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O meio ambiente e os presidenciáveis (Mundo Sustentável)

24/10/2014 – 12h18

por André Trigueiro*

AecioDilma O meio ambiente e os presidenciáveis

Há pouco mais de uma semana, antes do reinício da campanha eleitoral visando o 2º turno da disputa presidencial, foi publicado no site Mundo Sustentável uma crítica aos candidatos pela falta de clareza das propostas ambientais. Água, lixo, florestas, clima, energia e transportes foram alguns dos temas ausentes no 1º turno e que justificaram o texto publicado. Pedimos então às campanhas de Dilma e Aécio que respondessem livremente às críticas e nos enviassem suas propostas em relação aos temas levantados pela coluna.

A coluna fez contatos com a campanha de Dilma por e-mail e telefone sobre esses questionamentos desde o último dia 10 de outubro, mas não recebeu resposta. Dessa forma, colocaremos o pronunciamento feito pela presidente Dilma em Nova York, por ocasião da Cúpula do Clima, em 24 de setembro (leia também aqui matéria do G1 sobre o discurso).Veja mais abaixo.

Que as posições assumidas pelos candidatos possam ser de alguma forma úteis aos nossos leitores nessa reta final de campanha.

Veja abaixo a resposta enviada pela campanha de Aécio e assinada por Fabio Feldmann e José Carlos Carvalho ao último post da coluna.

“Água:

Em relação ao tema, o Plano o tratou com o título “A urgente agenda das águas”. E como você pode verificar neste link, sintetizamos as nossas propostas:

• Fortalecimento do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Atenção especial deve ser dada ao impacto do aquecimento global no ciclo hidrológico, com o objetivo de estabelecer políticas de adaptação e mitigação em relação ao risco de desastres naturais, tais como enchentes, inundações e grandes deslizamentos;
• Estabelecer metas de redução de desperdício nas redes públicas com calendário determinado, com disponibilização de linhas de crédito específicas para estimular novas tecnologias de gestão de redes;
• Estimular, em conjunto com estados e municípios, a implantação de medidores individuais;
• Editar normas para reuso de água;
• Dar atenção especial à Política de Pagamento por Serviços Ambientais para os produtores rurais que conservam a vegetação protetora dos recursos hídricos.

De se assinalar que alguns dos seus comentários, ao fazer a pergunta, apresentam uma enorme identidade com o que escrevemos, conforme segue:

Compromissos:

• O Brasil está vivendo, pela primeira vez na sua história, o advento de graves crises de água, de modo que é necessário que esse tema seja reforçado na agenda política brasileira. Isso significa, claramente, o enfrentamento do problema de uma perspectiva holística, que permita mudar a gestão dos nossos recursos hídricos. Temos já no Brasil uma legislação que permite um avanço significativo por meio dos comitês de bacia, enquadramento dos corpos d’água e uma série de outros instrumentos. A existência da Agência Nacional de Águas (ANA) foi um passo importante, e temos que aproveitar o capital intelectual que ela possui para avançar na implementação das políticas públicas. Atenção especial deve ser dada à gestão de águas subterrâneas em conjunto com os estados a quem cabe, em última instância, a sua responsabilidade.

• Estudos importantes mostram que muitas cidades do mundo têm o abastecimento de água vinculado à existência de áreas florestadas. Por essa razão, entendemos que é necessário garantir a proteção dessas áreas por meio da manutenção ou ampliação de unidades de conservação, de modo que devemos estimular a sinergia entre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) e a Política Nacional de Recursos Hídricos, garantindo, assim, a qualidade e a vazão necessária ao abastecimento de água das cidades brasileiras.

• Hoje, a questão da água está definitivamente presente na agenda da sociedade e no meio empresarial, cabendo ao Governo Federal estabelecer políticas públicas voltadas à gestão eficiente desses recursos. O consumidor tem ciência da escassez existente em relação à água e, uma vez portador das informações, tende a privilegiar bens e serviços oferecidos com os devidos cuidados. Por sua vez, na esfera internacional, o tema adquiriu um peso estratégico, de modo que o Brasil deverá exercer liderança para que a comunidade internacional avance no tratamento em termos dos cuidados específicos que devem ser conferidos ao assunto. É bom lembrar que a água-doce é considerada, por importantes entidades acadêmicas, como um dos grandes limites do planeta. Destaca-se ainda a importância da cooperação com os países vizinhos, com os quais compartilhamos as grandes bacias hidrográficas dos Rios Amazonas e Prata.

Também vale a pena assinalar que no item “Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente”, existe uma proposta de inclusão de critérios de sustentabilidade nos projetos habitacionais, com o objetivo de estimular habitações sustentáveis em termos de conforto térmico, saúde e segurança dos materiais, eficiência energética, uso eficiente e reuso de água, coleta seletiva e utilização de água de chuva.

Lixo:

Em relação ao tema, assumimos alguns compromissos e propostas no item “Cidades Sustentáveis e Mobilidade Urbana”.

• As exigências contidas nas legislações devem se tornar instrumentos eficazes para garantir melhor qualidade de vida aos cidadãos. Assim, o Governo Federal articulará, na sua esfera, ações que assegurem a efetividade dos planos municipais de mobilidade urbana, de gestão de resíduos sólidos, entre outros. Em relação aos estados, promover planos metropolitanos, levando em conta que cabe a eles legislar sobre essa matéria.

• As políticas econômicas vão viabilizar e estimular claramente políticas urbanas inovadoras, estimulando o transporte público sustentável, o que inclui, entre outras iniciativas, a adoção de combustíveis renováveis. E na gestão de resíduos, adotaremos estímulos tributários para viabilizar a logística reversa.

• Apoiar os municípios na implantação de projetos de gestão de resíduos, incluindo a coleta seletiva, a reciclagem e a destinação final ambientalmente adequada.

Também vale a pena assinalar que no item “Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente”, existem as seguintes propostas:

• Implementar Política Nacional de Resíduos Sólidos na perspectiva de estimular a economia circular no Brasil (reciclar, reutilizar e remanufaturar sempre que possível).

• Implantar Política Nacional de Educação Ambiental em conjunto com o Ministério da Educação, bem como com os estados e municípios. Atenção especial deve ser dada ao consumo consciente.

Em relação ao consumo consciente, vale ressaltar que o Plano de Governo também faz menção a ele na área de “Direitos do Consumidor e Defesa da Concorrência”.

Florestas:

A questão das florestas está inclusa principalmente em “Política Florestal”, no item “Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente”:

• Implantar uma Política Nacional de Florestas, com ênfase no estímulo à recuperação das áreas previstas no Código Florestal, inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e constantes do Programa de Regularização Ambiental (PRA). Promoção do manejo florestal sustentável das florestas tropicais e implantação de um programa de florestas plantadas, que deve contemplar a expansão da indústria de base florestal e o cultivo de espécies de madeiras nobres de ciclo longo. Fazer investimentos em pesquisa de silvicultura de árvores nativas.

• Dar atenção especial às iniciativas de concessão florestal, utilizando as florestas públicas e as unidades de conservação de uso sustentável, visando valorar economicamente a floresta em pé e sedentarizar a atividade econômica madeireira, reduzindo a oferta de madeira ilegal, “legal” fraudada e legal não sustentável.

• Desenvolver um programa de formação de corredores ecológicos com a utilização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA), de forma a garantir a conectividade das UCs e áreas com fragmentos florestais significativos.

• Estabelecer parcerias com os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (Oemas) e a sociedade civil para monitoramento dos biomas brasileiros, a exemplo do que é realizado na Mata Atlântica e no bioma amazônico.

Além disso, na introdução do Plano, reconhecemos que parte significativa da biodiversidade brasileira está associada aos ecossistemas florestais, na medida em que temos em nosso território a maior porção de floresta tropical do mundo e grande extensão de terras com vocação para a silvicultura. Essa realidade impõe a necessidade de uma robusta política florestal, que exige do Governo Federal, tendo em vista a nova Lei Florestal brasileira, apoiar estados, municípios e produtores rurais para o cumprimento à obrigatoriedade de implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA) nas propriedades rurais. Isso deve ser feito de forma que a recuperação da reserva legal, das áreas de preservação permanente e de uso restrito e o reflorestamento com finalidade múltipla (ecológica e econômica) ocorram no contexto mais amplo da restauração dos ecossistemas afetados pela ação antrópica.

Clima:

Em relação ao tema, reconhecemos, logo na introdução do Plano, que:

Um dos maiores desafios deste início de século é o enfrentamento do aquecimento global. As consequências do aumento da temperatura média do planeta são dramáticas na vida das pessoas em todo o mundo, bem como na economia dos países, que devem assumir sua responsabilidade em duas direções complementares.

A primeira, no campo da mitigação, diminuindo as emissões de gases efeito estufa (GEE). No Brasil, vamos manter a redução do desmatamento da Amazônia, do Cerrado e dos demais biomas, bem como assegurar uma matriz energética limpa, uma agricultura de baixo carbono e uma boa gestão de resíduos.

A segunda, no campo da adaptação, vamos preparar o país para os impactos da mudança do clima com estratégias que aumentem a capacidade de enfrentar os incidentes climáticos graves como enchentes, inundações, ondas de calor e secas prolongadas.

Vamos priorizar a transição para uma economia de baixo carbono. Isto significa um papel protagonista para o poder público em termos de adoção de novas políticas que complementem as estratégias de comando e controle.

Em termos práticos, adotaremos instrumentos econômicos que estimulem, efetivamente, uma agricultura de baixo carbono, padrões rigorosos de eficiência energética, conservação da biodiversidade e conservação do solo e água. Utilizaremos o poder de compras governamentais mediante ampliação das práticas de licitação sustentável no país, uma vez que representam uma parte expressiva do PIB nacional. Com isso, estaremos viabilizando, a médio prazo, a economia brasileira a produzir bens e serviços sustentáveis, garantindo-lhes acesso a mercados internacionais.

Compartilhamos do entendimento, hoje em debate, de que é fundamental a precificação do carbono, caso se queira assegurar o compromisso internacional de admitir um aumento da matriz energética menos dependente das fontes fósseis e garantir a redução do desmatamento dos biomas brasileiros. Não se pode esquecer que os próximos quinze anos são absolutamente essenciais para que se possa reduzir drasticamente as emissões de GEE no planeta.

A comunidade internacional assumiu o compromisso de oferecer um novo tratado em 2015, em Paris, que assegure a estabilidade climática do planeta, com o objetivo de fixar limites globais para a emissão de GEE. Além disso, nesse mesmo ano, haverá a pactuação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável em substituição aos Objetivos do Milênio.

Vamos desempenhar um papel de vanguarda nos encaminhamentos dessas questões na agenda internacional.

À frente do governo brasileiro, o presidente da República vai assumir pessoalmente essa agenda, procurando resgatar a liderança brasileira junto a outros chefes de Estado, a exemplo do que Fernando Henrique Cardoso fez quando da criação do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Assim, o Brasil estará atuando com firmeza nos desafios globais planetários, tais como a mudança do clima, os oceanos, a conservação da biodiversidade, a proteção da camada de ozônio, enfim, todos aqueles dos quais dependem as futuras gerações.

Reside aí o grande diferencial do desenvolvimento sustentável que adotaremos: pensar sempre no horizonte de tempo das futuras gerações.

Além disso, vale a pena assinalar que no item “Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente”, afirmamos as seguintes propostas:

• Posição de liderança da Presidência da República nas questões de sustentabilidade, visando garantir um efetivo diálogo horizontal na esfera federal, com o engajamento dos estados, municípios, setor empresarial e a sociedade civil.

• Protagonismo na coordenação e articulação dos atores sociais e agentes econômicos envolvidos no desenvolvimento sustentável, em articulação com estados e municípios, e papel de vanguarda nos encaminhamentos dessas questões na agenda internacional. Especial atenção à 21ª Conferência das Partes da Convenção de Mudança do Clima, a ser realizada em 2015, e aos desdobramentos daí decorrentes, bem como ao estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável em substituição aos Objetivos do Milênio. Nessa agenda internacional, o Brasil deve liderar iniciativas que protejam os oceanos e manter o seu papel de conservação do ambiente antártico, além de apoiar ostensivamente mudanças necessárias no Protocolo de Montreal, que trata da proteção da camada de ozônio.

• Valorização do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas como lócus de discussão da mudança do clima no âmbito das negociações internacionais e no plano doméstico. A Presidência da República deverá retomar uma participação ativa no Fórum, de modo que o presidente possa estabelecer um diálogo pessoal com outros chefes de Estado, com o objetivo de alcançar um acordo global que permita que o aumento médio da temperatura, até o fim do século, se mantenha em no máximo 2oC.

Energia:

A questão está contemplada no item “Energia”.

Destacamos os seguintes compromissos:

• Definição de uma matriz energética que contemple as várias fontes de energia, possibilitando com isso segurança no fornecimento de energia, com baixo impacto ambiental.

• Ampliação da participação de fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira, incluindo-se aí uma maior penetração da energia eólica, solar e biomassa, além de hidrelétricas reversíveis, adaptando-se algumas usinas hidrelétricas existentes para esse fim.

• Implementação de programas de eficiência energética, redução de perda e conservação de energia em todos os setores. Ênfase no gerenciamento pelo lado da demanda.

• Recuperação da importância e do pioneirismo do Brasil na produção de energia limpa e renovável, com crescimento da produção e da produtividade, especialmente em terras degradadas.

• Valorização da diversidade de fontes e das características regionais na redefinição da matriz energética brasileira, procurando equilibrar a busca de autossuficiência com sustentabilidade.

• Resgate do papel da Petrobras e sua valorização como instrumento vital da política energética brasileira.

Em relação às propostas, destacamos as seguintes:

• Definir de forma clara o papel do etanol anidro e hidratado na matriz de combustíveis brasileira e estabelecimento de metas.

• Adotar política tributária que considere as vantagens ambientais dos biocombustíveis.

• Realizar investimentos em tecnologias de baixo carbono, com atenção especial para capacitar o país a instalar uma indústria fotovoltaica competitiva.

• Incentivar a microgeração distribuída, de forma a permitir que o cidadão possa gerar parte de seu consumo próprio através do uso da energia solar e eólica.

• Equalizar as regras de incentivos, subsídios e financiamentos públicos para as diversas fontes de energia. Estimular a troca da iluminação pública por lâmpadas de baixo consumo energético e menor impacto na biodiversidade.

• Estimular redes inteligentes de energia.

• Fortalecer o Procel e o Conpet, visando dinamizar os programas de eficiência energética.

Cabe destacar que no item “Cidades Sustentáveis e Mobilidade Urbana”, temos o seguinte compromisso e proposta, respectivamente:

• O papel do Governo Federal é crucial. Será protagonista na implantação de políticas públicas de uso de energias alternativas nas cidades, possibilitando a venda de excedentes, além de fixação de padrões rigorosos de eficiência energética.

• Utilizar instrumentos econômicos para estimular o consumo de combustíveis mais limpos, com eliminação acelerada daqueles com maior teor de enxofre em todo o território nacional. Ênfase na implantação dos programas de inspeção e manutenção veicular em articulação com estados e municípios.

Transportes:

Em relação ao tema, no item “Cidades Sustentáveis e Mobilidade Urbana”, afirmamos os seguintes compromissos e propostas:

Compromissos:
• Não são mais admissíveis políticas de estímulo ao transporte individual para se combater a crise, quando as mesmas provocam os enormes congestionamentos nas cidades brasileiras médias e grandes. Há necessidade de se resgatar a perspectiva de longo prazo, cabendo ao Governo Federal, em articulação com os estados e municípios, repensar novas estratégias de financiamento, com a finalidade de garantir mecanismos de implementação das várias legislações que pesam sobre as cidades.
• As políticas econômicas vão viabilizar e estimular claramente políticas urbanas inovadoras, estimulando o transporte público sustentável, o que inclui, entre outras iniciativas, a adoção de combustíveis renováveis. E na gestão de resíduos, adotaremos estímulos tributários para viabilizar a logística reversa.

Propostas:

• Implementar a Política Nacional de Mobilidade Urbana, priorizando o transporte público, bem como o transporte não motorizado nas cidades brasileiras, tornando-os alternativas viáveis, seguras e concretas em relação ao transporte individual.
• Buscar uma mobilidade sustentável para as cidades brasileiras, por meio da integração dos diversos modais de transporte público em operação, pela continuidade e aceleração das obras em curso, pela expansão dos atendimentos às regiões metropolitanas e pelo incentivo à incorporação de inovações nas soluções já existentes e a serem implementadas.

• Articular os diversos agentes envolvidos, no âmbito estadual e municipal, para aumentar a integração do transporte urbano com outras políticas públicas, como o uso do solo, habitação e meio ambiente, buscando atender, inclusive, aos novos conglomerados urbanos.

• Apoiar a inovação e a criação de soluções tecnológicas originais e a busca de recursos para investimentos como parcerias público-privadas (PPPs) e concessões de operações urbanas.

• Apoiar os estados e municípios na implantação de centros integrados de logística, na busca de soluções para a redução de trânsito de veículos pesados nos grandes centros e na implantação de sistemas cicloviários nas cidades.

• Incentivar os transportes públicos, principalmente os sobre trilhos, destinando recursos – inclusive subsidiados – para obras estruturantes nos principais centros urbanos

• Incentivar a renovação e a modernização da frota de trens, metrôs e ônibus, impondo novos parâmetros de qualidade. Incentivar a utilização de veículos com motores híbridos, movidos a hidrogênio e elétricos, entre outros.

• Incentivar a adoção de horários variados para jornadas de trabalho, evitando-se os períodos de rush, e incentivar a adoção de modalidades de teletrabalho nas atividades e/ou setores onde isso for possível, como forma de reduzir deslocamentos desnecessários e pressões adicionais de demanda sobre o setor de transportes.

• Apoiar novos modais alternativos de transporte, como os sistemas cicloviários.

• Transferir a malha ferroviária metropolitana de cargas para os estados – quando as linhas não estiverem sendo usadas – para a implantação de projetos de trens metropolitanos.

• Garantir padrões rigorosos de qualidade do ar dos centros urbanos brasileiros por meio do fortalecimento dos programas Proconve e Promotos, com as atualizações necessárias de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

• Utilizar instrumentos econômicos para estimular o consumo de combustíveis mais limpos, com eliminação acelerada daqueles com maior teor de enxofre em todo o território nacional. Ênfase na implantação dos programas de inspeção e manutenção veicular em articulação com estados e municípios.

• Adotar ferramentas macroeconômicas – em coordenação com estados e municípios – que viabilizem claramente as políticas urbanas sustentáveis, como o transporte público, o transporte individual não motorizado, a construção de edifícios sustentáveis, a implantação de áreas verdes para evitar as ilhas de calor, e o uso de energia solar e de microturbinas eólicas nas cidades, possibilitando a venda de excedentes.”

Pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na Cúpula do Clima da ONU:

Nova Iorque-EUA, 23 de setembro de 2014

Excelentíssimo senhor Sam Kutesa, presidente da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Excelentíssimas senhoras e senhores chefes de estado e de governo participantes da Cúpula do Clima 2014. Senhoras e senhores representantes da sociedade civil.

Congratulo-me com o Secretário Geral das Nações Unidas pela convocação da Cúpula do Clima.

No último domingo, centenas de milhares de pessoas pediram nas ruas avanços concretos nas negociações em curso no âmbito da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima.

O Brasil está sintonizado com este anseio. Temos participado ativamente destas negociações. Defendemos a adoção coletiva de medidas justas, ambiciosas, equilibradas e eficazes para enfrentar este desafio.

Reafirmo que o novo acordo climático precisa ser universal, ambicioso e legalmente vinculante, respeitando os princípios e os dispositivos da Convenção-Quadro, em particular os princípios de equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.

Este acordo deverá ser robusto em termos de mitigação, adaptação e meios de implementação. O Brasil almeja um acordo climático global, que promova o desenvolvimento sustentável. O crescimento das nossas economias é compatível com a redução de emissões.

No Brasil, estamos fazendo isso. Ao mesmo tempo em que diminuímos a pobreza e a desigualdade social, protegemos o meio ambiente. Nos últimos 12 anos, temos tido resultados extraordinários.

Em 2009, na Conferência de Copenhagen, anunciamos o compromisso voluntário de reduzir entre 36 e 39%, as nossas emissões projetadas até 2020.

Desde então, pusemos em marcha ações decisivas. Nosso esforço tem dado grandes resultados.

Ao longo dos últimos 10 anos, o desmatamento no Brasil foi reduzido em 79%.

Entre 2010 e 2013, deixamos de lançar na atmosfera a cada ano, em média, 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Alcançamos em todos esses anos as quatro menores taxas de desmatamento de nossa história.

As reduções voluntárias do Brasil contribuem de maneira significativa para a diminuição das emissões globais no horizonte de 2020.

Senhor Presidente, prezados colegas Chefes de Estado e de Governo.

O Brasil, portanto, não anuncia promessas. Mostra resultados.

Nossa determinação em enfrentar a mudança do clima não se limita à Amazônia brasileira.

Estamos cooperando com os países da Bacia Amazônica em ações de monitoramento e de combate ao desmatamento. Devemos também contribuir para a redução do desmatamento com os países da Bacia do Congo.

Internamente, adotamos planos setoriais para a redução do desmatamento no chamado Cerrado brasileiro; para o aumento das energias renováveis e a promoção da Agricultura de Baixo Carbono.

O Brasil é um grande produtor de alimentos. Temos consciência que as técnicas agrícolas de baixo carbono, ao mesmo tempo em que reduzem emissões, elevam a produtividade do setor agrícola.

Por sua vez, na pequena agricultura familiar, nela as práticas agroecológicas, ajudam a reduzir a pobreza no campo. Ambos programas são decisivos para a segurança alimentar e nutricional de milhões de brasileiros.

A produção agrícola de grãos se dá sobretudo pelo aumento da produtividade com uma expansão menor da área agrícola plantada. Tamanho crescimento da produtividade só é possível com muita pesquisa e inovação, muito investimento e intenso apoio do governo federal.

Tudo isso desfaz a pretensa contradição entre produção agrícola e proteção ao meio ambiente. Prova que é possível crescer, incluir, conservar e proteger o meio ambiente, que é o lema da reunião do clima Rio+20.

Senhor Presidente,

Desastres naturais relacionados à mudança do clima têm ceifado vidas e afetado as atividades econômicas em todo o mundo. Num quadro de injustiça ambiental, as populações pobres são as mais vulneráveis, principalmente nos grande centros urbanos.

No Brasil, implementamos a Política Nacional de Prevenção e Monitoramento de Desastres Naturais, com o objetivo de impedir que esses desastres causem danos às pessoas, com perdas de vidas, ao patrimônio e ao meio ambiente.

Até o final deste ano, no marco desta política nacional de prevenção e monitoramento de desastres naturais, submeteremos à sociedade brasileira o plano nacional de adaptação.

Os custos para enfrentar a mudança do clima são elevados, mas os benefícios compensam.

Precisamos reverter a lógica de que o combate à mudança do clima é danoso à economia. A redução das emissões e ações de adaptação devem ser reconhecidas como fonte de riqueza, de modo a atrair investimentos e lastrear novas ações de desenvolvimento sustentável.

Historicamente, os países desenvolvidos alcançaram o nível de bem estar de suas sociedades graças a um modelo de desenvolvimento, baseado em altas taxas de emissões de gases danosos ao clima, ceifando florestas e utilizando práticas nocivas ao meio ambiente.

Nós não queremos repetir esse modelo.

Mas não renunciaremos ao imperativo de reduzir as desigualdades e elevar o padrão de vida da nossa gente.

Nós, países em desenvolvimento, temos igual direito ao bem-estar. E estamos provando que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível. O Brasil é um exemplo disso

Muito obrigada.

* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.

** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.

(Mundo Sustentável)

Events in the collective environmental memory of humanity

 

Publicado em 26/02/2014

What are the most important events in the collective environmental memory of humanity? This is the question addressed in this video highlighting 22 events that professional environmental historians regard as turning points in the relationship between humans and the environment. Topics include deforestation, mining and oil extraction, nuclear disaster, bugs, Earth Day, a dust veil event and the invention of agriculture. The events discussed in the video move beyond the confines of human history. The earliest event is the asteroid impact that ended the age of the dinosaurs 65 million years ago. At the other end of the timeline the video moves into the future and speculates about a future mega-earthquake in the Tokyo Bay area. In spatial terms, events were scattered over all five continents as well as the entire globe

This video provides an introduction to some of the most prominent events in the interaction between humans and the planetary environment that have shaped history.

The video is based on an article compiled and introduced by Frank Uekötter: “What Should We Remember? A Global Poll Among Environmental Historians”, Global Environment, 11 (2013), pp. 209-210.

James Lovelock: ‘enjoy life while you can: in 20 years global warming will hit the fan’ (The Guardian)

The climate science maverick believes catastrophe is inevitable, carbon offsetting is a joke and ethical living a scam. So what would he do? By Decca Aitkenhead

The GuardianSaturday 1 March 2008

James Lovelock

James Lovelock. Photograph: Eamonn McCabe

In 1965 executives at Shell wanted to know what the world would look like in the year 2000. They consulted a range of experts, who speculated about fusion-powered hovercrafts and “all sorts of fanciful technological stuff”. When the oil company asked the scientist James Lovelock, he predicted that the main problem in 2000 would be the environment. “It will be worsening then to such an extent that it will seriously affect their business,” he said.

“And of course,” Lovelock says, with a smile 43 years later, “that’s almost exactly what’s happened.”

Lovelock has been dispensing predictions from his one-man laboratory in an old mill in Cornwall since the mid-1960s, the consistent accuracy of which have earned him a reputation as one of Britain’s most respected – if maverick – independent scientists. Working alone since the age of 40, he invented a device that detected CFCs, which helped detect the growing hole in the ozone layer, and introduced the Gaia hypothesis, a revolutionary theory that the Earth is a self-regulating super-organism. Initially ridiculed by many scientists as new age nonsense, today that theory forms the basis of almost all climate science.

For decades, his advocacy of nuclear power appalled fellow environmentalists – but recently increasing numbers of them have come around to his way of thinking. His latest book, The Revenge of Gaia, predicts that by 2020 extreme weather will be the norm, causing global devastation; that by 2040 much of Europe will be Saharan; and parts of London will be underwater. The most recent Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) report deploys less dramatic language – but its calculations aren’t a million miles away from his.

As with most people, my panic about climate change is equalled only by my confusion over what I ought to do about it. A meeting with Lovelock therefore feels a little like an audience with a prophet. Buried down a winding track through wild woodland, in an office full of books and papers and contraptions involving dials and wires, the 88-year-old presents his thoughts with a quiet, unshakable conviction that can be unnerving. More alarming even than his apocalyptic climate predictions is his utter certainty that almost everything we’re trying to do about it is wrong.

On the day we meet, the Daily Mail has launched a campaign to rid Britain of plastic shopping bags. The initiative sits comfortably within the current canon of eco ideas, next to ethical consumption, carbon offsetting, recycling and so on – all of which are premised on the calculation that individual lifestyle adjustments can still save the planet. This is, Lovelock says, a deluded fantasy. Most of the things we have been told to do might make us feel better, but they won’t make any difference. Global warming has passed the tipping point, and catastrophe is unstoppable.

“It’s just too late for it,” he says. “Perhaps if we’d gone along routes like that in 1967, it might have helped. But we don’t have time. All these standard green things, like sustainable development, I think these are just words that mean nothing. I get an awful lot of people coming to me saying you can’t say that, because it gives us nothing to do. I say on the contrary, it gives us an immense amount to do. Just not the kinds of things you want to do.”

He dismisses eco ideas briskly, one by one. “Carbon offsetting? I wouldn’t dream of it. It’s just a joke. To pay money to plant trees, to think you’re offsetting the carbon? You’re probably making matters worse. You’re far better off giving to the charity Cool Earth, which gives the money to the native peoples to not take down their forests.”

Do he and his wife try to limit the number of flights they take? “No we don’t. Because we can’t.” And recycling, he adds, is “almost certainly a waste of time and energy”, while having a “green lifestyle” amounts to little more than “ostentatious grand gestures”. He distrusts the notion of ethical consumption. “Because always, in the end, it turns out to be a scam … or if it wasn’t one in the beginning, it becomes one.”

Somewhat unexpectedly, Lovelock concedes that the Mail’s plastic bag campaign seems, “on the face of it, a good thing”. But it transpires that this is largely a tactical response; he regards it as merely more rearrangement of Titanic deckchairs, “but I’ve learnt there’s no point in causing a quarrel over everything”. He saves his thunder for what he considers the emptiest false promise of all – renewable energy.

“You’re never going to get enough energy from wind to run a society such as ours,” he says. “Windmills! Oh no. No way of doing it. You can cover the whole country with the blasted things, millions of them. Waste of time.”

This is all delivered with an air of benign wonder at the intractable stupidity of people. “I see it with everybody. People just want to go on doing what they’re doing. They want business as usual. They say, ‘Oh yes, there’s going to be a problem up ahead,’ but they don’t want to change anything.”

Lovelock believes global warming is now irreversible, and that nothing can prevent large parts of the planet becoming too hot to inhabit, or sinking underwater, resulting in mass migration, famine and epidemics. Britain is going to become a lifeboat for refugees from mainland Europe, so instead of wasting our time on wind turbines we need to start planning how to survive. To Lovelock, the logic is clear. The sustainability brigade are insane to think we can save ourselves by going back to nature; our only chance of survival will come not from less technology, but more.

Nuclear power, he argues, can solve our energy problem – the bigger challenge will be food. “Maybe they’ll synthesise food. I don’t know. Synthesising food is not some mad visionary idea; you can buy it in Tesco’s, in the form of Quorn. It’s not that good, but people buy it. You can live on it.” But he fears we won’t invent the necessary technologies in time, and expects “about 80%” of the world’s population to be wiped out by 2100. Prophets have been foretelling Armageddon since time began, he says. “But this is the real thing.”

Faced with two versions of the future – Kyoto’s preventative action and Lovelock’s apocalypse – who are we to believe? Some critics have suggested Lovelock’s readiness to concede the fight against climate change owes more to old age than science: “People who say that about me haven’t reached my age,” he says laughing.

But when I ask if he attributes the conflicting predictions to differences in scientific understanding or personality, he says: “Personality.”

There’s more than a hint of the controversialist in his work, and it seems an unlikely coincidence that Lovelock became convinced of the irreversibility of climate change in 2004, at the very point when the international consensus was coming round to the need for urgent action. Aren’t his theories at least partly driven by a fondness for heresy?

“Not a bit! Not a bit! All I want is a quiet life! But I can’t help noticing when things happen, when you go out and find something. People don’t like it because it upsets their ideas.”

But the suspicion seems confirmed when I ask if he’s found it rewarding to see many of his climate change warnings endorsed by the IPCC. “Oh no! In fact, I’m writing another book now, I’m about a third of the way into it, to try and take the next steps ahead.”

Interviewers often remark upon the discrepancy between Lovelock’s predictions of doom, and his good humour. “Well I’m cheerful!” he says, smiling. “I’m an optimist. It’s going to happen.”

Humanity is in a period exactly like 1938-9, he explains, when “we all knew something terrible was going to happen, but didn’t know what to do about it”. But once the second world war was under way, “everyone got excited, they loved the things they could do, it was one long holiday … so when I think of the impending crisis now, I think in those terms. A sense of purpose – that’s what people want.”

At moments I wonder about Lovelock’s credentials as a prophet. Sometimes he seems less clear-eyed with scientific vision than disposed to see the version of the future his prejudices are looking for. A socialist as a young man, he now favours market forces, and it’s not clear whether his politics are the child or the father of his science. His hostility to renewable energy, for example, gets expressed in strikingly Eurosceptic terms of irritation with subsidies and bureaucrats. But then, when he talks about the Earth – or Gaia – it is in the purest scientific terms all.

“There have been seven disasters since humans came on the earth, very similar to the one that’s just about to happen. I think these events keep separating the wheat from the chaff. And eventually we’ll have a human on the planet that really does understand it and can live with it properly. That’s the source of my optimism.”

What would Lovelock do now, I ask, if he were me? He smiles and says: “Enjoy life while you can. Because if you’re lucky it’s going to be 20 years before it hits the fan.”

Uso de botos do Amazonas como isca para pesca pode causar extinção da espécie (Agência Brasil)

JC e-mail 4895, de 14 de fevereiro de 2014

Segundo as alegações, não há pessoal suficiente para exercer uma fiscalização contínua na região

Levantamento feito pela pesquisadora Sannie Muniz Brum com 35 comunidades de pescadores em área de reserva de desenvolvimento sustentável, na região do Baixo Rio Purus, no Amazonas, constatou que botos-vermelhos, conhecidos também como botos-cor-de-rosa, estão sendo mortos e usados como isca para a pesca do peixe piracatinga (Callophysusmacropterus).

Sannie é pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI) e colaboradora da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa). O projeto teve apoio da Fundação Boticário de Proteção à Natureza. Sannie alerta que, no longo prazo, essa prática pode acabar levando à extinção do “golfinho da Amazônia”. “As medidas têm que ser tomadas agora. Se não, é extinção”, disse Sannie hoje (13) à Agência Brasil.

A coordenadora adjunta do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Carla Marques, disse que, em comitês internacionais, o governo brasileiro tem sido cobrado sobre a preservação dos botos da Amazônia.

O problema, disse, é que não há pessoal suficiente para exercer uma fiscalização contínua na região. O ICMBio fiscaliza as áreas dentro das unidades de conservação e o Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se encarrega de fiscalizar fora dessas unidades. “Dentro do instituto tem uma política de tentar evitar que ocorram essas práticas, mas o ICMBio não tem o poder de polícia”.

Carla Marques informou que têm sido feitas campanhas pelo governo em conjunto com o Centro de Estudo e Pesquisa da Amazônia (Cepam). O órgão do Ministério do Meio Ambiente tem conhecimento da utilização do golfinho como isca para pesca, o que é ilegal, e está articulando ações para coibir a prática em parceria com o Ibama e o próprio ministério. “A gente tem feito algumas ações de fiscalização em conjunto com o Ibama, mas as ações são pontuais. A Amazônia é um mundo inteiro. A gente não consegue coibir tudo”.

Carla admitiu que esse é um problema de difícil solução e que ocorre em outros países. Ela acredita que para resolver o problema, só com fiscalização. “Está todo mundo pensando em tentar mitigar esse problema, mas é de difícil solução pela falta de pessoal que se tem. Os dois órgãos têm pouco contingente para atender a uma região como a Amazônia”. Ela relatou, inclusive, que algumas ações ocorrem em parceria com a Polícia Federal e as polícias locais. “Mas são pontuais. A gente não consegue estar presente o tempo todo. E a pesca continua”.

Além de uma fiscalização mais rigorosa e permanente, a pesquisadora Sannie Brum defendeu a necessidade de se levar às comunidades que habitam em áreas protegidas informações para que saibam que é crime e ilegal usar botos-vermelhos como isca para a pesca. “É preciso que haja uma conscientização. Eles [pescadores] sabem que é proibido, que não podem fazer”. É preciso que haja uma coibição efetiva para que decidam parar essa prática. “Educar e trazer informações são medidas para a conscientização dos pescadores”.

Segundo a pesquisadora, a mortalidade do golfinhos é elevada na região do Baixo Purus devido à atividade de pesca da piracatinga. Considerando 15 toneladas pescadas somente na região, de acordo com relato dos próprios pescadores, a estimativa é que até 144 botos-cor-de-rosa sejam mortos por ano para virar isca. “É um absurdo”.

A situação se agrava considerando que os golfinhos têm uma reprodução lenta. As fêmeas têm uma gestação de cerca de dez meses e, após o nascimento, podem cuidar dos filhotes por até quatro anos. Com isso, a inserção de novos botos na natureza é demorada. Sannie diz que a morte de um grande número desses animais pode inviabilizar a manutenção da espécie.

Para a pesquisadora, a fiscalização é importante, mas constitui o primeiro passo. “Ela tem que ser mais efetiva e aberta à discussão”. Ela reiterou a necessidade de uma grande campanha de educação ambiental nas comunidades, para que os moradores entendam a importância que o boto tem para o meio ambiente e para ele mesmo. Hoje, disse, o pescador vê o boto como um concorrente para suas atividades de pesca. “A gente precisa mudar isso. E só muda com educação”.

Sannie Brum pretende começar uma nova pesquisa para descobrir o que pode ser usado como alternativa de isca para a pesca da piracatinga. A coordenadora adjunta do CMA, Carla Marques, informou que esse é um tipo de peixe que se alimenta de carne morta ou em putrefação. Por isso, é rejeitado como alimento pelos próprios pescadores.

Sannie Brum explicou que apesar disso, eles vendem o produto para mercados de São Paulo, do Paraná e do Nordeste e, inclusive, para outros países, como a Colômbia. Para isso, usam o nome fantasia de “douradinha”. Como é vendido sob a forma de filé, a piracatinga acaba sendo comprada pelos consumidores que o confundem com um peixe nobre, a dourada (Brachyplathystomaflavicans).

(Alana Gandra /Agência Brasil)

Projeto susta prerrogativas da Funai no licenciamento de obras que afetam índios (Agência Câmara)

JC e-mail 4895, de 14 de fevereiro de 2014

Trata-se do Projeto de Decreto Legislativo 1300/13, do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), que susta a Instrução Normativa 1/12 da Funai

A Câmara analisa proposta que susta as prerrogativas da Fundação Nacional do Índio (Funai) nos processos de licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que afetem terras indígenas e seu entorno. Trata-se do Projeto de Decreto Legislativo 1300/13, do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), que susta a Instrução Normativa 1/12 da Funai.

A instrução define os princípios para a análise dos processos de licenciamento. Entre eles estão a precaução pela sociobiodiversidade; a autonomia dos povos indígenas; o respeito a sua organização social, usos, costumes, línguas, crenças e tradições; e os direitos originários sobre as terras. Segundo a instrução normativa, a análise deve ser feita com a participação e cooperação dos povos indígenas interessados, respeitando suas tradições e instituições representativas.

Para o autor da proposta, com o avanço das obras de transporte e de energia nas regiões Norte e Centro-Oeste, “o componente indígena se transformou na peça-chave para o processo de licenciamento ambiental, e isso tem determinado a inviabilidade, o alto custo e o atraso de grandes projetos de logística do País”.

Decisão final
De acordo com Nilson Leitão, na prática, a instrução determina que a última palavra em todo empreendimento seja de comunidades e entidades indígenas, por intermédio de suas organizações, movimentos sociais e organizações não governamentais (ONGs) nacionais e internacionais. “Esse componente é o instrumento utilizado pela Funai para exigir do Dnit ou de empreiteiras o repasse de vultuosas quantias para as lideranças indígenas e ONGs ligadas à causa”, afirma o parlamentar.

A Instrução Normativa 1/12 permite o licenciamento somente após a manifestação das comunidades potencialmente afetadas, por meio da análise técnica de relatórios. A norma impõe ainda a obrigação de o empreendedor custear todas as atividades relacionadas ao componente indígena do processo, incluindo realização de reuniões, deslocamento de lideranças, alimentação e demais gastos.

Tramitação
O projeto será analisado pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Direitos Humanos e Minorias; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, será votado pelo Plenário.

Íntegra da proposta:

PDC-1300/2013

(Luiz Gustavo Xavier/Agência Câmara)

Modelo pode ajudar a prever como espécies da Mata Atlântica responderão às mudanças climáticas (Fapesp)

Pesquisadores do Brasil e dos EUA buscam compreensão dos processos evolutivos, geológicos, climáticos e genéticos por trás do padrão atual da biodiversidade (foto:Samuel Iavelberg)

11/02/2014

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – Compreender os processos evolutivos, geológicos, climáticos e genéticos por trás da enorme biodiversidade e do padrão de distribuição de espécies da Mata Atlântica e, com base nesse conhecimento, criar modelos que permitam prever, por exemplo, como essas espécies vão reagir às mudanças no clima e no uso do solo.

Esse é o objetivo central de um projeto que reúne pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos no âmbito de um acordo de cooperação científica entre o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP) e o programa Dimensions of Biodiversity, da agência federal norte-americana de fomento à pesquisa National Science Foundation (NSF).

“Além de ajudar a prever o que poderá ocorrer no futuro com as espécies, os modelos ajudam a entender como está hoje distribuída a biodiversidade em áreas onde os cientistas não têm acesso. Como fazemos coletas por amostragem, seria impossível mapear todos os microambientes. Os modelos permitem extrapolar essas informações para áreas não amostradas e podem ser aplicados em qualquer tempo”, explicou Ana Carolina Carnaval, professora da The City University of New York, nos Estados Unidos, e coordenadora do projeto de pesquisa ao lado de Cristina Miyaki, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

A proposta, segundo Carnaval, é promover a integração de pesquisadores de diversas áreas – como ecologia, geologia, biogeografia, genética, fisiologia, climatologia, taxonomia, paleologia, geomorfologia – e unir ciência básica e aplicada em benefício da conservação da Mata Atlântica.

O bioma é considerado um dos 34 hotspots mundiais, ou seja, uma das áreas prioritárias para a conservação por causa de sua enorme biodiversidade, do alto grau de endemismo de suas espécies (ocorrência apenas naquele local) e da grande ameaça de extinção resultante da intensa atividade antrópica na região.

A empreitada coordenada por Carnaval e por Miyaki teve início no segundo semestre de 2013. A rede de pesquisadores esteve reunida pela primeira vez para apresentar suas linhas de pesquisa e seus resultados preliminares na segunda-feira (10/02), durante o “Workshop Dimensions US-BIOTA São Paulo – A multidisciplinary framework for biodiversity prediction in the Brazilian Atlantic forest hotspot”.

“Convidamos alguns colaboradores além de pesquisadores envolvidos no projeto, pois queremos críticas e sugestões que permitam aperfeiçoar os trabalhos”, contou Miyaki. “Essa reunião é um marco para conseguirmos efetivar a integração entre as diversas áreas do projeto e criarmos uma linguagem única focada em compreender a Mata Atlântica e os processos que fazem esse bioma ser tão especial”, acrescentou.

Entre os mistérios que os cientistas tentarão desvendar estão a origem da incrível diversidade existente na Mata Atlântica, possivelmente fruto de conexões existentes há milhões de anos com outros biomas, entre eles a Floresta Amazônica. Outra questão fundamental é entender a importância do sistema de transporte de umidade na região hoje e no passado e como ele permite que a Mata Atlântica se comunique com outros sistemas florestais. Também está entre as metas do grupo investigar como a atividade tectônica influenciou o curso de rios e afetou o padrão de distribuição das espécies aquáticas.

Desafios do BIOTA

Durante a abertura do workshop, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, realçou a importância de abordagens inovadoras e multidisciplinares voltadas para a proteção da biodiversidade da Mata Atlântica. Ressaltou ainda que a iniciativa está em consonância com os esforços de internacionalização realizados pela FAPESP nos últimos anos.

“Uma das grandes preocupações da FAPESP tem sido o processo de internacionalização, que basicamente está relacionado ao esforço de juntar pesquisadores de diversas áreas para avançar no conhecimento. Este programa de hoje está relacionado a aspirações dessa natureza e tenho certeza de que os resultados serão altamente relevantes”, afirmou Lafer.

Também durante a mesa de abertura, o diretor do IB-USP, Carlos Eduardo Falavigna da Rocha, afirmou que o programa BIOTA-FAPESP tem sido um exemplo para outros estados e outras fundações de apoio à pesquisa em âmbito federal e estadual.

Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do BIOTA-FAPESP, apresentou um histórico das atividades realizadas pelo programa desde 1999, entre elas a elaboração de um mapa de áreas prioritárias para conservação que serviu de base para mais de 20 documentos legais estaduais – entre leis, decretos e resoluções.

Joly também falou sobre os desafios a serem vencidos até 2020, como empreender esforços de restauração e de reintrodução de espécies, ampliar o entendimento sobre ecossistemas terrestres e sobre os mecanismos que mantêm a biodiversidade no Estado e intensificar as atividades voltadas à educação ambiental.

Para 2014, Joly ressaltou dois desafios na área de conservação. “Estamos iniciando uma campanha para o tombamento da Serra da Mantiqueira. Já fizemos alguns artigos de jornais, estamos lançando um website específico e vamos trabalhar para conseguir tombar regiões acima de 800 metros, áreas apontadas como de extrema prioridade para conservação no atlas do BIOTA”, disse.

Outra meta para 2014, segundo Joly, é trabalhar para que o Brasil ratifique o protocolo de Nagoya – tratado internacional que dispõe sobre a repartição de benefícios do uso da biodiversidade – até outubro, quando ocorrerá a 12ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica.

“É fundamental que um país megadiverso, que tem todo o interesse de ter sua biodiversidade protegida por esse protocolo internacional, se torne signatário do protocolo antes dessa reunião”, afirmou Joly.

Pesquisa avaliará os impactos socioambientais de Belo Monte (Fapesp)

O pesquisador Emilio Moran, na frente da casa em que morou por 14 meses entre 1973 e 1974, em uma agrovila próxima à Transamazônica (arquivo pessoal)

10/02/2014

Por José Tadeu Arantes

Agência FAPESP – Uma pesquisa científica vai avaliar os impactos sociais e ambientais da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, próxima à cidade de Altamira, no Pará.  A pesquisa, intitulada “Processos sociais e ambientais que acompanham a construção da hidroelétrica de Belo Monte, Altamira, PA”, tem apoio da FAPESP por meio do SPEC – São Paulo Excellence Chair, que visa propiciar a vinda ao Brasil de pesquisadores de primeira linha do exterior para criar núcleos de pesquisa em universidades paulistas.

A pesquisa é liderada pelo cubano Emilio Federico Moran, professor da Michigan State University, nos Estados Unidos, agora vinculado ao Núcleo de Estudos Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com uma longa experiência no Brasil, resultante de quatro décadas de pesquisa sobre as transformações em curso no setor rural brasileiro, em especial na Amazônia, Moran coordena uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, de várias universidades brasileiras, centralizada pelo Nepam.

O trabalho de campo está em fase inicial de implantação em Altamira. A pesquisa deverá se estender até agosto de 2018. Participam da equipe cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade Federal do Pará e da Universidade Estadual do Pará.

“Começaremos com o levantamento dos impactos sobre a população urbana”, disse Moran, desde Altamira, à Agência FAPESP. “Elaborei junto com meus colaboradores um questionário para entender como a construção da hidrelétrica está afetando os moradores antigos, o pessoal que já estava aqui. Depois, enfocaremos os moradores novos, aqueles que vieram atraídos pela obra: operários, comerciantes, engenheiros, profissionais de vários tipos.”

“Também queremos determinar o efeito da usina sobre o setor agrícola, que é um setor muito produtivo nesta região da Amazônia”, prosseguiu o pesquisador.

“Tenho feito estudos na área desde os anos 1970, quando, para realizar minha pesquisa de doutorado, visitei a região pela primeira vez. No setor rural, parece que temos duas possibilidades. Pode ser que o crescimento da população urbana em função da hidrelétrica, fazendo aumentar a demanda de alimentos, promova uma intensificação agrícola na região. Mas pode ser também que as obras atraiam trabalhadores do campo, levando a um enfraquecimento da agricultura familiar por falta de mão de obra no setor agrícola. As primeiras observações apontam nesse sentido, mas estamos só começando os estudos”, disse.

Uma terceira linha de pesquisa vai acompanhar a população ribeirinha. Um contingente de 20 mil pessoas deverá ser reassentado em razão da barragem.

“Vamos acompanhar de perto essa população nativa, que será a mais diretamente afetada. Porque os indígenas conseguiram que a companhia mudasse o plano da barragem, de forma a não terem efeitos diretos. Terão, sim, efeitos indiretos. Já os ribeirinhos vivenciarão um reassentamento enorme: muitos povoados ribeirinhos vão ter de mudar e, de fato, vários já estão sendo removidos na área”, disse Moran.

Segundo o pesquisador, o termo “ribeirinho” pode se aplicar também a uma parte da população urbana, uma vez que há bairros constituídos por palafitas, na beira do rio Xingu, que serão alagados com a construção da barragem. Esses bairros são habitados por ribeirinhos que estão em processo de transição de uma existência isolada no meio do mato para uma vida com acesso a saúde, educação e outros serviços disponíveis na área urbana.

Uma das ocupações da equipe do projeto de pesquisa, em seus primeiros meses de atividade, será fazer um estudo exaustivo da literatura internacional sobre impactos socioambientais de hidrelétricas. Há obras de grande porte na China, na Índia, no Laos e em outros países emergentes que podem servir de parâmetro para o estudo de Belo Monte.

De acordo com Moran, as observações preliminares na área permitem perceber que alguns problemas que ocorreram no exterior já se manifestam também no Pará.

“A população de Altamira dobrou nos últimos dois anos. Já alcançou 150 mil pessoas. E vários preparativos para receber essa população foram prometidos, mas não realizados a tempo”, comentou. “De modo que Altamira está agora com sua capacidade esgotada em termos de leitos hospitalares, vagas escolares, efetivos de segurança etc., criando-se uma situação caótica para todos na cidade.”

“O supercrescimento deveria ter sido acompanhado por um superinvestimento em equipamentos para atender a essa nova população. A pesquisa poderá mostrar como deveremos agir em futuras hidrelétricas para reduzir os custos sociais e ambientais de grandes projetos como Belo Monte”, disse Moran.

“Esperamos poder subsidiar propostas para um planejamento que considere as pessoas tão importantes como a produção de energia”, disse o pesquisador.

How does radioactive waste interact with soil and sediments? (Science Daily)

Date: February 3, 2014

Source: Sandia National Laboratories

Summary: Scientists are developing computer models that show how radioactive waste interacts with soil and sediments, shedding light on waste disposal and how to keep contamination away from drinking water.

Sandia National Laboratories geoscientist Randall Cygan uses computers to build models showing how contaminants interact with clay minerals. Credit: Lloyd Wilson

Sandia National Laboratories is developing computer models that show how radioactive waste interacts with soil and sediments, shedding light on waste disposal and how to keep contamination away from drinking water.

“Very little is known about the fundamental chemistry and whether contaminants will stay in soil or rock or be pulled off those materials and get into the water that flows to communities,” said Sandia geoscientist Randall Cygan.

Researchers have studied the geochemistry of contaminants such as radioactive materials and toxic heavy metals, including lead, arsenic and cadmium. But laboratory testing of soils is difficult. “The tricky thing about soils is that the constituent minerals are hard to characterize by traditional methods,” Cygan said. “In microscopy there are limits on how much information can be extracted.”

He said soils are often dominated by clay minerals with ultra-fine grains less than 2 microns in diameter. “That’s pretty small,” he said. “We can’t slap these materials on a microscope or conventional spectrometer and see if contaminants are incorporated into them.”

Cygan and his colleagues turned to computers. “On a computer we can build conceptual models,” he said. “Such molecular models provide a valuable way of testing viable mechanisms for how contaminants interact with the mineral surface.”

He describes clay minerals as the original nanomaterial, the final product of the weathering process of deep-seated rocks. “Rocks weather chemically and physically into clay minerals,” he said. “They have a large surface area that can potentially adsorb many different types of contaminants.”

Clay minerals are made up of aluminosilicate layers held together by electrostatic forces. Water and ions can seep between the layers, causing them to swell, pull apart and adsorb contaminants. “That’s an efficient way to sequester radionuclides or heavy metals from ground waters,” Cygan said. “It’s very difficult to analyze what’s going on in the interlayers at the molecular level through traditional experimental methods.”

Molecular modeling describes the characteristics and interaction of the contaminants in and on the clay minerals. Sandia researchers are developing the simulation tools and the critical energy force field needed to make the tools as accurate and predictive as possible. “We’ve developed a foundational understanding of how the clay minerals interact with contaminants and their atomic components,” Cygan said. “That allows us to predict how much of a contaminant can be incorporated into the interlayer and onto external surfaces, and how strongly it binds to the clay.”

The computer models quantify how well a waste repository might perform. “It allows us to develop performance assessment tools the Environmental Protection Agency and Nuclear Regulatory Commission need to technically and officially say, ‘Yes, let’s go ahead and put nuclear waste in these repositories,'” Cygan said.

Molecular modeling methods also are used by industry and government to determine the best types of waste treatment and mitigation. “We’re providing the fundamental science to improve performance assessment models to be as accurate as possible in understanding the surface chemistry of natural materials,” Cygan said. “This work helps provide quantification of how strongly or weakly uranium, for example, may adsorb to a clay surface, and whether one type of clay over another may provide a better barrier to radionuclide transport from a waste repository. Our molecular models provide a direct way of making this assessment to better guide the design and engineering of the waste site. How cool is that?”

Cadê o Parque que estava aqui? (O Eco)

*Mariana Napolitano Ferreira – 19/01/14

Iguaçu

Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, está ameaçado por projeto que reabre a estrada do colono, que corte a parte intangível do parque. Foto: wikipédia

Um artigo publicado essa semana na revista Biological Conservation por um grupo de pesquisadores e ambientalistas norte-americanos faz um balanço das iniciativas de redução, desafetação (ou descriação) e recategorização (RDR) de áreas protegidas na África, Ásia, América Latina e Caribe entre 1900 e 2010. O estudo identificou 543 iniciativas desse tipo em 375 áreas protegidas distribuídas em 57 países, afetando uma área total de mais de 500 mil km2, equivalente ao tamanho da Espanha ou um pouco menor que o estado da Bahia.

Ajustes nos limites de áreas protegidas, especialmente daquelas estabelecidas antes da existência de bases de dados espacializados e da realização de consultas a sociedade, podem ser importantes para reparar injustiças históricas, resolver conflitos locais e garantir a conservação de áreas com alto valor de biodiversidade. No entanto, os dados do estudo sugerem que apenas uma pequena fração das iniciativas de RDR foram propostas com esse fim. As principais causas que motivaram essas iniciativas estão associadas à ocupação do espaço e ao uso dos recursos naturais originalmente protegidos, para o desenvolvimento de atividades de escala industrial, tais como mineração, óleo e gás, agricultura e a construção de infraestruturas.

O artigo serve como uma referência importante para registrar uma tendência global de retrocesso e flexibilização indiscriminada do status de conservação garantido a áreas consideradas únicas, com alto valor de biodiversidade, serviços ecossistêmicos e beleza cênica. No entanto, os dados apresentados, compilados até 2010, não representam um quadro acurado do que ocorre no Brasil.

Uma análise mais detalhada e recente realizada para o país indica que tramitam no Congresso Nacional inúmeras propostas para redução, mudança de status ou desafetação de unidades de conservação, somando mais de 100 mil quilômetros quadrados. Segundo matéria publicada pelo site ((o))eco, um levantamento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente identificou mais de 400 projetos de lei que tentam redefinir os limites das unidades de conservação em todos os biomas brasileiros, num embate entre o desenvolvimento sustentável ou crescimento econômico a qualquer custo.

Nas últimas três décadas, o país perdeu mais de 45 mil quilômetros quadrados de área protegida em todas as regiões. E a tendência é de acirramento dessas pressões, com exemplos claros observados em 2013, tais como a pressão pela reabertura da Estrada do Colono no Parque Nacional do Iguaçu, o projeto de lei que permiteatividades de mineração em 10% das unidades de conservação de proteção integral e a possível redução do Parque Nacional do Juruena para viabilizar a construção de hidrelétricas.

A criação de parques nacionais e outras unidades de conservação exige inúmeros estudos técnicos e consultas públicas. Já a possível redução ou desafetação dessas áreas por motivos diversos, sem base técnica e debate amplo com a sociedade, ameaça gravemente a biodiversidade, comunidades locais, interesses sociais mais amplos, a segurança jurídica e a integridade do próprio Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

No caso do Parque Nacional do Juruena, situado ao norte do Mato Grosso e sudeste do Amazonas, a suposta necessidade do avanço da “fronteira hidrelétrica” na Amazônia é o único motivo alegado para a redução da área do Parque, o que causaria a inundação de mais de 40 mil hectares de áreas protegidas e o alagamento de 23 das 28 corredeiras do Parque, interferindo nas dinâmicas de seca e de cheia dos rios e inviabilizando processos ecológicos vitais para peixes migratórios, por exemplo.

*É especialista em políticas públicas da WWF Brasil.

*   *   *

Um rasgo na floresta (OESP)

Dener Giovani, 17.janeiro.2014 01:01:16

Em 27 de agosto de 1972, o então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, inaugurou aquele que seria o símbolo maior de uma visão desenvolvimentista equivocada: a transamazônica. Com 4.223 km de extensão, a rodovia dos generais foi planejada e vendida ao público como um instrumento de desenvolvimento para a região, um canal por onde escoaria a abundância e o progresso. Passados 40 anos, a estrada dos ombros estrelados transformou-se apenas num mar de lama e pó, por onde navegam aglomerados de miséria, crime e descaso.

Mesmo diante de 4.223 km de exemplos, alguns brasileiros ainda insistem no discurso que privilegia o progresso a qualquer custo. O alvo da vez é uma estradinha de 17 km de extensão. Pequena em tamanho, porém gigantesca em riscos ambientais – caso se leve adiante a insanidade – a Estrada do Colono, no estado do Paraná, poderá se transformar no atual símbolo da ganância e da incapacidade brasileira de lidar com o seu rico patrimônio natural.

Aberta no início de 1930, nunca chegou a ser asfaltada. A Estrada do Colono atualmente não passa de uma pequena trilha que liga as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema. Sua importância está no fato de que ela atravessa uma das maiores e mais importantes reservas de Mata Atlântica do Brasil: o Parque Nacional do Iguaçu. Com quase 186 mil hectares, o parque criado em 1938, concentra em seus limites uma riquíssima biodiversidade, incluindo espécies endêmicas, que só podem ser encontradas ali. Também é um santuário para as onças pintadas e diversas espécies de aves ameaçadas de extinção. Abrir uma estrada cortando o parque significa muito mais do que fazer um rasgo na floresta. Será, acima de tudo, um enorme e irreparável atentado à biodiversidade da região. Será, além de um ato insano, um rasgo da Constituição Federal.

A guerra pela consolidação da Estrada do Colono é antiga. Uma ação do Ministério Público Federal fechou a estrada em 1986. No ano seguinte, uma tentativa de reabertura mobilizou até o exército. Em 2001 veio o fechamento definitivo. Em 2003, uma nova tentativa de invasão e reabertura da estrada foi comandada por líderes políticos e fazendeiros da região.

O golpe maior vem agora, na forma de um projeto de Lei do deputado federal petista Assis do Couto. O parlamentar conseguiu aprovar na Câmara Federal o PL 7123/2010, que institui a Estrada-Parque Caminho do Colono. O PL encontra-se no Senado Federal e a qualquer momento poderá ser aprovado, efetivando dessa forma mais do que um atentado ambiental. A aprovação desse projeto de Lei no Senado será um salvo conduto para que outras iniciativas parecidas sejam implementadas no Brasil.

Diversas organizações ambientais estão mobilizadas no sentido de impedir a aprovação dessa lei retrógada e oportunista. Um grupo de ONGs ambientalistas entregou ao Senado Federal uma Cartilha onde demonstra claramente os riscos e as nefastas consequências da abertura da Estrada do Colono. Para acessar a Cartilha, CLIQUE AQUI.

A situação dos parques nacionais brasileiros já é calamitosa demais para receber mais esse golpe. Sem estruturas físicas adequadas, sem investimentos e, sobretudo, sem fiscalização, essas áreas de conservação são constantemente vítimas do descaso do governo federal, o que resulta em permanente degradação ambiental. O Ministério do Meio Ambiente, cada vez mais relegado ao ostracismo, assiste calado o que se passa no parlamento.

Cada vez mais se faz necessário a atenção e a efetiva participação da sociedade brasileira na conservação dos recursos naturais do país. Só indignação não é mais o suficiente frente aos desmandos cotidianos. É necessário ação, participação. A internet, as redes sociais e a pressão sobre os parlamentares é fundamental para impedir que os degradadores ambientais façam a sua festa nas estradas pelo país afora. Manifestemo-nos!

Rainforests in Far East Shaped by Humans for the Last 11,000 Years (Science Daily)

Jan. 24, 2014 — New research from Queen’s University Belfast shows that the tropical forests of South East Asia have been shaped by humans for the last 11,000 years.

New research from Queen’s University Belfast shows that the tropical forests of South East Asia have been shaped by humans for the last 11,000 years. (Credit: © Juhku / Fotolia)

The rain forests of Borneo, Sumatra, Java, Thailand and Vietnam were previously thought to have been largely unaffected by humans, but the latest research from Queen’s Palaeoecologist Dr Chris Hunt suggests otherwise.

A major analysis of vegetation histories across the three islands and the SE Asian mainland has revealed a pattern of repeated disturbance of vegetation since the end of the last ice age approximately 11,000 years ago.

The research, which was funded by the Arts and Humanities Research Council and the British Academy, is being published in the Journal of Archaeological Science. It is the culmination of almost 15 years of field work by Dr Hunt, involving the collection of pollen samples across the region, and a major review of existing palaeoecology research, which was completed in partnership with Dr Ryan Rabett from Cambridge University.

Evidence of human activity in rainforests is extremely difficult to find and traditional archaeological methods of locating and excavating sites are extremely difficult in the dense forests. Pollen samples, however, are now unlocking some of the region’s historical secrets.

Dr Hunt, who is Director of Research on Environmental Change at Queen’s School of Geography, Archaeology and Palaeoecology, said: “It has long been believed that the rainforests of the Far East were virgin wildernesses, where human impact has been minimal. Our findings, however, indicate a history of disturbances to vegetation. While it could be tempting to blame these disturbances on climate change, that is not the case as they do not coincide with any known periods of climate change. Rather, these vegetation changes have been brought about by the actions of people.

“There is evidence that humans in the Kelabit Highlands of Borneo burned fires to clear the land for planting food-bearing plants. Pollen samples from around 6,500 years ago contain abundant charcoal, indicating the occurrence of fire. However, while naturally occurring or accidental fires would usually be followed by specific weeds and trees that flourish in charred ground, we found evidence that this particular fire was followed by the growth of fruit trees. This indicates that the people who inhabited the land intentionally cleared it of forest vegetation and planted sources of food in its place.

“One of the major indicators of human action in the rainforest is the sheer prevalence of fast-growing ‘weed’ trees such as Macaranga, Celtis and Trema. Modern ecological studies show that they quickly follow burning and disturbance of forests in the region.

“Nearer to the Borneo coastline, the New Guinea Sago Palm first appeared over 10,000 years ago. This would have involved a voyage of more than 2,200km from its native New Guinea, and its arrival on the island is consistent with other known maritime voyages in the region at that time — evidence that people imported the Sago seeds and planted them.”

The findings have huge importance for ecological studies or rainforests as the historical role of people in managing the forest vegetation has rarely been considered. It could also have an impact on rainforest peoples fighting the advance of logging companies.

Dr Hunt continued: “Laws in several countries in South East Asia do not recognise the rights of indigenous forest dwellers on the grounds that they are nomads who leave no permanent mark on the landscape. Given that we can now demonstrate their active management of the forests for more than 11,000 years, these people have a new argument in their case against eviction.”

Journal Reference:

  1. C.O. Hunt, R.J. Rabett. Holocene landscape intervention and plant food production strategies in island and mainland Southeast AsiaJournal of Archaeological Science, 2013; DOI: 10.1016/j.jas.2013.12.011

Barragem para hidrovia Tietê-Paraná destruirá ‘minipantanal’ de Piracicaba (Ambiente Brasil)

30 / 12 / 2013

A construção de uma barragem na Hidrovia Tietê-Paraná, em Santa Maria da Serra (SP), vai colocar de baixo d’água uma região rural de Piracicaba (SP) chamada Tanquan e considerada um “minipantanal” do interior paulista devido à existência de animais e vegetação semelhantes àquele do Mato Grosso. Com a inundação da área, famílias ribeirinhas que sobrevivem da pesca terão de deixar o local já em 2014, conforme prevê o governo do estado. A obra, propriamente dita, deve começar em 2015 e durar três anos.

A obra deve aumentar o nível do Rio Piracicaba em até 5,5 metros para torná-lo navegável em 45 quilômetros e transformá-lo em um “braço” da Tietê-Paraná, ligando Piracicaba à hidrovia pela represa de Barra Bonita. A polêmica sobre a barragem existe há anos, mas as audiências públicas sobre o assunto iniciadas em dezembro e que seguem até janeiro de 2014, reacenderam o debate, que envolve questões ambientais, sociais e legais de desenvolvimento econômico. O caso é acompanhado em inquérito civil pelo Ministério Público Estadual.

Para se ter uma ideia das consequências da obra, entre tuiuiús, jacarés-de-papo-amarelo, dourados e onças-pardas, a fauna que sofrerá os impactos inclui 218 espécies de aves, 54 de peixes (nove adaptáveis à mudança e cinco que podem desaparecer do território paulista), além de espécies de mamíferos, segundo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da barragem. A construção deve suprimir também metade da mata original da área, conforme análise divulgada pelo Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).

“Só vão ficar animais generalistas, que conseguem se adaptar a diferentes condições e tipos de alimentação. Várias espécies, no entanto, vão deixar de existir na área e outro bioma assim só se formaria em 60 ou 70 anos”, afirmou o geógrafo Anderson Guarda. Ele disse que o aumento do nível do rio vai “uniformizar” o ambiente e dar fim às variadas formas de vida na região.

Projeto oficial – O governo estadual admite que, se a obra for realizada, ocorrerá o sumiço das espécies e o fim do “pantanal de Tanquan”. Como medida compensatória, o projeto prevê a preservação de um trecho do Rio Piracicaba conhecido como “Curva da Samambaia”. A intenção do estado é a de construir um canal para que cerca de dez quilômetros do curso d’água se tornem propícios para acolher os animais do minipantanal ao longo do tempo.

José Roberto Santos, representante do consórcio contratado para fazer o projeto da obra, falou sobre os impactos ambientais em audiência pública em Piracicaba e tratou como “aposta” a Curva da Samambaia. “A área é vista como uma possibilidade para recuperar ao menos parte da vida animal que existe no Tanquan. Não se pode dizer com certeza se isso vai acontecer, mas é uma aposta”, disse.

O diretor do Departamento Hidroviário (DH) da Secretaria de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, Casemiro Tércio Carvalho, defende a ampliação da hidrovia em nome do desenvolvimento nacional. “Piracicaba não pode se fechar em copas e se recusar a cumprir o dever de contribuir para o desenvolvimento do país. Com a barragem teremos condições de reduzir o número de caminhões nas estradas e transportar cargas do Centro-Oeste até Piracicaba pela água e depois de trem até o Porto de Santos”, afirmou Carvalho. Ele disse que as compensações ambientais serão equivalentes aos danos causados pela obra.

Desenvolvimento x natureza – Luiz Antonio Fayet, especialista e consultor de logística, diz que além de custos operacionais que podem ser mais vantajosos, as hidrovias representam redução do tráfego terrestre para transporte de cargas e menos poluição ambiental gerada com o uso de caminhões nas rodovias. Sobre a Tietê-Paraná, Fayet afirma que a maior parte das cargas transportadas é de materiais de construção civil, mas deve ganhar importância também o transporte de combustíveis.

“A relevância das hidrovias é nítida. Agora, se existe um questionamento sobre o impacto de uma obra, a pergunta que tem de ser respondida é a seguinte: é melhor arcar com o custo social de indenizar todas as partes atingidas e fazer a compensação ambiental adequada ou manter as estradas entulhadas de caminhões para levar as mesmas cargas?”, questionou Fayet.

“É necessário, porém, que o debate seja sério de todos os lados. As indenizações e compensações têm de ser corretas, mas não dá para ficar com brincadeiras contrárias às melhorias de infraestrutura porque, dessa forma, não se desenvolve mais nada no Brasil”, disse o consultor, que completou: “Cito como exemplo mais crítico disso a duplicação da BR-116, no trecho que liga o Sudeste ao Sul do país. Milhares de pessoas morreram nessa estrada graças a uma oposição criminosa fundada em questões ambientais equacionáveis”.

Referência em direito ambiental no Brasil e autor de livros e idealizador de artigos sobre o assunto para a Constituição Federal, o professor Paulo Affonso Leme Machado alerta que não se pode realizar obras de grande impacto ambiental sem a certeza de que haverá compensações equivalentes aos danos.

Após acompanhar uma das audiências públicas sobre a barragem, Machado afirmou que não há clareza ainda sobre as medidas para compensar “os estragos”. “Fala-se muito em aposta e dúvida, mas a legislação ambiental diz que diante da incerteza quanto às compensações para o impacto ambiental, a obra não deve ser feita. Foi levantada a suposta ocorrência de enchentes em Piracicaba depois da obra e isso não foi devidamente estudado. Com risco desse tipo de inundação, entendo que a barragem não deveria ser construída”, disse.

Investigações do Gaema – Todo processo e as ações do governo para os preparativos da obra são alvos de um inquérito civil instaurado pelo Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público Estadual. O promotor Ivan Carneiro Castanheiro aponta como preocupações justamente as dúvidas em relação às medidas compensatórias ao desaparecimento de Tanquan, além do que chamou de “fatiamento” do estudo e do relatório de impactos ambientais.

Segundo a Promotoria, os documentos não abrangem ainda as consequências da construção de um porto no bairro de Artemis, também em Piracicaba, e da ferrovia que deverá escoar a maior parte das cargas que chegarem ao município.

“Nós não somos contrários ou favoráveis à obra. A função do Gaema é investigar se é realmente viável uma ampliação de 45 quilômetros de hidrovia diante de tantos impactos ou se o ideal seria a construção da ferrovia. As ações compensatórias e mitigatórias também precisam ser avaliadas a fundo”, considerou o promotor.

Pescadores lamentam – O estado ainda deve realizar reuniões para debater temas específicos como as desapropriações de terras privadas próximas à futura represa e até mesmo a forma como se dará a remoção de um grupo de 13 famílias que vive da pesca na região que ficará submersa. O projeto prevê que a população ribeirinha terá de ser realocada para uma área próxima ao minipantanal.

O governo afirma que o “novo Tanquan” receberá melhorias estruturais como água e esgoto encanados, casas de alvenaria e regulamentação fundiária, o que não existe atualmente. O período sem a pesca, segundo o estado, será de seis meses e as reuniões com os ribeirinhos servirão para esclarecer questões referentes, por exemplo, aos valores que eles receberão durante o semestre em que a atividade estiver proibida.

Já o pescador Ronaldo Evangelista, de 35 anos, afirmou que a inundação vai destruir o lugar que ele chamou de lar durante a vida toda, além de acabar com o único meio de vida que conheceu. A pesca é o sustento da família Evangelista há quatro gerações, desde o avô de Roberto até os seus sobrinhos. “Eu não me vejo fazendo outra coisa. Cresci no Tanquan. Meu filho tem seis anos e, assim que entra em férias escolares, enlouquece para andar comigo de barco.” (Fonte: G1)

Smog in Beijing Is So Awful You Have to Catch the Sunrise on a Big Screen (Time)

In the airpocalypse, fake sunrises are a thing

By , Jan. 17, 2014

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ChinaFotoPress / Getty Images. This LED screen displays the rising sun in Beijing’s Tiananmen Square, which is shrouded in heavy smog on Jan. 16, 2014.

Updated on Jan. 17, 2014 at 5:32 a.m EST.

Air pollution in the Chinese capital reached new, choking heights on Thursday. Those who still felt the urge to catch a glimpse of sunlight were able to gather around the city’s gigantic LED screens, where this glorious sunrise was broadcast as part of a patriotic video loop.

This post has been revised to reflect that the sunrise was not broadcast specifically for that day.

Read more: Beijing’s Televised Sunrise | TIME.com http://world.time.com/2014/01/17/beijing-smog-combatted-with-televised-sunrises/#ixzz2qgS80R00

 

Unease among Brazil’s farmers as Congress votes on GM terminator seeds (The Guardian)

Environmentalists warn approval could shatter global agreement not to use technology, with devastating repercussions

 in Rio de Janeiro and 
theguardian.com, Thursday 12 December 2013 16.34 GMT

Brazil national congress

Brazil’s national Congress is under pressure from landowning groups to green light GM ‘terminator’ seeds. Photograph: Ruy Barbosa Pinto/Getty Images/Flickr RF

Brazil is set to break a global moratorium on genetically-modified “terminator” seeds, which are said to threaten the livelihoods of millions of small farmers around the world.

The sterile or “suicide” seeds are produced by means of genetic use restriction technology, which makes crops die off after one harvest without producing offspring. As a result, farmers have to buy new seeds for each planting, which reduces their self-sufficiency and makes them dependent on major seed and chemical companies.

Environmentalists fear that any such move by Brazil – one of the biggest agricultural producers on the planet – could produce a domino effect that would result in the worldwide adoption of the controversial technology.

Major seed and chemical companies, which together own more than 60% of the global seed market, all have patents on terminator seed technologies. However, in the 1990s they agreed not to employ the technique after a global outcry by small farmers, indigenous groups and civil society groups.

In 2000, 193 countries signed up to the UN Convention on Biological Diversity, which recommended a de facto moratorium on this technology.

The moratorium is under growing pressure in Brazil, where powerful landowning groups have been pushing Congress to allow the technology to be used for the controlled propogation of certain plants used for medicines and eucalyptus trees, which provide pulp for paper mills.

The landowning groups want to plant large areas with fast growing GMtrees and other non-food GM crops that could theoretically spread seeds over wide areas. The technology, they argue, would be a safeguard, ensuring that no second generation pollution of GM traits takes place. They insist that terminator seeds would only be used for non-food crops.

Their efforts to force a bill to this effect through Congress, ongoing since 2007, have been slowed due to resistance from environmentalists.

The proposed measure has been approved by the legislature’s agricultural commission, rejected by the environmental commission, and now sits in the justice and citizenship commission. It is likely to go to a full Congressional vote, where it could be passed as early as next Tuesday, or soon after the Christmas recess.

Environment groups say there would be global consequences. “Brazil is the frontline. If the agro-industry breaks the moratorium here, they’ll break it everywhere,” said Maria José Guazzelli, of Centro Ecológico, which represents a coalition of Brazilian NGOs.

This week they presented a protest letter signed by 34,000 people to thwart the latest effort to move the proposed legislation forward. “If this bill goes through, it would be a disaster. Farmers would no longer be able to produce their own seeds. That’s the ultimate aim of the agro-industry,” she said.

The international technology watchdog ETC, which was among the earliest proponents of a ban on terminator technology in the 1990s, fears this is part of a strategy to crack the international consensus.

“If the bill is passed, [we expect] the Brazilian government to take a series of steps that will orchestrate the collapse of the 193-country consensus moratorium when the UN Convention on Biological Diversity meets for its biennial conference in Korea in October 2014,” said executive director Pat Mooney.

But Eduardo Sciarra, Social Democratic party leader in the Brazilian Congress, said the proposed measure did not threaten farmers because it was intended only to set controlled guidelines for the research and development of “bioreactor” plants for medicine.

“Gene use restriction technology has its benefits. This bill allows the use of this technology only where it is good for humanity,” he said.

The technology was developed by the US Department of Agriculture and the world’s largest seed and agrochemical firms. Syngenta, Bayer, BASF, Dow, Monsanto and DuPont together control more than 60% of the global commercial seed market and 76% of the agrochemical market. All are believed to hold patents on the technology, but none are thought to have developed the seeds for commercial use.

Massive protests in the 1990s by Indian, Latin American and south-east Asian peasant farmers, indigenous groups and their supporters put the companies on the back foot, and they were reluctantly forced to shelve the technology after the UN called for a de-facto moratorium in 2000.

Now, while denying that they intend to use terminator seeds, the companies argue that the urgent need to combat climate change makes it imperative to use the technology. In addition, they say that the technology could protect conventional and organic farmers by stopping GM plants spreading their genes to wild relatives – an increasing problem in the US, Argentina and other countries where GM crops are grown on a large scale.

A Monsanto spokesman in Brazil said the company was unaware of the developments and stood by a commitment made in 1999 not to pursue terminator technology. “I’m not aware of so-called terminator seeds having been developed by any organisation, and Monsanto stands firmly by our commitment and has no plans or research relating to this,” said Tom Helscher.

On its website, however, the company’s commitment only appears to relate to “food crops”, which does not encompass the tree and medicinal products under consideration in Brazil.

• Additional research by Anna Kaiser

Background to a controversy

Ever since GM companies were found to be patenting “gene-use restriction” or “terminator” technologies in the 1990s, they have been accused of threatening biodiversity and seeking to make farmers dependent on big industry for their livelihoods.

In many developing countries, where up to 80% of farmers each year choose their best plants and save their own seed, terminator technology is a byword for all genetic modification, raising fears that sterile GM strains could contaminate wild plants and regular crops – with devastating consequences.

The GM companies, which claimed in the 1990s that they wanted to introduce the seeds only to stop farmers stealing their products, were forced to shelve the technology in the face of massive protests in India, Latin Amercia and south-east Asia.

In the face of growing international alarm, the 193 countries signed up to the UN Convention on Biological Diversity unanimously agreed in 2000 that there should be a de facto international moratorium. This was strengthened at the Conference of the Parties in 2006, under the presidency of Brazil.

Since then, the moratorium has held firm. But the GM companies have shifted their arguments, saying that gene-use restriction technologies now allow seeds to reproduce, but could “switch off” the GM traits. This, they argue, would reduce the possibility of the seeds spreading sterility. In addition, they say the technology could protect organic and conventional farmers from the spread of transgenes to wild relatives and weeds, which plagues GM farmers in the US and elsewhere.

The fear now is that the global moratorium could quickly unravel if Brazil, one of the most important agricultural countries in the world, overturns its national law to ban terminator technology. Other countries, pressed strongly by the powerful GM lobby, would probably follow, leading inevitably to more protests.

É um erro escolarizar o conhecimento tradicional, avalia pesquisadora da USP (Notícias da UFMG)

Foca Lisboa/UFMG
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Manuela Carneiro propôs projeto de valorização do conhecimento tradicional

Quinta-feira, 21 de novembro de 2013, às 5h50

As possibilidades de cooperação entre os cientistas acadêmicos e os chamados “conhecedores tradicionais” – em especial os indígenas – foram abordadas em conferência na UFMG da professora Maria Manuela Carneiro da Cunha, da Universidade de São Paulo (USP), no início deste mês. O evento integrou a programação doColóquio Davi Kopenawa e a Hutukara: um encontro com a cosmopolítica Yanomami.

Para a professora, é um contrassenso tentar escolarizar o conhecimento tradicional. “Ele não é só conteúdo; são também formas de existência e de transmissão desse conteúdo. Assim, em vez de se pensar em escolarização, devemos propor programas de pesquisa de conhecimentos tradicionais estabelecendo pontes entre o conhecimento prático e o que se aprende na escola”, defendeu.

Na ocasião, Maria Manuela detalhou a proposta que submeteu ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para a criação de programa focado na valorização do conhecimento tradicional e na criação de uma economia na Amazônia que seja compatível com o conceito de “floresta em pé”

“Fizemos a proposta ao Ministério, que parece ter gostado do projeto, e o incluiu no seu programa para o período de 2010-2014. A ideia é que o projeto resulte em editais anuais, e que fomente a distribuição equitativa de poder e de recursos”, explicou.

O Portal UFMG resumiu aspectos da conferência de Maria Manuela Carneiro da Cunha. Confira a seguir.

O contexto político
Formamos um conselho consultivo e propusemos ao MCTI um programa focado na importância da valorização dos conhecimentos tradicionais para o Brasil. O Ministério demonstrou interesse e pôs o programa na sua agenda para o período 2010-2014. Mas quiseram começar de uma forma mais prudente do que se poderia esperar. Encomendaram um estudo de três anos para avaliar a viabilidade e o formato de um programa permanente. É o que estamos fazendo atualmente. Mas sabemos que, quando mudam governo e secretário, mudam as políticas. E em 2014 teremos novas eleições. Portanto, não temos nenhuma segurança de que o programa vai se reverter em algo permanente. Mas estamos trabalhando para isso. Já foi um importante avanço tratar a questão no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em vez do Ministério da Educação (MEC).

Floresta em pé
O programa se chama Bases para um programa de pesquisas interculturais e fortalecimento do conhecimento tradicional e tem dois pilares principais. Um trata de fomentar a criação de um tipo de economia na Amazônia que seja compatível com a ideia de “floresta em pé”. Essa parte foi mais facilmente aceita. O segundo diz respeito à valorização dos conhecimentos tradicionais. Ou seja, de se reconhecê-lo e buscar o auxílio das populações tradicionais, que têm o know-how nesse tipo de manejo da floresta, para fomentar seu uso sustentável. Essa é uma ação que enfrenta mais resistência. Temos implantado projetos pilotos. São tentativas de demonstrar que é possível criar uma agricultura da “floresta em pé”, de que essa mudança de paradigma é interessante para todas as partes – populações tradicionais, cientistas das universidades e para a sociedade como um todo.

Contribuição do saber tradicional
Tenho trabalhado junto a especialistas solicitando levantamentos sobre as contribuições econômicas que os conhecimentos tradicionais podem oferecer. Mas temos de ter em mente que o mais importante não é mensurável. Não se pode medir o conhecimento tradicional pelo seu valor econômico; existem questões mais importantes. Um grande problema hoje é que, se o aspecto econômico não é mensurado, a contribuição oferecida pelo conhecimento tradicional não é apreciada, não é levada em conta, apesar de ser imprescindível para o trabalho. Pesquisadores fazem “descobertas” e não reconhecem o conhecimento tradicional embutido em seus trabalhos. Dizem: “não devo nada aos conhecimentos tradicionais”, quando, na verdade, devem muito.

Repartição equitativa
Até hoje não temos uma medida precisa para fazer essa avaliação. Mas estamos chegando a algum tipo de consenso de como deve ser feita a regulamentação desse reconhecimento. O Congresso Nacional está recebendo um projeto de lei que vai substituir medida provisória sobre o assunto. A ideia é estipular o pagamento equitativo, a recompensa, a “repartição equitativa de benefícios”; esse é o termo, porque essa recompensa pode até mesmo ser não monetária. Uma frente de trabalho tem sido a de colaborar para o estabelecimento de qual deve ser, do ponto de vista econômico, o aporte a ser feito em remuneração ao conhecimento tradicional embutido nos processos científicos. No entanto, cabe repetir: não se pode exigir uma justificativa estritamente econômica para preservar a diversidade de línguas, práticas e cantos. Reduzir tudo isso à questão do capital seria um absurdo.

Conhecimento em construção
Quando os cientistas apreciam o conhecimento tradicional, eles pensam o seguinte: “vamos fazer um levantamento e então guardar o recurso para futuras pesquisas”. O problema é que essa postura desconsidera que o conhecimento tradicional é fruto de um processo vivo, que está sempre em transformação. Ele depende da população que o gerou, depende dela para continuar se transformando, se aprimorando. Se você armazena cientificamente uma informação, ela não terá a mesma validade quando for retomada. Venho insistindo com o MCTI que não se deve pensar o conhecimento tradicional como algo pronto e consolidado, mas sim como conhecimento em constante construção, tal qual o conhecimento científico. Por incrível que pareça, isso é muito difícil de entrar na cabeça de biólogos, de cientistas acadêmicos.

O valor dos mateiros
Quando os cientistas vão adentrar a floresta, eles sempre precisam da orientação dos mateiros, oriundos da população local: são eles que conhecem a mata, os territórios, e que estão sempre descobrindo coisas novas, novos caminhos. Ainda assim eles são sempre depreciados nos institutos de pesquisa. Sempre são colocados como assistentes, sendo muito pouco valorizados no contexto da construção do conhecimento – e muito mal pagos. E a verdade é que os mateiros são os primeiros pesquisadores. Eles aprenderam no local e estão transmitindo esses conhecimentos para os pesquisadores científicos.

Desvalorização histórica
A história tradicional faz tudo para solapar o conhecimento tradicional. Por exemplo: a nossa escola, ao ser levada para essas comunidades, considera que o que a criança aprende em casa é algo sem valor. Faz com que esse conhecimento seja visto como de uma instância inferior. A escola atrapalha de várias maneiras: sua forma de elaborar seu calendário, seus horários… Por isso, as pessoas mais velhas dessas sociedades acabam se sentindo desvalorizadas quando em contato com a nossa. Em muitas dessas comunidades, eles são os responsáveis por passar certos conhecimentos de pai para filho. E a nossa escola canônica não entende ou aceita isso muito bem. A reação são as “escolas diferenciadas”, criadas pelas próprias comunidades indígenas – e que naturalmente vêm sofrendo muita resistência. São escolas que pensam seu calendário para que ele seja compatível com as atividades tradicionais da comunidade, que pensam a importância da língua, do conhecimento local, das tradições, das festas, da participação social. Aí está um aspecto muito importante a ser solucionado. É preciso que a escola se adapte à realidade dessas comunidades, no sentido de uma política de fortalecimento do conhecimento tradicional. Saber como fazer uma canoa, por exemplo, importa muito mais do que certos “conhecimentos” que as escolas acham importante disseminar.

Os riscos da ‘revolução verde’
Uma retomada histórica explica o desafio que se vive hoje na agricultura. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma “revolução verde”: uma ambiciosa tentativa de aumentar a produção agrícola no mundo inteiro e resolver o problema da fome. Foi algo muito importante. Entre as mais de sete mil espécies de plantas alimentícias existentes no mundo, as trinta mais produtivas foram selecionadas para formarem a base da alimentação da maioria. Mas as demais espécies dessa enorme variedade foram de certa forma esquecidas. Apesar de sua importância na época, foi uma medida política muito arriscada. Quando a base de alimentação mundial é tão pequena, crescem os riscos de escassez caso algo aconteça com alguma dessas espécies. É uma medida em que não se considera que as variedades são adaptadas a cada lugar, ao tipo de solo, à quantidade de sol e chuva, às pragas. Então resolveram o problema da não adaptação das espécies às pragas e às demais dificuldades dos novos ambientes com o uso maciço de fertilizantes e de defensivos agrícolas. E hoje o Brasil é um “campeão” no uso dos dois. Resolveu-se o problema. Mas a que custo? Tornamo-nos reféns dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas. Ao custo do sacrifício das variedades locais. E o risco disso é enorme.

Cultivo on farm
Em algum momento, percebemos que o que se estava fazendo era uma política agrícola extremamente perigosa. Na Irlanda, por exemplo, aconteceu um desastre em função disso. Assim como na Bélgica, França, Alemanha, a base da alimentação no país era a batata, que havia sido domesticada pelos índios da América e levada para a Europa pelos espanhóis após a colonização. Os espanhóis levaram poucas espécies, as mais produtivas. Os irlandeses, em dado momento, estavam se alimentando só de duas espécies. Foi quando aconteceu uma praga que durou quatro anos e acabou com tudo. Um milhão de pessoas morreu de fome. Outro milhão migrou. É um exemplo de como é necessário guardar as variedades. Mas não basta fazer bancos de sementes como os da Embrapa, em que as sementes ficam em uma geladeira, mas não continuam se adaptando às mudanças do meio ambiente. O clima muda, o solo muda. Então, é preciso que as espécies continuem sendo cultivadas na roça, sendo cultivadas on farm, pois só se adaptam aquelas que continuam sendo cultivadas em campo. Isso é fundamental para a nossa segurança alimentar. E aí entra a questão dos conhecimentos tradicionais, dos índios, que tem o hábito de cultivar variedades.

Experiência no Rio Negro
Um desses projetos-pilotos de que falei está sendo desenvolvido às margens do Rio Negro, na Amazônia. Lá, a despeito das políticas governamentais que buscam consolidar a plantação apenas das poucas espécies mais produtivas, os índios estão plantando em seus roçados mais de cem variedades de mandioca, colaborando com a diversidade tão importante para a segurança de nosso sistema agrário. Hoje, 500 milhões de pessoas comem mandioca no mundo. É um alimento que tem enorme consumo na África, por exemplo. Se houvesse uma praga como a das batatas, teríamos hoje um problema enorme, a exemplo do que aconteceu na Irlanda. Esse caso da mandioca é um exemplo de como o conhecimento tradicional tem uma importância fundamental. Porque é o conhecimento tradicional dos índios que possibilita que lá, no Rio Negro, haja tanta variedade da espécie. Normalmente, a mandioca é plantada como “clone”; come-se a raiz e planta-se o caule. Mas a mandioca sabe dar flor, que tem semente. E, quando dá flor, é porque houve reprodução sexuada, de forma que essa semente não é um clone. A formiga gosta dessa semente, que é docinha. Então ela leva a semente para debaixo da terra. Essa é uma semente que só brota se houver fogo; só nasce na capoeira. Nesse sentido, ela tem brotado no Rio Negro em função do trabalho dos índios mais antigos, que gostam de cultivar as variedades e trabalham para que haja essa capoeira. As variedades também são fruto do trabalho das mulheres indígenas, que cultivam experimentalmente as sementes. Elas plantam em uma margem da roça algo que só vai dar a partir do segundo ou do terceiro ano. É um trabalho de colecionador. Essas mulheres de fato pesquisam para avaliar cada nova variedade e depois para cultivá-la. Há ainda a cultura de troca de sementes entre famílias e tribos, nas festas. Há um gosto pela coleção.

Virada política
Mesmo assim, ainda há hoje uma política do governo querendo disseminar o cultivo das espécies de mandioca entre as comunidades tradicionais, algo como “ensinar padre a rezar missa”. Insistem em focar nas espécies mais produtivas, ainda na lógica da revolução verde. E isso em um contexto em que o Brasil é signatário de um tratado que obriga o país a fomentar o cultivo de variedades na roça, de fomentar esse cultivo on farm, e não em bancos de sementes. O Brasil não está cumprindo esse tratado. Nesse sentido, nosso projeto-piloto visa transformar essas práticas tradicionais do Rio Negro em um sistema reconhecido como forma de conservação on farm valiosa e estratégica para o Brasil e para o mundo. É isso que a gente está construindo.

Leia também o perfil do líder yanomami David Kopenawa, publicado na edição 1845 do Boletim UFMG.

(Ewerton Martins Ribeiro)

Animais, plantas, natureza: os direitos do meio ambiente. Entrevista com Philippe Descola (Unisinos)

Por Marino Niola

Philippe Descola herdou a cátedra de Lévi-Strauss em Paris. E conta como a disciplina está evoluindo: “Há muitas formas de vida. Temos que levar isso em conta”. Em alguns países, a proteção e o respeito pelos recursos vitais foram incluídos na Constituição. É preciso aprender a coabitar.

A antropologia de Lévi-Strauss era uma grande teoria sobre o ser humano. A antropologia de hoje, ao contrário, deve ir além do humano. O ser humano sozinho não lhe basta mais. Porque natureza e cultura são uma só coisa. Sociedade e meio ambiente, uma só casa. As neurociências, a etologia, a genética, a ecologia falam claramente. Nós, bípedes, com o dom da palavra, não somos o umbigo do mundo, mas sim parte da vida, quer gostemos ou não.

Philippe Descola sorri maliciosamente. Ele assumiu o lugar de Lévi-Strauss na cátedra de antropologia mais prestigiada do planeta. A do Collège de France. Tudo aqui ainda fala do mestre que revolucionou as ciências do ser humano. Livros, estantes, objetos exóticos descritos precisamente em Tristes Trópicos. “Obviamente, eu não sou o herdeiro de Claude Lévi-Strauss, mas só o seu sucessor”, explica, com bom humor.

Eis a entrevista.

Um homem que tinha uma imensa e preciosa erudição, de savant de outros tempos.

E que não é mais de hoje. A sua análise dos mitos é um virtuosismo acrobático. Obras como O Pensamento Selvagem e O cru e o cozido são o produto de um talento pessoal muito próximo ao de um artista. Ele era capaz de se lembrar de um fragmento de um conto japonês lido 20 anos antes e de conectá-lo aos mitos dos nativos da América ou da Grécia que ele estudava naquele momento. Ou a um acorde da tetralogia de Wagner.

Lévi-Strauss fez da antropologia um dos grandes saberes do século XX. Ele demonstrou que, por trás das diferenças entre as culturas, há analogias escondidas que permitem remeter a miríade de diversidades a poucas leis gerais, comuns a todos os seres humanos.

Ele tratava as diferenças entre as culturas como variações de um mesmo tema musical. E a sua grande lição é que a tarefa da antropologia é ir além das diferenças superficiais, além da etnografia, para alcançar aquilo que nos torna todos igualmente humanos.

Ou até todos seres vivos. Humanos e não humanos. Nisso, Lévi-Strauss antecipou aquele sentimento de unidade entre sociedade e natureza, que envolve milhões de cidadãos globais. Não é por acaso que o senhor preferiu rebatizar a sua cátedra como “Antropologia e natureza”, tornando-se assim continuador do Lévi-Strauss mais atual e profético.

O fato é que os homens não estão sozinhos no palco da humanidade. E o resto, aquilo que normalmente se chama de natureza ou meio ambiente, não é propriedade nossa, nem uma projeção nossa, muito menos um simples recurso à disposição do nosso desenvolvimento. As outras criaturas, animais, plantas, minerais, também são coinquilinos do mundo. Não são coisas ou formas de vida, mas sim verdadeiros agentes sociais, que têm os mesmos direitos que os seres humanos. E muitas vezes características em comum, que não são meramente biológicas, mas até culturais. É por isso que hoje a antropologia não pode mais se limitar ao ser humano, mas deve estender o seu olhar a todos os seres com os quais interagimos e convivemos.

E, além disso, a nossa ideia de natureza é relativamente recente.

Ela começa a se desenvolver só no século XVII, no início da modernidade, quando o mundo foi dividido em duas partes. De um lado, o universo das convenções e das regras, ou seja, a cultura. De outro, o mundo dos fenômenos e das leis da natureza.

De um lado, a pessoa humana, de outro, as não pessoas, isto é, todo o resto. Mas, desse modo, o ser vivo é cortado em dois e separados de uma parte de si mesmo. Essa foi a concepção que legitimou a dominação e a exploração do ser humano, assim como da natureza?

Certamente. Além de tudo isso, essa oposição entre cultura e natureza, entre ser humano e as outras criaturas, não é nem universal. Muitos povos não a compartilham. Basta pensar no primeiro capítulo da nova Constituição do Equador, que protege precisamente os direitos da natureza, em que a natureza, diferentemente de nós, aparece como uma espécie de pessoa viva. Justamente como a Pachamama, a mãe terra das religiões mesoamericanas.

Não por acaso, o presidente boliviano, Evo Morales, e uma cúpula latino-americana reconheceram que os ecossistemas enquanto tais têm direitos. Um modo diferente de sistematizar os problemas, que, também à luz de dramas como o do Chifre da África, deveria começar a influenciar a agenda política planetária, especialmente em matéria de bens comuns.

Em muitos países do mundo, é inconcebível que os recursos vitais sejam privatizados. A própria ideia de que existe um mercado dos bens de subsistência é um caso excepcional na história da humanidade. Aristóteles, na Crematística, a ciência da riqueza, já punha em questão a legitimidade da compra e venda dos bens indispensáveis para a sobrevivência. O que é interessante é que hoje cada vez mais pessoas tomam consciência do fato de que alguns recursos são intocáveis, porque não pertencem só aos seres humanos, mas a todos os seres vivos. E até ao conjunto dos ecossistemas inteiros.

Isto é, ao planeta na sua totalidade indivisível, na sua integridade vital que também nos compreende, enquanto nascidos da terra.

Nesse sentido, a antropologia tem uma tarefa importante, que é a de apresentar outros modelos de humanidade. Mostrar de que modo as outras civilizações enfrentaram e resolveram problemas análogos aos nossos.

Quais são as três grandes urgências do nosso tempo?

Ecologia, tecnologia e coexistência com as outras civilizações. Três questões que podem ser resumidas em uma, isto é, como fazer com que todos os ocupantes do planeta coabitem, sem muitos danos, renúncias e conflitos. E se não se chegar a isso, haverá uma catástrofe. Ambiental, demográfica e informática.

Por que informática?

Porque deveremos ser inundados por uma avalanche de informações cada vez mais incontroláveis, incongruentes, perigosas.

Também seremos inundados por montanhas de lixo digital, enfim. Mas a política lhe parece estar à altura da tarefa?

Infelizmente não. Hoje, eu vejo uma grande pusilanimidade nos políticos e nos vários G7 ou G20. Não possuem coragem e imaginação. Estão sempre atrasados com relação à realidade. Também porque subestimam o papel da cultura nas elaboração das políticas sociais e ambientais. E, frequentemente, não se vai muito além de alguns pequenos pensamentos politicamente corretos sobre a necessidade do diálogo entre as culturas. Mas não acredito nisso, verdadeiramente.

As pessoas comuns parecem acreditar nisso cada vez mais. Os movimentos que agitam o mundo neste período, que parecem fatos separados, não são talvez os sintomas de um novo sentido comum?

Sim, cada vez mais pessoas estão conscientes de que o modelo de desenvolvimento que tem governado o mundo nestes últimos dois séculos está se desfazendo. Eu diria que esses movimentos são exercícios no futuro, os primeiros passos para uma nova democracia global.

Unregulated, Agricultural Ammonia Threatens U.S. National Parks’ Ecology (Science Daily)

Oct. 10, 2013 — Thirty-eight U.S. national parks are experiencing “accidental fertilization” at or above a critical threshold for ecological damage, according to a study published in the journal Atmospheric Chemistry and Physicsand led by Harvard University researchers. Unless significant controls on ammonia emissions are introduced at a national level, they say, little improvement is likely between now and 2050.

Foggy Tremont River, Great Smoky Mountains National Park. In Great Smoky Mountains National Park, the deposition of nitrogen compounds from pollution far exceeds a critical threshold for ecological damage. (Credit: © Dave Allen / Fotolia)

The environmental scientists, experts in air quality, atmospheric chemistry, and ecology, have been studying the fate of nitrogen-based compounds that are blown into natural areas from power plants, automobile exhaust, and — increasingly — industrial agriculture. Nitrogen that finds its way into natural ecosystems can disrupt the cycling of nutrients in soil, promote algal overgrowth and lower the pH of water in aquatic environments, and ultimately decrease the number of species that can survive.

“The vast majority, 85 percent, of nitrogen deposition originates with human activities,” explains principal investigator Daniel J. Jacob, Vasco McCoy Family Professor of Atmospheric Chemistry and Environmental Engineering at the Harvard School of Engineering and Applied Sciences (SEAS). “It is fully within our power as a nation to reduce our impact.”

Existing air quality regulations and trends in clean energy technology are expected to reduce the amount of harmful nitrogen oxides (NOx) emitted by coal plants and cars over time. However, no government regulations currently limit the amount of ammonia (NH3) that enters the atmosphere through agricultural fertilization or manure from animal husbandry, which are now responsible for one-third of the anthropogenic nitrogen carried on air currents and deposited on land.

“Ammonia’s pretty volatile,” says Jacob. “When we apply fertilizer in the United States, only about 10 percent of the nitrogen makes it into the food. All the rest escapes, and most of it escapes through the atmosphere.”

The team of scientists — comprising researchers from Harvard SEAS, the National Park Service, the USDA Forest Service, the U.S. Environmental Protection Agency, and the University of California, Irvine — presents evidence that unchecked increases in nitrogen deposition are already threatening the ecology of federally protected natural areas.

In many previous studies, environmental scientists have identified the nitrogen levels that would be ecologically harmful in various settings. The new Harvard-led study uses a high-resolution atmospheric model called GEOS-Chem to calculate nitrogen deposition rates across the contiguous United States, and compares those rates to the critical loads.

The findings suggest that many parks may already be suffering.

In Eastern temperate forests, like those in Great Smoky Mountains National Park, the most sensitive elements of the ecosystem are the hardwood trees, which start to suffer when nitrogen deposition reaches approximately 3 to 8 kilograms per hectare, per year. According to the new study, the actual rate of deposition — 13.6 kg/ha/yr — far exceeds that threshold. In the forests of Mount Rainier National Park, it’s the lichens that suffer first; their critical load is between 2.5 and 7.1 kg/ha/yr, and the deposition rate there is at a troubling 6.7 kg/ha/yr.

“The lichens might not be noticed or particularly valued by someone walking around a national park, but they’re integral for everything else that’s dependent on them,” explains lead author Raluca A. Ellis, who conducted the research as a postdoctoral fellow at Harvard SEAS. She now directs the Climate and Urban Systems Partnership at the Franklin Institute.

Jacob, Ellis, and their collaborators predict that NOx emissions from the United States will decrease significantly by 2050 (globally, those decreases may be offset to some extent by increases in industrialization overseas). But for ammonia, the story is different. The team predicts significant increases in the amount and density of agricultural land in the Midwest and the West — to feed a growing population and to meet an anticipated demand for biofuels — requiring more and more fertilizer.

“Even if anthropogenic NOx emissions were globally zero, avoiding [critical load] exceedance at all national parks would require a 55% reduction of anthropogenic NH3 emissions,” their report states.

How such a reduction would be achieved is a matter for further study.

“Air quality regulations in the United States have always focused on public health, because air pollution leads to premature deaths, and that’s something you can quantify very well. When you try to write regulations to protect ecosystems, however, the damage is much harder to quantify,” says Jacob. “At least in the national parks you can say, ‘There’s a legal obligation here.'”

The project was funded by the NASA Applied Sciences Program through the Air Quality Applied Sciences Team, which is led by Jacob at Harvard and includes 23 researchers from numerous institutions. The National Park Service has been studying nitrogen deposition for some time now, typically in focused studies such as those at Rocky Mountain National Park and Grand Teton National Park. The new collaboration has enabled many different research teams to unify their efforts and benefit from shared resources like the GEOS-Chem model, which was first developed at Harvard and has become an international standard for modeling atmospheric chemistry over time.

Actual levels of future nitrogen deposition will depend on a complex interplay of economic, legal, and environmental factors.

“The point is, in the decades ahead, the problem in our national parks is not going to be solved by the reduction of NOxemissions alone,” explains Ellis. “It will require a targeted effort to control ammonia.”

“It’s a national issue, and I think that’s why having the national perspective was so important,” Jacob adds. “We’ve shown that most of the nitrogen deposition to parks in the United States is coming from domestic sources. It’s not coming from China; it’s not coming from Canada — it’s something we can deal with, but we need to deal with it at the national level.”

Journal Reference:

  1. R. A. Ellis, D. J. Jacob, M. P. Sulprizio, L. Zhang, C. D. Holmes, B. A. Schichtel, T. Blett, E. Porter, L. H. Pardo, J. A. Lynch. Present and future nitrogen deposition to national parks in the United States: critical load exceedancesAtmospheric Chemistry and Physics, 2013; 13 (17): 9083 DOI: 10.5194/acp-13-9083-2013

O Brasil na contramão (IPS)

Inter Press Service – Reportagens

11/10/2013 – 09h20

por Fabíola Ortiz, da IPS

transito1 O Brasil na contramão

Tráfego na avenida 23 de Maio, em São Paulo. Foto: Photostock/IPS

Rio de Janeiro, Brasil, 11/10/2013 – Nos últimos cinco anos, em plena crise econômica internacional, o Brasil passou a integrar o grupo dos grandes poluidores mundiais, cuja fonte principal de gases-estufa é a queima de combustíveis fósseis. Esse país está assumindo um perfil de contaminação climática próprio do primeiro mundo, segundo o cientista José Marengo, um dos autores do Quinto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), cujo primeiro volume sem editar foi divulgado no dia 30 de setembro.

E isto se deve, em parte, a uma simples razão de fenômeno industrial e de consumo. As isenções de impostos para estimular a venda de automóveis e motocicletas tiveram um efeito positivo no crescimento econômico. Contudo, ao mesmo tempo, criaram um aumento vertiginoso do parque automotivo. A quantidade de automóveis duplicou em uma década, passando de 24,5 milhões em 2001 para 50,2 milhões em 2012, segundo o informe Evolução da Frota de Automóveis e Motos no Brasil – Relatório 2013, divulgado ontem.

As motocicletas tiveram um aumento ainda mais espetacular no mesmo período, passando de 4,5 milhões para 19,9 milhões. O Brasil “terminou 2012 com uma frota total de 76.137.125 veículos automotores. Em 2001, havia aproximadamente 31,8 milhões de unidades. Houve, portanto, aumento de 138,6%”, afirma o documento publicado pelo Observatório das Metrópoles. “Vale recordar que o crescimento populacional do país entre os últimos censos (2000 e 2010) foi de 11,8%”, acrescenta.

“É preocupante, porque sempre criticamos os países desenvolvidos por isso”, observou Marengo, que dirige o Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Esse aspecto contrasta com a redução do intenso desmatamento no país, amplamente divulgado pelas autoridades brasileiras.

Em 27 de setembro, quando o IPCC divulgou o Resumo para Responsáveis por Políticas, o secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre, dizia à IPS que este país conseguiu reduzir em 38,4% suas emissões de gases-estufa entre 2005 e 2010, devido à redução no desmatamento da Amazônia.

O Brasil se comprometeu em 2009 a reduzir suas emissões de gases-estufa entre 36,1% e 38,9%, segundo dois cenários de crescimento do produto interno bruto. O governo garante que já avançou 62% rumo a essa meta, graças à acentuada redução do desmatamento. Até 2009, o desmatamento era a causa de 60% da contaminação climática do Brasil, enquanto o uso de combustíveis fósseis estava em segundo lugar. Agora emergem novos problemas.

“Se tivéssemos um sistema de transportes de massa confiável e confortável, as pessoas deixaram seus carros em casa. Mas, viajar em certas horas do dia no metrô de São Paulo ou do Rio de Janeiro (duas das maiores cidades do país) é uma humilhação”, disse Marengo à IPS. “Isso precisa mudar, e a única forma é fomentar um transporte público decente”.

Para o diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil, Sergio Leitão, essa mudança de perfil também coincide com a prioridade que se dá a novos empreendimentos, como a prospecção e exploração das jazidas de petróleo do pré-sal, a mais de sete mil metros de profundidade na plataforma submarina. “Estamos começando a exploração do pré-sal e nossas grandes cidades estão abarrotadas de carros”, pontuou Leitão. Enquanto o mundo caminha para novos modelos energéticos, o Brasil segue na contramão, segundo o ativista, tornando impossível que este país seja “amigo do planeta”, afirmou.

O informe do IPCC diz que as mudanças observadas desde 1950 não têm precedentes e demonstram que a ação do homem é uma causa inequívoca do aquecimento global registrado desde meados do século 20. O informe assinala que a humanidade deve fazer todos os esforços para manter o clima do planeta nas coordenadas do cenário mais otimista, com o aquecimento global não superando os dois graus neste século.

Para conseguir isso, segundo Leitão, as “medidas fundamentais, urgentes e inevitáveis” são mudar o modelo de produção e reduzir drasticamente o consumo de petróleo, gás e carvão. “Nos preocupa o fato de no Brasil o pré-sal ser visto como a grande oportunidade econômica do futuro”, afirmou. Na área energética, os grandes volumes de investimentos são destinados a viabilizar a exploração do petróleo no pré-sal, com até US$ 340 milhões até 2020, ressaltou.

Por outro lado, Leitão disse que “seria preciso adotar um rumo diferente, de pesquisas em energias renováveis e limpas. O Brasil se destaca em abundância de sol e vento. É necessário dinamizar essas vertentes e criar substitutos tecnológicos para os combustíveis fósseis”.

Marengo destacou que, se o mundo inteiro deixasse de emitir gases-estufa hoje, seriam necessários 20 anos para frear as transformações climáticas já desatadas. “O IPCC fala de aproximadamente duas décadas, pois foram centenas de anos acumulando dióxido de carbono (CO2). Os processos de fotossíntese nas florestas podem ajudar a absorver CO2, mas isso não é imediato e exige décadas de inércia”, destacou.

As medidas de mitigação – para reduzir a quantidade de gases lançados na atmosfera – são caras e seus efeitos são de longo prazo, mas são as únicas que permitirão minimizar os impactos futuros, acrescentou Marengo, para quem os impactos mais severos começarão a ser sentidos depois de 2040.

Adaptar-se a essas alterações é possível, mas a mensagem que o IPCC pretende dar à próxima cúpula mundial do clima, que se reunirá em novembro em Varsóvia, é que devem tomar medidas para evitar os cenários mais pessimistas, com elevações da temperatura média acima dos dois graus.

Marengo lamentou que a agenda ambiental tenha passado para segundo plano desde que começou a crise econômica e financeira mundial em 2008. “É impossível um país com uma situação econômica ruim aderir a um tratado ambiental, pois este terá um custo social elevado”, enfatizou.

Envolverde/IPS

Terrestrial Ecosystems at Risk of Major Shifts as Temperatures Increase (Science Daily)

Oct. 8, 2013 — Over 80% of the world’s ice-free land is at risk of profound ecosystem transformation by 2100, a new study reveals. “Essentially, we would be leaving the world as we know it,” says Sebastian Ostberg of the Potsdam Institute for Climate Impact Research, Germany. Ostberg and collaborators studied the critical impacts of climate change on landscapes and have now published their results inEarth System Dynamics, an open access journal of the European Geosciences Union (EGU).

This image shows simulated ecosystem change by 2100, depending on the degree of global temperature increase: 2 degrees Celsius (upper image) or five degrees Celsius (lower image) above preindustrial levels. The parameter “ (Gamma) measures how far apart a future ecosystem under climate change would be from the present state. Blue colours (lower “) depict areas of moderate change, yellow to red areas (higher “) show major change. The maps show the median value of the “ parameter across all climate models, meaning at least half of the models agree on major change in the yellow to red areas, and at least half of the models are below the threshold for major change in the blue areas. (Credit: Ostberg et al., 2013)

The researchers state in the article that “nearly no area of the world is free” from the risk of climate change transforming landscapes substantially, unless mitigation limits warming to around 2 degrees Celsius above preindustrial levels.

Ecosystem changes could include boreal forests being transformed into temperate savannas, trees growing in the freezing Arctic tundra or even a dieback of some of the world’s rainforests. Such profound transformations of land ecosystems have the potential to affect food and water security, and hence impact human well-being just like sea level rise and direct damage from extreme weather events.

The new Earth System Dynamics study indicates that up to 86% of the remaining natural land ecosystems worldwide could be at risk of major change in a business-as-usual scenario (see note). This assumes that the global mean temperature will be 4 to 5 degrees warmer at the end of this century than in pre-industrial times — given many countries’ reluctance to commit to binding emissions cuts, such warming is not out of the question by 2100.

“The research shows there is a large difference in the risk of major ecosystem change depending on whether humankind continues with business as usual or if we opt for effective climate change mitigation,” Ostberg points out.

But even if the warming is limited to 2 degrees, some 20% of land ecosystems — particularly those at high altitudes and high latitudes — are at risk of moderate or major transformation, the team reveals.

The researchers studied over 150 climate scenarios, looking at ecosystem changes in nearly 20 different climate models for various degrees of global warming. “Our study is the most comprehensive and internally consistent analysis of the risk of major ecosystem change from climate change at the global scale,” says Wolfgang Lucht, also an author of the study and co-chair of the research domain Earth System Analysis at the Potsdam Institute for Climate Impact Research.

Few previous studies have looked into the global impact of raising temperatures on ecosystems because of how complex and interlinked these systems are. “Comprehensive theories and computer models of such complex systems and their dynamics up to the global scale do not exist.”

To get around this problem, the team measured simultaneous changes in the biogeochemistry of terrestrial vegetation and the relative abundance of different vegetation species. “Any significant change in the underlying biogeochemistry presents an ecological adaptation challenge, fundamentally destabilising our natural systems,” explains Ostberg.

The researchers defined a parameter to measure how far apart a future ecosystem under climate change would be from the present state. The parameter encompasses changes in variables such as the vegetation structure (from trees to grass, for example), the carbon stored in the soils and vegetation, and freshwater availability. “Our indicator of ecosystem change is able to measure the combined effect of changes in many ecosystem processes, instead of looking only at a single process,” says Ostberg.

He hopes the new results can help inform the ongoing negotiations on climate mitigation targets, “as well as planning adaptation to unavoidable change.”

Note

Even though 86% of land ecosystems are at risk if global temperature increases by 5 degrees Celsius by 2100, it is unlikely all these areas will be affected. This would mean that the worst case scenario from each climate model comes true.

Journal Reference:

  1. S. Ostberg, W. Lucht, S. Schaphoff, D. Gerten. Critical impacts of global warming on land ecosystemsEarth System Dynamics, 2013; 4 (2): 347 DOI: 10.5194/esd-4-347-2013

IPCC sustenta que aquecimento global é inequívoco (IPS)

Ambiente

30/9/2013 – 08h01

por Fabíola Ortiz, da IPS

IPCC1 IPCC sustenta que aquecimento global é inequívoco

A elevação do nível do mar pode alagar várias regiões do Recife, no Nordeste do Brasil. Foto: Alejandro Arigón/IPS

Rio de Janeiro, Brasil, 30/9/2013 – Em meio a rumores de que o aquecimento global se deteve nos últimos 15 anos, o novo informe do Grupo Internacional de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) indica que as três últimas décadas foram, sucessivamente, mais quentes do que qualquer outra desde 1850. O Resumo para Responsáveis por Políticas do informe do Grupo de Trabalho I – Bases de Ciência Física, foi divulgado no dia 27, em Estocolmo, na Suécia.

O texto completo, sem edições, será conhecido hoje e constitui o primeiro dos quatro volumes do Quinto Informe de Avaliação do IPCC. O aquecimento é “inequívoco”, afirma o IPCC. “A atmosfera e o oceano esquentam, a quantidade de neve e gelo diminui, o nível do mar sobe e as concentrações de gases-estufa aumentam”, destaca o estudo.

Para o especialista brasileiro em clima, Carlos Nobre, um dos autores principais do Quarto Informe de Avaliação, o novo relatório não dá “nenhuma razão para o otimismo. Cada uma das três últimas décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer outra desde 1850. No Hemisfério Norte, o período 1983-2012 representa, provavelmente, os 30 anos mais quentes dos últimos 1.400”, diz o novo resumo. Os dados “das temperaturas médias terrestres e da superfície do oceano, calculados como uma tendência linear, mostram um aquecimento de 0,85 grau no período 1880-2012”, acrescentou Nobre

A respeito da suposta pausa no aumento do calor, o IPCC afirma que “a taxa de aquecimento dos últimos 15 anos (1998-2012) – que foi de 0,05 grau por década e que começou com um potente El Niño (fase quente da Oscilação do Sul) – é menor do que a calculada entre 1951 e 2012, que foi de 0,12 grau por década”.

Entretanto, argumenta, “devido à variabilidade natural, as tendências baseadas em registros de períodos curtos são muito sensíveis às datas de começo e final, e não refletem, em geral, as tendências climáticas de longo prazo”. Resumindo, diz o documento, “é virtualmente certo (99% a 100% de certeza) que a troposfera esquenta desde meados do século 20”.

Nobre indicou à IPS que “o resumo observa com mais detalhe o que está mudando e reduz as incertezas com um conhecimento científico aperfeiçoado”. Além disso, confirma que as alterações do clima se originam principalmente nas ações humanas, destacou Nobre, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia.

A humanidade deverá se decidir a deixar grande parte dos combustíveis fósseis – responsáveis pela emissão de gases que esquentam a atmosfera – e passar para outras formas de energia renovável, advertiu Nobre. Tecnicamente, é possível, falta uma opção consciente de todos os países, ressaltou. “Essa transição tem um custo, mas que é cada vez menor do que o estimado há 15 anos. O problema não é a tecnologia, mas a decisão política”, acrescentou.

Para Carlos Rittl, coordenador do programa de mudanças climáticas e energia do WWF-Brasil (Fundo Mundial para a Natureza), “embora o aquecimento tenha apresentado uma aparente estabilização quanto à temperatura média, os anos mais quentes foram registrados na última década. Isso não nos deixa em uma situação de conforto”.

O informe do IPCC, uma revisão das pesquisas científicas disponíveis, se baseou em trabalhos de 259 autores de 39 países, e contou com 54.677 comentários. Sua divulgação veio permeada de uma renovada onda mediática de dúvidas e rumores sobre a existência do aquecimento global.

Com base em diferentes trajetórias de emissão de gases-estufa, o resumo projeta para este final de século uma elevação da temperatura superior a 1,5 grau em relação ao período 1850-1900 em todos os cenários, menos no de menor concentração de gases. Também afirma que, provavelmente, o aumento exceda os dois graus até 2100 nos dois cenários de maior emissão de gases. O informe anterior, de 2007, previa aumento de dois graus, no melhor dos casos, e de até seis, no pior.

Após o fracasso da conferência intergovernamental de Copenhague, em dezembro de 2009, quando os países não conseguiram obter um acordo para reduzir a contaminação climática, foram redobrados os questionamentos ao IPCC, em particular por uma errônea estimativa do derretimento das geleiras do Himalaia. A informação “foi usada de forma irresponsável por quem nega o aquecimento global”, alertou Rittl.

Seis anos depois, há mais e melhores evidências científicas para estimar, por exemplo, quanto o derretimento de gelos contribui para a elevação do nível do mar. Até o final de 2100 a elevação média do mar oscilará entre 24 centímetros e 63 centímetros, segundo o melhor e o pior cenários de contaminação atmosférica. As chuvas “aumentarão nas regiões mais úmidas e diminuirão naquelas onde há escassez pluviométrica”, detalhou Rittl, que é doutor em ecologia.

No Brasil os exemplos são a árida região do Nordeste e as mais úmidas do Sul e Sudeste. A incidência de chuvas crescerá entre 1% e 3% em zonas do sul, segundo a velocidade do aquecimento, enquanto as áridas apresentarão padrões de seca mais severos. Todas as tendências confirmadas pelo informe são “alarmantes”, apontou Rittl. “Nós, humanos, somos responsáveis por essas mudanças, que vão piorar o cenário atual em que já há centenas de milhões de pessoas sofrendo escassez de água, de comida e de condições adequadas para sobreviver”, ressaltou.

O primeiro volume do Quinto Informe de Avaliação do IPCC é divulgado dois meses antes de acontecer em Varsóvia, na Polônia, a 19ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Nesse encontro deverá ser feito um esforço mundial para garantir a transição para uma economia baixa em dióxido de carbono, disse Nobre. “Este informe é um choque de realidade”, ressaltou.

Em sua opinião, o Brasil é um dos “poucos bons exemplos”, pois conseguiu reduzir em 38,4% suas emissões de gases-estufa entre 2005 e 2010, devido à queda no desmatamento da Amazônia. “O Brasil adotou compromissos voluntários, mas no global não há um acordo ambicioso”, explicou Nobre. Quanto mais tempo se demorar em “adotar ações concretas, mais difícil e improvável será conseguir uma trajetória sustentável de acomodação e adaptação à mudança climática”, enfatizou.

Rittl acredita que os governos devem enfrentar a mudança climática como um desafio nacional para o desenvolvimento, a inclusão social e a redução da pobreza. “É necessário lidar com os riscos e as oportunidades com muita responsabilidade”, concluiu.

Envolverde/IPS

Para especialistas, novo código de mineração é omisso na questão ambiental (Agência Câmara)

JC e-mail 4822, de 27 de Setembro de 2013.

Consultor do Ibase afirmou que, na última década, a exploração mineral no Brasil triplicou e isso trouxe reflexos ambientais irreversíveis

Participantes da audiência pública sobre o projeto do novo Código de Mineração (PL 5807/13, do Executivo, apensado ao PL 37/11), realizada nesta quinta-feira (26) pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, afirmaram que o texto é omisso em relação à questão ambiental.

O consultor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Carlos Bittencourt, afirmou que, na última década, a exploração mineral no Brasil triplicou e isso trouxe reflexos ambientais irreversíveis. Ele deu exemplos desse impacto: a atividade mineral usou cinco quatrilhões de litros de água em 2012, o equivalente ao consumo de oito cidades do porte do Rio de Janeiro.

A quantidade de energia elétrica utilizada para produzir 432 mil toneladas de alumínio é maior do que a necessária para atender as cidades de Belém (PA) e Manaus (AM). “O principal problema que a gente tem apontado é o completo silêncio em relação aos aspectos socioambientais”, afirmou Bittencourt.

Zoneamento
O advogado do Instituto Socioambiental (ISA), Raul do Valle, defendeu que a proposta crie o zoneamento de áreas de mineração e a criação de um seguro ambiental. Ele afirma que a proposta será votada sem o devido aprofundamento do debate.

“O projeto foi feito durante quatro anos a portas fechadas no Executivo e agora veio para o Congresso com 90 dias para ser aprovado. Ele precisa ter debate aprofundado e, sobretudo, incluir a dimensão socioambiental, que é a grande ausente nesse projeto”, afirmou.

O coordenador de Mineração e Obras Civis do Ibama, Jonatas Souza da Trindade, apresentou um estudo técnico, ainda não aprovado pelo órgão, que aponta a necessidade de o projeto do código seguir o modelo de outras formas de licenciamento, como as dos setores hidrelétrico e rodoviário, em que o planejamento ambiental é feito antes do licenciamento ambiental.

“Tecnicamente isso melhora e qualifica o processo de licenciamento ambiental. Esse é um entendimento técnico que ainda não foi aprovado, mas é um possível encaminhamento”, afirmou Trindade.

Questão tratada
O assessor da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Marcel Stenner, afirmou o contrário dos especialistas em meio ambiente. Segundo ele, a legislação atual dá pouco tratamento para a questão ambiental, diferente do projeto do governo.

“A legislação proposta pelo governo aborda várias das questões, dá tratamento, cria a questão da responsabilidade do agente minerador sobre eventuais danos e impactos ambientais e estabelece condições para que a gente venha a garantir o cumprimento dessas áreas”, disse.

Emendas
O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Sarney Filho (PV-MA), afirma que existem mais de 20 emendas ao novo código tratando de aspectos socioambientais. “O sentido geral desse código, do jeito que veio, não é favor da sociedade, é a favor das empresas. Isso que temos que inverter”, disse. Sarney Filho defende condicionantes para que os lucros das empresas sejam limitados pela segurança ambiental.

Ao todo, a proposta recebeu 372 emendas. Elas serão analisadas pelo relator, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG). O projeto vai ser votado na comissão especial em outubro e depois segue para o Plenário da Câmara.

Íntegra da proposta:
PL-37/2011
PL-5807/2013
(Agência Câmara – 26/09)

Vida de princesa nos relatórios de sustentabilidade (Envolverde)

02/9/2013 – 11h01

por Carla Stoicov e Wilson Bispo, da Tistu

sustentabilidadeempresas Vida de princesa nos relatórios de sustentabilidade

Empresas ainda não entendem o motivo de seus relatórios de sustentabilidade não serem objeto de leitura dos seus stakeholders. Produzido no tradicional modelo top-down de comunicação, ainda não se deram conta que esse produto deve ter seus temas escolhidos não por eles, mas pelos seus públicos, num processo de diálogo que deve se dar ao longo do ano. Mas isso pode estar prestes a mudar e você deveria ser parte disso.

No mês passado participamos de um dia onde foram apresentadas e dialogadas as novidades do G4 Sustainability Reporting Guidelines. Na formação (apesar de achar que o tema está muito cru para chamarmos de curso) estavam empresas, consultores e representantes de entidades/federações.

Os dois aspectos mais marcantes da nova versão – que passam a valer a partir de Janeiro de 2016 (1) – são a obrigatoriedade de ter uma matriz de materialidade e de demonstrar que a empresa tem conhecimento dos impactos dentro e fora dela, colocando na pauta o tema cadeia de fornecimento. Na pesquisa Materialidade Brasil, elaborada pela consultoria Report Sustentabilidade, foi constatado que 85% das empresas publicaram quais são os temas materiais, mas apenas 61% publicou sua matriz de materialidade. Um número menor ainda (45%) publicou metas atreladas aos temas materiais (ou seja, apesar de material, 55% das empresas entendeu que ainda não era o momento de atribuir metas).

Algumas lacunas ainda são imperdoáveis no G4. Nenhum avanço na proposição de metodologia para se fazer um processo de materialidade e em como equilibrar os aspectos trazidos pelos stakeholders internos x externos. A Takao Consultoria elaborou um Manual para Implementação de Engajamento com Stakeholders. O documento propõe matrizes de priorização e perfil de partes interessadas e também exemplifica uma matriz de priorização de temas em relação aos critérios internos e externos. Pode ser um ótimo modelo a ser seguido, mas quando lemos um relatório de sustentabilidade muitas vezes não está explícito como foi feita a seleção e priorização dos públicos a serem consultados, se todos participaram juntos ou não, se os temas foram dados ou abriu-se a opções para temas que emergiram no processo e como se chegou a priorização dos temas.

Outro ponto é que a materialidade deve envolver stakeholders, mas não obriga a participação de determinadas partes interessadas. Dá para ficar apenas com os funcionários ou até mesmo não incluí-los.

Aviary Photo 130224803379524387 Vida de princesa nos relatórios de sustentabilidade

Pesquisa Materialidade Brasil. Foto: Report Sustentabilidade

A nova versão, apesar de falar muito em cadeia de fornecimento, ainda está longe de propor um olhar mais sistêmico, amplo, envolvendo toda a cadeia de valor da organização (que contemple também a distribuição, clientes e consumidores). Ou seja, a empresa tem que ficar atenta de quem ela compra, onde estão estes fornecedores e onde estão localizados os impactos na cadeia de fornecimento. Contudo, ainda está livre para vender para quem quiser! Levaram o conceito de esfera de influência da Norma ISO 26000 apenas para parte da cadeia.

“Esfera de influência: amplitude/extensão de relações políticas, contratuais, econômicas ou outras relações por meio das quais uma organização tem a capacidade de afetar as decisões ou atividades de indivíduos ou organizações. – Norma ISO 26000″

Com isso, ficam de fora as preocupações da empresa com a comercialização de seus produtos ou serviços para, por exemplo, países que têm graves violações dos direitos humanos ou que estejam em guerra civil; organizações envolvidas em corrupção ou lavagem de dinheiro; empresas que desmatam, têm trabalho infantil ou análogo ao escravo em sua operação ou na sua cadeia, etc.

As organizações presentes na formação da qual participamos também questionaram se a GRI tem alguma sinalização sobre como tornar os relatórios mais atrativos, mais lidos. Bem, não entendemos que isso seja uma missão da GRI, mas sim, em primeira instância, das próprias empresas. O relatório será interessante pela qualidade e relevância das informações ali colocadas. Isso nos remete aos motivos de alguém “curtir” no Facebook a página oficial de uma empresa quando há interesse genuíno, e não quando é feito para participar de uma oferta comercial. Nós seguimos várias organizações e o que elas nos oferecem é informação de qualidade, independentemente do seu produto ou serviço.

O blog Testando os Limites da Sustentabilidade (um tipo de watchdog) lê e analisa relatórios de sustentabilidade das empresas e depois disso encaminha perguntas sobre informações incompletas ou imprecisas, apontando lacunas de temas que deveriam ser abordados conforme o negócio da empresa. Muitas respondem ao blog e deveriam ver os questionamentos feitos com bons olhos: afinal alguém está lendo seu relatório!

Contudo, há uma grande lacuna deixada por stakeholders imprescindíveis para a melhoria da qualidade das informações e da transparência do setor privado no Brasil, como organizações da sociedade civil, imprensa, academia, consultorias, organizações think tank, coletivos e formadores de opinião em geral. Céticos quanto ao conteúdo publicado nos relatos — em alguma medida, com razão –, esses públicos deixam de prestar um enorme serviço à sociedade ao não fazer leituras e análises críticas às informações dos relatórios de sustentabilidade, um dos poucos, se não os únicos, instrumentos de consulta de como as corporações contam estar conduzindo os negócios das empresas por aqui.

Acreditamos que existe um grande espaço para exercitar diferentes formas de se fazer a leitura desse tipo de documento. Esses stakeholders têm condições técnicas e informações complementares para “mastigar” o conteúdo dos relatórios e fazer cruzamentos com a real atuação da empresa, com o que a GRI determina, com práticas de outras empresas do mesmo setor, com políticas públicas, com Pactos e Compromissos voluntários, comparar com informações e práticas da matriz na busca por um duplo padrão (2), dentre outras dezenas de olhares possíveis.

Analisar as informações públicas do setor privado — ou evidenciar a falta delas — ajuda na geração de conhecimento crítico que pode ser um impulsionador de novas práticas por parte das empresas. É o caso do estudo Sustentabilidade do Setor Automotivo, produzido pela Tistu para o UniEthos, que vem sendo utilizado por uma montadora na sua estratégia de sustentabilidade.

Por isso, o que realmente importa nos relatórios são os dados relevantes para quem lê, não para quem escreve. Entretanto, as informações ainda vêm embaladas num pacote desnecessário de frases de efeito que dizem pouco, ou quase nada, e não agregam no momento da análise, repetindo histórias ano após ano sem demonstrar ou deixar clara qual foi a real evolução frente ao ano anterior. Daí a importância da análise crítica de formadores de opinião. Enquanto as empresas não avançam neste aspecto, iniciativas que capturem os dados e “limpem” as informações dos excessos, serão úteis para aumentar o conhecimento sobre os aspectos de sustentabilidade que as empresas estão colocando na sua cesta de prioridades.

Em tempo de manifestações onde cartazes levantam bandeiras como saúde (a ser melhorada), corrupção (a ser combatida), transporte (como forma de inclusão) e acesso à cidade (como forma de promoção da igualdade), quem não gostaria de saber quais empresas estão antenadas com essas necessidades e trabalham em convergência com as políticas públicas? Não passa pela nossa cabeça abrir o relatório da Siemens no ano que vem e não ver a questão da corrupção e cartel. Ou ler o relatório da Samsung e não encontrar nada sobre as condições degradantes dos trabalhadores. Mas não estamos falando daqueles textos sobre o quanto valorizam os processos, como os sistemas funcionam etc. Queremos saber justamente o contrário. Quais foram as lições aprendidas, onde estava o furo, quais desafios que entendem que estão longe de superar? As empresas são feitas de pessoas e portanto são cheias de falhas, inconsistências, dilemas. E é isso que falta aparecer nos seus relatos de vida de princesa.

Talvez esta deva ser a tendência dos relatos das empresas. Criar visões por assuntos de interesse pela ótica de quem busca a informação, com construções e atualizações dinâmicas (entenda aqui que elas não serão feitas de forma unilateral, apenas pelas empresas), com muito menos filtros e fotos de banco de imagens.

Mais Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação (NINJA) para os relatórios de sustentabilidade têm o potencial de torná-los muito mais interessantes e vivos. Se as empresas não fizerem, alguém vai fazer.

(1) Ou seja, o último ano de relato na versão G3 ou G3.1 será 2014 sendo que 2015 já será relatado na nova versão.

(2) Esta é uma metodologia que a Tistu vem adotando em alguns estudos. Isolar alguns assuntos e procurar por práticas e posicionamento na matriz e na operação do Brasil. Quando há divergência (i.e. a matriz tem políticas, programas ou é estratégico e aqui nem é citado) ocorre o que denominamos de Duplo Padrão.

Carla Stoicov é mestranda em Gestão e Políticas Públicas pela FGV-SP. Sócia da Tistu, atua como consultora em projetos para o Desenvolvimento Sustentável e de Responsabilidade Social Empresarial. Foi coordenadora do Programa Tear do Instituto Ethos e é especialista do UniEthos.

Wilson Bispo é jornalista e desde de 2005 trabalha na cobertura de temas socioambientais e de RSE. Sócio da Tistu, foi produtor do Repórter Eco da TV Cultura de SP, editor do portal e agência Envolverde e consultor na Report Sustentabilidade.

** Publicado originalmente no site Tistu.

‘Não existem índios no Brasil’, diz escritor em abertura de congresso (G1)

22/05/2013 14h24 – Atualizado em 22/05/2013 14h40

Para ele, a palavra ‘índio’ surgiu de maneira equivocada e reduz os povos.

Autor de 43 livros, Daniel Munduruku abriu o evento em Poços de Caldas. 

Jéssica BalbinoDo G1 Sul de Minas

Daniel Munduruku é autor de 43 livros e falou durante abertura de Congresso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Daniel Munduruku é autor de 43 livros e falou durante abertura de Congresso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)

Autor de 43 livros, o indígena Daniel Munduruku foi o palestrante convidado para a abertura do 10º Congresso do Meio Ambiente em Poços de Caldas (MG) nesta quarta-feira (22). O índio, que é doutor em educação e cursa pós-doutorado em literatura na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), falou sobre a ‘Mãe Terra e a Questão Indígena’  durante um bate-papo com os congressistas.

Em uma saudação na língua do povo ao qual pertence, abriu a fala e brincando, pediu licença a quem estava no ambiente. “Bom dia a todos os amigos aqui presentes, espero que este encontro seja tão bom para vocês como vai ser para mim”, saudou, em uma referência aos ancestrais. “Nossos avós diziam que quando vamos encontrar alguém, temos que ir com o coração aberto e alegre para que o encontro seja bom, desejando que as pessoas que estão no lugar se sintam da mesma forma”, pontuou, ao lembrar que estar conectado com o meio ambiente é estar conectado com a poesia do universo.

“A luta pelo meio ambiente é a luta de todo povo brasileiro” – Daniel Munduruku, escritor e doutor

“Vou falar de outras tantas coisas que não são meio ambiente, mas também são. Quero olhar nos olhos e conversar. Para começar, vou destacar que não sou índio e que não existem índios no Brasil. O que existem são povos. Eu sou Munduruku e pertencer a um povo é ter participação dentro de uma tradição ancestral brasileira. Quando eu digo que não existem índios, quero dizer que existe uma diversidade muito grande de ancestralidade. São pelo menos 250 povos indígenas e são faladas pelo menos 180 línguas no Brasil”, disse.

Para ele, a palavra ‘índio’ surgiu de maneira equivocada e reduz os povos. “Está ligada a uma série de conceitos e pré-conceitos. Normalmente ela está vinculada a coisas negativas, embora haja muito romantismo na história, a maioria do pensamento quer dizer que o  índio é um ser fora de moda, atrasado no tempo e selvagem. Alguém que está atrapalhando o progresso e continuamos reproduzindo um estereótipo que foi sendo passado ao longo da nossa história”, criticou.”

Público vindo de várias partes do Brasil debateu durante palestra (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Público vindo de várias partes do Brasil debateu
durante palestra (Foto: Jéssica Balbino/ G1)

O bate-papo foi permeado por lembranças do indígena, que contou histórias sobre a própria vida, a fase de transição entre infância e adolescência e a perda do avô, que segundo ele, na tradição Munduruku, é quem transmite os ensinamentos dentro de uma família ou tribo. Com isso, ele chegou à dúvida dos presentes que era: como começou a escrever e se tornou acadêmico. “Quando meu avô morreu, me fez entender o que era ser Munduruku e eu sempre quis lembrar dele assim. Queria ser como ele, um contador de histórias. Demorei para saber como seria meu caminho, se seria na tribo ou na cidade, mas optei pela cidade e pela vida acadêmica e hoje estou aqui,  transmitindo estas histórias que são tão cheias de sabedoria de vida e de meio ambiente”, pontuou.

Em relação ao meio ambiente e aos questionamentos feitos pelo público, o indígena destacou a questão da evolução humana e no Brasil a construção de barragens. “O povo Munduruku está sofrendo com a construção das barragens, seja em Belomonte, seja em Rondônia, enfim, eles estão lutando para viver. A natureza e o ambiente que os índios vivem fazem parte da humanidade deles. Eles lutam para se manterem e lutam por um Brasil inteiro que não tem a consciência de perceber isso. A luta pelo meio ambiente é a luta de todo povo brasileiro”, finalizou.

Climate Change Will Cause Widespread Global-Scale Loss of Common Plants and Animals, Researchers Predict (Science Daily)

May 12, 2013 — More than half of common plants and one third of the animals could see a dramatic decline this century due to climate change, according to research from the University of East Anglia.

Frog. Plants, reptiles and particularly amphibians are expected to be at highest risk. (Credit: © Anna Omelchenko / Fotolia)

Research published today in the journal Nature Climate Change looked at 50,000 globally widespread and common species and found that more than one half of the plants and one third of the animals will lose more than half of their climatic range by 2080 if nothing is done to reduce the amount of global warming and slow it down.

This means that geographic ranges of common plants and animals will shrink globally and biodiversity will decline almost everywhere.

Plants, reptiles and particularly amphibians are expected to be at highest risk. Sub-Saharan Africa, Central America, Amazonia and Australia would lose the most species of plants and animals. And a major loss of plant species is projected for North Africa, Central Asia and South-eastern Europe.

But acting quickly to mitigate climate change could reduce losses by 60 per cent and buy an additional 40 years for species to adapt. This is because this mitigation would slow and then stop global temperatures from rising by more than two degrees Celsius relative to pre-industrial times (1765). Without this mitigation, global temperatures could rise by 4 degrees Celsius by 2100.

The study was led by Dr Rachel Warren from UEA’s school of Environmental Sciences and the Tyndall Centre for Climate Change Research. Collaborators include Dr.Jeremy VanDerWal at James Cook University in Australia and Dr Jeff Price, also at UEA’s school of Environmental Sciences and the Tyndall Centre. The research was funded by the Natural Environment Research Council (NERC).

Dr Warren said: “While there has been much research on the effect of climate change on rare and endangered species, little has been known about how an increase in global temperature will affect more common species.

“This broader issue of potential range loss in widespread species is a serious concern as even small declines in these species can significantly disrupt ecosystems.

“Our research predicts that climate change will greatly reduce the diversity of even very common species found in most parts of the world. This loss of global-scale biodiversity would significantly impoverish the biosphere and the ecosystem services it provides.

“We looked at the effect of rising global temperatures, but other symptoms of climate change such as extreme weather events, pests, and diseases mean that our estimates are probably conservative. Animals in particular may decline more as our predictions will be compounded by a loss of food from plants.

“There will also be a knock-on effect for humans because these species are important for things like water and air purification, flood control, nutrient cycling, and eco-tourism.

“The good news is that our research provides crucial new evidence of how swift action to reduce CO2 and other greenhouse gases can prevent the biodiversity loss by reducing the amount of global warming to 2 degrees Celsius rather than 4 degrees. This would also buy time — up to four decades — for plants and animals to adapt to the remaining 2 degrees of climate change.”

The research team quantified the benefits of acting now to mitigate climate change and found that up to 60 per cent of the projected climatic range loss for biodiversity can be avoided.

Dr Warren said: “Prompt and stringent action to reduce greenhouse gas emissions globally would reduce these biodiversity losses by 60 per cent if global emissions peak in 2016, or by 40 per cent if emissions peak in 2030, showing that early action is very beneficial. This will both reduce the amount of climate change and also slow climate change down, making it easier for species and humans to adapt.”

Information on the current distributions of the species used in this research came from the datasets shared online by hundreds of volunteers, scientists and natural history collections through the Global Biodiversity Information Facility (GBIF).

Co-author Dr Jeff Price, also from UEA’s school of Environmental Studies, said: “Without free and open access to massive amounts of data such as those made available online through GBIF, no individual researcher is able to contact every country, every museum, every scientist holding the data and pull it all together. So this research would not be possible without GBIF and its global community of researchers and volunteers who make their data freely available.”

Journal Reference:

  1. R. Warren, J. VanDerWal, J. Price, J. A. Welbergen, I. Atkinson, et al. Quantifying the benefit of early climate change mitigation in avoiding biodiversity lossNature Climate Change, 2013 DOI: 10.1038/nclimate1887

Oded Grajew: O que é (e o que não é) sustentabilidade (Folha de S.Paulo)

07/05/2013 – 03h30

Por Oded Grajew

Embora em voga, o conceito de sustentabilidade ainda é pouco compreendido tanto por quem fala sobre ele quanto por quem o ouve.

Nos últimos anos, intensificou-se a discussão a respeito do aquecimento global e do esgotamento dos recursos naturais. São preocupações legítimas e inquestionáveis, mas que geraram distorção no significado de sustentabilidade, restringindo-o às questões ambientais.

Não é só isso. A sustentabilidade está diretamente associada aos processos que podem se manter e melhorar ao longo do tempo. A insustentabilidade comanda processos que se esgotam. E isso depende não apenas das questões ambientais. São igualmente fundamentais os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais.

A sustentabilidade e a insustentabilidade se tornam claras quando traduzidas em situações práticas.

Esgotar recursos naturais não é sustentável. Reciclar e evitar desperdícios é sustentável.

Corrupção é insustentável. Ética é sustentável. Violência é insustentável. Paz é sustentável.

Desigualdade é insustentável. Justiça social é sustentável. Baixos indicadores educacionais são insustentáveis. Educação de qualidade para todos é sustentável.

Ditadura e autoritarismo são insustentáveis. Democracia é sustentável. Trabalho escravo e desemprego são insustentáveis. Trabalho decente para todos é sustentável.

Poluição é insustentável. Ar e águas limpos são sustentáveis. Encher as cidades de carros é insustentável. Transporte coletivo e de bicicletas é sustentável.

Solidariedade é sustentável. Individualismo é insustentável.

Cidade comandada pela especulação imobiliária é insustentável. Cidade planejada para que cada habitante tenha moradia digna, trabalho, serviços e equipamentos públicos por perto é sustentável.

Sociedade que maltrata crianças, idosos e deficientes não é sustentável. Sociedade que cuida de todos é sustentável.

Dados científicos mostram que o atual modelo de desenvolvimento é insustentável e ameaça a sobrevivência inclusive da espécie humana.

Provas não faltam. Destruímos quase a metade das grandes florestas do planeta, que são os pulmões do mundo. Liberamos imensa quantidade de dióxido de carbono e outros gases causadores de efeito estufa, num ciclo de aquecimento global e instabilidades climáticas.

Temos solapado a fertilidade do solo e sua capacidade de sustentar a vida: 65% da terra cultivada foram perdidos e 15% estão em processo de desertificação.

Cerca de 50 mil espécies de plantas e animais desaparecem todos os anos e, em sua maior parte, em decorrência de atividades humanas.

Produzimos uma sociedade planetária escandalosa e crescentemente desigual: 1.195 bilionários valem, juntos, US$ 4,4 trilhões –ou seja, quase o dobro da renda anual dos 50% mais pobres. O 1% de mais ricos da humanidade recebe o mesmo que os 57% mais pobres.

Os gastos militares anuais passam de US$ 1,5 trilhão, o equivalente a 66% da renda anual dos 50% mais pobres.

Esse cenário pouco animador mostra a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável. Cabe a nós torná-lo possível.

ODED GRAJEW, 68, empresário, é coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial