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Mudanças climáticas desafiam modelo atual de grandes monoculturas (Folha de S.Paulo)

NÁDIA PONTES – 22 de outubro de 2021

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP (FOLHAPRESS) – Entre os 364 produtores do assentamento Santo Angelo, Ivo Bernardo da Silva está ilhado. Dono de um sítio em Mogi das Cruzes, cinturão verde que abastece a maior cidade da América Latina, São Paulo, ele diz ser o único que cultiva alimentos sem agrotóxicos.

São 37 variedades, incluindo hortaliças e condimentos, que crescem em quatro mil metros quadrados cuidados por Silva, 67, e a namorada. Só dos vários tipos de alface, eles colhem 18 mil pés por ano.

“A gente cuida da natureza e ela devolve assim, com comida de qualidade”, afirma.

Recursos usados no cultivo vêm do próprio sítio: a água da chuva armazenada ou do poço artesiano irriga as plantas; o adubo é resultado da compostagem, feita ali mesmo.

A rotina de trabalho é um meio de oferecer à população acesso a alimentos saudáveis, cultivados de forma sustentável, diz Silva. “Acredito nos pequenos, na agricultura familiar”, afirma o produtor, que vende o que colhe diretamente aos consumidores.

O modo adotado por Silva é um dos caminhos apontados pela ciência para garantir segurança alimentar num mundo que precisa passar por uma transição rápida de modelo.

“As mudanças climáticas estão ocorrendo. A grande agricultura de impacto ambiental muito forte precisa mudar. Todo mundo já entendeu isso, de consumidores a produtores”, diz Gustavo Chianca, representante no Brasil da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).

O custo real desse impacto para a saúde do planeta e de seus habitantes quase não aparece nos preços finais dos alimentos. É o que mostra um projeto das universidades de Greifswald e Augsburg, na Alemanha, em conjunto com uma rede de supermercados.

Ao calcularem custos ecológicos e sociais de vários alimentos, os pesquisadores constataram grande diferença entre os preços nas gôndolas e os valores reais.

“Os produtos de origem animal têm um desempenho particularmente ruim”, dizem os cientistas. A carne moída, por exemplo, teria que custar o triplo se fossem consideradas emissões de gases de efeito estufa, mudanças no uso do solo e consumo de energia no processo de produção. Já os alimentos orgânicos de origem vegetal são os que têm preços mais “reais”, por respeitarem mais o ambiente.

“Uma internalização desses custos resultaria na correção dos preços de mercado, e o comportamento de compra seria ajustado de acordo com a sustentabilidade”, escreveu sobre os resultados a pesquisadora Amelie Michalke.

Independentemente do tamanho da propriedade ou da cadeia produtiva, fatores urgentes precisam entrar em definitivo para a equação, alerta Leandro Giatti, pesquisador que integra a recém-criada Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

“A produção de alimentos é avaliada pela produtividade e o lucro. Não dá mais para fazer isso. É preciso fazer o balanço da disponibilidade de energia, e o custo que essa energia vai gerar em outras regiões. O mesmo vale para a água”, diz Giatti.

Com o padrão vigente, não seria possível oferecer alimentos a uma população crescente e cuidar do meio ambiente ao mesmo tempo, avalia Manuela Santos, pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

“Esse modelo de cultivo em larga escala, de monocultura, altamente dependente de insumos de fora da propriedade, não é a resposta que precisamos”, diz.

Uma alternativa seria o incentivo a produções sustentáveis em pequena escala que, organizadas em cooperativas, conseguem abastecer grandes mercados, sugere Santos.

“As cadeias de abastecimento são longas, os pequenos produtores ficam à margem. Se não se organizam, se não têm capacidade de chegar ao consumidor final, fica mais difícil”, afirma Santos, ressaltando que mais transparência nesse processo traria um grande impacto positivo.

Pelos critérios definidos por lei, são produtores familiares os que têm até quatro módulos fiscais (medida de área que sofre variação conforme o município), usam mão de obra da família e têm renda vinculada ao estabelecimento.

A agricultura familiar corresponde a 77% das propriedades rurais do país, mas ocupa 23% da área total de estabelecimentos contabilizados no último Censo Agropecuário. Ela produz parte considerável do que vai para a mesa brasileira, como leite, mandioca, abacaxi, alface, feijão.

“A agricultura familiar garante muitas vezes o alimento que é consumido no dia a dia da população, mas também está envolvida no agronegócio exportador. É ligada à diversidade de alimentos, tem a tendência de ser mais sustentável, mas é preciso aprofundar, também na agricultura familiar, o conceito de produzir e de preservar”, argumenta Chianca.

Essa é a missão de Veridiana Vieira, da Repoama, Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-Grossense.

Em sua tentativa de ampliar os agricultores adeptos dessa prática, ela encontra resistência. “A primeira coisa que ouvimos é que eles não vão conseguir produzir sem veneno. Nosso trabalho é mostrar que é possível, e mais vantajoso”.

O primeiro benefício, explica Veridiana Vieira, é a economia de insumos agrícolas. O grupo troca sementes, esterco e experiências. E faz compras coletivas, o que deixa tudo mais barato.

“São muitos benefícios, mas o principal é a preservação. Ao não usar agrotóxico, você melhora a qualidade da água, do solo, atrai mais polinizadores”, acrescenta.

“Existem outras coisas que não dá pra contar em dinheiro, como o aumento do bem-estar, da saúde, a redução de alergias nas crianças”, cita ela, resumindo experiências contadas por integrantes da rede.

5 Economists Redefining… Everything. Oh Yes, And They’re Women (Forbes)

forbes.com

Avivah Wittenberg-Cox

May 31, 2020,09:56am EDT


Five female economists.
From top left: Mariana Mazzucato, Carlota Perez, Kate Raworth, Stephanie Kelton, Esther Duflo. 20-first

Few economists become household names. Last century, it was John Maynard Keynes or Milton Friedman. Today, Thomas Piketty has become the economists’ poster-boy. Yet listen to the buzz, and it is five female economists who deserve our attention. They are revolutionising their field by questioning the meaning of everything from ‘value’ and ‘debt’ to ‘growth’ and ‘GDP.’ Esther Duflo, Stephanie Kelton, Mariana Mazzucato, Carlota Perez and Kate Raworth are united in one thing: their amazement at the way economics has been defined and debated to date. Their incredulity is palpable.

It reminds me of many women I’ve seen emerge into power over the past decade. Like Rebecca Henderson, a Management and Strategy professor at Harvard Business School and author of the new Reimagining Capitalism in a World on Fire. “It’s odd to finally make it to the inner circle,” she says, “and discover just how strangely the world is being run.” When women finally make it to the pinnacle of many professions, they often discover a world more wart-covered frog than handsome prince. Like Dorothy in The Wizard of Oz, when they get a glimpse behind the curtain, they discover the machinery of power can be more bluster than substance. As newcomers to the game, they can often see this more clearly than the long-term players. Henderson cites Tom Toro’s cartoon as her mantra. A group in rags sit around a fire with the ruins of civilisation in the background. “Yes, the planet got destroyed” says a man in a disheveled suit, “but for a beautiful moment in time we created a lot of value for shareholders.”

You get the same sense when you listen to the female economists throwing themselves into the still very male dominated economics field. A kind of collective ‘you’re kidding me, right? These five female economists are letting the secret out – and inviting people to flip the priorities. A growing number are listening – even the Pope (see below).

All question concepts long considered sacrosanct. Here are four messages they share:

Get Over It – Challenge the Orthodoxy

Described as “one of the most forward-thinking economists of our times,” Mariana Mazzucato is foremost among the flame throwers.  A professor at University College London and the Founder/Director of the UCL Institute for Innovation and Public Purpose, she asks fundamental questions about how ‘value’ has been defined, who decides what that means, and who gets to measure it. Her TED talk, provocatively titled “What is economic value? And who creates it?” lays down the gauntlet. If some people are value creators,” she asks, what does that make everyone else? “The couch potatoes? The value extractors? The value destroyers?” She wants to make economics explicitly serve the people, rather than explain their servitude.

Stephanie Kelton takes on our approach to debt and spoofs the simplistic metaphors, like comparing national income and expenditure to ‘family budgets’ in an attempt to prove how dangerous debt is. In her upcoming book, The Deficit Myth (June 2020), she argues they are not at all similar; what household can print additional money, or set interest rates? Debt should be rebranded as a strategic investment in the future. Deficits can be used in ways good or bad but are themselves a neutral and powerful policy tool. “They can fund unjust wars that destabilize the world and cost millions their lives,” she writes, “or they can be used to sustain life and build a more just economy that works for the many and not just the few.” Like all the economists profiled here, she’s pointing at the mind and the meaning behind the money.

Get Green Growth – Reshaping Growth Beyond GDP

Kate Raworth, a Senior Research Associate at Oxford University’s Environmental Change Institute, is the author of Doughnut Economics. She challenges our obsession with growth, and its outdated measures. The concept of Gross Domestic Product (GDP), was created in the 1930s and is being applied in the 21st century to an economy ten times larger. GDP’s limited scope (eg. ignoring the value of unpaid labour like housework and parenting or making no distinction between revenues from weapons or water) has kept us “financially, politically and socially addicted to growth” without integrating its costs on people and planet. She is pushing for new visual maps and metaphors to represent sustainable growth that doesn’t compromise future generations. What this means is moving away from the linear, upward moving line of ‘progress’ ingrained in us all, to a “regenerative and distributive” model designed to engage everyone and shaped like … a doughnut (food and babies figure prominently in these women’s metaphors). 

Carlota Perez doesn’t want to stop or slow growth, she wants to dematerialize it. “Green won’t spread by guilt and fear, we need aspiration and desire,” she says. Her push is towards a redefinition of the ‘good life’ and the need for “smart green growth” to be fuelled by a desire for new, attractive and aspirational lifestyles. Lives will be built on a circular economy that multiplies services and intangibles which offer limitless (and less environmentally harmful) growth. She points to every technological revolution creating new lifestyles. She says we can see it emerging, as it has in the past, among the educated, the wealthy and the young: more services rather than more things, active and creative work, a focus on health and care, a move to solar power, intense use of the internet, a preference for customisation over conformity, renting vs owning, and recycling over waste. As these new lifestyles become widespread, they offer immense opportunities for innovation and new jobs to service them.

Get Good Government – The Strategic Role of the State

All these economists want the state to play a major role. Women understand viscerally how reliant the underdogs of any system are on the inclusivity of the rules of the game. “It shapes the context to create a positive sum game” for both the public and business, says Perez. You need an active state to “tilt the playing field toward social good.” Perez outlines five technological revolutions, starting with the industrial one. She suggests we’re halfway through the fifth, the age of Tech & Information. Studying the repetitive arcs of each revolution enables us to see the opportunity of the extraordinary moment we are in. It’s the moment to shape the future for centuries to come. But she balances economic sustainability with the need for social sustainability, warning that one without the other is asking for trouble.

Mariana Mazzucato challenges governments to be more ambitious. They gain confidence and public trust by remembering and communicating what they are there to do. In her mind that is ensuring the public good. This takes vision and strategy, two ingredients she says are too often sorely lacking. Especially post-COVID, purpose needs to be the driver determining the ‘directionality’ of focus, investments and public/ private partnerships. Governments should be using their power – both of investment and procurement – to orient efforts towards the big challenges on our horizon, not just the immediate short-term recovery. They should be putting conditions on the massive financial bail outs they are currently handing out. She points to the contrast in imagination and impact between airline bailouts in Austria and the UK. The Austrian airlines are getting government aid on the condition they meet agreed emissions targets. The UK is supporting airlines without any conditionality, a huge missed opportunity to move towards larger, broader goals of building a better and greener economy out of the crisis.

Get Real – Beyond the Formulae and Into the Field

All of these economists also argue for getting out of the theories and into the field. They reject the idea of nerdy theoretical calculations done within the confines of a university tower and challenge economists to experiment and test their formulae in the real world.

Esther Duflo, Professor of Poverty Alleviation and Development Economics at MIT, is the major proponent of bringing what is accepted practice in medicine to the field of economics: field trials with randomised control groups. She rails against the billions poured into aid without any actual understanding or measurement of the returns. She gently accuses us of being no better with our 21st century approaches to problems like immunisation, education or malaria than any medieval doctor, throwing money and solutions at things with no idea of their impact. She and her husband, Abhijit Banerjee, have pioneered randomised control trials across hundreds of locations in different countries of the world, winning a Nobel Prize for Economics in 2019 for the insights.

They test, for example, how to get people to use bed nets against malaria. Nets are a highly effective preventive measure but getting people to acquire and use them has been a hard nut to crack. Duflo set up experiments to answer the conundrums: If people have to pay for nets, will they value them more? If they are free, will they use them? If they get them free once, will this discourage future purchases? As it turns out, based on these comparisons, take-up is best if nets are initially given, “people don’t get used to handouts, they get used to nets,” and will buy them – and use them – once they understand their effectiveness. Hence, she concludes, we can target policy and money towards impact.

Mazzucato is also hands-on with a number of governments around the world, including Denmark, the UK, Austria, South Africa and even the Vatican, where she has just signed up for weekly calls contributing to a post-Covid policy. ‘I believe [her vision] can help to think about the future,’ Pope Francis said after reading her book, The Value of Everything: Making and Taking in the Global Economy. No one can accuse her of being stuck in an ivory tower. Like Duflo, she is elbow-deep in creating new answers to seemingly intractable problems.

She warns that we don’t want to go back to normal after Covid-19. Normal was what got us here. Instead, she invites governments to use the crisis to embed ‘directionality’ towards more equitable public good into their recovery strategies and investments. Her approach is to define ambitious ‘missions’ which can focus minds and bring together broad coalitions of stakeholders to create solutions to support them. The original NASA mission to the moon is an obvious precursor model. Why, anyone listening to her comes away thinking, did we forget purpose in our public spending? And why, when so much commercial innovation and profit has grown out of government basic research spending, don’t a greater share of the fruits of success return to promote the greater good?

Economics has long remained a stubbornly male domain and men continue to dominate mainstream thinking. Yet, over time, ideas once considered without value become increasingly visible. The move from outlandish to acceptable to policy is often accelerated by crisis. Emerging from this crisis, five smart economists are offering an innovative range of new ideas about a greener, healthier and more inclusive way forward. Oh, and they happen to be women.

Elitismo prejudica debate sobre clima (El País)

Estudo coordenado pela agência Purpose recomenda incluir brasileiros de baixa renda no debate sobre sustentabilidade e aponta argumentos e narrativas para dialogar com aqueles que já vivem as consequências do caos climático
Lixo acumulado na baía de Guanabara, no Rio, em  de junho.
Lixo acumulado na baía de Guanabara, no Rio, em de junho.André Coelho / EFE

Juliano Spyer 30 jun 2021 – 17:00 BRT

O Brasil é importante estrategicamente nos debates sobre o futuro do planeta por ser o principal responsável legal por biomas importantes, especialmente a floresta amazônica. Mas há um segundo protagonismo no caso brasileiro: o país já foi afetado por um evento climático de longa duração e portanto os brasileiros já conhecem as consequências desse fenômeno.

A partir de meado do século passado, aproximadamente 20 milhões de camponeses analfabetos abandonaram a zona rural nordestina. Eles não foram motivados a migrar em busca de modernidade, de educação, mas saíram porque já não conseguiam sobreviver pela lavoura e pela pecuária.

O antropólogo Gilberto Velho, precursor dos estudos antropológicos sobre as cidades no Brasil, classificou a migração causada pela seca nordestina como sendo o evento social mais importante do país no século XX. As cidades abrigavam 30% dos brasileiros em 1950; no final do século XX, 80% da população morava em áreas urbanas. Nasce aí o Brasil dos problemas de mobilidade urbana (poluição, estresse), da falta de infraestrutura de esgoto e coleta de lixo (alagamentos, contaminação) e também a explosão da violência e o surgimento de organizações grandes e complexas ligadas ao crime e à religião.

O Brasil do início do século XXI é a paisagem provável do mundo no século seguinte, quando fenômenos climáticos forçarem o desenraizamento e o deslocamentos de grandes populações para as periferias das cidades. No cenário conservador apresentado em A terra inabitável (Cia das Letras, 2019), o jornalista David Wallace-Wells apresenta cenários em que as mudanças climáticas provocarão o deslocamento de 600 milhões a 2 bilhões de refugiados até o final do século.

O clima como assunto dos intelectuais

Se a terra fosse um carro, os cientistas seriam faróis indicando que estamos nos dirigindo em alta velocidade para um abismo. A surpresa é que o motorista e os passageiros —líderes políticos, empresariais e a sociedade— não estão reagindo da forma que deveriam considerando a catástrofe que afetará todo mundo.

Uma pesquisa recente coordenada pela agência Purpose e realizada pela Behup, uma startup de pesquisa, sugere que brasileiros pobres podem ser mobilizados para atuar em defesa da sustentabilidade. Eles são mais da metade da população do país e sabem na pele como vai ser o mundo no futuro, porque eles representam mais da metade da população e já vivem os efeitos da catástrofe climática. Mas para isso funcionar, nós temos que partir das referências e das experiências deles em relação a esse assunto.

Um problema real, atual e econômico

A seguir, estão listados alguns insights sobre como populações menos privilegiadas percebem e falam sobre sustentabilidade.

1) Real e atual – Nos debates científicos sobre o aquecimento global, as consequências virão em algum momento do futuro, mas no Brasil popular ele é palpável e acontece hoje. O alagamento —causado pelo aumento ou pela irregularidade das chuvas— é a maneira mais evidente como o caos climático se mostra para essas pessoas. E ele aponta para dois problemas reais: a falta de infraestrutura de escoamento de água da chuva e a falta de serviços regulares de coleta de lixo. Outro problema é causado pelo clima seco, que acentua os casos de doenças respiratórias —relativamente fáceis de serem tratadas pela medicina, mas complicadas para quem depende do atendimento público.

2) O lixo tangibiliza o problema. Quando o pobre urbano fala sobre sustentabilidade, a primeira associação é com o lixo. Lixo coletado sem regularidade pelo serviço público nas periferias, muitas vezes descartado nas ruas — o “papel de bala” jogado no chão, lixo dispensado fora de hora e espalhado na rua por gatos, cachorros e outros animais. O problema do lixo materializa esse assunto para quem vê o lixo acumulado, a coleta irregular de dejetos, sacos de lixo resgados e espalhados nas ruas por animais; o impacto de se viver em locais sujos, desprezados pelos governantes; lixo que se acumula em espaços sem iluminação pública e que são ocupados por assaltantes ou por traficantes.

3) A metáfora do consumismo predatório. O lixo representa ou metaforiza a sociedade de consumo que descarta o que ainda é útil. O lixo talvez seja algo “naturalizado” para as camadas urbanas médias e altas, mas isso é menos claro para vem de uma lógica de reuso —o lixo orgânico alimenta os animais, a lata vira lamparina, a garrafa PET tem mil e uma utilidades. Para alguns respondentes do estudo, é moralmente incômodo descartar aquilo que pode ser reutilizado. Classificar algo como “lixo” é uma decisão, uma escolha, que mostra uma percepção sobre desperdício e responsabilidade conjunta para cuidar do lugar em que se vive.

4) Ser sustentável é ser econômico. Geralmente ouvimos falar da preservação do meio ambiente como algo que tem uma motivação altruísta: “zelar pelo futuro das crianças, das florestas etc.” Mas essa abstração não é prioridade para quem vive em situação de vulnerabilidade e está preocupada com o que vai acontecer amanhã. De onde vem o alimento, o emprego, o remédio; como se defender do crime, o que fazer em relação à escola fechada, por exemplo. Para esse brasileiro, sustentabilidade é uma boa ação que traz vantagem econômica. Plásticos e latas podem se tornar utensílios e brinquedos. Usar lâmpadas LED e controlar o uso da água diminuem os gastos. Pneus, tijolos e outros produtos de demolição são mais baratos para quem quer construir. E finalmente há o tema do trabalho: recolher lixo reciclável é uma fonte de renda para quem não tem outra fonte de renda.

O tema da sustentabilidade geralmente é debatido em círculos intelectualizados entre brasileiros das camadas médias e altas. O brasileiro pobre não é convidado a participar dessa conversa, pelo preconceito que associa baixa escolaridade a incapacidade de pensar e entender o mundo. Mas em um mundo com muito mais pobres do que ricos, essa discussão se fortalecerá se dialogar com as milhares de pessoas —no Brasil e no mundo— que já vivem as consequências do caos climático.

Estudo de caso

No início do mês de junho, portanto, pouco tempo depois de eu escrever este artigo, recebi pelo WhatsApp o vídeo incluído adiante, feito pela ativista Duda Salabert, vereadora em Belo Horizonte, sobre instalação de uma mineradora da empresa Tamisa na Serra do Curral, próxima à capital mineira. O vídeo argumenta que a mineração afetará as nascentes de água que servem a cidade, levantará poeira causando problemas respiratórios na população de BH, particularmente para uma comunidade/bairro chamado Taquaril, que fica a três quilômetros de onde o empreendimento será instalado caso seja aprovado.

O vídeo tem argumento convincente, imagens registradas por drone para dar ideia das distâncias entre os locais indicados. Fui mobilizado e por isso, parei o que estava fazendo e repassei o vídeo para… ambientalistas amigos meus — já me desculpando por achar que eles possivelmente já conheciam a situação ou teriam recebido o vídeo de outras pessoas. Mas escrevendo as mensagens, examinei como o argumento do vídeo — à luz do que eu mesmo escrevi acima — é feito para circular entre pessoas das camadas médias e altas, principalmente mais escolarizadas e identificadas com valores progressistas.

Mensagem que eu usei para repassar o vídeo-denúncia via WhatsApp.
Mensagem que eu usei para repassar o vídeo-denúncia via WhatsApp.Reprodução / Juliano Spyer

A vereadora Duda, em um trecho do vídeo, aponta para a comunidade/bairro do Taquaril e diz que os moradores não foram ouvidos mas sofrerão diretamente os impactos ambientais da mineração. Para a vereadora, essa atitude configura um caso de “racismo ambiental”. Esse argumento é convincente e deve soar “natural” para leitores e leitoras do EL PAÍS, mas falar dessa forma:

  1. Compara esse bairro pobre ao recurso natural, sugerindo passividade dos moradores, como se eles não tivessem capacidade —por falta de estudos e situação econômica adversa— para participar do debate.
  2. Ao fazer isso, os criadores do vídeo cometem o mesmo erro que estão denunciando, que é não envolver os moradores nesse debate.

Debater com os moradores do Taquaril, visitar o bairro e conversar com líderes comunitários. Mas escutar como pessoas comuns como eles percebem o empreendimento minerador — inclusive considerar a possibilidade de que a mineração abrirá oportunidades de emprego para várias dessas famílias. E, a partir dessa conversa interessada, atenta e continuada, que procura entender o problema a partir da ótica dessas pessoas, dialogar com elas sobre o assunto, conforme este artigo propõe.

O movimento ambientalista está se dando conta que precisa dialogar com outras audiências se quiser —mais do que ter razão— ser eficiente e produzir os resultados que mitigarão o caos climático. O caso da Serra do Curral em BH mostra como essa reflexão é urgente; se essa mudança de atitude não acontece em relação a um problema que acontece tão próximo a uma cidade grande, como então agir em relação ao que acontece nos rincões do país?

Juliano Spyer é antropólogo digital, escritor e educador. Mestre e doutor pela University College London, é autor de Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam (Geração Editorial), entre outros livros. Este texto foi publicado originalmente aqui.

Mais informações

Como a pandemia muda o panorama geral planetário?

Por Richard Heinberg, publicado originalmente por Resilience.org. Traduzido por Renzo Taddei.

25 de março de 2020

No ano de 2019, o panorama geral para a humanidade era aproximadamente o seguinte. O Homo sapiens (nós), um mamífero bípede de cérebro grande, passou a época do Pleistoceno (de 2,5 milhões de anos atrás até 12.000 anos atrás) desenvolvendo sua habilidade de controlar o fogo, conversar, pintar imagens, tocar flautas ósseas e fazer ferramentas e roupas. A linguagem aumentou drasticamente nossa sociabilidade e nos ajudou a invadir e habitar todos os continentes, exceto a Antártica. Durante a época do Holoceno (os últimos 12.000 anos), começamos a viver em assentamentos permanentes, desenvolvemos a agricultura e construímos sociedades estatais com reis, escravidão, desigualdade econômica, divisão de trabalho em tempo integral, dinheiro, religiões e exércitos. A época do Antropoceno (um breve interlúdio, na verdade) surgiu há apenas alguns séculos, quando nós humanos começamos a usar combustíveis fósseis, o que nos capacitou dramaticamente a aumentar nossa população e nossas taxas de consumo per capita, mecanizar a produção e o transporte e basicamente dominar o planeta inteiro. A mecanização da agricultura, ao tornar redundante o campesinato, levou à urbanização em massa e rapidamente aumentou o tamanho da classe média. No entanto, o uso de combustíveis fósseis desestabilizou o clima global, além de aumentar enormemente os problemas existentes, como poluição, esgotamento de recursos e destruição de habitat para a maioria das criaturas selvagens. Além disso, nas últimas décadas, aprendemos a usar a dívida para transferir o consumo do futuro para o presente, com base no pressuposto arriscado de que a economia continuará a crescer para sempre, possibilitando às gerações futuras pagar pelo estilo de vida que desfrutamos agora.

Em suma, o quadro geral era de poder e perigo crescentes. De repente, o quadro mudou. Um padrão de crescimento econômico furioso, consistente ao longo de muitas décadas desde o início do Antropoceno (com interrupções ocasionais, consistindo principalmente na Grande Depressão e nas duas Guerras Mundiais), chocou-se com força contra a parede do (des)preparo pandêmico. Em um esforço para limitar a mortalidade pelo novo coronavírus, os governos de todo o mundo colocaram suas economias em um estado de hibernação, dizendo à maioria dos trabalhadores para ficar em casa e evitar o contato direto com os outros.

Como esse desenvolvimento está impactando as tendências que já estavam em andamento? As gerações futuras olharão para trás e verão a pandemia de coronavírus como algo que simplesmente passou, ou como um fenômeno que mudou o curso da história? Revisemos algumas das principais tendências que se desenvolveram durante o Antropoceno e exercitemos nossa capacidade de especulação bem informada sobre como elas podem ser afetadas pelo surto de COVID-19.

Mudança climática: Na China, o lockdown de trabalhadores e o fechamento de empresas levaram a uma redução drástica nas emissões de gases de efeito estufa. Nas próximas semanas, as emissões do mundo como um todo podem cair dez por cento ou mais. Nota para os guerreiros do clima: não comemorem de forma muito efusiva; ambientalista exultantes não serão bem vistos pelas pessoas que estão desempregadas por causa da pandemia.

A resposta do mundo ao coronavírus mina o argumento de que os governos não podem reduzir as emissões de carbono porque isso prejudicaria suas economias. Claramente, os líderes nacionais sentiram que a ameaça mais imediata (embora, no esquema mais amplo, menos significativa) da pandemia justificava o fechamento do comércio. Os ativistas climáticos sentem-se encorajados a defender o seguinte argumento: se o decrescimento econômico é o que é necessário para preservar uma biosfera habitável, os líderes mundiais podem e devem encontrar maneiras justas e humanas de reduzir o uso de energia, extração de recursos naturais, atividade industrial e lançamento de resíduos – todos eles elementos que contribuem para as mudanças climáticas.

No entanto, a pandemia não é uma boa notícia para a transição para as energias renováveis. As cadeias de suprimentos para empresas de energia solar e eólica foram interrompidas e a demanda por novas instalações foi reduzida. E com a perspectiva de petróleo e o gás superbaratos (veja “Esgotamento de recursos”, abaixo), é provável que as forças do mercado atrapalhem, em vez de ajudar tanto a indústria de energias renováveis ​​quanto a transição para carros elétricos.

Desigualdade econômica: para os freelancers e para as pessoas que vivem de salário em salário (o que representa 74% dos americanos que são horistas), o bloqueio do coronavírus é uma catástrofe. A curto prazo, as desigualdades econômicas existentes resultarão em níveis altamente desiguais de sacrifício e sofrimento. Pode ser relativamente fácil para trabalhadores com baixos salários racional recursos e aguentar uma ou duas semanas em casa como férias forçadas, mas se dezenas de milhões de americanos sem poupança ficarem vários meses sem renda, as tensões sociais regionais podem chegar ao ponto de ruptura. Essa é uma das razões pelas quais os funcionários do governo estão falando sobre distribuição de dinheiro.

No longo prazo, os recentes níveis absurdos de desigualdade podem ser seriamente rediuzidos. Em seu livro The Great Leveler, o historiador Walter Scheidel argumenta que, no passado, a desigualdade econômica foi revertida de forma dramática pelo que ele chama de “Os Quatro Cavaleiros” – mobilização em massa para guerra, revolução, colapso estatal e epidemias. Atualmente, muitos governos estão realizando esforços de realocação econômica equivalentes, em escala, aos vistos nas guerras mundiais. Por exemplo, a Dinamarca está pagando, por um período de três meses, 75% dos salários (para salários de até 50 mil dólares por ano) para empresas que, de outra forma, teriam que demitir trabalhadores. Isso não apenas permite que os trabalhadores em quarentena sobrevivam, como também permaneçam na folha de pagamento e não precisem voltar ao mercado de trabalho.

Assim, a atual pandemia pode se qualificar como dois cavaleiros de Scheidel (mobilização em massa e epidemia). A classe dos investidores está testemunhando a destruição de capital em taxa e escala prodigiosas, enquanto os esforços dos governos para manter a civilidade e o bem-estar social podem implicar a criação de uma rede de segurança para os mais pobres. Obviamente, não é assim que os advogados da justiça social imaginaram controlar a desigualdade, mas o resultado pode acabar sendo equivalente a outro New Deal, e possivelmente até a um Green New Deal.

Perda de biodiversidade: A nova pandemia de coronavírus quase certamente começou nos mercados de animais selvagens em Wuhan, China. Como Carl Safina colocou em um artigo recente, “os seres humanos causaram a pandemia colocando os animais do mundo em um liquidificador cruel e bebendo-os como um drink”. Embora tenha havido outras epidemias zoonóticas nos últimos anos, incluindo o HIV, o vírus de Marburg, a SARS e a pandemia de “gripe suína” (H1N1) de 2009, o surto global de coronavírus pode proporcionar um momento de aprendizado, em que as organizações de conservação da vida selvagem podem pedir com êxito uma moratória internacional ao comércio ou venda de qualquer espécie animal não domesticada (os zoológicos sendo uma exceção fortemente regulamentada).

Caso contrário, não espere muita mudança na tendência geral de declínio no número de insetos, répteis, anfíbios e pássaros e mamíferos selvagens com os quais compartilhamos este pequeno planeta.

Superpopulação: Alguns indívíduos cínicos da geração Y chamam o novo coronavírus de “Removedor de Boomers”, devido à sua tendência de atacar os idosos com maior virulência. Como a humanidade recentemente adicionou 80 milhões de novos membros por ano (nascimentos menos mortes), uma exclusão do crescimento líquido de um ano na população é possível no pior dos cenários. No entanto, o potencial para uma moderação de curto prazo de nosso padrão geral de expansão demográfica pode ser pelo menos parcialmente compensado pelos resultados, a partir de nove meses a partir de agora, de centenas de milhões de pessoas em idade reprodutiva em todo o mundo que ficam em casa por semanas com pouco o que fazer. Para nações ricas com níveis decrescentes de fertilidade, uma ameaça muito maior à estabilidade da população humana provavelmente continuará sendo representada pelo acúmulo de substâncias químicas no ambiente que causam desregulação endócrina. Para os países pobres com altas tendências de crescimento populacional, oportunidades iguais de educação para todos, independentemente do sexo, ajudarão substancialmente a reduzir as taxas de crescimento.

Esgotamento de recursos: com a produção industrial em queda, a demanda e, portanto, os preços da maioria das mercadorias estão caindo. A commodity mais economicamente crucial do mundo, o petróleo, viu seu preço cair de US$ 50 por barril para perto de US$ 20 (no momento em que este artigo foi escrito); alguns analistas estão prevendo preços em um dígito. Com a queda do uso de petróleo, a capacidade de armazenamento de excedente de petróleo acabará, e os produtores não terão escolha a não ser abandonar alguns poços. As companhias de petróleo provavelmente serão socorridas, mas não serão lucrativas nas condições atuais. A perspectiva de aumentar as taxas mundiais de extração de petróleo até níveis recentes parece fraca. É provável, então, que o momento tão antecipado do pico da produção mundial de petróleo já tenha ocorrido, com pouco alarde, em novembro de 2018.

Obviamente, a queda nos mercados de petróleo é resultado de um desastre econômico, e não de políticas sólidas de conservação de recursos. Portanto, a adaptação por parte da indústria e da sociedade como um todo será caótica. As implicações internacionais são difíceis de prever: várias nações importantes do Oriente Médio verão suas economias destruídas pelos baixos preços do petróleo, e as grandes potências (especificamente China e Rússia) podem tentar aproveitar o momento buscando realinhar alianças na região.

Poluição: Marshall Burke, da Universidade de Stanford, escreveu recentemente que “as reduções na poluição do ar na China causadas por essa perturbação econômica provavelmente salvaram 20 vezes mais vidas na China do que foram perdidas devido à infecção pelo vírus naquele país”. Taxas reduzidas de atividade fabril e de consumo devem ajudar a reduzir a poluição geral, mas é claro que esse é o efeito colateral da crise, não o resultado de uma política sólida. Portanto, sem intervenções em políticas ambientais, não há razão para esperar que os benefícios da redução da poluição sejam sustentados. Apenas um exemplo de como alguns benefícios temporários podem ser equilibrados por novos danos: o uso de plásticos descartáveis ​​provavelmente aumentará durante a resposta à pandemia.

Dívida global explosiva: a economia mundial está novamente em um momento deflacionário, como em 1932 e 2008. Para os bancos centrais e governos, todos os esforços fiscais serão voltados para reinflacionar uma economia que está murchando. Há um risco de que os investidores percebam que, em um mundo sem crescimento, seus instrumentos financeiros são inerentemente inúteis, forçando não apenas um colapso do valor de mercado das ações, mas um repúdio às próprias regras do jogo. No entanto, como a epidemia de coronavírus acabará por retroceder, o resultado mais provável é um período de inadimplência e falências, mitigadas por níveis heróicos de compras de títulos do Fed e ajudas dos governos (para as indústrias de petróleo e companhias aéreas, por exemplo) e déficit de gastos. Eventualmente, se a impressão de moeda crescer de forma exponencial, a hiperinflação é uma possibilidade, mas não tão cedo. Ponto central: o sistema financeiro foi desestabilizado e, como a indústria do petróleo, pode nunca voltar ao “normal”.

* * *

Voltemos à questão colocada acima: a humanidade voltará a olhar para a pandemia de coronavírus como um evento sem maior importância ou como uma transformação profunda? A resposta provável depende, em parte, de quanto tempo dura a pandemia, e isso, por sua vez, dependerá em grande parte da rapidez com que os testes se tornarem amplamente disponíveis e tratamentos e vacinas forem encontrados. Os documentos do governo dos EUA marcados como “impróprios para divulgação pública” sugerem escassez significativa não apenas de equipamentos médicos, mas também de bens em geral nos próximos 18 meses para governo, indústria e cidadãos, se as soluções não forem rapidamente encontradas.

O nível de mudança sistêmica também depende do grau de desaceleração do emprego e do PIB. Fred Bullard, presidente do Fed de St. Louis, afirmou que a taxa de desemprego nos EUA pode atingir 30% no segundo trimestre, devido a paralisações para combater o coronavírus, e que o PIB pode cair 50%. Isso seria uma carnificina econômica muito além da escala da Grande Depressão (a taxa de desemprego nos Estados Unidos em 1933 era de 25%; seu PIB caiu cerca de 15%). Se a economia global cair tanto e permanecer paralisada mesmo por algumas semanas, o coronavírus poderá ser chamado de “o grande divisor de águas”.

Mas uma mudança em que direção? As possibilidades distópicas vêm à mente com muita facilidade. No entanto, em conversas, alguns dos meus colegas que trabalham em think tanks sugeriram que a pandemia poderia se transformar em uma crise de tamanho suficiente para desorganizar a ordem global na medida certa e de tal maneira que promovesse respostas que induzissem pelo menos algumas sociedades à trajetória de cooperação, redistribuição e decrescimento.

Primeiro, os governos costumam lidar com a escassez (prevista nos documentos oficiais citado acima) por meio da estratégia testada e comprovada do racionamento de recursos. Como Stan Cox detalha em seu livro indispensável Any Way You Slice It: The Past, Present, and Future of Rationing, o racionamento nem sempre funciona bem; mas quando isso acontece, os resultados podem ser admiráveis. Durante as duas guerras mundiais, os americanos participaram entusiasticamente de programas de racionamento de alimentos, pneus, roupas e muito mais. A Grã-Bretanha continuou seus programas de racionamento bem após o final da Segunda Guerra Mundial, e pesquisas mostraram que, durante o período de racionamento, os britânicos eram geralmente mais bem alimentados e saudáveis ​​do que antes ou depois. Na maioria dos cenários imaginários de degradação econômica deliberada, os programas de racionamento de energia e bens são os mais prováveis.

Cox conclui que os programas de racionamento tendem a ser mais bem-sucedidos quando as pessoas estão unidas contra um inimigo comum e quando se acredita que a escassez seja temporária. Apesar dos esforços do presidente Trump em chamá-lo de “vírus chinês”, o SARS-Cov-2 não tem nacionalidade inerente, nem é democrata ou republicano. É de fato um inimigo comum, e as pessoas tendem a se tornar mais cooperativas quando confrontadas com uma ameaça coletiva. Além disso, os epidemiologistas concordam que a ameaça terá um ponto final, mesmo que não saibamos exatamente quando será. Portanto, existem condições para o sucesso do racionamento, e ele poderia ajudar a promover atitudes mais comunitárias e cooperativas em geral.

Além disso, como discutido acima, a pandemia tem potencial para a redução significativa das desigualdades econômicas. Historicamente, nem todos os momentos de nivelamento econômico promoveram a cooperação: quando gerados pelo colapso do Estado ou por uma revolução, o nivelamento econômico foi acompanhado por sofrimento generalizado e por conflitos sangrentos. No entanto, durante os grandes momentos de nivelamento do século XX – a Depressão e as duas Guerras Mundiais – os americanos conseguiram se unir ao redor do sentimento de sacrifício compartilhado.

A longo prazo, ainda enfrentamos os desafios das mudanças climáticas, esgotamento de recursos, superpopulação, poluição e perda de biodiversidade. Embora a pandemia possa ter impactos positivos secundários ou menores sobre esses problemas, ela não os resolverá. Esforços coletivos significativos e sustentados ainda serão necessários para transformar sistemas energéticos, economias e estilos de vida (embora a pandemia possa transformar economias e estilos de vida de maneiras imprevisíveis). Se a resposta do coronavírus nos colocar em uma base cooperativa, tanto melhor. Obviamente, isso seria às custas de montantes desconhecidos de mortes, bem como do medo e da privação generalizados. Os elementos positivos que são sólidos como uma nuvem; mas, como Monty Python nos lembra pelo YouTube, é sempre bom olhar para o lado positivo da vida.

Jovem que não produz lixo há 2 anos prova que levar uma vida sustentável é mais fácil do que você imagina (Portal do Meio Ambiente)

PUBLICADO  29 NOVEMBRO 2014

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por Redação Hypeness

Graduanda em Estudos Ambientais, a nova-iorquina Lauren Singer sempre se incomodava quando seus colegas traziam embalagens de alimentos para a sala de aula e as jogavam no lixo, ao fim do dia. Foi então que viu a quantidade de embalagens que ela mesma utilizava em sua casa. Percebendo-se uma grande hipócrita, por falar sobre sustentabilidade e meio ambiente e não aplicar esses conceitos em sua dia a dia, a garota de 23 anos decidiu mudar, adotando um estilo de vida a lixo zero.

Para eliminar o uso de plástico e papelão em sua vida, Lauren percebeu que precisaria mudar por completo. Contudo, por mais drástica que a mudança de vida possa parecer ter sido, ela afirma que não foi tão difícil e que vale a pena. A garota começou aos poucos, usando sacolas retornáveis e recipientes próprios, optando por comprar alimentos a granel, de produtores locais, e criando seus próprios produtos de higiene e limpeza em casa. Até mesmo as roupas de Lauren mudaram e agora ela faz compras somente em lojas de segunda mão. A estudante se sente feliz por poder afirmar que está há dois anos sem produzir nada de lixo.

No dia a dia, ela se acostumou a negar recibos de papel, canudos, sacolas plásticas e folhetos. Além disso, Lauren descobriu as vantagens dos alimentos produzidos localmente, além de adotar um estilo de vida muito mais simples. Segundo ela, os resultados dessa intensa mudança de hábitos foram: 1) economia de dinheiro, já que toda e qualquer compra é pensada; 2) uma alimentação melhor e 3) ela se sente mais feliz por agir de acordo com os conceitos sustentáveis em que acredita.

Em seu blog, Trash is for Tossers (“Lixo é para Babacas”, em tradução livre), Lauren dá dicas e compartilha receitas de produtos que vão de sabão para lavar roupa a pasta de dente. Vale a pena conhecer!

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“Pensar o mundo em que vivemos sem dissociar a história da Terra da história da humanidade” (ICICT Notícias)

Por Graça Portela

29/10/2014

Com respostas bastante reflexivas, o pesquisador Carlos Saldanha, autor do livro “Desenvolvimento Sustentável para o Antropoceno”, responde a entrevista do site do Icict, falando de suas expectativas em relação à sua obra, suas análises e compreensão de que estamos em um momento único na história da humanidade e que é sim o momento de agirmos pelo meio ambiente. Sem medos.

O que o senhor espera com o lançamento de um livro que toca em um aspecto ainda pouco discutido no Brasil, que é o conceito do Antropoceno?

Escrevi esse livro pensando nos jovens estudantes. A juventude vem assumindo, desde meados dos anos 1960, relevante papel na vida política mundial. As ações dos jovens, que instituem formas novas de movimentos sociais e de protestos, não obedecem à lógica dos partidos políticos, sindicatos ou associações atreladas às tradicionais estruturas políticas de poder. Com este livro, espero contribuir para a ampliação dos mapas cognitivos e o reforço da potencialidade de transformação desse ator social extremamente relevante para a transformação da vida social. Nesses primeiros 14 anos do século XXI, nós pouco fizemos em relação ao enfrentamento da crise política que paira sobre nós, principalmente no que se refere à necessidade de aprimoramento do processo de democratização da sociedade brasileira, hoje carente de espaços públicos, fóruns e arenas de interlocução entre governantes e cidadãos. Eu diria que se a vida política tem uma ecologia, os jovens são, então, a fonte geradora de sua renovação, acredito que a democracia não é façanha indivíduos solitários, mas de um concerto a várias vozes, de uma polifonia na Era em que vivemos, o Antropoceno.

O mérito desse operador conceitual é o de permitir pensar o mundo em que vivemos sem dissociar a história da Terra da história da humanidade, consequentemente, reconhecer o papel do Homem como força motriz de processos de transformação dos sistemas que sustentam a vida na Terra. Atualmente, é quase um consenso que a Era do Antropoceno foi inaugurada com a Revolução Industrial na Inglaterra, em fins do século XVIII, por ocasião do funcionamento das primeiras máquinas a vapor. Algumas entidades internacionais das áreas das Ciências da Terra estão discutindo quando teria, de fato, começado o Antropoceno. Aliás, é interessante observar que já existe uma previsão de anúncio oficial, em 2016, desse entendimento compartilhado. Se eu tivesse que resumir, sintetizar, as características do Antropoceno, presentes em maior ou menor grau nas sociedades contemporâneas, diria que elas consistem, entre outras importantes determinações, numa Era de transformações climáticas naturais e destruição de ambientes naturais.  Podemos lembrar aqui que o aumento do consumo de combustíveis fósseis, a contaminação dos solos por hidrocarbonetos, a emissão de gases de efeito estufa, o desmatamento e o crescimento das áreas de produção agrícola com uso intenso de fertilizantes e agrotóxicos são apenas alguns exemplos de como a interferência do Homem no ambiente alterou a vida no Planeta. Todas essas transformações são vistas como constitutivas da nossa sociedade, com graus variados, é verdade, de manifestações no ”continente” brasileiro, mas, ao mesmo tempo, questões essenciais que mobilizam cada vez mais os jovens.

Por conta de tais características, o livro não se propõe a percorrer todos os meandros do Antropoceno. Eu quis apresentar um olhar panorâmico, afinal, seria impossível dar conta, empiricamente, de todas as questões que concernem o debate atual sobre as relações entre o homem, a natureza e a sociedade. Neste livro, eu me debrucei prioritariamente sobre os problemas e as soluções jurídicas, com o Direito se formando e se transformando em ações concretas dos homens que fazem, refazem e desfazem, com seu comportamento, as regras de conduta que nos governam. Tais questões se referem, no caso específico do trabalho de pesquisa que eu desenvolvo, aos problemas ambientais enfrentados pela sociedade brasileira.

No livro há uma visão ao mesmo tempo otimista, mas que nos leva a sermos mais responsáveis com o que estamos fazendo com o planeta. O senhor acredita que, de fato, o homem pode tentar reverter os problemas que estão sendo causados pelo próprio homem no meio ambiente?

Sim. Não é preciso ser um especialista para se dar conta de que a história humana é contingente. Portanto, não deve ser pensada como um processo no sentido de sucessão temporal, um conceito da Era do Antropoceno que usa o princípio da causalidade, típico das ciências naturais, como seu pressuposto. A história, ainda que fraturada, caótica, pode ser retomada em termos novos para que possamos nos apropriar do sentido. Um sentido que nós podemos assumir com prudência posto que é contingente. Nessa perspectiva, é preciso ater-se aos acontecimentos e aos momentos de ruptura que nos permitem compreender o que é consumado e um novo tempo que se inaugura.

Nessa linha de raciocínio, eu diria que não obstante as características do Antropoceno sintetizadas na pergunta anterior, características emblemáticas e dramáticas dos tempos que se convencionou chamar de modernos, se, por um lado, a submissão a certas condições é o modo pelo qual uma certa existência humana é possível, por outro lado, está sempre ao alcance do homem a liberação dessa sujeição mediante o acesso a uma outra forma de existência expressa através do conceito de desenvolvimento sustentável. Desse modo, a força compulsória de certas condições encontra sempre limites, aqueles da existência específica à qual se relacionam. A presente condição humana é, por exemplo, necessária e inelutável no planeta Terra, mas não o seria em um outro ponto do universo. Ou seja, o homem nunca é inteiramente condicionável, porque é permanentemente capaz de múltiplas formas de existência, isto é, capaz da transcendência das próprias modalidades da existência terrena na teia da vida de um único planeta, inter-relacionado e interdependente, com montanhas vertiginosas, cordilheiras imponentes, vales profundos, ilhas oceânicas, desertos extensos, planícies encharcadas, savanas, geleiras e tundras espaçosas, vulcões adormecidos e furiosos, florestas majestosas e cidades densamente povoadas com veículos automotores e homens dependentes de recursos naturais e de energias externas. Não obstante, no Século XX, tanto as duas grandes ideologias, a liberal quanto a socialista, não souberam lidar com, e nem mesmo contemplaram no seu projeto político, a degradação ambiental em processos industriais, com a geração de fumaça, resíduos sólidos e efluentes líquidos no solo e nos corpos hídricos; muito pelo contrário, ambos, o capitalismo industrialista e o coletivismo industrialista, colocaram em operação um modelo industrial agressivo aos valores ambientais de vida em sociedade. Portanto, a disposição de mudar de ideia e recomeçar oferece aos seres humanos uma condição de liberdade para estabelecer novas relações e novos começos.

Eu acredito que na dinâmica relacional Homem-Terra, o presente só vislumbra a esperança quando voltado para o futuro. Ou seja, a busca da transcendência dos custos ambientais gerados pelo desenvolvimento industrial das sociedades humanas – um traço comum que transcende as particularidades culturais e, portanto, refletem a condição humana – tem sido uma preocupação desde o século XIX, mas, somente a partir do final dos anos 60 do século passado até o presente, que problemas ambientais transnacionais passaram a fazer parte da agenda política dos países à luz dos conhecimentos científicos produzidos, com o reconhecimento de que o ambiente – ar, água, solo, subsolo, flora, fauna, pessoas, espaço sideral e suas inter-relações – é frágil e precisa de proteção legal especial, com justiça social traduzida em estruturas administrativas que promovam o desenvolvimento sustentável, formando um conjunto de instrumentos da ação pública assentado na legislação ambiental e nas práticas jurídicas específicas ao processo de formação de cada sociedade.

Como está o Brasil hoje em termos de política ambiental? Muitos alegam que, por sermos um país emergente, essa deva ser uma preocupação secundária. Qual a sua opinião sobre isso?

Em relação a primeira parte da pergunta, eu diria que no Brasil, até o final dos anos 1980, havia apenas preocupações pontuais com o meio ambiente, objetivando a sua conservação e não a sua preservação. As ações estatais estiveram organizadas, primordialmente, para assegurar a integridade física do território, em detrimento da integração social. A proteção jurídica do meio ambiente, explorado de forma desregrada era solucionada por intermédio do Código Civil, de influência nitidamente liberal, atualizado somente 86 anos depois de sua entrada em vigor, em 2002. Por mais de um século e meio, o legislador nacional procurou proteger categorias mais amplas de recursos naturais, limitando simplesmente a sua exploração desordenada. Protegia-se o todo a partir das partes e, de forma fragmentada, tutelava-se somente aquilo que tivesse interesse econômico. Havia, portanto, um conjunto de leis vagas e dispersas, estabelecidas em diversos níveis jurídico-administrativos, que regulavam atividades específicas. No país, as leis não tinham caráter ambiental, pois haviam sido concebidas e eram implementadas no contexto de um modelo de desenvolvimento e de um arcabouço legal que ignorava a questão ambiental, pelo menos nos termos em que já se colocava internacionalmente os problemas de conservação e proteção da natureza. Até 1972, por ocasião da Conferência de Estocolmo, o Brasil defendia a tese de que o principal sujeito da proteção ambiental era o ser humano, já que a “poluição da pobreza” (falta de saneamento básico e de cuidados com a saúde pública, a alimentação e a higiene) e a “poluição da riqueza” (industrial) possuíam um efeito muito mais avassalador do que os danos ao meio ambiente decorrentes do crescimento econômico. Entre os anos 1970 e 1980, os instrumentos legais variavam de estado para estado da federação no que se refere ao controle da poluição ambiental, leis federais específicas se destinavam tão somente a controlar a propriedade e o uso dos recursos naturais por meio do disciplinamento das atividades agroindustriais.

A proteção jurídica integral ao meio ambiente no país só veio a ocorrer a partir de 1981, com a institucionalização da Política Nacional do Meio Ambiente (lei nº 6.938). Os recursos ambientais passaram a abranger “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora” (lei nº 6.938/1981, artigo 3º, V, com redação dada pela lei nº 7.804/1989). O arranjo institucional previsto para lidar com as questões ambientais foi, então, pensado como um Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), evidenciando a lógica federativa, especialmente por meio da divisão de responsabilidades (órgãos central, seccionais e locais). É interessante observar que, com base em uma concepção de sistema ecológico integrado, essa proteção passou a ocorrer de forma holística. Até esse momento, o desenvolvimento internacional dessa concepção, que vinha desde o final dos anos 1960, objetivava a proteção das partes a partir do todo, enfatizando o relacionamento entre os seres humanos e seus ambientes, bem como os aspectos de ordem teórica e normativa no compromisso com a sociedade por meio de uma relação diferente, responsável e harmoniosa. A partir dos anos 1980 é que se pode dizer que a questão ambiental (ecológica e socioambiental) emergiu efetivamente no interior do Estado brasileiro – ao mesmo tempo que a democracia se afirmava no imaginário da sociedade, na sua luta coletiva e no conjunto dos movimentos sociais –, quando um pensamento jurídico ambiental foi constituído no país.

Em relação à segunda parte da pergunta, eu diria que faz parte do processo de aprimoramento institucional brasileiro a luta para pôr em prática o modelo de desenvolvimento nacional, definido constitucionalmente como sustentável. É um desafio enorme reformar a atual versão do septuagenário modelo desenvolvimentista brasileiro. Em suas várias versões, uma coisa não mudou, ele continua a se basear no uso intensivo de combustíveis fósseis, dependente da exportação de produtos primários, as chamadas commodities, além de estar assentado em um modo de exploração dos recursos naturais que leva à destruição de extensas áreas dos biomas brasileiros. Tampouco, não podemos deixar de mencionar aqui a questão das dificuldades para demarcação das terras indígenas, ou ainda da não realização da reforma agrária.

Deveríamos discutir os ”fins” para os quais nos apropriamos da matéria e da energia disponíveis na porção de Terra onde vivemos. Como membros de uma coletividade territorial e juridicamente circunscrita, nós precisamos definir o que é prioridade para o nosso país em termos de desenvolvimento. Precisamos nos colocar a questão dos graves prejuízos ao patrimônio biológico e genético causados pelo consumo exponencial de agrotóxicos, levando à morte milhares de seres vivos envolvidos direta ou indiretamente com a produção agrícola. Ora, as pesquisas nas áreas das ciências e das tecnociências demonstram, há décadas, que as decisões sobre as políticas públicas em um Estado Democrático de Direito para fazer frente à degradação ambiental e ao uso predatório dos recursos naturais não podem mais ser tomadas apenas por critérios econômicos. É preciso agir de forma responsável em um mundo comum que contemple a todos em direitos e deveres.

Eu gostaria de concluir essa entrevista lembrando que quando a intervenção humana faz falta para modificar o curso das coisas na Era do Antropoceno, e criar o novo, o mundo é ameaçado pela sua própria ação destrutiva. Portanto, não há tempo para pessimismo e crise existencial quando ações individuais e coletivas precisam ser empreendidas se quisermos continuar avançando na construção de uma sociedade sustentável, passando de uma economia que tolera danos ambientais a uma que não tolera.

Solar Cells Made Thin, Efficient and Flexible (Science Daily)

Dec. 9, 2013 — Converting sunshine into electricity is not difficult, but doing so efficiently and on a large scale is one of the reasons why people still rely on the electric grid and not a national solar cell network.

Debashis Chanda helped create large sheets of nanotextured, silicon micro-cell arrays that hold the promise of making solar cells lightweight, more efficient, bendable and easy to mass produce. (Credit: UCF)

But a team of researchers from the University of Illinois at Urbana-Champaign and the University of Central Florida in Orlando may be one step closer to tapping into the full potential of solar cells. The team found a way to create large sheets of nanotextured, silicon micro-cell arrays that hold the promise of making solar cells lightweight, more efficient, bendable and easy to mass produce.

The team used a light-trapping scheme based on a nanoimprinting technique where a polymeric stamp mechanically emboss the nano-scale pattern on to the solar cell without involving further complex lithographic steps. This approach has led to the flexibility researchers have been searching for, making the design ideal for mass manufacturing, said UCF assistant professor Debashis Chanda, lead researcher of the study.

The study’s findings are the subject of the November cover story of the journal Advanced Energy Materials.

Previously, scientists had suggested designs that showed greater absorption rates of sunlight, but how efficiently that sunlight was converted into electrical energy was unclear, Debashis said. This study demonstrates that the light-trapping scheme offers higher electrical efficiency in a lightweight, flexible module.

The team believes this technology could someday lead to solar-powered homes fueled by cells that are reliable and provide stored energy for hours without interruption.

Journal Reference:

  1. Ki Jun Yu, Li Gao, Jae Suk Park, Yu Ri Lee, Christopher J. Corcoran, Ralph G. Nuzzo, Debashis Chanda, John A. Rogers. Light Trapping: Light Trapping in Ultrathin Monocrystalline Silicon Solar Cells (Adv. Energy Mater. 11/2013)Advanced Energy Materials, 2013; 3 (11): 1528 DOI: 10.1002/aenm.201370046

Vida de princesa nos relatórios de sustentabilidade (Envolverde)

02/9/2013 – 11h01

por Carla Stoicov e Wilson Bispo, da Tistu

sustentabilidadeempresas Vida de princesa nos relatórios de sustentabilidade

Empresas ainda não entendem o motivo de seus relatórios de sustentabilidade não serem objeto de leitura dos seus stakeholders. Produzido no tradicional modelo top-down de comunicação, ainda não se deram conta que esse produto deve ter seus temas escolhidos não por eles, mas pelos seus públicos, num processo de diálogo que deve se dar ao longo do ano. Mas isso pode estar prestes a mudar e você deveria ser parte disso.

No mês passado participamos de um dia onde foram apresentadas e dialogadas as novidades do G4 Sustainability Reporting Guidelines. Na formação (apesar de achar que o tema está muito cru para chamarmos de curso) estavam empresas, consultores e representantes de entidades/federações.

Os dois aspectos mais marcantes da nova versão – que passam a valer a partir de Janeiro de 2016 (1) – são a obrigatoriedade de ter uma matriz de materialidade e de demonstrar que a empresa tem conhecimento dos impactos dentro e fora dela, colocando na pauta o tema cadeia de fornecimento. Na pesquisa Materialidade Brasil, elaborada pela consultoria Report Sustentabilidade, foi constatado que 85% das empresas publicaram quais são os temas materiais, mas apenas 61% publicou sua matriz de materialidade. Um número menor ainda (45%) publicou metas atreladas aos temas materiais (ou seja, apesar de material, 55% das empresas entendeu que ainda não era o momento de atribuir metas).

Algumas lacunas ainda são imperdoáveis no G4. Nenhum avanço na proposição de metodologia para se fazer um processo de materialidade e em como equilibrar os aspectos trazidos pelos stakeholders internos x externos. A Takao Consultoria elaborou um Manual para Implementação de Engajamento com Stakeholders. O documento propõe matrizes de priorização e perfil de partes interessadas e também exemplifica uma matriz de priorização de temas em relação aos critérios internos e externos. Pode ser um ótimo modelo a ser seguido, mas quando lemos um relatório de sustentabilidade muitas vezes não está explícito como foi feita a seleção e priorização dos públicos a serem consultados, se todos participaram juntos ou não, se os temas foram dados ou abriu-se a opções para temas que emergiram no processo e como se chegou a priorização dos temas.

Outro ponto é que a materialidade deve envolver stakeholders, mas não obriga a participação de determinadas partes interessadas. Dá para ficar apenas com os funcionários ou até mesmo não incluí-los.

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Pesquisa Materialidade Brasil. Foto: Report Sustentabilidade

A nova versão, apesar de falar muito em cadeia de fornecimento, ainda está longe de propor um olhar mais sistêmico, amplo, envolvendo toda a cadeia de valor da organização (que contemple também a distribuição, clientes e consumidores). Ou seja, a empresa tem que ficar atenta de quem ela compra, onde estão estes fornecedores e onde estão localizados os impactos na cadeia de fornecimento. Contudo, ainda está livre para vender para quem quiser! Levaram o conceito de esfera de influência da Norma ISO 26000 apenas para parte da cadeia.

“Esfera de influência: amplitude/extensão de relações políticas, contratuais, econômicas ou outras relações por meio das quais uma organização tem a capacidade de afetar as decisões ou atividades de indivíduos ou organizações. – Norma ISO 26000″

Com isso, ficam de fora as preocupações da empresa com a comercialização de seus produtos ou serviços para, por exemplo, países que têm graves violações dos direitos humanos ou que estejam em guerra civil; organizações envolvidas em corrupção ou lavagem de dinheiro; empresas que desmatam, têm trabalho infantil ou análogo ao escravo em sua operação ou na sua cadeia, etc.

As organizações presentes na formação da qual participamos também questionaram se a GRI tem alguma sinalização sobre como tornar os relatórios mais atrativos, mais lidos. Bem, não entendemos que isso seja uma missão da GRI, mas sim, em primeira instância, das próprias empresas. O relatório será interessante pela qualidade e relevância das informações ali colocadas. Isso nos remete aos motivos de alguém “curtir” no Facebook a página oficial de uma empresa quando há interesse genuíno, e não quando é feito para participar de uma oferta comercial. Nós seguimos várias organizações e o que elas nos oferecem é informação de qualidade, independentemente do seu produto ou serviço.

O blog Testando os Limites da Sustentabilidade (um tipo de watchdog) lê e analisa relatórios de sustentabilidade das empresas e depois disso encaminha perguntas sobre informações incompletas ou imprecisas, apontando lacunas de temas que deveriam ser abordados conforme o negócio da empresa. Muitas respondem ao blog e deveriam ver os questionamentos feitos com bons olhos: afinal alguém está lendo seu relatório!

Contudo, há uma grande lacuna deixada por stakeholders imprescindíveis para a melhoria da qualidade das informações e da transparência do setor privado no Brasil, como organizações da sociedade civil, imprensa, academia, consultorias, organizações think tank, coletivos e formadores de opinião em geral. Céticos quanto ao conteúdo publicado nos relatos — em alguma medida, com razão –, esses públicos deixam de prestar um enorme serviço à sociedade ao não fazer leituras e análises críticas às informações dos relatórios de sustentabilidade, um dos poucos, se não os únicos, instrumentos de consulta de como as corporações contam estar conduzindo os negócios das empresas por aqui.

Acreditamos que existe um grande espaço para exercitar diferentes formas de se fazer a leitura desse tipo de documento. Esses stakeholders têm condições técnicas e informações complementares para “mastigar” o conteúdo dos relatórios e fazer cruzamentos com a real atuação da empresa, com o que a GRI determina, com práticas de outras empresas do mesmo setor, com políticas públicas, com Pactos e Compromissos voluntários, comparar com informações e práticas da matriz na busca por um duplo padrão (2), dentre outras dezenas de olhares possíveis.

Analisar as informações públicas do setor privado — ou evidenciar a falta delas — ajuda na geração de conhecimento crítico que pode ser um impulsionador de novas práticas por parte das empresas. É o caso do estudo Sustentabilidade do Setor Automotivo, produzido pela Tistu para o UniEthos, que vem sendo utilizado por uma montadora na sua estratégia de sustentabilidade.

Por isso, o que realmente importa nos relatórios são os dados relevantes para quem lê, não para quem escreve. Entretanto, as informações ainda vêm embaladas num pacote desnecessário de frases de efeito que dizem pouco, ou quase nada, e não agregam no momento da análise, repetindo histórias ano após ano sem demonstrar ou deixar clara qual foi a real evolução frente ao ano anterior. Daí a importância da análise crítica de formadores de opinião. Enquanto as empresas não avançam neste aspecto, iniciativas que capturem os dados e “limpem” as informações dos excessos, serão úteis para aumentar o conhecimento sobre os aspectos de sustentabilidade que as empresas estão colocando na sua cesta de prioridades.

Em tempo de manifestações onde cartazes levantam bandeiras como saúde (a ser melhorada), corrupção (a ser combatida), transporte (como forma de inclusão) e acesso à cidade (como forma de promoção da igualdade), quem não gostaria de saber quais empresas estão antenadas com essas necessidades e trabalham em convergência com as políticas públicas? Não passa pela nossa cabeça abrir o relatório da Siemens no ano que vem e não ver a questão da corrupção e cartel. Ou ler o relatório da Samsung e não encontrar nada sobre as condições degradantes dos trabalhadores. Mas não estamos falando daqueles textos sobre o quanto valorizam os processos, como os sistemas funcionam etc. Queremos saber justamente o contrário. Quais foram as lições aprendidas, onde estava o furo, quais desafios que entendem que estão longe de superar? As empresas são feitas de pessoas e portanto são cheias de falhas, inconsistências, dilemas. E é isso que falta aparecer nos seus relatos de vida de princesa.

Talvez esta deva ser a tendência dos relatos das empresas. Criar visões por assuntos de interesse pela ótica de quem busca a informação, com construções e atualizações dinâmicas (entenda aqui que elas não serão feitas de forma unilateral, apenas pelas empresas), com muito menos filtros e fotos de banco de imagens.

Mais Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação (NINJA) para os relatórios de sustentabilidade têm o potencial de torná-los muito mais interessantes e vivos. Se as empresas não fizerem, alguém vai fazer.

(1) Ou seja, o último ano de relato na versão G3 ou G3.1 será 2014 sendo que 2015 já será relatado na nova versão.

(2) Esta é uma metodologia que a Tistu vem adotando em alguns estudos. Isolar alguns assuntos e procurar por práticas e posicionamento na matriz e na operação do Brasil. Quando há divergência (i.e. a matriz tem políticas, programas ou é estratégico e aqui nem é citado) ocorre o que denominamos de Duplo Padrão.

Carla Stoicov é mestranda em Gestão e Políticas Públicas pela FGV-SP. Sócia da Tistu, atua como consultora em projetos para o Desenvolvimento Sustentável e de Responsabilidade Social Empresarial. Foi coordenadora do Programa Tear do Instituto Ethos e é especialista do UniEthos.

Wilson Bispo é jornalista e desde de 2005 trabalha na cobertura de temas socioambientais e de RSE. Sócio da Tistu, foi produtor do Repórter Eco da TV Cultura de SP, editor do portal e agência Envolverde e consultor na Report Sustentabilidade.

** Publicado originalmente no site Tistu.

Oded Grajew: O que é (e o que não é) sustentabilidade (Folha de S.Paulo)

07/05/2013 – 03h30

Por Oded Grajew

Embora em voga, o conceito de sustentabilidade ainda é pouco compreendido tanto por quem fala sobre ele quanto por quem o ouve.

Nos últimos anos, intensificou-se a discussão a respeito do aquecimento global e do esgotamento dos recursos naturais. São preocupações legítimas e inquestionáveis, mas que geraram distorção no significado de sustentabilidade, restringindo-o às questões ambientais.

Não é só isso. A sustentabilidade está diretamente associada aos processos que podem se manter e melhorar ao longo do tempo. A insustentabilidade comanda processos que se esgotam. E isso depende não apenas das questões ambientais. São igualmente fundamentais os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais.

A sustentabilidade e a insustentabilidade se tornam claras quando traduzidas em situações práticas.

Esgotar recursos naturais não é sustentável. Reciclar e evitar desperdícios é sustentável.

Corrupção é insustentável. Ética é sustentável. Violência é insustentável. Paz é sustentável.

Desigualdade é insustentável. Justiça social é sustentável. Baixos indicadores educacionais são insustentáveis. Educação de qualidade para todos é sustentável.

Ditadura e autoritarismo são insustentáveis. Democracia é sustentável. Trabalho escravo e desemprego são insustentáveis. Trabalho decente para todos é sustentável.

Poluição é insustentável. Ar e águas limpos são sustentáveis. Encher as cidades de carros é insustentável. Transporte coletivo e de bicicletas é sustentável.

Solidariedade é sustentável. Individualismo é insustentável.

Cidade comandada pela especulação imobiliária é insustentável. Cidade planejada para que cada habitante tenha moradia digna, trabalho, serviços e equipamentos públicos por perto é sustentável.

Sociedade que maltrata crianças, idosos e deficientes não é sustentável. Sociedade que cuida de todos é sustentável.

Dados científicos mostram que o atual modelo de desenvolvimento é insustentável e ameaça a sobrevivência inclusive da espécie humana.

Provas não faltam. Destruímos quase a metade das grandes florestas do planeta, que são os pulmões do mundo. Liberamos imensa quantidade de dióxido de carbono e outros gases causadores de efeito estufa, num ciclo de aquecimento global e instabilidades climáticas.

Temos solapado a fertilidade do solo e sua capacidade de sustentar a vida: 65% da terra cultivada foram perdidos e 15% estão em processo de desertificação.

Cerca de 50 mil espécies de plantas e animais desaparecem todos os anos e, em sua maior parte, em decorrência de atividades humanas.

Produzimos uma sociedade planetária escandalosa e crescentemente desigual: 1.195 bilionários valem, juntos, US$ 4,4 trilhões –ou seja, quase o dobro da renda anual dos 50% mais pobres. O 1% de mais ricos da humanidade recebe o mesmo que os 57% mais pobres.

Os gastos militares anuais passam de US$ 1,5 trilhão, o equivalente a 66% da renda anual dos 50% mais pobres.

Esse cenário pouco animador mostra a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável. Cabe a nós torná-lo possível.

ODED GRAJEW, 68, empresário, é coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial

U.S. Water Supply Not as Threatened as Believed, Study Finds (Science Daily)

Jan. 30, 2013 — Although reports of drought conditions, water wars and restrictions have often painted a bleak picture of the nation’s water availability, a new University of Florida survey finds that conditions aren’t quite so bad as believed.

Jim Jawitz, a UF soil and water science professor, and Julie Padowski, who earned her doctoral degree from UF and is now a postdoctoral researcher at Stanford University, knew that previous assessments of urban water supplies typically used what is known as a “runoff-based approach,” which takes into account factors such as river flows and rainfall amounts.

Jawitz and Padowski knew that those assessments did not consider the infrastructure used to maintain urban water supplies, such as water stored in aquifers, lakes, reservoirs or water that’s pumped in to an area and stored. So for 225 U.S. metropolitan areas with populations of more than 100,000, that’s what they did, and their findings have been published online by the journal Water Resources Research.

When assessing cities using the runoff-based approach, the UF study found that 47 percent of the total U.S. population is vulnerable to water scarcity issues, however, when infrastructure was accounted for, the number dropped to just 17 percent of the population. Residents in the top 225 metropolitan areas make up the bulk of the U.S. population.

Jawitz, a faculty member with UF’s Institute of Food and Agricultural Sciences, said they expected to find fewer areas vulnerable to water shortages than past studies had because of the different methodology, but some of their findings surprised them.

“We have people who live in the desert and they have water and it’s because of their infrastructure. If you live in a city that has a large of reservoir of water stored and there’s a drought, it doesn’t have the same effect on you as if you live in a city where there’s a drought and you don’t have a large reservoir,” he said.

They didn’t expect Atlanta — where legal battles over water rights with neighboring states initially prompted the researchers to tackle the survey — to fall near the middle among the 225 cities they studied for water access and vulnerability.

Another unusual finding: Miami, with its lush, tropical landscape, landing in the top 10 most vulnerable cities. Jawitz, a South Florida native, said although the Miami area generally enjoys an abundance of rain, it’s not stored anywhere. That means during periods of drought, the area becomes vulnerable.

A website that ranks the 225 largest U.S. urban areas based on water availability and vulnerability can be found at soils.ifas.ufl.edu/hydrology/cities. The list is a combination of results of where each city falls on a 0-to-100 water-accessibility scale as well as a water-vulnerability rating of low, medium or high.

The researchers also had a modern twist to their study. Padowski created a media-text analysis to search online news archives for reports for each city, looking for stories about water restrictions or drought conditions.

They found that the media reports backed up their method of analysis but did not correlate significantly with estimates made using the runoff-based approach.

Padowski said despite the good news about water, she fully expects water conservation should and will be a front-and-center topic for many years to come.

“As population growth increases, we don’t have more resources to tap — we can’t just find another lake or another river to dam,” she said. “It’s going to come down to sharing, conservation and efficiency.”

Rob McDonald, senior scientist for sustainable land use with The Nature Conservancy, said the study adds to what scientists know about urban water use in the U.S. and raises intriguing questions about whether large cities’ infrastructure will be ready for conditions brought on by climate change.

“To me, it shows that infrastructure matters,” he said. “Do cities go out even further for water? If a city is dependent on snow melts from the mountains for its water, what happens if it gets warm enough that there isn’t a snowpack?”

The study was funded by the Florida Agricultural Experiment Station and the Adaptive Management of Water, Wetlands, and Watersheds IGERT program.

Unesco lança campanha para ampliar cooperação pela água em 2013 (Envolverde)

20/12/2012 – 11h02

por Redação do EcoD

campanha Unesco lança campanha para ampliar cooperação pela água em 2013

A campanha é destinada ao dia e ao ano internacional da água. Foto: Divulgação

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou na terça-feira, 18 de dezembro, a campanha Ano Internacional da Cooperação pela Água 2013, destinada ao Dia (22 de março) e ao Ano Internacional da Água. A iniciativa pretende alcançar cinco objetivos:

1. Conscientizar sobre a importância, os benefícios e os desafios da cooperação em questões relacionadas à água;
2. Gerar conhecimento e construir capacidades em prol da cooperação pela água;
3. Provocar ações concretas e inovadoras em prol da cooperação pela água;
4. Fomentar parcerias, diálogo e cooperação pela água como prioridades máximas, mesmo após 2013;
5. Fortalecer a cooperação internacional pela água para abrir caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável defendidos por toda a comunidade que trata sobre água e atendendo às necessidades de todas as sociedades.

Segundo a organização, a humanidade não pode prosperar sem a cooperação no manejo da água, e o desenvolvimento da assistência pelos recursos hídricos envolve uma abordagem que reúne fatores e disciplinas culturais, educacionais e científicas e deve cobrir diversas dimensões: religiosa, ética, social, política, legal, institucional e econômica.

A cooperação pela água assume muitas formas, desde a parceria por meio de fronteiras para o manejo de aquíferos subterrâneos e bacias fluviais compartilhadas, até o intercâmbio de dados científicos, à parceria em uma vila rural para a construção de um poço ou para o fornecimento de água potável através de redes urbanas.

O Ano Internacional de Cooperação pela Água, em 2013, deseja encorajar partes interessadas nos níveis internacional, regional, nacional e local a agir em prol do acesso aos recursos hídricos.

– Conheça a campanha –

* Publicado originalmente no site EcoD.

Água marginalizada: O reflexo da sociedade (Envolverde)

9/12/2012 – 10h35

por Sarah Bueno Motter e Giovani de Oliveira, da EcoAgência

Diluvio Água marginalizada: O reflexo da sociedade

O Dilúvio é o maior riacho que corta a cidade de Porto Alegre. Foto: Divulgação/Internet

As margens são um limite. Até onde o Dilúvio vai, até onde ele pode ir. Balizado pelo concreto humano, o arroio que corta a capital faz parte da rotina da cidade. Em suas margens, estão os congestionamentos e a ansiedade de Porto Alegre. Nas suas beiradas, está, na hora do rush, o stress de querer chegar rápido ao outro lado da cidade e não conseguir a velocidade pretendida. A poluição que corre dentro do Dilúvio também passa nos seus limiares, os quais são contaminados pela exaustão da sociedade perante sua rotina.

As margens do Dilúvio transbordam o vazio de nossa civilização que corre apressada sem nem saber o motivo. Que deixa à sua margem aqueles que não têm o capital e as oportunidades iguais, aqueles que não têm o carro, aqueles que não têm a casa. Esses ficam às margens.

As bordas também refletem as novas tendências. O desejo da ciclovia, do transporte limpo. Elas falam de um novo caminho que a cidade “quer” abrir. Um caminho para o sustentável.

Mas a sustentabilidade não caminha junto da miséria e da desigualdade e ela não é parceira do descaso. A sustentabilidade não está nas aparências. Ela não é balizada por frágeis mudanças sem conteúdo maciço, sem a pretensão de uma metamorfose. Ela não parte do nada e não chega a lugar nenhum. Ela não se inaugura com uma quadra de ciclovia, ela é uma estrada inteira.

A água, quando cai no Dilúvio, faz o barulho característico dos riachos, aquele som que muitas vezes queremos levar para casa, comprando uma fonte de decoração. O barulho é tão bonito e característico, mas o concreto afasta a cidade da natureza, que suja de nossos resíduos, continua seu caminho. As margens do Dilúvio são uma síntese do que somos. Os carros, os excluídos, a sujeira, os “novos caminhos” e a natureza que teima e vive entre o cinza da ambição humana.

O Dilúvio é o símbolo de uma sociedade precária, individualista e agressiva. Como muitas das crianças que moram embaixo de suas pontes, suas águas são agredidas desde o começo de sua vida. Já em sua nascente, na Lomba do Sabão, o arroio é violentado pela ocupação irregular da área. Famílias, sem condições de moradia, ocupam um local protegido por lei, e jogam seus dejetos nas águas do Dilúvio. Pessoas violentadas pela sociedade do ter, sem espaço para tentar ser, violentam também o arroio e invadem seu espaço.

Espaço que cada vez existe menos. Espaço cada vez mais ocupado pelo lixo, espaço que nós não temos mais. O espaço que poderia ser de lazer, de contato com a natureza em meio à cidade, torna-se um espaço do qual fugimos. Não a toa, algumas pessoas defendem que se cubra o Dilúvio. Defendem uma grande tampa de concreto, que não cure a ferida, mas nos impeça de ver ou sentir.

Mas incrivelmente, violentado do começo ao fim, o Dilúvio segue vivo, suas águas, são a moradia de peixes, pescados por improváveis gaivotas porto-alegrenses. E suas margens, costeadas pelo cinza, ainda conservam um verde, que insiste em se manter vivo.

* Publicado originalmente no site EcoAgência.

Visualizing The Way Americans Value Water (fastcoexist.com)

By Ariel Schwartz (accessed December 17, 2012)

It’s a pretty precious resource, considering that we need it to live. But do we actually care enough to change our behavior to make sure we have it in the future?

The aging water infrastructure in the U.S. is fragile, to say the least; every year, over 1.7 trillion gallons of water are lost due to leaks and breaks in the system. It’s never good to waste water, but that’s a staggeringly unacceptable figure at a time when the country is facing unprecedented droughts. But on a grassroots level, things may be starting to change. Water technology company Xylem’s new Value of Water Index, which examines American attitudes toward water, indicates that the public is finally realizing the magnitude of our water problem–and that everyone might need to pitch in to fix it.

According to the report–culled from a survey of 1,008 voters in the U.S.–79% of Americans realize we have a water scarcity problem. That may seem high, but 86% of respondents also say they have dealt with water shortages and contamination, meaning it takes a lot (or is just impossible) to convince some people. A whopping 88% of respondents think the country’s water structure needs reform.

Americans also think they have some personal responsibility for the crisis–specifically, 31% of respondents think they should have to pay a bit more on water bills for infrastructure improvements. If Americans upped their monthly water bill by just $7.70, we would see an extra $6.4 billion for water infrastructure investments.

In spite of everything, 69% of those polled say they take clean water for granted, and just 29% think problems with our water infrastructure will seriously affect them (remember: the vast majority of respondents have dealt with water shortages and contamination already). Water awareness still has a long way to go–but it will most likely be sped up as water shortages become more common.

Here’s the whole infographic

Natural Step: the Science of Sustainability (Yes Magazine)

Dr. Karl-Henrik Robert had an epiphany about the conditions required to sustain life – this epiphany catalyzed a consensus among Sweden’s top sceintists about the scientific foundations for sustainablity

by Dr. Karl-Henrik Robert

http://www.yesmagazine.org

posted Aug 30, 1998

What do cells need to sustain life? How can human systems of production be a sustainable part of consensus among Sweden’s top scientists about the scientific foundations for sustainability

Dr. Karl-Henrik Robèrt, a Swedish cancer doctor and medical researcher, founded The Natural Step to inject some science into the environmental debate – and provide a solid foundation for action. He spoke to YES! executive editor Sarah van Gelder during his recent trip to the US.

SARAHHow did you go from being a doctor to taking on this large question of sustainability? 

KARL: My career centered on my work as a medical doctor heading a cancer ward in a university hospital, the largest one outside of Stockholm. I was concerned with the environment as a private human being, but I didn’t know what I could do except to pay my dues to Greenpeace and other NGOs.

My epiphany came one day when I was studying cells from cancer patients. It hit me that cells are the unifying unit of all living things. The difference between our cells and the cells of plants are so minor that it’s almost embarrassing; the makeup is almost identical all the way down to the molecular level.

You can’t argue with them or negotiate with them. You can’t ask them to do anything they can’t do. And their complexity is just mind blowing!

Since politicians and business people also are constituted of cells, I had a feeling that a broad understanding of these cells might help us reach a consensus on the basic requirements for the continuation of life.

Most people are not aware that it took living cells about 3.5 billion years to transform the virgin soup of the atmosphere – which was a toxic, chaotic mixture of sulfurous compounds, methane, carbon dioxide, and other substances – into the conditions that could support complex life.

In just the last decades humans have reversed this trend. First we found concentrated energy like fossil fuels and nuclear power. As a result, we can create such a high throughput of resources that natural processes no longer have the time to process the waste and build new resources.

Dispersed junk is increasing in the system as we lose soils, forests, and species. So we have reversed evolution. The Earth is running back towards the chaotic state it came from at a tremendous speed.

On an intuitive level, everyone knows that the natural environment is also the habitat for our economy, and if it goes down the drain, so does the economy.

Despite that, the green movement attacks business, and business reacts defensively. So much of the debate focuses on the details – so much is like monkeys chattering among the leaves of the tree while the trunk and roots die.

I thought we could go beyond that stalemate if we could begin to build a consensus based on much more solid, comprehensive thinking.

SARAHWhat did you do with this insight? What was your plan for getting beyond the stalemate in the environmental debate? 

KARL: I had a daydream that I could write a consensus statement with other scientists about the conditions that are essential to life. Instead of asking them what environmental issues they disagreed on, I could ask them where there was agreement and use that as a basis for a consensus that would serve as a platform for sounder decision-making in society.

In August 1988, when I wrote the first effort to frame a consensus, I believed that my colleagues would agree wholeheartedly with what I had written, it was so well thought through. Actually, it took 21 iterations to reach a consensus among this group of 50 ecologists, chemists, physicists, and medical doctors.

I was able to raise funds to mail this consensus statement as a booklet with an audio cassette to all 4.3 million households in Sweden. This statement describes how badly we are performing with respect to the natural systems around us and how dangerous the situation is. It makes the point that debating about policy is not bad in itself – but it is bad when the debate is based on misunderstandings and poor knowledge. It doesn’t matter if you are on the left or the right – the consensus platform takes us beyond arguments about what is and is not true. That was the start of The Natural Step.

SARAHKarl, could you explain briefly the Natural Step system conditions? 

KARL: The four system conditions describe the principles that make a society sustainable. The first two system conditions have to do with avoiding concentrations of pollutants from synthetic substances and from substances mined or pumped from the Earth’s crust to ensure that they aren’t systematically increasing in nature.

The third condition says we must avoid overharvesting and displacing natural systems.

Finally, system condition number four says we must be efficient when it comes to satisfying human needs by maximizing the benefit from the resources used.

Today, society is well outside the framework set by these conditions, and as a result, we are running towards increasing economic problems as we run out of fresh and non-polluted resources.

SARAHSo if we follow these conditions we can avoid the reverse evolution you mentioned earlier – we can quit dispersing persistent substances into the biosphere and make it possible for nature to continue to provide us with the basic resources we need to live – soil, air, a stable climate, water, and so on. In other words, these conditions will help us judge whether our actions are sustainable. Is this an approach that businesses and government officials find compelling?

KARL: I think most people in business understand that we are running into a funnel of declining resources globally.

We will soon be 10 billion people on Earth – at the same time as we are running out of forests, crop land, and fisheries. We need more and more resource input for the same crop or timber yield. At the same time, pollution is increasing systematically and we have induced climate change. All that together creates a resource funnel.

By decreasing your dependence on activities that violate the system conditions, you move towards the opening of the resource funnel. You can do this through step by step reducing your dependence on:

• heavy metals and fossil fuels that dissipate into the environment (condition #1)

• persistent unnatural compounds like bromine-organic antiflammables or persistent pesticides (condition #2)

• wood and food from ecologically maltreated land and materials that require long-distance transportation (condition #3)

• wasting resources (system #4).

Any organization that directs its investments towards the opening of the funnel through complying with these system conditions will do better in business than their ignorant competitors. This is due to inevitable changes at the wall of the funnel in the form of increased costs for resources, waste management, insurance, loans, international business agreements, taxes, and public fear. In addition, there is the question of competition from those who direct their investments more skillfully towards the opening of the funnel – thus avoiding those costs – and sooner or later getting rewarded by their customers.

Once we have understood the funnel, the rest is a matter of timing. And time is now running out. Many corporations have already run into the wall of the funnel as a result of violating the system conditions. And today many companies are getting relatively stronger in comparison with others as a result of previous investments in line with the system conditions. Of course there are a large number of companies who still benefit in the short term from violating the principles of the common good, but in the long run, they have no future.

So if you ask business people, “Do you think that this could possibly influence tomorrow’s market?” they get embarrassed, because they all understand it will. The issue is to foresee the nature of that influence, because if you do, you will prosper from it

SARAHI want to ask you about the fourth condition because it seems as though that’s the one that has been most controversial. Perhaps that is because it is based on human systems more than natural systems.

KARL: The fourth principle is about the internal resource flows in a society, but it is still a logical first-order principle that follows as a conclusion from the first three. The reason people regard the fourth principle as a separate value is the word “fairness,” which is part of the fourth principle.

Most people understand that the first three principles set a frame for societal behavior. If matter from the Earth’s crust is no longer going to systematically increase in concentration, nor man-made compounds, and if we are going to live from the interest of what nature gives us – not use up nature’s capital – the first-order conclusion is that we must be much more efficient about how we meet our needs.

Fairness is an efficiency parameter if we look at the whole global civilization. It is not an efficient way of meeting human needs if one billion people starve while another billion have excess. It would be more efficient to distribute resources so that at least vital needs were met everywhere. Otherwise, for example, if kids are starving somewhere, dad goes out to slash and burn the rain forest to feed them – and so would I if my kids were dying. And this kind of destruction is everyone’s problem, because we live in the same
ecosphere.

SARAHI realize you reached consensus among the scientists and the foundations for sustainability, but has your approach been controversial in the larger society?

KARL: No. The business community found it refreshing to be involved in a dialogue that did not involve someone pointing fingers at them and telling them what they should do.

This dialogue was the opposite of that; it involved a group of scientists describing the situation with regards to the environment and then asking for advice about how to remove the obstacles to sustainability. The business community, municipalities, and farmers actually enjoyed being part of it.

SARAHWhy do companies choose to adopt The Natural Step? Is it that they understand the science and want to contribute to a more sustainable world? Or do they see TNS primarily as a winning business strategy? 

KARL: It is a mixture of both, and it is hard to evaluate which is most important. My feeling is that top people in business have a tough image that they display in board rooms. Privately, after the board meeting, they would much rather do well by doing good, than doing well by contributing to the destruction of our habitat. Because of the rational economic and strategic thinking of the system conditions, they can endorse TNS principles without losing face in front of their tough peers. But as time goes on, the “soft” values become more and more important.

SARAHIn the research I’ve done on Green Plans in the Netherlands, I found that Dutch businesses were concerned that they would be less competitive if they were holding to higher environmental standards than businesses from other countries. How have you dealt with the issue of competitiveness in The Natural Step?

KARL: If you look at the countries where business is very successful, it is not the countries where the standards are low – it is the countries where they have set high goals for what they want to achieve. In the long run, you get competitiveness from increasing standards.

SARAHCan you give me some examples of some things in Sweden that have been done differently out of this understanding?

KARL: The Natural Step introduces a shared mental model that is intellectually strict, but still simple to understand. These are the rules of sustainability; you can plug them into decision-making about any product.

The first thing that happens is that this stimulates creativity, because people enter a much smarter dialogue if they have a shared framework for their goals. We have written books of case studies about how people together found smart and flexible solutions to problems that seemed impossible to solve, including new products, logistics, suppliers, energy sources, and fuels.

A strict shared mental model can really get people working together.

SARAHYou mentioned that this approach requires thinking beyond the short term, and yet especially in the United States, so many CEOs are rewarded based on this quarter’s profits, not on how well they are positioning the company for the next five or ten years. How can companies in that kind of an environment take on this kind of a challenge? 

KARL: If you are audited at quarterly intervals and you can be sued for failing to earn the last buck possible, it is more difficult. But you can still develop a future scenario for your company in which it meets principles that make it ecologically, socially, and economically sustainable – because it is not economically sustainable to rely on behaviors that have no future.

Once you’ve developed that scenario, you look back from this imagined future and ask yourself how those sustainability principles might have been met and what you might do today to get there.

The strategy for business is to select as the first steps toward sustainability those that fulfill two criteria: they must be flexible to build on in the future, and they must provide a return on investments relatively soon; like, for instance, an attractive car that can run on renewable energy as well as gasoline.

SARAHWhat do you see as the trends for the coming years, in terms of a switch to more sustainable practices? 

KARL: A deepening intellectual understanding is a good starting point for change of values. Today, it is considered “rational” to think about economic growth only, whereas a focus on the true underlying reason for people living together in societies is considered non-rational. The TNS approach demonstrates that their present paradigm is, in fact, irrational and that we need new economic tools.

My belief is that free will of individuals and firms will not be sufficient to make sustainable practices widespread – legislation is a crucial part of the walls of the funnel, particularly if we want to make the transition in time.

But this is a dynamic process. The more examples we get of businesses entering the transition out of free will, the easier it will be for proactive politicians. In a democracy, there must be a “market” for proactive decisions in politics, and that market can be created by proactive businesses in dialogue with proactive customers. For example, in Sweden, some of these proactive business leaders are lobbying for green taxes. In that triangle of dialogue: business-market-politicians, a new culture may evolve, with an endorsement of the values we share but have forgotten how to pay attention to.

So, the flow goes: intellectual understanding, some practice and experience, deeper understanding with some change in attitude, preparedness for even more radical change, some more experience, even deeper understanding, and, eventually, an endorsement of the value systems that are inherent in the human constitution.

SARAHWhat worries you the most about the future? You mentioned when you were in Seattle that you anticipate some very difficult times for the world in the years ahead – perhaps even a collapse. Could you
explain what you meant and what you think might cause such a collapse? 

KARL: What worries me the most is the systematic social battering of people all around the world, leading to more and more desperate people who don’t feel any partnership with society because of alienation, poverty, dissolving cultural structures, more and more “molecular” violence (unorganized and self-destructive violence that pops up everywhere without any meaning at all).

The response of the establishment is too superficial, with more and more imprisonment and money spent on defense against those feared, leading to a vicious cycle.

If this goes on long enough, a constructive and new sustainable paradigm in the heads of governments and business leaders will not necessarily help us in time. We will have more and more people who are so hungry to meet their vital human needs that it will be hard to reach them.

SARAHWhat keeps you energized in the face of these enormous challenges? What are your sources of hope? 

KARL: My vision is that we develop a mainstream understanding that nobody wins from destroying our habitat, and that people will see that you do better in business if you work as though society will become sustainable and as though different cultures will survive, because cultural diversity is also essential.

To maintain hope, we cannot only focus on the dark things that are going on. Once in a while if you get a “bird’s eye” perspective, you see all sorts of good examples, and they comfort you. You see more and more people who understand and who are making concrete contributions to the transition to this new understanding.

 

Vídeo: Gente do Terra Madre

 

Neste vídeo você pode ver um panorama das pessoas e idéias que se entrecruzam no “Terra Madre – encontro mundial das comunidades do alimento” (terramadre.org). Evento que, a cada dois anos, reúne na Itália cerca de 7mil pessoas vindas de 150 países, entre pequenos produtores, agricultores, pescadores artesanais, cozinheiros, pesquisadores e ativistas do Slow Food (slowfood.com). Pessoas comprometidas em defender e promover modos de produção que respeitam o meio-ambiente, atentos aos recursos naturais do planeta, à conservação da biodiversidade e justiça social.

Saiba mais:
http://terramadre.slowfoodbrasil.com

O mau exemplo da Apple (Mundo Sustentável)

Tecnologia
01/8/2012 – 09h36

por André Trigueiro*

apple O mau exemplo da AppleLixo eletrônico: Apple perde a certificação ambiental de 39 modelos de computador.

O gênero de resíduos que mais cresce no mundo é o de lixo eletrônico, ou seja, pilhas, baterias e tudo o que precise de eletricidade para funcionar (computadores, televisores, aparelhos de som, etc.). Os obsessivos lançamentos de novos produtos e o encurtamento da obsolescência programada (equipamentos projetados para durar pouco) são responsáveis por uma “tsunami” de lixo eletrônico que já ultrapassou 50 milhões de toneladas/ano em todo o mundo.

Para reduzir o volume de lixo – e facilitar o reúso ou a reciclagem dos componentes –, os Estados Unidos criaram uma certificação ambiental para produtos eletrônicos (Epeat) que valoriza, entre outras iniciativas, eficiência energética, maior facilidade para desmontar o equipamento após o descarte e segurança na segregação dos componentes tóxicos.

Segundo reportagem do Wall Street Journal, o governo dos Estados Unidos exige que 95% dos produtos eletrônicos adquiridos com recursos públicos sejam certificados pelos padrões da Epeat. Também seguem a certificação grandes empresas como a Ford e o HSBC. Duzentas e vinte e duas das mais importantes universidades norte-americanas também dão preferência a computadores certificados pelo Epeat.

Pois a mesma reportagem informa que um funcionário da Apple avisou, no final de junho, ao diretor executivo da Epeat, Robert Frisbee, que a orientação de design da empresa não era mais compatível com as exigências da Epeat, e que, por isso, pediu para tirar da lista de produtos sujeitos à certificação ambiental 39 computadores desktop, monitores e laptops (incluindo alguns modelos MacBook Pro e MacBook Air).

Foi a segunda vez em menos de três meses que a Apple desapontou seus seguidores mais antenados com os assuntos na sustentabilidade. No mês de abril a empresa apareceu como vilã em um relatório do Greenpeace que avaliou as fontes de energia mais utilizadas pelas gigantes de TI. O relatório How clean is your cloud? (O quão limpa é a sua nuvem?) informou que mais da metade da energia que mantém a estrutura da Apple funcionando tem origem em combustíveis fósseis, principalmente o carvão mineral.

Completando a onda de notícias ruins que alcançam a maçã de Steve Jobs, um relatório recente produzido pelo Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática da Universidade de São Paulo (USP) avaliou os esforços realizados pelas empresas que atuam no Brasil para recuperar os equipamentos que são descartados como lixo. Pela atual Lei Nacional de Resíduos Sólidos, essas empresas são obrigadas a promover a logística reversa, ou seja, a recuperação desses produtos quando eles são descartados como lixo. A Apple (juntamente com Samsung, Sony, IBM, Proviews e Brother) aparece na lista negra do relatório, justamente entre as empresas que não se prontificam a buscar o resíduo (quando o usuário está pronto para descartá-lo como lixo), nem aceitá-lo quando entregue em uma de suas lojas.

É pena saber de tudo isso depois de já ter um Iphone.

Se a Apple não desmonstrar de forma bastante convincente seu comprometimento com os valores socioambientais, será meu último tablet sabor maçã.

PS: Este espaço está completamente disponível para que a Apple faça as considerações que desejar.

André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina Geopolítica Ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livroMundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.

** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.

Sustentabilidade será tema obrigatório no ensino superior a partir de 2013 (EcoD)

Ensino Superior
29/6/2012 – 09h09

por Redação EcoD

c312 Sustentabilidade será tema obrigatório no ensino superior a partir de 2013A educação ambiental só é adotada atualmente no ensino básico. Foto: Agriculturasp

No último dia da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o Brasil anunciou a adoção de um compromisso voluntário que pode render bons frutos. A partir do próximo ano, a sustentabilidade deverá constar no currículo acadêmico de todas as universidades brasileiras.

A intenção é que, futuramente, o tema seja incorporado da pré-escola ao ensino médio. “Não faz sentido ensinar finanças sem ensinar ética ou meio ambiente. Educação superior é o começo, mas tem que ser em todas as séries. Incentivo a todos que façam ações. Não é só compromisso financeiro, precisamos de comprometimento dos governos”, afirmou à Agência Brasil o conselheiro do Conselho Nacional de Educação, Antônio Freitas Junior.

Embora tenha sido anunciada durante a Conferência, a medida foi publicada no Diário Oficial no dia 18 de junho. A lei especifica apenas que o assunto deverá ser abordado de forma interdisciplinar e contínua, sem necessariamente ser uma disciplina à parte. Na prática, isto significa que é um tema que deve ser abordado em todas as disciplinas, sem ser conteúdo obrigatório de nenhuma.

Obrigatoriedade

Atualmente, a educação ambiental é adotada, também como tema transversal, no ensino básico pelo Ministério da Educação (MEC). Desde abril de 2011, tramita na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 876/2011, que propõe alterar a Política Nacional de Educação Ambiental, tornando-a disciplina obrigatória – e, portanto, específica – no ensino fundamental e no médio.

“A sustentabilidade permeia todas as áreas, os enfoques é que são diferentes. Por exemplo, foi descoberto que o gás que sai do motor a diesel causa câncer. Então, um engenheiro mecânico tem que saber muito mais sobre esse assunto”, ressaltou o conselheiro.

Confira a medida na íntegra aqui e aqui.

* Publicado originalmente no site EcoD.

Inpe e Rede Clima lançam cartilha educativa para a RIO+20 (Fapesp)

Publicação apresenta os temas que serão discutidos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e os cenários de mudanças climáticas projetados para o Brasil (reprodução)

23/05/2012

Agência FAPESP – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) produziram uma cartilha educativa, intitulada O futuro que queremos – economia verde, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.

Voltada ao público em geral, a publicação apresenta os conceitos de economia verde e sustentabilidade e a importância da erradicação da pobreza, que são temas que serão discutidos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que será realizada de 13 a 22 de junho no Rio de Janeiro.

A cartilha também traz um histórico das conferências anteriores relacionadas ao meio ambiente e o conceito de “pegada ecológica” (metodologia usada para medir os rastros deixados pelos humanos no planeta a partir de seus hábitos).

A publicação apresenta ao leitor os cenários de mudanças climáticas projetadas para o Brasil para o século 21, as atividades do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e outros projetos e programas nessas áreas, apoiados pelo Inpe.

A cartilha está disponível para download em versão para internet em www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/RIO+20-web.pdf.

O arquivo digital com resolução para impressão pode ser solicitado pelo e-mail maira.morais@inpe.br.

Novo Maracanã já nasce velho (O Globo)

André Trigueiro

O Globo, 27/10/11

O projeto do novo Maracanã confirma a exclusão de um item absolutamente importante para que qualquer projeto de engenharia do gênero possa ser chamado de “moderno e sustentável”. Apesar do variado cardápio de estádios de futebol espalhados pelo mundo com aproveitamento energético do sol, a caríssima obra de reconstrução do Maracanã – quase 1 bilhão de reais – ignorou essa possibilidade.

Estranho que isso tenha acontecido num país onde o sol brilha em média 280 dias por ano. Ainda mais estranho que isso tenha acontecido na cidade que sediou a Rio-92, que vai sediar a Rio+20, e que está situada na mesma faixa de exposição solar que Sidney, na Austrália, que se notabilizou por realizar os primeiros Jogos Verdes da História, inteiramente abastecidos de energia solar.

Cobri como jornalista os Jogos de Sidney em 2000 e lembro-me das imensas estruturas com placas fotovoltaicas que captavam energia solar para iluminar as competições no estádio olímpico, no Superdome e em todas as instalações esportivas. A Vila Olímpica com 665 casas se transformou no maior bairro dotado de energia solar do planeta. O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional, o australiano Michael Bland, justificou assim os investimentos em energia solar: “Queremos fazer com que a energia solar se torne popular em todos os países. É ridículo que, na Austrália, todas as casas não usem um captador de energia solar. Temos os telhados, temos o sol, e os desperdiçamos. É um jeito estúpido de levar a vida”.

Que estupidez a nossa desperdiçar a imensa área das marquises do novo Maracanã – quase 29 mil metros quadrados – que poderiam abrigar um vistoso conjunto de placas fotovoltaicas capazes de gerar energia elétrica para até 3.000 domicílios. O custo varia de dez a vinte milhões de reais, dependendo da tecnologia empregada. Alguém poderá dizer: “É caro demais! Não vale a pena”. Mas será que a forma usual de comprar energia está valendo a pena?

Vivemos num país onde, segundo o IBGE, a tarifa de energia elétrica subiu mais do que o dobro da inflação oficial nos últimos 15 anos. A opção pelo solar – embora mais cara – oferece como vantagem a amortização do investimento em alguns poucos anos.

Alguém poderá dizer que a nova marquise – mais leve – poderia não suportar as tradicionais placas fotovoltaicas. Pois que se pensasse numa estrutura compatível. O que está em jogo é a possibilidade de tornar o estádio útil mesmo em dias que não aconteçam partidas de futebol. O Maracanã poderia ser uma usina de energia – ainda que com potência modesta – que além do benefício direto de gerar eletricidade, funcionaria também como elemento indutor de mais pesquisas e investimentos em energia solar no Brasil.

E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como “estádio solar” graças à tecnologia oferecida pela empresa.

Alguém duvida que a imagem aérea do estádio tanto na Copa de 2014 quanto nas Olimpíadas de 2016 alcançará bilhões de telespectadores pelo mundo? É mídia espontânea, super-exposição positiva de imagem, e tudo aquilo que um bom negociador não levaria mais do que alguns minutos para convencer o investidor a botar a mão no bolso e bancar a ideia.

Com recursos públicos ou privados, o certo era fazer. Não basta instalar alguns coletores solares para aquecer a água do banho usadas pelos atletas nos vestiários. É pouco. Se os responsáveis pelo projeto do Maracanã marcaram um gol contra desprezando o sol, os estádios de Pituaçu, em Salvador, e Mineirão, em Belo Horizonte, terão a energia solar como aliada para a produção de energia elétrica. Acorda Rio! Maracanã sem energia solar é como o Rio sem praia. Infelizmente os cariocas continuarão usando o sol apenas para se bronzear.Símbolo da sustentabilidade por suas belezas naturais e por sediar grande conferências ambientais da ONU, o Rio de Janeiro continua com um Maracanã aquém do que merece.