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Como plantar água (Folha de S.Paulo)

JC, 5124, 25 de fevereiro de 2015

Governo reage à crise hídrica sobretudo com obras, mas deveria também mudar mentalidade em relação à preservação ambiental, diz o editorial da Folha de S.Paulo

O governo do Estado de São Paulo deixa escapar uma boa oportunidade de trocar a moldura com que enquadra a questão do abastecimento de água na região metropolitana da capital paulista. Mergulhado na crise e no curto prazo, perde de vista as providências de longo alcance que deveria tomar.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/209505-como-plantar-agua.shtml

(Folha de S.Paulo)

Nada cai do céu (Folha de S.Paulo)

JC, 5124, 25 de fevereiro de 2015

Carlos Magno

Com ou sem chuva à vista, a população precisa entender que a água pode –e vai– acabar se não forem tomadas medidas preventivas

O racionamento a que pode ser submetida boa parte da população paulistana –e de outras cidades e Estados brasileiros– poderia ser evitado? A questão é muito mais complexa do que possa parecer e jamais deveria ser levada ao campo do flá-flu político. Afinal, todos que vivemos nessas áreas já somos e seremos ainda mais afetados.

O calor bate recordes no mundo. Dados recentes da Nasa e da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, sigla para o nome em inglês do órgão) apontam 2014 como o ano mais quente da história. A temperatura média no solo e nos oceanos aumentou 0,69 graus, superando recordes anteriores. Parece pouco, mas não é.

A cada 20 ou 30 anos, em média, o oceano Pacífico, a maior massa de água do planeta, sofre variações de temperatura, ficando mais quente ou mais frio do que o normal. Essas oscilações de longo período interferem nos ventos, na chuva e na temperatura em muitas regiões do globo. No Brasil, diversos Estados já sentem os impactos dessa alteração climática.

O verão passado foi um dos mais secos e quentes da história, não apenas na região da capital paulista e seu entorno mas também em grande parte do Sudeste, especialmente em Minas Gerais e no vale do Piracicaba, de onde vem a maior parte da água que abastece a região metropolitana de São Paulo, por meio do sistema Cantareira. Áreas dessa região chegaram a registrar anomalias de até 5 graus nas temperaturas máximas em janeiro de 2014.

Com pouca água e maior consumo, devido ao calor, os rios e represas que abastecem o sistema caíram aos menores níveis já registrados. Em São Paulo, por exemplo, desde 2012 o Cantareira vem sofrendo com chuva abaixo do normal. Nem mesmo as chuvas de fevereiro, que elevaram o nível dos reservatórios, são ainda suficientes para mudar o quadro de seca.

E as previsões não são as melhores. Segundo estudo da Climatempo, somente no verão de 2017 é que se poderá esperar por uma chuva normal ou acima da média, que vá colaborar para uma consistente recuperação do sistema.

Reverter a situação é um desafio. Trata-se de algo muito mais educativo do que meteorológico ou de obras faraônicas –que, se agora são necessárias, deveriam ter sido planejadas há pelo menos dez anos.

Desde o final de 2013, meteorologistas têm alertado sobre esse cenário crítico. Já se sabe que o quadro não é favorável, e há poucas chances de mudança em curto prazo.

Porém, em um planeta onde 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos é ocupado por água, o ser humano ainda parece acreditar que ela nunca irá acabar.

Com ou sem chuva à vista, a população precisa entender que a água pode –e vai– acabar se não forem tomadas medidas preventivas. A conscientização sobre o consumo deve ser permanente.

Optar pelo reúso pode ser uma das soluções. Aliás, a ideia de cobrar uma sobretaxa para aqueles que consumirem mais água do que o normal nesse período está entre as boas medidas já tomadas –tão boa quanto os descontos anunciados desde o ano passado para quem economiza água.

Em São Paulo, a despoluição dos rios Tietê e Pinheiros também é um caminho. Mas esse parece ser um cenário utópico, sobretudo se lembrarmos que a ideia é citada há décadas pelo poder público.

O que nossas autoridades precisam entender é que não dá para passar uma vida acreditando na ajuda divina. É preciso arregaçar as mangas e se preparar. Há ainda muito a fazer e a investir. Porque nada cai do céu –nem mesmo a água tem caído ultimamente.

CARLOS MAGNO, 53, é meteorologista e presidente da Climatempo Meteorologia

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Previsão do tempo no Sudeste é uma dor de cabeça para cientistas (Folha de S.Paulo)

15/02/2015

Peculiaridades do clima regional tornam difícil saber como ficará o nível do Cantareira mesmo no curto prazo

Área está sujeita à influência de vários fatores complexos, como umidade da Amazônia e frentes frias da Antártida

REINALDO JOSÉ LOPES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

LUCAS VETTORAZZO

DO RIO

Se a sucessão de boas e más notícias sobre a chuva que abastece os reservatórios de São Paulo parece uma confusão só, não se preocupe: previsões climáticas sobre o Sudeste brasileiro podem confundir até especialistas.

Isso acontece porque a região mais populosa do Brasil ocupa uma área do globo terrestre que recebe todo tipo de influência complexa, desde a umidade oriunda da Amazônia até as frentes frias “sopradas” da Antártida.

Resultado: um nível de incerteza acima do normal numa seara que, por natureza, já é bastante incerta.

“Isso vale principalmente para prever o clima, ou seja, as variações de médio e longo prazo, mas também é verdade, ainda que em grau bem menor, para as previsões de tempo, ou seja, na escala de dias”, diz Tercio Ambrizzi, climatologista da USP.

Portanto, não é que o tempo seja mais instável na área do sistema Cantareira, o mais castigado pela atual crise e agora em ligeira recuperação. O que ocorre é que a região que abastece o Cantareira às vezes pode ficar mais sujeita a variações aleatórias de um sistema climático naturalmente complicado.

TEORIA DO CAOS

“Em escalas maiores do que 15 dias, faz décadas que está comprovado que o clima é caótico”, diz Gilvan Sampaio de Oliveira, meteorologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

“Aliás, foi a partir daí que surgiu a teoria do caos”, afirma ele, referindo-se à ideia de que, em certos fenômenos complexos, pequenas mudanças no começo podem levar a alterações muito maiores e imprevisíveis no fim.

Em regiões tropicais, como é o caso de quase todo o território do Brasil, isso é ainda mais verdadeiro, porque o calor injeta mais energia na atmosfera, fazendo com que alterações do tempo aconteçam com mais velocidade e imprevisibilidade.

Além do calor, porém, o Sudeste também tem a desvantagem de que as variações climáticas por aqui dependem de fatores não oceânicos.

“Quando o clima de uma região depende do oceano, é bem mais fácil prevê-lo porque as variações oceânicas acontecem de forma bem mais lenta do que as da atmosfera”, explica Oliveira. “É o caso do semiárido nordestino, ligado basicamente às condições do oceano Pacífico e do Atlântico tropical. Se é ano de El Niño, com o Pacífico mais aquecido, a tendência é seca no Nordeste.”

Já as chuvas do Sudeste, em especial as de verão, estão ligadas principalmente à ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), formada pela umidade da Amazônia, que se espalha numa grande faixa que atravessa o Brasil Central, e pelas frentes frias antárticas (veja infográfico).

“Quando essa zona se fortalece você pode ter chuva constante por três, quatro, cinco dias, e é bem comum isso acontecer no Carnaval, como inclusive deve acontecer neste ano”, diz Oliveira.

Em 2014 e, em menor grau, também neste ano, contudo, a ZCAS não atuou como deveria, com um bloqueio atmosférico impedindo que as chuvas de verão atingissem o Sudeste (e o Cantareira) em cheio. As chuvas constantes e bem distribuídas voltaram apenas nas últimas semanas, porque a ZCAS parece ter se “ajeitado” de novo.

Mesmo nesse cenário, isso não significa que as chuvas de verão cessem totalmente. Com o calor típico da estação, há um ciclo rápido de evaporação e chuva –mas é um padrão local, o que explica tempestades localizadas e inundações na Grande São Paulo, sem que essas precipitações façam cócegas no Cantareira.

Há ainda outro agravante, que talvez ajude a entender a fama de imprevisível da área. Até pouco tempo atrás, não havia estações pluviométricas confiáveis para medir o volume de chuva na região do Cantareira, conta José Marengo, climatologista do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

“Os pluviômetros mais próximos eram os de Campos do Jordão. Faltam registros históricos. Não podemos intercalar com os dados de Campos do Jordão porque é outro regime chuva.”

The West without Water: What Can Past Droughts Tell Us About Tomorrow? (Origins)

vol. 8, issue 6 – march 2015

by  B. LYNN INGRAM

Editor’s Note:
Almost as soon as European settlers arrived in California they began advertising the place as the American Garden of Eden. And just as quickly people realized it was a garden with a very precarious water supply. Currently, California is in the middle of a years-long drought and the water crisis is threatening the region’s vital agricultural economy, not to mention the quality of life of its people, plants, and animals. This month B. Lynn Ingram, Professor of Geography and Earth & Planetary Science, examines how a deep historical account of California’s water patterns can help us plan for the future.


The state of California is beginning its fourth year of a serious drought, with no end in sight.

The majority of water in the western United States is delivered by winter storms from the Pacific, and over the past year, those storms were largely blocked by an enormous ridge of high pressure. A relatively wet December has given way to the driest January on record, and currently over 90 percent of California is in severe to exceptional drought.

The southwestern states are also experiencing moderate to severe drought, and this comes on the heels of a very dry decade. This long drought has crept up on the region, partly because droughts encroach slowly and they lack the visual and visceral effects of other, more immediate natural disasters such as earthquakes, floods, or tsunamis.

Meteorologists define drought as an abnormally long period of insufficient rainfall adversely affecting growing or living conditions. But this bland definition belies the devastation wrought by these natural disasters. Drought can lead to failed crops, desiccated landscapes, wildfires, dehydrated livestock, and in severe cases, water wars, famine, and mass migration.

Although the situation in the West has not yet reached such epic proportions, the fear is that if it continues much longer, it could.

Lake Powell, in 2009, showing a white calcium carbonate “bathtub ring” exposed after a decade of drought lowered the level of the reservoir to 60 percent of its capacity. (Photo courtesy of U.S. Bureau of Reclamation.)

In California, reservoirs are currently at only 38 percent of capacity, and the snowpack is only 25 percent of normal for late January. Elsewhere in the Southwest, Lake Powell, the largest reservoir on the Colorado River, is at 44 percent of capacity.

The amount of water transported through irrigation systems to California’s Central Valley—the most productive agricultural region in the world—has been reduced to only 20 percent of customary quantities, forcing farmers to deepen groundwater wells and drill new ones.

Over the past year, 410,000 acres have been fallowed in this vast agricultural region that provides 30 percent of all the produce grown in the United States and virtually all of the world’s almonds, walnuts, and pistachios. As California dries up, food prices might well rise across the nation.

The question on everyone’s mind is when will this dry period finally come to an end and rainfall return to normal—and just what is normal for the U.S. Southwest when it comes to rain?

And with a growing and more urban population and an ever-changing climate, will we ever be free from the threat of long dry periods, with their disruptive effects on food production and the plants and animals that rely on water to survive?

A glance into the history of the Southwest reminds us that the climate and rainfall patterns have varied tremendously over time, with stretches of drought many decades longer than the one we are experiencing now.

Long dry stretches during the Medieval centuries (especially between 900 and 1350 CE) had dramatic effects on the native peoples of the Southwest (the ancestral Pueblo, Hohokam, and Sinagua), including civilizational collapse, violence, malnutrition, and forced social dislocation.

These earlier Americans are a warning to us.

The past 150 years, which we have used as our baseline for assumptions about rainfall patterns, water availability for agriculture, water laws, and infrastructure planning, may in fact be an unusually wet period.

Let’s look at the past few hundred years first and then explore the region’s climate in geological time.

Recent Droughts and the Arid Regions of the United States

John Wesley Powell stands as one of the most extraordinary scientists and explorers in America in the second half of the 19th century.

In 1869 he became the first white man to lead an expedition down the Colorado River and through the Grand Canyon, a feat all the more remarkable considering Powell had lost most of his right arm during the Civil War.

Ten years later, Powell published Report on the Lands of the Arid Regions of the United States, a careful assessment of the region’s capacity to be developed.

In it, Powell argued that very little of the West could sustain agriculture. In fact, his calculations suggested that even if all the water in western streams were harnessed, only a tiny fraction of the land could be irrigated.

Further, Powell believed that growth and development ought to be carefully planned and managed, and that boundaries drawn for new western states ought to follow watersheds to avoid inter-state fighting over precious water resources.

When Powell presented his findings to Congress, politicians howled. Powell found himself denounced by pro-development forces, including railroads and agricultural interests.

Prescient as Powell’s study has proved to be, it was almost entirely ignored at the time.

Instead, those development boosters responded to Powell’s data about the aridity of the west with a novel climatological theory: “Rain follows the plow.” They insisted that agriculture could cause the rains to fall, so like magic the more acres brought under cultivation the more rain farmers would enjoy.

The years surrounding the turn of the 20th century turned out to be unusually wet across much of the region. Hopeful pioneers continued to flock to the West, despite the visible signs of aridity.

They still do. The past century and a half in California and the West has been a period of steady population growth. And today the U.S. Southwest is the fastest-growing region in the United States (which itself is the world’s fourth-fastest-growing nation).

The Dirty Thirties and Beyond

The relatively wet period of the late nineteenth and early twentieth centuries gave way to drought in the late 1920s with the start of the Dust Bowl—now considered to be the United States’ worst climate tragedy.

The years between 1928 and 1939 were among the driest of the 20th century in the American West. This drought had particularly severe effects on California’s developing agricultural industry that were only mitigated by the extensive pumping of groundwater that eventually caused the ground surface in California’s Central Valley to drop by several feet.

Donner Lake, Sierra Nevada Range, California (Photo taken by B. Lynn Ingram).

In the 20th century, the single driest year (rivaling the 2013-2014 water year) was the drought of 1976-1977, extending across the entire state of California and into the Northwest, the Midwest, and the Canadian Prairie region north of Montana.

In California, precipitation levels dropped to less than a quarter of average. Reservoirs dropped to one-third their normal levels, and 7.5 million trees in the Sierra Nevada weakened by drought succumbed to insect related diseases, fueling massive wildfires. Snowfall was extremely sparse, forcing ski areas to close.

The following decade, another six-year drought occurred from 1987 to 1992, and while no single year was as severe as the drought of 1976-1977, the cumulative effects were ultimately more devastating. Annual precipitation attained only 50 percent of the 20th century average, with far-ranging impacts.

In the Sierra Nevada, water-stressed trees suffered widespread mortality from pine bark beetle infestations. Reduced stream flow caused major declines in fish populations, affecting commercial and recreational fisheries by lowering populations of Chinook salmon and striped bass.

By the fourth year of the drought, reservoir storage statewide was down 60 percent, causing a decline in hydroelectric power generation and the imposition of water restrictions including a decrease in agricultural water delivery by 75 percent.

Farmers relied more on groundwater, with private well owners deepening existing wells or drilling new ones. In the San Joaquin Valley, 11 million acre-feet more groundwater was extracted than could be replenished naturally, further lowering already low groundwater levels.

Measuring Droughts over Geological Time

As bad and worrisome as these more recent historical droughts in California and the West were, they pale in comparison to events uncovered in the geological record.

In recent years, earth scientists have been discovering that the climate and weather in the West over the past 100 to 150 years represents only a narrow part of the full range of climate in the region.

By peering deeper into Earth’s history—the past centuries and millennia—the frequency and magnitude of extreme climate events like drought can be better understood.

The evidence comes in various forms, such as mud from the bottom of lakes and ponds, microscopic organisms living in the oceans, bubbles frozen in glaciers, pencil-thin wood cores drilled from trees, and salts precipitating in dried-up lake bottoms.

A cut section of a Giant Sequoia trunk from Tuolumne Grove, Yosemite National Park, California, showing AD dates of fires (photo courtesy of Thomas Swetnam, Laboratory of Tree-Ring Research, University of Arizona).

One of the earliest records of past climate change comes from the rings of the long-lived Douglas fir. Trees are particularly effective recorders of climate because they respond every year to conditions of temperature and precipitation, responses recorded in the growth rings of their trunks.

In a landmark study during the early 1940s, a 600-year record of Colorado River flow using Douglas firs revealed several sustained periods of low water flow and these periods recurred with some regularity.

The reconstruction showed a particularly severe drought in the late 1500s, a drought lasting over a decade that has since shown up in multiple records from throughout the West.

These records also reveal that the driest single year over the past millennium (even drier than the parched 1976-1977 drought) occurred in 1580 CE. Trees across the West either had a narrow ring, or even a missing ring, that year.

Looking at an even broader picture, evidence from the past 10 millennia—a relatively warm era since the last Ice Age, which we call the Holocene—informs us that the severity of past extreme events (including droughts and floods) far exceeds those experienced over the past century and a half.

One of the longest dry periods for California and the West occurred during what is known as the mid-Holocene climatic optimum, a time when much of the earth experienced warmer than average conditions from about 4,500 to 7,500 years ago.

In the American West, there are numerous clues showing that this time period was drier than average for upwards of 1,400 years. These climate extremes caused significant human dislocations and forced native populations to migrate from the desert interiors of the West to the coastal regions.

The Tools for Uncovering Climate History

One of the most vivid clues for understanding the patterns of past drought in the West was revealed in Lake Tahoe toward the end of the Great Dust Bowl of the mid-1930s. At that time, Tahoe’s water level dropped fourteen inches, exposing a mysterious clustering of tree stumps sticking up from the water’s surface along the lake’s southern shore.

These trees attracted the attention of Samuel Harding, an engineering Professor from the University of California, Berkeley. Harding discovered that the trees were large, with trunks as wide as three feet in diameter, and appeared to be firmly rooted in the lake bottom.

Harding reasoned that the trees had grown in this location for a long time to attain such sizes, and since they were now submerged in over twelve feet of water, he surmised that at some time in the past the lake level had been much lower.

Frances Malamud-Roam, B. Lynn Ingram, and Christina Brady coring a small oxbow lake in the Sacramento Valley, California. (Photo taken by Anders Noren, University of Minnesota, LaCore curator.)

After collecting cores through their trunks, he counted up to 150 rings, concluding that it was a dry spell of over a century that caused the lake level to drop, allowing the trees to grow along the former shoreline.

Harding had to wait two decades before he could date this drought, after the invention of radiocarbon dating in the 1950s. Radiocarbon measurements of the outermost rings of the tree stumps showed that these trees died approximately 4,800 years ago.

Decades later, more evidence emerged from Lake Tahoe during another of California’s droughts in the late 1980s, when the lake’s surface dropped again, exposing even more tree stumps.

This time, it was an archaeologist, Susan Lindstrom, who noticed the tops of trees sticking out of the water along Tahoe’s southern shore. Donning scuba gear, Lindstrom was able to find fifteen submerged tree stumps that had escaped Harding’s attention, some measuring up to three and a half feet in diameter.

The radiocarbon dates from this much larger population of trees refined and extended the boundaries of the mid-Holocene drought, moving the beginning to as early as 6,290 years ago, and the ending to 4,840 years ago.

These stumps, located deeper in the lake, showed that the lake level had dropped by even more than Harding originally thought – by more than 20 feet. Lindstrom and other researchers have since located tree stumps in more places around the shores of Lake Tahoe and in other Sierran lakes.

Sediment core taken by Frances Malamud-Roam and B. Lynn Ingram from beneath San Francisco Bay, California. (Photo taken by B. Lynn Ingram.)

Geologists have also discovered more evidence from sediment cores taken from beneath lakes revealing the wide extent of this drought—across California and the Great Basin.

The archaeological records show that native populations migrated from the inland desert regions to the California coast at this time, likely in search of water and other resources during this prolonged drought.

Another dry millennium began about 3,000 years after the mid-Holocene drought ended. Evidence for this prolonged drought was found throughout California and the West.

One study, conducted in my laboratory at UC Berkeley, examined sediments accumulating beneath the San Francisco Bay estuary. These sediments contain information about precipitation over the entire drainage basin of the Sacramento and San Joaquin Rivers—an area that covers 40 percent of California.

Frances Malamud-Roam and Anders Noren coring marsh sediments adjacent to San Francisco Bay (Photo taken by B. Lynn Ingram)

Rivers draining the Sierra Nevada Range and Central Valley flow through San Francisco Bay and out the Golden Gate to the Pacific Ocean. In the Bay, fresh river water meets and mixes with the incoming ocean water, producing a range of salinity: fresh at the Delta, saline in the Central bay near the Golden Gate, and brackish in between.

Organisms growing in the Bay record the salinity in their shells, which then sink to the bottom and are preserved in the sediments. We took sediment cores from beneath the Bay and analyzed the chemistry of the fossil shells, allowing us to reconstruct past salinity, and therefore past river flow.

These studies showed that droughts lasting over a decade occurred regularly over the past two millennia, at intervals of 50 to 90 years. The cores also revealed a period of high salinity that began about 1,700 years ago and ending about 700 years ago, suggesting another prolonged drought.

We conducted a related study with Professor Roger Byrne in the Geography Department at UC Berkeley, coring the tidal marshlands surrounding the bay to assess the impact of this drought on this ecosystem.

These marshes have grown up around the edges of San Francisco Bay for the past 5,000 years or so, forming peat. The marsh peats contain fossil plants and chemical evidence for past periods of wetter and drier conditions in the watershed.

A drought in the watershed, if prolonged and severe, can cause higher salinity downstream in the estuary as the inflow of fresh water drops. In response, salt-tolerant species in the marshes expand further inland toward the Delta and the fresh water species retreat. Conversely, unusually wet winters generate fresher conditions in the estuary, leading to an expansion of freshwater-adapted species.

We analyzed the pollen and plant remains, carbon chemistry of the peats, and diatoms—the microscopic phytoplankton that grow in the marshes and produce tiny silica shells.

All of this evidence showed that the average freshwater inflow to San Francisco Bay was significantly lower than today’s levels for a thousand years, between 1,750 and 750 years ago.

The peak of this low-inflow interval, with freshwater flows 40 percent below average levels, occurred approximately 900 to 1,200 years ago, during a time when global temperatures were high, known as the Medieval Warm Period.

Mono Lake, showing calcium carbonate “tufa tower” formations that originally formed beneath the lake but are now exposed after the water level dropped. The eastern flank of the Sierra Nevada range is shown in the background. (Photo by D. J. DePaolo.)

Evidence for this drought was also discovered in an ancient lake situated east of the Sierra Nevada. Geography Professor Scott Stine analyzed the sedimentary sequences in Mono Lake, delineating patterns of alternately higher and lower lake levels for the past 4,000 years.

Mono Lake experienced an extended low stand that began about 1,600 years ago, dropping to an even lower level 700 to 1,200 years ago. During the 1980s drought, Stine also discovered large tree stumps submerged in Mono Lake.

Much like the tree stumps discovered in Lake Tahoe, these submerged trees indicated that at one time the lake was so small that its shoreline was several tens of feet lower than the present shoreline, when the trees now underwater could grow on dry ground. Stine went on to discover similar submerged tree stumps in lakes, marshes, and rivers throughout the central and southern Sierra Nevada Range.

By counting their growth rings, Stine determined that they had lived up to 160 years. Based on the amount the lake level dropped, he calculated that the average annual river flows in the region were only 40 to 60 percent of what they were in the late 20th century.

Radiocarbon dates of the outer growth layers of these tree stumps revealed that these trees clustered around two distinct periods, now known as the “Medieval Megadroughts”: CE 900 to 1100 and CE 1200 to 1350.

An ancient tree stump submerged in the West Walker River, eastern Sierra Nevada. (Photo courtesy of D. J. DePaolo.)

Across North America, tree-ring studies indicate that climate conditions over the past two millennia became steadily more variable (shifting between drier and wetter periods), with especially severe droughts between CE 900 and 1400.

These records show that over half the American West suffered severe drought between CE 1021 and CE 1051, and from CE 1130-1170, CE1240-1265 and CE 1360-1382.

The warm and dry conditions of the Medieval period spawned larger and more frequent wildfires, as recorded in the trunks of Giant sequoias—the massive redwoods growing in about 75 distinct groves along the mid-elevations of the western Sierra Nevada. These spectacular trees can live up to 3,200 years or more, and have exceeded 250 feet in height and 35 feet in diameter.

Thomas Swetnam, the current Director of the Laboratory of Tree Ring Research at the University of Arizona, discovered that the trees carry scars on their annual growth rings that indicate past fires in the region.

Swetnam sampled giant sequoias from five groves between Yosemite National Park and Sequoia National Park, far enough apart that individual fires could not have spread from one grove to the next. He dated the trees using ring-width patterns, and recorded the fire scars contained within annual rings.

His analysis reveals that during the Medieval period, from 1,200 to 700 years ago, an average of thirty-six fires burned every century.

During the centuries preceding the Medieval period (from about 1,500 to 1,200 years ago) and immediately following it (from about 700 years ago to the current century), the fire frequency was substantially lower, with an average of 21 fires per century.

The Human Costs of Droughts Then and Now

The archaeological record suggests that the extended periods of drought in the Medieval era caused severe hardship for both coastal and inland peoples— particularly the ancestral Pueblo communities—as dwindling resources increased disease, malnutrition, and warfare. Long inhabited sites were abandoned as the desperate populations wandered in search of new water sources.

Ancient pueblo cliff dwelling at Mesa Verde, southwestern Colorado. (Photo taken by B. Lynn Ingram)

Much of what archaeologists know about the ancestral Pueblo comes from pueblo and cliff dwellings from the four corners region, including Chaco Canyon in northwestern New Mexico, Mesa Verde in southwestern Colorado, and Canyon de Chelly in northeastern Arizona.

Chaco Canyon in New Mexico was the site of one of the most extensive of the ancestral Pueblo settlements. At its peak, during the 11th and early 12th centuries CE, Chaco Canyon had great pueblos the size of apartment blocks housing hundreds of residents in large, high-ceilinged rooms.

These settlements were supported by agriculture, allowing people to settle in one place year-round. Most of the farming depended on annual rains, supplemented by water from nearby streams and groundwater.

But over time, the climate became increasingly arid and unpredictable. The ancestral Pueblo farmers were forced to build an extensive system of diversion dams and canals, directing rainwater from the mesa tops to fields on the canyon floor, allowing them to expand the area of arable land.

The population in the four corners region swelled throughout the 11th and 12th centuries CE—but then collapsed.

Another ancient society, the Hohokam, lived in central Arizona near the confluence of Arizona’s only three rivers, the Gila, Verde, and Salt. The Hohokam civilization thrived in central Arizona for a thousand years, building an extensive network of integrated canal systems, capable of transporting large volumes of water long distances.

At their peak, an estimated 40,000 Hohokam lived in Arizona, but they suddenly vanished in the mid-15th century.

Montezuma’s Castle, a cliff dwelling occupied by the Sinagua, located just north of Camp Verde in central Arizona. (Photo by B. Lynn Ingram.)

In northern Arizona, between Phoenix and Flagstaff, the Sinagua culture also thrived during this period. As the climate turned drier, they built cliff dwellings in central Arizona, suggesting that resources became scarce, forcing them to build fortified dwellings with hidden food storage areas. The Sinagua also disappeared about the same time as the Hohokam.

All of these societies were flourishing prior to a rather abrupt collapse. The archaeological record of the last decades of the ancestral Pueblo in Chaco Canyon abounds with signs of suffering.

Skeletal remains show signs of malnutrition, starvation and disease; life spans declined and infant mortality rates increased. Evidence of violence, possibly warfare, was found in mass graves containing bones penetrated with arrowheads and teeth marks, and skulls bearing the scars of scalping.

Piles of belongings were found, apparently left behind as the people abandoned their settlements and fled, some to live in fortified hideouts carved in the cliff faces, protecting their hoarded food from enemies.

The unusually dry climate of the Medieval period also appeared to have tested the endurance and coping strategies of even the well-adapted native populations in California.

The skeletal remains show that life in the interior of California was particularly difficult, as the drought severely reduced sources of food (nuts, plants, deer, and other game). Settlements along rivers were abandoned, and trade between inland and coastal groups broke down. As water supplies dried up, conflicts – even battles – between groups arose over territory and food and water resources.

The Watery Lessons of the Past

The “Medieval Drought” serves as a model for what can happen in the West. It also provides an important impetus for water sustainability planning. And the hardships suffered by the first human inhabitants in the West provide important lessons.

For instance, during extended periods of abundant moisture, some societies experienced rapid population growth, leaving them vulnerable to collapse when the climate inevitably turned dry again.

Modern societies in the West have followed a similar path over the past century— after a century of fairly abundant moisture, the population in this region has exploded (and become more urbanized).

Modern engineering has allowed the exploitation of all available water sources for human use, and western water policy has favored water development for power, cities, and farms over sustainability of the environment and ecosystems.

These policies have allowed populations to grow to the limit that this region can support, leaving us vulnerable during extended drier conditions.

The longest six-year droughts experienced by the West over the past century are meager by comparison, despite the extreme hardship they brought to the region.

In fact, in the context of the longer-term climate history, the 20th century actually stands out as one of the wettest over the past 1,300 years, yet the droughts of the mid-1920s, 1977 and the late 1980s caused immense hardship for our society, based as it is upon heavy water usage.

In addition, future changes in the global climate will interact with the natural cycles of drought in California and the West in ways that are difficult to predict. Climate models predict that warming will likely make the extreme events, particularly floods and droughts, even larger and more frequent.

Some of these impacts have already begun. Over the past two decades, warming and an earlier start of the spring season have caused forest fires to become more frequent and intense.

A warmer climate will also bring less precipitation that falls as snow. The American West depends on snow-bearing winter storms for a natural water reservoir. This snow begins melting in the late spring, and continues into the summer, filling streams, lakes, and reservoirs that sustain natural ecosystems throughout the dry summer months.

The snow pack supports cities and irrigated agriculture, providing up to 80 percent of the year’s water supply across the West. As the region warms, the snow that does fall will melt faster and earlier in the spring, rather than melting during the late spring and summer, when it is so critically needed.

The message of past climates is that the range of “normal” climate is enormous—and we have experienced only a relatively benign portion of it in recent history. The region’s climate over the past decade has been dry when compared to the 20th century average, suggesting a return to a drier period.

This past year was also the warmest on record in the American West, and the ten hottest years on record occurred since 1997. The position of inhabitants of the West is precarious now and growing more so.

As we continue with an unsustainable pattern of water use, we become more vulnerable each year to a future we cannot control. It is time for policy makers in the West to begin taking action toward preparing for drier conditions and decreased water availability.


Read more from Origins on Water and the Environment: The World Water CrisisThe River JordanWho Owns the Nile?The Changing ArcticOver-Fishing in American WatersClimate Change and Human Population; and the Global Food Crisis.


Suggested Reading

Benson, L., Kashgarian, M., Rye, R., Lund, S., Paillet, F., Smoot, J., Kester, C., Mensing, S., Meko, D. and Lindstrom, S., 2002. “Holocene Multidecadal and Multi-centennial Droughts Affecting Northern California and Nevada.” Quaternary Science Reviews 21, 659-682.

Bradley, R.S., Briffa, K.R., Cole, J., Hughes, M.K., and Osborn, T.J., 2003. “The climate of the last millennium.” In: Alverson, K, Bradley, R.S., and Pedersen, T.F. (Eds.), Paleoclimate, Global Change and the Future, Springer Verlag, Berlin, pp. 105-49.

Brunelle, A. and Anderson, R.S., 2003. “Sedimentary charcoal as an indicator of late-Holocene drought in the Sierra Nevada, California, and its relevance to the future. “ The Holocene 13(1), 21-28.

Cayan, D. R., S. A. Kammerdiener, M. D. Dettinger, J. M. Caprio, and D. H. Peterson, 2001. “Changes in the onset of spring in the Western United States.” Bull. Am. Met. Soc., 82, 399-415.

Fagan, B., 2003. Before California: an Archaeologist Looks at Our Earliest Inhabitants. Rowman and Littlefield Publishers, Inc, Lanham, MD. 400 p.

Gleick, P.H. and E.L. Chalecki. 1999.” The impacts of climatic changes for water resources of the Colorado and Sacramento-San Joaquin river basins.” Journal of the American Water Resources Association, Vol. 35, No. 6, pp.

Hughes, M.K. and Brown, P.M., 1992. “Drought frequency in central California since 101 B.C. recorded in giant sequoia tree rings.” Climate Dynamics 6,161-197

Ingram, B. Lynn and Malamud-Roam, F. (2013) The West without Water: What past floods, droughts, and other climatic clues tell us about tomorrow. UC Press, 256 pages.

Ingram, B. L., Conrad, M.E., and Ingle, J.C., 1996. “A 2000-yr record of Sacramento-San Joaquin River inflow to San Francisco Bay estuary, California.” Geology 24, 331-334.

Lightfoot, K., 1997. “Cultural construction of coastal landscapes: A middle Holocene perspective from San Francisco Bay.” In: Erlandson, J. and Glassow, M. (eds), Archaeology of the California Coast during the Middle Holocene, 129-141. Series, Perspectives in California Archaeology 4, Institute of Archaeology, Univ. of California.

Malamud-Roam, F. and B.L. Ingram. 2004. “Late Holocene d13C and pollen records of paleosalinity from tidal marshes in the San Francisco estuary.” Quaternary Research 62, 134-145.

Stahle, D. W., Cook, E. R., Cleaveland, M. K., Therrell, M. D., Meko, D. M., Grissino-Mayer, H. D., Watson, E., and Luckman, B., 2000. “Tree-ring data document 16th century megadrought over North America.” EOS Transactions of the American Geophysical Union 81 (12), 121-125.

Stine, S., 1990. “Past Climate At Mono Lake.” Nature 345: 391.

Stine, S., 1994. “Extreme and persistent drought in California and Patagonia during mediaeval time.” Nature 369: 546-549.

Swetnam, T.W. 1993. “Fire history and climate change in Giant Sequoia groves.” Science 262, 885.

TWITTER: Fundação Cacique Cobra Coral não vai intervir para parar de chover (O Globo)

TWITTER: Fundação Cacique Cobra Coral não vai intervir para parar de chover. http://bit.ly/1Ajje8H 

RETWEETS 152

CURTIRAM 71

16:03 – 15 de fev de 2015

Ver Também

O Globo_Rio

@OGlobo_Rio 2 dia s

A Fundação Cacique Cobra Coral informou que não vai intervir na chuva da Sapucaí, pois a prioridade é encher os reservatórios. #CarnavalRJ

Reinaldo Azevedo

@reinaldoazevedo 1 week

Risco de falta de energia é muito grande. Dilma tem de nomear Cacique Cobra Coral como Ministro da Chuva http://t.co/JuBGt7JvF3

Jornal O Globo

@JornalOGlobo 1 month

Não está fácil: Fundação Cacique Cobra Coral vai deixar o Brasil. http://t.co/INPQir2pDa http://t.co/gBFPaLJBGO

Jornal O Globo

@JornalOGlobo 1 month

Lá vem tempestade: Fundação Cacique Cobra Coral vai deixar o Brasil. http://t.co/CeIF1ujKrx http://t.co/Y0rs0tFlNx

O Globo_Rio

@OGlobo_Rio 1 week

Médium da Fundação Cacique Cobra Coral sofre acidente de carro

http://t.co/USYbxCibj7

Pedro Neschling

@pedroneschling 3 months

O nome disso é desespero, amigs // RT @VejaSP: Pela primeira vez, Alckmin apela para Fundação Cacique Cobra Coral.

Pedro Neschling

@pedroneschling 3 months

Cheguei em São Paulo, choveu 2 dias. Call me Cacique Cobra Coral, bitch.

Piadas sobre falta de água reacendem rixa do Norte e Nordeste com o Sudeste (UOL)

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

17/02/201506h00

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Reprodução/Redes sociais. Piadas e provocações nas redes sociais ironizam a falta de água no Sudeste do país

Em uma daquelas peças que o destino prega, os moradores do Sudeste são vítimas hoje de provocações parecidas com as que muitos costumavam fazer com os nordestinos. Tudo por conta da falta de água que atinge a região e serve de combustível para uma nova onda de piadas, agora voltadas principalmente contra os habitantes do Rio e de São Paulo.

Com humor, nordestinos e nortistas não perdoam a atual crise hídrica nos Estados do Sudeste e acirram o bairrismo entre as regiões. São muitas as postagens em redes sociais que fazem menção à situação.

Em um vídeo que viralizou na internet nesta semana, um garoto do Acre toma banho com o jato do cano ao retirar a torneira da pia. “Aqui é Acre, p… As meninas de São Paulo, sabem o que elas querem? Banho!”, diz o menino.

Em uma outra postagem, moradores de Maceió (AL) tomam banho com um caminhão-pipa durante as prévias carnavalescas e dizem que estão “ostentando” por terem água. “Enquanto vocês criticam nós, nordestinos, eu tomo banho de chuveiro. Claro que é com moderação”, diz, em outro vídeo, o promotor de eventos Galisteu Matias, que reside em Maceió.

Mas qual é o limite entre brincadeira e ofensa? O professor de direito e processo penal da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Welton Roberto, avalia que, nos exemplos citados, não ocorreu nenhum crime e, apesar do gosto duvidoso das piadas, estes casos não caracterizam injúria.

“Só existiria crime se fosse postada alguma agressão, como alguém chamando o outro de burro ou outro palavrão que fosse, caracterizando a injúria penal. Mas brincadeira, mesmo sendo de mal gosto, é brincadeira. Vejo que não atingiu de forma discriminatória ninguém, nem atingiu a dignidade de ninguém”, diz Roberto.

O advogado afirma que quem se sentir ofendido por ter a honra atingida em alguma postagem na internet deve salvar o material e contratar um advogado para que seja feita a queixa-crime. O crime de injúria é previsto no Código Penal e, em caso de condenação, a pena varia de acordo com o grau da ofensa.

Vingança

Para o doutor em história social pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Michel Zaidan Filho, a rixa entre moradores do Nordeste e do Sudeste é antiga e existe desde o início do século passado.

“Esse problema remonta desde que alguns Estados do Nordeste, da região sucroalcooleira, perderam importância no contexto econômico e social. Ainda na Primeira República (1889-1930), a região entrou em uma crise grande e se criou uma divisão do trabalho que até hoje persiste: o Nordeste comprador de mercadorias e insumos e fornecedor de mão-de-obra”, afirma o pesquisador.

Sobre as piadas que passaram a circular com provocações sobre a crise hídrica nos Estados do Sudeste, Zaidan Filho avalia que são uma consequência normal e uma espécie de vingança de quem sempre foi o alvo da gozação. Para ele, elas também fazem parte de uma herança cultural.

“Essa vingança faz parte deste contexto marcado por desigualdade e diferenciação cultural muito grande. Isso é um mecanismo psicológico muito comum, só que agora se inverteu, com a região mais forte e poderosa penalizada pelo racionamento de energia e água. Agora, fica muito conveniente ridicularizá-los”, afirma.

Apesar do clima ser de piadas, o professor aponta problemas de convivência que podem resultar da criação de grupos regionais. “O produto que existe é um apartheid, um separatismo que emerge sobretudo em períodos de crise, quando se demoniza os nordestinos. Na Europa, isso também existe com os imigrantes, que são responsabilizados pela crise econômica. É um pouco da situação que ocorre no Brasil”, conclui o pesquisador.

Aconselhado por espírito indígena, Pezão garante que choverá no Rio (Época)

Relatório do Cacique Cobra Coral, enviado ao governador do Rio, garante normalização dos reservatórios do Rio até maio; presidente Dilma já foi informada

CRISTINA GRILLO
13/02/2015 19h11 – Atualizado em 13/02/2015 20h35

Governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (Foto: Pedro Farina)

Governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (Foto: Pedro Farina)

Celebrai, povo fluminense: vem água por aí. Abram as torneiras, durmam no chuveiro e caprichem no banho do carro. Está liberado até encher a piscina de plástico azul das crianças. Basta comungar da mesma confiança que o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. Ele assegura à ÉPOCA, com tranquilidade budista, que racionamento e rodízio são palavras do passado. Cálculos de volume morto e obras na rede de águas são coisas de políticos sem fé. A convicção de Pezão é transcendental: vem dos céus – embora não de São Pedro. Choverá, ora, porque a médium Adelaide Scritori, a pedido de Pezão, consultou o espírito do Cacique Cobra Coral – e o Cacique mandou dizer que a água não tarda e chegará abundante. Quem é Pezão para discutir com o espírito do Cacique?

O último relato do Cacique veio por email – não do além, mas por meio de Adelaide. No documento, enviado no dia 28 de janeiro, garante-se  que “tudo o que faltou em dezembro e janeiro virá em fevereiro, março e abril”. O email, que afastou da cabeça do governador qualquer ideia de racionamento, foi repassado em seguida, como de costume, a Dilma Rousseff. “A presidente se diverte com os emails do cacique. Riu muito de um que afirmava que o culpado da crise hídrica e energética era o Lobão [Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia]”, disse Pezão à ÉPOCA em seu gabinete, no Palácio Guanabara. Dilma riu, mas Pezão leva os conselhos do Cacique a sério.

Fundação Cacique Cobra Coral (Foto: reprodução)

Imagem do site da Fundação Cacique Cobra Coral (Foto: reprodução)

A médium Adelaide lidera a Fundação Cacique Cobra Coral. Ela afirma incorporar o espírito do Cacique – um meteorologista sobrenatural, com capacidade para segurar uma tempestade aqui, mandar uma chuvinha lá e, graças a esse dom, fazer com que prefeituras e governos contratem a instituição para garantir seus serviços. No relatório que Pezão encaminhou a Dilma há, no entanto, um alerta para a possibilidade de temporais no Rio. Até junho, diz o Cacique, há o risco de chover, em apenas um dia, a quantidade esperada para um mês inteiro. “É preciso ficar alerta para o excesso de precipitação numa mesma localidade, como a zona norte”, avisa a entidade. Preparem a arca de Noé.

Pezão recebe com regularidade os informes que o espírito do Cacique envia à Prefeitura do Rio – o governo do Estado, afirma, não tem contrato com a fundação; a prefeitura, sim. Mas a relação de Pezão com o Cacique é antiga. Vem desde 1997, quando Pezão era prefeito de Piraí, município a 90 quilômetros da capital. “Eu sempre gostei de fazer festas na rua e conversava com eles para ter tempo bom. Chegava o dia da festa, chovia em todos os municípios vizinhos, e Piraí ficava sequinha, sequinha”, contou o governador. Com a prefeitura do Rio, os acordos da entidade mediúnica vêm dos tempos em que Cesar Maia era prefeito, no início de 2001. Eduardo Paes ameaçou romper com a fundação quando tomou posse em seu primeiro mandato, em 2009. Mas as previsões de temporais na noite do réveillon o fizeram rever a decisão. Não choveu e, desde então, além de satélites e outros instrumentos de alta tecnologia, o Rio conta com a expertise do cacique para ajudar nas previsões meteorológicas.

Mesmo sem contrato com o governo do Estado, a Fundação Cacique Cobra Coral parece estar se esforçando para garantir a normalização dos reservatórios. No domingo, dia 8, a médium Adelaide sofreu um acidente de carro na cidade de Paraibuna, em São Paulo. Ela vinha de Minas para o Rio de Janeiro, acompanhando o curso do rio Paraíba do Sul para avaliar, in loco, o nível dos reservatórios. O carro onde estava capotou três vezes e caiu no rio. Adelaide só teve escoriações leves. “Ela estava vendo tudo para informar ao cacique”, disse Pezão, que conecta seu celular para mostrar algumas fotos do acidente. Cair no rio não seria um mau sinal? “Não! Já está tudo certo, vai voltar a chover”, afirmou o confiante governador.

Das amplas janelas do gabinete de Pezão vê-se o jardim, espetacular, reformulado pelo paisagista francês Paul Villon no início do século XX. No meio do jardim, o chafariz de Netuno jorra, voluptuoso, litros e mais litros de água. “Mas é água de reuso”, apressa-se o governador a explicar, ao ouvir a pergunta sobre o desperdício –mesmo com toda a garantia dada pelo cacique de que o Rio está livre de problemas. Mas, pelo sim, pelo não, no dia seguinte o chafariz estava desligado.

A palavra dos cientistas sobre a crise da água (Fapesp)

ED. 227 | JANEIRO 2015

© DANIEL BUENO

Estrategias a

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgou no dia 12 de dezembro a Carta de São Paulo, um documento com análises e recomendações para enfrentar a crise hídrica no Sudeste. Redigido sob a coordenação do pesquisador José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), o documento pede modificações imediatas na maneira de administrar os recursos hídricos. “É absolutamente necessário e imprescindível modernizar e dinamizar os sistemas de gestão”, afirmam os cientistas na carta. De acordo com os especialistas, há uma ameaça real à segurança hídrica do Sudeste, em especial na Região Metropolitana de São Paulo e no interior de Minas Gerais e do estado do Rio de Janeiro. O pano de fundo são indícios “fortíssimos” de mudança climática – que devem trazer eventos climáticos cada vez mais extremos – e o fato de os sistemas produtores de água não disporem de capacidade para garantir as vazões necessárias ao atendimento da demanda. Os cientistas recomendam uma drástica redução de consumo de água para 2015, investimentos imediatos em medidas de longo prazo e projetos de saneamento básico e tratamento de esgoto. Também defendem ações de divulgação e informação sobre as medidas emergenciais, os planos de longo prazo e a gravidade da crise. A íntegra da carta está disponível no site da ABC.

Água: crise e colapso em São Paulo (Revista Greenpeace)

Reportagem: Luciano Dantas

Fotografia: Carol Quintanilha

Edição 1, 2014

Desde o início do ano os moradores de São Paulo têm ido dormir sem saber se haverá água pela manhã em suas casas. Por meio de diferentes fontes, reunimos informações para levantar as causas, consequências e soluções para a crise hídrica que atinge o Estado.

Omissão e descaso: a falta d’água era prevista

Marussia Whately, coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) e uma das maiores especialistas em recursos hídricos de São Paulo, dá o seu diagnóstico. Assista:

“O uso do volume morto não é uma solução. Ele seca a represa, os lençóis freáticos e a capacidade do sistema em se recompor. Isso mostra a falta de preparo do governo do Estado para a crise.”

Marussia Whately

Dias difíceis

Desde maio deste ano a Sabesp se utiliza da água proveniente do chamado volume morto do Sistema Cantareira, principal manancial abastecedor da Grande São Paulo, para nutrir a capital.

“…Não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.”

Antonio Carlos Zuffo

Para o professor Antonio Carlos Zuffo, da área de Hidrologia e Gestão de Recursos Ambientais da Unicamp, o prognóstico é de dias difíceis. Segundo ele, além de enfrentar a escassez, os paulistas terão de lidar com a impureza da pouca água do reservatório. “Os peixes já vêm sofrendo com a falta de oxigênio dos rios e represas, e isso tende a piorar. Com um volume menor de água para a diluição de impurezas, a saída será o tratamento com maiores quantidades de cloro, o que compromete a qualidade da água que abastece residências, a produção agropecuária e industrial do Estado”, explica.

Zuffo acredita que a estiagem dure entre três e quatro décadas, e que a única saída para minimizar os prejuízos a curto-prazo é conscientizar a população. “A água economizada hoje será responsável pelo abastecimento de amanhã”, diz. E garante: não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.

A seca vira arte

Foto: Marcelo Delduque

Foto: Marcelo Delduque

Na contramão do que pensa a maioria dos moradores do Estado, Marcelo Delduque, morador de Bragança Paulista, não enxerga com tanta estranheza a seca que toma conta da represa que passa por sua propriedade, a Fazenda da Serrinha, já que a barragem foi construída artificialmente na década de 1970 para compor o Sistema Cantareira.

“Quando nasci, a represa não existia. Acompanhei durante a infância o povoado sendo alagado por ela. Por isso, para mim não é estranho ver tudo seco novamente”, conta.

É na centenária fazenda da família que há 13 anos acontece o Festival de Arte da Serrinha, produzido por Marcelo e seu irmão, Fábio Delduque, curador-responsável do evento. O festival propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. É lá que artistas, estilistas, apaixonados e curiosos pela arte se embrenham, a cada ano, em produções artísticas livres e muito criativas.

Hoje a paisagem no entorno da fazenda é completamente diferente de quando a represa comportava seu nível normal de água. Assim, o que Marcelo pode acompanhar é o movimento contrário do qual vivenciou quando criança: o resgate das condições naturais do local, a retomada das raízes da Serrinha.

Curiosamente, o tema do Festival de 2014 foi justamente “Raízes”, e a paisagem do chão de barro rachado, que antes dava lugar à represa, tornou-se protagonista do evento.

O festival de arte da Serrinha propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. (Foto: Carol Quintanilha)

Performance artística na paisagem lamacenta que transformou a represa. Fazenda da Serrinha. (Foto: Carol Quintanilha)

Antes da seca: a represa da fazenda Serrinha é parte do Sistema Cantareira (Foto: Marcelo Delduque)

O festival de arte da Serrinha propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. (Foto: Marcelo Delduque)

Performance artística na paisagem árida que antes dava lugar às águas da represa. Fazenda da Serrinha. (Foto: Marcelo Delduque)

Sistema Cantareira – vista geral do reservatório Cachoeira em sua capacidade normal. (Foto: Instituto Socioambiental)

A represa de Vargem, componente do sistema Cantareira com sua capacidade hídrica já bastante reduzida. (Foto: Luiz Augusto Daidone/ Prefeitura de Vargem)

Racionamento velado

  • Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Aenean euismod bibendum laoreet. (Foto: Fabio Nascimento/Greenpeace)

    Falta de transparência: João exibe a quantidade de cloro contida na água após horas sem abastecimento. (Foto: acervo pessoal)

Morador do Mandaqui, zona norte da cidade de São Paulo, o estudante de jornalismo João Tiago Soares, 32, se queixa da falta de transparência praticada pela Sabesp. “Inacreditável. Até a Copa, tudo correu bem. Dias depois da final do campeonato, sem aviso prévio, o racionamento começou” – relata.

João afirma que no início faltava água por quatro horas durante a tarde e que depois foi faltando água cada vez mais tarde e por mais tempo. “Fechavam os reservatórios por volta das 22h, quando as pessoas se preparavam para dormir. Só abriam lá pelas 04h, quando estavam prestes a acordar”, conta. João diz que sempre que ele ou algum vizinho telefonam para a Sabesp, a resposta é a mesma: estão realizando uma “adequação” no sistema hídrico.

“Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.”

Declaração Universal dos Direitos da Água

No último dia nove de setembro, Catarina de Albuquerque, relatora da ONU (Organização das Nações Unidas), declarou que a crise da água não pode ser justificada pela estiagem: cabe ao Estado prever e prevenir a população de circunstâncias como esta. Diante da crise, o recém-eleito governador Geraldo Alckmin continua negando a interrupção do abastecimento – praticada há pelo menos três meses – e descartou a necessidade de racionamento em 2014. Com mais quatro anos de mandato, veremos que medidas ele tomará para tirar a população do sufoco. Nem o cantor Chico Science seria capaz de prever lama e caos tão próximos um do outro.

Brazil drought: water rationing alone won’t save Sao Paulo (The Guardian)

The solutions to the severe drought in Brazil must go deeper than water rationing and pressure changes, says the Alliance for Water network

An aerial view of the Atibainha dam, part of the Cantareira reservoir, during a drought in Nazare Paulista, Sao Paulo state in this November 18, 2014.

An aerial view of the Atibainha dam, part of the Cantareira reservoir, during the drought in Nazare Paulista, Sao Paulo state last November. Photograph: Nacho Doce/Reuters

It should be the rainy season. Instead Sao Paulo state is experiencing a third consecutive year with soaring temperatures and rainfall patterns well below historic records.

The main water reservoirs are operating at their lowest capacity. The Cantareira reservoir system, which serves more than nine million people in the state, is only 5% full. At the Alto Tietê reservoir network, which supplies three million people in greater Sao Paulo, water levels are below 15%.

Simple calculations indicate that given the current level of consumption versus the predicted raining patterns there is only enough water on the system to last four to six months. That means the water could run out before the next rainy season starts in November. State officials recently announced a potential rationing program of five days without water and two days with, in case the February and March rains do not refill the reservoirs.

This extreme climate scenario, combined with a series of management flaws, political negligence and a culture of waste and pollution, is bringing the largest metropolitan region of Brazil to the brink of collapse.

Since 2013, after decades of warnings about misguided development policies and destructive land use practices, experts and civil society organisations have been calling for increasingly strong measures to reduce water consumption to keep the minimum secure levels for supply reservoirs. The calls have been ignored by the state government – the system’s main operator – and federal and municipal authorities turned a blind eye to the severity of the situation.

The government took a few small steps in early 2014, such as offering a discount on water bills for people who voluntarily reduced their consumption. It also increased supply from the Billings and Guarapiranga reservoirs, but as these sources receive most of the urban waste from Sao Paulo, the water needs to be carefully tested and treated to be adequate for human consumption, adding to the complexity of securing safe water supply during the drought.

The government’s main initiative has been to reduce pressure on the distribution network, so that it pumps less water through the system. As the measure was not officially recognised by leaders or the media, people were unprepared to live without drinkable water for a couple of days when the supply glitches started to happen. Taken by the population as a de facto rationing, the lack of transparency about the times and places affected by pressure reduction caused more problems and increased distrust among Sao Paulo’s citizens.

brazil drought cracked ground

The Cantareira reservoir system serving more than nine million people in Sao Paulo state is only 5% full.Photograph: Nacho Cubero/Reuters

The recovery measures adopted so far account for a 22% reduction on the water volume extracted from reservoirs. Experts, however, advise that the reduction should be around 50% to sustain the minimal conditions needed for the system.

Many might be surprised that such a scenario is happening in a tropical country famous for its abundance of natural resources, crossed by hundreds of rivers and with plenty of underground water. But for regional environmentalists and experts it comes as no surprise. They have been raising the alarm on water pollution and campaigning for watershed protection and safety standards since the 1980s. But scientific and technical reports, advocacy measures and pressures on companies were lost among the apparently unstoppable powers of real estate, agriculture and industry development. Urban land use, extensive monocultures and illegal occupation of watersheds have damaged and polluted the water production areas, jeopardising their capacity to survive and recover from extended dry seasons.

National development policies strongly focus on macro-infrastructure plans such as large hydrodams, ports and roads, the expansion of agribusiness into the Amazon, and the predatory mining industry. These sustain the exports of soya, beef and pig iron while being responsible for the majority of Brazilian greenhouse gas emissions. More and more scientific studies show the link between deforestation in the north and the reduction of rainfall in the southeast, presenting further evidence of how the effects of climate change are already upon us.

Despite the relative gains in poverty reduction over the last decade, the imminent collapse of the water supply system of the richest region in Brazil shows that basic development structures have yet to be addressed and fundamental human rights have yet to be secured in this country. Millions of people from the poorest communities have entered the consumer market, but their access to housing, sanitation, clean water, citizen security and transport remain unguarded.

brazil drought dried reservoir

A sign reading ‘Don’t jump in the water’ at the dried up part of the Guarapiranga reservoir in November 2014. Photograph: Paulo Whitaker/Reuters

This is where an old cliché becomes real: major opportunities lie within this crisis. The transcending effect of the water shortage creates a space for unity and coordination among Brazilian social movements. It offers the chance for environmental organisations to link deforestation with urban issues, to communicate that social justice will not be achieved as long as the priority is given to an unequal and unsustainable development model. Moreover, the urgency and scale of the water crisis is likely to bring NGOs and labour unions closer to the organic and youth protests that drew hundreds of thousands of people to the streets in 2013. The time and place for a solid narrative that links poverty reduction to ecological protection seems finally to have arrived.

In October 2014, more than 40 NGOs, experts, independent collectives and social movements joined forces to launch the Alliance for Water, a network that is monitoring the government’s response to the crisis and presenting positive solutions for surviving the probable collapse. The alliance aims to collaborate to build a new culture of water use and conservation in Sao Paulo and is producing a series of technical reports and events to qualify the debate among a wide range stakeholders, from specialists to politicians to social movements and grassroots groups.

Today more than 13 million inhabitants of Sao Paulo state find themselves on the edge of an unprecedented public calamity. The absence of political leadership and government transparency fuels panic and fear. Until now, the government has not outlined a clear emergency plan to guarantee minimum water supplies for essential services such as hospitals, police stations and prisons, and for the poorest people who have no structure to store or buy mineral water. A chaotic scenario might take place where, faced with a severe and sustained lack of water, many communities will resort to polluted sources or even violence, raising significant concerns over safety and health.

Civil society has a pivotal role to play by challenging development models, establishing social control over emergency plans, securing human rights and promoting the values of ethics and solidarity. As is usual in calamity situations, the most vulnerable, poorest communities are likely to pay the highest price with their health and their dignity. These people need to know they can count on organised civil society to support them across the turbulent times that lie ahead.

Marussia Whately is the programme director and Rebeca Lerer is the communications coordinator for the Alliance for Water network.

SP, MG e Rio: 87% atribuem crise hídrica aos governantes, diz pesquisa (O Globo)

Na Grande São Paulo, segundo a consultoria Expertise, 92,5% colocam na conta do governo o problema

POR LEONARDO GUANDELINE

11/02/2015 6:00 / ATUALIZADO 11/02/2015 12:23

SÃO PAULO – Aumentou entre paulistas, cariocas e mineiros o número de pessoas que atribuem a responsabilidade pela atual crise hídrica ao governo (municipal, estadual e federal). É o que mostra pesquisa inédita sobre o tema realizada via internet pela consultoria mineira Expertise. Num primeiro levantamento, feito em outubro passado, 75% dos entrevistados colocavam a crise na conta dos governantes. Em fevereiro deste ano, esse número subiu para 87%. Na Grande São Paulo, região que enfrenta problemas no abastecimento de água há mais de um ano, 92,5% dos entrevistados acreditam que os governantes têm muita responsabilidade pela crise – eram 78% na pesquisa anterior.

Dos 2.138 entrevistados em São Paulo (interior e região metropolitana da capital), Minas (interior e Grande Belo Horizonte) e Rio, 75% responsabilizam a população (ante 78% da pesquisa anterior) pela crise e 74% as empresas responsáveis pelo abastecimento (eram 62% no levantamento anterior) pelo problema.

Em outubro, os entrevistados diziam que o principal fator que levou à crise foi o mau uso da água e dos recursos naturais pela população (o item agora ocupa a segunda posição, segundo 21% dos entrevistados). Na pesquisa atual, a falta de planejamento dos governantes (na opinião de 29% dos internautas), que ficava em terceiro lugar, lidera. Segunda posição no levantamento de outubro, a falta de chuva hoje ocupa o quinto lugar, segundo 13% dos entrevistados.

Segundo a pesquisa, 48% dos internautas disseram ter tido pelo menos um corte de água nos últimos dias. Na região metropolitana da capital paulista, esse número sobe para 70%.

À consultoria Expertise, 91% dos entrevistados acham que o governo poderia ter evitado que a crise chegasse a tal ponto. Outros 89% acreditam que a crise hídrica vai afetar o fornecimento de energia. Dos internautas, 87% demonstram estar “bem preocupados” com a falta d’água.

Para 66%, a tendência é de piora no quadro nos próximos 12 meses. E 90% disseram acreditar que o preço da água vai subir.

A Expertise realizou as entrevistas online em janeiro e fevereiro deste ano, com homens e mulheres de todas as classes sociais. A margem de erro da pesquisa é de 2,1 pontos percentuais, para mais ou para menos.

AUMENTO NO ESTOQUE DE ÁGUA

Se em outubro o número de entrevistados ouvidos pela consultoria que disseram estar estocando ou pensando em estocar água era de 64%, em fevereiro esse percentual subiu para 73%.

À consultoria Expertise, os entrevistados ainda responderam sobre uma série de mudanças no comportamento. 83% disseram ter diminuído o tempo no banho e 72% passaram a fechar a torneira ao escovar os dentes ou lavar a louça. Dos internautas, 60% contaram que estão, de alguma forma, reutilizando água e 57% passaram a lavar menos roupa.

Os favoráveis ao racionamento somam 73% ante 77% do levantamento feito pela consultoria em outubro.

VEJA TAMBÉM

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/brasil/sp-mg-rio-87-atribuem-crise-hidrica-aos-governantes-diz-pesquisa-15302418#ixzz3RSX8INbJ
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Senado pode ter comissão externa para acompanhar falta d’água no Sudeste (Agência Senado)

Se a comissão temporária for mesmo criada, o trabalho será feito em parceria com a Agência Nacional de Águas

O senador Jorge Viana (PT-AC) anunciou nesta terça-feira (10) que vai propor a criação de uma comissão temporária do Senado para acompanhar a precariedade no abastecimento de água aos habitantes da Região Sudeste. Para Viana, há uma soma de duas situações: uma seca sem precedentes e a ocupação desordenada do solo, com a destruição de nascentes.

— Toda a floresta protetora ao longo de riachos e rios nessa região foi danificada. Não restaram mais de 6% da Mata Atlântica. Eu entendo que é como se o Brasil estivesse buscando essa situação há muitas décadas, afirmou.

Jorge Viana acentuou que a falta d’água atinge mais de 50 milhões de pessoas. Corresponde, segundo ele, a um quarto da população nacional e afeta 70% do produto interno bruto (PIB). Nesta terça, o sistema Cantareira, que abastece quase toda a capital paulista, operava com 6,1% da capacidade.

Se a comissão temporária for mesmo criada, o trabalho será feito, conforme explicou Jorge Viana, em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e com o Centro de Monitoramento de Cachoeira Paulista.

— Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais estão passando por um gravíssimo problema. Eu, como engenheiro florestal e como senador da Amazônia e do Acre, quero dar minha contribuição me aprofundando nesse tema. É preciso por o dedo nessa ferida de ausência de investimentos e de políticas públicas adequadas — concluiu o senador.

(Agência Senado)

http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/02/10/senado-pode-ter-comissao-externa-para-acompanhar-falta-d2019agua-no-sudeste

Matéria complementar da Agência Senado:

Reforma política, água, energia e segurança serão temas de sessões especiais
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/02/10/reforma-politica-agua-energia-e-seguranca-serao-temas-de-sessoes-especiais

Veneza Paulista privatiza rio e oferece alívio à crise hídrica (Conta D’água)

por Laura Capriglione, da Ponte com fotos de Mídia NINJA

11 de fevereiro de 2015

Enquanto a capital paulista enfrenta rodízio e falta d’água, condomínio no interior desvia curso de rio para criar clima veneziano. Moradores passeiam entre as casas de pedalinho.

Você anda chateado com a perspectiva de viver o tal do rodízio de cinco dias a seco para apenas dois com água? Anda procurando, sôfrego, tutoriais no Youtube sobre como construir sua cisterna caseira? Na geladeira da sua casa, ao lado dos tradicionais ímãs com os telefones da pizzaria, da lavanderia e do petshop, agora já tem um de caminhão-pipa? Seus dias de angústia acabaram!

Bem pertinho, a 70 km de São Paulo, você poderá se tornar o feliz proprietário de uma casa com água à vontade — água até dizer chega. Na verdade, trata-se de um rio inteiro, desviado de seu curso normal só para o bem-estar e lazer dos moradores. E tudo com a segurança de um condomínio fechado, vigiado 24 horas por dia por câmeras de monitoramento.

Cenas bucólicas da Veneza Paulista. Pedalinhos e pontes marcam o cenário das ilhas artificiais. Fotos: Mídia NINJA

Trata-se do Condomínio Ribeirão do Vale, situado em Bom Jesus dos Perdõesna beira da rodovia Dom Pedro I. Ali, 200 casas, 95% das quais equipadas com piscinas, desfrutam o privilégio de ter um rio de águas límpidas passando pelo quintal. Moradores usam pedalinhos –sim, pedalinhos! — para visitar os vizinhos. Pontes românticas ligam os quarteirões ilhados.

Que lindo!

E pensar que, enquanto uns se viram com pedalinhos, piscinas e um rio para chamar de seu, quase no centro de São Paulo milhares de pessoas se veem completamente à mercê dos caprichos da Sabesp, ligando e desligando a água quando lhe dá na telha.

Contraste hídrico entre a Veneza Paulista e a Favela da Vila Mariana. Fotos: Sintaema (acima) e Hélio Mello/ Projeto Xingu (abaixo).

O repórter e fotógrafo Hélio Carlos Mello, do Projeto Xingu e do Conta D’Água, testemunhou, por exemplo, o que acontece com a favela da rua Doutor Mario Cardim, na Vila Mariana. As quinhentas famílias e mais de 2.000 moradores empilhados em barracos tentando preservar alguma dignidade diante das precárias condições de saneamento e superpovoamento do local…

Noventa por cento das casas não têm caixa d’água e, portanto, quando a torneira fica seca é a vida que seca.

Quem ali tem dinheiro para comprar água mineral ou contratar caminhão-pipa a R$ 1.200 a carga de 15.000 litros?

A ironia cruel é que também a favela da Vila Mariana convive diariamente com um rio, no caso o córrego do Sapateiro, que foi aterrado e passa bem embaixo do chão. Em alguns barracos ainda dá para ouvir o som da água subterrânea correndo. Mas fica nisso.

Moradora da Favela na Vila Mariana aguarda chegada da água da Sabesp. Foto: Hélio Mello / Projeto Xingu

Diariamente, os moradores da favela Mario Cardim se apressam em fazer as atividades domésticas de lavar roupas e panelas, ao mesmo tempo em que põem a comida no fogo. Tudo muito rápido, antes que a torneira seque novamente.

Mas não pensemos nisso. E voltemos rapidamente para o Condomínio Ribeirão do Vale, injustamente apelidado de Veneza Paulista. É injusto porque o condomínio tem vantagens notáveis sobre o original vêneto/italiano. Por exemplo, moradores da versão brasileira podem pescar em seus quintais peixes nativos, como tilápias, pacus, curimbatás, bagres. Também se encontram ali espécies alienígenas, como os matrinxãs, que foram trazidos da bacia amazônica especialmente para o local.

Veneza perde!

Os repórteres da Conta D’Água visitaram o condomínio para ver como funciona esse paraíso. Entraram na área privada a pretexto de comprar um imóvel. Havia dois, anunciados pela internet.

Calma e pescaria na Veneza Paulista. Seu Luís. Foto: Mídia NINJA

Logo no primeiro, depararam-se com o morador na casa vizinha, senhor Luís, que explicou: o condomínio mantém três moinhos em funcionamento permanente a fim de oxigenar a água e manter os peixes saudáveis por mais tempo.

Pescador sortudo, ele se vangloriava da peixada de curimbatá na brasa que fizera na véspera. “Aqui é um oásis no meio da seca”.

O oásis, no caso, custa caro: R$ 330.000, que é o preço de um imóvel assim anunciado: “4 dormitórios, 3 wc, sala, cozinha, varanda com churrasqueira, piscina, rio com pedalinho”.

Vista aérea do condomínio, na beira da Rodovia Dom Pedro I. Foto: Sintaema

A ducha de água fria, contudo, o próprio corretor encarregou-se de jogar nos ansiosos compradores que éramos nós. É que as casas do local não têm escritura definitiva. Mas apenas uma tal “escritura de direitos possessórios”. Ou seja, R$ 330.000 a menos no bolso, o comprador será apenas um “posseiro”, sem direito a registro definitivo do imóvel.

Mas, o corretor avisa, “não tem perigo, não”. “O próprio ex-prefeito de Bom Jesus dos Perdões, Calé Riginik, do PSDB, é o morador até hoje da casa 10 do condomínio. Você acha que o ex-prefeito compraria um imóvel aqui se houvesse o mínimo risco de perdê-lo?” Imagine o leitor se em vez do prefeito e de gente como nós, fingindo ter R$ 330.000, “cash”, se não haveria risco de uma violenta “ação de reintegração de posse”, como aconteceu no tristemente famoso caso Pinheirinho.

Sistema de segurança do condomínio e o que restou do Rio Atibaia, ao fundo. Foto: Mídia NINJA

Em uma entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” realizada em 2010, o então secretário de obras de Bom Jesus dos Perdões, Gerson Coli, admitiu que o condomínio foi instalado sobre o leito do ribeirão Cachoeirinha, “sem licenças dos órgãos devidos (como a Cetesb)”.

No dia 4 de novembro de 2011, entretanto, veio a redenção diretamente do Departamento de Águas e Energia Elétrica da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Governo do Estado de São Paulo, sendo governador o tucano Geraldo Alckmin (PSDB).

“Fica a Sociedade de Amigos Marinas do Atibaia autorizada a utilizar recursos hídricos no Condomínio Ribeirão do Vale, para fins de lazer e paisagismo”. O despacho informa ainda que a água do ribeirão da Cachoeirinha pode ser captada à razão de 97,42 m³/hora, durante as 24 horas do dia, todos os dias e meses do ano.

Dá um total de 97.420 litros captados por hora. Ou 2.338.080 litros por dia. Ou 70 milhões de litros por mês. Ou 840 milhões de litros por ano.

O delírio paisagístico também se expressa na decoração do condomínio. Foto: Mídia NINJA

Faça chuva ou faça sol, a água do Ribeirão da Cachoeirinha, água limpa que vem do alto da serra, será desviada por entre os canais artificiais que atravessam o condomínio, para só então ser lançada no Rio Atibaia, que abastece 95% de Campinas (SP), e precisa ser frequentemente socorrido por água do Sistema Cantareira (esse falido), já que se encontra em níveis críticos.

As palavras “crise” e “falência” estabeleceram nos dias atuais uma terrível parceria com as palavras rio, represa, abastecimento e sistema hídrico. E pensar que a palavra “Atibaia”, que dá nome ao rio que recebe as águas do condomínio, veio do tupi, significando rio manso, de águas tranquilas, abundantes, agradáveis ao paladar, “manancial de água saudável”.

É triste.

Plantação de eucaliptos às margens de reservatório de água no interior de São Paulo. Foto: Mídia NINJA

Em volta da tal Veneza Paulista, nas beiras dos rios, mais da metade da mata nativa já foi convertida em plantações de Eucalyptos urophylla, destinadas à produção de lenha e carvão, fonte energética para alimentar os fornos das pizzarias e padarias da Região Metropolitana de São Paulo.

O resultado dessa devastação toda, que acaba em pizza, tem sido a redução espetacular e veloz do total de chuvas na região. Em apenas vinte anos (de 1985 a 2005), o total de precipitações pluviométricas ali caiu de 1.800 mm por ano para uma média de 1.200 mm por ano.

Quando tudo acabar, entretanto, se comprarmos nosso chalé no condomínio, poderemos dizer, como num filme: “Nós sempre teremos Veneza…”

Mas cadê a graça de viver assim?

Com chuva, Alckmin adia decisão sobre rodízio de água na Grande SP (Folha de S.Paulo)

FABRÍCIO LOBEL e GUSTAVO URIBE

DE SÃO PAULO

11/02/2015  02h00

O volume de chuvas no início de fevereiro, que já se aproxima da média para o mês, levou o governo Geraldo Alckmin (PSDB) a adiar a decisão sobre a implantação de um rodízio de água na Grande SP.

Nas palavras de um assessor do governo, “a Sabesp não jogou a toalha” e, diante de um cenário com chuvas até o final de março e o avanço simultâneo de algumas obras, será até mesmo possível atravessar o período de seca, de maio a setembro, sem rodízio.

Folha teve acesso a esse “plano antirrodízio”, o mais atualizado da Sabesp, a estatal da água. Ele envolve três pontos-chaves, todos interdependentes, sendo que o primeiro nada mais é do que uma ‘torcida meteorológica’:

1) O ritmo de chuvas de fevereiro, que já superou a metade do esperado para o mês e fez aumentar a entrada de água no sistema Cantareira, tem de ao menos permanecer como está até o fim de março;

2) A ligação da represa Billings com o sistema Alto Tietê precisa ser concluída; a obra prevê 11 km de dutos entre os dois mananciais e, segundo o governo de SP, deverá ficar pronta até maio;

3) A capacidade de interligação entre sistemas terá de ser ampliada. Dessa forma, águas do Guarapiranga e do Alto Tietê, por exemplo, poderão atender moradores hoje abastecidos pelo Cantareira em áreas de Guarulhos, na Vila Maria (zona norte), Mooca (zona leste) e Brás (centro).

Editoria de arte/Folhapress

Com tudo isso, aliado principalmente à política de racionamento por meio da redução da pressão na rede de abastecimento, a Sabesp acredita que poderá manter uma vazão de no mínimo 10 mil litros de água por segundo no Cantareira ao longo de 2015, o suficiente, segundo a estatal, para evitar o início do rodízio –a vazão atual é de 14 mil l/seg.

Qualquer falha em um desses três pontos, porém, provocará a reavaliação desse planejamento. O final de fevereiro, por ora, é o prazo tratado internamente como limite para definir o rodízio.

Questionado ontem (10/02) sobre o tema, Alckmin afirmou que não existe nada definido. “É uma decisão técnica, da Sabesp, que faz o monitoramento diário”.

NOVO ÂNIMO

Até o final de janeiro, quando o volume de chuvas seguia bem abaixo da média histórica e o Cantareira caminhava para um colapso completo, o governo paulista tratava o rodízio apenas como uma questão de tempo.

Foi nesse contexto, por exemplo, que um dirigente da Sabesp falou na possibilidade de um rodízio “pesado”, com cinco dias sem água e apenas dois com na semana.

As chuvas de fevereiro não tiraram o Cantareira de uma situação crítica, mas deram uma leve trégua ao governo.

O sistema operou nesta terça (10) com 6,1% de sua capacidade, após mais uma alta. Esse percentual já inclui duas cotas do volume morto, que são as reservas de água abaixo do nível original de captação.

Para evitar um rodízio em 2015, o governo espera que o sistema chegue ao final de março entre 10% e 12% –com o solo úmido após as recentes chuvas, foram reduzidos os danos do chamado “efeito esponja”, que impede o armazenamento da água da chuva.

Estiagem leva 16,8% dos municípios brasileiros a decretar desastre (UOL)

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

11/02/201506h00

No Brasil, 16,8% dos municípios estão, oficialmente, em situação de desastre, que inclui os estágios de calamidade pública e emergência, por conta da estiagem. Os dados são do Ministério da Integração Nacional, que centraliza e reconhece decretos do gênero registrados por municípios e Estados em todo o país. O Nordeste lidera a lista dos municípios afetados pela estiagem. No Ceará, por exemplo, 95% dos municípios estão oficialmente em situação de desastre por conta da seca.

De acordo com dados do ministério, dos 5.570 municípios brasileiros, 936 tinham decretos de situação de emergência ou calamidade pública em vigência. Os dados são de 2 de fevereiro, data em que o órgão fez a última atualização das informações. A partir do reconhecimento federal, municípios e Estados em situação de desastre ficam autorizados a contratar serviços e comprar mantimentos em regime emergencial sem precisar fazer licitação.

Segundo o ministério, não é possível fazer uma comparação entre os dados atuais e os da mesma época do ano passado porque as informações não são compiladas diariamente. Ainda de acordo com o ministério, em 2014, 1.265 municípios tiveram seus decretos de situação de emergência ou calamidade pública reconhecidos pelo governo federal. Em 2013, foram 1.514.

A assessoria de imprensa do ministério informa, no entanto, que não é possível afirmar que a estiagem neste início de ano é mais amena que as dos anos anteriores, pois os dados referentes a 2013 e 2014 só foram contabilizados ao final de cada ano.

Situação no Nordeste

Dos 936 municípios brasileiros oficialmente em situação de desastre, 843 estão no Nordeste, o equivalente a 90%. A região Sudeste é a segunda mais afetada, com 94 municípios em situação de desastre. As demais regiões (Norte, Centro-Oeste e Sul) não têm nenhum município com decreto de desastre reconhecido pelo governo federal.

Todos os nove Estados do Nordeste têm municípios com situação de desastre reconhecida pelo governo federal. A Paraíba lidera o “ranking” da estiagem com 197 decretos. Logo depois vem o Ceará, com 176. Em termos percentuais, no entanto, o Estado mais afetado foi o Ceará, onde 95% dos municípios estão, oficialmente, em situação de desastre.

De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Norte, onde 91% dos municípios têm decretos de desastre reconhecidos pelo governo federal, algumas cidades estão em “colapso” — sem condições de atender à população.

Segundo o órgão, o governo tenta colocar em atividade 1.700 poços artesianos para minimizar os efeitos da estiagem. Pelo menos três cidades já enfrentam rodízio de água em regime 24/48 (um dia com água para cada dois sem).

Situação no Sudeste

Apesar de a crise hídrica estar afetando o abastecimento de água em municípios da região Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo, apenas três municípios paulistas estão na lista do Ministério da Integração Nacional: Cristais Paulistas, Santa Rita do Passa Quatro e Tambaú.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, “não há pedidos de reconhecimento federal dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo” esperando por análise dos técnicos do governo federal.

No Sudeste, o Estado mais afetado é Minas Gerais, com 90 municípios em situação de emergência ou calamidade pública. Segundo o ministério, Minas Gerais ainda tem 25 pedidos em análise.

Entenda a diferença entre situação de emergência e calamidade pública:

Situação de emergência

Situação anormal provocada por desastres (chuvas, estiagem, incêndio etc) que causam danos e prejuízos que comprometam apenas parcialmente a capacidade do Estado ou do município afetado de responder à situação

Calamidade pública

Situação anormal provocada por desastres (chuvas, estiagem, incêndio etc) que comprometem substancialmente a capacidade do Estado ou do município afetado responder à situação. Normalmente, quando um Estado ou Município decreta calamidade pública, o governo federal intercede com ações de socorro e transferência de recursos

Estiagem: imagens aéreas exibem seca nas represas brasileiras

3.fev.2015 – Vista aérea da represa de Jaguari, em Jacareí, no interior de São Paulo. Após fortes chuvas que caíram no Estado de São Paulo, o nível do reservatório registrou aumento e passou de 1,61% para 1,72% da capacidade Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo

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Seca faz cidade submersa há 45 anos ressurgir em SP (OESP)

Em Igaratá Velha (SP)

31/01/201509h00 Atualizada 31/01/201512h58 

Carlos de Almeida, 50, morador de Igaratá (SP), exibe uma foto da antiga cidade, inundada desde março de 1969

Carlos de Almeida, 50, morador de Igaratá (SP), exibe uma foto da antiga cidade, inundada desde março de 1969. Tiago Queiroz/Estadão

A seca que atinge o rio Jaguari fez reaparecer as ruínas de uma cidade que estava submersa desde março de 1969, quando começou a construção dos reservatórios usados na geração de energia para a região do Vale do Paraíba e do Sistema Cantareira.

No fundo de uma represa, que está 30 metros abaixo do nível normal, entre Joanópolis e São José dos Campos, no interior paulista, a igreja matriz, a praça e a rua principal da Igaratá Velha ressurgiram e se transformaram em ponto turístico.

Os 2 mil moradores do antigo povoado de Igaratá Velha, formado em meados de 1865 em uma confluência dos Rios Jaguari e do Peixe, foram removidos para uma nova cidade homônima um século depois. Criada em dezembro de 1969 a 3 quilômetros da antiga cidade, a nova Igaratá nasceu em um terreno da antiga Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp), doado aos moradores. Hoje, o município tem cerca de 9 mil habitantes.

O reaparecimento das ruínas da Igreja Nossa Senhora do Patrocínio emociona quem viveu no antigo povoado. Um grupo colocou uma nova cruz onde ficava a igreja. “O pessoal mais velho vem e passa o domingo rezando em volta da cruz. Não querem que a água cubra de volta a igreja”, diz o agricultor Edilson Cardoso, de 32 anos.

Com um quadro da Igaratá Velha debaixo dos braços, o pescador José Carlos de Almeida, de 50 anos, cobra R$ 5 para levar turistas de canoa até as ruínas do antigo grupo escolar, no meio da represa. “Se a represa baixar os 10 metros que faltam, vai reaparecer a cidade inteira.”

A prefeitura de Igaratá também fez melhorias na pista de terra que dá acesso às ruínas, para facilitar a visitação. “Uma pena não ter dinheiro para fazer a preservação das peças encontradas. Muita coisa as pessoas já levaram embora”, diz o secretário de Obras de Igaratá, Emerson Rodrigues, de 35 anos.

Enchentes

Na época da remoção promovida pela Cesp, a maior parte dos moradores concordava com a mudança. “Era muita enchente. No período das chuvas todo mundo tinha de sair de casa. Só os mais antigos não queriam mudar”, recorda José Rodrigues, de 72 anos.

Na nova Igaratá, a emoção pelo ressurgimento da antiga igreja parece ter anestesiado a preocupação com a seca. Mesmo entre os mais jovens a curiosidade é grande. Muitos querem descobrir onde ficava a casa da avó, da tia que morreu, do prefeito.

Telhas dos anos 1940, escadarias, tanques de lavar roupa e restos das cadeiras da praça podem ser observados sobre o solo seco. No meio da represa estão estacas das casas demolidas na época da inundação.

“Toda semana aparece uma coisa nova. Muito velhinho vem aqui e se emociona, chora mesmo”, conta Fabio Saltonato, de 28 anos. “Quero achar a casa que era do meu pai. Pelo que vi nas fotos, se baixar mais 2 metros ela vai aparecer. Quem sabe depois do carnaval.”

Mas a seca derrubou o turismo, principal atividade econômica de Igaratá. Na beira da represa, dezenas de chácaras e sítios de veraneio estão à venda. Pontos que funcionavam como marinas estão vazios. “Com essa transposição de água da represa, a cidade vai ‘morrer’ economicamente. Esse é nosso medo”, diz o secretário de Obras.

Rodízio seria ‘drástico’, 2 dias com água e 5 sem, diz diretor da Sabesp (Estadão)

Massato admite que medida pode ocorrer em SP e aumenta redução de pressão; para Alckmin, outros políticos tiram ‘casquinha’ da crise

27.01.2015 | 12:47

Ana Fernandes e Stefânia Akel – O Estado de S. Paulo

Atualizado às 14h25

SUZANO – O diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, admitiu na manhã desta terça-feira, 27, que a Região Metropolitano de São Paulo pode ter rodízio de água no qual haveria até cinco dias sem abastecimento e dois com. Segundo ele, esse racionamento seria “drástico”.
“Para fazer rodízio, teria que ser muito pesado, muito drástico. Para ganhar mais do que já economizamos hoje, seriam necessários dois dias com água e cinco dias sem água”, afirmou em Suzano, na Grande São Paulo, durante o anúncio da ampliação da Adutora Guaratuba para o Sistema Alto Tietê.

Massato afirmou que o rodízio pode ocorrer se os órgãos reguladores acharem necessário e “se não chover”. “Nossa engenharia está correndo contra o relógio. Estamos batendo novos recordes de baixas precipitações”, disse.

Rodízio seria 'drástico', 2 dias com água e 5 sem, diz diretor da Sabesp‘Nossa engenharia está correndo contra o relógio. Estamos batendo novos recordes de baixas precipitações’, diz Paulo Massato 
JF Diório/Estadão

Segundo ele, a Sabesp não pretende usar a terceira cota do volume morto do Sistema Cantareira. “Pretendemos não usar, vamos correr com as obras”, disse.

Redução de pressão no período diurno. Massato declarou ainda que a Sabesp está ampliando o período de queda de pressão nas tubulações que atendem a Região Metropolitana de São Paulo. “Estamos deixando de fazer operação só noturna para fazer também a diurna. Isso atinge toda a região metropolitana”, afirmou. Segundo ele, “nunca foi necessário” informar a população da redução de pressão, mas agora, com a ampliação do período, a Sabesp informa os horários em seu site.

Massato explicou que a redução é diferente para cada área da região metropolitana. “A redução hoje é variável, cada setor tem uma regra diferente”, disse.

No mesmo evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que a válvula redutora de pressão da Sabesp existe há pelo menos 15 anos. “O mundo inteiro tem, para evitar perdas. Mas o período de redução da pressão era mínimo”, afirmou. Segundo ele, a medida, tomada há um ano, evita contaminação, canos estourados e perdas maiores.

‘Tirar casquinha’. Alckmin (PSDB) disse que existem políticos tentando “tirar casquinha” da crise hídrica, que atinge principalmente o Sudeste do País. Questionado sobre o pedido de manifestantes nesta segunda-feira, 26, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, para o governador falar da gravidade da falta de água, ele repetiu que o governo paulista tem trabalhado ininterruptamente há mais de um ano para mitigar os efeitos da estiagem.

“Não há ninguém que tenha falado mais sobre esse tema do que eu. Tem muita gente tentando tirar casquinha política, tentando levar uma vantagenzinha”, queixou-se, sem mencionar nomes.

Alckmin afirmou ainda que, através da política de bônus, São Paulo tem hoje o menor consumo per capita de água e criticou outros prefeitos e governadores que não adotaram políticas semelhantes. “Não tem nenhum governo do Brasil que tenha feito bônus, engraçado, né? Ninguém critica ninguém. Ninguém fez.”

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Ensaio sobre a cegueira hídrica (Conta D’Água)

por Conta D’Água

26 de janeiro de 2015

Foto: Mídia NINJA

A falta d’água afeta a dignidade humana, tem implicações de saúde pública, desespera, paralisa a atividade econômica. Pois prepare-se: 2015 começou sob a sombra da crise hídrica. O cenário que se está montando é gravíssimo.

Já quase terminado janeiro, contata-se que choveu muito menos do que era esperado. No Sistema Cantareira, choveu 35% da média histórica. No Sistema Alto Tietê, meros 26% da média histórica. E o quadro não encontra alívio nos demais mananciais, também deficitários.

A própria Sabesp admite que o que existe de água em todos os sistemas, considerando o padrão de consumo atual, vai dar pra 50 dias, ou seja, março. E daí? Aí, acabou. Não é que vai faltar um pouco de água. É que não tem água; não tem para onde correr.

Entrevista realizada coletivamente por Barão de Itararé, Brasil de Fato, Fórum, Outras Palavras, Mídia Ninja, Ponte e SpressoSP. Fotos: Mídia NINJA

Para entender melhor as dimensões humanas, sociais, econômicas e ambientais dessa crise, o projeto Conta D’Água procurou uma das maiores especialistas do tema, a ambientalista Marussia Whately, dirigente do projeto Água São Paulo, do Instituto Socioambiental (ISA), e uma das principais protagonistas da Aliança pela Água, uma iniciativa reunindo 30 ONGs, visando propor soluções e cobrar providências do poder público.

Distribuição de água em praça pública, Itu, dezembro de 2014. Foto: Mídia NINJA

A crise na vida real

MARUSSIA WHATELY: Tornou-se séria a perspectiva de o Sistema Alto Tietê, que abastece a zona leste de São Paulo, entrar em colapso. Isso quer dizer que quatro milhões de pessoas deixarão de ter água pra beber. Hoje, o nível do reservatório está em 10,4%, o que é extremamente crítico porque se trata de um reservatório com apenas metade da capacidade do sistema Cantareira. E está baixando.

Como você vai fazer pra manejar essa região? Onde as pessoas vão pegar água? Uma das possibilidades é levar água potável com caminhões-pipa provenientes de Ubatuba, São José. Quantos litros serão necessários para abastecer a zona leste todos os dias? Qual a qualidade da água que chegará aos consumidores?

Nessa região, você tem reservatórios de distribuição, as caixas d’água da Sabesp, como a que existe na avenida Consolação, ou no Paraíso. Esses reservatórios, logicamente, estarão vazios. Mas eles têm de ser o lugar para onde os caminhões-pipas serão levados.

Não se pode deixar caminhão-pipa no mercado. A partir de agora, será preciso que se mapeiem todos os poços que estão autorizados a captar água mineral. Num plano de contingência, todos esses 50 mil poços têm de ter sua outorga suspensa e a exploração será de uso exclusivo do Estado.

Agora, a Sabesp vai fazer isso? Não. Esta é uma responsabilidade do governo do Estado, com as prefeituras. É uma agenda que temos que trabalhar para que se torne realidade.

Vamos um pouco mais em frente com esse cenário.

“Os caminhões-pipas foram captar a água. E como essa frota chegará à zona leste? Será necessário organizar uma grande operação de logística durante as madrugadas, com menos trânsito, para transportar toda essa água. Porque serão centenas de caminhões-pipas.”

Os caminhões encherão o reservatório e amanhã, das 10h às 12h, a população de Ferraz de Vasconcelos, com seu comprovante de residência em mãos, vai poder retirar uma quantidade de água por pessoa. Das 12h a tal hora, vai ser a população da zona leste…

Coleta de água em postos improvisados na cidade de Itu, interior de SP. Foto: Mídia NINJA

Isso é um plano de contingência numa situação de estresse grave. Água pra escovar os dentes, tomar banho e cozinhar. Para outros fins —como dar descarga, lavar roupa, limpar a casa—, a saída será a água da chuva. Para isso, postos de saúde, escolas, creches, unidades de serviço público, precisarão se equipar com caixas para captar água da chuva, com filtro, tudo direitinho.

É preciso que a cidade se prepare. É preciso que o poder público se organize. A possibilidade de implantação de um racionamento de cinco dias sem água é bem concreta. Mas uma coisa é viver cinco dias sem água em uma situação organizada. Outra coisa, bem diferente, é ter o racionamento em uma área como a zona leste da Capital, com uma rede toda remendada, com áreas inteiras de ocupação irregular. O resultado torna-se muito mais imprevisível.

Para dar um exemplo. Ontem, a partir das 16h30, não tinha mais água da rua em minha casa. Mas se trata de uma casa com apenas dois moradores. Manejando o consumo, conseguimos ficar até cinco dias sem água da rua. Vamos ter restrição? Claro, mas dá para garantir as necessidades básicas. Essa situação é totalmente diferente da que é vivida em uma comunidade com poucas caixas d’água, com casas habitadas por um número muito maior de moradores.

Mas fica pior quando se considera que essas pessoas funcionam em horários difíceis –gente chegando muito tarde em casa, por causa do transporte deficiente (quando a água já foi fechada), e que sai muito cedo de casa, também por causa do transporte deficiente (e a água ainda não voltou).

“Uma creche que não abre porque não tem água gera um efeito cascata. Se as crianças não podem ir para a creche, a mãe tem de faltar no emprego.”

Tomemos o caso de uma diarista. Quantos dias ela poderá faltar no emprego? Será que ela vai poder levar os filhos ao emprego? E isso impacta a vida da patroa dela também. Assim, começa um efeito de instabilidade grande na sociedade. Esse é um dos efeitos que ainda não estão devidamente dimensionados. Os governantes estão desatentos a essa questão.

E há a situação crítica das populações mais sensíveis, que precisam ser levadas em consideração. Sabe-se que a população da terceira idade, mais de 60 anos, e as crianças até 7 anos têm uma vulnerabilidade maior à desidratação. E há ainda os acamados, com deficiência de mobilidade e idosos, aos quais é preciso garantir o suprimento básico de água no próprio domicílio. Em suma, há uma série de desdobramentos éticos envolvida na gestão da crise.

Já se esperam protestos. Em Itu, vizinho de São Paulo, até donas de casa colocaram fogo nas ruas. Aqui em São Paulo, vai haver um escalonamento de manifestações e de violência porque a água mexe com a questão da dignidade. Quantos dias nós aguentamos sem poder dar descarga?

Dona Rute e sua família vivem em cinco pessoas em uma casa que recebe água apenas seis horas por dia no Capão Redondo, periferia de São Paulo. Foto: Sarah Pabs

É preciso instalar um Comitê de Crise. Temos de falar e explicar que se trata de uma crise sem precedentes. O mais natural seria o governador do Estado de São Paulo [Geraldo Alckmin] puxar isso, mas se ele não puxar, a sociedade civil tem de fazê-lo.

O Comitê é fundamental no sentido de começar a desenhar as linhas de ação de um Plano de Contingência. A população precisará de referências públicas em relação à água. Também é importante o acesso à informação.

Nós lançaremos em fevereiro um copilado de propostas de especialistas para a gestão dessa crise. Um dos itens importantes, por exemplo, é a questão da qualidade da água oferecida pelos caminhões-pipa. Teria haver em cada subprefeitura uma lista de caminhões-pipas autorizados a operar. E informações claras do tipo: “Aqui, na área desta Subprefeitura, faltará água nos próximos cinco dias; água potável poderá ser encontrada nesses endereços, de tal hora a tal hora”. Isso tem que ser feito e não é responsabilidade da Sabesp.

Em última instância, quem vai ter de decretar os estados de emergência são as prefeituras, mas elas estão receosas de assumir o protagonismo da crise. Pela lei de saneamento, as prefeituras são os titulares do saneamento. Teoricamente, seriam as prefeituras que deveriam mandar nessa confusão. O contrato de prestação de serviços da Sabesp é assinado com a prefeitura, que delega a regulação para a Arsesp, Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo.

Eu acredito que tem um canal, que vai ser começado pelo município de SP, que está revendo o contrato com a Sabesp, e está percebendo que os moradores do município vão ficar sem água, enquanto a empresa recebe uma grana incrível em cima e não reinveste.

Um acionista da Sabesp que eu acho que está sendo pouco questionado é o próprio governo do Estado, que detém 51% da empresa. Quando são pagos os dividendos, 51% voltam para o governo do Estado, e não necessariamente o governo tem reinvestido na Sabesp.

(Grande parte do investimento em infraestrutura que a Sabesp fez nos últimos anos foi com financiamento da Caixa, financiamento do Banco Mundial, várias fontes).

Plano de contingência

MARUSSIA WHATELY: O plano de contingência é a principal reivindicação da Aliança pela Água. Em final de outubro do ano passado, fizemos um processo rápido de escuta de mais ou menos 280 especialistas de diferentes áreas. E o plano de contingência apareceu como uma das principais reivindicações desses especialistas.

Volume morto na represa Jaguari-Jacareí, no Sistema Cantareira. Foto: Mídia NINJA

Naquela ocasião, a idéia predominante era que se adotasse um plano de contingência que permitisse que chegássemos a abril deste ano com um nível de reservação de água nas represas, que desse para aguentar o período da estiagem. Infelizmente, esse plano não foi elaborado e muito menos realizado.

O que aconteceu na prática foi uma negação da crise hídrica por parte do governo do Estado até dezembro de 2014 —uma negação que vai levar para outras instâncias de responsabilização.

O governador terminou o ano dizendo que não teríamos racionamento e que não haveria falta d’água. E começou 2015 dizendo que existe o racionamento e que pode ser que falte água.

Se fosse um novo governador, a gente até poderia aceitar, mas se trata do mesmo cara. Então tem uma questão aí: a forma como a crise foi conduzida nos fez perder muito tempo em termos de ações para chegar a um nível seguro em abril.

Realmente, existe um componente de clima na crise que não dá para negar. Já está confirmado que 2014 foi o ano mais quente da história. O que já seria um quadro de extrema gravidade, entretanto, tem sido agravado porque desde 2011 a Sabesp está super-explorando as represas. Ou seja, tirando delas mais água do que entra.

O governo do Estado deveria ter assumido a liderança em relação à crise da água em São Paulo. No caso do sistema Cantareira, essa liderança deveria ser dividida com o governo federal, por intermédio da Agência Nacional de Águas e do Ministério do Meio Ambiente, a quem compete organizar a Política Nacional de Recursos Hídricos. O problema é que muitos dos nossos instrumentos de gestão vem sendo desmantelados em escala federal, estadual e municipal.

“O Ministério do Meio Ambiente está omisso em relação aos recursos hídricos. A Agência Nacional de Águas transformou-se num mero órgão que faz a outorga, já que ficou enfraquecido nesse processo de construção de Belo Monte.”

A síntese é a seguinte: “Já basta a licença ambiental, não me venham inventar mais uma licença de recursos hídricos, pra empacar a hidrelétrica”.

É preciso recuperar as represas. O Sistema Cantareira está com o nível em torno dos 5%. Não dá mais! Não vai encher. Vai ter que ter racionamento.

A perspectiva com a qual a Aliança da Água trabalha é a de união entre diferentes setores (especialistas na pauta do meio ambiente e sociedade) para a elaboração de um Plano de Contingência mais sólido. Ficar refém, à espera de um plano elaborado pela Sabesp, além de não ser propositivo também não é eficaz. É fundamental que os movimentos sociais e as universidades debatam esse tema com profundidade e urgência.

Quem é o responsável?

MARUSSIA WHATELY: O padrão de chuvas, repito, foi aquém da média histórica, mas houve o acúmulo de infelicidades. Uma que é certamente muito grave foi a ausência de visão estratégica mínima do responsável, que é o governo estadual paulista. Ele deveria ter liderado a gestão da água, mas perdeu um ano negando a existência da crise, afirmando para a população que não faltaria água, criando uma medida que foi o bônus, apresentado como uma alternativa ao racionamento. Só que o bônus ele é muito questionável porque descapitaliza a empresa. Diminui a capacidade de investimento da Sabesp. Do ponto de vista econômico, no momento de escassez de um produto, você baixar o preço dele, é um contrassenso.

Durante os nove meses de campanha, não se conseguiu mudar o padrão de consumo. Metade dos consumidores aderiu e reduziu 20% o gasto de água. Um em cada quatro reduziu, mas não atingiu a meta. E um em quatro aumentou o consumo. A verdade é que junto com o bônus teria de ter a sobretaxa para o excesso de consumo e uma série de ações.

“O bônus foi apenas uma ação paliativa, tentando substituir uma ação mais
radical que seria o racionamento. “

Ao mesmo tempo, de um ponto de vista mais técnico e operacional, só isso não gerou a redução do consumo de água que seria necessário.

Represa Jaguari–Jacareí, no sistema cantareira. Foto: Mídia NINJA

Desde o início do ano passado, falava-se em reduzir pela metade a retirada de água do sistema Cantareira. Ou seja, sair de 31 metros cúbicos por segundo para 16. Mas isso só está sendo atingido agora. Eles foram baixando de 31 para 27, para 24…

No total do abastecimento de água de São Paulo, conseguiu-se reduzir o consumo de 69 metros cúbicos por segundo para 55. Ou seja, todas as medidas adotadas –bônus, redução da pressão, ampliação de captação, melhoria no índice de vazamentos — lograram uma economia de 20%. É pouco em termos de redução da retirada de água dos mananciais. Precisaria ser no mínimo 50%.

Em janeiro de 2014 houve um primeiro plano de contingência, que previa um plano de racionamento no sistema Cantareira. Esse primeiro plano simplesmente sumiu. Ele não está mais disponível. A proposta era que o Cantareira, que em janeiro de 2014 estava com 24% de reservação, sem contar o volume morto, já começasse a fazer um racionamento brando. Veja que esses 24% de reservação (sem contar o volume morto) equivaliam a 46% da capacidade total do sistema –e mesmo assim, já soou o alarme e se propôs o racionamento.

Hoje, o Cantareira está com um nível de reservação em 5,6%, já considerando o uso do segundo volume morto.

Corremos o risco de ter de decretar agora um racionamento de cinco dias sem água.

Quem deve ser o responsável pela gestão da crise?

MARUSSIA WHATELY: A questão das responsabilidades é essencial para estabelecer um plano de contingência. Qual é a grade de responsabilidades e atribuições? Quem tem de fazer o quê?

Obras do canal de escoamento do volume morto em represa do Sistema Cantareira. Foto: Mídia NINJA

A Sabesp é uma companhia prestadora de serviço. E, como prestadora de serviço tem de ter constância, indicador, desempenho, eficiência, meta… A Sabesp não é a gestora da política. Não é ela quem deve decidir onde é melhor investir, quem vai ficar sem água. Quem tem que decidir isso é a Arsesp, a agência reguladora. A gente tem feito cobranças equivocadas em cima da Sabesp, quando a cobrança tem de ser em cima da regulação.

É muito fácil colocar a Sabesp na linha de tiro. E ninguém fala nada sobre as responsabilidades da Secretaria de Recursos Hídricos, da Arsesp, da Secretaria de Meio Ambiente, que dá licenças, como a de uso do volume morto. Alguém viu o licenciamento ambiental desse uso extremo do Cantareira? Quais foram as condicionantes, os compromissos de mitigação? Foi uma licença emergencial?

Bacia do cantareira durante a seca. Foto: Mídia NINJA

Não é só que a água não está mais atingindo suas margens normais. É que, por centenas de quilômetros, o solo ficará ressecado, com impactos substanciais sobre todo o meio ambiente em torno.

Construir soluções para a crise vai depender de um plano de contingência que não é um plano da Sabesp, é um plano do governo federal, estadual, prefeituras e com a sociedade. Vai ter que entrar defesa civil, vigilância sanitária, secretaria de segurança…

Como resolver a crise

MARUSSIA WHATELY: O governo do Estado apostou alto que ia chover. E, na outra mão, ele veio com um conjunto de obras que conseguirão criar —daqui a cinco anos— mais 20 mil litros. A gente não precisa de mais 20 mil litros. A gente precisa consumir melhor a água que tem.

Obras durante a construção do segundo Volume Morto, no sistema Cantareira. Foto: Mídia NINJA

Daqui a cinco anos, eu terei feito a transposição de águas do rio Paraíba do Sul para cá, o Paraíba do Sul, aliás, que agora está com apenas 5% de água. Então, veja, eu faço uma mega-obra para trazer água e, de repente, pode não haver água pra ser trazida para cá.

E se, em vez disso, houvesse a recuperação da represa Billings, que está aqui ao lado? Nela, cabe a mesma quantidade de água do que a Cantareira é capaz de produzir. Ela não produz a mesma quantidade, mas ela pode guardar. Ou seja, eu posso trazer de outros lugares a água para a Billings em quantidades menores; posso interligar algumas represas do Alto Tietê; ou mesmo pensar em pequenos reservatórios no topo da serra do Mar, que seria uma água de altíssima qualidade, e trazer para Billings…

São várias idéias que nem chegaram a serem discutidas, a respeito de uma represa que está aqui, mais perto do que as alternativas de abastecimento colocadas na mesa. A Billings, como se sabe, é o destino do esgoto que a Sabesp não consegue tratar, que é jogado no Tamanduateí, no Anhangabaú, no Pinheiros, no Tietê, em todos os rios que a gente colocou avenidas em cima.

Depois, tem a drenagem urbana que é esquizofrênica porque uma parte quem cuida e o Estado, outra são as prefeituras. Só aí haveria uma capacidade de geração de água de chuva que seria mais ou menos o equivalente à vazão do rio São Lourenço, 4 metros cúbicos por segundo. O novo sistema São Lourenço, que deve ficar pronto em 2017, custará R$ 2 bi só em obras, terá custo operacional de mais R$ 6 bi em cima. Trata-se de uma mega-obra para trazer água lá de longe do rio Ribeira, sem pagar devidamente os encargos ambientais que serão gerados naquela região, sem que aquilo gere prosperidade naquela região.

Os ensinamentos da crise

MARUSSIA WHATELY: Com a água acontece uma coisa curiosa: como cai do céu, é difícil acreditar que vá faltar. Acaba a água da torneira, mas está tudo alagado lá fora. Isso, imagino, gera uma confusão pra muita gente… Mas ao mesmo tempo gera um aumento de consciência. Essa água que está alagando as ruas, será que ela não poderia ser usada?

Estoque de água doméstico em Itu, no interior paulista. Foto: Mídia NINJA

Essa água é própria para o consumo?, alguém poderia perguntar. Há controvérsias. Há pessoas filtrando e fazendo testes, dizendo que é melhor do que a água da Sabesp. Cada vez mais, eu acredito que, quanto mais a gente tornar as pessoas autônomas em relação a garantir o seu básico, mais a gente estará caminhando para um mundo sustentável. Ensinar a garantir o mínimo da sua água, o mínimo da sua comida, pode ser um caminho.

A gente está tendo falta de água, apagão de energia, enchentes. Todos esses eles problemas estão ligados à gestão da água. Todo esse processo é muito didático e deve induzir mudanças de atitude. Como continuar aceitando como normal descarregar a privada com água potável? O baixo nível dos reservatórios está mostrando o baixo nível das nossas políticas em relação a isso. Se não for didático, então a única saída é o êxodo.

Vídeo: Sintaema

Entrevista realizada coletivamente por Barão de ItararéBrasil de Fato,FórumOutras PalavrasMídia NinjaPonte e SpressoSP.

O que se pode fazer para vencer a crise da água? (A Conta d’Água)

26 de janeiro de 2015

Especialistas acreditam que medidas tomadas pela Sabesp e pelo governo do estado são insuficientes para resolver o problema do abastecimento, além de mascararem uma escassez que existe em diversas regiões do estado

Texto: Guilherme Franco e Vinicius Gomes da Revista Fórum

Fotos: Mídia NINJA

Na primeira segunda-feira (5) do ano, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) lançou mais uma de suas ações para combater a crise de saneamento de água: a distribuição de dispositivos de torneira para economizar água, com o mote “Se usar bem, ninguém fica sem”.

Como se ainda estivesse em 2014, a estratégia adotada para contornar o problema hídrico continuou sendo a mesma. Apelar para a boa vontade da população, atribuindo a ela, de forma direta ou indireta, parte da culpa pela crise. Há exatamente um ano, diversas cidades do litoral sul de São Paulo ficaram sem água próximo à época do Reveillon e, na ocasião, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a falta d´água havia ocorrido por conta de um “consumo inesperado” dos turistas que desceram a serra para as festas. Afinal, por que alguém esperaria aumento de consumo em períodos de forte calor, não é mesmo?

Ao longo de todo o ano passado, enquanto os paulistas incluíam as palavras “Sistema Cantareira” e “volume morto” em seu vocabulário diário, cada vez mais regiões da capital e do interior paulista passavam a sofrer com a falta sistemática de água. A cidade de Itu, na região metropolitana de Sorocaba, foi um dos casos mais simbólicos (Veja o vídeo).

Mesmo assim, o governador sempre foi resoluto em afirmar que não faltava água no estado. No último debate entre os postulantes ao governo paulista, no início de outubro passado, Alckmin, ainda candidato à reeleição, foi taxativo: “Não falta e nem vai faltar água em São Paulo”. Porém, neste novo ano que começa a notícia é velha. Para evitar o caos no abastecimento de água, o governo tucano decidiu impor uma sobretaxa para forçar a redução do consumo da população.

Se usar bem, ninguém fica sem?

“É importante que fique claro que a responsabilidade pela crise d´água não é da população”, afirma Edson Aparecido da Silva, sociólogo e coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental.

O especialista é um dos muitos que não possuem dúvida alguma de que o verdadeiro motivo para a crise hídrica em São Paulo não é a falta de consciência da população no uso d’água — que de fato existe — , mas sim porque os sucessivos governadores que passaram pelo Palácio dos Bandeirantes não tomaram as medidas necessárias. “Estamos enfrentando essa crise porque o governo não fez no tempo certo as obras que deveriam ter sido feitas. Ele não iniciou uma campanha de redução de consumo com a antecedência devida”, acrescenta.

Dona Rute, moradora do Jardim Umuarama, vive um racionamento não oficializado pelo governo, que pode durar até 9 dias sem água na torneira. Foto: Sarah Pabst

Na mesma linha de Aparecido, o diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), José Mairton, afirma que o cenário atual poderia ser outro, caso o governador de São Paulo tivesse decretado o racionamento no início de 2014. “A estiagem prolongada previu a falta de água. Hoje poderíamos ter uma situação menos preocupante. A coordenação da campanha eleitoral do atual governador do PSDB não queria passar uma falha gravíssima de sua gestão anterior, sendo assim, persistiram em um erro que considero um dos maiores golpes políticos já visto”, avalia.

Mas, na contramão dos fatos, Alckmin nunca assumiu a necessidade de decretar racionamento, pelo menos assim o fez durante todo o ano de 2014 — um ano eleitoral.

De acordo com Edson Aparecido, apesar de o racionamento não ter sido decretado oficialmente, ele já existe desde que a Sabesp começou a fazer redução na pressão da rede durante o período noturno. “Quando uma pessoa chega em casa do trabalho, vai tomar banho, abre a torneira e descobre que a água só virá no dia seguinte, é um racionamento.”

Depoimentos que desmentem o discurso do governador são abundantes. “Aqui falta água faz tempo já, não é verdade que não tem racionamento em São Paulo”, relata o poeta Binho, fundador do Sarau que leva seu nome e morador do Campo Limpo, vizinho ao terminal de ônibus da região. “A gente tem que ficar de plantão o dia inteiro, esperando a água chegar. Aí corre pra encher balde, panela e guardar tudo”, conta a carroceira Dona Rute de Carvalho na favela Godoi, Jardim Umuarama — ambos na capital paulista.

Com o nível do segundo volume morte ora se estabilizando ora caindo, mas raramente subindo significativamente, e com o período de chuvas se aproximando do seu final, existe algum motivo para que o governador não decrete o racionamento?

Primeira solução para a crise: assumir que há uma crise

Pode parecer óbvio para muitos que, para se resolver um problema, precisa-se, primeiro, reconhecer que ele existe. Mas nem sempre o óbvio é assim tão evidente. “Em momentos de crise como esse, o governo estadual deveria fazer duas coisas — além de decretar oficialmente o racionamento : apresentar um “pacotão” de medidas — um plano de contingência para enfrentar essa crise que tende a se aprofundar ao fim do período de chuvas (final de março), e que esse pacote fosse precedido de um diálogo com as prefeituras diretamente envolvidas com a crise”, afirma Aparecido que cita as prefeituras das regiões metropolitanas da capital paulista e de Campinas, junto com os comitês de bacias hidrográficas do Alto Tietê e do PCJ (Piracicapa-Capivari-Jundiaí). “[Mas] o governo do Estado continua em uma linha de ação individual, autoritária, sem transparência e isso tem sido péssimo”, lamenta.

Fluxo de água na primeira cota do Volume Morto, inaugurado pelo governador Geraldo Alckmin. Foto: Mídia NINJA

Para ele, era necessária uma conversa com todas as prefeituras — com a ajuda do governo do estado e da Sabesp — para desenvolver um plano para a redução do consumo excessivo de água, além da adoção de algumas das medidas como: mapear todas as possibilidades de poços artesianos nas regiões e requisitar que o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo), que é o responsável pela outorga de utilização de poços, apresentasse, com as respectivas prefeituras envolvidas, uma lista com tais possibilidades, tendo como prioridade o abastecimento humano.

Outras medidas deveriam envolver também dois grandes consumidores de água no estado: os setores agrícola e industrial. Aparecido entende que o governo deveria negociar com ambos a busca por novas tecnologias para utilizar menos água em suas produções, inclusive com incentivos fiscais. “Partindo do princípio que a água tem que usar usada prioritariamente para o abastecimento humano, o governo também tinha que chamar a Fiesp [Federação das Indústrias de São Paulo] e fazer um plano de redução de consumo desse setor”, sugere o especialista.

Continuar pedindo o sacrifício da população é insuficiente

Perguntado se um, até o momento, hipotético decreto de racionamento residencial seria suficiente para aplacar a crise, Aparecido Silva é direto: não.

Segundo dados oficiais do DAEE, o setor industrial utiliza 40% de toda água disponível para abastecimento em rios, poços e reservatórios da Grande São Paulo e Baixada Santista e, como afirmou o geógrafo Wagner Ribeiro, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), outras medidas futuras podem começar a ser discutidas, como a presença de indústrias nas regiões metropolitanas, que são áreas de escassez hídrica. “É fundamental reavaliar a conveniência de manter indústrias funcionando aqui”, acredita.

E quanto aos empregos na área industrial? O estudo mais recente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, feito entre os dias 12 e 26 de maio de 2014 com 229 empresas de micro e pequeno porte (até 99 empregados), 140 de médio porte (de 100 a 499 empregados) e 44 de grande porte (500 ou mais empregados), revelou que já foram fechados mais de 3 mil postos de trabalho devido à falta de água. As demissões decorrem da redução do ritmo da produção e da queda da produtividade das indústrias pela falta do recurso hídrico. A tendência, segundo a Fiesp, é que o quadro se agrave nos próximos meses.

“A situação já estava muito ruim no que diz respeito ao crescimento econômico”, declarou Anicia Pio, gerente de meio ambiente da Fiesp. “Naturalmente, que a falta d’água teve uma parcela importante nessas demissões. A escassez de água está levando à redução da produtividade e toda vez que isso acontece é necessário cortar custos, ou seja, demitir o funcionário. A nossa perspectiva é que a nova equipe que vai assumir decrete medidas amargas, mas necessárias para que cause o mínimo de sofrimento a todos os setores”, ponderou.

O estudo ainda apontou que, em cada três empresas, duas estão preocupadas com a possível interrupção no fornecimento de água na região. A possibilidade de racionamento ainda neste ano é um fator de preocupação para 67,6% das 413 indústrias entrevistadas pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp.

Calamidade Privada — A crise da água em Itu from A conta da Agua on Vimeo.

Anicia defende que o racionamento deveria ser decretado em todos os setores, inclusive para as empresas. “O correto é que a redução seja para todo mundo. As indústrias têm feito a lição de casa nesse sentido. Desde 2007, as empresas que captam água direto dos mananciais tiveram uma redução de mais de 50%. O setor industrial, na região metropolitana, responde por 10,6% de toda a água utilizada em termos de uso direto (rios, águas subterrâneas)”, afirma.

Além do plano de contingência, ela sugere incentivos fiscais para empresas que atuam no segmento de produtos químicos. “Quanto menos água, mais caro fica o tratamento. O governo poderia diminuir ou dar incentivo para a redução dos impostos de produtos químicos, evitando assim que a população seja obrigada a pagar mais caro pela água”, conclui.

De acordo com Aparecido, o governo do estado deveria enviar à Assembleia Legislativa de São Paulo uma lei reduzindo ou isentando de impostos da esfera estadual, como ICMS, equipamentos hidráulicos que possam reduzir o consumo de água para incentivar a indústria e o comércio — com os usuários domésticos substituindo seus equipamentos por outros de baixo consumo.

Outras medidas sugeridas pelo especialista seriam revisão de calendário de eventos nesses períodos de muito calor, onde se consome muita água; rever o calendário escolar — como campeonatos esportivos, feiras, congressos, a extensão do período de férias de verão e o cancelamento das férias de inverno, além de um controle maior para que todas as administrações, tanto estadual quanto municipal, reduzissem o uso de água na lavagem de equipamentos públicos e rega de jardins, por exemplo.

E a Sabesp?

Em 1994, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) se tornou uma empresa de capital misto com o argumento de que vendendo parte de suas ações seria possível arrecadar mais recursos para investir na sua função: saneamento básico e abastecimento de água.

Passados 20 anos, a empresa viu seu faturamento saltar de R$ 6 bilhões para R$ 17,1 bilhões entre 2002 e 2012. A quantia nada modesta seria mais do que o suficiente para a ampliar a rede de captação e saneamento, evitando assim qualquer problema relacionado à escassez de água. Enquanto parte da população da região metropolitana vê as torneiras secas há meses, os acionistas da Sabesp têm um faturamento nada escasso.

Festa em Nova York, seca em São Paulo: ao som de “Oh Happy Day”, diretores da Sabeps comemoraram o lucro de R$ 4,3 bilhões em 2012 Foto: Sabesp

Diante da lógica da maximização dos lucros, a companhia não tomou as medidas necessárias para conter a crise já em 2013, quando o nível dos reservatórios estava baixando. Políticas de racionamento, com penalização de quem desperdiçasse água, e de informação não foram feitas, como explica Anderson Guahy, técnico em gestão da Sabesp e diretor de formação do Sintaema.

“Em vez da empresa buscar a universalização do saneamento, levar saneamento e saúde para toda a população do estado, ter feito a manutenção das redes de água, ela vem atuando no sentido de garantir lucros cada vez maiores para seus acionistas. No que diz respeito à Sabesp, a responsabilidade pela crise deve ser direcionada à alta gestão e não aos trabalhadores concursados que vêm sendo perseguidos nos últimos meses”, diz Guahy.

Seguindo uma linha de raciocínio semelhante, Anicia Pio sugere que dois blocos de ações que deveriam ter sido executados mas não foram: obras e transparência. “Desde 2004 o governo sabia da necessidade de investir no sistema de abastecimento da Grande São Paulo, mas nada foi feito. Ao mesmo tempo, faltou autoridade e competência para chegar na população através da mídia e explicar a gravidade da situação”, afirma. O caso de 2004 a qual ela se refere é a outorga que autorizava a Sabesp a retirar água do Sistema Cantareira e fornecê-la para oito milhões de pessoas na capital paulista e na região metropolitana, ação que já constava entre as diretrizes para reduzir a demanda, pois o sistema poderia não suportar uma situação como a atual.

“E a Sabesp ainda não apresentou nenhum plano para a redução da perda de água, quer dizer continua perdendo um terço da água ainda na distribuição”, argumenta Aparecido. O especialista afirma que seria importante que ela interrompesse o pagamento de dividendos ou de juros sobre o capital próprio para os seus acionistas.

Em meio a pior crise enfrentada pelo Estado mais rico do Brasil, que possui a maior cidade da América Latina em um país que diferente de muitos outros, foi “abençoado” por inúmeros recursos hídricos disponíveis em seu território, os acionistas podem comemorar o ano que passou: somente em 2014, a Sabesp captou aproximadamente R$ 800 milhões. A população paga a conta.

É difícil atribuir seca em SP ao aquecimento global (Folha de S.Paulo)

Entrevista da 2ª – Carlos Nobre

26 de janeiro de 2015

São necessários mais estudos, diz climatologista, para quem o sudeste tem regime de chuvas especialmente imprevisível

MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

O renomado climatologista Carlos Afonso Nobre está muito preocupado com a crise hídrica. No Sudeste, para que a estação chuvosa janeiro-março fique na média histórica, seria preciso chover 60% a 80% mais que o usual nos dois meses que faltam.

O problema é que não há como prever se isso vai ocorrer. No ano passado, o bloqueio atmosférico (massa de ar que impede a entrada de umidade) durou até meados de fevereiro. A boa notícia é que, neste janeiro de 2015, ele foi rompido pela frente fria dos últimos dias –mas nada impede a sua volta.

As condições do Sudeste, afirma, fazem dele uma região de baixa previsibilidade para secas e chuvas, mesmo na escala de semanas.

Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Nobre se encontra na posição desconfortável de ser um destacado estudioso da mudança do clima com funções executivas num ministério em que o titular (Aldo Rebelo) já pôs o fenômeno em dúvida. Evita tratar do assunto, porém, por ter convivido pouco com o novo ministro.

De todo modo, Nobre não abandona a prudência científica. “É difícil atribuir ao aquecimento global um extremo climático como as secas do Sudeste”, afirma nesta entrevista, concedida por escrito.

A impossibilidade de se relacionar diretamente a mudança climática a episódios específicos não significa, porém, que governos não devam se preparar para o aumento de eventos extremos causado por ela, diz Nobre.

Folha – O verão 2013/14 foi o mais seco em 62 anos no Sudeste, em especial na bacia que alimenta o Cantareira. Já é possível avaliar se o de 2014/15 irá superá-lo ou igualá-lo?

Carlos Nobre – Ainda não, pois fevereiro e março são meses da estação chuvosa. De qualquer maneira, para que a estação chuvosa no Sudeste se encerrasse dentro da média histórica, as chuvas em fevereiro e março deveriam ficar de 60% a 80% acima da média.

Até novembro e dezembro de 2013, as previsões sazonais não haviam sido capazes de indicar a estiagem que viria em janeiro de 2014.

De fato, não há quase nenhuma previsibilidade para a região Sudeste e Centro-Oeste quando se trabalha com uma escala de meses.

Tal região não está entre os locais do planeta com previsibilidade climática sazonal, como o norte do Nordeste, partes da Amazônia e Sudeste da América do Sul (centro-leste da Argentina, Uruguai e Paraguai, e sul do Brasil).

A variabilidade climática no Sudeste é fortemente influenciada por frentes frias e por fenômenos atmosféricos de grande escala, como os bloqueios, que geram os veranicos [com estiagem] no meio da estação chuvosa, que são difíceis da prever. Isso aumenta o nível de incerteza na gestão dos recursos hídricos.

Isso vale para a maior parte do Brasil?

No semiárido do Nordeste, as previsões de secas com antecedência de alguns meses têm alto índice de acerto, quase 80%, e são forma importante para políticas de mitigação dos impactos das secas.

Para a estação chuvosa principal do semiárido, de fevereiro a maio deste ano, as previsões indicam risco de chuvas abaixo da média, um quadro de continuidade do deficit hídrico de vários anos.

No caso da Amazônia, é significativo o risco de grandes incêndios florestais, como em 1998 em Roraima?

Para o norte da Amazônia, especialmente Roraima, as chuvas dos últimos meses têm estado um pouco abaixo da média histórica, e fevereiro e março são meses do período mais seco do ano.

A principal explicação para chuvas abaixo da média no norte da Amazônia é o El Niño [superaquecimento das águas do Pacífico que aquece a atmosfera], ainda que o episódio atual seja considerado fraco e deva se enfraquecer-se nos próximos meses. Não se espera uma seca tão intensa em Roraima como foi aquela de 1997-98, reflexo do mega-El Niño ocorrido então.

Em janeiro de 2014, o bloqueio atmosférico permaneceu até meados de fevereiro. Com a frente fria que chegou a SP nesta quinta-feira (22), pode-se dizer que o pior já passou?

Como disse, prever bloqueios atmosféricos com semanas de antecedência não é factível. Mas, de fato, a situação a partir da chegada de uma fraca frente fria ao Sudeste nos últimos dias é diferente daquela de janeiro e fevereiro de 2014.

A repetição em 2014 e 2015 de condições de estiagem grave, ao menos no Sudeste, pode ter relação com o aquecimento global? Afinal, 2014 foi declarado pela Nasa e pela Noaa o mais quente já registrado. Qual é a chance de que seja apenas uma coincidência?

O fato de que as observações globais indicam a continuidade da tendência de aquecimento global, com 2014 sendo o ano com a mais alta temperatura à superfície desde 1860, é algo bem esperado, em razão da crescente quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera.

Por outro lado, é bem mais difícil atribuir ao aquecimento global um extremo climático como as secas do Sudeste. São necessários estudos com modelos climáticos globais complexos, nos quais se simula o clima com e sem os aumentos dos gases-estufa.

Além disso, sempre é necessário estabelecer quais são os mecanismos físicos para a mudança. No caso de bloqueios atmosféricos, envolveria entender mecanismos complexos. Como a propagação de ondas atmosféricas de milhares de quilômetros está respondendo ao aquecimento global? Trata-se de uma tarefa cientificamente bastante desafiadora.

Como se explica que reservatórios relativamente próximos, como Guarapiranga/Billings e Cantareira tenham comportamento tão díspares?

Em anos de bloqueios atmosféricos grandes sobre o Sudeste, toda a região apresenta chuvas abaixo da média. O efeito de ilha urbana de calor [afetadas pela temperatura mais elevada da cidade, massas úmidas de passagem viram tempestades], porém, atua para fazer com que os deficits sobre a região metropolitana de São Paulo sejam menores do que em regiões vizinhas, como o Cantareira.

Por outro lado, mesmo excetuando fenômenos de grande escala como os bloqueios, observa-se uma diminuição relativa das chuvas sobre o Cantareira nas últimas décadas e um aumento das chuvas sobre a cidade. Hipoteticamente, esse efeito de longo prazo pode estar relacionado com a ilha urbana de calor, mas estudos em andamento precisarão comprovar, ou não, essa hipótese.

O governo federal já trabalha com a hipótese de que a Grande São Paulo chegue a um estado de calamidade pública, com esgotamento completo do sistema Cantareira, por exemplo?

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) desenvolveu um modelo hidrológico para o sistema Cantareira e instalou, em abril e maio de 2014, 33 pluviômetros automáticos para melhorar o monitoramento das chuvas sobre as bacias de captação. Como não é factível prever hoje as chuvas em fevereiro e março, pode-se apenas traçar cenários.

No caso de continuidade de chuvas abaixo da média nesses meses, de fato há risco de o reservatório não ter condições de manter o abastecimento nos níveis atuais.

O que o poder público deve fazer no médio e no longo prazos para prevenir a repetição dessa situação limítrofe? Diria que se trata do principal problema no campo da adaptação à mudança do clima?

Adaptação às mudanças climáticas deve ser uma prioridade de política pública. Hidrólogos devem incorporar o fato de que os extremos climáticos estão se tornando mais frequentes e, em muitos casos, mais intensos.

Em outras palavras, as séries históricas de observações hidrológicas não podem mais ser consideradas estacionárias. O planejamento da utilização dos recursos hídricos deve levar em conta isso. A atual crise hídrica já está tendo um impacto em demonstrar que o Brasil precisa urgentemente buscar desenvolver sistemas e infraestruturas resistentes ao aumentos dos extremos climáticos.

Qual é a sua avaliação da Conferência de Lima e sua expectativa com relação a Paris, em dezembro?

Lima trouxe progressos incrementais. Embora exista a expectativa de algo maior em Paris, creio que seja realista não esperar uma revolução. Além disso, é preocupante a relativa diminuição recente dos preços dos petróleo e gás: se persistir, irá causar um inevitável aumento das emissões de gases do efeito-estufa.

Como tirar São Paulo da UTI? (Folha de S.Paulo)

26 de janeiro de 2015

Especialistas sugerem parcerias público-privadas e engajamento da sociedade civil para vencer limitações de água, fiação e arborização

FERNANDA MENA RAUL JUSTE LORES DE SÃO PAULO

Vazamentos no sistema da Sabesp, que hoje desperdiçam cerca de 20% da água coletada e tratada em São Paulo, podem ser descobertos por sensores já usados em Cingapura. Empresas que descubram e consertem esses vazamentos, em parcerias público-privadas, receberiam pelo volume de água “recuperado” aos cofres da Sabesp.

Quanto aos fios da rede elétrica que deixam os paulistanos no breu ao sinal de vento ou chuva, a AES Eletropaulo, prefeituras e proprietários de imóveis poderiam ratear o alto custo de se enterrar a fiação aérea.

Árvores que caem e derrubam a rede elétrica em um cenário de blecautes e falta de água frequentes indicam que retirar São Paulo de sua atual UTI vai depender de parcerias público-privadas, participação da sociedade civil e soluções tecnológicas ainda pouco testadas. As contas são bilionárias.

No aniversário de 461 anos de São Paulo, especialistas ouvidos pela Folha dizem que está na hora de sair da “zona de conforto”, buscando novas maneiras de encarar (e financiar) problemas que afetam serviços essenciais, mas que costumam ficar no subterrâneo das prioridades políticas.

Caro mesmo, todos eles concordam, é ficar sem água e sem luz na região metropolitana de São Paulo, que representa 16% do PIB nacional.

VIDAS SECAS

“Recuperar e conservar mananciais, investir em reúso e em políticas para reduzir consumo e perdas são fundamentais para garantir o abastecimento.” A frase foi publicada em 2003 em reportagem nesta Folha.

“O cenário provável é de esgotamento do sistema. Se a água não acabar em março, acaba em agosto”, avisa Marussia Whately, da Aliança pela Água, que reúne organizações pela promoção da segurança hídrica em São Paulo. “Precisamos de uma liderança que ajude a população a lidar com a crise.”

Na Califórnia, que já entra em seu quarto ano de seca, “foi fundamental o governador decretar estado de emergência, assumir o problema e convocar celebridades, como Lady Gaga, para gravar vídeos contra o desperdício”, diz Brendan Wonnacott, gerente da campanha “Save our water” [poupe nossa água]. “A população usou as redes sociais para denunciar vazamentos e desperdício.”

A Odebrecht Ambiental criou a Juntos Pela Água, iniciativa que divulga boas práticas e promoveu a economia de cerca de 20% da água consumida em cidades como Limeira e Porto Ferreira.

Bem mais custosos são os programas de redução de perdas no sistema.

Um plano da Sabesp de 2008 propunha reduzir a quantidade de água desperdiçada em vazamentos de cerca de 20% para 13% até 2020 e previa gastar R$ 4,4 bilhões. Mas, em 2012, o plano ficou mais modesto no objetivo (redução de perdas só para 16,8%), com um inflacionado orçamento de R$ 6 bi.

“Os custos são enormes, mas precisamos trocar tubulações com mais de 50 anos e implantar distritos de controle”, diz Luiz Roberto Gravina Pladevall, da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente.

“Precisamos achar um modelo em que empresas possam ser recompensadas pela descoberta e conserto de vazamentos de água”, diz o diretor-técnico da Promon Engenharia, Rodney Faria. “Todos sairiam ganhando, afinal a Sabesp começaria a cobrar e ganhar pela água que hoje se perde”, diz.

Neste quadro, a promoção de oferta de água de reúso (a partir da “limpeza” do esgoto), para uso industrial, ainda é tímida.

Há o Aquapolo Ambiental, que custou R$ 364 milhões à Odebrecht Ambiental e abastece hoje cinco empresas do polo petroquímico do ABC, na Grande SP. Sua produção libera, por mês, 450 milhões de litros de água potável.

A longo prazo, mananciais de rios e represas, desmatados em até 70%, precisam ser reflorestados. “Recuperar 3% dessas áreas aumenta a capacidade desses reservatórios em até 50%”, diz Samuel Barreto, da ONG americana The Nature Conservancy.

FIOS E ÁRVORES

O enterramento da fiação da rede elétrica dos postes sempre foi tratado como questão estética, mas ventos de 85 quilômetros por hora que atingiram a cidade no último mês deixaram 800 mil pessoas sem luz.

“As árvores arrebentaram a fiação. Essa recomposição da rede é demorada”, explica Sidney Simonaggio, vice-presidente de operações da AES Eletropaulo.

Se a rede fosse subterrânea, nada disso teria acontecido. Fazer essa transição custa R$ 15 bilhões para o centro expandido de São Paulo, ou R$ 5,8 milhões por quilômetro quadrado.

Em 2013, estudo feito para a empresa aponta que o enterramento de fios só seria viável com rateio dos custos entre AES (cabos e material técnico), usuários (que pagariam tributos pela valorização do seu imóvel) e prefeituras, que fariam as obras de engenharia civil (com a oportunidade de padronizar o calçamento de boa parte da cidade).

Diagnósticos bancados por associações de bairros poderiam servir de base para uma operação emergencial para cortar, podar ou transplantar árvores em “risco iminente” –metade das árvores em calçadas da cidade fica em áreas nobres (e de arborização antiga), como Pinheiros, Jardins, Higienópolis, Butantã, Vila Mariana e Alto de Pinheiros.

“Ainda pagamos muitas vezes a poda por volume, o que incentiva as empresas terceirizadas a podar mais do que o necessário”, diz Marcelo Cocco, engenheiro agrônomo e arborista, da consultoria Legal Tree.

“Precisamos já de um Plano Diretor de Arborização Urbana.” Porto Alegre catalogou suas árvores, com plano de manejo, substituição de árvores de risco e produção de mudas. Seu plano de arborização é de 2000.

Monitoramento e análise de dados – A crise nos mananciais de São Paulo (Probabit)

Situação 25.1.2015

4,2 milímetros de chuva em 24.1.2015 nos reservatórios de São Paulo (média ponderada).

305 bilhões de litros (13,60%) de água em estoque. Em 24 horas, o volume subiu 4,4 bilhões de litros (0,19%).

134 dias até acabar toda a água armazenada, com chuvas de 996 mm/ano e mantida a eficiência corrente do sistema.

66% é a redução no consumo necessária para equilibrar o sistema nas condições atuais e 33% de perdas na distribuição.


Para entender a crise

Como ler este gráfico?

Os pontos no gráfico mostram 4040 intervalos de 1 ano para o acumulado de chuva e a variação no estoque total de água (do dia 1º de janeiro de 2003/2004 até hoje). O padrão mostra que mais chuva faz o estoque variar para cima e menos chuva para baixo, como seria de se esperar.

Este e os demais gráficos desta página consideram sempre a capacidade total de armazenamento de água em São Paulo (2,24 trilhões de litros), isto é, a soma dos reservatórios dos Sistemas Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande e Rio Claro. Quer explorar os dados?

A região de chuva acumulada de 1.400 mm a 1.600 mm ao ano concentra a maioria dos pontos observados de 2003 para cá. É para esse padrão usual de chuvas que o sistema foi projetado. Nessa região, o sistema opera sem grandes desvios de seu equilíbrio: máximo de 15% para cima ou para baixo em um ano. Por usar como referência a variação em 1 ano, esse modo de ver os dados elimina a oscilação sazonal de chuvas e destaca as variações climáticas de maior amplitude. Ver padrões ano a ano.

Uma segunda camada de informação no mesmo gráfico são as zonas de risco. A zona vermelha é delimitada pelo estoque atual de água em %. Todos os pontos dentro dessa área (com frequência indicada à direita) representam, portanto, situações que se repetidas levarão ao colapso do sistema em menos de 1 ano. A zona amarela mostra a incidência de casos que se repetidos levarão à diminuição do estoque. Só haverá recuperação efetiva do sistema se ocorrerem novos pontos acima da faixa amarela.

Para contextualizar o momento atual e dar uma ideia de tendência, pontos interligados em azul destacam a leitura adicionada hoje (acumulado de chuva e variação entre hoje e mesmo dia do ano passado) e as leituras de 30, 60 e 90 atrás (em tons progressivamente mais claros).


Discussão a partir de um modelo simples

O ajuste de um modelo linear aos casos observados mostra que existe uma razoável correlação entre o acumulado de chuva e a variação no estoque hídrico, como o esperado.

Ao mesmo tempo, fica clara a grande dispersão de comportamento do sistema, especialmente na faixa de chuvas entre 1.400 mm e 1.500 mm. Acima de 1.600 mm há dois caminhos bem separados, o inferior corresponde ao perído entre 2009 e 2010 quando os reservatórios ficaram cheios e não foi possível estocar a chuva excedente.

Além de uma gestão deliberadamente mais ou menos eficiente da água disponível, podem contribuir para as flutuações observadas as variações combinadas no consumo, nas perdas e na efetividade da captação de água. Entretanto, não há dados para examinarmos separadamente o efeito de cada uma dessas variáveis.

Simulação 1: Efeito do aumento do estoque de água

Nesta simulação foi hipoteticamente incluído no sistema de abastecimento a reserva adicional da represa Billings, com volume de 998 bilhões de litros (já descontados o braço “potável” do reservatório Rio Grande).

Aumentar o estoque disponível não muda o ponto de equilíbrio, mas altera a inclinação da reta que representa a relação entre a chuva e a variação no estoque. A diferença de inclinação entre a linha azul (simulada) e a vermelha (real) mostra o efeito da ampliação do estoque.

Se a Billings não fosse hoje um depósito gigante de esgotos, poderíamos estar fora da situação crítica. Entretanto, vale enfatizar que o simples aumento de estoque não é capaz de evitar indefinidamente a escassez se a quantidade de chuva persistir abaixo do ponto de equilíbrio.

Simulação 2: Efeito da melhoria na eficiência

O único modo de manter o estoque estável quando as chuvas se tornam mais escassas é mudar a ‘curva de eficiência’ do sistema. Em outras palavras, é preciso consumir menos e se adaptar a uma menor entrada de água no sistema.

A linha azul no gráfico ao lado indica o eixo ao redor do qual os pontos precisariam flutuar para que o sistema se equilibrasse com uma oferta anual de 1.200 mm de chuva.

A melhoria da eficiência pode ser alcançada por redução no consumo, redução nas perdas e melhoria na tecnologia de captação de água (por exemplo pela recuperação das matas ciliares e nascentes em torno dos mananciais).

Se persistir a situação desenhada de 2013 a 2015, com chuvas em torno de 1.000 mm será necessário atingir uma curva de eficiência que está muito distante do que já se conseguiu praticar, acima mesmo dos melhores casos já observados.

Com o equilíbrio de “projeto” em torno de 1.500 mm, a conta é mais ou menos assim: a Sabesp perde 500 mm (33% da água distribuída), a população consume 1.000 mm. Para chegar rapidamente ao equilíbrio em 1.000 mm, o consumo deveria ser de 500 mm, uma vez que as perdas não poderão ser rapidamente evitadas e acontecem antes do consumo.

Se 1/3 da água distribuída não fosse sistematicamente perdida não haveria crise. Os 500 mm de chuva disperdiçados anualmente pela precariedade do sistema de distribução não fazem falta quando chove 1.500 mm, mas com 1.000 mm cada litro jogado fora de um lado é um litro que terá de ser economizado do outro.

Simulação 3: Eficiência corrente e economia necessária

Para estimar a eficiência corrente são usadas as últimas 120 observações do comportamento do sistema.

A curva de eficiência corrente permite estimar o ponto de equilíbrio atual do sistema (ponto vermelho em destaque).

O ponto azul indica a última observação do acumulado anual de chuvas. A diferença entre os dois mede o tamanho do desequilíbrio.

Apenas para estancar a perda de água do sistema, é preciso reduzir em 49% o fluxo de retirada. Como esse fluxo inclui todas as perdas, se depender apenas da redução no consumo, a economia precisa ser de 66% se as perdas forem de 33%, ou de 56% se as perdas forem de 17%.

Parece incrível que a eficiência do sistema esteja tão baixa em meio a uma crise tão grave. A tentativa de contenção no consumo está aumentando o consumo? Volumes menores e mais rasos evaporam mais? As pessoas ainda não perceberam a tamanho do desastre?


Prognóstico

Supondo que novos estoques de água não serão incorporados no curto prazo, o prognóstico sobre se e quando a água vai acabar depende da quantidade de chuva e da eficiência do sistema.

O gráfico mostra quantos dias restam de água em função do acumulado de chuva, considerando duas curvas de eficiência: a média e a corrente (estimada a partir dos últimos 120 dias).

O ponto em destaque considera a observação mais recente de chuva acumulada no ano e mostra quantos dias restam de água se persistirem as condições atuais de chuva e de eficiência.

O prognóstico é uma referência que varia de acordo com as novas observações e não tem probabilidade definida. Trata-se de uma projeção para melhor visualizar as condições necessárias para escapar do colapso.

Porém, lembrando que a média histórica de chuvas em São Paulo é de 1.441 mm ao ano, uma curva que cruze esse limite significa um sistema com mais de 50% de chances de colapsar em menos de um ano. Somos capazes de evitar o desastre?


Os dados

O ponto de partida são os dados divulgados diariamente pela Sabesp. A série de dados original atualizada está disponível aqui.

Porém, há duas importantes limitações nesses dados que podem distorcer a interpretação da realidade: 1) a Sabesp usa somente porcentagens para se referir a reservatórios com volumes totais muito diferentes; 2) a entrada de novos volumes não altera a base-de-cálculo sobre o qual essa porcentagem é medida.

Por isso, foi necessário corrigir as porcentagens da série de dados original em relação ao volume total atual, uma vez que os volumes que não eram acessíveis se tornaram acessíveis e, convenhamos, sempre estiveram lá nas represas. A série corrigida pode ser obtida aqui. Ela contém uma coluna adicional com os dados dos volumes reais (em bilhões de litros: hm3)

Além disso, decidimos tratar os dados de forma consolidada, como se toda a água estivesse em um único grande reservatório. A série de dados usada para gerar os gráficos desta página contém apenas a soma ponderada do estoque (%) e da chuva (mm) diários e também está disponível.

As correções realizadas eliminam os picos causados pelas entradas dos volumes mortos e permitem ver com mais clareza o padrão de queda do estoque em 2014.


Padrões ano a ano


Média e quartis do estoque durante o ano


Sobre este estudo

Preocupado com a escassez de água, comecei a estudar o problema ao final de 2014. Busquei uma abordagem concisa e consistente de apresentar os dados, dando destaque para as três variáveis que realmente importam: a chuva, o estoque total e a eficiência do sistema. O site entrou no ar em 16 de janeiro de 2015. Todos os dias, os modelos e os gráficos são refeitos com as novas informações.

Espero que esta página ajude a informar a real dimensão da crise da água em São Paulo e estimule mais ações para o seu enfrentamento.

Mauro Zackiewicz

maurozacgmail.com

scientia probabitlaboratório de dados essenciais

Seca já atinge 5 das 10 maiores regiões metropolitanas do país (Folha de S.Paulo)

DE SALVADOR
DE CAMPINAS
DE PORTO ALEGRE
DO RIO
DE SÃO PAULO

25/01/2015 02h00

Racionamento, problemas de abastecimento ou reservatórios em níveis de alerta já são realidade em cinco das dez maiores regiões metropolitanas do país: as de Belo Horizonte, Campinas, Recife, Rio e São Paulo. Juntas, elas abrigam 48 milhões de pessoas, quase um quarto da população do país.

Na Grande São Paulo, os principais reservatórios se esgotarão em cerca de cinco meses caso seja mantido o ritmo de chuvas e consumo das primeiras três semanas do ano.

Diante da situação, o Estado instituiu uma sobretaxa sobre o aumento de consumo, e o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, admitiu a possibilidade de racionamento “se continuar a não chover nos lugares certos e nas quantidades necessárias”.

Na região de Campinas (interior de SP), cinco municípios já fazem racionamento e outros enfrentam cortes de água frequentes desde 2014. A situação deve se agravar. Nesta semana, a vazão dos reservatórios do sistema Cantareira para a região foi ainda mais reduzida. Empresas de saneamento, indústrias e agricultores terão de reduzir a captação de 20% a 30% quando a vazão dos rios cair.

Editoria de arte/Folhapress

Em Pernambuco, segundo o governo do Estado, 40% da região metropolitana do Recife enfrenta rodízio no abastecimento de água, incluindo cidades como Olinda, a menos de um mês do Carnaval. No Rio, o principal reservatório atingiu pela primeira vez o volume morto.

Cidades do interior, por enquanto, são as mais afetadas pela seca, mas já há relatos de problemas na capital fluminense e em municípios na região metropolitana.

Em bairros como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste carioca, tem havido falta de água pontual, e alguns hotéis e condomínios já contratam caminhões-pipa.

A Cedae, a companhia de águas e esgoto do Rio, afirma que nenhum dos bairros da capital tem registrado problemas de abastecimento. Na Baixada Fluminense, moradores relatam que a frequência com que falta água na região aumentou nos últimos meses do ano passado.

Minas também enfrenta problemas, com reservatórios em nível crítico. Nesta semana, a companhia de saneamento do Estado pediu economia à população e anunciou que será preciso reduzir o consumo em 30% na região metropolitana para que as torneiras não sequem em quatro meses. Não está descartada sobretaxa sobre aumento de consumo.

Editoria de Arte/Folhapress

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Brazil Drought: Worst Water Crisis In 80 Years Affecting Four Million People In Country’s South East (International Business Times)

     on January 25 2015 12:17 AM

Brazil drought

View of the bed of Jacarei river dam, in Piracaia, during a drought affecting Sao Paulo state, Brazil on November 19, 2014. The Jacarei river dam is part of the Sao Paulo’s Cantareira system of dams, which supplies water to 45% of the metropolitan region of Sao Paulo –20 million people– and is now at historic low.  NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images 

Water cuts and blackouts have spread across large areas of south-east Brazil as a result of the worst drought in the country since 1930. The drought has hit Brazil’s three most populous states: São Paulo, Rio de Janeiro, and Minas Gerais.

More than four million people have been affected by water rationing and power cuts. In the Madureira district of Rio residents have mounted demonstrations, beating empty buckets and cans to express their frustration. The district has been without tap water since before Christmas. Other cities have seen similar demonstrations.

The drought first hit in São Paulo, where hundreds of thousands of residents have had water supplies cut. The region should normally be experiencing its rainy season.

São Paulo state suffered similar serious drought problems last year. At an emergency meeting of five government ministers in the country’s capital, Brasilia, Environment Minister Izabella Teixeira says that the three states must save water.

“Since records for Brazil’s south-eastern region began 84 years ago we have never seen such a delicate and worrying situation,” said Teixeira.

The water shortage will inevitably affect industry and agriculture. There will also be reductions in energy supplies, given reduced output from hydroelectric dams. The latter is a particular problem because there is extra demand for energy to power air conditioning during the summer months.

São Paulo Governor Geraldo Alckmin has increased charges for high water consumption and offered discounts for reduced usage. He has also capped the quantities extracted by companies and farmers from rivers. Nevertheless, critics blame poor planning and politics for the worsening situation.

Meanwhile, in Rio de Janeiro state, the BBC reports that reserves in the main water reservoir are exhausted, for the first time since its construction.

Environment Secretary Andre Correa said that the state was experiencing “the worst water crisis in its history”.

He stated there was sufficient water in other reservoirs to avoid rationing in Rio for at least six months. Even so, Rio and Minas Gerais are requesting asking residents and companies to reduce water consumption by up to 30 percent.