Arquivo da categoria: cidadania

>Evento promove o Ciber-Ciência Cidadã no Brasil (JC/Gestão C&T)

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JC e-mail 4240, de 18 de Abril de 2011

Ele é voltado aos interessados em participar de projetos científicos relacionados aos mais diversos temas, como mudanças climáticas, física de partículas, além de desenvolvedores, programadores e cientistas.

No mês de maio, alguns estados receberão o evento Brasil@home, uma iniciativa para promover o Ciber-Ciência Cidadã, que é a participação da sociedade em projetos científicos via internet, no Brasil e na América Latina. É uma introdução aos conceitos e prática de computação voluntária, inteligência distribuída e sensoriamento remoto voluntário.

No encontro, cientistas chefes dos principais projetos de Ciber-Ciência Cidadã no mundo ministrarão palestras e contribuirão para fomentar novos projetos no Brasil. O evento é voltado para interessados em participar de projetos científicos relacionados aos mais diversos temas, como mudanças climáticas, física de partículas, digitalização de documentos históricos, além de desenvolvedores, programadores e cientistas.

Alguns dos palestrantes são David Anderson, da University of Berkeley, criador do Seti@home, primeiro projeto de computação voluntária; Philip Brohan, da UK Meteorological Office, cientista do projeto Old Weather, no qual cidadãos ajudam a digitalizar dados climáticos registrados em antigos diários de bordo de navios; Francois Grey, diretor do Centro de Ciber-Ciência Cidadã; entre outros.

O Brasil@home será no dia 2 de maio em Brasília (DF); de 3 a 5 do mesmo mês no Rio de Janeiro (RJ); e no dia 6 em São Paulo (SP). A programação completa e mais informações estão no site http://www.citizencyberscience.net/brasilathome.
(Gestão C&T)

>Baixo retorno político (Fapesp)

>Especiais

2/2/2011

Por Fábio de Castro

Mais educação não se traduz automaticamente em mais democracia, segundo estudo realizado na USP. Entre 1989 e 2006, diminuiu a diferença entre a participação política dos mais e menos escolarizados (ABr)

Agência FAPESP – Na avaliação do senso comum, educação e politização andam de mãos dadas. Para a elite brasileira – de acordo com pesquisas de opinião –, o aumento da escolaridade da população tem o poder de gerar cidadãos que participam mais da vida política do país e que valorizam mais a democracia. Mas um novo estudo mostra que essa visão não corresponde à realidade.

A pesquisa de doutorado de Rogério Schlegel, defendida no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), utilizou análises estatísticas para interpretar os dados de pesquisas de opinião realizadas entre 1989 e 2006. O trabalho concluiu que a educação brasileira está trazendo ganhos decrescentes em termos políticos.

“O estudo mostrou que os cidadãos mais escolarizados já não se tornam tão participativos e democráticos como ocorria há duas décadas. O maior nível de escolaridade ainda diferencia os cidadãos, mas essa diferença encolheu muito em 20 anos – isto é, os retornos políticos da educação têm sido decrescentes no Brasil. Em alguns quesitos de participação e apoio à democracia, a diferença entre os mais e os menos escolarizados chega a ser inexistente”, disse Schlegel à Agência FAPESP.

A pesquisa de Schlegel foi orientada pelo professor José Álvaro Moisés, da FFLCH-USP, e integra o Projeto Temático “A Desconfiança do Cidadão nas Instituições Democráticas”, coordenado por Moisés e financiado pela FAPESP.

Segundo Schlegel, uma pesquisa de opinião coordenada em 2000 pela professora Elisa Reis, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já mostrava que, na avaliação da elite brasileira, a baixa escolaridade é o maior entrave para a democracia no país.

“Por trás dessa ideia há um pressuposto de que a educação só tem impacto no comportamento político por meio da capacitação cognitiva – isto é, basta fornecer mais educação e as pessoas terão mais recursos para acompanhar a política, discutindo, lendo jornais e fazendo exigências. Mas na realidade há caminhos alternativos para a entrada nessa vida política. Os resultados do estudo indicam que não há uma relação linear entre obter mais acesso à educação e obter mais instrumentos para participar da democracia”, afirmou.

Foram analisados vários mecanismos capazes de explicar os retornos políticos decrescentes da escolarização. A hipótese mais plausível é que o fenômeno tenha sido causado pela queda na qualidade da educação brasileira.

“Ao falhar na capacitação cognitiva do indivíduo e na transmissão de conhecimentos, o sistema educacional brasileiro estaria deixando de dar as ferramentas que ajudam o cidadão a atuar na esfera política. O resultado é que o aumento do acesso ao ensino ou do volume de escolarização – em tempo passado na escola ou anos de estudo completados – não é acompanhado pelos ganhos esperados em matéria de comportamento político”, disse.

O estudo teve fundamento em quatro pesquisas de opinião realizadas pelo grupo ligado ao Projeto Temático, a primeira realizada logo após a redemocratização, em 1989, e a mais recente – financiada pela FAPESP –, em 2006.

A partir desses dados, Schlegel utilizou análises estatísticas para controlar as diversas variáveis sociodemográficas disponíveis e observar, de forma isolada, o efeito da escolaridade no comportamento do cidadão ao longo do tempo.

“Na sociologia econômica é comum o uso, por exemplo, do conceito de ‘retorno econômico da educação’ para avaliar até que ponto uma maior escolaridade pode se refletir em maior renda, ou em maior arrecadação de impostos. A partir desse conceito, o estudo trabalha com a ideia de ‘retorno político da educação’”, explicou.

Indiferença política

O retorno político foi avaliado por meio de diferentes quesitos, como participação, apoio aos princípios democráticos e confiança nas instituições. Os resultados mostraram que a distância entre mais e menos escolarizados caiu marcadamente em relação à demonstração de interesse por política, consumo de notícias sobre o tema e hábito de conversar sobre ele.

“Em alguns quesitos, o nível de escolaridade é praticamente indiferente. No caso da participação em partidos, sindicatos e associações de bairro, por exemplo, o envolvimento é igualmente baixo entre os menos e mais escolarizados”, disse Schlegel.

A maior perda de retorno político, durante os 17 anos do período analisado, deu-se na faixa do ensino médio – faixa de escolarização que teve a maior expansão de alunos nas últimas duas décadas.

“Na média, hoje não se diferencia alguém que se formou no ensino médio de um cidadão com fundamental incompleto, em termos de preferir a democracia como forma de governo ou rejeitar a concentração de poder nas mãos de um líder centralizador”, afirmou.

Em 1993, de acordo com o estudo, a chance de um universitário ser muito interessado em política era 3,6 vezes maior que a de alguém com o ensino fundamental incompleto. Em 2006, as chances se reduziram para 1,6. “A diferença entre o universitário e alguém sem nenhum diploma escolar era enorme, em termos de interesse na política. Agora, a diferença ainda existe, mas é muito menor”, ressaltou Schegel.

Em 1989, uma pessoa com o segundo grau completo tinha 66% mais chance de preferir a democracia a qualquer outro regime, em comparação com alguém sem diploma do ensino fundamental. “Em 2006, já não havia mais diferença estatística entre os dois públicos. Nesse quesito, havia no passado uma distância que desapareceu entre os diferentes níveis de escolaridade em termos de comportamento político”, disse.

A confiança nas instituições tem uma relação especial com a escolaridade. Em 1993, quem tinha mais escolaridade confiava mais nos partidos que em 2006. Mas os dados não permitem concluir se houve de fato um aumento ou diminuição da confiança.

“Tratava-se de um momento em que os partidos estavam em reconstrução e havia uma noção generalizada de que eles eram o caminho para construir a democracia. Em 2006, essa noção já havia sido desfeita pelos partidos de aluguel e isso pode ter desencadeado a maior desconfiança dos mais escolarizados”, explicou.

Para Schlegel, os resultados do estudo, ao identificar que a escolarização vem trazendo ganhos decrescentes em termos políticos, desaconselham apostas na educação como panaceia capaz de promover uma cidadania superior e fazer superar os déficits democráticos no Brasil.

“A educação importa, mas sozinha não resolve. Os efeitos benéficos da escolarização para a convivência democrática precisam de ensino de qualidade para todos para se concretizarem plenamente”, disse.

>Tensions Grow Between Tornado Scientists and Storm Chasers

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By Jeffrey R. Young
Boulder, Colo.
The Chronicle of Higher Education
June 17, 2010

A long line of storm chasers gets in the way of scientists studying severe weather. Photo: Carlye Calvin

There is a crowd under the funnel cloud.

Researchers wrapping up one of the largest-ever scientific field studies of tornadoes say that amateur storm chasers hindered their research and created dangerous traffic jams. Storm chasers, for their part, say that they have just as much right to observe storms as Ph.D.’s.

Hundreds of camera-toting amateurs in cars ended up chasing the same storms as a fleet of scientific vehicles during the high-profile research project, called Vortex2, which wrapped up data collection this week. At times the line of traffic caused the Midwestern roads to look like the freeways of Los Angeles, said Roger Wakimoto, director of the National Center for Atmospheric Research, during a briefing for reporters this week.

“I worry about this as a safety hazard,” Mr. Wakimoto said. “These people were blocking our escape routes because of the sheer number of cars.”

Researchers refer to their own fleet as an “armada,” and it was made up of about 40 vehicles, several of them carrying radar gear. The research goal is to understand how tornadoes form, to discover why some big storms generate deadly tornadoes and others don’t, and to improve forecasters’ ability to warn people of the severe weather events.

“It’s embarrassing to say, but we still do not understand what triggers tornado genesis,” Mr. Wakimoto said. “It’s got to be one of the most fundamental things we don’t understand today, but maybe we captured the data [during this study] to answer the question.”

At times amateur storm chasers kept the armada of science trucks from even getting to a budding tornado. One example was on May 19 in Oklahoma, when the number of storm chasers reached about 200 to 300 cars, according to Joshua Wurman, president of the Center for Severe Weather Research, in Boulder.

“The chasers basically made a rolling roadblock,” he said in a phone interview Thursday, while preparing to head out for his last day of data collection. He said that many of the amateur chasers were trying to roll along parallel to the storm to shoot video, but the researchers wanted to get ahead of the storm to set up their radar equipment. Mr. Wurman said that most of the chasers refused to move aside to let the research vehicles pass. While people have no legal obligation to yield to radar trucks, he said that he felt the amateurs should have given way as a courtesy.

“Just like you open the door for a guy with crutches—it’s not required by law, it’s just polite,” he said. “Nobody let us by, and I was really disappointed by that. It basically crippled our science mission that day.”

One veteran storm chaser pointed out on his blog, however, that some of the scientists involved in Vortex2 have been on major television programs that have led to an increase in amateur storm chasers. “Dr. Wurman’s research has benefited financially from his previous affiliation with the Discovery Channel program Storm Chasers—this program implicitly is encouraging viewers to engage in storm-chasing by glamorizing it,” wrote Chuck Doswell.”Dr. Wurman is a well-respected researcher, but he’s not Moses. Nor is he a first responder going about his duties—law enforcement officers are authorized to break laws in the performance of their jobs. I know of no researcher/storm chaser who has that particular blank check.”

Citizen Scientists?

Storm chasers argue that they offer a valuable service because some call in reports and observations to the National Weather Service.

“Storm chasers are out there to save lives—we’re out there to give warnings faster than the early warning systems,” said Aaron Estman, who has been chasing storms for a few years and runs a Web site called TexasChaser.com, in an interview.

But Mr. Wurman said that amateur storm chasers rarely offer useful information because, by the time they call in their reports, officials are already aware of the storms, thanks to radar equipment. And even the few storm chasers who equip their cars with scientific instruments do not properly calibrate their equipment to aid scientific literature, he said.

“They haven’t done the boring stuff—the tedious stuff of doing good science,” he said.

Some researchers say there is hope that storm chasers can become valuable citizen scientists, as has happened in other fields, such as astronomy.

“Right now there’s no coordination,” said Brian M. Argrow, a professor of aerospace engineering sciences and associate dean for education at the University of Colorado at Boulder. “That’s an important thing that Vortex2 brings to the table—a coordinated effort.”
The Next Step

This is the final year of the two-year Vortex2 project, which cost about $13-million and is supported by the National Science Foundation and the National Oceanic and Atmospheric Administration, and involves about 20 teams of scientists from universities and federal laboratories. The endeavor is a sequel to the original Vortex project, a similar effort in 1994 and 1995. (It became one of the inspirations for the Hollywood film “Twister,” which, like the television shows cited by bloggers, helped increase interest in storm-chasing.)

The scientists will now analyze the terabytes of data—the equivalent of thousands of filled hard drives from typical laptops—including images of the storms they observed. The first papers from the project are expected to be presented at a severe-weather conference in Boulder in October.

>Guarani é oficializado como segunda língua em município do Mato Grosso do Sul

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Culturas Indígenas

Heli Espíndola
Comunicação – Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura

O guarani é a segunda língua oficial do município de Tacuru, no Mato Grosso do Sul. O município é o segundo do país a adotar um idioma indígena como língua oficial, depois da sanção, pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de maio, do Projeto de lei que oficializa a língua guarani em Tacuru. Com a nova lei, os serviços públicos básicos na área de saúde e as campanhas de prevenção de doenças neste município devem, a partir de agora, prestar informações em guarani e em português.

O primeiro município do Brasil a adotar idioma indígena como língua oficial, além do português, foi São Gabriel da Cachoeira, localizado no extremo norte do Amazonas. Além do português, São Gabriel tem três línguas indígenas oficiais: o Nheengatu, o Tukano e o Baniwa.

Em Tacuru, pequeno município no cone sul do estado do Mato Grosso do Sul, próximo ao Paraguai formado por uma população de 9.554 habitantes, segundo estimativa do IBGE de 2009, 30% de seus habitantes são guarani residentes na aldeia de Jaguapiré, situada no município. A maioria dos 3.245 indígenas de Tacuru não é bilíngue, ou seja, fala somente o Guarani o que dificulta o acesso aos serviços públicos mais essenciais.

Com a nova lei, a Prefeitura de Tacuru se compromete a apoiar e a incentivar o ensino da língua guarani nas escolas e nos meios de comunicação do município. A lei estabelece também que nenhuma pessoa poderá ser discriminada em razão da língua oficial falada, devendo ser respeitada e valorizada as variedades da língua guarani, como o kaiowá, o ñandeva e o mbya.

O Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul (MPF-MS) elogiou a aprovação da medida e argumentou que o Brasil é multiétnico e que o português não pode ser considerado a única língua utilizada no país. O MPF lembrou que o Brasil é signatário do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que determina que, nos Estados onde haja minorias étnicas ou linguísticas, pessoas pertencentes a esses grupos não poderão ser privadas de usar sua própria língua.

A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre os Povos Indígenas e Tribais determina, dentre outras coisas, que deverão ser adotadas medidas para garantir que os membros das minorias étnicas possam compreender e se fazer compreender em procedimentos legais, facilitando para eles, se for necessário, intérpretes ou outros meios eficazes.

Em Paranhos, também no Mato Grosso do Sul, tramita um projeto de lei semelhante ao aprovado em Tacuru, que propõe a oficialização do idioma guarani como segunda língua do município. Em Paranhos existem 4.250 indígenas guarani. Em todo o estado do Mato Grosso do Sul são 68.824 indígenas, divididos em 75 aldeias.

Para o secretário da Identidade e Diversidade Cultural/MinC, Américo Córdula, a oficialização da língua guarani em mais um município brasileiro vai de encontro à política cultural desenvolvida pelo Ministério da Cultura de proteção e proteção dos saberes tradicionais dos povos indígenas.

No mês de fevereiro (de 2 a 5), a SID/MinC realizou, juntamente com a Itaipu Binacional, o Encontro dos Povos Guarani da América do Sul – Aty Guasu Ñande Reko Resakã Yvy Rupa que reuniu cerca de 800 índios da etnia do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina, em Diamante D”Oeste, no Paraná, para discutir formas de fortalecer o intercâmbio cultural entre as comunidades dos quatro países.

“Temos no Brasil uma comunidade de aproximadamente um milhão de indígenas, formada por 270 povos diferentes, falantes de mais de 180 línguas”, informa Córdula. Segundo ele, a população indígena brasileira é detentora de uma grande diversidade cultural, que deve ser protegida por seu caráter formador da nacionalidade brasileira. Com esse objetivo, a SID/MinC já realizou dois prêmios culturais (2006 e 2007) voltados para as comunidades tradicionais indígenas. Foram investidos R$ 3,6 milhões para a premiação de 182 projetos em todo o Brasil.

Este ano, no mês de março, foi criado o primeiro Colegiado de Culturas Indígenas, formado por 15 titulares e 15 suplentes representantes do segmento. No último dia 1º, foi eleito o conselheiro do Colegiado para o Plenário do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC).

Maria das Dores do Prado, da etnia Pankararu, foi escolhida para defender, junto ao CNPC, as políticas públicas voltadas para a valorização da cultura de todas as comunidades indígenas brasileiras. Um das reivindicações defendidas pelo segmento durante a Conferência Nacional de Cultural, realizada em março, quando se deu a eleição do Colegiado, é a manutenção de todas as línguas nativas.

>Juventude e violência: proximidade perigosa (FAPERJ)

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Por Vilma Homero – 10/06/2010

Atos violentos de jovens de classes populares costumam ter resposta mais dura da sociedade, como mostra o filme Justiça.

A crescente violência entre os jovens é um fenômeno tipicamente contemporâneo. Vivendo uma adolescência prolongada, sem reconhecimento da sociedade organizada em função de sua não inserção no mercado de trabalho, eles se entregam a várias formas de comportamento violento: provocam acidentes ao dirigir em alta velocidade, sem respeitar quem ou o que estiver pela frente, aderem ao tráfico de drogas, tornam-se membros de gangues, provocam brigas em boates. Diante disso, a sociedade brasileira tem encontrado apenas duas formas de lidar: pelo assistencialismo ou pela repressão. Para o pesquisador e psicanalista Joel Birman, é preciso pensar criticamente essa situação.

Para promover essa reflexão, ele coordena a rede de pesquisas Juventude, Subjetivação e Violência/ou EPOS, sediada no Instituto de Medicina Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em que, com apoio do edital Pensa Rio – Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos Para o Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, especialistas de diferentes formações analisam a questão. “A violência hoje está intimamente associada à juventude. Um comportamento que até um tempo atrás era cativo das camadas populares, hoje se dissemina igualmente nas classes médias. Mas é preciso sair dessa concepção unicamente assistencialista ou repressiva e encontrar outras alternativas”, diz.

Nesse sentido, a rede, que reúne psicanalistas, psicólogos, sociólogos, criminologistas, juristas e comunicólogos, vem refletindo sobre a questão em diversos trabalhos. Já foram promovidos dois colóquios, em 2008 e 2009, um deles transformado em livro, pela editora Contracapa, com o mesmo nome da rede, Juventude, Subjetivação e Violência. “Também estamos publicando uma revista eletrônica, em que colocamos os artigos dos especialistas da rede. Já publicamos o número zero, que submetemos à avaliação para indexação, e para 2010 temos previsão de mais duas edições”, expõe. Para junho, está sendo organizado um seminário para que os pesquisadores apresentem seus trabalhos. E, no segundo semestre, haverá outro, com conferencistas convidados.

Entre os vários estudos que integram a rede, a socióloga Vera Malaguti analisa exatamente como em vez de pensar formas de inclusão social, a sociedade lida com a questão da violência com políticas que criminalizam a juventude que apresenta comportamento deste tipo. A psicanalista Sílvia Nunes, que focaliza a gravidez adolescente, avalia como, especialmente entre as classes populares, essa gravidez funciona para a jovem mãe como a criação de uma certa respeitabilidade social e ainda como forma de proteção contra a violência, sobretudo sexual, em comunidades de baixa renda.

Para o psicanalista Joel Birman, a sociedade falha em promover a inclusão social do jovem.

“Já o professor de literatura Camilo Pena examina as novas formas de produção cultural e literatura das camadas populares, como blogs, panfletos e produção musical, que traduzem uma tentativa de criação de signos identitários”, exemplifica Joel Birman.

Outra pesquisa, de Wedencley Alves Santana, analisa o atual esvaziamento do potencial de promessa que a educação formal significava décadas atrás. Birman chama ainda a atenção para a participação de juristas que questionam o engessamento de nosso Código Penal, que cristaliza essa tendência criminalizante em seu olhar sobre o comportamento da juventude.

“Acreditamos que há uma lógica social maior nessas situações do que simplesmente a criminal. O grande eixo de nossa leitura é de questionar qual o lugar atual do jovem em nossa sociedade, levando-se em conta como a sociedade organizada falha em promover a inclusão social.”

Segundo o psicanalista, hoje, a ideia sobre o que é ser adolescente é diferente do que há décadas passadas. “A organização linear das idades foi quebrada nos anos 1970. A infância dura menos tempo, e, em compensação, a adolescência começa mais cedo e se estende indefiinidamente. Agora, ficou difícil distinguir o que é adolescente ou um adulto jovem”, explica. Outros fatores contribuem. “Diante na nova formação da família contemporânea, marcada pela volutibilidade do casamento, as crianças não vivem mais necessariamente com seus pais biológicos, e ainda passam por uma adolescência prolongada e sem autonomia, já que os jovens, particularmente os de classe média, mantêm-se durante mais tempo apenas dedicados aos estudos, antes de entrar para o mercado de trabalho”, explica Birman.

Para o psicanalista, “sem o reconhecimento simbólico de seu lugar na sociedade, numa infantilização que se estende, eles passam a cultivar uma cultura corporal, explorando não só a estética, como a cultura da força e das várias formas de violência, buscando distinguir-se entre seus pares”. E exemplifica: “Se entre os jovens de classe média, há as brigas em boates, ou a direção irresponsável em alta velocidade, para os jovens das camadas populares, há a adesão ao tráfico.”

A resposta da sociedade ao problema, no entanto, tem duas vertentes. “Costuma ser extremamente dura e repressiva para o jovem de origem humilde, que seguidamente são enviados a instituições penais, onde são transformados em criminosos propriamente ditos, e bem mais condescendente para os jovens de classe média, que em geral são encarados como problemáticos e alvo de medidas terapêuticas”, diz. Segundo o psicanalista, isso acontece porque a visão dos órgãos policiais e judiciais é fazer uma leitura a partir de um “potencial de periculosidade”, que encara sempre o jovem mais pobre como potencialmente mais perigoso.

No filme Meu nome não é Johnny, o protagonista da história, um jovem de classe média, é preso com grande quantidade de cocaína. Levado a julgamento, sua figura comove a juíza, que em vez de condená-lo como traficante, o envia para tratamento no manicômio judiciário. A história, real, ilustra bem a dualidade do olhar da sociedade brasileira, que certamente seria bem menos condescendente com réus das classes populares na mesma situação.

“Hoje, há uma tendência internacional de questionar essa visão criminalizante, de ver mais criticamente essas políticas de aprisionamento. No Instituto Carioca de Criminologia, coordenado pelo jurista Nilo Batista, já temos uma abordagem que dialoga com essa perspectiva”, diz Birman. Unindo todos esses estudos, fica a perspectiva de uma maior reflexão que traga outras alternativas de solução.

© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.

>Política incerta, economia incerta, clima incerto

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A sucessão de catástrofes é casual ou causal?

Por Mario Soares*
IPS/Envolverde – 21/05/2010 – 10h05

Lisboa, maio/2010 – Até o próprio Pangloss, famoso personagem de Candide de Voltaire, apesar de seu imperturbável otimismo, se veria em dificuldades para enfrentar o mundo contemporâneo. A natureza e a humanidade deram rédeas aos seus respectivos demônios e ninguém pode detê-los. Em diferentes lugares, a Terra reage e nos assesta, sucessivamente: ciclones, maremotos, terremotos, inundações e, ultimamente, a erupção vulcânica na insular Islândia, que paralisou os aeroportos do norte e centro da Europa. Um espetáculo triste e jamais visto.

Trata-se de fenômenos naturais normais, dirão alguns, os menos avisados. Contudo, para aqueles que têm mais de oito décadas vividas, como é meu caso, e nunca viram nem tiveram conhecimento de nada semelhante a esta conjugação sucessiva de catástrofes, é prudente expor a dúvida: será que a mão inconsciente e imprevista do homem, que agride e maltrata o planeta e compromete seu equilíbrio natural, não tem uma boa dose de responsabilidade nestes fatos?

A recente Conferência de Cúpula sobre Mudança Climática em Copenhague, em dezembro passado, que deveria condenar e enfrentar o aquecimento global, resultou em fracasso devido ao suspeito acordo traçado na última hora por China e Estados Unidos. Por uma coincidência – ou talvez não –, estas duas grandes potências são os maiores contaminadores da Terra. A verdade é que conseguiram paralisar o grupo europeu – ao qual não deram a menor importância – e várias delegações procedentes de outros continentes, que esperavam resultados positivos da Conferência Mundial.

Talvez seja mais preocupante a aparição de alguns cientistas que adotam posturas abertamente contrárias ao pensamento e às advertências da esmagadora maioria dos ecologistas, já que afirmam que o aquecimento global não é causado pelas atividades humanas nem pelo abusivo emprego de combustíveis derivados dos hidrocarbonos. Afirmam e reiteram que se trata de um fato natural. Isto me faz pensar que há pessoas capazes de perseguir a todo custo a ganância e sobrepor a qualquer outra consideração a defesa de seus interesses imediatos sem que isso afete suas boas consciências… Se é que as têm.

Estou convencido de que na próxima Conferência Mundial sobre Mudança Climática a verdade científica prevalecerá e que as grandes potências serão obrigadas a respeitar as regras que objetivam conter radicalmente o aquecimento global.

Os riscos que pairam sobre o planeta não são apenas as catástrofes consideradas naturais que se sucedem com inquestionável e preocupante frequência. O terrorismo global continua causando estragos desde 2001, e atualmente são numerosas (excessivas, segundo meu ponto de vista) as nações que dispõem de armamento nuclear. É indispensável colocar um limite a isto. Neste sentido, o acordo que o presidente norte-americano, Barack Obama, conseguiu estabelecer com Rússia e China para reduzir os respectivos arsenais atômicos e obstruir a proliferação por parte de nações que ainda não os possuem – como é o caso do Irã – é um acontecimento notável e de projeções políticas e geoestratégicas extremamente positivas.

Em um mundo tão perigoso como o que nos cabe viver – basta pensar em todos os conflitos armados não resolvidos em todos os continentes –, é preciso reduzir drasticamente a venda livre de armas e propagar a Cultura de Paz, da qual é incansável promotor o ex-diretor-geral da Unesco, Federico Mayor Zaragoza. Ao mesmo tempo, deve-se evitar e controlar até onde for possível todas as formas de incitação à violência que os meios de comunicação, as televisões em particular, propagam constantemente (inconscientemente, ou não), no que não é exagerado qualificar como uma escalada inaceitável.

Todos os governos do mundo que se consideram Estados de Direito e que, portanto, devem respeitar e proteger os direitos humanos têm a consequente obrigação de adotar políticas e medidas para difundir a Cultura de Paz e repudiar, pedagógica e sistematicamente, todas as formas de violência que entram todos os dias em nossas casas para o bem de nossos descendentes e do futuro da humanidade.

Realmente, as ameaças que enfrentamos em nossa época provêm de diversas fontes: de uma política incerta e sem rumo claro, de uma economia sem regras e à espera de melhores dias – não sabemos quantos – para superar a crise, de uma sucessão de calamidades. Já é hora de a cidadania global abrir os olhos, reagir e exigir soluções. IPS/Envolverde

* Mário Soares é ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.

>Brasil melhora no ranking que mede corrupção

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Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
17 de Novembro de 2009 – 13h01/14h40

Brasília – O Brasil subiu cinco posições no ranking anual de corrupção divulgado hoje (17) pela Transparência Internacional. Apesar de ter passado do 80º lugar em 2008 para o 75º neste ano, o relatório apontou que o país ainda é marcado por escândalos que envolvem impunidade e corrupção política.

Na mesma colocação brasileira aparecem a Colômbia, o Suriname e o Peru – todos com 3,7 pontos. Nas Américas, um total de 21 dos 31 países receberam pontuação inferior a 5, o que, de acordo com a Transparência Internacional, indica “sérios problemas de corrupção” na região.

No grupo de países americanos com mais de 5 pontos, o Canadá permanece como líder, além de integrar os dez Estados com os menores índices de corrupção em todo o mundo. O Chile, o Uruguai e a Costa Rica são os únicos da América Latina a integrarem a lista com mais de 5 pontos.

O Haiti aparece mais uma vez como o último no ranking das Américas – apesar de ter passado de 1,4 ponto em 2008 para 1,8 neste ano. Também registraram baixa pontuação a Bolívia, a Nicarágua, Honduras e o Paraguai. Já a presença da Argentina e da Venezuela no grupo com menos de 5 pontos, segundo o documento, é vista como um indicativo de que a corrupção não é presença exclusiva em países pobres.

O relatório acrescenta que jornalistas da América Latina, em particular, enfrentam um ambiente de restrições “crescentes”, com a aprovação de legislações destinadas a “silenciar” a cobertura crítica, limitando a liberdade de imprensa e dificultando a divulgação de práticas de corrupção.

No ranking geral de países, a Nova Zelândia aparece em primeiro lugar com 9,4 pontos, seguida pela Dinamarca, com 9,3 pontos, e por Cingapura, com 9,2 pontos.

>Como transformar informação em ação? Info-ativismo.

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10 tactics for turning information into action shows how rights advocates around the world have used the internet and digital technologies to create positive change.

http://www.informationactivism.org/

http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=7079347&server=vimeo.com&show_title=1&show_byline=1&show_portrait=0&color=&fullscreen=1
Info Activism from Tactical Technology Collective on Vimeo.

>Do folclore à cidadania ambiental

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Ensaio

Do folclore à cidadania

Em tempos de discussão acirrada sobre os efeitos do aquecimento global, o pesquisador Renzo Taddei avalia que as populações tradicionalmente vitimadas pelas secas têm contribuição decisiva para consolidação do que chama de cidadania ambiental

Renzo Taddei
especial para O POVO
Fortaleza – 24 Out 2009 – 12h48min
Foto: TALITA ROCHA

A ideia de que as variações do clima vão afetar de forma decisiva o futuro das pessoas é uma novidade com a qual habitantes de muitos centros urbanos do planeta – e do Brasil – agora têm que se acostumar. Para a população do nordeste semiárido, não há nenhuma novidade aí. Foi assim desde sempre. Por isso, poderíamos dizer que, pelo menos nesse sentido, há uma certa cearencização da população urbana mundial.

Brincadeiras a parte, o fato é que há lições a serem aprendidas com as sociedades que convivem com ameaças climáticas há muito tempo. Se ficarem confirmadas previsões a respeito da expansão do semiárido brasileiro e da desertificação de partes do cerrado, como resultado do aquecimento global, o Ceará e estados vizinhos irão, certamente, exportar conhecimento a respeito da convivência com o semiárido.

Os esforços de convivência com o semiárido deram-se, no Ceará, por exemplo, em duas frentes. Uma, mais antiga, está pautada nos conhecimentos da cultura popular, que desde muito cedo na história da região – antes mesmo da chegada dos europeus – já buscava decifrar os enigmas colocados pelo clima, fator fundamental para a garantia da sobrevivência. A outra, mas recente, é o uso da técnica e da ciência na criação de condições materiais para que a vulnerabilidade das populações à seca seja reduzida.

No primeiro grupo, encontramos um sem-número de métodos tradicionais de previsão do tempo e do clima, componentes da base de conhecimentos comuns e compartilhados da população sertaneja, ainda que feitos mais visíveis nas figuras dos profetas da chuva do sertão. Além da atividade de prever as chuvas, as estratégias populares combinam ainda formas específicas de organizar sua produção local, como a escolha de sementes e a criação de animais resistentes à pouca chuva. E tudo isso emoldurado dentro de um marco de referência religioso, em que todas as coisas, inclusive o clima, são parte de uma ordem cósmica regida pelo criador, a quem cabe aos sertanejos pedir proteção e amparo.

No segundo, têm papel de destaque o envio de engenheiros ao estado, por Pedro II, ainda no período imperial, de modo a iniciar um longo processo de institucionalização dos esforços de combate aos efeitos das secas. O momento mais decisivo deste processo foi, certamente, a criação do que viria mais tarde a ser conhecido pela sigla Dnocs.

O Dnocs faz um século de vida. É interessante, e inspirador, ver como, depois de tanto tempo trilhando caminhos separados, paralelos, atuando com os mesmos objetivos, a técnica e a cultura popular têm finalmente a oportunidade de se encontrar. Há dois eventos que ocorrem regularmente no Ceará que sinalizam nessa direção. O primeiro é a reunião anual de profetas da chuva do município de Quixadá. Nessa reunião, que acontece no segundo sábado do mês de janeiro, profetas da região anunciam publicamente os seus prognósticos para a estação de chuvas.

O que têm chamado a minha atenção, desde que comecei a observar estes encontros, é o fato de que muitos dos profetas apresentam-se como “pesquisadores“, uma vez que, dizem eles, suas previsões são baseadas em observação sistemática da natureza, e não em inspirações metafísicas. Por essa razão, muitos destes indivíduos não se sentem confortáveis com o rótulo de profetas. Além disso, é comum que suas previsões incluam algum grau de incerteza associada ao clima, da mesma forma como ocorre em previsões meteorológicas.

A diferença, obviamente, está na linguagem: entre os profetas, a incerteza frequentemente é comunicada através da mensagem “só Deus sabe tudo“. Ou seja, fica claro, nas palavras e previsões dos profetas da chuva, que já não há uma rejeição do conhecimento técnico e das formas “urbanas“ de pensamento, como encontramos, por exemplo, nos poemas Cante lá que eu canto cá ou Ao dotô do avião, de Patativa do Assaré.

O segundo evento, que ocorre com mais frequência, são as reuniões dos comitês de bacias hidrográficas, que ocorrem em todo o Ceará, e, graças à atuação do Dnocs, em várias outras regiões do Nordeste. Nos comitês, técnicos e membros das lideranças populares locais discutem as formas de uso e administração das águas dos açudes do Estado. Como não há água sem chuva, não há conhecimento hídrico sem conhecimento meteorológico. É nos comitês, desta forma, que o conhecimento popular e o conhecimento técnico interagem, criando a possibilidade da criação da verdadeira participação democrática.

Esse panorama está inserido dentro de um contexto mundial em que a expressão cidadania ambiental ganha significados novos e importantes. Todos os habitantes desse planeta se entendem, agora, de alguma forma vinculados à questão ambiental global, seja como consumidores, seja como afetados. E exigem informação a respeito do meio ambiente, e voz no que tange a como sociedade e meio ambiente interagem.

Está aí colocado um desafio real, para o mundo e para o Ceará. Infelizmente, é preciso que se diga, no Ceará e nos demais estados do Nordeste, ainda que a participação popular seja fundamental nos comitês de bacias, há certa resistência com relação ao conhecimento popular. A visão técnica a respeito da natureza é preponderante, e muitas vezes outras formas de conhecimento não tem vez nem voz. Na democratização das águas no Brasil, há um passo faltando, o passo da inclusão da diversidade cultural. Para que se crie uma verdadeira democracia ambiental, aqui e em outros países, todas as vozes têm que ter sua vez.

RENZO TADDEI é antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

>Municípios terão acesso livre a software para organizar contas e melhorar gestão

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A ferramenta, chamada de e-cidade, estará disponível no Portal do Software Público Brasileiro no fim de outubro e poderá ser acessada gratuitamente pelos municípios

O Povo – 15 Out 2009 – 07h37min

Prefeituras de todo o país terão acesso a um software livre de gestão que vai possibilitar a organização de gastos, do orçamento, da receita tributária, do controle de medicamentos, de recursos humanos e outros serviços no mesmo aplicativo. A ferramenta, chamada de e-cidade, estará disponível no Portal do Software Público Brasileiro no fim de outubro e poderá ser acessada gratuitamente pelos municípios.

O acesso livre ao software foi acertado entre o Ministério do Planejamento e a empresa que criou o programa. De acordo com o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do ministério, Rogério Santana, com o uso livre, as prefeituras poderão adaptar as funções do aplicativo à realidade local e trocar experiências com outros gestores.

“Isso vai melhorar a gestão dos recursos e a prestação de serviços à sociedade. Também facilita a auditoria e a apresentação de contas”, avalia. A ferramenta é utilizada atualmente por 15 municípios e será apresentada oficialmente durante o Encontro Nacional de Tecnologia da Informação para os Municípios Brasileiros, nos dias 27 e 28 de outubro em Brasília.

Segundo Santana, o e-cidade vai permitir que prefeitos registrem as receitas arrecadadas com impostos, conheçam melhor os gastos dos municípios em saúde, educação e pessoal, acompanhem o andamento de obras e o controle de imóveis, por exemplo.

A ferramenta também registra a autorização, emissão e liquidação de empenhos orçamentários integradas ao processo de aquisições e emissões de notas fiscais.

“Os municípios brasileiros são muito carentes de soluções tecnológicas. Temos inúmeros municípios que têm gestão ineficiente e que precisam de ajuda. Essa solução tecnológica pode ser uma alternativa.”

A redução da burocracia também é uma das vantagens do aplicativo, segundo Santana. “Vai reduzir a papelada. Muitas árvores serão economizadas na medida em que a gente automatize e use processos eletrônicos no lugar de processos em papel”, completou.

O e-cidade vai estar disponível para download na página na internet do Portal do Software Público Brasileiro a partir do dia 28 de outubro, no endereço eletrônico http://www.softwarepublico.gov.br .

Agência Brasil

>Índios recrutam líderes para tentar vitória inédita nas urnas em 2010

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Vannildo Mendes, BRASÍLIA
O Estado de São Paulo – Segunda-Feira, 05 de Outubro de 2009

Divididos em 220 etnias, falando 180 línguas, os índios brasileiros estão se organizando para aumentar a representação política nas eleições de 2010. Eles somam mais de 700 mil, dos quais 150 mil eleitores, e querem mais protagonismo nas decisões do País para defender as suas bandeiras sem depender unicamente da tutela da Fundação Nacional do Índio (Funai) ou das bênçãos de igrejas. A ideia é eleger ao menos cinco deputados federais no País e uma bancada forte nas Assembleias Legislativas de 19 Estados onde estão mais organizados.

As tribos e seus caciques estão recrutando em suas regiões os principais puxadores de votos, reconhecidos pela articulação e eloquência, que serão lançados para a Câmara. Já estão definidos os nomes de Almir Suruí, em Rondônia, Sandro Tuxa, na Bahia, e Júlio Macuxi, em Roraima. Este último teve atuação destacada na pressão pela demarcação da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) este ano.

Os três devem sair pelo PV, partido preferencial dos indígenas. Podem, no entanto, optar por outro partido que ofereça melhores possibilidades de vitória, o que será avaliado com lupa pelos conselhos indígenas e pelas assembleias que serão realizadas nas diversas aldeias, entre este mês e março.

“Vou aguardar a decisão coletiva, antes de definir a melhor legenda, com chances reais de eleição”, disse Macuxi. Pragmático, o líder pediu a desfiliação do PT porque o partido já tem uma prioridade para a Câmara, a deputada Angela Portela, que disputará a reeleição em 2010.

Filiado ao PT do Distrito Federal, onde vive há oito anos como servidor da Funai, Álvaro Tukano, líder de uma etnia que habita as margens do alto Rio Negro, no Amazonas, deve buscar a confirmação do seu nome entre os candidatos da legenda. “Queremos eleger a maior bancada parlamentar de todos os tempos”, declarou.

O quinto puxador de voto deve sair das hostes do PDT, partido da preferência dos xavantes desde os tempos em que o deputado e cacique Mário Juruna, já falecido, cumpriu mandato parlamentar (1983-1987) como primeiro e único indígena eleito para o Congresso. Ele foi cooptado na época pelo líder trabalhista Leonel Brizola, também falecido. Desde esse fato, o PDT tem por praxe oferecer vagas para índios na legenda.

VEREADORES

Na última eleição municipal, os índios já deram uma primeira mostra do seu potencial nas urnas, elegendo seis prefeitos e mais de 90 vereadores em várias partes do País. Em São Gabriel da Cachoeira (AM), o prefeito, o vice e todos os vereadores são índios. Localizada em região conhecida como Cabeça do Cachorro, a cidade tem 95% da população de origem indígena.

Em Roraima, foram eleitos prefeitos indígenas em Uiramutã e Normandia, ambos da etnia macuxi. São João das Missões (MG), Marcação (PB) e Barreirinha (AM) também têm prefeitos índios. “É muito positiva essa presença no processo político para legitimar a democracia brasileira”, afirmou o presidente da Funai, Márcio Meira.

Em quatro Estados onde têm maior nível de organização, os índios já decidiram que vão lançar candidatos a deputado federal, além de nomes competitivos para a Assembleia Legislativa. São eles Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia.

Em outros 18 Estados serão lançados candidatos a deputado estadual e, eventualmente, algum para federal. São eles: Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Amapá, Paraíba, Goiás, Minas, Tocantins, Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

SELEÇÃO

A escolha dos candidatos, de acordo com Macuxi, é feita democraticamente, em assembleias regionais. Em Roraima, haverá uma na segunda quinzena deste mês, para a apresentação dos candidatos e debate em torno das propostas. A segunda ocorrerá em março, para a confirmação dos escolhidos.

Para o líder, esse é um modo de escolha mais legítimo que as convenções partidárias. “São levadas em conta a liderança, a eloquência e a vida limpa do candidato”, explicou. “Aqui ninguém cai de paraquedas, não se compra legenda, nem se é escolhido pelo dono do partido.”

Após a peneira, os índios são pragmáticos na escolha do partido. O preferencial é o PV, principalmente após a adesão da senadora Marina Silva (AC), que disputará a Presidência. Dizem que a ex-ministra do Meio Ambiente dará visibilidade às questões ambientais e indígenas.

NÚMEROS

700 mil é a população atual de indígenas em todo o País

150 mil deles são eleitores

220 etnias existem hoje no Brasil, com um total de 180 línguas

5 prefeitos descendentes de índios foram eleitos em 2008

90 vereadores também indígenas foram aprovados nas urnas ano passado

>Conferência Nacional de Comunicação: Como democratizar as comunicações

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15/09/2009 – 01h09 – Envolverde/Observatório da Imprensa
Por Venício A. de Lima, para o Observatório da Imprensa

Nesses tempos de preparação da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, uma das questões recorrentes é: o que deve ser feito para “democratizar as comunicações”? Boa pergunta, sem dúvida. Na verdade, essa é a questão síntese de todos os muitos e difíceis aspectos envolvidos na problemática geral do setor.

“Democratizar as comunicações” tem sido o principal paradigma conceitual, uma espécie de bandeira a orientar boa parte dos segmentos organizados da sociedade civil comprometidos com o avanço na área de comunicação. E não só no Brasil. Todavia, uma das falácias desta bandeira é que ela pressupõe a possibilidade de que a grande mídia dominante, privada e comercial, seria passível de ser democratizada. Vale dizer, em termos da teoria liberal da liberdade de imprensa, trazer para dentro de si mesma, “o mercado livre de idéias” (the market place of ideas) – representativo do conjunto da sociedade, isto é, plural e diverso.

Seria este pressuposto realizável?

Retrabalhando a teoria liberal

Há mais de 50 anos, isto é, pelo menos desde a Hutchins Commission (EUA, 1942-1947), a teoria liberal foi “retrabalhada” e passou a se apoiar em três idéias centrais: pluralismo interno, responsabilidade social e profissionalismo. Esse “retrabalhar” decorreu da impossibilidade de se prosseguir sustentando o discurso do “market place of ideas” – semelhante ao mercado “autocontrolado” de Adam Smith – em face do avanço real da concentração (oligopolização) da mídia e da formação de redes regionais e nacionais de rádio e televisão.

A solução encontrada, porém, esbarra em dificuldades incontornáveis identificadas pelo desenvolvimento da pesquisa na área – sobretudo em relação aos mitos da imparcialidade e da objetividade jornalística e da independência dos conglomerados de mídia – e também se torna inviável em sociedades, como a Inglaterra, onde existe uma tradição historicamente consolidada de imprensa partidária.

Tudo isso trouxe de volta o ideário do “market place of ideas”, agora complementarmente ao pluralismo interno, à responsabilidade social e ao profissionalismo, e pela intervenção do Estado por intermédio de políticas públicas para garantir a concorrência das empresas de mídia (a não oligopolização) no mercado de idéias.

Além das dificuldades discursivas que a necessidade de intervenção do Estado cria para a teoria liberal, os próprios fatos têm revelado, sem margem a dúvidas, que nem um nem outro caminho tem garantido o “market place of ideas”.

Complementaridade dos sistemas

Uma variante dessas possibilidades foi contemplada na Constituição de 1988: trata-se da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal de radiodifusão (Artigo 223).

Em função de opções feitas ainda na década de 1930, temos no Brasil um sistema de radiodifusão predominantemente privado. A Constituição, no entanto, determina a busca do equilíbrio entre os sistemas como forma de democratizar as comunicações: a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em 2007, caminha nesta direção.

Outra alternativa seria o apoio à criação e consolidação de sistemas privados não comerciais, isto é, associações sem fins lucrativos, cooperativas ou fundações. Aqui as rádios e TVs comunitárias são exemplos em curso.

Re-enquadrando a “democratização” das comunicações

Há, no entanto, uma inflexão conceitual que precisa ser feita. Devemos re-enquadrar toda a discussão da democratização das comunicações em torno do conceito de “direito à comunicação”. É preciso que a mídia seja entendida como um poder e a comunicação como um direito que compreenda não só a liberdade de expressão como os direitos à informação e ao conhecimento. Um direito tão fundamental como a educação e/ou a saúde, por exemplo.

A construção desse direito não é nova. Sua primeira formulação já tem quase 40 anos. Também não é novo que entidades e movimentos sociais que lutam pela democratização da comunicação no Brasil inscrevam esse direito – direta ou indiretamente – entre os eixos principais de seus programas de ação.

São muitos, no entanto, os obstáculos à sua consolidação, exatamente porque o direito à comunicação abre perspectivas imensas do ponto de vista de garantias ao cidadão, inclusive já praticadas em outras democracias liberais, das quais ainda estamos muito distantes: o direito de resposta como interesse difuso e o direito de antena são apenas dois exemplos.

O direito à comunicação não logrou ainda o status de direito positivado nem mesmo em nível dos organismos multilaterais que têm a capacidade de provocar o reconhecimento internacional do conceito – como, por exemplo, a Unesco. Esse fato faz com que, simultaneamente à articulação política de ações específicas, desenvolva-se também a luta pelo reconhecimento formal do direito.

Existem ainda históricas e poderosas resistências ao conceito, exatamente pelo poder que ele tem de abarcar um imenso leque de reivindicações e bandeiras em relação à democratização da comunicação. Mas, não há dúvida, esse é o caminho.

O que fazer?

Enquanto se segue na construção do direito à comunicação, há de se tentar que o “market place of ideas” funcione no Brasil – sem ilusões.

Democratizar a comunicação passa a ser, portanto, garantir a circulação da diversidade e da pluralidade de idéias existentes na sociedade, isto é, a universalidade da liberdade de expressão individual. Essa garantia tem que ser buscada tanto “externamente” – por meio da regulação do mercado (sem propriedade cruzada e sem oligopólios; priorizando a complementaridade dos sistemas público, privado e estatal) – quanto “internamente” à mídia – cobrando o cumprimento dos manuais de Redação que prometem (mas não praticam) a imparcialidade e a objetividade jornalística.

>Combate à exclusão racional

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Especiais
Combate à exclusão racional

3/9/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Pensar criticamente – isto é, ser capaz de reconhecer e formular bons argumentos – é uma prática fundamental para o exercício pleno da cidadania e da democracia. Mas, apesar de ser uma necessidade tão universal, a intimidade com a boa argumentação não é uma realidade para grande parte da população, que, por conta disso, fica exposta a todo tipo de falácias e argumentações enganosas.

Com a finalidade de combater essa “exclusão racional”, acaba de ser lançado o livro Pensamento crítico – O poder da lógica e da argumentação, de Walter Carnielli e Richard Epstein. Segundo os autores, a obra tem como objetivo servir de guia para a boa argumentação e, ao mesmo tempo, de instrumento de “autodefesa intelectual contra as falácias do mundo contemporâneo”.

Carnielli, professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Epstein, diretor do Advanced Reasoning Fórum no Novo México, Estados Unidos, também escreveram em conjunto a obra Computabilidade, funções computáveis, lógica e os fundamentos da matemática, que em 2007 foi um dos ganhadores do Prêmio Jabuti, na categoria Ciência Exatas, Tecnologia e Informática.

Os dois livros são produtos do Projeto Temático “Consequência lógica e combinação de lógicas – Fundamentos e aplicações eficientes”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Carnielli. De acordo com o professor, Pensamento crítico se baseou na obra Critical thinking (2001), escrita por Epstein com sua colaboração, que se tornou um best-seller nos Estados Unidos. A colaboração entre os dois autores é intensa há mais de 25 anos.

Segundo Carnielli, um dos diferenciais da obra é abordar o pensamento crítico de maneira fundamentada, diferentemente de outras obras que tratam o tema, em geral, como retórica e técnica de argumentação, sem base sólida na lógica.

“Nosso livro é um guia da arte de pensar criticamente a partir de bases lógicas. Ele preenche uma lacuna, uma vez que em línguas latinas não há praticamente nada sobre o assunto e, mesmo nos Estados Unidos, não há um livro que trate do pensamento crítico de maneira fundamentada, sistemática e ao mesmo tempo voltada para o grande público”, disse Carnielli à Agência FAPESP.

Segundo ele, o livro é dirigido a um público amplo com o objetivo de contribuir com o acesso à cidadania. “Da mesma forma que falamos em exclusão digital, podemos falar hoje em exclusão racional, ou exclusão argumentativa. Se a pessoa não tem acesso às bases da boa argumentação, será facilmente enganada”, disse.

Carnielli indica como um dos destaques da obra o fato de sua análise não se limitar a argumentos válidos ou inválidos, mas se estender também às definições de argumentos fortes e fracos.

“Apresentamos, de forma sistematizada, uma teoria da argumentação com bases sólidas na lógica contemporânea, passando também pela teoria clássica da argumentação, partindo de Aristóteles, com bases claras e simples”, explicou.

Ao aproximar argumentação e lógica, a obra adquire uma grande amplitude de aplicações práticas, úteis para vestibulares, concursos públicos, exames de todo tipo e práticas profissionais de jornalistas, professores, advogados, juízes, políticos, médicos e cientistas, por exemplo. “O livro pode ser utilizado por um público que vai de estudantes de colégios a parlamentares”, disse.

Jiu-jitsu da argumentação

O uso de exemplos cotidianos e de ilustrações bem-humoradas (incluindo diversas tiras) são destaques da obra que contribuem para aumentar a proximidade do pensamento crítico com a realidade dos leitores. “Embora tenhamos mantido a estrutura da edição norte-americana, a versão brasileira foi completamente refeita, com o uso de exemplos do cenário público nacional, incluindo política, televisão, jornalismo e cartoons”, disse Carnielli.

O livro é dividido em quatro partes principais: “As bases fundamentais”, “A estrutura dos argumentos”, “Como evitar os maus argumentos” e “Argumentos com base na experiência”.

A primeira parte trata de definir o que é o pensamento crítico, o que são frases vagas e ambíguas, o que são bons argumentos, quais os princípios da discussão racional, os critérios básicos para rejeitar ou aceitar afirmações e a diferença entre plausibilidade e verdade.

A segunda parte explica o que são as afirmações compostas, os argumentos complexos e as generalidades. Já a terceira parte ensina a detectar maus argumentos: afirmações ocultas, apelos emocionais e falácias estruturais ou falácias de conteúdo.

A quarta parte, além de fazer um inventário de falácias, devidamente classificadas, ensina a boa utilização de analogias e generalizações, entre outras. Um dos capítulos finais é reservado aos elementos da lógica propriamente dita.

“Podemos dizer que se trata aqui de um ‘jiu-jitsu da argumentação’. A ideia é instrumentalizar o leitor para se defender das falácias. Nas duas últimas partes tratamos de mostrar, por exemplo, como enganar com números e estatísticas, como usar a falsa precisão e falsos positivos e como deturpar gráficos e médias. Fazemos também uma relação das falácias famosas – incluindo a lista negra das falácias mais perigosas”, explicou o professor da Unicamp.

O livro levou cerca de sete anos para ser feito. “Escrever em linguagem simples é mais difícil e demorado do que se expressar por fórmulas matemáticas. Mas isso era necessário para que o livro fosse acessível e cumprisse sua missão”, disse.

Segundo Carnielli, o pensamento crítico traz grandes vantagens competitivas no mundo contemporâneo, no qual todos são submetidos a pressões de argumentos falaciosos que inundam a internet, a publicidade e o jornalismo, por exemplo. Além disso, ele garante uma orientação racional para que se possa tomar posição sobre os debates sociais polêmicos, que passam por temas como aborto, criacionismo ou direitos humanos.

“Todos esses temas estão presentes no livro. O conhecimento da boa argumentação permite que tomemos decisões melhores e que possamos lutar por nossos direitos em todos os campos. Podemos usar o pensamento crítico para avaliar e-mails maliciosos, boatos e notícias falsas, ou para desmascarar, sob um discurso aparentemente coerente, a superstição e o obscurantismo”, destacou.

* Pensamento crítico – O poder da lógica e da argumentação
Autores: Walter Carnielli e Richard Epstein
Lançamento: 2009
Preço: R$ 34
Mais informações: http://www.livrariacultura.com.br

>Preferência desconfiada

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Agência FAPESP, 17/8/2009

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Vinte anos depois de ter sido restabelecida no Brasil, a democracia é o regime político preferido por mais de dois terços da população brasileira. Um paradoxo, no entanto, aponta para níveis elevados de desconfiança dos cidadãos frente aos órgãos políticos, percepção que está associada com os “déficits de funcionamento das instituições democráticas no país”.

Essa é uma das conclusões de um trabalho de pesquisa desenvolvido por José Álvaro Moisés, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), com base em dados de quatro pesquisas nacionais de opinião coordenadas por ele em 1989, 1990, 1993 e 2006.

No âmbito de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP, o trabalho analisou os significados atribuídos ao conceito de democracia na visão de cerca de 9 mil cidadãos brasileiros, que responderam à pergunta “Para você, o que é a democracia?”, incluída em questionários realizados ao longo desses 17 anos. O Projeto Temático “A desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas” foi iniciado em 2005 e está em andamento.

“Diferentemente de outros períodos da história, a preferência dos brasileiros pela democracia é hoje majoritária e sua adesão ao regime democrático é validada pela rejeição de mais de dois terços do público a alternativas antidemocráticas, como a volta dos militares ao poder ou o estabelecimento de um sistema de partido único”, disse Moisés.

“Mas a maioria dos brasileiros ainda desconfia das instituições democráticas e, em especial, dos partidos políticos, do Congresso Nacional, do sistema de leis e do Judiciário. Os índices mais altos de confiança se referem a poucas instituições públicas e privadas baseadas em estruturas hierárquicas, como a igreja e as forças armadas”, apontou.

No estudo, as respostas espontâneas dos entrevistados sobre o significado da democracia foram recodificadas pelo pesquisador levando em conta três dimensões do conceito de democracia: “liberdades”, “procedimentos institucionais” e “atendimento social”, sendo que a primeira incluiu menções às liberdades políticas, direitos individuais, liberdade de organização e de expressão, liberdade de participação e direito de ir e vir.

O conceito “Procedimentos institucionais” incluiu variáveis como direito de voto, eleições livres, regra de maioria, representação política, acesso à justiça e fiscalização de governos, enquanto “dimensão social”, por sua vez, reuniu igualdade social, acesso a serviços de saúde, educação, habitação, emprego, salários justos e desenvolvimento econômico.

Os resultados do estudo mostraram que os brasileiros associam a democracia majoritariamente com as noções de “liberdade” e de “procedimentos institucionais”.
“Diferentemente das suposições dos céticos e de parte da literatura, a maior parte dos brasileiros consultados foi capaz de definir adequadamente a democracia em termos que envolvem duas das mais importantes dimensões que qualificam o processo democrático: o princípio de liberdade e os procedimentos e estruturas institucionais. Mas a dimensão social, por outro lado, teve pouco impacto nos resultados”, observou Moisés.

Liberdades e desempenho

Ao longo do tempo, segundo o pesquisador, a democracia foi associada com o seu significado político, tanto a uma perspectiva caracterizada pelas liberdades como a outra de natureza prática determinada pelo desempenho das instituições.
“Isolados, esses dois conceitos podem dizer pouco, mas juntos definem uma visão razoavelmente sofisticada do processo democrático”, complementa Moisés, que também é diretor científico do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP.
De acordo com ele, levando-se em conta o peso que as desigualdades sociais e econômicas têm para a maior parte da população brasileira, surpreende o fato de a alternativa que recebeu a menor taxa de menções dos entrevistados ter sido à que se refere à dimensão social: o percentual dos que definiram a democracia dessa maneira foi inferior a 6% em 1989 e menos de 10% em 2006.

“Em 2006, apenas oito em cada cem brasileiros definiram a democracia em termos de fins sociais, o que coloca em questão a hipótese segundo a qual as pessoas comuns preferem a democracia porque identificam esse regime apenas com o atendimento de necessidades básicas. Pelo contrário, as análises mostram que os indivíduos definem preferencialmente a democracia em termos de princípios, conteúdos e procedimentos”, explicou.

Na literatura acadêmica o significado mais usual da democracia se refere “aos procedimentos e às instituições do sistema democrático, em especial, aos mecanismos de escolha de governos por meio do voto”.

Existem, no entanto, outras perspectivas, segundo o estudo, que ampliam a abrangência do conceito, incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da democracia como também aos resultados esperados no terreno da economia e da sociedade. “Vários autores definem a democracia, por exemplo, em termos de competição, participação e contestação pacífica do poder”, disse.

Outro dado relevante apontado pelo trabalho é que o volume de brasileiros incapazes de definir a democracia diminuiu ao longo do tempo: de cerca de 46% em 1989 para menos de 30% em 2006. “O número de entrevistados que respondeu de modo inconsistente caiu de quase cinco em cada cem pessoas em 1989 para menos de três em 2006”, disse.

Em outras palavras, em 2006, último ano do período analisado pelo pesquisador, depois de o regime democrático ter completado mais de duas décadas de existência no país, 70% dos entrevistados brasileiros foram capazes de oferecer respostas consistentes sobre o significado da democracia. “Essa é uma impressionante proporção somente comparável à encontrada em países de democracia consolidada e em países do leste europeu”, destacou Moisés.

O trabalho será publicado em um livro que está sendo organizado pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e pelo Senado Federal, entidades que organizaram, em 2008, o 2º Seminário Internacional Estudos sobre o Legislativo: 20 anos da Constituição, que contou com a participação de Moisés.

>Mídias digitais no exercício da cidadania

>
Agência FAPESP

Especiais
Mídias digitais no exercício da cidadania

24/8/2009

Por Jussara Mangini

Uma equipe de profissionais de várias áreas da computação está desenvolvendo ferramentas para ajudar governos a implementar o conceito de crossmedia (uso cruzado de múltiplos meios de comunicação) em serviços eletrônicos de atendimento ao público, de modo a ampliar e facilitar a interação com os cidadãos.

Coordenado pela professora Lucia Vilela Leite Filgueiras, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o Projeto X-Gov foi criado em outubro de 2007 no âmbito do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research. Tem como proposta facilitar o processo de produção de aplicações de mídia cruzada pelo gestor público, para que ele desenvolva serviços mais rapidamente e se beneficie das novas tecnologias.

“Acreditamos que isso será melhor para o cidadão porque a diversidade de mídias dá maior alcance e disponibilidade no acesso ao governo. Sabemos que é difícil para o gestor público criar um serviço que use de forma integrada as várias mídias. Por isso, estamos desenvolvendo um software que facilitará esse processo”, explicou Lucia à Agência FAPESP.

Embora bastante usado na publicidade e em jogos, na esfera governamental os pesquisadores não viram ainda nenhuma outra abordagem semelhante, nem no Brasil nem no exterior. De acordo com a coordenadora do projeto, o trabalho está atento à maneira como as novas gerações, mais acostumadas com as mídias digitais, vão querer se relacionar com o governo e exercitar sua cidadania nos próximos anos.

“Essa geração nativa digital – que já nasceu com celular, televisão e internet – acha muito natural trabalhar com tudo isso ao mesmo tempo. Desejamos ajudar os gestores públicos a fazer um governo eletrônico para essa geração”, disse.

Com as novas tecnologias pode-se, por exemplo, mandar uma fotografia pelo celular para mostrar que uma obra está sendo mal feita ou fazer denúncias de desrespeito às leis. Da mesma forma, órgãos públicos podem substituir cartas ou mesmo o e-mail por mensagens de celular (SMS) para notificar as pessoas mais rapidamente sobre o andamento de determinados processos.

“O governo está começando a usar essas mídias, mas ainda de forma não integrada e com muito esforço, porque cada sistema tem que desenvolver tudo de novo. Uma prefeitura, por exemplo, tem que treinar um técnico de informática no desenvolvimento de software para celular, SMS, TV digital, etc. Queremos facilitar esse processo”, indicou Lucia.

O Projeto X-Gov permitirá transições entre mídias: e-mail, SMS, TV digital, web, códigos de barras bidimensionais, click to call e outros. A ideia é que o link entre celular e TV possibilite que um determinado conteúdo acessado por celular – um vídeo de instruções, por exemplo – seja exibido também na televisão, sem prejuízo ao que estava acontecendo no celular.

“Já a transição click to call possibilitará ao cidadão que estiver navegando pelo website solicitar ajuda via telefone, apenas clicando em um botão do navegador que, automaticamente, realizará uma ligação para o usuário”, disse Lucia.

No desenvolvimento do servidor que faz toda a orquestração dos usuários no crossmedia, os pesquisadores estão criando uma linguagem de programação específica e trabalhando na comunicação entre o sistema e o gestor público, para facilitar que esse crie o plano de seu serviço.

Processo de criação

Segundo a professora da Poli, uma das grandes vantagens para o gestor público é que no X-Gov a questão de compatibilidade foi muito bem resolvida, usando-se arquitetura de serviços web, que é um padrão bem aceito no governo e que dá muita flexibilidade na integração com os sistemas atuais.

Esse tipo de software é chamado de framework (arcabouço) e serve como um esqueleto sobre o qual os desenvolvedores do governo criarão seus projetos.

“Como não há serviços crossmedia disponíveis no governo para análise, o arcabouço está sendo construído a partir de sucessivas provas de conceito, cada uma focada em uma funcionalidade específica, de modo que cada ciclo contribua para a evolução da arquitetura final”, explicou Lucia.

Para chegar a isso, a equipe cria um serviço fictício, estuda como esse serviço funciona e congela uma parte dele no esqueleto. São os chamados padrões de tarefa – uma abstração de algo que todo mundo faz. Por exemplo, em comércio eletrônico um padrão de tarefa é o uso de um carrinho de compras. Todo site que tem um funciona mais ou menos do mesmo jeito.

No governo eletrônico também é assim. Foram definidos 18 padrões de tarefa e para cada um deles a equipe do X-Gov está criando softwares para três meios de comunicação: web, celular e TV digital. Isso significa que serão orquestrados em torno de 54 componentes. A cada semana, a equipe tem acrescentado cerca de três novos componentes ao conjunto.

A previsão é que o framework esteja funcionado até outubro, com os componentes dos blocos de construção das tarefas de governo e das transições entre mídias. A partir daí a equipe deseja realizar uma etapa de testes com usuários.

A implementação, na prática, dependerá da aceitação e interesse dos gestores públicos. A equipe do X-Gov estima que o uso será muito natural para os “nativos digitais”.

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Não é notável o contraste do tom entre esse artigo e a entrevista com o Martín-Barbero anteriormente postada? É impressionante a forma como a idéia de “cidadania” é simplificada, neste texto, a ponto de ser entendida como relação de comunicação, geralmente unidirecional, com o Estado.

>Jesús Martín-Barbero: Comunidades falsificadas (FSP, 23/08/2009)

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Comunidades falsificadas

Filósofo espanhol diz que a utopia de democracia direta e igualdade total na internet é mentirosa e ameaça minar as práticas de representação e participação políticas reais

RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO

Com a emergência de gigantescas redes sociais virtuais, como o Facebook, a internet configura a sua utopia máxima: todos somos iguais. E, se somos todos iguais, não precisamos mais de eleições, pois não precisamos ser representados. Todos nos representamos no espaço democrático da internet.

O raciocínio é tentador, mas, para o filósofo espanhol Jesús Martín-Barbero, é mentiroso -e temerário. “Nunca fomos nem seremos iguais”, ele diz, e na vida cotidiana continuaremos dependendo de mediações para dar conta da complexidade do mundo, seja a mediação de partidos políticos ou a de associações de cidadãos.

Martín-Barbero vê a internet como um dos fatores de desestabilização do mundo hoje, que não pode ser pensado por disciplinas estanques. Mundo, aliás, tomado pela incerteza e pelo medo, que nos faz sonhar com a relação não mediada das comunidades pré-modernas. O filósofo conversou com a Folha durante visita a São Paulo, na semana passada.

FOLHA – Desde 1987, quando o sr. lançou sua obra de maior repercussão [“Dos Meios às Mediações”, ed. UFRJ], até hoje, o que mudou na comunicação e nas ciências sociais?

JESÚS MARTÍN-BARBERO – Estamos em um momento de pensar o conceito de conhecimento como certeza e incerteza. A incerteza intelectual dos modernos se vê hoje atravessada por outra sensação: o medo. A sociedade vive uma espécie de volta ao medo dos pré-modernos, que era o medo da natureza, da insegurança, de uma tormenta, um terremoto. Agora vivemos em uma espécie de mundo que nos atemoriza e desconcerta.
O medo vem, por exemplo, da ecologia: o que vai acontecer com o planeta, o nível do mar vai subir? A natureza voltou a ser um problema hoje, como aos pré-modernos. Depois vem o tema da violência urbana, a insegurança urbana. Por toda cidade que passo, de 20 mil a 20 milhões de habitantes, há esse medo.
Como terceira insegurança, que nos afeta cada vez mais, aparece a vida laboral. Do mundo do trabalho, que foi a grande instituição moderna que deu segurança às pessoas, vamos para um mundo em que o sistema necessita cada vez menos de mão de obra. O mundo do trabalho se desconfigurou como mundo de produção do sentido da vida.

FOLHA – Nesse mundo de incertezas, como se comporta a noção de comunidade? Como ela aparece em redes virtuais como o Facebook?

MARTÍN-BARBERO – Acho que ainda não temos palavras para nomear esse fenômeno. Falamos em rede social, mas o que significa social aí? Apenas uma rede de muita gente. Não necessariamente em sociedade. Há diferenças entre o que foi a comunidade pré-moderna e o que foi o conceito de sociedade moderna.
A comunidade era orgânica, havia muitas ligações entre os seus membros, religiosas, laborais. Renato Ortiz [sociólogo e professor na Universidade Estadual de Campinas] faz uma crítica muito bem feita a um livro famoso de [Benedict] Anderson, que diz que a nação é como uma comunidade imaginada [“Comunidades Imaginadas”, ed. Companhia das Letras], principalmente por jornais e a literatura nacional.
É verdade, são fundamentais para a criação da ideia de nação. Mas Renato Ortiz diz que há muito de verdade e muito de mentira nisso. O que acontece é que, quando a sociedade moderna se viu realmente configurada pelo Estado, pela burocracia do Estado, começou a sonhar novamente com a comunidade. Era uma comunidade imaginada no sentido de querer ter algo de comunidade, e não só de sociedade anônima.
Falar de comunidade para falar da nação moderna é complicado, porque se romperam todos os laços da comunidade pré-moderna. Eu diria que há aí um ponto importante, considerando que no conceito de comunidade há sempre a tentação de devolver-nos a uma certa relação não mediada, presencial. Essa é um pouco a utopia da internet.

FOLHA – Qual utopia?

MARTÍN-BARBERO – A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E portanto a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo.

FOLHA – As comunidades virtuais da atualidade têm pouco das comunidades originais, então?

MARTÍN-BARBERO – Quando começamos a falar de comunidades de leitores, de espectadores de novela, estamos falando de algo que é certo. Uma comunidade formada por gente que gosta do mesmo em um mesmo momento. Se a energia elétrica acaba, toda essa gente cai.
É uma comunidade invisível, mas é real, tão real que é sondável, podemos pesquisá-la e ver como é heterogênea. Comunidade não é homogeneidade. Nesse sentido é muito difícil proibir o uso da expressão “comunidade” para o Facebook. Mas o que me ocorre ao usarmos o termo “comunidade” para esses sites é que nunca a sociedade moderna foi tão distinta da comunidade originária.
O sentido do que entendemos por sociedade mudou. Veja os vizinhos, que eram uma forma de sobrevivência da velha comunidade na sociedade moderna. Hoje, nos apartamentos, ninguém sabe nada do outro. Outra chave: o parentesco. A família extensa sumiu. Hoje, uma família é um casal. O que temos chamado de sociedade está mudando. Estamos numa situação em que o velho morreu e o novo não tem figura ainda, que é a ideia de crise de [Antonio] Gramsci.

FOLHA – A proposta de sites como o Facebook não é exatamente de fazer essa reaproximação?

MARTÍN-BARBERO – Creio que há pessoas no Facebook que, pela primeira vez em suas vidas, se sentem em sociedade. É uma questão importante, mas não podemos esquecer da maneira como nos relacionamos com o Facebook.
Um inglês que passa boa parte de sua vida só, em um pub, com sua grande cerveja, desfruta muito desse modo de vida. Nós, latinos, desfrutamos mais estando juntos.
Evidentemente a relação com o Facebook é distinta. O site é real, mas a maneira como nos relacionamos, como o usamos, é muito distinta. O Facebook não nos iguala. Nos põe em contato, mas nada mais.

FOLHA – De que maneira essas questões devem transformar os meios de comunicação?

MARTÍN-BARBERO – Não sei para onde vamos, mas em muito poucos anos a televisão não terá nada a ver com o que temos hoje. A televisão por programação horária é herdeira do rádio, que foi o primeiro meio que começou a nos organizar a vida cotidiana. Na Idade Média, o campanário era que dizia qual era a hora de levantar, de comer, de trabalhar, de dormir. A rádio foi isso.
A rádio nos foi pautando a vida cotidiana. O noticiário, a radionovela, os espaços de publicidade… Essa relação que os meios tiveram com a vida cotidiana, organizada em função do tempo, a manhã, a tarde, a noite, o fim de semana, as férias, isso vai acabar. Teremos uma oferta de conteúdos. A internet vai reconfigurar a TV imitadora da rádio, a rádio imitadora da imprensa escrita… Creio que vamos para uma mudança muito profunda, porque o que entra em crise é o papel de organização da temporalidade.

FOLHA – A ascensão da internet e da oferta de informação por conteúdos suscita outra questão, ligada à formação do cidadão. Não corremos o risco de que um fã de séries de TV, por exemplo, só busque notícias sobre o tema, alienando-se do que acontece em seu país?

MARTÍN-BARBERO – Antigamente, todos líamos, escutávamos e víamos o mesmo. Isso para mim era muito importante. De certa forma, obrigava que os ricos se informassem do que gostavam os pobres -sempre defendi isso como um aspecto de formação de nação.
Quando lançaram os primeiros aparelhos de gravação de vídeo, disseram-me que isso era uma libertação: as pessoas poderiam selecionar conteúdos.
Mas esse debate já não é possível hoje. Passamos para um entorno comunicativo, as mudanças não são pontuais como antes. A questão não é se eu abro ou não abro o correio. Não quero ser catastrofista, mas o tanto que a internet nos permite ver é proporcional ao tanto que sou visto. Em quanto mais páginas entro, mais gente me vê. É outra relação.
Temos acesso a tantas coisas e tantas línguas que já não sabemos o que queremos. Hoje há tanta informação que é muito difícil saber o que é importante. Mas o problema para mim não é o que vão fazer os meios, mas o que fará o sistema educacional para formar pessoas com capacidade de serem interlocutoras desse entorno; não de um jornal, uma rádio, uma TV, mas desse entorno de informação em que tudo está mesclado. Há muitas coisas a repensar radicalmente.