cinco, dez ou cem metros. Essa questão é que precisaria ser discutida, mas não foi. É o rio e a sua calha, e não a metragem fixada pelo homem. Não é o homem quem tem que fixar a metragem até onde vai a vegetação; quem tem que fixar essa metragem é a capacidade de manter o ecossistema funcionando.

IHU On-Line – Em sua opinião, quais são os outros equívocos que o Código Florestal traz?

José Tundisi – Faltou uma visão mais clara de incentivos em relação à proteção. Precisaria ser mais incisivo com relação aos incentivos que se pode dar para aqueles que protegem as áreas de vegetação e o próprio reflorestamento. A recomposição de serviços dos ecossistemas, por exemplo, e o pagamento de serviços ambientais, poderiam ter sido mais enfatizados nesse projeto.

IHU On-Line – Que medidas estão sendo desenvolvidas para resolver o problema de abastecimento em São Paulo?

José Tundisi – As medidas emergenciais são aquelas que o governo está tomando em função da transposição de água de alguns reservatórios para outros. São Paulo está fazendo também uma adutora grande que vai buscar água no Rio São Lourenço, na região sul do estado de São Paulo, e que traria mais água para o abastecimento, mas isso vai demorar mais um pouco. De todo modo, emergencialmente estão sendo efetuadas medidas de transposição de água de bacia, também estão sendo efetuados incentivos para que as pessoas utilizem menos água, ou prêmios com bônus para que as pessoas economizem água, o que também é importante nessa questão; e, também, em áreas críticas, a disponibilização de caminhões-pipa para abastecer as cidades onde há situações muito críticas. Ainda precisa mais, deve-se pensar em transposição de água de outras regiões, em dessalinização de água na Baixada Santista, o que pode ser um fator importante de produção de água doce em larga escala para a população da região metropolitana, de modo que essas medidas ainda não foram tomadas, mas seguramente nós vamos influenciar para que elas possam ser tomadas.

IHU On-Line – O que a crise hídrica de São Paulo revela sobre o sistema hídrico brasileiro?

José Tundisi – Falhas da governança, falhas na capacidade de mensuração, principalmente da qualidade da água e monitoramento integrado. Além disso, o tripé qualidade da água, quantidade de água e governança está desconectado. O principal problema é este, de todos os lados nós temos falhas. Temos uma excelente lei de recursos hídricos, mas cuja implementação é muito lenta e de difícil desenvolvimento, e, além disso, há um problema de governança: os nossos comitês e agências de bacias deveriam estar funcionando em todo território nacional, com recursos próprios gerados na bacia para recuperação dessas bacias. Então, lentidão nas execuções da lei de recursos hídricos, que eu repito, é uma das melhores do mundo, e integração muito pouco efetiva entre quantidade de água, qualidade de água e governança, e mais participação popular na economia de água.

IHU On-Line – Ainda que não possamos politicalizar a crise, não é importante cobrar dos nossos políticos que eles desenvolvam um pensamento mais sistêmico, que seja capaz de fazer ligações entre, por exemplo, o desmatamento e os incentivos a uma exploração desenfreada e a falta de água, é pensar não só as causas, mas o sistema que leva a isso?

José Tundisi – Claro, completamente de acordo. Isso precisa ser feito com urgência. O Congresso precisaria se mobilizar para poder colocar leis de incentivos mais efetivas e leis de estímulo à mobilização, e também pensar de uma forma mais ampla em todo o sistema de gestão de águas no Brasil com mais competências das agências, a capacidade de integração das agências federais com as agências estaduais e inclusive com o sistema municipal.

Na região do Sul, especialmente no Vale do Rio dos Sinos, que conheço bem — sou professor titular da Universidade Feevale —, temos trabalhado muito essa questão do Vale do Rio dos Sinos e a integração do comitê de bacias, do qual a Unisinos e a Feevale fazem parte, e outras universidades da região mais as prefeituras. Isso tem de ser integrado de uma forma mais efetiva, com o apoio do governo estadual e do governo federal, de tal forma que isso possa ser realmente um conjunto de ações efetivas.

O problema todo é que no Brasil tem bons projetos, bons planos e fraca execução. Esse é o eterno problema deste país: a execução é fraca, é falha e lenta. Esse é o problema do Brasil em todas as áreas, especialmente nos setores públicos federal, municipal e estadual. Tem bons planos, bons projetos, tem recursos, e na hora de executar existem grandes falhas, ou porque os executores não foram treinados, ou porque os executores não têm essa visão sistêmica ou então têm essa visão mais setorizada do processo, mas o principal é capacitação. Por isso nós estamos fazendo um grande esforço para capacitar gestores, para capacitar gerentes, para capacitar pesquisadores que se integrem ao sistema de gestão e com isso melhorar o processo de execução.

* Publicado originalmente no site IHU On-Line.

(IHU On-Line)

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10/11/2014 – 10h59

Nível de água volta a cair no Cantareira e em cinco mananciais de SP (Agência Brasil)

por Marli Moreira, da Agência Brasil

Sistema Cantareira atinge volume zero em 2014 mes de junho20140515 0003 406x270 Nível de água volta a cair no Cantareira e em cinco mananciais de SP

O nível do Sistema Cantareira teve nova queda ao passar de 11,4%, ontem (9), para 11,3% hoje (10), incluindo a segunda cota da reserva técnica, segundo informa a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Esse manancial e os cinco restantes no estado devem continuar caindo até quarta-feira (12), quando o tempo permanecerá seco.

De acordo com o meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), de hoje até quarta-feira, predominará o clima com sol entre nuvens e temperatura agradável.

“Com a passagem de uma frente fria vinda do oceano poderemos ter o ar mais úmido e alguma chance de áreas de instabilidade já na noite de quarta-feira e pancadas de chuva na quinta-feira, mas serão de curta duração”, informou.

Schneider disse que as áreas de instabilidade deverão se deslocar rumo à região central do país passando pela zona da mata, em Minas Gerais, e no Espírito Santo.

Ontem (9), com apenas garoa em pontos isolados, também ocorreram baixas nos reservatórios dos demais sistemas de abastecimento: o Sistema Alto Tietê (de 8,3% para 8,2%); o Guarapiranga (de 36,6% para 36,4%); o Alto Cotia (de 30,4% para 30,3%); o Rio Grande (de 67,1% para 66,8%) e o Rio claro (de 39,2% para 38,5%).

Na semana passada, o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, defendeu a necessidade de se aumentar a produção de água em São Paulo para algo em torno de 60 metros cúbicos por segundo, até 2035. Na avaliação dele, além da construção de novos reservatórios, o ideal é minimizar as perdas na distribuição e buscar alternativas de reuso.

* Edição: Marcos Chagas.

** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

(Agência Brasil)

*   *   *

10/11/2014 – 10h08

Edital prevê plantio de 1 milhão de mudas no Cantareira (SOS Mata Atlântica)

por Redação da SOS Mata Atlântica

restauracao centro mudas clickarvore 614x430 Edital prevê plantio de 1 milhão de mudas no Cantareira

A Fundação SOS Mata Atlântica lançou edital para seleção de áreas prioritárias para a restauração florestal da Mata Atlântica, com propostas que colaborem para conservar e proteger os recursos hídricos do Sistema Cantareira.

Por meio do programa Clickarvore, que apoia iniciativas e projetos de restauração florestal, serão investidos até R$ 2 milhões em propostas enviadas até o dia 15 de janeiro por pessoas físicas ou jurídicas, associações, OSCIPs ou ONGs ambientalistas e por proprietários de terras.

A chamada pública, com recursos do Bradesco Cartões e Bradesco Seguros, prevê a doação de até 1 milhão de mudas de espécies florestais nativas da Mata Atlântica.

O objetivo é recuperar até 400 hectares de mata, promovendo assim a conservação de 4 milhões de litros de água por ano na área de abrangência do Sistema Cantareira. Em meio a uma crise hídrica, o conjunto de bacias há 30 anos convive com quase 80% de desmatamento de sua cobertura florestal nativa e hoje possui apenas 48,8 mil hectares de remanescentes, ou 21,5% de sua área de Mata Atlântica original.

As propostas, para áreas entre 15 e 30 hectares, deverão ter como foco principal as Áreas de Preservação Permanente da Bacia Hidrográfica e mananciais que compõem o Sistema Cantareira.

Acesse o edital aqui.

Os projetos do edital irão beneficiar até 12 municípios de São Paulo e Minas Gerais, com a respectiva porcentagem de vegetação nativa existente:

cantareira Edital prevê plantio de 1 milhão de mudas no Cantareira

Todas as propostas devem ter prazo de conclusão até 11 de dezembro de 2015.

Para mais informações, acesse o documento completo em http://bit.ly/Click-2014.

* Publicado originalmente no site SOS Mata Atlântica.

(SOS Mata Atlântica)

Quando vai acabar a água do Cantareira e do Alto Tietê? Cenários, por Sérgio Reis (Luis Nassif Online)

SAB, 01/11/2014 – 08:08

Para “celebrar” o 29º artigo a respeito da crise hídrica, resolvi montar um fluxograma para tentar explicar didaticamente aos leitores o futuro dos sistemas Cantareira e Alto Tietê. O fundamento desse exercício é basicamente a questão: nas condições atuais, até quando eles vão durar?

A maneira básica para estipular esse prazo se dá por meio de uma técnica chamada de “construção de cenários”. Em linhas gerais, trata-se de determinar, com base em algum critério razoável, como se comportarão determinadas variáveis consideradas importantes para a explicação do resultado que se está tentando prever.

Considerando-se a gravidade da crise hídrica e a validade do próprio argumento, exaustivamente empregado pelo Governo Alckmin, a respeito da excepcionalidade hidrológica e pluviométrica enfrentada, seria óbvio admitir como cenário possível (e, até mesmo, provável), a continuidade das condições atuais ao longo dos próximos meses. Isso é particularmente evidente quando notamos que não há, até o presente momento, elementos que nos forneçam indícios de que o futuro será radicalmente diferente.

No entanto, o “plano de contingência” delineado pela SABESP não fez isso. Pelo contrário, construiu 3 cenários e considerou, como o pior deles, a repetição da estiagem de 1953 (sendo os outros a própria média histórica e o equivalente a 50% dessa média, em todos os casos a partir das vazões de entrada de água). O problema é que, em 2014, observamos que a água que entra no sistema tem equivalido a apenas 44% desse pior ano. Se já faria pouco sentido não considerar o prolongamento desse contexto vigente como o mais plausível na confecção do planejamento, sequer considera-lo como um cenário a ser desenhado beira a mais absoluta irresponsabilidade.

Por óbvio, contudo, a razão para essa não admissão desse contexto nos cálculos (e apenas a sua utilização como retórica de defesa para justificar a crise) está, simplesmente, no fato de o governo não dispor de alternativas para o caso de a escassez permanecer. E não seria nada alentador, é claro, se a SABESP confessasse isso ou plotasse os dados desse cenário mais adverso em seus relatórios.

Para contribuir nesse sentido, resolvi montar dois fluxogramas: um para o Sistema Cantareira, outro para o Alto Tietê. Para o caso do Cantareira, o que fiz foi: 1) calcular, para o período considerado crítico do ponto de vista da estiagem (Janeiro-Outubro/2014) qual a relação percentual entre as vazões de entrada e as vazões médias históricas (22,43%); 2) utilizar o valor encontrado para estipular as vazões de entrada para os próximos meses, considerando-se esse referencial; 3) admitir a vazão média de saída de 22,5 m³/s (aproximadamente a atual, a partir da soma entre os 18 m³/s que vão para São Paulo – valor prometido pela SABESP – com os 4,5 m³/s enviados para as cidades da Bacia do PCJ – valor atual); 4) calcular o déficit diário e mensal, a partir das variáveis acima.

O resultado pode ser conferido abaixo:

Como é possível observar na figura, busquei considerar outras questões possíveis, como a eventual impossibilidade de extrair toda a 2ª cota do volume morto, ou a judicialização da questão a partir da extração da 3ª cota (que impedirá, nas condições atuais, o envio obrigatório de água para o PCJ), ou ainda a inviabilidade técnica de extração, na parte ou no todo, dessa 3ª cota. De todo modo, fica claro perceber que, mesmo que seja possível retirar toda a água restante no Sistema – sem qualquer óbice operacional –, notamos que o Cantareira duraria até 21 de Julho de 2015. A partir daí, ele estaria totalmente esgotado, e passaríamos a viver em uma situação ainda pior do que a observada, atualmente, para a cidade de Itu. Seria o caos completo para, pelo menos, 10 milhões de habitantes.

Dadas as crescentes dificuldades operacionais, contudo, é válido supor que o esgotamento (ou a inviabilidade da continuidade do abastecimento) ocorreria antes – talvez em Abril, quando o Sistema se encontraria, aproximadamente, com – 31% de sua capacidade operacional (o valor, em Abril de 2014, era de 15% positivo). Como sabemos, não parece o Governo dispor, pelo menos para daqui a 2 ou 3 anos, de alternativas capazes de compensar devidamente o esgotamento do Cantareira. O futuro, nesse cenário, é o da total e absoluta falta de água para todas as atividades humanas – das mais triviais e satisfacionais, até aquelas relacionadas à produção agrícola, comercial e industrial. O impacto disso sobre a vida em sociedade é incalculável.

No Alto Tietê, a situação ainda é incrivelmente mais dramática

Se a situação do Cantareira é apavorante, no Alto Tietê ela é nada menos do que indescritível. Para a construção do fluxograma abaixo, voltado a apresentar a continuidade do cenário atual, admitimos: 1) a continuidade das vazões atuais de saída, de cerca de 15 m³/s; 2) a manutenção dos padrões de déficit atuais (verificados, pelo menos, desde Julho, quando iniciei um monitoramento diário do Sistema) para as represas de Paraitinga e Ponte Nova (de cerca de 520 milhões de litros ao dia) e para as represas de Biritiba-Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba (de cerca de 346,65 milhões de litros ao dia); 3) o cálculo dos déficits diárias, verificando-se o impacto deles nas reservas remanescentes das represas.

A confecção desse cenário resultou no seguinte fluxograma:

Notamos, então, que a extrema gravidade da situação do Alto Tietê pode ser percebida a partir do fato de que, mesmo que admitamos a completa extração dos volumes mortos de Biritiba-Mirim e de Jundiaí, o Sistema se esgota completamente em meados de Janeiro (no dia 15, de acordo com a simulação). Isso significa o fim do abastecimento para mais de 5 milhões de pessoas, em um prazo seis meses mais cedo do que o identificado para o Cantareira.

Vale dizer que a contabilidade dos volumes mortos sequer tem sido admitida pela SABESP, embora ela já esteja a pleno vapor, há várias semanas, no caso da represa de Biritiba (mais de 4 bilhões de litros já foram retirados). Os estudos, para esse sistema, são bem mais precários, de forma que temos muito menos noção de se, efetivamente, toda essa água situada abaixo dos níveis operacionais poderia ser, de fato, extraída. Qualquer imprevisto nessa condição significaria o desabastecimento já para Dezembro ou, até mesmo, para Novembro.

No caso do Sistema Cantareira, um Comitê Anticrise foi formado, a partir de iniciativa federal, e então forçou-se a gradativa redução da retirada de água dos seus reservatórios (hoje, as vazões de saída correspondem a pouco mais da metade das observadas em Janeiro, logo antes da criação do GTAG). No caso do Alto Tietê, sistema sobre o qual a ANA não possui qualquer interferência legal, a SABESP manteve as elevadíssimas vazões de saída – as quais foram irresponsavelmente autorizadas pelo DAEE em Fevereiro, quando a crise já era óbvia (conforme assinalou a recente – e indeferida – Ação Civil Pública protocolada pelo Ministério Público Estadual). A tragédia desse sistema, então, é a verbalização mais clara da gestão criminosa realizada pelo Governo do Estado de São Paulo.

Em síntese, a crise hídrica vai adquirindo proporções jamais imagináveis para qualquer um de nós mesmo há cerca de 6 meses, quando ela ganhou alguma publicidade. Suas consequências vão se tornando cada vez mais trágicas e tétricas para um público potencial de praticamente 10% da população brasileira. Mais do que nunca, levando-se em conta a completa inação do Governo Alckmin, será preciso que a sociedade – a Academia, as ONGs, os militantes e quem mais se dispuser – tome as rédeas do processo de tentativa de sua superação. A arrogância do governo tucano em lidar com o problema, como já aprendemos por mal, jamais poderá ser a sua solução, mas apenas um lastimável tapar de sol com a peneira – exatamente o contrário do que precisamos.

Os: Abaixo, deixei os links para todos os 28 artigos anteriores que publiquei aqui no Blog do Nassif e no Jornal GGN a respeito da crise hídrica. Conforme sabem os colegas mais assíduos, desde Abril eu tenho buscado informar, a partir de uma perspectiva crítica, a população, compartilhando minhas análises, estudos e achados. Pretendo continuar dando minha contribuição, sabendo, agora, que felizmente, muitos cidadãos igualmente indignados estão se articulando e produzindo conteúdos para que venhamos a refletir e agir sobre essa trágica crise.

  1. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/o-factoide-da-3%C2%AA-cota-do-volume-morto-e-as-futuras-guerras-pela-agua-por-sergio-reis
  2. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/crise-hidrica-sera-que-as-obras-do-segundo-volume-morto-ficarao-prontas-a-tempo
  3. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/o-alto-tiete-chega-ao-volume-morto-e-o-cantareira-ao-fio-da-navalha
  4. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-crise-hidrica-e-culpa-da-falta-de-planejamento-e-gestao-de-alckmin-dados-e-fatos
  5. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/o-levanta-e-corta-entre-mp-e-sabesp-na-crise-da-agua-por-sergio-reis
  6. http://www.jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/sergio-reis-por-que-a-crise-da-agua-nao-impactou-a-eleicao-para-o-governo-de-sp
  7. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/crise-hidrica-a-historica-inco…
  8. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/alckmin-a-entrevista-para-a-fo…
  9. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/o-otimismo-do-governo-de-sp-so…
  10. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/sergio-reis-e-possivel-tirar-m…
  11. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/agua-a-operacao-abafa-da-midia…
  12. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-hora-da-verdade-da-crise-hid…
  13. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-lastimavel-situacao-da-repre…
  14. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/especial-crise-hidrica-na-folh…
  15. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/historia-recente-da-gestao-do-…
  16. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/sistema-alto-tiete-chega-ao-pi…
  17. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-crise-hidrica-no-1%C2%BA-deb…
  18. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-nova-falacia-de-alckmin-e-o-…
  19. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/que-papel-poderia-ter-o-govern…
  20. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/crise-agua-em-sp-como-um-probl…
  21. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/alckmin-a-crise-da-agua-e-o-se…
  22. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-inseguranca-hidrica-de-alckm…
  23. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/um-diagnostico-sobre-a-dramati…
  24. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-estrategia-de-comunicacao-do…
  25. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/um-novo-capitulo-da-crise-da-a…
  26. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-democratizacao-da-midia-como…
  27. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/de-quem-e-a-responsabilidade-p…
  28. http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/a-questao-da-agua-em-sao-paulo

SP sem água, 29 e 30/10 – Nas mãos do Cacique Cobra Coral (Blog da Redação)

141031-altotiete

De como a política do governo Alckmin está esvaziando, um a um, os reservatórios da metrópole — sem que surja a decisão óbvia de racionar. E os sinais de que os homens do palácio, em desespero, convocaram estranho personagem…

Por Camila Pavanelli de Lorenzi

30/10

– Ontem, enquanto todo mundo ria (de desespero) com a notícia “governo de SP consulta Cacique Cobra Coral” (http://glo.bo/1nRRgv1), esta outra, muito mais importante, passou despercebida: o Sistema Alto Tietê, segundo maior manancial de SP, está secando (http://bit.ly/1tQ0YA6). É o que venho repetindo aqui há um tempo: depois de drenar o Sistema Cantareira até a última gota, a Sabesp (com a anuência do DAEE) está fazendo o mesmo com o Sistema Produtor Alto Tietê (SPAT).

– Para entender isso melhor, li a ação que o MPE/SP propôs contra a Sabesp e o DAEE, pedindo a redução da captação do SPAT (http://bit.ly/1wKDGcz).

– Antes de passar à ação, porém, quero responder ao argumento do advogado do diabo. O advogado do diabo diz assim: “Com que então um bando de promotores se acha no direito de gerir os recursos hídricos de SP? A gestão desses recursos é uma questão técnica e a Sabesp e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) sabem (ou pelo menos deveriam saber) o que estão fazendo”.

– A resposta são os próprios promotores que dão: não é a intenção deles assumir o comando da Sabesp ou dos recursos hídricos do estado, e sim fazer com que os réus, DAEE e Sabesp, “cumpram as premissas técnicas”. Portanto, quanto ouvir dizer que ações como esta representam a “judicialização” ou a “politização” duma questão técnica, já sabe: é precisamente o contrário. A Justiça está intervindo exatamente para que o poder público exerça suas atribuições com base em preceitos técnicos.

– Qualquer hora vou propor uma comparação entre a Ação Civil Pública (ACP) referente ao Alto Tietê e a ACP referente ao Cantareira. Hoje, porém, farei apenas um resumo resumidíssimo da ACP do SAPT (http://bit.ly/1wKDGcz):

– A outorga concedida pelo DAEE à Sabesp para explorar o SPAT estipulava vazões máximas de cada um dos rios e afluentes do sistema, totalizando 26.800.000 m3.

– É função do DAEE fiscalizar o cumprimento desse volume de captação e aplicar penalidades à Sabesp caso isso não seja cumprido.

– A própria Sabesp reconheceu que vem extrapolando esse limite desde novembro de 2013 – chegando, em janeiro de 2014, a mais de 39.000.000 m3.

– O próprio DAEE, por sua vez, reconheceu que não fiscalizou a Sabesp nem aplicou qualquer penalidade.

– Em fevereiro de 2014, foi renovada a outorga e o DAEE passou a permitir a retirada máxima de 40.200.000 m3 – aumento este, repare bem, autorizado em plena estiagem.

– Como justificar esse aumento do limite máximo de captação? O DAEE afirma que a Sabesp apresentou estudos técnicos que garantiam a segurança desse volume – e o DAEE aceitou esses estudos sem qualquer contestação ou questionamento.

– O MPE/SP, então, requisitou esse parecer técnico da Sabesp.

– O parecer técnico considera que o aproveitamento pleno do volume da represa Taiaçupeba (uma das que constituem o SPAT) é de 78,5 hm3.

– Ocorre que este volume máximo operacional jamais foi atingido, e só será atingido quando as obras para a ampliação da Represa de Taiaçupeba forem concluídas – “devendo-se considerar que estas obras ainda não foram concluídas por evidente desídia da Sabesp e do DAEE”.

– Há mais de dez anos estão previstas obras para amplaição da ETA Taiaçupeba. O DAEE e a Sabesp não as executaram.

– O volume operacional da represa atualmente está na casa de 21,5 hm3.

– “Desta forma, o que se verifica é que a renovação da outorga do SPAT, com o aumento da captação de água na ETA Taiaçupeba para 15m3/s está fundada em dado ideologicamente falso, falsidade esta de perfeito conhecimento de ambos os requeridos, tendo em vista que são eles os responsáveis pelo licenciamento e execução das obras de ampliação da ETA Taiaçupeba.”

– “Pode-se esperar que o SPAT esteja completamente vazio em meados de novembro próximo. A não ocorrência desta catástrofe depende de dois eventos futuros: 1. A ocorrência de chuvas com intensidade suficiente; (…) 2. A redução da vazão de retirada.”

– “A significativa redução das precipitações no Estado de São Paulo era um fenômeno perfeitamente detectado DESDE 2000, sem que as medidas para a redução das vazões de retirada tenham sido implantadas pelo órgão gestor (DAEE) e pela operadora do sistema produtor (SABESP), visando à preservação daquele manancial. Aliás, agiram contrariamente a este fator de cautela, aumentando consideravelmente o volume máximo de retirada do Sistema Produtor Alto Tietê, contribuindo, de forma incontroversa, para o seu esvaziamento e talvez deplecionamento.”

***

Notícias de hoje sobre a falta d’água:

– Em Itu, alguns oram por chuva (glo.bo/1sMOeDI); outros roubam água (http://glo.bo/1zNtXrn).

– Na cidade de São Paulo, nas últimas semanas, centros de educação infantil (CEI) dispensaram alunos, compraram galões, contrataram caminhões-pipa. Catorze creches relataram problemas. Algumas têm pedido que as crianças já cheguem de banho tomado (http://bit.ly/ZVKU2f – ver nota de 30/10/14, 08:48).

– Ontem vimos que uma das medidas da parceria entre governo estadual e federal seria a redução de impostos para a Sabesp (http://bit.ly/101O98P). Minha interpretação disso foi: a medida, em si, não é boa nem ruim; só poderemos julgar depois que soubermos no que os recursos economizados pelas empresas serão aplicados. Pois bem, hoje Alckmin explicou: “Neste caso, cabe a cada empresa de saneamento decidir se ela quer reduzir a conta da água ou se quer investir mais” (http://bit.ly/13o8WFA). Pelo que entendi, então, as opções são as seguintes: a empresa pode decidir se a) investe o dinheiro em obras que não dão retorno imediato; b) cobra menos pela água, o que pode incentivar o consumo (“já que tá barato, bora gastar”) e, assim, o aumento dos lucros. Em suma: não tem como não dar errado.

– Por fim, segue mais um capítulo da saga #SecaSexy –http://glo.bo/1wKFSRh

E esse foi o boletim de hoje. Pode entrar em pânico que amanhã tem mais.

29/10/14:

– O volume do Sistema Alto Tietê, segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo, caiu 0,2% de ontem para hoje e chegou a 7% de sua capacidade (http://bit.ly/1tQ0YA6).

– O MPE/SP entrou com uma ação para que a Sabesp reduza a captação do Alto Tietê (http://bit.ly/1E3WlUQ).

– A história do Alto Tietê soa tristemente familiar: o mesmo se passou com o Cantareira. O ISA aponta que a Sabesp manteve inalterada a captação de água do sistema mesmo durante a seca (http://bit.ly/1teNyfG). Como sabemos, isso levou à situação atual de retirada do volume morto. O MPE/SP e o MPF, então, entraram com uma ação para impedir a captação desenfreada do volume morto (http://bit.ly/1xjHLEZ). O juiz deferiu liminarmente o pedido dos procuradores, impedindo a captação da segunda cota (http://bit.ly/1tj4d1E). No entanto, a liminar foi derrubada apenas cinco dias depois (http://glo.bo/1nrCyKK).

– Aposto um litro de água mineral com quem quiser que o pedido do MPE/SP referente ao Alto Tietê será deferido pela Justiça – e aposto outro litro que essa decisão será suspensa depois de poucos dias.

– Mas vamos falar de soluções. Passada a eleição, Alckmin decidiu que quer estabelecer uma parceria com o governo federal. Entre as medidas defendidas pelo governador, estão a interligação do Rio Jaguari, da bacia do Paraíba do Sul, com a represa Atibainha, do Sistema Cantareira, e a redução de impostos para a Sabesp (http://bit.ly/101O98P). Salvo engano, obras de interligação entre os sistemas parecem de fato uma excelente ideia. A redução de impostos, porém, só faz sentido se soubermos em que serão investidos os recursos economizados (http://bit.ly/101O98P).

– É possível, contudo, que nada do que escrevi no parágrafo acima saia do papel: o Ministério do Meio Ambiente diz que não recebeu até agora nenhuma proposta formal do governo de São Paulo (http://bit.ly/1yICVlD).

– Agora, propostas boas de verdade você encontrará aqui: www.aguasp.com.br – uma coalizão de ONGs, em evento realizado hoje na cidade de São Paulo, lançou um site que contém uma série de propostas de curto e longo prazo para enfrentar a crise da água. Foi muito bom encontrar na lista propostas sobre as quais eu já vinha escrevendo neste boletim (por exemplo, multa para usos abusivos, ações para grandes consumidores – indústria e agircultura –, redução das perdas), e foi melhor ainda encontrar ali propostas ambientais sobre as quais nunca escrevi (por exemplo, proteção de mananciais e recuperação florestal).

– Enquanto as ONGs pensam em propostas, Alckmin, como vimos, ainda não formalizou um pedido de parceria para o governo federal. Em compensação, seus assessores contactaram a Fundação Cacique Cobra Coral, comandada por uma médium que diz “incorporar o espírito do cacique Cobra Coral, entidade que seria capaz de influenciar o clima” (http://glo.bo/1nRRgv1). Afinal, um governo tem que estabelecer priodades.

– Por isso só posso apoiar os vereadores que estão levando adiante a CPI da Sabesp (http://bit.ly/13guNPc) – aquela que o vereador Andrea Matarazzo disse não ter “a menor consequência” (http://bit.ly/Zu66Ms) –, já que na Alesp nada acontece feijoOPS, pra cozinhar feijão precisa de água.

E este foi o boletim de hoje. Pode entrar em pânico que amanhã tem mais.

A seca de SP na mídia (31 de outubro de 2014)

Seca – 2014 – ( Sudeste )* – Cronologia das Secas/Open Brasil

 31 de outubro de 2014

Nascente do Rio São Francisco.

A pior seca da História.

Com a falta de chuva, a principal nascente do Rio São Francisco, em Minas Gerais, secou pela primeira vez na história. Não é qualquer rio, é o São Francisco. A imagem de São Francisco de Assis na Serra da Canastra, em Minas, indica que a nascente do Velho Chico está por perto. Mas, com a paisagem mudada pela seca, fica difícil identificar o berço de um dos maiores rios do Brasil.

Sistema Cantareira

A maior seca em 45 anos.

A irregularidade da chuva no Estado de São Paulo dura desde o verão 2013/2014, estação do ano que, do ponto de vista das médias climáticas, tem os meses mais chuvosos. A presença de bloqueios atmosféricos sucessivos impediu a passagem de sistemas que causassem chuva, ou seja, o verão foi muito seco no Sudeste. Segundo dados do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica) da USP (Universidade de São Paulo), esta foi a temporada com menos chuvas desde 1969. A seca atingiu uma área muito significativa do Sudeste.

Hidrovia Tietê/Paraná deu lugar a um cenário desolador: rios viraram filetes de água, como em Bariri /SP

O interior do estado de São Paulo enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos.

Não é apenas a capital paulista que vive a maior crise no abastecimento de água da sua história. O rico interior do estado de São Paulo enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos. O Rio Tietê baixou em até oito metros na região de Araçatuba, a 467 quilômetros de São Paulo, interrompendo há dois meses o tráfego de barcaças na Hidrovia Tietê/Paraná, uma das maiores do país, já que há lugares onde o rio está no nível zero.

A agricultura também sofre e as destilarias de açúcar e álcool, com quebra na safra em até 25%, já dispensaram trabalhadores.

Foto: A/D – Arquivo OpenBrasil.org
Cronologia das Seca – OpenBrasil.org

*   *   *

Cronologia da seca na revista Veja

31 de Outubro de 2014
29 de Outubro de 2014
28 de Outubro de 2014
27 de Outubro de 2014
23 de Outubro de 2014
21 de Outubro de 2014
20 de Outubro de 2014
19 de Outubro de 2014
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13 de Outubro de 2014
11 de Outubro de 2014
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8 de Outubro de 2014
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3 de Outubro de 2014
2 de Outubro de 2014
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9 de Setembro de 2014
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11 de Setembro de 2012
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27 de Fevereiro de 2012
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Um gráfico fiel da situação do Cantareira (Folha de S.Paulo)

ONGs apresentarão ações de curto prazo para ajudar a enfrentar a crise hídrica atual

Nesta quarta-feira (29.out), 29 ONGs apresentarão 196 ações de curto prazo e outras 191 de longo prazo para que o Estado de São Paulo possa enfrentar sua grave crise hídrica atual. A mobilização Aliança pela Água envolve grandes entidades nacionais, como o Instituto Socioambiental e a Fundação SOS Mata Atlântica, assim como organizações de atuação internacional, como Greenpeace, The Nature Conservancy, World Resources Institute e WWF.

Veja matéria completa em: http://mauriciotuffani.blogfolha.uol.com.br/2014/10/28/um-grafico-fiel-da-situacao-do-cantareira/

(Maurício Tuddani / Folha de S.Paulo)

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Volume do Sistema Alto Tietê cai para 7%

Segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo teve queda de 0,2 ponto percentual de terça para quarta; MPE pediu por redução da retirada de água

O volume do sistema Alto Tietê caiu 0,2 ponto percentual entre terça-feira, 28, e esta quarta-feira, 29. A capacidade, que estava em 7,2%, está agora em 7%, de acordo com o mais recente levantamento divulgado pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O Alto Tietê é o segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo e também caminha para o esgotamento.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,volume-do-sistema-alto-tiete-cai-para-7,1584823

(Marco Antônio Carvalho e Fabio Leite / O Estado de S. Paulo)

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MPE aciona Justiça para Sabesp reduzir captação do Alto Tietê

Em ação, promotores afirmam que autorização dada pelo DAEE para companhia retirar 5 mil litros por segundo a mais do manancial em plena crise “está fundada em dado ideologicamente falso”

O Ministério Público Estadual (MPE) moveu nesta terça-feira, 28, uma ação civil pública ambiental pedindo a redução imediata do volume de água retirado do Sistema Alto Tietê pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Utilizado desde o início do ano pela empresa para socorrer bairros atendidos pelo Sistema Cantareira, o segundo maior manancial da Grande São Paulo está perto do esgotamento, com apenas 7,2% da capacidade.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,mpe-aciona-justica-para-sabesp-reduzir-captacao-do-alto-tiete,1584524

(Fabio Leite /O Estado de S. Paulo)

Sabesp tira 3,2 bilhões de litros da 2ª reserva (O Estado de S. Paulo)

Regras para usar reserva profunda de água estão sendo negociadas; nível do Sistema Cantareira está em 3,5%

Boletim de monitoramento do Sistema Cantareira divulgado nesta segunda-feira, 20, pelos órgãos reguladores do manancial mostra que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já retirou 3,2 bilhões de litros da segunda cota do volume morto na Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, um dos reservatórios do sistema. O uso dessa segunda reserva profunda de água, que fica abaixo do nível das comportas, ainda não foi formalmente autorizado. Nesta segunda, o sistema estava com 3,5% da capacidade. Em nota, a Sabesp nega descumprir a regra porque ainda há água do primeiro volume morto na Jaguari-Jacareí.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,sabesp-tira-3-2-bilhoes-de-litros-da-2-cota-do-volume-morto,1579886

(Fabio Leite / O Estado de S. Paulo)

O jorro do hidronegócio (OESP)

SÉRGIO AUGUSTO – O ESTADO DE S. PAULO

11 Outubro 2014 | 16h 00

Como as irmãs do petróleo, seis empresas controlam a sua, a minha, a nossa água

DENNY CESARE/CÓDIGO19Cantareira. Água é bem essencial, não uma commodity

Se não começar a chover em abundância a partir da próxima semana, os paulistanos terão de pedir água de presente a Papai Noel. Se a chuva só cair sobre a capital e não na cabeceira dos rios que abastecem o Sistema Cantareira, 6,5 milhões de pessoas poderão ficar sem água em suas torneiras. A fonte está secando, e a culpa é menos de São Pedro que de São Paulo; ou, melhor dito, da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), que subestimou os estragos que as mudanças climáticas, a poluição e a extração descontrolada de recursos hídricos vêm causando ao consumo de água, aqui e lá fora.

Revelou-se há dias que a Sabesp sabia do risco de desabastecimento no Sistema Cantareira desde 2012, mas só começou a encarar o problema oito meses atrás, quando criou aquele bônus para quem economizasse água. Em 2012, limitou-se a alertar investidores da Bolsa de Nova York para a estiagem prevista e seu impacto nas finanças da empresa. Ainda segundo o promotor público Rodrigo Sanches Garcia, a Sabesp captou mais água que o autorizado para não prejudicar, acima de tudo, o valor de suas ações. Ou seja, tratou a água como “um negócio”, não como um bem coletivo, acusou o procurador.

O Sistema Cantareira responde por 73% da receita da Sabesp, cujos gestores, aliás, não são os únicos culpados pela crise em curso. Haja vista as ações civis também impetradas contra a ANA (Agência Nacional de Águas) e o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), coniventes com o descaso.

Enquanto rezam para São Pedro e lamentam que Joe Btfsplk, aquele impronunciável personagem dos quadrinhos de Ferdinando que vive com um permanente cúmulo-nimbo sobre a cabeça, não possa visitar a Bacia do Rio Piracicaba, os paulistanos e seus vizinhos mais próximos podem fazer sua catarse baixando da Amazon a versão kindle de um livro esclarecedor sobre a crise da água: The Price of Thirst (O preço da sede), de Karen Piper (University of Minnesota Press, 296 págs., US$ 14,99), lançado na semana passada. Seu subtítulo (Global Water Inequality and the Coming Chaos) resume em sete palavras o caos que a má distribuição e exploração comercial da água deverão causar em escala mundial caso nada seja feito para sustar a ganância do hidronegócio.

Como o ar que respiramos, a água é um bem essencial, um direito humano, reconhecido como tal pela ONU, não uma mercadoria, uma commodity. O que não impediu que, na semana passada, um juiz tenha secado as torneiras de dezenas de milhares de residentes em Detroit sem grana para pagar a conta de água, que a Sabesp tenha demorado a repassar aos clientes o que seus acionistas já sabiam há dois anos e, pior ainda, que 20% do planeta continue sem acesso a água potável. Assegurar a todos água limpa e saneamento básico gratuitos é uma obrigação, um compromisso com a sobrevivência da humanidade. Se nada mudar, daqui a uns dez anos dois terços da população mundial terão de comprar água limpa daqueles que há tempos sacaram que a água é o petróleo do século 21.

Água é o que não falta. A Terra ainda dispõe da mesma quantidade de H²O do tempo dos dinossauros; o que mudou foi sua localização, alterada por mudanças climáticas e pela exploração do solo. Faltam sim reservatórios, açudes e aquíferos que não estejam quase exclusivamente a serviço da agricultura ou administrados por corporações internacionais, que se comportam como se explorassem minerais, madeira e energia solar.

Seria ótimo se fosse possível desviar água do Solimões para as tubulações da Grande de São Paulo. Ainda que fosse, custaria uma fortuna incalculável. Mais fácil mover as pessoas, inventar um novo urbanismo, construir prédios compactos e ecologicamente inteligentes, observa Karen Piper. Isso, porém, não faz parte da agenda do Banco Mundial e do FMI, que “vendem outros modelos de urbanização” e facilitam a prosperidade do hidronegócio, hoje comandado por corporações sem a visibilidade da Shell, Exxon, BP, Petrobrás, mas, no seu setor, igualmente poderosas e sedentas de lucro: Suez, Veolia, Thames, American Water, Bechtel e Dow Chemicals (sim, aquela mesma que fabricava bombas de napalm e agente laranja usadas na Guerra do Vietnã). Juntas controlam mais de 70% da água “privatizada”.

O New York Times cantou a pedra em 2006. “Sede dá lucro” alardeava o título de uma reportagem (“There’s money in thirst”), com informações inéditas sobre o mercado hídrico, que àquela altura já valia centenas de bilhões de dólares. “Mais promissor que a exploração de petróleo”, concluía a reportagem.

Amparada por quatro bolsas de estudo, Piper passou uma década viajando e recolhendo dados para seu livro. Viu de perto como funcionam o Conselho Mundial de Água (World Water Council) e seu fórum trienal (World Water Forum), com representantes da ONU, especialistas em desenvolvimento, ministros de minas e energia, chefes de Estado e, dominando a cena, os mandachuvas de multinacionais que exploram recursos hídricos nos cinco continentes. Os fóruns são uma espécie de Davos da água. Sempre em países diferentes, e já de algum tempo também hostilizados por um Fórum Alternativo Mundial da Água (Fame, na sigla em francês), que adotou um slogan em inglês: “Water for life, not for profit”, água é vida, não é negócio.

O primeiro fórum foi em Marrakesh, em 1997. O próximo, ano que vem, será na Coreia, e o seguinte, em 2018, em Brasília. Nada mais justo, pois o Brasil, este paraíso hídrico cuja maior cidade está ameaçada de ficar sem água no próximo ano, tem representação expressiva no World Water Council. Pelo relato de Piper, os fóruns não resolvem nada. São um blá-blá-blá pomposo, regado a champanhe e caviar. Com muita água mineral de graça para os abstêmios matarem a sede.

A crise hídrica em São Paulo (Envolverde)

22/8/2014 – 04h28

por Heitor Scalambrini Costa*

represa cantareira 300x150 vale esta A crise hídrica em São Paulo

Contra fatos não há argumentos. O que acontece atualmente com relação ao desabastecimento de água em São Paulo se enquadra na retórica de que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando verdade.

O governo paulista insiste em negar que se as obras necessárias tivessem sido realizadas poderia ser menos dramática a atual situação. E insiste ainda em responsabilizar São Pedro pelo caos evidente. A culpa não é da seca! A seca é parte do problema, pois desde sempre se soube que ela poderia vir.

Os gestores públicos também negam que existe racionamento, afirmando que o abastecimento de água está garantido até março de 2015, apesar de, na prática, o racionamento existir oficialmente em dezenas de municípios.

Em visita ao interior de São Paulo, no inicio de agosto [2014], pude constatar uma situação que ainda não tinha me dado conta. A gravidade da crise hídrica atinge não apenas a região metropolitana da capital, como a imprensa dá a entender ao enfatizar o colapso do sistema Cantareira, mas atinge todo o Estado mais rico da União.

Dos 645 municípios paulistas, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) é responsável por fornecer água a 364, quem somam um total de 27,7 milhões de pessoas. Nos outros 281 municípios (não abastecidos pela Companhia), o abastecimento de água a 16 milhões de pessoas fica a cargo das próprias prefeituras ou de empresas por elas contratadas.

Se, por um lado, a companhia estadual de abastecimento nega haver adotado rodízio de água em qualquer um dos municípios atendidos por ela, inclusive na capital, tal afirmação é logo desmentida pelos usuários que relatam interrupções no abastecimento, principalmente à noite.

Nos municípios não atendidos pela Sabesp, medidas restritivas estão sendo tomadas por centenas de empresas e gestores locais devido à crise. Em Guarulhos, na grande São Paulo, o abastecimento de 1,3 milhões de moradores é atendido por um serviço municipal, o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), e seus moradores passam sem água um em cada dois dias.

Em 18 municípios, cerca de 2,1 milhões de pessoas estão submetidas ao racionamento oficial no estado de São Paulo, correspondendo a 5% da população total, segundo levantamento do jornal Folha de São Paulo (11/Ago). Além do racionamento, medidas de incentivo à economia de água têm sido adotadas, indo desde multas para reprimir o desperdício a campanhas com rifas de carro e TV para quem poupar e reduzir o consumo voluntariamente.

O que chama a atenção de todos, além da dimensão estadual da crise hídrica em São Paulo, é a insistência dos gestores em negar a existência do racionamento na área de atuação da Sabesp – mesmo contestados pelos moradores, que sofrem na prática com o rodízio provocado pela companhia, com cortes crescentes no fornecimento de água.

A contrapartida do poder é a ação responsável. E o governo paulista tem se mostrado irresponsável com o seu povo, além de incompetente e medíocre para resolver questões básicas para a sua população. É hora de assumir a gravidade da situação e dos erros cometidos, e, naturalmente, fazer as obras urgentes e necessárias para garantir o fornecimento seguro deste bem fundamental à vida.

Chega de hipocrisia, chega de culpar São Pedro que não pode se defender.

* Heitor Scalambrini Costa é professor Associado da Univ. Fed. de Pernambuco. Graduado em Física pela UNICAMP. Doutor em Energética na Univ. de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.

** Publicado originalmente no site IHU On-Line.

Horizonte árido (OESP)

‘Questão de natureza política, a água deve ter agenda própria com leis, infraestrutura e campanhas para consumo consciente’, diz engenheiro

22 de março de 2014 | 16h 00

Juliana Sayuri

Secou. Desta vez, faltaram as águas de março fechando o verão. O Cantareira, principal reservatório a hidratar a Grande São Paulo, marcou 14,5% de volume armazenado na sexta-feira, cravando novo recorde negativo desde 1974. São Pedro não colaborou desde dezembro, o cidadão abusou, o político tergiversou e, no fim, São Paulo poderá amargar dias mais secos neste outono.

Na véspera do Dia Mundial da Água, 22 de março, indiana caminha numa tempestade de areia - Anupam Nath/AP

Na véspera do Dia Mundial da Água, 22 de março, indiana caminha numa tempestade de areia. Anupam Nath/AP

“Política é a arte de firmar compromissos. Nesse campos ambientais, isso é muito difícil – Kyoto está aí pra não desmentir ninguém”, afirma Benedito Braga, engenheiro civil, Ph.D. por Stanford e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “No limite, é competência da cidade. Está na Constituição: prover água é prerrogativa constitucional das prefeituras. Seria do governo do Estado se estivéssemos discutindo obras. Mas agora, para resgatar o Cantareira, nem adianta correr atrás de obras, que ficariam prontas em talvez três anos – e até lá já teríamos morrido de sede”, critica. Que fazer? “Racionar. É a única saída. Não me refiro ao rodízio, que fique claro: racionar é consumir menos que o usual.”

Ex-diretor da Agência Nacional de Águas, Braga preside desde 2012 o World Water Council, um think tank que reúne Nações Unidas, scholars, técnicos, políticos, executivos e ativistas. “Precisamos compreender que água é uma questão de ordem política. Para mudar e melhorar essa situação, é preciso discutir alternativas, ideias inovadoras, soluções inteligentes”, diz. Que essa fonte não seque.

A questão da água está sendo muito discutida nos últimos dias, com a situação do Cantareira. Água é uma pauta política?

Fiz uma palestra nessa semana e, num dos últimos slides, mostrei três caracteres chineses. O primeiro simboliza “rio”. O segundo, “dique”. E o terceiro, que seria a soma dos dois? Logo se imagina que seria “reservatório” ou algo assim, mas não. É “ordem política”. Nossos governantes já notaram isso. No Nordeste, todo político considera a questão da água. No Sudeste, até estes tempos, só discutíamos as inundações. Agora, diante desse quadro do Cantareira… Os políticos precisam compreender que a água deve estar na pauta, com orçamento e tudo mais, pois isso pode lhes custar as eleições. Política é a arte de firmar compromissos, formar consensos, resolver problemas. É muito difícil formar consensos nesses campos – Kyoto está aí pra não desmentir ninguém. A água permeia diferentes setores, como agricultura e energia, mas precisa de uma agenda própria – senão, cada setor faz o que bem entende, desperdiça recursos hídricos cá e lá, falta água… E aí? É uma questão de natureza política. O cidadão pode ajudar? Certamente. Elegendo políticos que tenham uma plataforma coerente. E, francamente, o único sinal que políticos realmente entendem é o voto. Se o cidadão compreender que a água é um tema tão importante quanto a saúde e a educação, o político também deverá compreender.

Cantareira é um bom sistema?

Sim. Foi idealizado por Eduardo Yassuda, professor brilhante da Poli. No início da década de 1970, ele disse: “São Paulo não pode resolver o problema da água com soluções pequeninas. Precisa de soluções de gente grande”. Aí começou a procurar mananciais, Guarapiranga, Tietê, Taiaçupeba, Paraitinga, Ponte Nova. E viu que precisaríamos trazer água do outro lado da serra. Construíram esse sistema, que tem 800 milhões de metros cúbicos de armazenamento, uma vazão que, à época, supria toda a água de São Paulo. Foi uma boa ideia. Mas agora a situação é grave. Não interessa a quem culpar – a variabilidade do clima, o político, a Lua e o planeta Saturno. É tudo junto. Há uma falha na oferta – São Pedro não foi generoso neste verão. E uma falha na demanda – as pessoas não notaram a gravidade da situação e continuaram consumindo como sempre. E a infraestrutura não acompanhou o crescimento da demanda. Agora estão considerando usar o tal volume morto. O que é isso? Se você construir uma obstrução para armazenar água, esse volume contém sedimentos em suspensão. Reservamos um espaço no fundo do reservatório para depositar esse sedimento – e o sistema continua funcionando. O que a Sabesp tem? Tomadas de água, em diferentes alturas. Quando o nível do reservatório está alto, as duas tomadas funcionam. Vem a seca, uma das tomadas não funciona mais. No limite do volume morto, não há mais nada. O nível baixa e baixa, até que uma hora só há sedimentos e não dá para tirar mais nada. É uma alternativa viável do ponto de vista técnico. Mas não é a solução. A solução é parar de usar tanta água.

Racionar.

Racionar, mas não como a maioria imagina. Racionar é consumir menos que o usual. Há duas formas para isso. Primeiro, um rodízio, fechando e abrindo registros em diferentes setores das cidades. Segundo, um racionamento com medidas não estruturais, com bônus para quem economizar, multas para quem extrapolar. Isso deve ser feito por uma lei municipal.

Isso não é responsabilidade do governo do Estado?

Não. A competência legal é do município, nas esferas do Executivo e do Legislativo. Está na Constituição: prover água potável e saneamento é uma prerrogativa constitucional das prefeituras. Se estivéssemos discutindo obras, seria o governo do Estado. Neste momento, nem adianta correr atrás de obras. Eles estimam 18 meses, mas na verdade só ficariam prontas em dois, talvez três anos – e até lá já teríamos morrido de sede. O Estado dá concessão à Sabesp. Mas São Carlos, no interior, não usa Sabesp – e sim o Serviço Autônomo de Água e Esgoto São Carlos (SAAE); Limeira, também no interior, não usa Sabesp, mas a Foz do Brasil/Odebrecht. Diante de qualquer problema, a responsabilidade primeiro é da companhia, mas, no fim, é do prefeito. Que poderia passar uma lei municipal dizendo o seguinte: estamos vivendo uma situação muito grave e, por isso, cada domicílio terá um limite de consumo de 20 metros cúbicos por mês, com tarifa de R$ 10. Se ultrapassar, a tarifa passa a R$ 100. É uma forma de regular o uso, pois o cidadão que estava acostumado a pagar R$ 90 e vê a conta saltar para R$ 500 certamente freará o consumo. No mês seguinte, pode apostar que todas as torneiras vão estar fechadas, o cara não vai mais lavar calçada e não vai demorar no banho. Esse é o racionamento que deveria ser feito, obviamente acompanhado por uma campanha de conscientização para dizer: “Meu amigo, você não será pego de surpresa. Preste atenção, economize água”. É melhor que o rodízio.

Por quê?

Imagine uma tubulação, com juntas para outras tubulações. Quando os tubos estão cheios, ainda há perda de água na linha – eram 35%, agora são 25%. Quer dizer que há vazamentos no sistema. Quando o sistema está pressurizado, a água corre. Quando despressuriza, a água para e entra no solo, misturando-se e voltando às tubulações uma água de qualidade desconhecida. Por isso, o rodízio não é bom. Ainda dá tempo de racionar, mas nossos governantes precisam agir. Na seca, acontecerá o racionamento por rodízio, pois não haverá mais tempo hábil para o outro tipo. A Austrália também passou por uma situação grave. Ali foram dez anos de seca, só agora voltou a chover forte. Os australianos fizeram várias usinas de dessalinização e cortaram a água antes usada para irrigação. No nosso caso, o que poderia ser feito? O governo – alçada estadual no caso dos rios Jaguari e Jacareí, com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE); e federal no rio Piracicaba, com a Agência Nacional de Águas – deveria visitar os lugares de irrigação e dizer: “Meu caro, o que você cultiva aí? Tomate? Pago sua safra, mas você não vai tirar nem um litro a mais de água do rio”. Assim, a água deixa de ser destinada a um uso “menos nobre”, e fica disponível para o consumo dos cidadãos.

Há um modelo de gestão hídrica no mundo?

Não há um país nota 10 em todos os quesitos. Em termos de uso de água no ambiente urbano, diria Cingapura, que reaproveita quase a totalidade de seus esgotos para consumo doméstico. Cingapura dependia da Malásia e, num esforço para se tornar mais autônoma, investiu num programa de reúso de água fantástico, mas muito caro, da ordem de bilhões de dólares. A Namíbia também tem um sistema de reúso de água potável há 40 anos. Talvez, no futuro, tenhamos que fazer isso em São Paulo: reaproveitar e beber o que era nosso esgoto. Em termos de gestão no ambiente agrícola, Espanha e Israel se destacam. Em termos de gestão de recursos hídricos, a França é um bom exemplo. É só lembrar o Sena, muito sujo há 50 anos, limpo agora. Muito dinheiro já foi investido para despoluir o Tietê – mas sinceramente, nem eu nem meus netos nem meus bisnetos veremos esse rio 100% limpo.

Do ponto de vista cultural, o que precisaria mudar para valorizar esse recurso?

A situação que vivemos agora é exemplar. Pense: quando o brasileiro começou a se preocupar em economizar energia? Em 2001, no tal apagão elétrico. Na ocasião, usamos um método de racionamento melhor, com multa. Na época, eu morava em Brasília. Gastava 1.200 quilowatts/hora por mês, passei para 400. E continuei vivendo da mesma forma, só com mais precauções: lembrar de apagar a luz, tirar a tomada, tomar banhos mais breves. Foi uma situação extrema, mas hoje aprendi: sei meus gastos de energia todo mês. Quem sabe agora o paulistano aprenderá o consumo consciente de água?

Qual é a maior agressão à água?

Poluição, sem dúvida. As metas do milênio estabelecidas pelas Nações Unidas em 2000, para serem cumpridas até 2015, previam reduzir à metade o número de pessoas sem acesso à água potável e ao saneamento improved, quer dizer, “melhorado”. Essa expressão foi escolhida propositalmente, pois à época não tínhamos elementos para avaliar os custos para oferecer saneamento para todos. Além da coleta e da disposição de resíduos, precisamos discutir o tratamento do esgoto. Aí realmente a água é agredida. Por exemplo, não podemos viver num ambiente urbano, como nesta região paulistana com um dos metros quadrados mais caros do Brasil, onde o sujeito abre a janela e se depara com o cheiro fétido do Pinheiros. É inadmissível.

Um dia a água valerá mais que o petróleo?

Já vale em certos lugares, como na Arábia Saudita. Ali eles dessalinizam a água do mar – e gastam uma nota, queimando petróleo para poder cultivar trigo no meio do deserto. Há substituto para o petróleo (fontes como a energia hidroelétrica e a nuclear), mas absolutamente nada substitui a água. É um valor capital. A água é muito generosa, pois nos ajuda a crescer: é elemento essencial para sermos cidadãos mais igualitários, pois aumenta nosso desenvolvimento, nossa produção de energia e de grãos. É fundamental para as necessidades essenciais humanas, para o desenvolvimento econômico, para a sustentabilidade ambiental e, certamente, para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

O sr. se considera otimista ou pessimista?

Um otimista inveterado. Um dia, haverá água para todos, desde que sejamos suficientemente inteligentes para gerenciá-la. Há água na região metropolitana de São Paulo, mas contaminada e poluída. Logo, precisamos de gestão e tecnologia adequadas. Muitos ambientalistas criticam os engenheiros, vistos como “destruidores” da natureza. É a falsa ideia de que a tecnologia é má. Graças à tecnologia, nossa expectativa de vida saltou de 50 para 70, 80 anos. Quem, como Malthus, previu cataclismos, até agora deu com os burros n’água. Há, sim, diversas questões a resolver. E, para resolvê-las, acredito na tecnologia e, principalmente, no ser humano.