JC e-mail 4203, de 18 de Fevereiro de 2011.
As conclusões estão na pesquisa coordenada pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, e publicada na revista científica “PLoS”
Os brasileiros são bem mais europeus do que africanos. Esqueça todas as análises já feitas com base em conceitos como raça e cor da pele. O primeiro grande estudo a medir a ancestralidade da população do País a partir de sua genética revela uma participação europeia muito maior do que se imaginava preponderante em todo o território, inclusive nas regiões Norte e Nordeste. As conclusões estão na pesquisa coordenada pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, e publicada na revista científica “PLoS”.
O trabalho revelou que, em todas as regiões, a ancestralidade europeia é dominante, com percentuais que variam de 60,6% no Nordeste a 77,7% no Sul. Mesmo as pessoas que se denominam negras pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentam, na verdade, uma alta ancestralidade branca. Para se ter uma ideia, na Bahia, os negros tem 53,9% de raízes europeias. Na análise dos especialistas envolvidos no trabalho, a “europeização” do Brasil se deu a partir do fim do século 19, com o fim do tráfico negreiro e da escravidão e o início do fluxo migratório de aproximadamente 6 milhões de trabalhadores europeus.
Para além do impacto histórico e antropológico que os resultados do novo estudo podem ter, Sérgio Pena ressalta ainda a sua importância do ponto de vista médico: os tratamentos podem ser mais homogêneos do que se imaginava.
Formada por três diferentes raízes ancestrais, indígena, europeia e africana, a população brasileira sempre se acreditou muito heterogênea. Mas o estudo conclui que, independentemente de eventuais classificações baseadas na cor da pele, os brasileiros são muito homogêneos do ponto de vista de sua ancestralidade.
(Roberta Jansen de O Globo)
[Para uma discussão mais sofisticada da questão, ver: Santos, Ricardo Ventura, Peter H. Fry, Simone Monteiro, Marcos Chor Maio, José Carlos Rodrigues, Luciana Bastos‐Rodrigues, and Sérgio D. J. Pena. Color, Race, and Genomic Ancestry in Brazil: Dialogues between Anthropology and Genetics. Current Anthropology Volume 50, Number 6, 2009, pp. 787‐819.]