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Crise da água em SP: Especialistas apontam cenários para quando a água acabar e lições a serem tomadas pelo colapso estadual (Brasil Post)

Publicado: 21/01/2015 11:29 BRST  Atualizado: 21/01/2015 11:53 BRST 

MONTAGEMCRISEDAAGUA

Promessa de campanha do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a falta de água em São Paulo é uma realidade há meses em diversos pontos do Estado. Na semana passada, ele admitiu que há sim racionamento (diante da repercussão, tentou voltar atrás), algo que a população – sobretudo a dos bairros mais carentes – já sabia. O que também já se sabe é que, sim, a água vai mesmo acabar. Se não chegar a zerar, terá níveis baixíssimos que afetarão a vida de todos, a partir de março.

Os especialistas ouvidos pelo Brasil Post viram com bons olhos o fato de que o governo paulista, com atraso, reconheceu o racionamento. Também aprovaram a aplicação de multa contra aqueles que consomem muita água – embora a medida, tardia, devesse ser uma política sempre presente, e não para ‘apagar incêndios’ como agora. Contudo, o cenário que se colocará com a chegada do período de estiagem, entre o fim de março e começo de abril, se estendendo até outubro, vai requerer novos hábitos, seja dos gestores ou da população.

“Quando acabar a água serão interrompidas atividades que não são consideradas essenciais, com cortes para o comércio, para a indústria e o fechamento de locais com muito uso de água, como shoppings, escolas e universidades”, analisou o professor Antonio Carlos Zuffo, especialista na área de recursos hídricos na Unicamp. Parece exagerado, mas não é. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo desta quarta-feira (21), os seis mananciais que abastecem 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo têm registrado déficit de 2,5 bilhões de litros por dia em pleno período no qual deveriam encher para suprir os meses de seca.

Já em 2002, a Saneas, revista da Associação dos Engenheiros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (AESabesp), publicava um texto no qual apontava “uma inegável situação de estresse hídrico”, a qual podia “ter um final trágico, com previsões de escassez crônica em 15 anos”. A Agência Nacional de Águas (ANA) apontava, na outorga de uso do Sistema Cantareirade 2004, que era preciso diminuir a dependência desse sistema. Em plena crise, na tentativa de renovação em 2014, havia uma tentativa de aumentar, e não diminuir, o uso do Cantareira. Ou seja, algo impraticável e ignorando as previsões. Não, a culpa não é de São Pedro.

“Hoje a situação é muito pior que no ano passado. Em janeiro de 2014 tínhamos 27,2% positivos no Cantareira, hoje temos 23,5% negativos. Ou seja, consumimos 50% do volume nesse período. Mantida a média de consumo, a água acaba no fim de março. É preciso lembrar que janeiro é o mês com maior incidência de chuva em SP, seguido por dezembro. No mês passado, choveu 25% a menos do que a média. Esse mês só choveu 22%, 23% da média. A equação é simples: não vai ter água para todo mundo”, completou Zuffo.

Informação e transparência

Para a ambientalista Malu Ribeiro, da ONG SOS Mata Atlântica, a demora em admitir o óbvio por parte das autoridades trouxe mais prejuízos do que benefícios ao longo dos últimos 13 meses. “A sociedade precisa ter a noção clara da gravidade dessa crise. Quando as autoridades passam certa confiança, como era o caso do governo Alckmin, a tendência é que não se alerte da forma necessária e as pessoas se mantenham em uma situação confortável. Muita gente não acredita na proporção dessa crise, muito se agravou e agora é preciso cautela”, avaliou.

As mudanças na Secretaria de Recursos Hídricos e na presidência da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), com as entradas de Benedito Braga e Jerson Kelman, respectivamente, também foram benéficas, já que colocam em posições estratégicas dois especialistas no tema. Entretanto, isso não basta. A necessidade de discutir a gestão da água sob o âmbito estratégico, algo muito teórico e pouco prático no Brasil, é vista como fundamental em tempos de crise.

“Há ainda muita ocupação em áreas de mananciais, por exemplo. Então vemos que o comportamento, apesar da crise não ser nova, não mudou. Veja em Itu, onde eu moro, onde a crise foi muito pior e, agora que choveu um pouco, as pessoas acham que não precisam mais poupar, que tudo voltou ao normal. O combate ao desperdício deve ser permanente e temos de ter prevenção. É preciso doer no bolso, por isso a multa deve ser permanente”, disse Malu.

“A falta de informação resultou em uma insegurança, sem informar à população sobre o seu papel na crise. A ONU já apontava que a década entre 2010 e 2020 seria da água, e não por acaso, mas no Brasil há uma timidez nesse sentido. É preciso mudar essa cultura de abundância que se tem no Sudeste e desenvolver um plano estratégico, com mais poder aos comitês de bacia. É absurdo o desperdício de água na agricultura, e isso não é discutido. É hora de acordar”, completou a ambientalista.

‘Água cara’ veio para ficar

De acordo com os especialistas, a crise da água expõe também um cenário já esperado, já que a Terra passa por ciclos alternados entre seca e chuvas a cada 30 anos. O atual, iniciado em 2010 e que segue até 2040, será recheado de períodos de seca em regiões populosas, quadro a se inverter apenas daqui a 25 anos. Assim, é preciso mudar hábitos, antes de mais nada. Mesmo em tempos de calor excessivo, há quem ainda não tenha se dado conta disso.

“Muita gente se vê alheia ao problema e, com o calor, acaba correndo para compras piscininhas e usa a água para o lazer. O Carnaval que está chegando também ajuda a tirar o cidadão comum do foco, como ocorreu durante as eleições. Isso não é mais possível. Há a responsabilidade dos gestores, mas também é preciso que o cidadão se atente ao seu papel, sob pena de termos novas ‘cidades mortas’, como no Vale do Paraíba ou no Vale do Jequitinhonha, onde os recursos naturais foram exauridos”, afirmou Malu.

E que ninguém se anime com a promessa da Sabesp de que ainda há uma terceira cota de 41 bilhões de litros do volume morto do Cantareira, cujo uso deve ser solicitado pelo governo paulista junto à ANA nos próximos dias. “Sabemos que 45% do Cantareira que não é captado é volume morto. A terceira cota restante não é toda ela captável. Teríamos com ela mais uns 10%, suficiente só para mais algumas semanas”, comentou Zuffo.

Medidas sugeridas ao longo da crise, o reuso da água e a dessalinização são medidas caras e que dependem de outros aspectos para serem implementadas – e, com o possível racionamento de energia elétrica, podem não sair do papel. Ou seja, não são a solução a curto prazo. O uso de mais água de represas como a Billings (com sua notória poluição) também dependem de obras – outro entrave para quem gostaria de não ver a falta de água por dias seguidos se tornar uma realidade por meses a fio. Sem chuva, só há um caminho a seguir.

“Há uma variabilidade cíclica natural, que nada tem a ver com o aquecimento global, mas não temos engenharia para resolver a questão no curto prazo. Temos é que ter inteligência para nos adaptar e reduzir de 250 litros para 150 litros, ou ainda menos, o consumo de água por cada pessoa. Há países europeus em que o uso não passa de 60 litros/pessoa. É preciso usar menos e tratar a água de maneira que ela possa ser reutilizada. Tudo depende de tecnologia e novos hábitos”, concluiu Zuffo.

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Grupo de especialistas divulga previsão do clima para o próximo trimestre (MCTI)

Na primeira reunião de 2015 do Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, pesquisadores alertam que haverá chuvas abaixo da média no Norte e Nordeste e acima da média no Sul do País

Chuvas abaixo da média na região Semiárida do Nordeste e na região Norte do Brasil, com possibilidade de queimadas e incêndios em Roraima, e continuidade de precipitação acima da média na região Sul. Essas são as tendências climáticas para os próximos três meses (fevereiro, março e abril). Elas foram apresentadas nesta sexta-feira (16) na primeira reunião de 2015 do Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal (GTPCS) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Paulo Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), atribuiu os resultados da avaliação do grupo à continuidade do fenômeno El Niño. “Temos uma condição sazonal dessas três regiões onde é possível hoje cientificamente e tecnologicamente fazer essas previsões”, afirmou o especialista que conduziu as atividades do primeiro encontro do GTPCS.

Participam do grupo de trabalho, instituído pelo MCTI em novembro de 2013, as principais lideranças na área de previsão climática no País. A cada mês os especialistas se reúnem para traçar prognósticos para o trimestre seguinte. O objetivo é dar subsídios aos tomadores de decisões sobre o cenário climático que se aproxima.

O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, alertou que a previsão climática para o próximo trimestre inspira atenção. “O Brasil está vivendo um momento de diferentes extremos climáticos em diferentes partes do país com impactos na economia e na sociedade”, destacou o secretário que também coordena do GTPCS. “As informações geradas pelo grupo de trabalho alimentam imediatamente ministérios e a presidência da República para que sejam tomadas as medidas necessárias.”

Na abertura do encontro, que aconteceu pela primeira vez em Brasília, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, enfatizou a importância de haver previsão climática de curto prazo. “O trabalho dos pesquisadores do GTPCS já contribuiu no ano passado para reduzir os danos da seca no Nordeste e das enchentes em Rondônia”, exemplificou.

Participam do grupo pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe; do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST); do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI); e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A cada reunião um dos membros conduzirá as atividades. Nesta sexta, o meteorologista Paulo Nobre, pesquisador do Inpe, coordenou os trabalhos.

Para outras regiões do país não há previsibilidade climática, a exemplo do Sudeste. “O Nordeste, por exemplo, é a região com maior previsibilidade sazonal porque tem a dependência do Oceano e um tempo de variação bem lento. Na região Sudeste, o que causa chuva são as frentes frias que tem um tempo de previsibilidade de uma semana, no máximo duas”, explica Paulo Nobre, pesquisador do Inpe. No limite do conhecimento científico o que se pode afirmar é que as chuvas continuarão abaixo da média neste período.

Acesse aqui o relatório completo emitido pelo GTPCS.

(MCTI)

http://www.mcti.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/jIPU0I5RgRmq/content/grupo-de-especialistas-divulga-previsao-do-clima-para-o-proximo-trimestre?redirect=/&

Crise hídrica: Alarme! (Rede Nossa São Paulo)

19/1/2015 – 03h10

por Oded Grajew*

suspensao racionamento nh Crise hídrica: Alarme!

Diante da crise da água em São Paulo, o coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis faz um apelo às autoridades e aos cidadãos para que assumam as devidas responsabilidades. Confira:

A cidade de São Paulo está diante de uma catástrofe social, econômica e ambiental sem precedentes. O nível do sistema Cantareira está em cerca de 6% e segue baixando por volta de 0,1% ao dia. O que significa que, em aproximadamente 60 dias, o sistema pode secar COMPLETAMENTE!

O presidente da Sabesp declarou que o sistema pode ZERAR em março ou, na melhor das hipóteses, em junho deste ano. E NÃO HÁ UM PLANO B em curto prazo. Isto significa que seis milhões de pessoas ficarão praticamente SEM UMA GOTA DE ÁGUA ou com enorme escassez. Não é que haverá apenas racionamento ou restrição. Poderá haver ZERO de água, NEM UMA GOTA.

Você já se deu conta do que isto significa em termos sociais, econômicos (milhares de estabelecimentos inviabilizados e enorme desemprego) e ambientais? Você já se deu conta de que no primeiro momento a catástrofe atingirá os mais vulneráveis (pobres, crianças e idosos) e depois todos nós?

O que nos espanta é a passividade da sociedade e das autoridades diante da iminência desta monumental catástrofe. Todas as medidas tomadas pelas autoridades e o comportamento da sociedade são absolutamente insuficientes para enfrentar este verdadeiro cataclismo.

Parece que estamos todos anestesiados e impotentes para agir, para reagir, para pressionar, para alertar, para se mobilizar em torno de propostas e, principalmente, em ações e planos de emergência de curto prazo e políticas e comportamentos que levem a uma drástica transformação da nossa relação com o meio ambiente e os recursos hídricos.

Há uma unanimidade de que esta é uma crise de LONGUÍSSIMA DURAÇÃO por termos deixado, permitido, que se chegasse a esta dramática situação. Agora, o que mais parece é que estamos acomodados e tranquilos num Titanic sem nos dar conta do iceberg que está se aproximando.

Nosso intuito, nosso apelo, nosso objetivo com este alarme é conclamar as autoridades, os formadores de opinião, as lideranças e os cidadãos a se conscientizarem urgentemente da gravíssima situação que vive a cidade, da dimensão da catástrofe que se aproxima a passos largos.

Precisamos parar de nos enganar. É fundamental que haja uma grande mobilização de todos para que se tomem ações e medidas à altura da dramática situação que vivemos. Deixar de lado rivalidades e interesses políticos, eleitorais, desavenças ideológicas. Não faltam conhecimentos, não faltam ideias, não faltam propostas (o Conselho da Cidade de São Paulo aprovou um grande conjunto delas). Mas faltam mobilização e liderança para enfrentar este imenso desafio.

Todos precisamos assumir nossa responsabilidade à altura do nosso poder, de nossa competência e de nossa consciência. O tempo está se esgotando a cada dia.

Oded Grajew é empresário, coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo, presidente emérito do Instituto Ethos e idealizador do Fórum Social Mundial.

** Publicado originalmente no site Rede Nossa São Paulo.

(Rede Nossa São Paulo)

Cientistas tentam responder: cadê as chuvas do Cantareira? (Folha de S.Paulo)

RAFAEL GARCIA

DE SÃO PAULO

18/01/2015 01h45

As tempestades que têm desabado sobre a cidade de São Paulo desde o fim de dezembro derrubaram árvores e postes, mas não serviram para abastecer as represas do Cantareira, prolongando a crise da água. Cientistas, porém, afirmam que isso é compreensível e era até esperado.

O problema que leva à essa situação paradoxal passa por uma espécie de pane que acontece pelo segundo verão consecutivo no sistema que os meteorologistas chamam de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Trata-se de uma banda de nuvens que se estende desde o oeste da Amazônia até Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e segue até alto mar.

“O sistema, que favoreceria as chuvas na região central do Brasil como um todo, não está atuando como deveria”, diz Anna Bárbara de Melo, do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Em dezembro, a ZCAS entrou em ação, mas no lugar “errado”. “O sistema ocorreu, só que favorecendo a região sul da Bahia e o Tocantins”, diz a pesquisadora. “Todo o estado de Minas, em dezembro, teve menos precipitação que o normal, com exceção de algumas áreas no norte.”
Segundo o climatologista Tércio Ambrizzi, da USP, o fenômeno pode estar relacionado à mudança climática.

“O fato de a atmosfera estar mais aquecida tem gerado uma variabilidade climática maior, enfatizando os eventos extremos”, diz o climatologista. “Em 2010 e 2011, nós estávamos enfrentando as inundações e mortes ocorridas nos deslizamentos do Rio de Janeiro”, conta Ambrizzi.
“Naquele ano o Cantareira estava com mais de 100% da capacidade, vertendo água e prejudicando algumas cidades. Três anos depois, passamos para um extremo seco com chuvas abaixo da média.”

CAPITAL

Mas, se falta chuva na Cantareira, por que tanta água na capital?

Isso se explica por um outro fenômeno, tipicamente relacionado às chuvas de verão: as ilhas de calor.

Em grandes concentrações urbanas, sem vegetação, o pouco de umidade que existe sobre essas áreas tende a subir em função do calor, até atingir temperaturas mais baixas e se condensar. Isso cria nuvens com uma extensão horizontal relativamente pequena, mas uma extensão vertical grande, com bastante água. A chuva então cai numa região específica, com muita violência, explica Ambrizzi. Em geral, tais tempestades ocorrem no início da noite.

Essas fortes descargas, concentradas em horários limitados, não chegaram nem a trazer um volume médio histórico de água nem mesmo para a capital.

Na primeira metade de janeiro, a estação meteorológica do Mirante de Santana, na zona norte de São Paulo, registrou 71 mm de chuva acumulada, quando a média histórica era de 130 mm. No Cantareira, mais ao norte, a situação é pior, com apenas 60 mm de chuva tendo ocorrido até agora, menos da metade do que se esperava. O nível do reservatório caiu de 7,2% para 6,2%, numa época do ano em que costuma subir.

Algumas das chuvas de verão estimuladas pela mancha urbana de São Paulo poderiam até ter contribuído para elevar o nível de algumas represas do sistema Cantareira, mas aí surge o terceiro problema. Segundo hidrólogos, o solo da maior parte das represas já estava tão seco, castigado pelo sol, que boa parte da água foi simplesmente absorvida pela terra, sem causar nenhuma elevação no nível dos reservatórios.

Esse “efeito esponja”, diz Ambrizzi, pode ter anulado qualquer benefício que chuvas de verão tenham trazido para as represas do Cantareira mais próximas da capital.

Atmospheric rivers, cloud-creating aerosol particles, and California reservoirs (Science Daily)

Date: January 17, 2015

Source: University of California, San Diego

Summary: In the midst of the California rainy season, scientists are embarking on a field campaign designed to improve the understanding of the natural and human-caused phenomena that determine when and how the state gets its precipitation. They will do so by studying atmospheric rivers, meteorological events that include the famous rainmaker known as the Pineapple Express.

An atmospheric river reaches the San Francisco Bay Area, Dec. 11, 2014. Credit: University of Wisconsin

In the midst of the California rainy season, scientists are embarking on a field campaign designed to improve the understanding of the natural and human-caused phenomena that determine when and how the state gets its precipitation. They will do so by studying atmospheric rivers, meteorological events that include the famous rainmaker known as the Pineapple Express.

CalWater 2015 is an interagency, interdisciplinary field campaign starting January 14, 2015. CalWater 2015 will entail four research aircraft flying through major storms while a ship outfitted with additional instruments cruises below. The research team includes scientists from Scripps Institution of Oceanography at UC San Diego, the Department of Energy’s Pacific Northwest National Laboratory, NOAA, and NASA and uses resources from the DOE’s Atmospheric Radiation Measurement (ARM) Climate Research Facility — a national scientific user facility.

The study will help provide a better understanding of how California gets its rain and snow, how human activities are influencing precipitation, and how the new science provides potential to inform water management decisions relating to drought and flood.

“After several years in the making by an interdisciplinary science team, and through support from multiple agencies, the CalWater 2015 field campaign is set to observe the key conditions offshore and over California like has never been possible before,” said Scripps climate researcher Marty Ralph, a CalWater lead investigator. “These data will ultimately help develop better climate projections for water and will help test the potential of using existing reservoirs in new ways based on atmospheric river forecasts.”

Like land-based rivers, atmospheric rivers carry massive amounts of moisture long distances — in California’s case, from the tropics to the U.S. West Coast. When an atmospheric river hits the coast, it releases its moisture as precipitation. How much and whether it falls as rain or snow depends on aerosols — tiny particles made of dust, sea salt, volatile molecules, and pollution.

The researchers will examine the strength of atmospheric rivers, which produce up to 50 percent of California’s precipitation and can transport 10-20 times the flow of the Mississippi River. They will also explore how to predict when and where atmospheric rivers will hit land, as well as the role of ocean evaporation and how the ocean changes after a river passes.

“Climate and weather models have a hard time getting precipitation right,” said Ralph. “In fact, the big precipitation events that are so important for water supply and can cause flooding, mostly due to atmospheric rivers, are some of the most difficult to predict with useful accuracy. The severe California drought is essentially a result of a dearth of atmospheric rivers, while, conversely, the risk of Katrina-like damages for California due to severe ARs has also been quantified in previous research.”

For the next month or more, instrument teams will gather data from the NOAA research vessel Ronald H. Brown and two NOAA, one DOE, and one NASA research aircraft with a coordinated implementation strategy when weather forecasters see atmospheric rivers developing in the Pacific Ocean off the coast of California. NASA will also provide remote sensing data for the project.

“Improving our understanding of atmospheric rivers will help us produce better forecasts of where they will hit and when, and how much rain and snow they will deliver,” said Allen White, NOAA research meteorologist and CalWater 2015 mission scientist. “Better forecasts will give communities the environmental intelligence needed to respond to droughts and floods.”

Most research flights will originate at McClellan Airfield in Sacramento. Ground-based instruments in Bodega Bay, Calif., and scattered throughout the state will also collect data on natural and human contributions to the atmosphere such as dust and pollution. This data-gathering campaign follows the 2009-2011 CalWater1 field campaign, which yielded new insights into how precipitation processes in the Sierra Nevada can be influenced by different sources of aerosols that seed the clouds.

“This will be an extremely important study in advancing our overall understanding of aerosol impacts on clouds and precipitation,” said Kimberly Prather, a CalWater lead investigator and Distinguished Chair in Atmospheric Chemistry with appointments at Scripps Oceanography and the Department of Chemistry and Biochemistry at UC San Diego. “It will build upon findings from CalWater1, adding multiple aircraft to directly probe how aerosols from different sources, local, ocean, as well as those from other continents, are influencing clouds and precipitation processes over California.”

“We are collecting this data to improve computer models of rain that represent many complex processes and their interactions with the environment,” said PNNL’s Leung. “Atmospheric rivers contribute most of the heavy rains along the coast and mountains in the West. We want to capture those events better in our climate models used to project changes in extreme events in the future.”

Prather’s group showed during CalWater1 that aerosols can have competing effects, depending on their source. Intercontinental mineral dust and biological particles possibly from the ocean corresponded to events with more precipitation, while aerosols produced by local air pollution correlated with less precipitation.

The CalWater 2015 campaign is comprised of two interdependent efforts. Major investments in facilities include aircraft, ship time, and sensors by NOAA. Marty Ralph, Kim Prather, and Dan Cayan from Scripps, and Chris Fairall, Ryan Spackman, and Allen White of NOAA lead CalWater-2. The DOE-funded ARM Cloud Aerosol Precipitation Experiment (ACAPEX) is led by Ruby Leung from PNNL. NSF and NASA have also provided major support for aspects of CalWater, leveraging the NOAA and DOE investments.

2014: Putting The Hottest Year Ever in Perspective (Climate Nexus)

Last updated: January 16, 2015

Climate Change Connections and Why It Matters

Introduction

2014 was 0.69°C (1.24°F) above the 20th century average of 14.1°C, making it the hottest year on record since NOAA’s National Climatic Data Center began taking measurements in 1880. The record surpassed the previous hottest year record, shared by 2005 and 2010, by 0.04°C (0.07°F). As the Earth heats up, new temperature records are increasingly common, but 2014’s record-breaking global temperature—which represents the average of land and ocean surface temperatures—is especially remarkable given that 2014 saw little influence from El Niño warming and was an ENSO-neutral year. Here is some important context on how the 2014 temperature record reaffirms long-term, human-caused global warming trends; how recent warming is tied to extreme weather patterns; and how analysts use global temperature datasets to assess the state of the climate. Top points to note include:

Table of Contents

U.S. 2014 Temperature Trends

ENSO

Record Ocean Heat

U.S. Extreme Weather

Global Extreme Weather

Temperature Datasets

  • In 2014, the U.S. saw unprecedented levels of simultaneous extreme heat in the West and cooler than average temperatures in the East, with both trends linked to global warming.
  • 2014’s heat record is alarming in the absence of a full El Niño-Southern Oscillation (ENSO) and provides yet more evidence that that human-caused warming is now the dominant force driving changes in global temperature trends.
  • Global warming is not only on the rise but is fueling extreme weather and unprecedented patterns of extreme temperature anomalies.
  • Sea surface temperatures in particular are reaching record highs, driving extreme atmospheric patterns that cause heavy rainfall and floods in some countries and droughts in others.
  • Three of the four major groups that track combined ocean and land surface global temperatures—NOAA, NASA, and the JMA— have confirmed that 2014 was the hottest year on record, even with biases that underestimate warming in the ocean and Arctic.

Record Heat Supports Long-Term Warming Trend

Climate change linked to unusual temperature trends in the U.S.

2014 saw five new monthly heat records in the U.S. and was the 18th year in a row where the nationwide annual temperature average was hotter than usual. Though parts of the U.S. experienced cooler than average temperatures (a trend linked to global climate change), Alaska, Arizona, California, and Nevada each had their warmest year on record. Alarmingly, California’s annual average temperature was 2.3°C (4.1°F) above the 20th century average, shattering the old record of 1.3°C (2.3°F) by 1°C.

Average annual temperature in California and the U.S.

Source: NOAA, SFGate

Human-caused warming in 2014 trumped the ENSO signal.

February 1985 was the last month where global temperature fell below the 20th century monthly average, making December 2014 the 358th consecutive month where global land and ocean surface temperature was above average. Each of the last three decades has been much warmer than the decade before. In the 1990s, every year was warmer than the average of the previous decade, and the 2000s were warmer still. Now, according to NOAA, thirteen out of fifteen of the hottest years on record occurred since 2000, and the two exceptions (1997 and 1998) were strong El Niño years. In 2014, six out of 12 months tied or topped previous monthly global temperature records.

The combination of human-caused warming and year-to-year natural variation has generally determined which years set new temperature records. Prior to 2014, 2010 and 2005 tied for the hottest year on record, both of which were El Niño years. This makes sense because, in addition to long-term warming due to an increase in atmospheric greenhouse gases, the ENSO can bump global temperatures up or down for one to several years at a time. During El Niño events, some of the heat that gets stored in the oceans spreads out and gets released back into the atmosphere, causing large-scale atmospheric circulation changes and an increase in global temperature. La Niña periods, on the other hand, are characterized by cooler than average temperatures.

What makes 2014 especially remarkable is that it set a new global temperature record during an ENSO-neutral year. From January-February 2014, sea surface temperatures were mostly below average across the eastern equatorial Pacific. By the fall, temperatures were above average, leading to speculation about the onset of an El Niño event. Scientists in the U.S. have three criteria, each of which must be met to officially declare the start of an El Niño. Conditions in the fall of 2014 met the first two criteria (that monthly sea surface temperature anomalies exceed 0.5°C and last across several seasons), but not the final criterion (observance of an atmospheric response associated with more rain over the central Pacific and less rain over Indonesia).

Global annual average temperature anomalies (relative to the 1961-1990 average) for 1950-2013 based on an average of the three data sets from NASA, NOAA and the UK Met Office. Coloring indicates whether a year was classified as an El Niño year (red), an ENSO neutral year (grey) or a La Niña year (blue).

Source: Climate Central, WMO

This means 2014 was the hottest year on record without the added boost from a full-fledged El Niño event, and it will have been even warmer than recent years with moderate ENSO contributions (2010 and 2005). Moreover, this implies that the amount of warming due to human activity is enough to trump the natural year-to-year variation associated with the ENSO cycle. With NOAA holding there is a 50-60 percent chance of a noteworthy El Niño event developing in early 2015, there’s a good chance 2015 will be even hotter, making for two record-setting years in a row. What’s more, as more heat is pumped into the ocean, climate models project a doubling in the frequency of extreme El Niño events in the future.

Record ocean surface temperatures driving 2014’s heat demonstrate the ocean’s role as an important heat sink and are linked to unusual atmospheric patterns.

Global average sea surface temperature (which is a conservative and incomplete cross-section of the ocean) has shown an alarming trend in 2014. From May through November, each month set a new record for global sea surface temperature anomaly (or departure from average), with June also setting a new record for the highest departure from average for any month. The record was short-lived, however, as June’s temperatures were quickly surpassed first in August and then again in September. A study analyzing the record ocean surface warming in 2014 finds that unusually warm surface temperatures in the North Pacific were largely responsible. While it is still too soon to know for sure, this could indicate the start of a new trend where the massive amount of heat being absorbed by the ocean is making its way to the surface, and getting reflected in surface temperatures.

Oceanic warming is especially worrisome because it has broad and complex impacts on the global climate system. Most immediately, the ocean is connected to the atmosphere—the two systems work together to move heat and freshwater across latitudes to maintain a balanced climate. This is known as ocean-atmospheric coupling. Climate scientists are actively researching how changes in ocean and atmospheric heat content impact circulation patterns, in particular how changes in circulation affect the weather patterns that steer storms. For example, one recent analysis found that ocean warming might cause atmospheric precipitation bands to shift toward the poles, causing an increase in the intensity and frequency of extreme precipitation events at middle and high latitudes as well as a reduction in the same near the equator. Already, we are starting to experience patterns consistent with this kind of analysis.

The amount of heat accumulating in the ocean is vital for diagnosing the Earth’s energy imbalance. Studies estimate that over 90 percent of the heat reaching the Earth is absorbed by the ocean and that over the past several decades, global warming has caused an increase in the heat content of both the upper and deep oceans.

Recent observational data has indicated a slowing in the rate of ocean surface warming relative to other climate variables, which scientists have pinned to cool-surface La Niña episodes in the equatorial Pacific. However, it is important to remember that different regions of the ocean heat up differently, and global observational data often underreports changes in regions that are difficult to measure (such as around the poles or in the deep oceans). The deep oceans in particular are responsible for absorbing much of the excess heat. Deep ocean circulation patterns carry sun-warmed tropical waters into the higher latitudes where they sink and flow back towards the Equator, acting as a kind of buffer to climate change by slowing the rate of surface warming. In addition, research shows that three major ocean basins—the Equatorial Pacific, North Atlantic, and Southern Ocean—are important areas of ocean heat uptake and that observational data often fails to capture the full extent of actual warming in these regions. Despite the limitations associated with measuring changes in ocean heat content, however, we are still seeing record-breaking heat in the oceans.


Warmer World Linked To More Extreme Weather

Unusual jet stream patterns, linked to warming in the Arctic and warmer sea surface temperatures in the Pacific, drove extreme drought in the western U.S. and chills in the East.

Temperatures in the U.S. throughout 2014 were exceptional, marked by simultaneous record heat in the West and cooler than average temperatures in the East. While it may seem strange for global warming to sometimes be accompanied by colder winters, recent studies hold that warming in the Arctic and in the western Pacific Ocean has led to changes in the jet stream, which can result in volatile weather patterns and unusually persistent periods of extreme weather in the mid-northern latitudes. The avenues through which warming influences the jet stream represent a new and still emerging facet of climate science.

Throughout 2013 and 2014, the jet stream frequently dipped from the Arctic to the south, creating a persistent dipole—or two opposed atmospheric pressure systems—with the Western U.S. receiving warm, high-pressure air from the Pacific, and the Eastern U.S. receiving Arctic air carried by the sunken jet stream.

Arguably the most severe outgrowth of this recent trend in the U.S. has been the historic 2012-2014 California drought (which forecasters predict will continue into 2015). The state began 2014 with its lowest Sierra snowpack recording—12 percent—in more than 50 years of record keeping. In August, California set a new U.S. Drought Monitor record with 58.4 percent of the state in the worst drought category, known as “exceptional drought.” The dry conditions along the West Coast also fueled a severe wildfire season. On August 2, California Governor Jerry Brown declared a state of emergency due to the ongoing drought, fires and deteriorating air quality throughout the state. Meanwhile, Oregon and Washington topped the nation in total number of acres burned, with Washington experiencing its largest wildfire ever recorded.

The horizontal line marks the precipitation level of the 2000 – 2004 drought, the worst of the past 800 years up to 2012. Droughts of this intensity are predicted to be the new normal by 2030, and will be considered an outlier of extreme wetness by 2100

Source: Schwalm et al. 2012

By contrast, the Central and Eastern U.S. experienced unusually persistent cold temperatures throughout 2014. The winter of 2013-2014 was among the coldest on record for the Great Lakes, and Minnesota, Wisconsin, Michigan, Illinois, and Indiana each had winter temperatures that ranked among the ten coldest on record. Ice coverage over the Great Lakes peaked at 92.2 percent on March 6, the second highest measurement on record. The summer was also cooler than average for the region, which led into an unseasonably frigid fall.

Several U.S. locations experienced their coldest Novembers on record due to a procession of cold fronts tapping air from the Arctic. At the start, the Arctic outbreak was largely the product of the extra-tropical remnant of Typhoon Nuri from the Pacific. The system was the most powerful storm to ever move over the Bering Sea, gaining strength from warmer than average ocean and atmospheric conditions. Due to its strength, the storm caused the jet stream to sink southward bringing Arctic conditions to the United States. As a result, North America snow cover reached a record extent for mid-November—15.35 million square kilometers—crushing the old record from 1985 by over two million square kilometers. On November 16, temperatures were warmer in Alaska (significantly in some cases) than in many Central and Eastern U.S. states. Arctic temperatures ran up to 40 degrees above average (with Fairbanks, Alaska blowing away old temperature records by almost two degrees), while the Central and Eastern U.S. experienced record snowfall and temperatures up to 40 degrees below average.

The weather forecast across the United States from November 16 through November 20

Source: Thinkprogress; National Weather Service

Taken together, 2014 has witnessed a record-setting split in the U.S. between regions of simultaneous hot and cold temperatures. According to Scott Robeson, a climate scientist at Indiana University Bloomington, these hot and cold extremes are important. Robeson recently authored a studyon warm and cold anomalies in the northern hemisphere and found, “Average temperatures don’t tell us everything we need to know about climate change. Arguably, these cold extremes and warm extremes are the most important factors for human society.” Robeson notes that temperatures in the Northern Hemisphere are considerably more volatile than in the South, where there is less land mass to add complexity to weather systems. The extreme weather observed in 2014 in the U.S. has many layers of complexity, with ocean and Arctic temperatures influencing circulation patterns, and a growing body of scientificevidence suggests global warming may be the common denominator.

Internationally, 2014 saw record heat and drought in some countries, but cold spells and flooding in others. As in the U.S., many of these trends are associated with unusual ocean-atmospheric circulation patterns with likely connections to climate change.

Perturbations in the jet stream have wide ranging climate impacts that vary depending on geographical region. One recent analysis finds a connection between a wavy jet stream pattern—with greater dips from north to south—and increases in the probabilities of heat waves in western North America and central Asia; cold outbreaks in eastern North America; droughts in central North America, Europe and central Asia; and wet spells in western Asia.

Just as most of the weather in the western U.S. is below the jet stream and connected to the Pacific, most of the weather in Europe rides in under the jet stream from the Atlantic. While the jet stream has been unusually far north in the Pacific, bringing high temperatures and drought to the western U.S., the jet stream has been unusually far south across the Atlantic. As a result, the UK was hit by an exceptional run of winter storms and an intense polar vortex at the start of 2014, with rainfall amounts, storm intensities, wave heights, and other extreme weather trends at or near record levels. Related damages from December 23, 2013 – March 1, 2014 added up to $1.5 billion. Global warming has doubled the risk of extreme conditions, as warmer temperatures and melting ice in the Arctic cause the jet stream to push cold air southwards.

In January and February, an exceptional dry spell hit Southeast Asia, with the worst impacts—including water shortages, wildfires, crop failure, and increased incidence of infectious disease—felt in Singapore, Malaysia, Indonesia, and Thailand. Singapore suffered its longest dry spell on record between January 13 and February 8, which caused extensive damage to rice crops and fish stocks at several offshore farms. Dengue hotspots in Malaysia experienced a four-fold increase in infections to about 14,000 compared with the same period last year.

Continuous, heavy rainfall in May resulted in some of the worst flooding ever recorded in Southeast Europe, mainly Serbia, Bosnia and Herzegovina (BiH), and Croatia. Three months’ worth of rain fell in only three days, making it the heaviest rainfall in BiH since records began in 1894. On May 15, the Serbian Government declared a state of emergency for its entire territory. The storm caused $4.5 billion in damage.

May also saw the Eastern Pacific’s strongest May hurricane on record, Hurricane Amanda, which peaked as a top-end Category 4 hurricane with 155 mph winds. The impressive hurricane was linked to record sea surface temperatures, which measured 0.59°C above the 20th century average of 16.3°C, the highest temperature anomaly on record for May. In July in the Western Pacific, Typhoon Rammasun became the strongest typhoon to hit China’s Hainan Province in 21 years, surprising forecasters as it gained more strength than anticipated. Like Amanda, wind speeds topped out around 155 mph. The typhoon remained very strong as it made landfall, leading to extreme rainfall and flooding in China that caused $7.2 billion in damage. Global warming is expected to increase the rainfall from tropical cyclones.

In Australia, 2014 was the third hottest year on record (with 2013 being the hottest) and was characterized by frequent periods of abnormally warm weather that contributed to huge bushfires in Victoria and South Australia. According to Dr. Karl Braganza, manager of the Bureau of Meteorology’s climate monitoring section, Australia is seeing “reoccurring heat waves, long durations of heat but very little cold weather.” A report by Australia’s Climate Council finds that the frequency and severity of bushfires is getting worse in the southern state of New South Wales each year due to “record-breaking heat and hotter weather over the long term.”

Following the wettest January to August on record, the UK experienced its driest September since records began in 1910, receiving 19.4mm of rain, or 20 percent of the expected average. Monthly temperatures in the UK were also significantly above average. One recent study finds that human-caused global warming has increased the chances of extremely hot summers in parts of Europe tenfold. The UK Met Office is currently researching how jet stream variations and changes to atmospheric circulation may be increasing the risk of patterns that slow the movement of weather systems, allowing heat waves to develop and intensify.


Understanding the Global Surface Temperature Datasets

Three of the major global temperature datasets that combine both ocean and atmospheric temperatures have declared 2014 the hottest year on record.

The 10 warmest years on record according to the NOAA and NASA datasets.

Source: NOAANASA

The four most highly cited combined SST and land temperature datasets are NOAA’s MLOST, NASA’s GISTEMP, the UK’s HadCRUT, and the JMA’s CLIMAT. While HadCRUT has yet to confirm, NOAA, NASA and the JMA—using independent data and analysis—have decalred 2014 the hottest year on record. The Japanese Meteorological Agency (JMA) was one of the first agencies to report 2014’s heat record in a preliminary analysis and found that 2014’s global temperature was 0.63°C above average. NOAA’s data holds that 2014’s temperature was 0.69°C above average, and NASA that it was 0.68°C above average.

Satellites that measure temperatures in the lower atmosphere, or troposphere, did not rank 2014 as a record year, but the troposphere is only one region where excess heat gets stored.

Because satellite datasets measure the atmosphere, and not the climate system as a whole, it is inaccurate to compare satellite temperature averages with combined land and SST averages. Combined land and SST datasets are based on instrumental readings taken on site in the ocean and atmosphere, while satellite records focus on the troposphere and infer temperatures at various levels using measurements of radiance (the intensity of radiation passing through a point in a given direction). Both types of datasets improve our understanding of the rate at which the Earth is warming and how the climate system as a whole distributes heat. But because the two types of datasets vary in terms of their scope, it is perfectly possible for the atmospheric temperature average, as measured by satellites, not to set a new record, while the global combined land and SST average does.

This was the case in 2014. The two most widely cited satellite records are the University of Alabama in Huntsville (UAH) and the privately owned Remote Sensing Systems (RSS) datasets. According to the RSS data, 2014’s annual average temperature in the lower troposphere was the sixth warmest on record, or 0.26°C above the long-term average. The UAH data has not yet been confirmed, but will likely reaffirm the RSS finding. This is to be expected, however, in a year where record ocean heat was the dominant driver of observed warming.

Temperature analyses provide an important health gauge for the planet.

The instrumental temperature record—based on readings from ships and buoys that measure sea-surface temperature (SST) as well as land-based weather stations—has provided vital information about the Earth’s climate over the last century and beyond. To reconstruct global temperatures, each agency divides the Earth’s surface into latitude-longitude grid boxes that are used to integrate in situ (“on site”) temperature measurements from around the globe.

The three most highly cited combined SST and land temperature datasets are NOAA’s MLOST, NASA’s GISTEMP, and the UK’s HadCRUT. All three datasets report global average temperature as an anomaly, or departure from average, relative to a reference period. This is because absolute temperatures can vary (depending on factors like elevation), whereas anomalies allow for more meaningful comparisons between locations and accurate calculations of temperature trends. HadCRUT uses the most recent reference period to calculate anomalies, 1961-1990, followed by GISTEMP’s 1951-1980 period. MLOST, on the other hand, uses the 20th century, 1901-2000, as its reference period to establish a longer-term average.

Global Land and Ocean Temperature Anomalies, January-December

Source: NOAA

While the concept of these datasets is fairly simple, their construction is challenging due to difficulties in obtaining data; documenting and accounting for changes in instrumentation and observing practices; addressing changes in station location and local land use; understanding random measurement errors; and deciding where and how to fill in missing data in space and time. Each group has approached the above challenges somewhat differently. The final datasets differ in their spatial coverage, spatial resolution, starting year, and degree of interpolation (a method of constructing missing data points based on surrounding, discrete points). For this reason, NOAA, NASA, and UK Met Office global temperature anomalies vary subtly.

Global temperature data often underestimates the amount of warming due to coverage bias.

Analyzing temperature observations at a global scale often comes at the cost of not including important spatial detail. This challenge—known as coverage bias—is something all three of the major global temperature datasets struggle with and attempt to reconcile.

NOAA’s Merged Land-Ocean Surface Temperature Analysis (MLOST) uses land surface air temperatures taken from the Global Historical Climatology Network (GHCN) dataset and ocean temperatures from the Extended Reconstructed Sea Surface Temperature (ERSST) dataset, and combines these into a comprehensive global surface temperature dataset. The comprehensive dataset spans from 1880 to the present at monthly resolution on a 5×5 degree latitude-longitude grid. MLOST uses interpolation, but areas without enough data—mainly at the poles, over Africa, and at the center of the Atlantic and Pacific Oceans—are masked in the data analysis to prevent any overreliance on reconstructions that are based on too little data.

NASA Goddard’s Global Surface Temperature Analysis (GISTEMP) also uses GHCN data from 1880 to the present, but GISTEMP has some important differences from NOAA’s MLOST. While GISTEMP has a more focused spatial resolution, with a 2×2 grid, and better coverage at the poles due to the inclusion of data from Antarctic “READER” stations, it only provides data in terms of temperature anomalies. All three of the major global datasets report global temperatures as anomalies to make comparison and computation easier, but GISTEMP is unique in that it works solely with anomaly data from the outset. NOAA and HadCRUT have absolute temperature data from which they derive regional anomalies. As for HadCRUT, it is unique in that it incorporates many additional sources beyond GHCN and is the only global analysis that does not use interpolation. It also has more spatial coverage gaps than MLOST and GISTEMP and a tendency to significantly underreport warming, primarily due to a lack of temperature data at the Arctic, which is warming much fasterthan other regions.

“The Shining Sun,” DeviantArt user edsousa

Seca em São Paulo – 16 de janeiro de 2015

Chuvas devem continuar abaixo da média em 2015, diz Cemaden (G1)

Ano deve ser influenciado por eventos extremos de 2014, diz especialista

Se o ano passado foi um período de condições climáticas extremas no Brasil, entre elas a seca em diversas regiões, a situação em 2015 pode piorar. Esta é a avaliação feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em Cachoeira Paulista (SP), que já prevê chuvas abaixo da média novamente.

De acordo com o meteorologista do Cemaden, Marcelo Seluchi, neste verão choveu pouco mais da metade do normal para o período. O órgão é uma das extensões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para estudos e alertas de desastres naturais. “Comparado com o ano passado, a situação de 2015 pode piorar nas metrópoles em várias regiões do Brasil e no Vale do Paraíba”, afirma.

Leia mais: http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/01/chuvas-devem-continuar-abaixo-da-media-em-2015-diz-cemaden.html

(Portal G1)

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Cantareira pode secar em julho, prevê centro de monitoramento (O Globo)

Governador Alckmin diz que foi mal interpretado ao falar sobre racionamento

O Sistema Cantareira, responsável por abastecer 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, pode secar em julho, caso o consumo de água na Região Metropolitana continue o mesmo e a chuva mantenha o ritmo observado nos últimos meses. A projeção foi feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Leia mais: http://oglobo.globo.com/brasil/cantareira-pode-secar-em-julho-preve-centro-de-monitoramento-15066400

(O Globo)

Mais informações sobre o assunto: Presidente da Cedae prevê uso inédito do volume morto de Paraibuna ainda este semestre – http://oglobo.globo.com/rio/presidente-da-cedae-preve-uso-inedito-do-volume-morto-de-paraibuna-ainda-este-semestre-15066522

(O Globo)

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Combinação de seca e calor extremo agrava crise do Cantareira (Estadão)

Dados oficiais mostram que nos primeiros 15 dias do ano o sistema recebeu 35% menos água do que a média de janeiro passado, enquanto as temperaturas máximas na capital batem recordes

Apontada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) como a causa da crise hídrica paulista no início de 2014, a combinação de seca severa nos mananciais e calor extremo na capital está ainda mais crítica em 2015. Dados oficiais mostram que nos primeiros 15 dias do ano o Sistema Cantareira recebeu 35% menos água do que a média de janeiro passado, enquanto as temperaturas máximas na cidade estão batendo o recorde registrado no mesmo período do ano anterior.

O conteúdo na íntegra está disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,combinacao-de-seca-e-calor-extremo-agrava-crise-do-cantareira,1620492

(Fabio Leite/O Estado de S. Paulo)

Mais informações sobre o assunto: Na Folha de S.Paulo – Cantareira tem ainda menos chuva em 2015 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/204210-cantareira-tem-ainda-menos-chuva-em-2015.shtml)

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Em plena crise hídrica, Cobra Coral pode deixar o Brasil (Terra Brasil)

05 de janeiro de 2015 • 15h46 • atualizado às 17h05

Entidade exotérica que controlaria chuvas por meio de uma médium, que diz incorporar espírito do Cacique Cobra Coral, estuda proposta para trabalho exclusivo na Austrália

André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro
Imagem de divulgação do site da Fundação Cacique Cobra Coral: anos de “consultoria” para suposto controle de chuvas e tempestades Foto: Divulgação

Em tempos de crise hídrica, em que se discute possibilidades de racionamento de água em função da falta de chuvas em reservatórios do sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Fundação Cacique Cobra Coral pode deixar o Brasil e ir trabalhar, literalmente, do outro lado do mundo.

Conhecida entidade exotérica que supostamente controla as incertezas meteorológicas mediante a médium Adelaide Scritori, que incorpora o espírito do cacique, a FCCC estuda uma proposta de um grupo do agronegócio da Austrália para um contrato exclusivo de controle de tempestades no país da Oceania.

“Eles querem uma maior atenção por lá”, confirmou o porta-voz da FCCC, Osmar Santos, que diz que a entidade atende 17 países de três continentes – no Brasil, os principais clientes são a prefeitura e governo do Rio de Janeiro, além do ministério das Minas e Energia, cujo contrato, de acordo com Santos, está vencido.

A Cacique Cobra Coral já foi motivo de diversas polêmicas, principalmente na capital fluminense – o ex-prefeito César Maia tinha exposto em sua sala de almoço um quadro do cacique, com quem sempre manteve contratos sem nenhum tipo de pagamento. Quando deixou o cargo, Maia se disse temeroso pelo não prosseguimento da “consultoria espiritual”.

Coincidentemente ou não, após as fortes chuvas que arrasaram o Rio de Janeiro em 2010, o contrato foi retomado e segue até hoje, após uma pequena interrupção em 2012. Temeroso com chuvas fortes que pudessem comprometer as apresentações das bandas, o Rock in Rio também já usufruiu dos trabalhos do cacique.

O porta-voz do FCCC afirma que ainda não é certo que a entidade exotérica dará exclusividade aos australianos. “Vamos viajar para lá na segunda quinzena deste mês e avaliar todos os pontos do contrato”, explica, sem poder revelar valores, ou mesmo detalhes do possível acordo de exclusividade. “Claro que tudo isso só vai ser acertado com o aval do cacique”, esclarece ainda, finalizando que o anúncio oficial sairá apenas após o Carnaval.

Futuro gestor da Sabesp diz que Estado tem de estar ‘preparado para o pior’ (Folha de S.Paulo)

ARTUR RODRIGUES

DE SÃO PAULO

02/01/2015 02h00

Escolhido pela gestão de Geraldo Alckmin para dirigir a Sabesp, o ex-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas) Jerson Kelman afirma que o Estado tem de estar “preparado para o pior”.

“A situação é preocupante, é grave, e nós temos que torcer pelo melhor, mas estar preparados para o pior”, disse à Folha.

Em novembro, em entrevista ao jornal “Brasil Econômico”, ele havia dito que o governo não atuou da melhor maneira possível e não foi transparente como a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 2001, época do racionamento de energia. Kelman foi presidente da ANA entre 2001 e 2004.

“O Alckmin deve ter tido suas razões, porque em 2002 quem ganhou as eleições foi o Lula, não o Serra. Esse deve ter sido o raciocínio dele. Mas do ponto de vista de governo, de interesse público, a atuação não foi a melhor, desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios que deveriam”, disse na entrevista.

Após ser reeleito, Alckmin passou a adotar medidas mais duras para diminuir o consumo, como a sobretaxa para quem aumentar o consumo.

O novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, afirma que vai avaliar o resultado da taxa extra e cogita até adotar medidas adicionais.

Os nomes de Kelman e de Ricardo Borsari, como superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), foram anunciados nesta quinta (1º) por Braga.

A nova equipe vai enfrentar a maior crise hídrica da história do sistema Cantareira. Nesta quinta, o sistema permaneceu estável, com 7,2% de sua capacidade.

Oficiamente, o nome de Kelman ainda tem de passar por um conselho da Sabesp antes de ele assumir o cargo.

Ele deve ser o substituto de Dilma Pena, que se desgastou com a crise.

Kelman é professor de Recursos Hídricos da COPPE-UFRJ. Também foi presidente do grupo Light e diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

A seguir, a conversa dele com a Folha.

Folha – Em uma entrevista anterior, o senhor falou da necessidade de se dar mais transparência à questão da crise hídrica.
Jorge Kelman – O conceito de transparência é um conceito universal, que eu sempre defendo, não vai aí nenhuma crítica. Eu penso que a população do Estado de São Paulo sabe compreender as condições hidrológicas do momento. A melhor política é de absoluta transparência, de compartilhar com a população da forma mais clara possível.

O senhor também disse que talvez pudesse ter sido melhor a condução da crise pelo governo, que a questão eleitoral atrapalhou.
Eu estou aceitando esse cargo olhando para a frente, não quero ficar aqui atirando pedras para o passado. Olhando para a frente, a situação de São Paulo é preocupante, é grave, e temos que torcer pelo melhor, mas estar preparados para o pior.

O senhor chega no período de chuva, mas se preparando para a estiagem. Como vamos chegar a esse período?
Nesse período de chuvas agora, que às vezes tem tempestades muito fortes, é preciso deixar claro para manter sempre esclarecida a população de que essas chuvas intensas e curtas não resolvem o problema.
O abastecimento depende do estoque de água do sistema Cantareira.
O que poderia acontecer de ruim é você ter uma enchente, carros boiarem, essas coisas que acontecem no verão, e ter um efeito colateral indesejável que seria a população imaginar que o problema está resolvido e relaxar na postura que está tendo de uso econômico da água.

A Crise de Escassez Hídrica no Brasil e seu Gerenciamento no Estado de São Paulo – Posição da Diretoria da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (ABES-SP)

Posição da Diretoria da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (ABES-SP) sobre a crise hídrica, apresentada no seminário “A Crise de Escassez Hídrica no Brasil e seu Gerenciamento no Estado de São Paulo”, realizado no dia 02 de dezembro de 2014, no auditório do CREA-SP:

  1. O país vive crise de escassez hídrica de dimensões inéditas e não antecipadas pelas previsões climáticas. A crise atinge um vasto território do Sudeste e Nordeste brasileiros, com forte incidência em São Paulo, e afeta os diversos usos da água, revelando conflitos que precisam ser tratados de imediato. Embora não haja precisão nas previsões meteorológicas, é provável que seja de grande duração, requerendo estratégia de longo prazo para seu enfrentamento.
  1. A crise vem demandando ações emergenciais para assegurar a continuidade do abastecimento público, que necessitam ser reforçadas e adequadamente explicadas à população, pelas autoridades e pelas entidades técnico-científicas. O abastecimento vem sendo mantido por um sofisticado conjunto de medidas operacionais, que será tão mais eficaz quanto mais bem compreendido for pela sociedade.
  1. Em geral, passadas as restrições legais do período eleitoral, é necessário reforçar a comunicação social sobre o enfrentamento dos problemas, trazendo a sociedade para apoiar ativamente o combate aos desperdícios e o uso racional, e reduzindo o espaço para visões equivocadas e para a exploração oportunista dos efeitos da crise. Além da comunicação, ações mais diretas junto à população são cabíveis, como, por exemplo, a assistência técnica para a adequação das caixas d’água nos imóveis com deficiência de reservação.
  1. Os valores extremamente baixos e inéditos de precipitações e de vazões afluentes aos sistemas indicam uma situação nova, que exige a revisão do planejamento existente, antecipando intervenções e aumentando capacidades. É necessário aumentar a disponibilidade de vazões regularizadas, para fazer frente à nova situação. Particularmente, são importantes a interligação dos reservatórios Jaguari e Atibainha, para dar segurança hídrica à plena recuperação e utilização do Sistema Cantareira no futuro, e a construção das barragens Duas Pontes e Pedreiras e respectivo sistema adutor, para assegurar o abastecimento dos municípios das bacias do PCJ. Outros projetos de abastecimento, estruturantes do desenvolvimento econômico do estado, necessitam ser avaliados, detalhados e implementados no curto prazo.
  1. A antecipação de investimentos e o aumento de capacidade de reserva que as novas condições exigem significam o aumento do custo da água para os diversos usos. Esta nova realidade torna economicamente mais atrativas e socialmente mais necessárias políticas permanentes de redução de perdas, uso racional da água, proteção e recuperação de mananciais e de nascentes e de reuso de água tratada.
  1. O aumento de custos deve ser refletido nas tarifas dos prestadores de serviços. O setor de abastecimento de água e esgotamento sanitário no estado de São Paulo é sustentado por um sistema tarifário que remunera os investimentos e os custos dos serviços, com um processo regulatório sofisticado, em fase final de implantação. Esta é a forma socialmente mais justa e eficiente de alocar os recursos necessários à prestação dos serviços, que deve ser preservada. Empresas e autarquias economicamente viáveis e sólidas são a melhor garantia da qualidade da prestação, e da manutenção de esforços continuados, como é o caso da redução de perdas de água, por exemplo.
  1. O ajuste tarifário, além preservar a viabilidade econômica das entidades responsáveis pelos serviços, o que pode e deve ser feito protegendo os segmentos socialmente mais vulneráveis, deve ser tratado como um importante, talvez o mais importante, mecanismo de redução de consumo excessivo. A acentuação das diferenças entre blocos tarifários, com penalização mais pesada às faixas de maior consumo, é um forte estímulo econômico à moderação. Esse valor adicional nas faixas de maior consumo poderia ser separado, como um fundo especial para as obras de segurança hídrica, não incidindo no cálculo do resultado econômico das prestadoras de serviço.
  1. A penalização econômica do uso excessivo de água deve se somar a outras ações de combate ao desperdício, por parte das autoridades públicas, especialmente as autoridades municipais, que têm poder de polícia. A fiscalização deve se somar à comunicação ampla e ao convencimento.
  1. As intervenções não diretamente ligadas à prestação dos serviços, como as obras de aumento da segurança hídrica, não poderão ser inteiramente custeadas pelas tarifas, e necessitam de recursos não onerosos dos orçamentos públicos. No caso da Sabesp, a primeira fonte deveria ser os dividendos e juros sobre capital próprio distribuídos ao Governo Estadual.
  1. Os estudos mais recentes, como o Plano de Abastecimento da Macrometrópole Paulista, demonstram que a densidade do desenvolvimento econômico do estado e o uso intensivo dos recursos hídricos impõem que se passe a planejar e gerir o uso da água na região de modo efetivamente integrado. A crise de escassez vem acentuar essa constatação. As agendas entre municípios e Governo Estadual, entre este e os demais estados vizinhos, e a União, demandam a ampliação e o aprimoramento dos instrumentos técnicos e dos recursos humanos voltados a essas tarefas.
  1. A gestão integrada implica uma intensa agenda entre municípios, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Agência Nacional de Águas, e o Governo Federal, agenda que tem se desenvolvido de modo promissor nas últimas semanas. E contempla também os graves conflitos e restrições entre os diversos usos da água a serem mediados. Quanto a estes, ressalta a importância de rediscutir com o setor elétrico ajustes imprescindíveis nas regras atuais, para fazer prevalecer a primazia do uso para abastecimento público, como assegurado legalmente.
  1. Muitas das medidas de enfrentamento da crise são e terão que ser emergenciais, com o uso de procedimentos expeditos de contratação e execução. É importante que as mesmas se combinem com um processo de revisão de planos, de elaboração de projetos e de reestruturação de cronogramas de implantação de empreendimentos que organize desde já a continuidade dos programas de expansão e melhoria dos serviços, necessários para a universalização do atendimento e a manutenção da qualidade.

Diretoria da ABES-SP.

Banco Mundial diz que seca no nordeste brasileiro pode piorar (Rádio ONU)

09/12/2014 – 09h39

por Edgard Júnior, da Rádio ONU

seca Banco Mundial diz que seca no nordeste brasileiro pode piorar

Afirmação foi feita pela assessora sênior para a América Latina e o Caribe da instituição financeira; Karin Kemper afirmou também que aumento do nível dos mares pode ter impacto no Rio de Janeiro.

A assessora regional sênior do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Karin Kemper, disse, em entrevista à Rádio ONU, que se a temperatura global continuar aumentando, a seca no nordeste do Brasil pode piorar.

“Sabemos que o nordeste sempre sofreu com as secas, mas poderia ter uma frequência mais intensa ou poderia ter secas mais prolongadas. Sabemos que isso tem efeitos econômicos tanto para a população do interior, mas também podemos imaginar que, por exemplo, as cidades grandes do nordeste podem sofrer mais impactos por insegurança hídrica.”

Investimentos

Citando o relatório lançado pelo Banco Mundial na semana passada, Kemper disse ainda que os impactos do aumento da temperatura serão maiores sobre as populações mais pobres, mais vulneráveis, mulheres, crianças, como também grupos indígenas.

A assessora para a América Latina e o Caribe alertou que investimentos que poderiam ser feitos em outros setores vão acabar sendo destinados para combater os efeitos climáticos.

“Se houver um aumento do nível dos mares, por exemplo, o cálculo que temos no relatório para o Rio de Janeiro varia de uma alta de, no mínimo, 62 cm até 1 metro, no máximo. Isso significa que se precisa fazer investimentos nas cidades costeiras. Esse dinheiro poderia ser utilizado em outras coisas como em hospitais, escolas e outros setores de desenvolvimento.”

O relatório do Banco Mundial disse que um novo padrão climático global pode reduzir em 70% a produção de soja no Brasil e a de trigo em 60%.

O documento mostra dois cenários futuros prevendo as consequências de aumentos médios da temperatura global de 2 e 4 graus centígrados, até 2050. Os especialistas calculam que os danos causados por enchentes costeiras devem chegar a US$ 22 bilhões, o equivalente a mais de R$ 56 bilhões.

* Publicado originalmente no site Rádio ONU.

(Rádio ONU)

Código florestal de SP é atacado por especialistas (Estado de S.Paulo)

Para eles, falta base científica em projeto da Assembleia; compensação de desmate é polêmica

Em meio à pior crise hídrica da história, deputados da base do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na Assembleia Legislativa tentam aprovar um projeto que, para integrantes do próprio governo, “trará prejuízos irreversíveis à proteção e conservação da água, da fauna e da flora” do Estado.

Veja o texto na íntegra em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,codigo-florestal-de-sao-paulo-e-atacado-por-especialistas,1604639

(Fábio Leite/Estado de S.Paulo)

New insights into predicting future droughts in California: Natural cycles, sea surface temperatures found to be main drivers in ongoing event (Science Daily)

Date: December 8, 2014

Source: National Oceanic and Atmospheric Administration

Summary: Natural oceanic and atmospheric patterns are the primary drivers behind California’s ongoing drought. A high pressure ridge off the West Coast (typical of historic droughts) prevailed for three winters, blocking important wet season storms, with ocean surface temperature patterns making such a ridge much more likely.


Folsom Lake. Top photo taken in 2011, bottom taken in 2014. Credit: CA Dept. of Water Resources

According to a new NOAA-sponsored study, natural oceanic and atmospheric patterns are the primary drivers behind California’s ongoing drought. A high pressure ridge off the West Coast (typical of historic droughts) prevailed for three winters, blocking important wet season storms, with ocean surface temperature patterns making such a ridge much more likely. Typically, the winter season in California provides the state with a majority of its annual snow and rainfall that replenish water supplies for communities and ecosystems.

Further studies on these oceanic conditions and their effect on California’s climate may lead to advances in drought early warning that can help water managers and major industries better prepare for lengthy dry spells in the future.

“It’s important to note that California’s drought, while extreme, is not an uncommon occurrence for the state. In fact, multi-year droughts appear regularly in the state’s climate record, and it’s a safe bet that a similar event will happen again. Thus, preparedness is key,” said Richard Seager, report lead author and professor with Columbia University’s Lamont Doherty Earth Observatory.

This report builds on earlier studies, published in September in the Bulletin of the American Meteorological Society, which found no conclusive evidence linking human-caused climate change and the California drought. The current study notes that the atmospheric ridge over the North Pacific, which has resulted in decreased rain and snowfall since 2011, is almost opposite to what models project to result from human-induced climate change. The report illustrates that mid-winter precipitation is actually projected to increase due to human-induced climate change over most of the state, though warming temperatures may sap much of those benefits for water resources overall, while only spring precipitation is projected to decrease.

The report makes clear that to provide improved drought forecasts for California, scientists will need to fully understand the links between sea surface temperature variations and winter precipitation over the state, discover how these ocean variations are generated, and better characterize their predictability.

This report contributes to a growing field of science-climate attribution-where teams of scientists aim to identify the sources of observed climate and weather patterns.

“There is immense value in examining the causes of this drought from multiple scientific viewpoints,” said Marty Hoerling, report co-author and researcher with NOAA’s Earth System Research Laboratory. “It’s paramount that we use our collective ability to provide communities and businesses with the environmental intelligence they need to make decisions concerning water resources, which are becoming increasingly strained.”

To view the report, visit: http://cpo.noaa.gov/MAPP/californiadroughtreport.

Seca de São Paulo na mídia

JC 5078, 4 de dezembro de 2014

Sabesp vai bombear menos água do Cantareira em dezembro (Agência Brasil)

Medida será tomada independentemente do volume de chuva que possa se acumular ao longo do período

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) terá de reduzir, ao longo deste mês, a retirada de água do Sistema Cantareira, o principal manancial para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo, independentemente do volume de chuva que possa se acumular ao longo do período.

Segundo definição conjunta da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), o volume de retirada baixou de 39 milhões de metros cúbicos (m³) para 30 milhões de m³, o equivalente a 30 bilhões de litros.

A medida faz parte de um acordo fechado no dia 17 de novembro, pelo qual os dois órgãos avaliarão mensalmente o uso da segunda cota do chamado volume morto ou reserva técnica, que é a água bombeada abaixo da captação por gravidade.

O mesmo critério é seguido no caso das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A determinação encaminhada ao presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Gabriel dos Santos, informa que a ANA e o Daee concordaram diminuir de quatro para três metros cúbicos por segundo a liberação de água dos reservatórios para os rios da região.

(Marli Moreira / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/sabesp-vai-bombear-menos-agua-do-cantareira-em-dezembro

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

Mesmo com chuva, Cantareira continua em queda e registra 8,2% (Agência Brasil)

Os dados são da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

As chuvas sobre São Paulo não interromperam a sequência de quedas do Sistema Cantareira. Hoje (5), o nível dos reservatórios registrou 8,2%, uma redução de 0,1 ponto percentual em relação a ontem (4), segundo medição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Ontem, uma leve precipitação de 1,9 milímetro atingiu as cabeceiras do sistema. A pluviometria esperada para o mês é alta, 220,9 milímetros. No mês passado, a média histórica indicava precipitações acumuladas no patamar de 161,2 milímetros, mas as chuvas acumularam 135 milímetros.

Outros sistemas de abastecimento de São Paulo também sofreram perdas. O Alto Tietê baixou de 5,2% ontem para 5,1% hoje, mesmo diante da precipitação de 9,1 milímetros que atingiu o reservatório.

Guarapiranga, localizado na zona sul da capital, apresentou leve melhora. O sistema passou de 32,2% ontem para 33,3% hoje. A chuva que ajudou a elevar o sistema e atingiu a cidade de São Paulo acumulou 10,8 milímetros.

Hoje, o tempo nublado e chuvas isolados predominam na capital paulista. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), a nebulosidade ocorre pela passagem de um sistema frontal, que se afasta rapidamente para o oceano. Chuvas mais consistentes estão previstas para o norte paulista e o sul de Minas Gerais, na área do Sistema Cantareira.

No fim de semana, o tempo abre, as temperaturas sobem e a probabilidade de chuva diminui. O sábado (6) terá sol entre nuvens e temperatura média de 18ºC. A umidade relativa do ar fica entre 45% e 85%.

(Fernanda Cruz / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/mesmo-com-chuva-cantareira-segue-em-queda-e-registra-82

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

São Paulo receberá R$ 2,6 bilhões para novo sistema de abastecimento de água (Agência Brasil)

A água do novo sistema, que virá do Rio São Lourenço, será captada a 83 quilômetros da capital e armazenada na Represa do França

A presidenta Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assinaram hoje (4) contrato para construção de um novo sistema de abastecimento de água para a região metropolitana da capital paulista.

O Sistema Produtor São Lourenço está orçado em R$ 2,6 bilhões e será financiado por meio de uma parceria público-privada, com parte dos recursos oriunda do Fundo de Garantia do Tempo do Serviço, gerido pela Caixa Econômica Federal. A obra vai beneficiar 1,5 milhão de pessoas em sete municípios da parte oeste da região metropolitana de São Paulo e deve reduzir a dependência dos outros sistemas, entre eles o Cantareira, que está em colapso devido à  falta de chuva. A obra está em andamento e deverá ser concluída em meados de 2017.

A água do novo sistema, que virá do Rio São Lourenço, será captada a 83 quilômetros da capital e armazenada na Represa do França.

Alckmin, do PSDB, agradeceu a parceria com a União para a construção do novo sistema de abastecimento de água e disse que a relação entre o governo federal e o estado “é um exemplo de cooperação federativa”.

Dilma também destacou a união entre os governos federal e estadual para enfrentar a crise hídrica na maior cidade do país. “Vou dar sequência à forma de relacionamento que construímos ao longo de quatro anos do meu governo e do governador Alckmin em São Paulo”, ponderou.

“Não é possível o Brasil ter uma situação ameaçando a capital do maior estado do país e a maior cidade da América Latina. Por isso estamos aqui fazendo esta parceria, em beneficio não só da população da cidade, do estado de São Paulo, mas de toda a população brasileira, uma vez que temos um processo no Brasil em que cada estado depende do crescimento dos outros para ter mercado interno, uma política industrial, um desenvolvimento agrícola compatível com a prosperidade do país”, disse  Dilma.

A presidenta explicou que as diferenças partidárias entre o governo federal e administração de São Paulo, comandados pelo PT e o PSDB respectivamente, ficaram para trás com o fim da eleição. “Durante a campanha, é natural divergir, criticar e disputar e mesmo, em alguns momentos, é compreensível que as temperaturas se elevem. Mas temos que respeitar as escolhas legitimas da população brasileira, estamos em um país que preza a democracia”.

Segundo Dilma, os dois governos já estão discutindo um novo conjunto de investimentos na área de segurança hídrica em São Paulo, que serão anunciados no começo do próximo ano.

Dilma e Alckmin também assinaram um contrato de R$ 630 milhões para a ampliação da Linha 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. O trecho compreende 4,4 quilômetros e duas novas estações entre Grajaú e Varginha, na zona sul de São Paulo. Serão R$ 500 milhões do Orçamento Geral da União e R$133 milhões de contrapartida do governo estadual. A obra será entregue até o primeiro trimestre de 2016.

(Luana Lourenço / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2014-12/sao-paulo-recebera-r-26-bilhoes-para-novo-sistema-de-abastecimento-de-agua

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JC 5079, 5 de dezembro de 2014

Escassez de água pode afetar 55% dos municípios em 2015, diz ANA (Agência Câmara Notícias)

Representantes de organizações e do governo apontaram para a necessidade de um plano de segurança hídrica

Apesar de o problema da crise hídrica ser mais evidente em São Paulo, dados da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer deficit de abastecimento até 2015. O alerta foi feito nesta quinta-feira (4), em audiência sobre a crise da água no Brasil, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Os participantes chamaram atenção para outras bacias do País, como a do São Francisco.

De acordo com a ANA, o Brasil já está trabalhando em um plano nacional de segurança hídrica. O documento está sendo elaborado pela Agência de Águas e pelo Ministério da Integração Nacional a partir de conversas com os estados e deverá ficar pronto entre 2015 e 2016.

A expectativa do superintendente da ANA Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho é que as ações comecem ser implementadas ainda no decorrer do processo, à medida que os problemas forem sendo identificados.

O deputado Sarney Filho (PV-MA), que solicitou o debate, anunciou que vai trabalhar pela criação, na Câmara dos Deputados, de um comitê de crise hídrica. Ele pretende retomar o assunto no início da próxima legislatura, em fevereiro. “É preciso que se tomem medidas urgentes, porque sem água não tem como viver”, afirmou o deputado.

São Paulo
No caso dos problemas de abastecimento de água em São Paulo, situação mais comentada no debate, a percepção dos especialistas é que a crise pode ficar ainda pior se não chover nos próximos meses. E o problema será agravado se o estado não contar com um plano de contingência dos recursos hídricos.

“Se o período chuvoso deste ano se configurar como o do ano passado, essa água não será suficiente para o ano que vem. Independentemente de chover mais ou menos, nós estamos em uma situação bastante crítica”, observou a especialista em gestão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately.

Segundo ela, os sistemas que produzem água para a região metropolitana de São Paulo, como o Cantareira, encontram-se com níveis de armazenamento muito baixos. “O Cantareira está hoje em torno de 8%, isso já considerando duas cotas do volume morto. Ou seja, ele está em um volume negativo, algo em torno de 20% negativo”, complementou a especialista.

A coordenadora do Programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Maria Luísa Ribeiro, relatou que, em Itu, as pessoas ficaram de fevereiro até agora com racionamento de 100%, “sem nenhuma água na torneira, vivendo uma realidade de caminhões-pipa com água sabe-se lá de onde”.

Sarney Filho lamentou a ausência de representantes do governo de São Paulo na reunião.

Oferta e demanda
Especialistas apontaram a política de gestão dos recursos hídricos como um dis principais problemas no processo. Como observou Marussia Whately, a gestão hoje se baseia na oferta de água, sem o devido cuidado com mananciais. Além disso, é preciso lidar com a falta de chuvas e de transparência no sistema. “Enquanto isso, o Brasil vem aumentando o consumo e isso é uma tendência que deve ser levada em consideração”, observou Marussia.

À demanda crescente os governos respondem de uma forma: com a tentativa de aumentar a oferta. “Tenta-se resolver o problema com o aumento da oferta, sempre procurando novas fontes, mas isso tem limitações. Hoje a questão que se coloca é que, antes de procurar novas fontes, você atue na gestão da demanda, no controle de perdas, nessas ações mais fáceis e mais baratas”, defendeu Joaquim Gondim Filho.

Maria Luísa Ribeiro pediu aos parlamentares que coloquem a água em uma agenda estratégica. Ela defendeu ações integradas entre os estados e mais voz para os comitês de bacias hidrográficas e chamou a atenção para a necessidade de combater o desmatamento, que tem forte influência nas secas.

(Noéli Nobre / Agência Câmara Notícias)

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/MEIO-AMBIENTE/478860-ANA-ALERTA-PARA-AGRAVAMENTO-DA-FALTA-DE-AGUA.html

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JC 5080, 8 de dezembro de 2014

Sem chuva, cai nível dos reservatórios em São Paulo (Agência Brasil)

O nível do Sistema Cantareira, que atende a 6,5 milhões de pessoas, passou de 8,1% para 8%

Sem chuva, o nível de todas as represas que abastecem a região metropolitana de São Paulo caiu hoje (7), informou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Segundo a companhia, o nível do Sistema Cantareira, que atende a 6,5 milhões de pessoas, registrava ontem 8,1% e hoje passou a 8%.

O Alto Tietê, segundo maior sistema de São Paulo, também apresentou queda, passando de 5% para 4,8%. O Guarapiranga, que atende a 4,9 milhões de pessoas, está operando com 32% de sua capacidade. Os sistemas Alto Cotia e Rio Claro operavam com 29,7% e 29,4% de suas capacidades, respectivamente. O Sistema Rio Grande opera com 62,5% da capacidade.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), não há previsão de chuvas para a capital paulista hoje. Amanhã (8), entre o final da tarde e início da noite, a chegada de uma brisa marítima aumentará a nebulosidade e pode favorecer a ocorrência de chuva na forma de pancadas isoladas.

(Elaine Patricia Cruz / Agência Brasil)

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/sem-chuva-cai-o-nivel-dos-reservatorios-de-sp

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2014 set to be world’s hottest year ever (The Guardian)

Record average temperatures highlight the urgent need to agree a deal on emissions at the UN climate change talks in Lima

2014 hottest year on record : 134-Foot-High Thermometer in Baker, California
 Vehicles drive by a 134ft-high thermometer in Baker, California. Average land and sea surface temperatures have reached record levels in 2014. Photograph: Ethan Miller/Getty Images

The world is on course for the hottest year ever in 2014, the United Nations weather agency said on Wednesday, heightening the sense of urgency around climate change negotiations underway in Lima.

Preliminary estimates from the World Meteorological Organisation (WMO) found global average land and sea surface temperatures for the first 10 months of 2014 had soared higher than ever recorded.

The findings – broadly in line with those of the US National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa) and other scientific agencies – indicate that by year-end 2014 will break all previous high temperature records.

The steady escalation of greenhouse gas emissions, caused by the burning of fossil fuels, have seen a succession of record-breaking years for temperature since the dawning of the 21st century and 2014 promises to be no exception, the WMO said.

“Fourteen of the 15 warmest years on record have all occurred in the 21st century,” said the WMO’s secretary-general Michel Jarraud. “What we saw in 2014 is consistent with what we expect from a changing climate.

“Record-breaking heat combined with torrential rainfall and floods destroyed livelihoods and ruined lives. What is particularly unusual and alarming this year are the high temperatures of vast areas of the ocean surface, including in the northern hemisphere,” he said.

The new evidence provided by the WMO report of the gathering risks of climate change undercut the optimism expressed by negotiators from industrialised countries at the opening of the Lima talks.

Christiana Figueres, the UN’s top climate official, said the findings drove home the urgency of reaching a deal. Negotiations have been grinding on for more than 20 years.

“Our climate is changing and every year the risks of extreme weather events and impacts on humanity rise,” she said.

Ed Davey, the UK climate secretary, said the UN climate talks were critical to stop temperatures rising to dangerous levels. “More record warm temperatures in the UK and across the world are yet more evidence that we need to act urgently to prevent dangerous climate change,” he said.

Officials from nearly 200 countries will spend the next two weeks in Lima working to agree on a plan to cut global greenhouse gas emissions fast enough and deeply enough to limit warming to 2C above pre-industrial times, the official objective of the UN talks.

But even that goal – which scientists say may not go far enough to prevent low-lying island states from drowning in rising seas – may be moving beyond reach.

“When confronted with numbers like these, the challenge to stablise global warming below dangerous levels can seem daunting indeed,” Michael Mann, the climate scientist, said. “The globe is warming, ice is melting, and our climate is changing, as a result. And the damage is being felt – in the forms of more destructive weather extremes, more devastating wildfires, and unprecedented threats to the survival of endangered animal species.”

He said the Lima climate talks – and a summit scheduled for Paris at the end of next year – were “perhaps our last real opportunity to stave off truly dangerous and irreversible world-wide changes in our climate.”

Bill McKibben, leader of the 350.org campaign group, saw the findings as a call to arms to climate activists. “If you thought 2014 was hot, wait ‘til you see 2015. This means we need to turn up the flame even higher under the fossil fuel companies that are frying our planet,” he said.

A runner passes people sitting on a bench in the sunshine in Green Park on October 31, 2014 in London, England.  Temperatures in London are forecasted to exceed 20 degrees making today the hottest Halloween on record.
 Londoners enjoying record temperatures at Halloween. Photograph: Rob Stothard/Getty Images

The WMO report found the global average air temperature over land and sea surface for January to October was about 0.57C above the average of 14C for the 1961-1990 reference period, and 0.09C above the average for the past 10 years (2004-2013).

The most striking evidence of warming was probably in the oceans, however. Most of the excess heat trapped in the atmosphere by greenhouse gas emissions ends up in the oceans.

The WMO said global sea surface temperatures were 0.45C higher than the average over the last 50 years.

If November and December continue on the same course, then 2014 will edge out 2010, 2005 and 1998 as the hottest years ever known – but only by a few hundredths of a degree. Different data sets also show slightly different rankings, the WMO said.

In any event, the trend line is clear. The world is getting warmer, especially the oceans. Those higher temperatures were already exacting a toll, in terms of heavy rainfall and flooding in some countries, and extreme drought in others, the WMO said.

The agency dismissed outright the notion posed by some climate deniers of a pause in the warming trend.

“There is no standstill in global warming,” Jarraud said.

The world’s big three emitters – the US, China, and the EU – have pledged new targets for cutting their use of fossil fuels, injecting optimism into the Lima talks.

But scientists say even those targets are not enough to limit warming to 2C, and other big carbon polluters such as India, Russia, and Australia have yet to come on board.

Meanwhile, there were early signs of tension between the US and EU over the legal structure of the agreement that is due to be adopted in Paris next year.

Campaign groups monitoring the talks called on negotiators to take the new WMO findings to heart.

“The fact that we’re tracking towards the hottest year on record should send chills through anyone who says they care about climate change – especially negotiators at the UN climate talks here in Lima,” said Samantha Smith, who heads WWF’s climate and energy initiative. “This is more scientific evidence of the real impact climate change is having on our world. The changes will be felt the most by the most vulnerable people, whose lives and livelihoods are already being affected.”

This picture taken on July 30, 2014 shows a girl and her father collecting water from an almost dried up resevoir, two kilometers from their home, in Pingdingshan, central China's Henan province. Severe drought and scorching heat has damaged over a million hectares of farmland in China's Henan and Inner Mongolia provinces, with no immediate relief in sight, a state news agency reported.
 An almost dried up reservoir in Pingdingshan, central China’s Henan province, where severe drought damaged vast areas of farmland. Photograph: STR/AFP/Getty Images

The WMO found western North America, Europe, eastern Eurasia, much of Africa, large areas of South America and southern and western Australia were especially warm. South Africa, Australia, and Argentina started the year with blistering heat waves.

However, the US and Canada ushered in 2014 with the chill Arctic winds of the polar vortex. Central Russia also recorded cooler than average conditions for the year.

Europe also experienced extreme weather, with the UK buffetted by storms. A separate temperature data set, the world’s longest continuous record, showed England was on track for the hottest year in over three centuries. Higher temperatures cause more evaporation and more rain, and 2014 began with England’s wettest winter in over 250 years, leading to widespread flooding.

In Serbia, Bosnia-Herzegovina and Croatia, more than two million people were caught up in severe flooding. Parts of Turkey saw five times the normal amount of rain, and France experienced its wettest summer since 1959.

South Asia also experienced heavy rains, with severe flooding in northern Bangladesh, northern Pakistan and India, affecting millions of people in August and September.

For other parts of the world, however, 2014 brought drought. Rainfall in parts of the Yellow River basin in China were less than half of the summer average. A large swathe of the western US continued under drought. New South Wales and southeast Queensland in Australia also went without rain.

Study: California drought is the most severe in at least 1,200 years (Washington Post)

 December 4 at 3:40 PM

The current drought in California is the worst the state has seen in at least 1,200 years, according to a recent study published by the American Geophysical Union.

Scientists at Woods Hole Oceanographic Institute and the University of Minnesota reconstructed California’s temperature and precipitation history back to 800 A.D. using tree ring data. Hidden in this millennium of data they found as many as 66 dry periods of at least three to nine years. In the entire 1,200 year period they studied, there were only three droughts that were similar in nature to the current drought.

Though none have been as severe as what California has seen in the three years since 2012. Not even the historic droughts of the late 1970s, nor the late 1980s. The study also found that 2014 was the worst single drought year in the past 1,200 years, and that approximately 44 percent of California’s 3-year droughts have gone on to last another year, or longer.

Interestingly, California’s current lack of rainfall is not unprecedented in the 1,200-year record. The study concludes that the current drought was a result of both below-average precipitation and record-breaking high temperatures, and that the latter could have intensified the drought by about 36 percent.

This week has been particularly rainy one for California, which is being blasted by a series of storms that are channeling moisture into the state. San Francisco has seen over 3.5 inches of rain since Monday, compared to 2013, when they only received 0.35 inches in the whole month. They’re average rainfall for the entire month of December is 4.03, so the city is well on it’s way to at least making par. Los Angeles has racked up over 1.5 inches of rain so far this month, where the December average is 2.05.

However, much, much more rainfall is needed to put a dent in the drought.

Fifty five percent of California remains in an “exceptional drought” as of Thursday — the most severe classification on the scale used by the U.S. Drought Monitor, and 100 percent of the state remains in at least a moderate drought. Many of the state’s critical reservoirs remain well below their historical average.

While this week’s rain and snow will be a step in the right direction, California still has a long way to go to reach total drought abatement. As of October, the National Climatic Data Center was estimating that most of California’s central valley as well as Northern California would need anywhere from 18 to 21 inches of precipitation over the next six months to end the drought.

This week’s rains will be beneficial, but they won’t be nearly enough.

Record Drought Reveals Stunning Changes Along Colorado River (National Geographic)

A boat traces the curves of Reflection Canyon, part of Glen Canyon.

A boat wends its way around the curves of Reflection Canyon, part of Lake Powell in Glen Canyon. The “bathtub rings” on the walls show past water levels.

PHOTOGRAPH BY MICHAEL MELFORD, NATIONAL GEOGRAPHIC CREATIVE

Jonathan Waterman

for National Geographic

PUBLISHED NOVEMBER 23, 2014

LAKE POWELL, Utah—In early September, at the abandoned Piute Farms marina on a remote edge of southern Utah’s Navajo reservation, we watched a ten-foot (three-meter) waterfall plunging off what used to be the end of the San Juan River.

Until 1990, this point marked the smooth confluence of the river with Lake Powell, one of the largest reservoirs in the U.S. But the lake has shrunk so much due to the recent drought that this waterfall has emerged, with sandy water as thick as a milkshake.

My partner DeEdda McLean and I had come to this area west of Mexican Hat, Utah, to kayak acrossLake Powell, a reservoir formed by the confluence of the San Juan and the Colorado Rivers and the holding power of Glen Canyon Dam, which lies just over the border in Arizona. Yet in place of a majestic reservoir, we saw only the thin ribbon of a reemergent river channel, which had been inundated for most of the past three decades by the lake. We called this new channel the San Powell, combining the name of the river and the lake.

Map of the Lake Mead and Lake Powell regions.

VIRGINIA W. MASON, NG STAFF SOURCE: BUREAU OF RECLAMATION, NATIONAL PARK SERVICE

We had also come to see firsthand how drought is changing the landscapes of the desert Southwest. Here, judging by the lack of conservation reform, water has seemed to be largely taken for granted. But our recent float suggests that profound changes may be in store for the region. (See “The American Nile.”)

Sweating in the desert heat, we loaded our 15-foot (5-meter) kayaks with two weeks’ worth of food and ten gallons of water—enough to last us two days. Drinking from the silty river or fecal-contaminated areas of Lake Powell frequented by houseboats was not an option (Glen Canyon Recreation Area, which includes the reservoir, is visited by more than two million people a year). The contours of our journey—where we camped, our hiking destinations, and how far we paddled each day—would be defined by the need to find potable springs.

Like bicyclists shunning the interstate, many kayakers have avoided Lake Powell ever since the builders of Glen Canyon Dam finished flooding 186 miles (300 kilometers) of the Colorado River Valley in 1980. The reservoir was named after John Wesley Powell, the National Geographic Society co-founder who first paddled most of the Colorado River and who later, in public office, tried to limit population growth in the arid Southwest. The dams and the enormous reservoirs that were later built in the desert would have horrified him.

Motorboaters call Powell’s lake the “Jewel of the Colorado” because of its unnatural emerald hue—Glen Canyon Dam now captures the silt that used to make the Colorado, after its confluence with the San Juan, the most colorful river in the West. Paddlers call it “Lake Foul” for the noise and stench of outboard engines.

Photo of Lake Powell in 2011.

In 2011, Lake Powell contained plenty of water.
PHOTOGRAPH BY JON WATERMAN

“Extreme” Drought

According to the U.S. Drought Monitor, 11 of the past 14 years have been drought years in the Southwest, with the drought ranging from “severe” to “extreme” to “exceptional,” depending on the year and the area.

At “full pool,” Lake Powell spans 254 square miles (660 square kilometers)—a quarter the size of Rhode Island. The lightning bolt-shaped canyon shore stretches 1,960 miles (3,150 kilometers), 667 miles (1,073 kilometers) longer than the West Coast of the continental United States.

The reservoir serves multiple purposes. It stores water from the Upper Basin states of Wyoming, Utah, New Mexico, and Colorado so that the Lower Basin states of California, Nevada, and Arizona can receive their allotted half of the Colorado River; it creates electricity through hydro-generators at Glen Canyon Dam; and it helps prevent flooding below Hoover Dam (240 miles or 390 kilometers downstream), the site of North America’s largest reservoir, Lake Mead.

11 of the past 14 years have been drought years in the Southwest.

The irony, as most students of this river’s history now know, is that the U.S. Bureau of Reclamation created these enormous reservoirs during the wettest period of the past millennium. According to modern tree-ring data (unavailable during the dam-building epoch), the previous millennium experienced droughts much more severe than those in the first 14 years of the 21st century. Many climate scientists think the Southwest is again due for a megadrought. The Bureau of Reclamation’s analysis of over a hundred climate projections suggests the Colorado River Basin will be much drier by the end of this century than it was in the past one, with the median projection showing 45 percent less runoff into the river.

Last winter was snowy in the Rockies, and runoff was at 96 percent of the historical average. Because of the previous years of drought, however, Lake Powell had risen to only half full by fall.

But Lake Mead was in even worse shape. This year it plunged to 39 percent of capacity, a low that has not been matched since Hoover Dam began backing up the Colorado River in 1935. In August, the Bureau of Reclamation announced that Lake Powell would release an additional 10 percent of its waters, or 2.5 trillion gallons, to Lake Mead. That release will lower the water in Lake Powell by about three feet (one meter).

Photo of Lake Powell in 2014.

By 2014, Lake Powell was full of plant life and silt.
PHOTOGRAPH BY JON WATERMAN

Rise of Ancient Ruins?

Fifty miles (80 kilometers) up from the Colorado River confluence, on what is commonly known as the San Juan River Arm of Lake Powell, we kept poking our paddles-cum-measuring sticks toward the shallow river bottom, shouting: “Good-bye, reservoir! Hello, San Powell River!” In a four-mile-per-hour, opaque current, always hunting for the deepest river braids, we breezed past fields of still-viscous, former lake-bottom silt deposits. Stepping out of the boat here would have been an invitation to disappear in quicksand.

We paddled downstream, looking for the edge of the reservoir. We passed caterwauling great blue herons, a yipping coyote, and squawking conspiracies of ravens. By late afternoon, dehydrated by the desert sun, we stopped at one of the few quicksand-free tent sites above the newly emerged river: a sandy yet dry creek bed draining the sacred Navajo Mountain.

We slept in the perfume of blooming nightshades; wild burros brayed throughout the night. Here, more than a dozen miles below our put-in at a marina that once served the reservoir, the swirling “San Powell” River continued to sigh 15 feet (5 meters) below our tent.

In October 2011, when the reservoir was at 70 percent of its capacity, I had stood on a rocky shore above where our tent now stood and photographed Lake Powell’s Zahn Bay here in the San Juan River Valley. It’s dry now, and the lake bottom is a cracked series of chocolate-colored hummocks, surrounded by the invasive Russian thistle and tamarisk, native willows and sunflowers, and pockmarked by burro hooves.

For five days, we wouldn’t see a human footprint or hear the ubiquitous whine of Lake Powell boat traffic.

Half full, the amazing vessel that is Lake Powell has lost 4.4 trillion gallons of water in the recent drought.

By day three, desperate to refill our water bottles, we found a newly created marsh where the river thinned before dropping into the deeper reservoir. Unlike anything I’d experienced elsewhere on the sterile Lake Powell, abundant small fish and aquatic life supported American pelicans, mallards, coots, mergansers, green herons, hawks, and kingfishers. The silty river is also sheltering endangered razorback suckers and pikeminnows that are preyed upon by non-native fish in the clearer waters of the lake.

Within a decade or two at the most, if the drought persists, we can expect to see hundreds of inundated ancient Anasazi ruins rising above the drying reservoir. Archaeologists will be delighted, just as kayakers like us delight at the reemergence of a river. But more than 36 million people in and around the Colorado River Basin depend on this vanishing water.

As we finally reached a body of water wide enough to be properly called the reservoir, many miles below where we had expected to find it, we continued paddling in a chocolate pudding of ground-up river debris. Some 94 feet (29 meters) above our craned heads, on the red sandstone walls of the reservoir, we saw the “bathtub rings”—the stains left by river minerals in wetter times.

That night we did a quick calculation: Half full, the amazing vessel that is Lake Powell has lost 4.4 trillion gallons of water in the recent drought; the deeper vessel of Lake Mead at 39 percent capacity has lost 5.6 trillion gallons of water.

Aerial view looking down on Lake Powell and the Glen Canyon dam.

This aerial view of Lake Powell and Glen Canyon Dam was taken in 2009.
PHOTOGRAPH BY PETER MCBRIDE, NATIONAL GEOGRAPHIC CREATIVE

Big Impact

As central California (beyond the reach of Colorado River water) has already been hamstrung by an even more exceptional drought, many farms and dairy operations have shut down, rationing has begun, homeowners are being fined for watering their lawns, and the state has begun relying on finite groundwater supplies. And as extensive farm networks are served by the Colorado River, it is likely that nationwide produce prices will soon begin to rise.

What’s next? As Lakes Powell and Mead continue to plummet, officials are now predicting rationing by 2017 for the junior Colorado River water-rights holders of Nevada and Arizona.

In the decades that follow, invasive flora and fauna will colonize dried-out reservoir bottoms. River running and reservoir boating may end. Those will seem like minor issues compared with the survival of cities like Los Angeles, Denver, Phoenix, and Las Vegas, all of which depend on the Colorado River. There is talk of diverting more water to the Colorado Basin users from places such as the Missouri River. A massive desalination plant is being built on the California coast. But such solutions won’t come cheap.

Officials are now predicting rationing by 2017 for the junior Colorado River water-rights holders of Nevada and Arizona.

We can hope for agricultural reform, such as irrigation changes, more aggressive crop rotation and fallowing, reverting to less water-intensive produce, or dismantling of the water-intensive southwestern dairy industry. And the exponential population growth of the region—as Powell warned at the end of the 19th century—will have to be addressed. (See “Arizona Irrigators Share Water With Desert River.”)

By mid-September, we reached the speedboat-accessible region of Lake Powell. Motorboaters often stopped to ask if we needed help. Many of these boaters offered us iced beer or bottled water imported from distant regions of the country.

Each day, for 14 days, except during two violent but brief rainstorms, the temperature climbed into the 90s. Often dizzy, and even exhausted from the heat, we parceled out our water, cup by cup, consuming over four gallons daily. And every other day, we walked or paddled miles out of our way so that we could enact a time-honored practice of desert cultures like the Anasazi’s, which vanished in the 13th-century megadrought.

Every other day, we uncapped our empty bottles while honoring this ritual of aridity: Bowing under shaded cliffs at moss-covered seeps, we pressed our lips onto cold sandstone walls and drank those precious drops until our bellies were full.

Jonathan Waterman is a writer and photographer based in Colorado. In 2010 National Geographic published his book Running Dry: A Journey From Source to Sea Down the Colorado River. He is also the co-author, with Pete McBride, of The Colorado River: Flowing Through Conflict.See his previous work “The American Nile.”

Get involved with the effort to restore the Colorado River throughChange the Course, a partnership of National Geographic and other organizations.

O Brasil secou (Super Interessante)

A falta d’água se alastrou pelo país, sintoma das mudanças climáticas e do desmatamento na Amazônia, cada vez mais debilitada. Nos aproximamos de um futuro desértico — e a culpa é toda nossa

por Camila Almeida

Novembro 2014

Em 2014, não choveu. Pelo menos não quanto deveria. Os índices de chuvas apresentam déficit, os reservatórios minguaram a percentuais críticos, a nascente do Rio São Francisco secou pela primeira vez na história. Esses eventos extremos estavam previstos pelos estudiosos das mudanças climáticas, causadas quase exclusivamente pela atividade humana, especialmente pela queima de combustíveis fósseis. Mas outro fator está agravando esse quadro: o desmatamento. A Amazônia é a responsável por manter úmido todo o continente, e sua depredação influencia diretamente no clima.

A floresta funciona como uma fábrica de chuvas. Por cima das nossas cabeças, há imensos rios seguindo seu curso, levando nuvens carregadas por onde passam. São os rios voadores, que começaram a ser estudados em 2006, numa parceria entre o aviador francês Gérard Moss e o engenheiro agrônomo Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Sobrevoando a Amazônia, eles descobriram todo o seu potencial de bombeamento de água e traçaram o curso que os rios voadores seguem pelo País. Esta capacidade da floresta de exportar umidade é um dos cinco segredos da floresta, poeticamente explicados no relatório O Futuro Climático da Amazônia, publicado recentemente por Nobre.

Nossa água vem da Amazônia
Entenda o processo de transpiração da floresta e a formação das nuvens sobre ela. Ao lado, conheça o percurso dos rios voadores e como eles levam chuvas por todo o continente.

O fluxo dos rios voadores é mais intenso no verão, estação em que chove na maior parte do País. Isso acontece graças à inclinação da Terra nesta época do ano, que favorece a entrada dos ventos marítimos na América do Sul. Mas há mais uma vantagem geográfica que garante esse circuito: a Cordilheira dos Andes, localizada a oeste da floresta. O imenso paredão faz com que os ventos não passem direto e deixem o resto do Brasil sem umidade. De acordo
com o físico Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), é no
começo do ano que os rios voadores reabastecem as fontes de água e reservatórios brasileiros. Ao se chocarem contra a Serra da Mantiqueira e da Canastra, no Sudeste, enchem a nascente de vários rios importantes, como o São Francisco. “Esta região é a caixa d’água do Brasil”, avalia Fearnside. “Se não chover na época em que tem que chover, os reservatórios
não serão recarregados ao longo do ano”, completa. Esse tem sido o drama em 2014.

Desmatamento que vai, volta 

Poder contar com a maior floresta tropical do mundo, inclusive em relação aos recursos hídricos, é um privilégio. Pouquíssimo valorizado. Nos últimos 40 anos, derrubamos 42 bilhões de árvores. Além disso, devido às queimadas, existe mais de 1 milhão de km² de floresta morta, degradada. O que não se imaginava é que uma revanche em forma de seca chegaria tão rápido. “Hoje, estamos vivendo a reciprocidade da inconsequência”, atesta Nobre. Há mais de 20 anos, estudos alertavam para esse perigo. Em 1991, o climatologista Carlos Nobre, irmão de Antonio e também do INPE, comandou uma simulação para avaliar os impactos no clima da mudança do uso da terra. Constataram que, se a floresta fosse substituída por plantações ou pastagens, a temperatura média da superfície aumentaria cerca de 2,5 ºC, a evapotranspiração das plantas diminuiria 30% e as chuvas cairiam 20%. Também se previa uma ampliação das estações secas na área amazônica. Hoje, com quase metade da floresta original danificada, tais efeitos parecem ter vindo à tona.
“O desmatamento zero é para ontem. Chegamos a níveis climáticos críticos. Precisamos começar a replantar o que já perdemos”, aponta Antonio Nobre. Apesar da urgência, as perspectivas não são animadoras. Só na região amazônica, há mais de 40 projetos do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal só no quesito geração de energia. São usinas, barragens e outras medidas que causam inundações e corte de árvores e que afetam diretamente populações indígenas. Os projetos de estradas também são preocupantes. A recuperação da Rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319), abandonada desde a década de 1980 por falta de manuntenção, também consta no PAC. De acordo com Philip Fearnside, o projeto é um risco para a Amazônia. “Uma estrada valoriza demais a terra, e especulação gera desmatamento e favorece a grilagem”, explica. O mesmo acontece com a Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), com mais de 1.700 km de extensão.

“A estrada vai ser recuperada para facilitar o transporte da soja produzida no Mato Grosso”, aponta Fearnside, sobre uma das áreas amazônicas que mais sofrem com o agronegócio. “A terra valoriza tanto que pecuaristas estão vendendo suas terras para produtores de soja do Sul. Por sua vez, isso tem aumentado muito o desmatamento no Pará, com a liberação de terrenos para a criação de gado desses pecuaristas”, critica o especialista. Ele também destaca o fortalecimento da bancada ruralista no Congresso, após as eleições deste ano.

Desmatamento e degradação:

Clima em crise

Neste verão, os rios voadores não avançaram sobre o Sudeste; tampouco as frentes frias. A ilha de calor instalada sobre a região, característica de uma urbanização extrema, cria bloqueios que afastam as chuvas. Por isso, a água esborrou na borda dessa bolha quente, gerando chuvas acima da média no Sul e países vizinhos. Hoje, há registros de seca em todos os Estados brasileiros. Em alguns deles, a seca é “excepcional”, ainda mais grave do que a “extrema”. O quadro já era grave no ano passado, quando o Nordeste viveu a pior seca dos últimos 50 anos, inserindo o Brasil no mapa de eventos climáticos extremos, da Organização Mundial de Meteorologia.

De acordo com o físico especialista em ciências atmosféricas Alexandre Araújo Costa, da Universidade Estadual do Ceará, o agravamento de secas e das cheias está relacionado ao aumento da temperatura na atmosfera. Aquecida, ela se expande, fazendo com que seja necessário reunir mais vapor d’água para formar nuvens. “Esse processo demanda mais tempo, portanto tende a prolongar os períodos de estiagem. Por outro lado, as nuvens se formam a partir de uma quantidade maior de vapor d’água, fazendo com que os eventos de precipitações se tornem mais intensos. Um planeta mais quente é um planeta de extremos”, explica.

Para a filósofa e ecologista Déborah Danowski, que lançou recentemente o livro Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins, com seu marido e antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, entramos num caminho sem volta. “A crise climática não pode mais ser evitada. Se cortássemos agora as emissões de CO₂, a Terra ainda iria se aquecer aproximadamente 1 ºC. Isso porque já jogamos no ar uma quantidade tão grande, que muito dele ainda nem foi absorvido”, aponta. O que não quer dizer que não haja muito o que fazer. Para ela, o primeiro passo é repensar os modelos econômicos de crescimento e consumo. “O que nos cabe é tentar mitigar as causas que levam ao aprofundamento das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, nos adaptar à vida em um mundo mais difícil ecologicamente.”

Estamos todos ilhados
Seja pelo excesso de calor ou pelas enchentes. Mais filosoficamente: não temos saída para o clima. Os eventos extremos parecem estar se tornando uma realidade no Brasil.

Acordo entre governadores autoriza transposição do Rio Paraíba do Sul (Diário do Vale)

Publicado em 27/11/2014, às 15h50
Última atualização em 27/11/2014, às 15h50
Divulgação Governo do Estado
Governadores concordaram que só serão feitas obras com a permissão dos três estados
Acordo: : Governadores concordaram que só serão feitas obras com a permissão dos três estados

Brasília

Os governadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e de Minas Gerias, Alberto Pinto Coelho (interino) firmaram, durante reunião em Brasília realizada na manhã de ontem, um acordo para realizar a transposição do Rio Paraíba do Sul. As licitações para as obras estão liberadas e podem começar a qualquer momento. O encontro foi convocado pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que atuou como mediador.

Para chegar a esse acordo, os três governadores concordaram que só serão permitidas obras das quais os três Estados concordem. Além disso, eles se comprometeram em respeitar, nas obras, estudos de impactos ambiental e  realizar ações de compensação ao meio ambiente, como a recuperação de matas ciliares, por exemplo.

O advogado geral da União, Luís Inácio Adams, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, também participaram da reunião. Todos se comprometeram em entregar a Fux, no dia 28 de fevereiro, um documento com os termos do acordo. Com isso, todas as ações judiciais que tratam do tema serão extintas. O ministro elogiou o acordo firmado entre as partes e disse que todos cederam.

– Os estados manifestaram interesse mútuo em se ajudar. Uma ação jurídica jamais chegaria à solução que conseguimos hoje. Com isso, será feito um acordo técnico, que já está bastante adiantado, buscando uma solução conjunta para a questão. Com o cumprimento das normas estabelecidas no acordo, serão extintas as ações no Ministério Público sobre o tema – disse Fux.

Sem problemas

Após a reunião, os três governadores deram entrevistas dizendo que todos os Estados vão ganhar com o acordo. Por sua vez, Pezão e Coelho, fizeram questão de tranquilizar a população dos seus Estados afirmando que ficará garantido o volume de água para uso futuro de seus moradores. O governador do Rio de Janeiro ainda ressaltou que o acordo será focado na preservação ambiental.

– Falta pouco para fecharmos esse acordo. Está previsto um grande programa de reflorestamento, de tratamento do esgoto da Baixada Fluminense e de municípios como Resende e Barra Mansa. As equipes técnicas que cuidarão disso já estão fechadas, sob o comando do Ministério do Meio Ambiente. É muito importante a solidariedade dos três entes federativos. A população dos três estados vai ganhar com isso – explicou Pezão.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, exaltou a parceria entre os estados.

– Vamos nos debruçar sobre isso. Estamos confiantes em poder garantir a vazão no Rio de Janeiro e fazer a interligação em São Paulo. A participação de Minas Gerais também será importantíssima – disse Alckmin.

Entenda o caso

No início da crise hídrica deste ano, o governo de São Paulo anunciou que faria uma obra para transpor água do Rio Jaguari, de São Paulo, para as represas do sistema Cantareira, que opera com 9,1% de sua capacidade. Os Estados do Rio e de Minas reclamaram da decisão porque a água do Jaguari está em São Paulo, mas abastece o Rio Paraíba do Sul, usado por parte de São Paulo e pelos outros dois Estados. O governo de São Paulo alegava que tinha direito a fazer a obra pelo rio estar em seu Estado.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entrou então com uma ação no STF para barrar a decisão de São Paulo. O ministro responsável pela ação, Luiz Fux, convocou uma audiência de conciliação nesta quinta-feira com a presença dos governadores dos três Estados, Geraldo Alckmin (SP), Luiz Fernando Pezão (RJ) e Alberto Pinto Coelho (MG), além de representantes do governo federal.

Leia mais:  http://www.diariodovale.com.br/noticias/2,97610,Acordo-entre-governadores-autoriza-transposicao-do-Rio-Paraiba-do-Sul.html#ixzz3KOgUQ000

Crise da água: “A situação é alarmante, estamos em perigo. Vai virar calamidade” (SpressoSP)

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Funcionário da Sabesp e diretor do Sintaema alerta para a contínua queda dos reservatórios e recomenda, ao governo de São Paulo e Sabesp, medida imediata para tentar evitar o colapso. “Declarar um racionamento que falte água para pobre e rico, ao invés de fazer um rodízio nas periferias”

Por Igor Carvalho

Nesta segunda-feira (24), o Sistema Cantareira amanheceu com 9,4% de sua capacidade. Já são dez dias de quedas sucessivas, que colocam o abastecimento de São Paulo em risco. Anderson Guahy, técnico em gestão da Sabesp e diretor de formação do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema), demonstrou preocupação sobre a crise hídrica paulista e alerta a população.

“A situação é alarmante, estamos em perigo. Vai virar calamidade, se não forem tomadas medidas imediatas pelo alto comando da Sabesp e pelo governo de São Paulo”, alerta o técnico.

Guahy explicou que os constantes cortes no fornecimento de água nas regiões periféricas é de conhecimento da Sabesp e poderia ser evitado. “A Sabesp tem que declarar um racionamento que falte água para pobre e rico, ao invés de fazer um rodízio nas periferias”

Uma previsão para o fim dos recursos hídricos no Cantareira ainda é “precipitado”, explica o técnico da Sabesp. “O nível de utilização vem caindo muito, mas não é o único fator, se fizer muito calor, por exemplo, a água pode evaporar mais rápido.”

“O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água” (Jornal Opção)

Edição 2048 (5 a 11 de outubro de 2014)

Uma das maiores autoridades sobre o tema, professor da PUC Goiás diz que destruição do bioma é irreversível e que isso compromete o abastecimento potável em todo o País

Fernando Leite/Jornal Opção

Elder Dias

Uma ilha ambiental em meio à metrópole está no Campus 2 da Pon­tifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É lá o local onde Altair Sales Barbosa idealizou e realizou uma obra que se tornou ponto turístico da capital: o Memorial do Cerrado, eleito em 2008 o local mais bonito de Goiânia e um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo professor.

Foi lá que Altair, um dos mais profundos conhecedores do bioma Cerrado, recebeu a equipe do Jornal Opção. Como professor e pesquisador, tem graduação em Antropologia pela Universidade Católica do Chile e doutorado em Arqueologia Pré-Histórica pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA). Mais do que isso, tem vivência do conhecimento que conduz.

É justamente pela força da ciência que ele dá a notícia que não queria: na prática o Cerrado já está extinto como bioma. E, como reza o dito popular, notícia ruim não vem sozinha, antes de recuperar o fôlego para absorver o impacto de habitar um ecossistema que já não existe, outra afirmação produz perplexidade: a devastação do Cer­rado vai produzir também o desaparecimento dos reservatórios de água, localizados no Cerrado, o que já vem ocorrendo — a crise de a­bastecimento em São Paulo foi só o início do problema. Os sinais dos tempos indicam já o começo do período sombrio: “Enquanto se es­tá na fartura, você é capaz de re­partir um copo d’água com o ir­mão; mas, no dia da penúria, ninguém repartirá”, sentencia o professor.

“Memorial do Cerrado” – o nome deste espaço de preservação criado pelo sr. aqui no Campus 2 da PUC Goiás, é uma expressão pomposa. Mas, tendo em vista o que vivemos hoje, é algo quase que tristemente profético. O Cerrado está mesmo em vias de extinção?
Para entender isso é preciso primeiramente entender o que é o Cerrado. Dos ambientes recentes do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. A história recente da Terra começou há 70 milhões de anos, quando a vida foi extinta em mais de 99%. A partir de então, o planeta começou a se refazer novamente. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgem na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Por­tanto, vivemos aqui no local onde houve as formas de ambiente mais antigas da história recente do planeta, principalmente se levarmos em consideração as formações vegetais. No mínimo, o Cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos.

O Cerrado é um tipo de am­biente em que vários elementos vi­vem intimamente interligados uns aos outros. A vegetação depende do solo, que é oligotrófico [com nível muito baixo de nutrientes]; o solo depende de um tipo de clima especial, que é o tropical subúmido com duas estações, uma seca e outra chuvosa. Vários outros fatores, incluindo o fogo, influenciaram na formação do bioma – o fogo é um elemento extremamente importante porque é ele que quebra a dormência da maioria das plantas com sementes que existem no Cerrado.

Assim, é um ambiente que de­pen­de de vários elementos. Isso significa que já chegou em seu clímax evolutivo. Ou seja, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. Por isso é que falamos que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.

Por que o sr. é tão taxativo?
Uma comunidade vegetal é medida não por um determinado tipo de planta ou outro, mas, sim, por comunidades e populações de plantas. E já não se encontram mais populações de plantas nativas do Cerrado. Podemos encontrar uma ou outra espécie isolada, mas encontrar essas populações é algo praticamente impossível.

Outra questão: o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação intensiva. Retiraram a gramínea nativa para a implantação de espécies exóticas, vindas da África e da Austrália. A introdução dessas gramíneas, para o pastoreio, modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas não conseguirá brotar mais.

Como se não bastasse tudo isso, o Cerrado foi incluído na política de ex­pansão econômica brasileira co­mo fronteira de expansão. É uma á­rea fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo. É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos. Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.

Onde há pastagens e cultivo, então, o Cerrado está inviabilizado para sempre, é isso?
Onde houve modificação do solo a vegetação do Cerrado não brota mais. O solo do Cerrado é oligotrófico, carente de nutrientes básicos. Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, melhorando sua qualidade, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo.

Mas o mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano. É daqui que saem as nascentes da maioria dessas bacias. Esses rios todos nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. Ao local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Isso evidencia um sistema radicular [de raízes] extremamente complexo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos.

Quando se retira a vegetação na­tiva dos chapadões, trocando-a por outro tipo, alterou-se o ambiente. Ocorre que essa vegetação introduzida – por exemplo, a soja ou o al­go­dão ou qualquer outro tipo de cul­tura para a produção de grãos – tem uma raiz extremamente superficial. Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano.

As plantas  do cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os Buritis que vemos hoje estavam nascendo. eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros. também por isso, o dano ao bioma é irreversível

Qual é a consequência imediata desse quadro?
Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo.

Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer.

Por isso, falamos que o Cerrado é um ambiente em extinção: não existem mais comunidades vegetais de formas intactas; não existem mais comunidades de animais – grande parte da fauna já foi extinta ou está em processo de extinção; os insetos e animais polinizadores já foram, na maioria, extintos também; por consequência, as plantas não dão mais frutos por não serem polinizadas, o que as leva à extinção também. Por fim, a água, fator primordial para o equilíbrio de todo esse ecossistema, está em menor quantidade a cada ano.

Como é a situação desses aquíferos atualmente?
Há três grandes aquíferos na região do Cerrado: o Bambuí, que se formou de 1 bilhão de anos a 800 milhões de anos antes do momento presente; os outros dois são divisões do Aquífero Guarani, que está associado ao Arenito Botucatu e ao Arenito Bauru que começou a se formar há 70 milhões de anos. O Guarani alimenta toda a Bacia do Rio Paraná: a maior parte dos rios de São Paulo, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul – incluindo o Pantanal Mato-Grossense – e grande parte dos rios de Goiás que correm para o Paranaíba, como o Meia Ponte. Toda essa bacia depende do Aquífero Guarani, que já chegou em seu nível de base e está alimentando insuficientemente os rios que dependem dele. Por isso, os rios da Bacia do Paraná diminuem sua vazão a cada ano que passa.

Então, podemos ter nisso a explicação para a crise da água em São Paulo?
Exato. Como medida de urgência, já estão perfurando o Arenito Bauru – que é mais profundo que o Botucatu, já insuficiente –, tentando retirar pequenas reservas de água para alimentar o sistema Cantareira [o mais afetado pela escassez e que abastece a capital paulista]. Mesmo se chover em grande quantidade, isso não será suficiente para que os rios juntem água suficiente para esse reservatório.

Assim como ocorre no Can­tareira, outros reservatórios espalhados pela região do Cerrado – Sobradinho, Serra da Mesa e outros – vão passar pelo mesmo problema. Isso porque o processo de sedimentação no fundo do lago de um reservatório é um processo lento. Os sedimentos vão formando argila, que é uma rocha impermeável. Então, a água daquele lago não vai alimentar os aquíferos. Mesmo tendo muita quantidade de água superficial, ela não consegue penetrar no solo para alimentar os aquíferos. Se não for usada no consumo, ela vai simplesmente evaporar e vai cair em outro lugar, levada pelas correntes aéreas. Isso é outro motivo pelo qual os aquíferos não conseguem recuperar seu nível, porque não recebem água.

Geologicamente sendo o mais antigo, seria natural que o Cerrado fosse o primeiro bioma a desaparecer. Mas isso em escala geológica, de milhões de anos. Mas, pelo que o sr. diz, a antropização [ação humana no ambiente] multiplicou em muitíssimas vezes esse processo de extinção.

Sim. Até meados dos anos 1950, tínhamos o Cerrado praticamente intacto no Centro-Oeste brasileiro. Desde então, com a implantação de infraestrutura viária básica, com a construção de grandes cidades, como Brasília, criou-se um conjunto que modificou radicalmente o ambiente. A partir de 1970, quando as grandes multinacionais da agroindústria se apossaram dos ambientes do Cerrado para grandes monoculturas, aí começa o processo de finalização desse bioma. Ou seja, o homem sendo responsável pelo fim desse ambiente que é precioso para a história do planeta Terra.

Em que o Cerrado é tão precioso?
De todas as formas de vegetação que existem, o Cerrado é a que mais limpa a atmosfera. Isso ocorre porque ele se alimenta basicamente do gás carbônico que está no ar, porque seu solo é oligotrófico.

Diz-se que o Cerrado é o contrário da Amazônia: uma floresta invertida, em confirmação à definição que o sr. deu sobre o fato de dois terços de cada planta do Cerrado estarem debaixo da terra. Ou seja, a destruição do Cerrado é muito mais séria do que alcança a nossa visão com o avanço da fronteira agrícola. É uma devastação muito maior, porque também ocorre longe dos olhos, subterrânea.

Isso faz sentido, porque, na parte subterrânea, além do sequestro de carbono está armazenada a água, sem a qual não prospera nenhuma atividade econômica. A Amazônia terminou de ser formada há apenas 3 mil anos, um processo que começou há 11 mil anos, com o fim da glaciação no Hemisfério Norte. A configuração que tem hoje existe na plenitude só há 3 mil anos. A Mata Atlântica tem 7 mil anos. São ambientes que, se degradados, é possível recuperá-los, porque são novos, estão em formação ainda.

Já com o Cerrado isso é impossível, porque suas árvores já atingiram alto grau de especialização. Tanto que o processo de quebra da dormência de determinadas sementes são extremamente sofisticados. Uma semente de araticum, por exemplo, só pode ter sua dormência quebrada no intestino delgado de um canídeo nativo do Cerrado – um lobo guará, uma raposa. Como esses animais estão em extinção, fica cada vez mais difícil quebrar a dormência de um araticum, que é uma anonácea [família de plantas que inclui também a graviola e a ata (fruta-do-conde), entre outras].

As abelhas europeias e africanas são recentes, foram introduzidas no século passado. O professor Warwick Kerr, que introduziu a abelha africana no Brasil, na década de 1950, ainda é vivo e atua na Universidade Federal de Uber­lândia (UFU). São boas produtoras de mel, mas não estão adaptadas para fazer a polinização das plantas do Cerrado. As abelhas nativas do Cerrado, que não tem ferrão e são chamadas de meliponinas – jataí, mandaçaia, uruçu – eram os maiores agentes polinizadores naturais, juntamente com os insetos, em função de sua anatomia. Hoje estão praticamente extintas, como esses insetos, pelo uso de herbicidas e outros tipos de veneno, que combatiam pragas de vegetações exóticas em lavouras e pastagens. Quando se utiliza o pesticida para extinguir essas pragas também se mata o inseto nativo, que é polinizador das plantas do Cerrado. Por isso, se encontram muitas plantas nativas sem fruto, por não terem sido polinizadas.

A flora do Cerrado é geralmente desprezada. O que ela representa, de fato?
Nós vivemos em meio à mais diversificada flora do planeta. O Cerrado contém a maior biodiversidade florística. Isso não está na Amazônia, nem na Mata Atlântica, nem em uma savana africana ou em uma savana australiana. Nem qualquer outro ambiente da Terra. São 12.365 plantas catalogadas no Cerrado. Só as que conhecemos. A cada expedição que fazemos, cada vez que vamos a campo, pelo menos 50 novas espécies são descobertas. Dessas 12.365 plantas conhecidas, somos capazes de multiplicar em viveiro apenas 180. Isso é cerca de 1,5% do total, quase nada em relação a esse universo. E só conseguimos fazer mudas de plantas arbóreas.

Para as demais, que são extremamente importantes para o equilíbrio ecológico, para o sequestro de carbono e para a captação de água, não temos tecnologia para fazer mudas. Por exemplo, o capim-barba-de-bode, a canela-de-ema, a arnica, o tucum-rasteiro, esses dois últimos com raízes extremamente complexas. Se tirarmos um tucum-rasteiro, que está no máximo 40 centímetros acima do nível do solo, e olharmos seu tronco, vamos encontrar milhares ou até milhões de raízes grudados naquele tronco. Se tirarmos um pedaço pequeno dessas raízes e levarmos ao microscópio, veremos centenas de radículas que saem delas. Uma pequena plantinha com um sistema radicular extremamente complexo, que retém a água e alimenta os diversos ambientes do Cerrado. É algo que não se consegue reproduzir em viveiro, porque não há tecnologia. O que conseguimos é em relação a algumas plantas arbóreas.

Outro aspecto que indica que o Cerrado já entrou em vias de extinção é que as plantas do Cerrado são de crescimento muito lento. Uma canela-de-ema atinge a idade adulta com mil anos de idade. O capim-barba-de-bode fica adulto com 600 anos. Um buriti atinge 30 metros de altura com 500 anos. Nossas veredas – que existiam em abundância até pouco tempo – eram compostas de plantas “nenês” quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, estavam nascendo naquela época e sua planta mais comum, o buriti, está hoje com 25 metros, 30 metros.

“Tragédia urbana começa com drama no campo”

Mas a tecnologia e a biotecnologia não fornecem nenhuma alternativa para mudar esse quadro?
Para se ter ideia da complexidade, vamos tomar o caso do buriti, que só pode ser plantado em uma lama turfosa, cheia de turfa, com muita umidade. Se o solo estiver seco, o buriti não vai vingar ali. Mas, mesmo se conseguíssemos plantar – o que é difícil, porque não existe mais o solo apropriado –, aquele buriti só atingiria a idade adulta e dar frutos depois de muitos séculos. Então, não tem como tentar dizer que se pode usar técnicas para revitalizar o Cerrado. Isso é praticamente impossível.

A interface do Cerrado, para falar em uma linguagem moderna, não é amigável para o uso da tecnologia conhecida. Não tem como acelerar o crescimento de um buriti como se faz com a soja.
Não dá para fazer isso, até porque as plantas do Cerrado convivem com uma porção de outros elementos que, para outras plantas, seriam nocivos. Por exemplo, certos fungos convivem em simbiose com espécies do Cerrado. Um simples fungo pode impedir a biotecnologia. Seria possível desenvolver, por meio de tecidos, tal planta em laboratório. Mas sem aquele fungo a planta não sobrevive. E com o fungo, mas em laboratório, ela também não se desenvolve. Ou seja, é algo extremamente complicado, mais do que podemos imaginar.

Mesmo que os mais pragmáticos menosprezem a importância de um determinado animal ou uma “plantinha” em relação a uma obra portentosa, como uma hidrelétrica, há algo que está sob ameaça com o fim do Cerrado, como a água. Isso é algo básico para todos. A contradição é que o Cerrado – assim como a caatinga e os pampas – não são ainda patrimônio nacional, ao contrário da Mata Atlântica, o Pantanal e a Amazônia. Há uma lei, a PEC 115/95 [proposta de emenda constitucional], de autoria do então deputado Pedro Wilson (PT-GO), que pede essa isonomia há quase 20 anos. Essa lei ajudaria alguma coisa?
Na prática, não poderia ajudar mais em nada, porque o que tinha de ser ocupado do Cerrado já foi. O bioma já chegou em seu limiar máximo de ocupação. Mas o governo brasileiro é tão maquiavélico e inteligente que, para evitar maiores discussões, no ano passado redesenhou todo o mapa ambiental brasileiro. Dessa forma, separou o Pantanal do Cerrado – embora o primeiro seja um subsistema do segundo –, transformou-o em patrimônio nacional e a área do Cerrado já ocupada foi ignorada e incluída no plano de desenvolvimento como área de expansão da fronteira agrícola. Ou seja, o Cerrado, em sua totalidade, já foi contemplado para não ser protegido.

O que os parques nacionais poderiam agregar em uma política de subsistência do Cerrado?
Existe um manejo inadequado dos parques existentes na região do Cerrado. Esse manejo começa com o fogo, quando se cria uma brigada para evitar incêndios no Parque Nacional das Emas, por exemplo. O fogo natural é importante para a preservação do Cerrado. Ora, se se trabalha com o intuito de preservar o Cerrado é preciso conviver com o fogo; agora, se se trabalha com a visão do agrônomo, o fogo é prejudicial, porque acentua o oligotrofismo do solo. O Cerrado precisa desse solo oligotrófico, mas, se o fogo é eliminado, as condições do solo serão alteradas e a planta nativa vai deixar de existir, porque o solo vai adquirir uma melhoria e aquela planta precisa de um solo pobre. Assim, quando se barra o uso do fogo em um parque de Cerrado, o trabalho se dá não com a noção de preservação do ambiente, mas dentro da visão da agricultura. Raciocina-se como agrônomo, não como biólogo.

Outra questão nos parques é que o entorno dos parques já foi tomado por vegetações exóticas. Entre essas vegetações existe o brachiaria, que é uma gramínea extremamente invasora que, à medida que espalha suas sementes, alcança até as áreas dos parques, tomando o lugar das gramíneas nativas. No Parque Nacional das Emas já temos gramínea que não é nativa, o que faz com que haja também vegetação arbórea, de porte maior, também não nativa. Os animais, em função do isolamento do parque, não têm mais contato com áreas naturais, como os barreiros, que forneceriam a eles cálcio e sais naturais. Quando encontramos um osso de animal morto em um parque vemos que está sem calcificação completa, porque falta esse elemento, que é obtido lambendo cinzas queimadas ou visitando os barreiros, que são salinas naturais em que existe esse o elemento. Geralmente há poucos barreiros nos parques, o que torna mais difícil a sobrevivência do animal, que acaba entrando em vias de extinção, o que está acontecendo.

Não há, em nenhum parque nacional criado, aumento da vegetação nativa ou da fauna nativa. O que há é a diminuição dos caracteres nativos daquela vegetação, bem como da fauna. Isso prova que esse isolamento não trouxe benefícios. O que poderia funcionar seria se essas áreas de preservação estivessem interligadas por meio de corredores de migração faunística. Isso evitaria uma série de erros cometidos quando se delimita uma área.

Mas, pelo que o sr. diz, hoje isso seria impossível.
Praticamente impossível, por­que as matas ciliares, que de­ve­riam servir como corredores ecológicos, de migração, foram totalmente degradadas. A maioria dos rios foi ocupada, em suas margens, por ambientes urbanos, com a presença do homem, que é um elemento extremamente predatório. Mais que isso: os sistemas agrícolas implantados chegam, em alguns locais, até a margem de córregos e rios, impedindo, também, a existência desses corredores de migração.

Fica, assim, um cenário praticamente inviável. É triste falar isso , mas, na realidade, falamos baseados em dados científicos, no que observamos. Sou o amante número um do Cerrado. Gostaria que ele existisse durante milhões e milhões de anos ainda, mas infelizmente não é isso que vemos acontecer. Se, por exemplo, você observar as nascentes dos grandes rios, verá que elas ou estão secando ou estão migrando cada vez mais para áreas mais baixas. Quando isso ocorre, é sinal de que o lençol que abastece essa nascente está rebaixando.

Observe, por exemplo, o caso das nascentes do Rio São Francis­co, na Serra da Canastra; o caso das nascentes do Rio Araguaia ou do Rio Tocantins, que tem o Rio Uru em sua cabeceira mais alta. A cada dia que passa as nascentes vão descendo mais. Vai ocorrer o dia em que chegarão ao nível de base do lençol que as abastece e desaparecerão.

Ao mesmo tempo em que o­cor­re esse fenômeno, temos um au­mento rápido do consumo de água.
Há o aumento da população. Mas, além do mais, o Cerrado entrou, nos últimos anos, por um processo extremamente complicado, que chamamos de desterritorialização. O grande capital chegou às áreas do Cerrado e expulsou os posseiros que lá moravam, por meio da falsificação de documentos, da negociata com cartórios e com políticos. Com a grilagem, adquiriu milhares de hectares e tirou os moradores antigos da região. Isso desestruturou comunidades inteiras.

Isso ainda ocorre em Goiás e em diversos lugares?
Ocorreu e está ocorrendo. E o que isso provoca? O aumento das cidades. Quase não há mais cidadezinhas na região do Cerrado, elas são de médio ou grande porte, porque a população do campo, desamparada e sem terra, veio para a zona urbana. Essas pessoas vêm buscar abrigo na cidade, que oferece a eles algum tipo de serviço. Na cidade, se transformam em outro tipo de categoria social: os sem-teto. Estes vivem aqui e ali, ocupando as áreas mais periféricas da cidade. Vão ocupar planícies de inundação, beiras de córregos, entre outros ambientes desorganizados.

Um homem que vive em um ambiente assim, que nasce, é criado e compartilha dessa desorganização, terá uma mente que tende a ser desorganizada. Ou seja, ao fazer a desterritorialização trabalhamos contra a formação de pessoas sadias. Formamos pessoas transtornadas, mutiladas mentalmente, ocupando as periferias. Não existe plano diretor que dê conta de acompanhar o desenvolvimento das áreas urbanas no Brasil, porque a cada dia chegam novas famílias nessas áreas.

Crescendo em um ambiente desorganizado, sem perspectivas para o futuro, essas pessoas acabam caindo em neuroses para a fuga. A neurose mais comum desse tipo é o uso de drogas. Acabam cometendo o que chamamos de atos ilícitos, mas provocados por uma situação socioeconômica de limitação, vivendo em ambientes precários. Essas pessoas constroem sua vida nesses locais, formam famílias e passam anos ou décadas nesses locais. Só que um dia vem um fenômeno natural qualquer – como El Niño ou La Niña – que, por exemplo, acomete aquele local com uma quantidade muito maior de chuva. Então, o córrego enche e encontra, em sua área de inundação, os barracos daquela população. Aí começa a tragédia urbana, com desabrigados e mortos. Aumenta, ainda mais, o processo de sofrimento no qual estão inseridas essas populações.

Hoje vejo muitos profissionais, principalmente arquitetos, falando em mobilidade urbana. Falam em construir monotrilhos, linhas específicas para ônibus, corredores para bicicletas, mas ninguém toca na ferida: o problema não está ali, mas na desestruturação do homem do campo. Quanto mais se desestrutura o campo, mais pessoas vêm para a cidade, que não consegue absorvê-las, por mais que se implantem linhas novas, estações e bicicletários. O problema está no drama do campo, não na cidade.

Antigamente, se usava a expressão “fixação do homem no campo”. Isso parece que ficou para trás na visão dos governos.
Desistiram porque o que manda é o grande capital. Os bancos estatais se alegram com as safras recordes, fazem propaganda disso. Eles patrocinam os grandes proprietários, só que estes não têm grande quantidade de funcionários, têm uma agricultura intensiva, mecanizada. Isso não ajuda de forma alguma a manter as pessoas na zona rural.

Uma notícia grave é a extinção do Cerrado. Outra, tão ou mais grave, que – pelo que o sr. diz – já pode ser dada, é que em pouco tempo não teremos mais água. A crise da água no Brasil é uma bomba-relógio?
A extinção do Cerrado envolve também a extinção dos grandes mananciais de água do Brasil, porque as grandes bacias hidrográficas “brotam” do Cerrado. O Rio São Francisco é uma consequência do Cerrado: ele nasce em área de Cerrado e é alimentado, em sua margem esquerda, por afluentes do Cerrado: Rio Preto, que nasce em Formosa (GO); Rio Paracatu (MG); Rio Carinhanha, no Oeste da Bahia; Rio Formoso, que nasce no Jalapão (TO) e corre para o São Francisco. Se há a degradação do Cerrado, não há rios para alimentar o São Francisco. Você po­de contar no mínimo dez afluentes por ano desses grandes rios que estão desaparecendo.

Professor Altair Sales fala ao jornalista Elder Dias: "A proteção das águas tinha de ser questão de segurança nacional”

Como o sr. analisa a transposição do Rio São Francisco?
É um ato muito mais político do que científico. Ela atende muito mais a interesses políticos de grandes proprietários do Nordeste na área da Caatinga, no sertão nordestino. A transposição está sendo feita em dois canais, um norte, com 750 quilômetros e outro, leste, com pouco mais de 600 quilômetros. A água é sugada da barragem de Sobradinho (BA), através de uma bomba, para abastecer esses canais, com 10 metros de profundidade e largura de 25 metros. Ao fazer essa obra, se altera toda a mecânica do São Francisco: o rio, que corria lento, passa a correr mais rapidamente, porque está tendo sua água sugada. Seus afluentes, então, também passam a seguir mais velozes. Isso acelera o processo de assoreamento e de erosão.

Consequente­mente, aceleram a morte dos afluentes. Fazer a transposição do São Francisco simplesmente é estabelecer uma data para a morte do rio, para seu desaparecimento total. Podem até atender interesses econômicos e sociais de maneira efêmera, em curto prazo, mas em dez anos acabou tudo.

E será um processo rápido, assim?
Sim, é um processo de décadas. Basta ver o Rio Meia Ponte, na altura do Setor Jaó. Onde havia uma bonita cachoeira, na antiga barragem, há só um filete d’água. O nível da água do Meia Ponte é o mesmo do Córrego Botafogo há décadas atrás. Este praticamente não existe mais, a não ser por uma nascente muito rica no Jardim Botânico, que ainda o alimenta. Mas ele só parece mesmo exis­tir quando as chuvas o en­chem rapidamente. Mas, no outro dia, ele vira novamente um filete.

Goiânia foi planejada em função também dos cursos d’água. Tendo em vista o que ocorre hoje, podemos dizer que ela é, então, o cenário de uma tragédia hidrográfica?
Eu não diria que apenas Goiânia está realmente dessa forma. Mas foi toda uma política de ocupação do centro e do interior do Brasil que motivou essa ocupação desordenada, desde a época da Fundação Brasil Central, da Expedição Roncador–Xingu, depois a construção de Goiânia e de Brasília, a divisão de Mato Grosso e a criação do Tocan­tins. Isso é fruto do capital dinâmico que transforma a realidade. Vem uma urbanização rápida de áreas de campo, aumentando as ilhas de calor e, consequentemente, pela pavimentação, impedindo que as águas das chuvas se infiltrem para alimentar os mananciais que deram origem a essas mesmas cidades. Se continuar dessa forma, com esse tipo de desordenamento, podemos prever grandes colapsos sociais e econômicos no Centro-Oeste do Brasil. E não só aqui, mas nas áreas que aqui brotam.

O que significa quase toda a área do Brasil, não?
Sim, até mesmo a Amazônia. O Rio Amazonas é alimentado por três vetores: as águas da Cordilheira dos Andes, que é um sistema de abastecimento extremamente irregular; as águas de sua margem esquerda, principalmente do Solimões, que também é irregular, em que duas estiagens longas podem expor o assoreamento, ilhas de areias – ali foi um deserto até bem pouco tempo, chamado Deserto de Óbidos. Ou seja, o Amazonas é alimentado mesmo pelos rios que nascem no Cerrado, como Teles Pires (São Manuel), Xingu, Tapajós, Madeira, Araguaia, Tocantins. Estes caem quase na foz do Amazonas, mas contribuem com grande parte de seu volume. Ou seja, temos o São Francisco, já drasticamente afetado; o Amazonas, também afetado; e a Bacia do Paraná, afetada quase da mesma forma que o São Francisco, provavelmente com período de vida muito curto.

Será um processo tão rápido assim?
Uma vez que se inicia tal processo de degradação e de diminuição drástica do nível dos lençóis, isso é irreversível. Em alguns casos duram algumas décadas; em outros, até menos do que isso. Temos exemplos clássicos no mundo de transposições de rios que não deram certo e até secaram mares inteiros. No Mar de Aral, no Leste Europeu, há navios ancorados em sal. Sua drenagem é endorreica, fechada, sem saída para o oceano. A União Soviética, na ânsia de se tornar autossuficiente na produção de algodão, fez a transposição dos dois rios que abasteciam o mar. Resultado: no prazo de uma década, as plantações não vingaram, o mar secou e uma grande quantidade de tempestades de poeira e sal afetam 30 milhões de pessoas, causando doenças respiratórias graves, incluindo o câncer.

Com nossos rios, acontecerá o mesmo processo. A diferença é que o processo de ocupação aqui foi relativamente recente, a partir dos anos 1970. São 40 e poucos anos. Ou seja: em menos de meio século, se devastou um bioma inteiro. Não acabou totalmente porque ainda há um pouco de água. Mas, quando isso acabar, imagine as convulsões sociais que ocorrerão. Enquanto se está na fartura, você é capaz de repartir um copo d’água com o irmão; mas, no dia da penúria, ninguém repartirá. Isso faz parte da natureza do ser humano, que é essencialmente egoísta. Isso está no princípio da evolução da humanidade. A Igreja Católica chama isso de “pecado original”, mas nada mais é do que o egoísmo, apossar-se de determinados bens e impedir que outros usufruam deles. Isso já levou outros povos e raças à extinção. E pode nos levar também à extinção.

Até bem pouco tempo tínhamos duas humanidades: o homem-de-neanderthal, o Homo sapiens neanderthalensis; e o Homo sapiens sapiens. Hoje podemos falar também em duas humanidades: uma humanidade subdesenvolvida, tentando soerguer em meio a um lodo movediço; e outra humanidade, que nada na opulência. A questão é que, se essa situação persistir, brevemente teremos a pós e a sub-humanidade.

É um cenário doloroso.
É doloroso, mas são os dados que a ciência mostra. Tem jeito, tem perspectiva para um futuro melhor? Possivelmente, a saída esteja na pesquisa. Mas uma pesquisa precisa de um longo tempo para que apareçam resultados positivos. E nossas universidades não incentivam a pesquisa, o que é muito triste, porque essa é a essência de uma universidade.

O sr. vê, em algum lugar do mundo, trabalhos e pesquisas pensando em um mundo mais sustentável?
Não. O que existe é muito localizado e incipiente. Não tem grande repercussão. Mas, mesmo se fossem proveitosas, jamais poderiam ser aplicadas ao Cer­rado, que é um ambiente muito peculiar. Teria de haver pesquisa dirigida especialmente para nosso bioma. Como recuperar uma nascente de Cerrado? Eu não sei dizer. Um engenheiro ambiental também não lhe dará resposta. Nenhum cientista brasileiro sabe a resposta, porque não temos pesquisas sobre isso. Talvez poderíamos ter um futuro melhor se houvesse investimentos em pesquisa.

E a educação ocupa que papel nesse contexto sombrio?
Nós, como educadores, deveríamos pensar mais nisso – e eu penso: talvez ainda seja tempo de salvar o que ainda resta, mas se não dermos uma guinada muito violenta não terá como fazer mais nada. É preciso haver real mudança de hábitos e mudar a forma de observar os bens patrimoniais do planeta e da nossa região. A água tinha de ser uma questão de segurança nacional. A vegetação nativa, da mesma forma. Os bens naturais teriam de ser tratados assim também, porque deles depende o bem-estar das futuras gerações. Mas isso só se consegue com investimento muito alto em educação, mudando mentalidade de educadores. As escolas têm de trabalhar a consciência e não apenas o conhecimento. Uma coisa é conhecer o problema; outra, é ter consciência do problema. A consciência exige um passo a mais. Exige atitude revolucionária e radical. Ou mudamos radicalmente ou plantaremos um futuro cada vez pior para as gerações que virão.

O possível colapso do Cantareira (Estadão)

O possível colapso do Cantareira

22.11.2014 | 03:00

O Estado de S. Paulo

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o governo estadual estão se comportando como médicos do século passado. Sabendo que a doença é séria, se recusam a discutir o futuro com o paciente. Fazem o que podem para curar o doente, mas o poupam da angústia de enfrentar a realidade. Hoje, os médicos são educados para contar a verdade. Isso causa angústia, mas ao menos não priva o doente da liberdade de decidir como e onde quer viver enquanto espera o desfecho.

O Sistema Cantareira está se aproximando rapidamente do colapso. Quando não for possível retirar mais água das represas, 6 milhões de pessoas ficarão literalmente sem uma gota de água. É a parte da população de São Paulo que só pode ser abastecida pelo Cantareira. Esta é uma possibilidade real, cuja probabilidade é difícil de calcular. É por isso que vou tentar descrever de maneira objetiva a realidade hoje, deixando para os leitores as especulações sobre o futuro. Todos as informações foram extraídas de documentos oficiais da Agencia Nacional de Águas (ANA), do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e da Sabesp.

Gráficos

O Sistema Cantareira é composto por três represas. As duas maiores, Jaguari/Jacareí e Atibainha, representam 92% do sistema. Quando cheia até a borda, a Represa Jaguari/Jacareí (acompanhe pelo quadro nesta página) atinge a conta 844 (ou seja, 844 metros acima do nível do mar), armazena 1,047 bilhão de m3 de água (um m3 são 1.000 litros) e cobre uma área de 50 km2 (cada km2 corresponde a 100 quarteirões). No último dia 18, ela estava na cota 815,5, tendo baixado 28,5 metros, e continha somente 140 milhões de m3 de água (13,3% do máximo). Sua superfície cobria somente uma área de 16 km2, deixando 34 km2 de terra e lama expostos (é o que você pode ver nas fotografias publicadas diariamente).

Neste dia, foi iniciada a retirada da segunda fração da reserva técnica – também chamada de volume morto -, o que vai reduzir o volume para 42 milhões de m3 (4% do máximo) e reduzir a área coberta por água para 8 km2. O barro vai cobrir 84% da área da represa (o quadro mostra os mesmos números para a Represa do Atibainha).

É muito difícil acreditar que seja possível extrair dessas represas uma reserva técnica 3. Se ela existir, será muito pequena. A reserva técnica 1, de 182,5 milhões de m3, já foi consumida. A reserva técnica 2, de 106 milhões de m3, já começou a ser retirada da Represa de Jaguari/Jacareí e praticamente já foi toda retirada da Represa do Atibainha.

Os dados mostram que ainda restam 232 milhões de m3 nessas duas represas, sendo possível retirar 99 milhões de m3. Grande parte do restante não será possível utilizar.

Quando o nível da água baixou para 820, a água deixou de fluir por gravidade para o túnel. Para evitar a interrupção do fornecimento, foi construído um dique em volta do túnel. Grandes bombas flutuantes transportam a água para o interior do dique, de onde ela flui pelo túnel. Dessa maneira, foi possível retirar a chamada reserva técnica 1. Quando a água da parte de fora do dique acabou, um segundo dique foi construído, isolando um grande braço da represa para permitir a retirada da reserva técnica 2. Nesse segundo dique foi instalado um outro grupo de bombas. Hoje, as bombas do segundo dique transportam a água para esse braço isolado da represa e a água chega no primeiro dique, onde é bombeada novamente para poder alcançar a entrada do túnel. Como os locais em que a Sabesp decidiu instalar esses dois grupos de bombas não têm energia elétrica, grandes geradores movidos a diesel foram transportados até a proximidade das bombas. Caminhões-tanque levam o diesel por estradas precárias para manter os geradores ligados 24 horas. É desse esquema improvisado que agora dependem os 6 milhões de pessoas que recebem água do Sistema Cantareira.

O sistema de bombas é capaz de retirar até 20 m3 por segundo da represa (20 pequenas caixas de água por segundo). Mas o problema é que, atualmente, só chegam às represas, trazidos pelos rios, 6 m3 por segundo de água. Assim, a cada segundo, 14 m3 a mais do que chega são retirados da represa. A rápida velocidade de perda das reservas significa que a, cada dia, a represa perde 1,2 milhão de m3 de água.

Mantido esse ritmo de perdas, é fácil calcular que a duração das reservas atuais é de 79 dias até o término da reserva técnica 2 e de 6 meses até que toda a água existente na represa se esgote.

Para que esse prazo seja estendido é necessário que a entrada de água na represa aumente. Se os atuais 6 m3 por segundo aumentarem para um número menor do que 20 m3 por segundo, a represa vai continuar a ser delapidada, mais lentamente. Se ela chegar a 20 m3 por segundo (o mesmo que as bombas retiram hoje), a represa vai parar de esvaziar. Mas são necessários mais de 20 m3 por segundo, um aumento constante de 4 vezes no fluxo atual dos rios, para que a represa volte a encher.

O problema é que isso não está ocorrendo nestes dois primeiros meses de chuva deste final de ano (outubro e novembro) e não ocorreu nenhuma vez nos meses de chuva do início de 2014 (janeiro, fevereiro, março e abril).

É claro que pode chover, e espero que chova muito, mas se o futuro próximo se comportar como o passado próximo, 6 milhões de pessoas ficarão sem água. E, infelizmente, é impossível abastecer 6 milhões com caminhões-pipa. Como e onde essas pessoas vão viver até que o Cantareira se recupere ou outras represas tomem seu lugar? É isso que eu gostaria de saber.

MAIS INFORMAÇÕES: BOLETIM ANA/DAEE DE MONITORAMENTO DO SISTEMA CANTAREIRA (18/11/2014). PROJEÇÃO DE DEMANDA DO SISTEMA CANTAREIRA, SABESP, 2014, E DADOS DE REFERÊNCIA ACERCA DA OUTORGA DO SISTEMA CANTAREIRA ANA/DAEE, 2013