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Economistas ainda pensam em crescimento eterno, diz José Eli da Veiga (Folha de S.Paulo)

Professor da USP defende noção de crescer decrescendo e afirma que COP30 pode ser a mais difícil de todas; leia trechos

‘Rio Comprido VIII’ (2019), monotipia de Luiz Zerbini – Pat Kilgore/Divulgação

10.mai.2025 às 7h00 – artigo original

Eduardo Sombini

Doutor em geografia pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Nem abandonar a ideia de crescimento econômico nem confiar nela cegamente.

José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, recorre a essa dupla negativa para sintetizar sua análise em “O Antropoceno e o Pensamento Econômico” (Editora 34), terceiro volume de sua trilogia sobre as ciências e as humanidades em um período de crise climática e transformação acelerada do planeta pela sociedade.

No livro, o intelectual revisita escolas e pensadores à margem do mainstream da economia para sustentar que a disciplina não acompanhou o avanço da fronteira do conhecimento e ainda passa ao largo, por exemplo, da teoria da evolução e da física moderna.

Em razão disso, Veiga argumenta, o pensamento econômico ignora os fluxos de energia e matéria envolvidos no processo de produção, o que faz com que economistas concebam um crescimento eterno e não se preocupem com as condições de vida das gerações futuras.

José Eli da Veiga, autor de ‘O Antropoceno e o Pensamento Econômico’, durante o seminário USP Pensa Brasil – Cecília Bastos – 4.out.23/USP Imagens

Na entrevista, o pesquisador fala sobre as ideias de crescer decrescendo e decrescer crescendo, um caminho do meio entre manter o modelo atual e as propostas de decrescimento da economia.

Veiga também discute o impasse em fóruns multilaterais dedicados à crise ambiental, como as COPs. Para ele, negociações entre as corporações e os governos responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa teriam mais resultado que encontros anuais com a participação de mais de uma centena de países.

Leia abaixo os trechos principais da entrevista. A íntegra está disponível em áudio.

O pensamento econômico hoje

Existe uma corrente muito secundária, vista pelos economistas como uma coisa heterodoxa e estranha, a economia evolucionária. Tem uma muito forte, a economia institucional. Tem uma bem sólida, mas que não é muito reconhecida, a economia ecológica. Mas, se você perguntar como uma inteligência artificial classifica as várias correntes da economia, o risco é que nem apareçam essas que eu citei.

Porque as principais são aquelas que, no fundo, formam o currículo tradicional de um curso de economia: macro, micro, história do pensamento econômico, um pouco de história econômica. A formação de um economista é mais ou menos essa.

Será que uma humanidade —a economia não é uma ciência— precisa ser compatível com a física e com a biologia, para não falar de química e geociências? Minha tendência é dizer que é errado ser incompatível.

Tem ramos da economia que avançaram muito, principalmente aqueles afeitos à modelização matemática, mas a economia ainda hoje é absolutamente prisioneira da mecânica clássica e, principalmente, da ideia de equilíbrio. Ignora totalmente a termodinâmica, para começar. Você chega a conclusões muito diferentes a respeito de como pode ser o desenvolvimento se levar em conta ou não a termodinâmica.

O conceito de entropia

Uma das primeiras coisas com que um estudante de economia se defronta é um diagrama do fluxo circular, que explica como funciona o chamado sistema econômico. Não entra nada nem sai nada desse sistema. Ele ignora a entrada de energia —nós somos uma dádiva do Sol— e, principalmente, todos os resíduos, do outro lado, além da entropia.

O que interessa para um economista na questão da entropia? Quando se usa energia —e nós não fizemos outra coisa que procurar fontes de energia que nos dessem cada vez mais produtividade—, parte dessa energia se dissipa. Permanentemente, estamos perdendo uma boa parte da energia que mobilizamos.

A rigor, a longo prazo, você não pode pensar em crescimento econômico. Você tem que pensar que o futuro da humanidade ou o desenvolvimento vão ter que prescindir do crescimento. Essa é uma conclusão que choca um economista ortodoxo, tradicional. Para eles, é subentendido que o crescimento é uma coisa eterna.

A economia e a ética

A dicotomia entre a economia como ética e uma economia mais logística, que a gente normalmente chama de o lado engenheiro da economia, é bem antiga. Houve tentativas teóricas de dizer que a economia devia se limitar só a esse aspecto logístico e não entrar em nenhum tipo de consideração ética. Evidentemente, isso não é uma coisa que foi seguida pelos economistas, mesmo por economistas que eu classificaria como ortodoxos. Uma parte deles, ao contrário, é bem ligada em considerações éticas.

Para nós, isso é muito importante porque o aquecimento global —para não falar de todos os outros prejuízos ao meio ambiente que a gente vem causando pelo menos há uns 80 anos de forma muito intensa– coloca em questão as condições de vida das próximas gerações. Esse é um dilema ético para nós.

Resultados frustrantes das COPs

Uma das coisas chocantes é notar que a questão da camada de ozônio, que era complicadíssima, teve um arranjo de cooperação internacional que deu muito resultado. Por quê? Como foi o formato?

No início, só se juntaram os que mais eram responsáveis pelo assunto. Eram poucos países que tinham as empresas que faziam o estrago. A partir disso, paulatinamente, foram ganhando adesões à convenção. É difícil encontrar, pelo menos na área ambiental, outra convenção ou outro tratado que tenha tido tanto sucesso.

Quando, em 1988, se criou o IPCC, houve muita pressa, porque a Rio-92 estava marcada e ia ser uma coisa muito importante. Mais importante que mera pressa, havia a conjuntura internacional geopolítica desse período. Ainda se vivia muito daquele entusiasmo e otimismo que surgiu a partir da queda da União Soviética. Hoje, olhando com a facilidade de estar distante disso, parece uma coisa infantil imaginar que você poderia fazer uma assembleia anual de todos os países do mundo e chegar a algum tipo de decisão.

A Convenção do Clima criou uma arena para que houvesse disputas políticas das mais variadas. No início, era sempre o Sul querendo dizer que a culpa era do Norte e que eles tinham que pagar. Depois, foram encontrando algumas saídas e, no famoso Acordo de Paris de 2015, a ideia é que cada país vai determinar ele mesmo qual é a contribuição que pode dar. Isso foi um grande avanço.

Neutralidade de carbono

No meio disso, com um grupo de Oxford liderando, cientistas começaram a levantar a ideia de que existem emissões que podem ser, de certa forma, abatidas —quando, por exemplo, uma área desmatada é restaurada— e isso levou à ideia de compensação de carbono.

Foi um tremendo desserviço. Quer dizer, tinha um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que muitas empresas que olhavam para a questão do aquecimento global e viam sempre como um sacrifício ter que reduzir emissões, de repente, falaram: “Bom, vamos também poder abater aquilo que a gente faz de positivo”. Isso deu um certo incentivo para que elas não simplesmente banissem a ideia do aquecimento global.

Por outro lado, as empresas que mais emitem acharam o máximo. “Comprar uns créditos de carbono do pessoal que restaura na Amazônia, se a gente for muito pressionado, senão vamos continuar emitindo”. O resultado? É só olhar o que aconteceu.

Do Acordo de Paris para cá, as emissões de CO2 equivalente não pararam de aumentar, em um ritmo que é difícil imaginar se seria diferente. O impacto dos créditos de carbono nem começou a fazer cócegas por enquanto. Conheço muitos colegas que acreditam que, por volta de 2050, haja neutralidade de carbono –quer dizer, que o aquecimento global vai continuar, mas que as emissões estariam sendo mais ou menos integralmente abatidas por esses descontos.

Quando olho os números, acho que o máximo que se pode dizer é que talvez seja um problema que tenha solução neste século, mas não vai ser desse jeito, com essa convenção.

Um novo modelo para as COPs

Do meu ponto de vista, o que pode melhor acontecer é que, em algum momento, esse mesmo sistema de COPs descubra que é preciso reconsiderar a própria convenção. Hoje, a gente sabe que 80% das emissões saem de 57 empresas que estão em 34 países.

Se você juntasse esses 34 países em vez de juntar mais de cem uma vez por ano, eles não demorariam para encontrar uma maneira de se comprometer com um esquema de redução. Por exemplo, o chamado “cap and trade”: você fixa uma meta de redução das emissões para o ano que vem e as empresas que tiverem conseguido atingir essa meta recebem créditos que poderão ser vendidos para aquelas que ainda não conseguiram. Um esquema desse tipo é o que funciona no mercado de carbono europeu.

Aos poucos, você teria muito mais resultados se o arranjo fosse só com esses 34 países ou essas 57 empresas —ou a parte deles que topasse. Se a convenção não fosse abolida, as COPs poderiam começar a ser reunidas de cinco em cinco anos. É um desperdício de tudo, de dinheiro, de energia. Essas COPs são uma coisa assustadora.

Expectativas para a COP30

Do ponto de vista das negociações diplomáticas, acho que vai ser praticamente mais do mesmo. Sempre aparece alguma coisa que você pode usar para dizer que foi um avanço, mas, no frigir dos ovos, não vai ter nada de significativo nesse plano.

Só que surgiu uma novidade muito importante. No discurso do Lula na Assembleia Geral da ONU, ele fez a sugestão de que nós fizéssemos um balanço ético global.

A ideia é que o balanço seja feito a partir do momento em que todos os países apresentem os seus compromissos nacionalmente determinados, os NDCs, e pouquíssimos países, por enquanto, apresentaram. Vai ficar muito em cima da COP, em novembro, que se terá esse conjunto e se poderá começar a fazer esse balanço.

Não vai ser exatamente na COP, mas, com isso, a COP poderá ter desencadeado na sociedade civil uma dinâmica que ainda não existe: a sociedade civil mundial se mobilizar em torno desse balanço ético global e isso gerar uma forma de maior responsabilização e pressão sobre o conjunto dos países. Se eu não estiver muito enganado, vai acontecer algo de muito positivo, mas meio que fora da COP em si, que virou uma espécie de feira anual de lobistas.

Não vai ser muito diferente desta vez —e com conflitos. Tem tanta gente na Amazônia e tantas tendências da sociedade civil muito mobilizadas em torno disso que é provável que seja, de todas as 30, a mais difícil de conduzir.

Crescer decrescendo

Considero essa ideia uma espécie de ovo de Colombo, porque fica um debate entre os decrescentistas e aqueles que dizem: “Olha a fórmula que funcionou até hoje. Você terá população em queda, educação e inovações institucionais e tecnológicas continuando. Os problemas ambientais meio que se resolvem pelos preços. Não tem que ficar discutindo se tem que ter ou não crescimento. Quanto mais crescer, melhor”.

No entanto, quando você para para pensar em termos práticos, tem coisas que não podem mais crescer e tem outras que são promissoras e que precisam ter espaço para crescer. Não se trata de dizer, para quem está com a responsabilidade da política econômica, que deva pisar no acelerador ou no freio do crescimento. Ao contrário.

Tudo o que emite e queima energia fóssil demais, o ideal é que decresça. As energias renováveis precisam crescer. Estou falando do terreno da energia, mas você pode encontrar exemplos em todos os terrenos. É permanente esse caminho do meio.

Tem uma ideia que eu procuro ressaltar no fim do livro: o fundamental é desacoplar. Este é o verbo-chave da mensagem que a gente pode tirar de uma análise sobre o Antropoceno. Desacoplar, fundamentalmente, significa que tenho que procurar ao máximo possível estimular as atividades que usem menos energias fósseis e que, portanto, emitam menos. Não é o único desacoplamento, mas é o principal.

A viabilidade política da ideia

Na conjuntura atual, diria que é uma inviabilidade. O principal sinal disso é o Trump, mas não está sendo assim na China e a União Europeia está na vanguarda. Para construir a ideia, não posso condicioná-lo ao fato de a agenda ser ou não ser realista.

Se não for, eu estiver errado e essa conjuntura extremamente negativa perdurar, pior para vocês que estarão vivos [risos].

Gestora ambiental de Roraima recebe prêmio de ‘Cientista Indígena do Brasil’ por atuação sobre crise climática (G1)

Sineia Bezerra do Vale, indígena do povo Wapichana, atua há ao menos três décadas com discussões sobre a emergência do clima e defende que cientistas incluam as experiências dos povos tradicionais nos estudos sobre o assunto.

Por Valéria Oliveira, g1 RR — Boa Vista

27/05/2024 06h01  Atualizado há 4 meses

Sineia Bezerra do Vale, lidernaça indígena do povo Wapichana, ao receber o prêmio "Cientista indígena do Brasil", em São Paulo — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Sineia Bezerra do Vale, lidernaça indígena do povo Wapichana, ao receber o prêmio “Cientista indígena do Brasil”, em São Paulo — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Referência em Roraima por estudos sobre a crise climática em comunidades indígenas, a gestora ambiental Sineia Bezerra do Vale agora também é “cientista indígena do Brasil” reconhecida pelo Planetary Guardians, iniciativa que discute a emergência do clima em todo o mundo e tem como foco restaurar a estabilidade da Terra.

Indígena do povo Wapichana, Sineia do Vale recebeu o título no último dia 25 em São Paulo, no mesmo evento em que o cientista brasileiro Carlos Nobre, referência global nos efeitos das mudanças climáticas na Amazônia, foi anunciado com novo membro dos Planetary Guardians – guardiões planetários, em português.

Sineia do Vale tem como principal atuação o foco sobre a crise do clima, que impacta em consequências devastadoras em todo o mundo. Foi dela o primeiro estudo ambiental sobre as transformações do clima ao longo dos anos na vida dos povos tradicionais em Roraima.

Ao receber o prêmio de “cientista indígena do Brasil” das mãos de Carlos Nobre, a defensora ambiental destacou que quando se trata da crise climática, a ciência também precisa levar em conta a experiência de vida que os indígenas vivenciam no dia a dia – discurso que ela sempre defende nos debates sobre o assunto.

“Esse é um momento muito importante para os povos indígenas. Neste momento em que a gente se coloca junto com a ciência que chamamos de ciência universal, a ciência indígena tem uma importância tanto quanto a que os cientistas traduzem para nós, principalmente na questão do clima”, disse Sineia do Vale.

Sineia do Vale (terceira mulher da direira para a esquerda) atua há anos com foco na crise climática e os povos indígenas — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Sineia do Vale (terceira mulher da direira para a esquerda) atua há anos com foco na crise climática e os povos indígenas — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

O estudo inédito comandado por Sineia foi o “Amazad Pana’ Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas“, relacionado à região da Serra da Lua, em Roraima. A publicação é considerada referência mundial quando se trata da emergência climática e povos tradicionais.

No evento em São Paulo, ela exemplificou como a crise climática é percebida nas comunidades. “Os indígenas já colocaram em seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas que as águas já aqueceram, que os peixes já sumiram e que não estamos mais vivendo o período de adaptação, mas o de crise climática.”

“Precisamos de resposta rápidas. Não podemos mais deixar que os países não cumpram seus acordos porque à medida que o globo terrestre vai aquecendo, os povos indígenas sofrem nas suas terras com grandes catástrofes ambientais”, destacou a gestora.

A indicação para que Sineia recebesse o título ocorreu após indicação da ativista ambiental e geógrafa Hindou Oumarou, que é co-presidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças do Clima e presidente do Fórum Permanente da ONU sobre questões indígenas chadiana.

Além da roraimense, também receberam a honraria de “cientista indígena do Brasil”: as antropólogas indígenas Braulina Baniwa e Cristiane Julião, do povo Pankararu, confundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), e o antropólogo e escritor Francisco Apurinã, que pesquisa mudanças ecológicas na perspectiva indígena pela Universidade de Helsinki, na Finlândia.

Mais sobre Sineia do Vale

Sineia do Vale participa desde 2011 da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP, em inglês, e promove junto às lideranças indígenas a avaliação climática a partir do conhecimento ancestral.

Ela também participa ativamente das discussões internacionais sobre mudanças climáticas há mais de 20 anos, entre elas, a Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas – chamada de SB60, que ocorre todos os anos em Bonn, na Alemanha. Este ano, a COP29 ocorrerá de 11 a 24 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

Em 2021, Sineia foi a única brasileira a participar da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento convocado pelo então presidente estadunidense Joe Biden e que marcou a volta dos EUA nas discussões internacionais sobre o clima.

No ano passado, ela foi recebeu o “Troféu Romy – Mulheres do Ano“, honraria concedida a mulheres que se destacaram em suas áreas de atuação em 2023.

Gestora ambiental de formação, Sineia cursa mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais na Universidade de Brasília (UnB), coordena o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), e integra a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), focada na agenda indígena e a implementação de ações em nível local.

Corte internacional decidirá se países podem ser culpados por não combater crise climática (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Decisão é considerada histórica por poder abrir caminho para mais processos contra governos

Camila Hodgson

29 de março de 2023


A Corte Internacional de Justiça (CIJ) avaliará as obrigações legais dos Estados de proteger as gerações atuais e futuras das mudanças climáticas, depois que os países apoiaram uma resolução na ONU.

A opinião consultiva da CIJ, o principal órgão jurídico da ONU, pode aumentar o risco de litígio para os países que não cumprirem as leis e tratados internacionais existentes, ao mesmo tempo em que orienta os governos sobre o que devem fazer para defender os direitos humanos e o meio ambiente dos danos climáticos.

Os países aprovaram a resolução por consenso sem votação, após uma campanha de anos liderada por Vanuatu, nação insular do Pacífico que corre risco devido à elevação do nível do mar. Mais de cem países copatrocinaram a resolução, mas não os Estados Unidos e a China, os dois maiores emissores anuais do mundo.

Delta Merner, cientista chefe do Polo Científico para Litígio Climático da União de Cientistas Preocupados, disse que a decisão de quarta-feira (29) na Assembleia Geral da ONU marcou “um momento histórico para a justiça climática internacional”.

A CIJ, que pode levar um ano ou mais para entregar suas conclusões, “alteraria a forma como pensamos sobre as responsabilidades pelas emissões e a prestação de contas, incluindo a responsabilidade corporativa”, e “reforçaria” as justificativas legais para “milhares de casos de litígio climático atualmente arquivados“, acrescentou ela.

Dirigindo-se à ONU, o secretário-geral António Guterres disse que os pareceres da CIJ têm “uma importância tremenda e poderão ter um impacto duradouro na ordem jurídica internacional”, embora não sejam juridicamente vinculantes.

O apoio ao que começou como uma iniciativa liderada por estudantes de Vanuatu cresceu no ano passado, pois muitos países sofreram eventos climáticos extremos devastadores. Com as emissões permanecendo teimosamente altas, os principais cientistas climáticos do mundo alertaram recentemente que as temperaturas médias provavelmente atingirão em breve 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Embora ativistas tenham recorrido aos tribunais para forçar governos e empresas a efetuarem cortes mais rápidos nas emissões, autoridades disseram que o parecer da CIJ não foi visto como um caminho para novos processos, mas uma forma de dar aos governos maior clareza sobre suas responsabilidades.

Ralph Regenvanu, ministro da Mudança Climática de Vanuatu, disse que a iniciativa “não foi dirigida a nenhum estado [individual]”, nem teve “a intenção de culpar, envergonhar ou buscar qualquer julgamento”.

No entanto, especialistas disseram que ela poderia afetar os processos climáticos mais diretamente. Lavanya Rajamani, professora de direito ambiental internacional da Universidade de Oxford, que apoiou a iniciativa de Vanuatu, disse que as descobertas poderiam “apoiar litígios climáticos nacionais e regionais” ao identificar “um padrão ou referência para o que se espera dos estados”.

A decisão de quarta-feira ocorre meses depois que uma coalizão de pequenos países insulares, incluindo Vanuatu e Antígua e Barbuda, pediu a outro órgão intergovernamental uma opinião sobre as obrigações legais dos países de proteger os ambientes oceânicos das mudanças climáticas.

As conclusões do Tribunal Internacional do Direito do Mar devem ser entregues em 2024, antes que a CIJ conclua seu trabalho.

Payam Akhavan, advogado que apoia a iniciativa dos oceanos, disse que a opinião do tribunal pode resultar em contestações legais contra os países, mas um resultado “mais importante” seria usá-la para pressionar os grandes poluidores nas cúpulas climáticas da COP e “colocar alguns dentes no Acordo de Paris”.

O trabalho da CIJ incluirá um foco particular na vulnerabilidade das pequenas nações insulares às mudanças climáticas. Na cúpula COP27, no ano passado, os países concordaram com a criação de um fundo de perdas e danos para ajudar os países mais vulneráveis.

Regenvanu disse que o parecer da CIJ pode ter “implicações” para a criação do fundo.

Também nesta quarta, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos realizou uma audiência em um caso centrado em saber se a Suíça deve fazer mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de modo a proteger os direitos de seus cidadãos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Análise: Frustrante, COP termina sem acordo sobre mercado nem ambição contra aquecimento (Estadão)

Artigo original

Giovana Girardi, 15 de dezembro de 2019 | 17h55

7-9 minutes

MADRI – A expectativa sobre a Conferência do Clima da ONU deste ano (COP-25) não era lá muito grande. Mas o clamor que veio das ruas ao longo de 2019 –  impulsionado por dois novos relatórios científicos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que reforçaram a necessidade urgente de ações para conter o aquecimento global em até 1,5ºC até o final do século – dava uma esperança de que algo melhor poderia ser alcançado.

A COP de Madri, porém, foi um fracasso praticamente sob qualquer aspecto que se olhe. E bateu uma sensação de apatia e de desânimo de que talvez não haja mais vontade política para conter o desastre.

Pôsteres no centro de convenções de Madri onde ocorreu a COP pedem ação imediata contra as mudanças climáticas. Crédito: Giovana Girardi / Estadão

O clima – na falta de palavra melhor – nos corredores da Feria de Madrid ao longo dos últimos 14 dias era completamente oposto ao que se viu há quatro anos em Paris, quando 195 países se mobilizaram de modo inédito para fechar o Acordo de Paris.

Na época, os maiores poluidores do planeta, Estados Unidos e China, estavam na mesma página. O Brasil atuava como um facilitador para minimizar conflitos históricos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. União Europeia tinha cacife para pedir mais ambição.

Em Paris todos toparam se esforçar para conter o aquecimento a planeta a bem menos do que 2ºC até 2100, e se possível deixá-lo em 1,5ºC – limite da tragédia principalmente para os países mais vulneráveis às mudanças sofridas pelo planeta.

Todo mundo ali sabia, no entanto, que as metas que cada nação estava voluntariamente oferecendo (as chamadas NDCs – contribuições nacionalmente determinadas) para ajudar o esforço global não seriam suficientes para isso. Elas ainda colocavam o mundo no rumo de aquecer 3ºC, o que pode ser trágico até mesmo para os países ricos e mais bem estruturados. Era preciso evoluir rapidamente. O Acordo de Paris, então, trouxe uma cláusula: de que em 2020 seria feita uma nova rodada para atualizar e melhorar as metas.

De lá pra cá, as condições pioraram. As emissões mundiais não estão caindo – chegaram a subir nos últimos dois anos –, e as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão cada vez maiores. De acordo com cálculos do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), as emissões precisariam cair 7,6% ao ano para colocar o planeta nos trilhos do 1,5ºC. Queimadas em tudo quanto é canto, ondas de calor e tufões são alguns dos eventos críticos que ocorreram neste ano  atribuídos ao aquecimento global que mostram que este é um problema atual, não para o futuro.

O apelo, desse modo, era pra ter sinalizações mais concretas desse aumento de ambição já em 2019, na COP que era para ser na América Latina. Que era do Brasil, foi pro Chile após desistência do presidente Jair Bolsonaro, e foi pra Espanha após as convulsões sociais entre os chilenos. Faltaram rédeas curtas para a presidência chilena, mas, acima de tudo, faltou o espírito de Paris nesta COP. Ela terminou com um mera reafirmação do Acordo de Paris, sem acrescentar quase nada.

Nações mais pobres ou menores, que pouco contribuíram para a quantidade de gases de efeito estufa que sufocam hoje a Terra, foram as mais ativas. Se comprometeram a aumentar suas metas de redução de emissões, mas, juntas, elas não respondem nem por 10% das emissões do planeta. A União Europeia também se comprometeu com neutralidade de carbono até 2050, mas pode ser tarde demais.

Os Estados Unidos, que chegaram a Madri após apresentarem oficialmente sua “carta de demissão” do Acordo de Paris, abandonaram qualquer bom senso, assim como a Austrália, apesar de o país ter literalmente pegado fogo neste ano, e, para surpresa dos demais negociadores, o Brasil. O País, com forte tradição ambiental e diplomática, que em geral atuava destravando as negociações, adotou uma postura bem pouco construtiva.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que chefiou a delegação brasileira, esteve na conferência do primeiro ao último dia, e passou boa parte do tempo cobrando seus pares a pagarem o Brasil por feitos do passado. Por emissões que o País reduziu quando cortou o desmatamento, nos governos Lula e Dilma, e por créditos emitidos no regime anterior, o Protocolo de Kyoto, que nunca foram pagos. Não se manifestou sobre as condições ruins que carregava nas costas – a alta de 29,5% no desmatamento neste ano.

Outros países chegaram a relatar constrangimento com a postura e houve críticas de que o Brasil estava dificultando o estabelecimento de um acordo, especialmente sobre o artigo 6 do Acordo de Paris, que estabelece mecanismos de mercado. Esse era um dos objetivos da COP de Madri – definir as regras para esses mercados, mas mesmo depois de a COP se prorrogar até este domingo – deveria ter fechado na sexta, 13 – não foi possível chegar a um acordo.

Brasil ganha “fóssil do ano’ por aumento no desmatamento, mortes de indígenas e por não ajudar na COP do Clima em Madri. Crédito: Giovana Girardi / Estadão

Justiça seja feita, não foi só o Brasil. Cada país queria uma coisa para esses mecanismos. E Salles disse à imprensa brasileira, no seu único posicionamento coletivo aos jornalistas nacionais, que queria um acordo sobre mercado de qualquer jeito. Mas ele pedia regras consideradas bem pouco razoáveis, que poderiam resultar na chamada dupla contagem de redução de emissões para cumprimento de metas de dois países, comprometendo a integridade do Acordo de Paris.

O Brasil chegou a ser chamado de pária ambiental e, por isso, foi por três vezes “homenageado” por ONGs internacionais como um problema para as negociações. Pela primeira vez na história das COPs, recebeu o prêmio “fóssil do ano“.

Nada deu certo. A decisão sobre mercado de carbono e sobre ambição ficou para a COP seguinte, em Glasgow, na Escócia. Parece cada vez mais impossível ficar em 1,5ºC.

Para compensar nossas emissões na COP, um almoço veggie! pic.twitter.com/NUtLvYLn9m

— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) December 15, 2019

Salles optou por fazer troça ao final da COP. Depois de postar um vídeo no seu twitter dizendo que a “COP-25 não deu em nada”, apesar “de todos os esforços do Brasil”, algumas horas publicou em suas redes sociais uma foto de um prato enorme de carne dizendo: “Para compensar nossas emissões na COP, um almoço veggie!”. A pecuária e sua expansão sobre a Floresta Amazônica são o setor responsável pelo maior fatia das emissões de gases de efeito estufa do País.

* A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

Conta das mudanças climáticas é mais alta para nações ricas (O Globo)

ActionAid calcula que países desenvolvidos devem doar 0,1% do PIB a fundo comum

POR O GLOBO

18/11/2015 6:00

 

Mulheres polonesas conversam em frente à usina: países desenvolvidos não pagam valores justos para atenuar mudanças climáticas, diz ONG – JOE KLAMAR/AFP

RIO — Um novo estudo da ONG ActionAid denunciou ontem a diferença abissal entre as quantias exigidas e as doadas pelos países desenvolvidos para que as nações mais pobres criem medidas de adaptação contra as mudanças climáticas. Em 2013, foram destinados cerca de US$ 5 bilhões para o combate ao aquecimento global. Na próxima década, serão necessários US$ 150 bilhões por ano para combater os eventos extremos. O debate sobre financiamento está entre as prioridades da Conferência do Clima de Paris, a partir do dia 30.

De acordo com o instituto, as nações ricas deveriam dedicar pelo menos 0,1% de seu PIB a um fundo climático internacional. É um índice 70 vezes menor do que o gasto em 2008 para a adoção de políticas contra a recessão econômica.

Os EUA deveriam aumentar suas contribuições aos países pobres em mais de 154 vezes, passando dos US$ 440 milhões gastos em 2013 para US$ 67,5 bilhões em 2025.

A União Europeia precisa multiplicar os seus investimentos em 11 vezes, passando dos US$ 3,2 bilhões vistos em 2013 para US$ 36,9 bilhões em 2025.

Os cálculos são baseados nas emissões históricas — a contribuição atribuída a cada país para provocar as mudanças climáticas — e em sua capacidade de ajudar financeiramente, levando em conta os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Especialista em financiamento climático da ActionAid, Brandon Wu acredita que os países em desenvolvimento estão enfrentando sozinhos “uma crise que não causaram”.

— O problema não é falta de dinheiro — assegura. — Os EUA, por exemplo, gastam muito mais em subsídios para os combustíveis fósseis do que em medidas de adaptação ao clima. É falta de vontade política.

IMPASSE HISTÓRICO

Wu avalia que o financiamento contra as mudanças climáticas pode ser o item mais polêmico entre os discutidos na Conferência do Clima. Tradicionalmente, os países ricos e pobres discordam sobre o tamanho do rombo, e as nações desenvolvidas não concordam em assumir totalmente as indenizações contra o aquecimento global, eximindo economias emergentes, como China e Brasil, de qualquer compromisso financeiro.

— Um novo acordo (global sobre o clima) não é possível sem esclarecimento sobre como serão as finanças — pondera. — Os países em desenvolvimento não podem adaptar suas economias, livrando-as das emissões de carbono, sem apoio internacional. Talvez não consigamos saber exatamente quanto será investido por cada país, mas precisamos impor novos prazos e objetivos. Aqueles discutidos até agora são vagos demais.

Já Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, acredita que as negociações financeiras não devem ser uma prioridade.

— O mais importante é discutir que metas podem impedir o avanço da temperatura global — defende. — O financiamento é um jogo político. Resistimos a abandonar o petróleo, da mesma forma como, antes, não queríamos largar o carvão. Mais do que abrir o cofre, precisamos pensar em um novo modelo econômico, que tipo de capitalismo devemos adotar.

Acordo da conferência de Paris sobre clima terá cumprimento obrigatório (Folha de S.Paulo)

Clóvis Rossi

23/11/2015

A COP21, a conferência global sobre o clima que se inicia no dia 30 em Paris, será de cumprimento obrigatório pelas partes, ao contrário do que tinha dito, na semana passada, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Kerry dissera que não sairia de Paris um tratado, mas seu chefe, o presidente Barack Obama, assinou nesta segunda-feira, 16, com seus pares do G20, texto em que afirmam “a determinação de adotar um protocolo, outro instrumento legal ou um desenlace acordado com força legal nos termos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas”.

É o acordo que prevê limitar o aumento da temperatura na Terra a 2°C até o final do século, em relação aos níveis da era pré-industrial.

Superar esse teto, dizem os especialistas, geraria consequências apocalípticas.

Berk Ozkan/AFP
Líderes do G20 posam para a tradicional foto do grupo durante a cúpula realizada em Antalya, na Turquia
Líderes do G20 posam para a tradicional foto do grupo durante a cúpula realizada em Antalya, na Turquia

Não por acaso, o comunicado final da cúpula do G20, encerrada nesta segunda-feira, 16, em Antalya, afirma que “a mudança climática é um dos grandes desafios de nosso tempo” e que “2015 é um ano crítico, que requer ação efetiva, forte e coletiva sobre a mudança climática e seus efeitos”.

É natural nessas circunstâncias que o tema tenha sido, depois de terrorismo, o que provocou debates mais agudos na cúpula das grandes economias do planeta.

Uma das polêmicas, não resolvida no comunicado final, girou em torno da revisão das INDCs (Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas), ou seja, os compromissos que cada país estabeleceu para si próprio e que levará à COP21.

Já são 160 os países que estabeleceram suas INDCs, Brasil inclusive (a meta brasileira prevê reduzir em 43% a emissão dos gases do efeito estufa até 2030, com base no nível registrado em 2005).

“Vamos cumprir”, assegurou a presidente Dilma Rousseff, “e, se não o fizermos, teremos que prestar contas”.

REVISÃO EM CINCO ANOS

O Brasil apoiou, no G20, a tese de revisão das metas de cinco em cinco anos, mas outros países foram contra, pelo que o comunicado final não a menciona.

Dilma explicou o apoio brasileiro: a revisão a cada cinco anos permitiria analisar a incorporação de tecnologias e modalidades de financiamento que, eventualmente, abreviassem a obtenção das metas.

A presidente se diz otimista sobre o resultado de Paris, entre outras razões porque o formato mudou na comparação com Copenhague, a outra grande cúpula climática: desta vez, serão os chefes de governo que estarão na conferência no momento inicial, indicando claramente as orientações a serem seguidas.

Em Copenhague, foram os negociadores que abriram o encontro, ao qual os chefes de governo compareceram apenas do meio para o fim, com impasses já cristalizados.

AMBIENTALISTAS CRITICAM

O otimismo de Dilma, no entanto, não é compartilhado pelas entidades ambientalistas, que criticaram duramente o comunicado do G20.

“Os chefes de Estado poderiam ter oferecido um claro e poderoso sinal ante a iminência da Cúpula do Clima, pondo uma data para o fim dos subsídios a combustíveis fósseis e concordando em parar de financiar projetos de combustível fóssil ao redor do mundo”, disse, por exemplo, Ümit Sahin, da ONG Pelo Clima.

“Em vez disso” –continuou– “recuperaram posições anteriores e, ao fazê-lo, correm o risco de ficar do lado errado da história.”

Conta das mudanças climáticas é mais alta para nações ricas (O Globo)

ActionAid calcula que países desenvolvidos devem doar 0,1% do PIB a fundo comum

POR O GLOBO

Mulheres polonesas conversam em frente à usina: países desenvolvidos não pagam valores justos para atenuar mudanças climáticas, diz ONG – JOE KLAMAR/AFP

RIO — Um novo estudo da ONG ActionAid denunciou ontem a diferença abissal entre as quantias exigidas e as doadas pelos países desenvolvidos para que as nações mais pobres criem medidas de adaptação contra as mudanças climáticas. Em 2013, foram destinados cerca de US$ 5 bilhões para o combate ao aquecimento global. Na próxima década, serão necessários US$ 150 bilhões por ano para combater os eventos extremos. O debate sobre financiamento está entre as prioridades da Conferência do Clima de Paris, a partir do dia 30.

De acordo com o instituto, as nações ricas deveriam dedicar pelo menos 0,1% de seu PIB a um fundo climático internacional. É um índice 70 vezes menor do que o gasto em 2008 para a adoção de políticas contra a recessão econômica.

Os EUA deveriam aumentar suas contribuições aos países pobres em mais de 154 vezes, passando dos US$ 440 milhões gastos em 2013 para US$ 67,5 bilhões em 2025.

A União Europeia precisa multiplicar os seus investimentos em 11 vezes, passando dos US$ 3,2 bilhões vistos em 2013 para US$ 36,9 bilhões em 2025.

Os cálculos são baseados nas emissões históricas — a contribuição atribuída a cada país para provocar as mudanças climáticas — e em sua capacidade de ajudar financeiramente, levando em conta os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Especialista em financiamento climático da ActionAid, Brandon Wu acredita que os países em desenvolvimento estão enfrentando sozinhos “uma crise que não causaram”.

— O problema não é falta de dinheiro — assegura. — Os EUA, por exemplo, gastam muito mais em subsídios para os combustíveis fósseis do que em medidas de adaptação ao clima. É falta de vontade política.

IMPASSE HISTÓRICO

Wu avalia que o financiamento contra as mudanças climáticas pode ser o item mais polêmico entre os discutidos na Conferência do Clima. Tradicionalmente, os países ricos e pobres discordam sobre o tamanho do rombo, e as nações desenvolvidas não concordam em assumir totalmente as indenizações contra o aquecimento global, eximindo economias emergentes, como China e Brasil, de qualquer compromisso financeiro.

— Um novo acordo (global sobre o clima) não é possível sem esclarecimento sobre como serão as finanças — pondera. — Os países em desenvolvimento não podem adaptar suas economias, livrando-as das emissões de carbono, sem apoio internacional. Talvez não consigamos saber exatamente quanto será investido por cada país, mas precisamos impor novos prazos e objetivos. Aqueles discutidos até agora são vagos demais.

Já Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, acredita que as negociações financeiras não devem ser uma prioridade.

— O mais importante é discutir que metas podem impedir o avanço da temperatura global — defende. — O financiamento é um jogo político. Resistimos a abandonar o petróleo, da mesma forma como, antes, não queríamos largar o carvão. Mais do que abrir o cofre, precisamos pensar em um novo modelo econômico, que tipo de capitalismo devemos adotar.

Upcoming UN Climate Summit can’t overlook China’s support of global coal power (Science Daily)

Date:
October 27, 2015
Source:
Princeton University
Summary:
When global leaders converge on Paris on Nov. 30 for the 2015 United Nations climate change conference, they should create guidelines and incentives for developing nations to cooperate with one another on lower-carbon energy projects, according to a new report. Failure to do so could contribute to an unchecked expansion of coal energy in developing counties, which has already accelerated in recent years with the help of Chinese firms going global.

When global leaders converge on Paris on Nov. 30 for the 2015 United Nations climate change conference, their goal will be to deliver an agreement that, for the first time, seeks to safeguard the Earth’s climate by having all nations that are significant sources of carbon dioxide rein in their emissions.

A threat to that plan might be the unchecked growth of coal-intensive energy in the world’s developing nations — a dangerous trend recently accelerated by the expansion of Chinese firms seeking business internationally, according to researchers from Princeton University, Tongji University in Shanghai and the University of California-Irvine.

The Paris conference is the 21st annual meeting to revisit and strengthen the international environmental treaty known as the UN Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). Created at the 1992 UN Conference on Environment and Development, commonly known as the “Earth Summit,” the treaty sets goals and procedures for signatory nations to contain and reduce carbon emissions.

However, the researchers write in the journal Nature Climate Change that any agreement reached in Paris also should be expanded to provide guidelines and incentives — already under discussion for industrialized countries — for developing nations to cooperate with one another on lower-carbon energy projects. Failure to do this, the authors write, could allow further “dirty” energy cooperation between developing nations and complicate the United Nations’ goal to keep the global average temperature within 2 degrees Celsius of what it was around 1750 at the dawn of the Industrial Age.

“After years of effort to construct a truly global climate agreement, negotiators are on course to accept a system with incoherent rules for developed and developing countries in terms of investing in low-carbon energy outside their borders. We think that may be harmful in the long run,” said lead author Phil Hannam, a doctoral candidate in the Program in Science, Technology and Environmental Policy (STEP) at Princeton’s Woodrow Wilson School of Public and International Affairs.

The paper, which includes the first tally of Chinese involvement in power plants around the world, includes co-authors Michael Oppenheimer, the Albert G. Milbank Professor of Geosciences and International Affairs at Princeton; Zhenliang Liao, an associate professor of environmental science and engineering at Tongji University; and Steven Davis, an assistant professor of earth system science at UC-Irvine.

Carbon emissions continue to rise from energy production as developing nations such as India, Brazil and South Africa fuel their rapid industrialization, the researchers report. At the same time, developing nations such as China have the capital and technology to support other burgeoning economies. But the lack of international attention — and UN incentives — for developing nations to support each other’s energy needs in a low-carbon way has helped keep coal power a popular choice, according to the authors.

Chinese firms — which often have financial or policy backing from China’s state banks — have poured coal-power equipment into other Asian countries, partly as a result of China’s slowing domestic power-market growth. The situation could get worse as China pledges to reduce domestic carbon emissions, according to the paper. The researchers found that of the total power capacities in Asian countries other than China that have involvement from Chinese firms, 68 percent in operation, 77 percent under construction and 76 percent in planning burn coal. This level of involvement in coal exceeds the global trend, Hannam said.

“While China has tightened its belt on coal power domestically, that’s pushing Chinese firms to help build coal plants in other countries, so much so that China’s firms are disproportionately focused in coal-intensive energy abroad relative to other nations,” Hannam said. “Instead, if the UNFCCC integrated low-carbon cooperation between developing countries in the climate agreement, China could lead the way for countries to make pledges for low-carbon investment globally, just as they pledge domestic emissions cuts.”

The loopholes of ‘climate finance’

“Climate finance,” which Hannam and his co-authors focus on, is an important tool for guiding clean-energy development internationally. In an effort to keep global emissions low, a nation’s government — usually in concert with private money — will support low-carbon development in other nations. Richer industrialized nations with a long history of emissions have committed to mobilizing climate finance to the tune of US$100 billion per year by 2020. Some of this funding will flow through the Green Climate Fund established in 2010 to support low-carbon investment in the developing world.

Developing nations — generally with China at the helm — have entered into numerous parallel arrangements to support energy-sector growth in other developing nations. China has established the South-South Cooperation Fund for supporting low-carbon investment.

Several other energy-financing agreements, however, are not only outside the UN’s purview, they often benefit from vastly more funding than the Green Climate Fund or the South-South fund and have no explicit low-carbon directive, the authors reported.

The New Development Bank headquartered in Shanghai and formed by China, Brazil, Russia, India and South Africa to support infrastructure projects in developing countries boasts a starting capital of $100 billion. Some $50 billion in capital is already behind the China-based Asian Infrastructure Investment Bank, and another $40 billion supports China’s Silk Road Fund — both entities are intended to accelerate development in China’s less prosperous neighbors.

Efforts to encourage countries to support low-carbon development is complicated by the fact that there are no universally accepted standards for climate finance, Hannam said. Even the Green Climate Fund may permit financing for coal power.

“This highlights the need for both developed and developing countries to agree to common definitions of what qualifies as climate finance,” Hannam said. “Then the UNFCCC can look across the multiple emerging institutions and provide incentives for all power-sector finance — regardless of country of origin — to shift from coal to lower-carbon sources.”

The issues the authors discuss have already been broached in diplomatic circles, said Oppenheimer, who will be attending the Paris conference in part to promote the ideas laid out in the perspective piece. The United States recently persuaded China to reconsider its carbon-intensive power investments abroad, he said. While American support is crucial, climate finance is a complicated international balancing act that is influenced by many nations’ pursuit of economic gain and influence, Oppenheimer said.

“If the United States stays focused and makes this a priority within its international climate approach, then there’s a fair chance other governments will likewise support such an effort,” Oppenheimer said. “However, there is clearly more to international energy finance than just the United States and China. Japan, for instance, also finances coal power internationally and has a lot at stake politically in China’s Asia-focused institutions. It’s not simple.”

Gilbert Metcalf, a professor of economics at Tufts University and former deputy assistant secretary for environment and energy at the U.S. Department of Treasury, agreed that developing nations also must be brought into the fold. The norm has been for industrialized nations to foot the bill for low-carbon investment in poorer nations. The recent initiatives by China and other developing nations have somewhat upset that dynamic, but countries with small economies might still hesitate to commit themselves to investment standards long applied only to rich countries, said Metcalf, who was not involved in the research but is familiar with it.

Nonetheless, Metcalf said, the paper in Nature Climate Change is significant for taking a proactive approach to dealing with the climate-finance issue, as well as for detailing the energy-sector investments for an emerging financial force such as China.

“Providing some systematic measurement of climate finance is extremely valuable, especially with regard to climate finance from China and other developing countries. As China’s recent announcement to provide climate finance outside of the Green Climate Fund indicates, developing country finance will be an important part of the climate finance architecture,” he said.

“The massive external coal investment highlighted in [this paper] makes clear that South-South investment is not necessarily green investment,” he said. “It also makes clear that incentives built into the Paris agreement — or post-Paris negotiations — to green South-South investment will be extremely valuable to support global efforts to decarbonize.”


Journal Reference:

  1. Phillip M. Hannam, Zhenliang Liao, Steven J. Davis, Michael Oppenheimer. Developing country finance in a post-2020 global climate agreementNature Climate Change, 2015; 5 (11): 983 DOI: 10.1038/nclimate2731

ONU desiste de criar órgão para cuidar de refugiados climáticos (O Globo)

Ideia foi retirada do rascunho de acordo que será levado à Conferência de Paris

POR O GLOBO

Operários cruzam com o Ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, durante sua visita ao local onde será realizada a 21ª Conferência do Clima, em Le Bourget – JACKY NAEGELEN / REUTERS

RIO — O rascunho do acordo global sobre mudanças climáticas, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na última segunda-feira, já mostra alterações feitas, aparentemente, devido a pressões de alguns países. O documento será usado como base para as negociações durante a 21ª Conferência do Clima (COP 21) em Paris, em dezembro.Porém, foi retirada do documento a ideia de se criar um organismo para ajudar as pessoas a escapar dos desastres causados pelas mudanças climáticas.

Segundo o site do jornal britânico “The Guardian”, o passo atrás aconteceu por pressão da Austrália, que vem sendo criticada por sua pouca ambição em diminuir a emissão de gases de efeito estufa. A versão anterior do acordo incluía “instalações para a coordenação dos deslocamentos causados pelas mudanças climáticas” que deveriam prover “migrações organizadas e realocações planejadas”, assim como compensações, em dinheiro, para as pessoas que necessitam deixar suas casas para escapar da elevação do nível do mar, de condições meteorológicas extremas ou se mudar por conta da destruição da agricultura local.

A Austrália, no entanto, se opôs à criação das instalações, e essa medida foi retirada do novo texto. “A Austrália não vê a criação de instalações para a coordenação dos deslocamentos causados pelo clima como a maneira mais eficaz ou eficiente de progredir em direção a uma ação internacional significativa para enfrentar os impactos das mudanças climáticas”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores e Comércio, segundo o jornal “Guardian”. “A Austrália já está trabalhando com os nossos parceiros do Pacífico nessas questões importantes”.O país da Oceania já gastou mais de US$ 50 milhões em projetos de combate às mudanças climáticas no Pacífico e contribuiu com US$ 200 milhões para o Fundo Verde do Clima, mas vem sendo criticado por sua falta de ambição em cortar suas emissões de gases do efeito estufa e não ter um quadro político que apoie a causa de maneira consistente. O novo rascunho de 20 páginas, que substituiu outro, de 90, exortou todas as nações a se comprometerem com políticas de mitigação e endurecerem seus compromissos a cada cinco anos.

O projeto também salienta a importância da cooperação internacional e do apoio aos esforços de adaptação dos países em desenvolvimento, mais vulneráveis aos efeitos da mudança climática. O acordo ainda aponta a necessidade de todos os governos estarem engajados na causa.

Os impactos da mudanças climáticas devem deslocar até 250 milhões de pessoas em todo o mundo até 2050, incluindo muitos habitantes das ilhas do Pacífico. Em algumas áreas do Pacífico, o nível do mar está subindo 1,2 centímetros por ano, quatro vezes mais rápido do que a média global, o que é alarmante. Em ilhas a dois ou três metros acima do nível do mar, comunidades já estão sendo realocadas, e a água potável e as colheitas são constantemente ameaçadas por inundações de água salgada.

A COP 21 terá como principal objetivo costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e, em consequência, limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100.

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/onu-desiste-de-criar-orgao-para-cuidar-de-refugiados-climaticos-17709772#ixzz3o0X1HOcF
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Protocolo de Paris será maior acordo climático do mundo com 190 signatários (Agência Brasil)

01/08/2015 08h36

Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil

A pouco mais de 100 dias para o início da 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), que ocorrerá entre 30 de novembro e 11 de dezembro próximo, em Paris, na França, a perspectiva é de assinatura do maior acordo climático do mundo. O Protocolo de Paris vai substituir o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em fevereiro de 2005. Mas ao contrário do acordo anterior, que tinha metas específicas para um grupo de menos de 40 países desenvolvidos, o Protocolo de Paris será um acordo global que envolverá mais de 190 países que fazem parte da Convenção do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para o coordenador do Observatório do Clima, rede de organizações não governamentais (ONGs) e movimentos sociais que atuam na agenda climática brasileira, André Ferretti, a realidade do mundo mudou bastante de lá para cá. “Muitos países que naquela época tinham um papel bem menor nas emissões globais assumiram posições de mais emissões – como a China – e a economia dos países emergentes evoluiu na economia global em relação ao que ocorria nos anos de 1990. Isso por si só já exige novas formas de tratar da questão”, disse.

O novo acordo será uma espécie de guia de desenvolvimento para o futuro. Ferretti explicou que, por mais que se trate o protocolo como uma discussão ambiental, ele é, na verdade, uma discussão de desenvolvimento, já que vai estabelecer parâmetros para os países signatários seguirem durante as próximas décadas, “até a metade do século, pelo menos”. O intuito é estabilizar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), “para que, ao final do século, não ultrapasse aquecimento superior a 2 graus Celsius (°C) em relação ao que havia no período pré-industrial”.

O coordenador do Observatório do Clima disse que a temperatura da Terra já subiu cerca de 0,8% desde a revolução industrial até hoje. “Estamos falando de um máximo de 1,2 graus. Acima disso, as consequências poderiam ser desastrosas para a humanidade”. Cientistas alertam que nem a espécie humana, nem muitas espécies de animais e plantas passaram por uma temperatura média tão alta. “Então, os riscos são muito maiores”.

Por essa razão, Ferretti afirmou que os países precisam entrar em um acordo. Eles devem apontar medidas domésticas que pretendem colocar em prática para um horizonte de curto prazo, entre 2025 e 2030 e, depois, para um horizonte mais longo, até 2050. A ONU estabeleceu o prazo até 1º de outubro para que os países apresentem suas propostas de redução das emissões de GEE, que constituem a principal causa do aquecimento global. Poucos países encaminharam suas propostas até agora, entre eles estão Noruega, Gabão, Suíça, México e Estados Unidos.

O Brasil, segundo Ferretti, está atrasado no envio de suas metas porque, embora o prazo final seja o início de outubro, havia uma solicitação formal do secretariado da Convenção do Clima para que as propostas fossem enviadas até o final de março, para facilitar a evolução das negociações, uma vez que as propostas terão de ser traduzidas para as seis línguas oficiais da ONU (inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo). Além disso, o esforço de cada país pode ser apresentado em bases distintas umas das outras e ele terá de ser colocado em uma mesma base, para ver o que a população global pretende fazer. “Se o Brasil e outros países deixarem para outubro, corre-se o risco de se chegar no dia 30 de novembro com esses números [de emissões] ainda não muito claros”.

Na avaliação do Observatório do Clima, o Brasil – que esteve sempre na liderança nas negociações internacionais de clima, desde a assinatura da Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) – “nos últimos anos se acomodou”. O governo brasileiro conseguiu reduzir o desmatamento na Amazônia, principal fonte de emissões no país, após 2004, mas a partir daí “ficou em uma situação muito confortável”. Ferretti lembrou, porém, que o Brasil continua emitindo gases de efeito estufa por desmatamento na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga e em outros biomas.

A última estimativa feita pela Rede Observatório do Clima, com base em dados de 2013, mostra que a mudança de uso da terra equivale a 34,6% das emissões brasileiras; energia, 30,2%; agropecuária, 26,6%; indústria, 5,5%; e resíduos, 3,1%. “A gente vê que agropecuária, energia e mudança de uso da terra, juntas, representam mais de 90% das emissões. Infelizmente, o Brasil, nessa última década, aumentou suas emissões em todos os setores avaliados. Só conseguiu reduzir na mudança do uso da terra. E mesmo aí, nós aumentamos um pouco, de novo, nos dois últimos anos”, alertou.

Para o ambientalista, o Brasil está na contramão dos investimentos em fontes limpas de energia. Enquanto países como China e Coreia estão investindo muito em fontes renováveis, como solar e eólica (dos ventos), o Brasil, de acordo com o Plano de Expansão Decenal de Energia 2014/2023, prevê investir em torno de 71% dos investimentos projetados de R$ 1,263 trilhão em combustíveis fósseis e apenas 9,2% em fontes renováveis.

Todas essas questões serão debatidas no 8º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (Cbuc), que ocorrerá no período de 21 a 25 de setembro próximo, em Curitiba (PR). Está programado um simpósio com participação de especialistas internacionais, para discutir o tema da adaptação às mudanças climáticas, de forma a reduzir os impactos delas para a sociedade em geral.

Edição: Denise Griesinger

Obama is paving the way for success in Paris (Grist)

President Obama deserves major props for laying the groundwork for successful climate change negotiations in Paris this December. The effort, much of which has happened behind the scenes, doesn’t have the simple sex appeal of rejecting Keystone XL, but it will have a much greater global impact.

Over the last year, the Obama administration has wrung groundbreaking climate commitments from China and Brazil, and started making progress with India. The China and Brazil deals exceeded what informed observers had realistically hoped for — they have moved the needle on what’s politically possible and they are building momentum for U.N. talks in Paris. Most importantly, the fact that these countries are working with the U.S. on climate change and pledging to curb their emissions at all means we have crossed the crucial threshold to getting a climate agreement.

First, a quick overview of where things stand with China, India, and Brazil, which are the first, second, and fifth largest countries by population and the first, fourth, and seventh in total greenhouse gas emissions.

  • On June 30, the U.S. and Brazil jointly announced a set of climate and clean-energy goals. Both will ramp up non-hydro renewable energy sources to 20 percent of their electricity-generation portfolio by 2030. That would double the renewable share in Brazil and triple it in the U.S. Brazil also pledged to reforest 30 million acres of the Amazon and crack down on illegal deforestation. Just as important, the two nations promised to work together in Paris for a strong global accord.
  • Also on June 30, China released the formal pledge it will be taking to the Paris talks, known as an “intended nationally determined contribution,” or INDC. Back in November, in a game-changing breakthrough, China and the U.S. jointly announced new climate goals. While the U.S. pledged to cut carbon emissions from 2005 levels by 26 to 28 percent by 2025, China promised to make its emissions peak by 2030 and aim for an approximately 20 percent clean energy portfolio by that same year. (That triggered some predictable carping from Republicans that China got the better of the deal, but their analysis conveniently ignores the fact that the U.S. is far richer and a far bigger cumulative climate polluter than China.) And now China’s INDC goes a little further with a new goal for lowering its carbon intensity — the amount of greenhouse gas pollution generated for each dollar of economic output — by 60 to 65 percent from 2005 levels by 2030. The country is also planning a major reforestation campaign and a national cap-and-trade system.
  • India is the laggard here, in that it hasn’t submitted an INDC or even detailed plans the way Brazil has. But in January, Indian Prime Minister Narendra Modi and President Obama announced cooperation on expanding clean energy investment in India. The two also pledged to cooperate closely in the runup to Paris, which in itself marks progress. Expert observers say that India’s INDC, when it does come out, will likely contain ambitious wind and solar energy targets.

A year ago, a pessimist like me would not have predicted we would be here today. For two decades, large developing countries have refused to curb their emissions, arguing that they can’t be constrained as they try to lift their populations out of poverty, and that rich countries have been responsible for most of the historic climate pollution. In 2009, at the last big U.N. climate negotiations in Copenhagen, the major developing countries made much less ambitious pledges than they have this time around, merely promising to reduce carbon intensity or slow emissions growth compared to business-as-usual scenarios.

As recently as last September, at the U.N. Climate Summit in New York, this dynamic persisted. Leaders of large developing nations such as Brazil and Indiapointedly insisted on their right to develop economically without having to sacrifice their country’s well-being to clean up a mess rich nations created. Speaking at the summit, Brazilian President Dilma Rousseff said her country did not intend to despoil the environment in pursuit of economic development, but also forcefully said, “We will not relinquish the need to reduce inequalities and raise the living standards of our people.” China, meanwhile, was coy. Vice Premier Zhang Gaoli said the country would announce goals for reductions in carbon intensity and renewable energy deployment “as soon as we can.”

But now, thanks in large part to aggressive diplomatic efforts by the Obama administration, what once seemed impossible is happening: Developing nations are getting on board to curb their emissions and participate fully in a comprehensive global climate change agreement. Getting that initial buy-in from these big developing players is a necessary precondition to getting any agreement to substantially reduce emissions. Until now, it has proven elusive because of a problem every college freshman studying game theory could understand: It only makes sense to cut your emissions if everyone else does too. Building the trust that everyone will step up is essential. American conservatives have long argued against climate action by saying that China isn’t doing anything, so the U.S. shouldn’t either. With remarkable speed, that talking point has been knocked down.

“Three years ago, if you had said, ‘China will commit to peak its emissions,’ people would have thrown you out of the room,” says Jake Schmidt, director of the Natural Resources Defense Council’s international program.

The Obama administration has been able to convince developing nations to work with us on climate change because the president’s Climate Action Plan — particularly its largest component, the Clean Power Plan to regulate emissions from power plants — demonstrates that we’ll uphold our end of the bargain. “The No. 1 question we get from Chinese officials is, ‘What is the U.S. doing to reduce its own emissions?’” says Schmidt. The Climate Action Plan, announced in June 2013, showed other countries exactly what the Obama administration would do under executive authority. Says Schmidt: “The more the plan was implemented, the more that showed the Chinese that this is something the U.S. isn’t just talking about, it’s something the U.S. is going to do.” And the plan paved the way for the U.S.’s INDC, submitted in March, which reiterates the goal of cutting carbon emissions 26 to 28 percent below 2005 levels by 2025, and lays out plans to achieve that, such as new emissions standards on heavy-duty vehicles.

The breakthrough with China last fall has had a cascading effect: Now that the biggest developing nation has shown that it’s willing to coordinate with the U.S. on climate policy, other developing nations are more comfortable doing so too.

Brazil’s Rousseff may have been especially interested in showing global climate leadership, and partnering with Obama, because she has been embroiled in a corruption scandal that has damaged her popularity back home. “Everything we’ve heard from Brazilian experts is that Dilma has been forced to talk about and focus on climate change because Obama has raised it with her, starting with the Summit of the Americas in Panama in April,” says Schmidt. “If you’re Dilma, standing next to the leader of the world’s largest economy and still the world superpower, that’s a good platform.” In her remarks with Obama after that meeting, Rousseff singled out climate change as “a much-needed area for joint initiatives,” and two and half months later the two leaders made their joint climate announcement.

Few major steps forward are unaccompanied by a caveat. In this case, that would be the fact that the pledges made thus far would not cut emissions to the extent needed to limit global warming to 2 degrees Celsius, or 3.6 degrees Fahrenheit, above pre-industrial levels — the widely agreed-upon goal of international climate negotiations. Every news article on the Brazil-U.S. announcement was sure to note that. In fact, no matter what pledges emerge as part of a Paris agreement, there’s little chance of staying below 2C. As David Roberts recently explained, that would require both massive emissions cuts across the globe and a huge program of carbon capture and sequestration.

But rather than getting discouraged by what the Paris pledges leave to be desired, climate hawks should be enthused by the promise they hold. “The first step is always the hardest,” says Schmidt. “As [countries] implement their INDCs, they’ll find it’s easier to go much farther and faster than they could imagine in 2015 because, lo and behold, it doesn’t blow up your economy. And the cost of wind and solar becomes much cheaper over time, and then the politics of going more aggressive becomes much easier. Paris and these commitments is not the end of the story.” That’s why pragmatic climate action groups like Al Gore’s Climate Reality Project are talking about “Paris and Beyond.”

Even though major scientific bodies have generally settled on staying below 2C of warming as the way to avert catastrophic climate change, it is not a magic threshold. Climate change is not controlled by an on or off switch located right at exactly 2 degrees. It is a continuum, albeit one with a steep curve. We’ve already damaged the Earth’s atmosphere, and we’ll damage it a lot more even if we stop at 1.9 degrees of warming. Some feedback loops and other cataclysmic effects are expected to kick in around 2 degrees, but 2.1 degrees of warming would be better than 2.5. Global warming of 3 degrees would be vastly worse, but still far less bad than 4 or 5 degrees. As Vox’s Brad Plumer writes, “Climate change isn’t an issue with a single point of ‘success’ or a single point of ‘failure.’”

We can’t stop all the bad effects of climate change, but now that major developing countries are playing ball, we have a better chance at stopping some of them. That’s cause to applaud progress so far — and cause to push for as much more as we can get.

Quebra de protocolo (Folha de S.Paulo)

19/02/2015

O Protocolo de Kyoto –controverso tratado de 1997 para conter a mudança do clima– teve escasso sucesso. A melhor evidência disso está no fato de as negociações internacionais sobre o tema tomarem hoje rumo muito diferente.

Nada assegura, no entanto, que uma trilha bem-sucedida se iniciará na decisiva conferência de Paris, a ser realizada em dezembro.

Neste fevereiro faz dez anos que o protocolo entrou em vigor, após a ratificação por 189 países. O acordo estabelecia que 37 nações industrializadas reduziriam suas emissões de gases do efeito estufa em 5% no período de 2008 a 2012, tomando por base o ano de 1990.

A meta foi alcançada com folga. Os países comprometidos cortaram em 22,6% a poluição que aprisiona radiação solar na atmosfera, aquecendo-a além da conta. Assim, falar em fracasso parece mesquinho.

Ocorre que as emissões globais subiram 16,2% até 2012. O clima mundial seguiu firme na rota do aquecimento porque não participavam do tratado os dois maiores poluidores, China e Estados Unidos.

O primeiro, por ser um país em desenvolvimento –e que desenvolvimento: sua economia cresceu a taxas próximas de 10% ao ano. O segundo, por força da política doméstica, uma vez que a eleição do presidente democrata Barack Obama foi incapaz de reverter o veto congressual a qualquer acordo que excluísse a China.

Ao final do primeiro período de Kyoto, em 2012, tentou-se em Doha (Qatar) um novo e mais ambicioso objetivo: reduzir em 18% as emissões até 2020. Apenas 23 nações aderiram à meta até agora.

O fracasso da via aberta em 1997 e pavimentada em 2005 foi sobretudo político. Obter consenso entre diversos países em torno de objetivos que possam ser monitorados e cobrados por uma instância internacional parece cada vez mais inviável, assim como a transferência de recursos e tecnologia, anátema entre potências desenvolvidas.

A alternativa surgida na tortuosa negociação diplomática sobre mudança do clima, após o fiasco da Cúpula de Copenhague (2009), foi afrouxar compromissos. Eles podem agora ser voluntários, e cada nação propõe quando planeja alcançá-lo e com base em qual ano.

Há amplo ceticismo, porém, quanto à chance de que a estratégia desvinculante produza o resultado esperado, a saber, impedir que o aquecimento ultrapasse 2°C neste século. Além desse limite, a ciência indica risco acentuado de desastres como secas duradouras e enchentes avantajadas.

Todas as atenções se voltam para o fim do outono em Paris.

*   *   *

Kyoto, 10, engatinha

16/02/2015

Protocolo, que entrou em vigor em 2005, fracassou em reduzir emissões mundiais de gases-estufa; para piorar, novas metas, traçadas em 2012, só tiveram 23 adesões

MAURÍCIO TUFFANI

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dez anos após ter entrado em vigor, o Protocolo de Kyoto tem um diagnóstico claro: o acordo fracassou em reduzir as emissões mundiais de gases-estufa, que cresceram 16,2% de 2005 a 2012.

O pacto internacional, porém, não foi de todo inócuo e teve certo sucesso em conscientizar a sociedade e implantar projetos ambientais, tecnológicos e de desenvolvimento econômico para prevenir o agravamento do aquecimento global.

Concluído em 1997 em Kyoto, no Japão, o protocolo estabelecia metas de redução das emissões de gases-estufa. Só em 2005 ele adquiriu força para entrar em vigor, com a ratificação pela Rússia.

O protocolo teve 189 ratificações, entre elas a do Brasil, em 2002. Mas suas novas metas de redução de emissões de 2013 a 2020, estabelecidas em 2012 no Qatar, só tiveram até agora 23 adesões.

Em um balanço, a secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) destacou que 37 países, a maioria da União Europeia, superaram sua meta de reduzir em 5% suas emissões até 2012.

A agência, contudo, deixou de lado os números do aumento global das emissões e o alerta enfático feito em 2014 por seu braço científico, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática): não há mais tempo para reduzir a concentração de gases-estufa para que o aumento médio da temperatura da superfície terrestre até 2100 seja inferior a 2º C.

Essa elevação traria como consequência mais secas, derretimento de geleiras e inundações de zonas costeiras pela elevação dos oceanos.

Para evitar esse cenário, seria preciso reduzir as emissões em 80% até 2050.

PERDAS E GANHOS

“Estou convencida de que sem o protocolo de Kyoto não estaríamos avançados como hoje na crescente penetração das energias renováveis”, disse Christiana Figueres, secretária-executiva da UNFCCC.

Figueres também destacou cerca de 7.800 projetos de apoio a países em desenvolvimento, envolvendo benefícios de até US$ 13,5 bilhões para reduzir emissões por desmate e para “sequestro de carbono” da atmosfera por meio de recuperação e ampliação de florestas.

“Se olharmos quantitativamente para as emissões, o protocolo falhou. Mas sem ele a União Europeia não teria atingido grandes avanços nas reduções”, diz Carlos Nobre, que acaba de assumir o cargo de diretor do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais).

Nobre ressalta que a Alemanha mostrou que é possível reduzir os gases-estufa sem diminuir seu PIB. “Vejo com otimismo esse efeito pedagógico”, disse Nobre.

Já para o físico da USP e membro do IPCC Paulo Artaxo, ainda que o tratado tenha aumentado a adesão de novas tecnologias e a conscientização para o que ele chama de “problema mais sério já enfrentado pela humanidade”, houve, além do aumento da concentração de carbono na atmosfera, acúmulo de CO2 nos oceanos, o que pode causar desequilíbrios para a vida marinha.

PERSPECTIVAS

Segundo Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, a próxima conferência do clima, em dezembro, em Paris, poderá ter avanços graças ao recente acordo entre EUA (que assinaram mas não ratificaram o Protocolo de Kyoto) e China.

Para ele, um dos grandes desafios para os governos, inclusive o do Brasil, é o planejamento econômico e energético. Ele afirma que isso ainda é feito sem assimilar as mudanças climáticas, e a atual crise energética e hídrica do país é prova disso.

Fabio Feldmann, secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade e ex-secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, afirma ainda que a redução de desmatamentos no Brasil criou uma “falsa impressão” de que o país pode continuar com os mesmos níveis de emissões em outros setores.

De fato, enquanto as emissões por desmates no país diminuíram 64% de 2005 a 2013, as das atividades agropecuárias e do consumo de energia cresceram, respectivamente, 6% e 42%, segundo o Observatório do Clima.

“Há tecnologia para redução de emissões”, diz pesquisador Paulo Artaxo (Zero Hora)

Considerado uma das principais autoridades em mudanças climáticas, físico afirma que o Protocolo de Kyoto “já é letra morta”

por Bruno Felin

24/01/2015 | 11h23

"Há tecnologia para redução de emissões", diz pesquisador Paulo Artaxo Anxo Lamela/Anxo Lamela

Camadas de gelo da Groelândia perdem aproximadamente 258 bilhões de toneladas ao anoFoto: Anxo Lamela / Anxo Lamela

Paulo Artaxo é uma das principais autoridades em mudanças climáticas a representar o Brasil nas conferências da ONU. O físico da Universidade de São Paulo tem mais de 300 trabalhos publicados, parte deles nas grandes revistas científicas do mundo. É uma das pessoas a colocar o país como referência em estudos sobre o clima.

Como o mundo saiu da conferência em Lima, no Peru? Há um rascunho de acordo?
Paulo Artaxo: 
Não há um rascunho. Há, no máximo, uma tentativa de se fazer um acordo para redução de emissões, mas não há nenhum compromisso concreto com uma possivel verificação (de quem cumpre ou não). Isso, infelizmente, ainda não existe. O Protocolo de Kyoto foi uma ferramenta importante, mas já é letra morta, não foi cumprido pela falta de penalidade para quem não cumpre.

Evidências comprovam a urgência da luta contra o aquecimento global
Mudanças climáticas se tornam debate urgente em 2014
As técnicas mirabolantes da geoengenharia para conter o aquecimento global

O que emperrou para que esse encontro tivesse mais resultados concretos?
Paulo Artaxo: 
Obviamente, o que emperra são as velhas questões de sempre: quem paga a conta e como é que são divididas as responsabilidades do ponto de vista das reduções de emissões. Alguns países, como os Estados Unidos, não aceitam fazer nenhum tipo de redução se a China, por exemplo, que é o seu grande competidor, também não fizer uma redução. Essa é a questão.

Quanto ao proximo acordo, temos de ficar otimistas ou pessimistas?
Paulo Artaxo: Não é questão de ficar otimista, ou jogo de sim ou não. É fundamental que se façam políticas de redução de emissão de gases do efeito estufa, principalmente no setor de energia. Isso é fundamental, a estabilidade do clima no planeta no futuro depende disso. Agora, isso não é a única coisa relevante no nosso planeta, você tem questões econômicas, tecnológicas e políticas para tratar com isso. Então, não podemos simplesmente imaginar que vamos chegar em Paris, vamos sentar e redigir o novo acordo, e todo mundo vai ficar feliz. Não funciona desse jeito. É um longo processo, que esperamos que tenha sucesso, mas não se espera que saia um acordo para reduzir 80% das emissões. Talvez fique em 20% até 2050.

O que esperar da Cúpula do Clima
Relatório da Onu conclui que emissões de gases têm de zerar até 2100
“O Brasil é um dos exemplos mais importantes”

Temos tecnologia para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. O desafio é barateá-la?
Paulo Artaxo: Na verdade não é uma questão tecnológica. Há tecnologia para redução de emissões em todos os setores. Por exemplo, o setor mais óbvio é a indústria automotiva. Existe tecnologia para reduzir as emissões dos automóveis em pelo menos 50%. A questão é ter políticas públicas que ponham essas tecnologias em uso. Tem que obrigar as fábricas a fazer carros mais eficientes no menor prazo possível. Se isso não acontece, as fábricas vão continuar colocando no mercado carros extremamente ineficientes e totalmente inapropriados para a questão climática como a gente tem hoje.

Nos gráficos abaixo, as evidências demonstram a urgência por ações:

Níveis de CO2Os níveis de CO2 sempre variaram durante a história da Terra. Ao respirar, as plantas retiram o CO2 da atmosfera, ficam com o carbono e soltam oxigênio. Os animais puxam o oxigênio e soltam CO2. Um balanço perfeito. Durante centenas de milhares de anos, os seres vivos foram morrendo e esse material indo cada vez mais para o fundo da Terra. Ao ser exposto a calor e pressão, se transformou nos combustíveis fósseis: petróleo, gás e carvão. E aí mora o nosso problema: todo esse carbono que demorou centenas de milhares de anos para se formar está voltando para a atmosfera em apenas algumas centenas de anos.

Veja animação com o aumento do CO2 ao longo dos anos:

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_grafico_aquecimentoglobal/co2.html

Aumento da temperatura

A temperatura oscilou durante toda a história do planeta acompanhando os níveis de CO2 na atmosfera. Cientistas estimam que os gases do efeito estufa emitidos pelo homem demorem 50 anos para começar a alterar os níveis de CO2 medidos. Por isso é perceptível que, após a revolução industrial, a temperatura tenha aumentado tanto.

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_arte_infograficos_imagem_estatica/index.html?img=http://zerohora.clicrbs.com.br/rbs/image/17179158.jpg


Em animação, veja onde a temperatura aumentou nos últimos anos:

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_grafico_aquecimentoglobal/temperature.html

Aumento do nível dos oceanos

O aumento do nível do mar se dá por dois fatores relacionados ao aquecimento global: a água que vem do derretimento do gelo da terra e a expansão natural da água quando esquenta. Em média, o nível do mar está subindo 3.17 milímetros por ano. No último século, foram 17 centímetros.

Em gráfico, acompanhe o aumento do nível do mar:

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_arte_infograficos_imagem_estatica/index.html?img=http://zerohora.clicrbs.com.br/rbs/image/17179157.jpg

Desmatamento

Manter as florestas de pé é fundamental para combater o aquecimento, pois as plantas absorvem o CO2 e liberam oxigênio. O Brasil tem a segunda maior área de florestas do mundo, atrás apenas da Rússia, e já desmatou muito a Amazônia. Porém, os números vêm reduzindo, somos exemplo para outros países.

Em gráfico, veja o desmatamento da Amazônia nos últimos anos:

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_arte_infograficos_imagem_estatica/index.html?img=http://zerohora.clicrbs.com.br/rbs/image/17179343.jpg

Massa de gelo

As camadas de gelo da Antartica reduziram cerca de 147 bilhões de toneladas por ano enquanto as da Groelândia perderam aproximadamente 258 bilhões de toneladas ao ano. No Ártico, a média de declínio da camada de gelo é de 13,3% por década (relativo às médias de 1981 a 2010).

Veja como ficaram alguns pontos do globo antes e depois dos efeitos das mudanças climáticas:

http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/zh_grafico_aquecimentoglobal/antesdepois/index.html

Brasil chega a Lima na contramão dos esforços globais contra mudanças do clima (Observatório do Clima)

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02/12/2014 – 12h35

por Bruno Toledo, do Observatório do Clima

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Com emissões em alta, mesmo com baixo crescimento econômico, Brasil começa a COP20 numa posição mais frágil que em outras conferências do clima.

A capital do Peru será a capital global dos esforços contra as mudança do clima pelas próximas duas semanas. Começou nesta segunda a 20ª Conferência das Partes (COP 20) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em espaço montado no quartel general do Exército peruano em Lima. Pelos próximos 14 dias, negociadores de mais de 190 países se reunirão com a dura missão de desatar os nós que impedem o enfrentamento global efetivo das mudanças climáticas.

O principal objetivo da COP 20, sem dúvidas, será avançar na estrutura do futuro acordo climático internacional que sucederá o Protocolo de Quioto a partir de 2021, mas que precisa ter seu texto finalizado e aprovado pelos governos até a próxima Conferência do Clima, que acontece daqui a 12 meses em Paris.

O cenário em Lima é favorável para esse avanço. Os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, a China e os Estados Unidos, apresentaram compromissos importantes rumo a uma redução substancial de suas emissões nas próximas décadas. Mesmo que esses anúncios não sejam tão ambiciosos como o necessário, eles são sinais importantes da disposição desses países para enfrentar o desafio climático.

Outro motivo para otimismo é o avanço na capitalização do Fundo Climático Verde (GFC, sigla em inglês), que conseguiu angariar US$ 9,7 bilhões, graças às doações recentes de países como Espanha, Estados Unidos e Reino Unido. O valor praticamente bate a meta prevista pela UNFCCC para o final de 2014, e esses recursos serão importantes para financiar ações urgentes em adaptação e mitigação das mudanças do clima em países em desenvolvimento.

Por fim, o ímpeto dado pela Cúpula do Clima, realizada em setembro passado em Nova York, criou um movimento importante para a sociedade civil internacional pressionar os governos por ações climáticas mais ambiciosas e efetivas. Mesmo que os resultados concretos da Cúpula tenham sido mais simbólicos que práticos, o encontro de chefes de governo em Nova York ajudou a colocar o tema climático novamente na agenda mainstream da política internacional e incentivou a mobilização de milhões de pessoas pelo mundo.

Se o contexto global é favorável para avanços práticos, o contexto brasileiro não poderia ser tão contrastante. Como o Observatório do Clima apontou, a partir dos dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG), as emissões brasileiras aumentaram 7,8% em 2013, mesmo com o baixo crescimento apresentado pelo país no ano passado (2,6%).

Entre 2012 e 2013, a Amazônia sofreu com o aumento da taxa de desmatamento em 29%, que interrompeu uma sequência de quase uma década de reduções significativas. No ano passado, as emissões associadas ao desmatamento subiram 16%, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima. Mesmo com o anúncio recente dos dados do PRODES, que apontam para uma redução de 18% na taxa entre 2013 e 2014, informações do DETER e do Imazon já apontam para uma retomada acelerada do desmatamento nos últimos meses, o que pode colocar em risco a pequena recuperação apontada pelo PRODES.

COP20 0001 Brasil chega a Lima na contramão dos esforços globais contra mudanças do clima

Além disso, quase 70% dos investimentos federais em energia nos próximos anos estão direcionados para fontes fósseis em energia, que vão inevitavelmente sujar nossa matriz energética. Exemplo recente do retrocesso disso foi o leilão de energia realizado na semana passada, que ressuscitou o carvão mineral, incluindo na base da matriz energética.

Esse contexto doméstico fragiliza a posição brasileira nas negociações climáticas, com reflexos imediatos no processo diplomático atual. Por exemplo, o governo brasileiro cogita encaminhar suas contribuições nacionalmente definidas, base para a conclusão dos futuros compromissos do Brasil no novo acordo climático, apenas no final do primeiro semestre de 2015, meses depois do deadline original recomendado por decisão da COP 19, realizada em Varsóvia no ano passado. Ou seja, o Brasil está abrindo mão da sua condição de liderança política em clima, esperando para ver o que outros países farão para depois definir o que podemos fazer.

Enquanto o Brasil retrocede, as mudanças do clima já fazem parte da realidade dos brasileiros, impondo custos altíssimos para o país, devido ao clima extremo – particularmente nos últimos meses, com a estiagem que aflige o Sudeste e a seca que atinge todo o semiárido do Nordeste há alguns anos.

O Observatório do Clima espera que o Brasil assuma uma posição condizente com aquilo que já apresentou em conferências passadas, alinhada com aquilo que se espera do país nesse momento importantíssimo das negociações climáticas. Somos um dos maiores emissores do planeta e temos condição para avançar efetivamente em esforços mais substanciais de redução de nossas emissões – por exemplo, reduzindo o desmatamento amazônico para zero, ampliando os investimentos para agricultura de baixo carbono e revertendo a queda da participação de fontes renováveis em nossa matriz energética, através de investimentos maciços em renováveis modernas. Se colocarmos o avanço em nossos esforços climáticos como estratégico para o Brasil, isso será positivo para a competitividade de nossa indústria e para a geração de novos empregos em setores importantes como energia solar, hoje estratégicos para países como China e Estados Unidos.

* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.

(Observatório do Clima)

Fundo contra o aquecimento atinge US$ 9,7 bi (Folha de S.Paulo)

Este valor quase bateu a meta de US$ 10 bilhões sugerida pela convenção do clima da ONU

Um fator que também contribuiu para o clima de otimismo com que começa a COP 20 foram as últimas contribuições ao Fundo Verde do Clima, principal mecanismo de financiamento previsto para o acordo a ser firmado.

Veja o texto na íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/198000-fundo-contra-o-aquecimento-atinge-us-97-bi.shtml

(Rafael Garcia/ Folha de S.Paulo)

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Reunião do clima começa otimista e aflita

China e EUA injetam ânimo na negociação de acordo contra aquecimento, mas promessas ainda são insuficientes

A 20ª conferência do clima da ONU, COP 20, começa hoje em Lima, no Peru, num ambiente que mescla otimismo e aflição. Apesar de um recente acordo entre China e EUA ter dado ao planeta a perspectiva de avançar na redução de emissões de gases do efeito estufa, promessas ainda estão aquém daquilo que a ciência diz ser necessário para evitar um aquecimento “perigoso” do planeta.

Veja o texto na íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/197998-reuniao-do-clima-comeca-otimista-e-aflita.shtm

(Rafael Garcia/ Folha de S.Paulo)

Outra matéria sobre o assunto em:

O Globo

Em Lima, as bases de um acordo climático em jogo a partir desta segunda
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/em-lima-as-bases-de-um-acordo-climatico-em-jogo-partir-desta-segunda-14703871#ixzz3Kecr4CSb

Optimism Faces Grave Realities at Climate Talks (New York Times)

WASHINGTON — After more than two decades of trying but failing to forge a global pact to halt climate change, United Nations negotiators gathering in South America this week are expressing a new optimism that they may finally achieve the elusive deal.

Even with a deal to stop the current rate of greenhouse gas emissions, scientists warn, the world will become increasingly unpleasant. Without a deal, they say, the world could eventually become uninhabitable for humans.

For the next two weeks, thousands of diplomats from around the globe will gather in Lima, Peru, for a United Nations summit meeting to draft an agreement intended to stop the global rise of planet-warming greenhouse gases.

The meeting comes just weeks after a landmark announcement by President Obama and President Xi Jinping of China committing the world’s two largest carbon polluters to cuts in their emissions. United Nations negotiators say they believe that advancement could end a longstanding impasse in the climate talks, spurring other countries to sign similar commitments.

Photo

A child walking near her home with a coal-fired power plant in the background in Beijing, China. CreditKevin Frayer/Getty Images 

But while scientists and climate-policy experts welcome the new momentum ahead of the Lima talks, they warn that it now may be impossible to prevent the temperature of the planet’s atmosphere from rising by 3.6 degrees Fahrenheit. According to a large body of scientific research, that is the tipping point at which the world will be locked into a near-term future of drought, food and water shortages, melting ice sheets, shrinking glaciers, rising sea levels and widespread flooding — events that could harm the world’s population and economy.

Recent reports show that there may be no way to prevent the planet’s temperature from rising, given the current level of greenhouse gases already in the atmosphere and the projected rate of emissions expected to continue before any new deal is carried out.

That fact is driving the urgency of the Lima talks, which are expected to produce a draft document, to be made final over the next year and signed by world leaders in Paris in December 2015.

While a breach of the 3.6 degree threshold appears inevitable, scientists say that United Nations negotiators should not give up on their efforts to cut emissions. At stake now, they say, is the difference between a newly unpleasant world and an uninhabitable one.

“I was encouraged by the U.S.-China agreement,” said Michael Oppenheimer, a professor of geosciences and international affairs at Princeton University and a member of the United Nations Intergovernmental Panel on Climate Change, a global body of scientists that produces regular reports on the state of climate science. But he expressed doubts that the threshold rise in global temperature could be prevented.

“What’s already baked in are substantial changes to ecosystems, large-scale transformations,” Mr. Oppenheimer said. He cited losses of coral reef systems and ice sheets, and lowering crop yields.

Still, absent a deal, “Things could get a lot worse,” Mr. Oppenheimer added. Beyond the 3.6 degree threshold, he said, the aggregate cost “to the global economy — rich countries as well as poor countries — rises rapidly.”

Felipe Calderón, the chairman of the Global Commission on the Economy and Climate and former president of Mexico. CreditRichard Drew/Associated Press 

The objective now, negotiators say, is to stave off atmospheric temperature increases of 4 to 10 degrees by the end of the century; at that point, they say, the planet could become increasingly uninhabitable.

Officials at the National Oceanic and Atmospheric Administration are already reporting that 2014 appears likely to be the warmest year on record.

Since 1992, the United Nations has convened an annual climate change summit meeting aimed at forging a deal to curb greenhouse gases, which are produced chiefly by burning coal for electricity and gasoline for transportation. But previous agreements, such as the 1997 Kyoto Protocol, included no requirements that developing nations, such as India and China, cut their emissions. And until now, the United States has never headed into those summit meetings with a domestic climate change policy in place.

This spring, a report by 13 federal agencies concluded that climate change would harm the American economy by increasing food prices, insurance rates and financial volatility. In China, the central government has sought to quell citizen protests related to coal pollution.

In June, Mr. Obama announced a new Environmental Protection Agency rule forcing major emissions cuts from coal-fired power plants. State Department negotiators took the decision to China, hoping to broker a deal for a similar offer of domestic action. That led to November’s joint announcement in Beijing: The United States will cut its emissions up to 28 percent by 2025, while China will decrease its emissions by or before 2030.

“Our sense is that this will resonate in the broader climate community, give momentum to the negotiations and spur countries to come forward with their own targets,” said Todd Stern, Mr. Obama’s lead climate change negotiator. “The two historic antagonists, the biggest players, announcing they’ll work together.”

Other negotiators agree. “The prospects are so much better than they’ve ever been,” said Felipe Calderón, the former president of Mexico and chairman of the Global Commission on the Economy and Climate, a research organization.

The aim of negotiators in Lima is, for the first time, to produce an agreement in which every nation commits to a domestic plan to reduce greenhouse gas emissions, along the model of the United States-China agreement. Negotiators expect that by next March, governments will make announcements similar to those made by the United States and China.

The idea is for each country to cut emissions at a level that it can realistically achieve, but in keeping with domestic political and economic constraints. World leaders would sign a deal in Paris next year committing all those nations to their cuts, including a provision that the nations regularly reconvene to further reduce their emissions.

The problem is that climate experts say it almost certainly will not happen fast enough. A November report by the United Nations Environment Program concluded that in order to avoid the 3.6 degree increase, global emissions must peak within the next 10 years, going down to half of current levels by midcentury.

But the deal being drafted in Lima will not even be enacted until 2020. And the structure of the emerging deal — allowing each country to commit to what it can realistically achieve, given each nation’s domestic politics — means that the initial cuts by countries will not be as stringent as what scientists say is required.

China’s plan calls for its emissions to peak in 2030. Government officials in India, the world’s third-largest carbon polluter, have said they do not expect to see their emissions decline until at least 2040.

While Mr. Obama has committed to United Nations emissions cuts through 2025, there is no way to know if his successor will continue on that path.

That reality is already setting in among low-lying island nations, like the Marshall Islands, where rising seas are soaking coastal soil, killing crops and contaminating fresh water supplies.

“The groundwater that supports our food crops is becoming inundated with salt,” said Tony A. deBrum, foreign minister of the Marshall Islands. “The green is becoming brown.”

Many island nations are looking into buying farmland in other countries to grow food and, eventually, to relocate their populations.

In Lima, those countries are expected to demand that a final deal include aid to help them adapt to the climate impacts that have already arrived.

“Sonâmbulos” decidem a sorte de conferência climática em Bonn (IPS)

24/10/2014 – 10h52

por Stephen Leahy, da IPS

huracan “Sonâmbulos” decidem a sorte de conferência climática em Bonn

Bonn, Alemanha, 24/10/2014 – As 410 mil pessoas que saíram às ruas para reclamar medidas durante a Cúpula do Clima da ONU se indignariam diante dos atrasos e das posturas políticas de sempre que se observa em uma rodada fundamental das negociações para acordar um tratado climático mundial, em curso nesta cidade alemã.

As declarações dos países presentes na conferência, que começou no dia 20 e terminará no dia 25, no Centro Mundial de Congressos de Bonn, ignoraram os pedidos dos organizadores para serem breves em suas declarações de abertura para ser possível trabalhar na última semana de conversações antes da vigésima Conferência das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática que acontecerá em Lima, no Peru, entre 1º e 12 de dezembro.

A COP 20 acordará um projeto de tratado climático destinado a evitar o catastrófico superaquecimento do planeta. Um ano mais tarde, os governantes de quase 200 Estados deverão assinar em Paris um novo convênio sobre o clima. Se o resultado das negociações não for contundente e não se conseguir garantir o rápido abandono do uso de combustíveis fósseis, centenas de milhões de pessoas sofrerão e países inteiros entrarão em colapso.

O projeto atual do tratado é muito fraco e os delegados pecam pelo “sonambulismo” em Bonn, enquanto “os dados científicos sobre o clima se agravam”, afirmou aos negociadores presentes, Hilary Chiew, da Rede do Terceiro Mundo.

Os delegados estão habituados a ouvir uma ou duas “intervenções” oficiais por parte da audiência, que tem um limite de tempo restrito e frequentemente não superam os 90 segundos. Esses discursos, apesar da paixão e eloquência de muitos, raramente comovem os delegados que, em sua maioria, se limita a seguir as instruções dadas por seus governos. “Apegar-se às posturas não é negociar”, recordou o copresidente da conferência, Kishan Kumarsingh, de Trinidad e Tobago.

Em Bonn há poucos membros da sociedade civil que podem presenciar quantos países se apegaram às suas posições de curto prazo e defensoras de seus próprios interesses, em lugar de enfrentar o maior desafio que sofre a humanidade. Depois de 20 anos, essas negociações se transformaram “no mesmo de sempre” e parece que continuarão assim por mais 20 anos, segundo os ativistas. “Só um movimento social mundial obrigará as nações a agirem”, afirmou Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha.

Schellnhuber, reconhecido especialista e ex-assessor científico do governo alemão, não se encontra em Bonn, mas participou da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro, em Nova York, Estados Unidos, junto com os governantes de 120 países. Novamente, o resultado desse encontro ficou em puros discursos sem compromissos de ação, afirmou à IPS.

Para Schellnhuber, a Cúpula da ONU foi um fracasso, ao contrário da “impressionante” e “inspiradora” Marcha do Povo pelo Clima que a acompanhou e da qual participaram cerca de 410 mil pessoas nas ruas de Manhattan. A única coisa que os países acordaram até agora é a meta de elevação máxima de dois graus na temperatura média mundial e, embora esse aumento “não tenha antecedentes na história humana”, é muito melhor do que três ou mais graus, acrescentou.

Alcançar essa meta ainda é possível, segundo o informe Enfrentar o Desafio da Mudança Climática, redigido pelos principais especialistas em clima e energia e que descreve várias medidas, entre elas o aumento da eficiência energética em todos os setores. A refração dos prédios, por exemplo, pode reduzir o consumo de energia entre 70% e 90%. Também é necessário um preço do carbono que reflita o enorme custo sanitário e ambiental que implica a queima dos combustíveis fósseis, bem como a expansão da energia solar e eólica e o fechamento de todas as centrais movidas a carvão, diz o estudo.

O mais importante é que os governos devem assumir o clima como uma prioridade. Alemanha e Dinamarca estão bem encaminhadas para uma economia baixa em carbono e se beneficiam de menor contaminação e da criação de um novo setor econômico, segundo os especialistas.

Para que todos os governos incorporem o clima como sua prioridade será preciso um movimento social mundial com dezenas de milhões de pessoas. Uma vez que o setor empresarial se dê conta de que a transição para um mundo baixo em carbono está em marcha, pressionará os governos para que apliquem as políticas necessárias. “As soluções para a mudança climática são a maior oportunidade de negócios na história”, enfatizou Schellnhuber. Envolverde/IPS

(IPS)

5 razões para assistir à Cúpula do Clima de Nova York (Portal do Meio Ambiente)

PUBLICADO 18 SETEMBRO 2014

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por Jennifer Morgan*

No próximo dia 23 de setembro, chefes de estado e líderes do sistema financeiro, de empresas e da sociedade civil se reunirão em Nova York na Cúpula do Clima das Nações Unidas de 2014. A reunião será um marco importante no caminho de enfrentamento da crise climática. O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou a Cúpula de alto nível para reengajar os líderes mundiais e estimular a ação pelo clima nos níveis nacionais e internacional.

Dezenas de milhares de cidadãos interessados estão aproveitando a oportunidade para organizar a maior marcha pelo clima da história. Durante a semana da Cúpula centenas de organizações organizarão palestras, exibições de cinema documental e outros encontros para apresentar evidências esmagadoras das consequências das alterações climáticas e soluções custo-efetivas para resolver o problema. Novos estudos científicos como a Avaliação Nacional do Clima dos EUA e os últimos relatórios do IPCC iluminaram os riscos de poluição da atmosfera pelo carbono, enquanto novas análises econômicas, incluindo próximo relatório Nova Economia do Clima, do World Resources Institute, devem dissipar a noção de que a ação pelo clima desacelerará o crescimento econômico.

No entanto, esta não é a primeira vez que os governos são convocados para combater as mudanças climáticas. Então, por que vale a pena assistir a esta Cúpula? Aqui estão os porquês:

1) É a primeira vez em cinco anos na qual chefes de estado se reunirão para enfrentar a mudança climática

Esta será a primeira vez em cinco anos – desde as negociações de Copenhague de 2009 – que tantos líderes mundiais se reunirão para discutir a mudança climática. O Secretário-Geral Ban Ki-moon chamou a Cúpula para dar o pontapé inicial de um período de 15 meses de intenso engajamento e negociação pelo clima como tentativa de obter um acordo global em dezembro de 2015. Criar uma boa dinâmica em Nova York será extremamente importante para alcançar esse objetivo.

2) Obama e Xi estarão lá**

Tanto o presidente dos EUA, Barack Obama quanto o presidente chinês, Xi Jinping, líderes dos dois países que mais emitem gases de efeito estufa, participarão da cúpula. Se medidas substantivas de redução das emissões devem ser implantadas, tanto os EUA quanto a China deverão se envolver completamente. É encorajador que os dois países já estejam colaborando em projetos de energia limpa nos níveis de pesquisa, de governo e empresarial por meio de iniciativas como os Centro de Pesquisa de Energia Limpa EUA-China (CERC). Em julho os dois países revelaram oito novos acordos de parceria climática. A presença desses chefes de estado na Cúpula oferece uma oportunidade de continuidade da cooperação.

3) Novas vozes que clamam por maior ação

A maioria dos atuais líderes ainda não estava no poder em 2009, quando da Cúpula de Copenhague. Muitos destes falam abertamente sobre a ameaça que a mudança climática representa para seus países, bem como sobre as oportunidades econômicas que se abrem com a perspectiva de economia de baixo carbono. Estas novas vozes vêm de países de renda média como Chile, Colômbia, Costa Rica e Indonésia onde os governos estão implantando políticas climáticas ambiciosas ou manifestam vontade de fazê-lo. Suas novas visões devem moldar as discussões da cúpula de alto nível.

Também se espera que os países mais pobres apresentem seus desafios e suas contribuições para a solução do problema.

4) Novos compromissos de países, cidades e do setor privado

A Cúpula de um dia será um fórum para a troca de iniciativas entre os países. Durante a manhã acontecerão três sessões simultâneas nas quais os países devem anunciar suas medidas de combate às mudanças climáticas. Os anúncios provavelmente variarão de compromissos de capitalização do Fundo Verde para o Clima, como a contribuição de US$ 1 bilhão feita recentemente pela Alemanha como ajuda aos demais países para sua preparação para os impactos do clima e busca de caminhos de baixo carbono, até ações internas como de alteração de matrizes energéticas desde o carvão às energias renováveis de grande escala.

Os líderes mundiais também podem usar a reunião para se comprometerem a apresentar um rascunho de seus planos climáticos pós-2020 até o mês de março de 2015 (processo conhecido no jargão das negociações como “contribuições intencionais nacionais determinadas” ou INDCs na sigla em inglês) – de modo a incentivar seus colegas a também fazê-lo. O respeito a esse prazo dará aos ‘stakeholders’ nacionais e internacionais a oportunidade de responder e sugerir melhorias antes dos países apresentarem suas propostas definitivas nove meses depois, em Paris.

Finalmente, o encontro oferece uma plataforma para a apresentação de novas e significativas ideias pelos líderes do setor privado e das cidades. Prepare-se para conhecer novos esforços privados e/ou públicos em matéria de energia, cidades de baixo carbono, restauração florestal, transporte, agricultura, finanças e resiliência. Estas novas iniciativas complementarão as ações nacionais envolvendo todos os níveis da sociedade no esforço global para o enfrentamento do problema.

5) A transição global para a energia limpa está remodelando a paisagem da política

A rápida adoção de energias renováveis nos últimos anos mudou o que era considerado viável há apenas cinco anos. Os custos de produção da energia solar caíram 80% e a energia eólica nunca foi tão acessível. Em outubro passado, a Dinamarca produziu mais energia a partir dos ventos do que o total consumido pelo país. A China estabeleceu metas agressivas para energias renováveis para os anos de 2015, 2017 e 2020. Mais e mais empresas elétricas norte americanas estão descobrindo que o vento e o Sol oferecem a forma mais barata para adicionar capacidade de geração adicional. E cerca de 100 países em desenvolvimento têm agora estabelecidas políticas para energia renováveis. O panorama energético em mudança e os fortes benefícios sociais e econômicos da transição para a energia limpa dão argumentos fortes aos líderes dos países e das empresas pela liderança climática.

Uma chance para que os líderes mundiais se comprometam pela ação climática

A Cúpula será um prenúncio para o compromisso dos chefes de estado quanto ao enfrentamento da crise climática no período que leva a Paris e além. Fortes e claros compromissos elevariam a mudança climática na agenda global e preparariam o terreno para o progresso nacional e internacional.

Durante uma reunião de alto nível em Abu Dhabi em maio deste ano, Ban Ki-moon exortou os participantes a “capacitar e motivar os seus líderes nacionais para que tragam anúncios ousados à Cúpula do Clima de setembro… A corrida começou. É hora de liderar”. Em poucas semanas veremos se os líderes estão à altura do desafio.


* Artigo publicado em no dia 5 de setembro passado em http://www.wri.org/blog/2014/09/5-reasons-watch-nyc-climate-summit e traduzido por Délcio Rodrigues.

**Nota do editor: Depois da publicação deste post soubemos que o presidente chinês Xi Jinping não deve participar da Cúpula do Clima da ONU em Nova York. É esperado que o presidente Xi envie um outro político sênior em seu lugar.

Cúpula do Clima da ONU: só teatro ou fatos concretos? (IPS)

17/9/2014 – 01h38

por Thalif Deen, da IPS

cumbreclima Cúpula do Clima da ONU: só teatro ou fatos concretos?

Nações Unidas, 17/9/2014 – A tão comentada Cúpula do Clima, que acontecerá no final deste mês, é apresentada como um dos grandes acontecimentos político-ambientais da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2014. Seu secretário-geral, Ban Ki-moon, pediu aos mais de 120 governantes e empresários que participarão da cúpula de um único dia, 23 de setembro, que anunciem iniciativas significativas e substanciais, com promessas de fundos incluídas, “para ajudar o mundo a avançar por um caminho que limite o aquecimento global”.

Segundo a ONU, a cúpula será a primeira ocasião em cinco anos em que os líderes do mundo se reunirão para discutir o que se classifica de desastre ecológico: a mudança climática. Entre as repercussões negativas do aquecimento global estão a elevação do nível do mar, padrões climáticos extremos, acidificação dos oceanos, derretimento de geleiras, extinção de espécies da biodiversidade e ameaças à segurança alimentar mundial, alerta a organização.

Mas o que se pode esperar realmente da conferência deste mês, que provavelmente não durará mais do que 12 horas?

“Um acontecimento de um dia não poderá nunca resolver tudo o que se relaciona com a mudança climática, mas pode ser um ponto de inflexão para demonstrar renovada vontade política de agir”, opinou Timothy Gore, diretor de políticas e pesquisa da campanha Crecede Oxfam International. Alguns líderes políticos aproveitarão a ocasião para fazer isso, mas muitos “parecem decididos a se manterem afastados dos compromissos transformadores necessários”, acrescentou.

Segundo Gore, a cúpula foi pensada como uma plataforma para os novos compromissos de ação em matéria climática, mas existe o risco real de estes não serem grande coisa. “O enfoque colocado nas iniciativas voluntárias em lugar dos resultados negociados significa que não há garantias de que os anúncios que forem feitos na cúpula serão suficientemente sólidos”, acrescentou.

Espera-se que o Fundo Verde para o Clima mobilize cerca de US$ 100 bilhões anuais no Sul em desenvolvimento até 2020, segundo a ONU, mas este ainda não recebeu os fundos que serão entregues aos países em desenvolvimento para que possam implantar suas ações climáticas.

“No dia 23 de setembro veremos como os líderes mundiais não estão à altura do que necessitamos para lidar com a perigosa mudança climática”, apontou à IPS Dipti Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional e da Justiça Ambiental, de Moçambique. As “promessas” que os governos e as empresas farão na Cúpula do Clima serão extremamente insuficientes para abordar a catástrofe climática, ressaltou a ativista.

“A ideia de os governantes assumirem compromissos voluntários e não vinculantes é um insulto para centenas de milhares de pessoas que morrem a cada ano pelos impactos da mudança climática”, afirmou Bhatnagar. “Necessitamos que os países industrializados assumam objetivos de redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes, não um desfile de governantes que querem causar boa impressão. Mas este desfile falso é só o que vamos ver nesta cúpula de um dia”, opinou.

No dia 21, dois dias antes da cúpula, centenas de milhares de pessoas farão uma manifestação contra a mudança climática em cidades de todo o mundo. “Nesse dia, estaremos nas ruas de Nova York como parte da maior marcha climática na história, que enviará uma mensagem forte e clara para que os líderes mundiais ajam agora”, explicou Martin Kaiser, líder do projeto Política Climática Mundial, do Greenpeace.

Kaiser sugeriu que as empresas devem anunciar datas concretas a partir das quais operarão com 100% de energia renovável. Além disso, “os governos devem se comprometer a eliminar gradualmente os combustíveis fósseis até 2050 e tomar medidas concretas, como acabar com o financiamento das centrais elétricas movidas a carvão”, destacou. “Também esperamos que os governos anunciem dinheiro novo e adicional para o Fundo Verde para o Clima, a fim de ajudar os países vulneráveis a se adaptarem aos desastres climáticos”, afirmou.

“Precisamos que o Norte industrial entregue fundos públicos seguros, previsíveis e obrigatórios ao Sul em desenvolvimento por intermédio do sistema da ONU”, disse Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional. Os líderes dos países industrializados estão descuidando de sua responsabilidade para evitar as catástrofes climáticas, impulsionados pelos estreitos interesses econômicos e financeiros das elites ricas, da indústria dos combustíveis fósseis e das corporações transnacionais, acrescentou.

“O que se necessita para deter a mudança climática são objetivos de redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes dos países desenvolvidos, junto com a transferência de fundos e tecnologia aos países em desenvolvimento. Também precisamos de uma completa transformação de nossos sistemas de energia e alimentos”, enfatizou Bhatnagar.

Nesse sentido, é preciso maior transparência para decidir se os anúncios feitos são coerentes com as últimas conclusões científicas sobre o clima e se protegem os interesses dos mais vulneráveis diante dos impactos climáticos, detalhou Gore. Com relação ao papel do setor privado, “precisamos que os empresários combatem a mudança climática, e estão surgindo bons exemplos de empresas que estão à altura da ocasião”, acrescentou .

No setor de alimentos e bebidas, por exemplo, a Oxfam trabalhou com companhias como Kellogg e General Mills para que estas assumam compromissos de redução das emissões de suas cadeias de fornecimento agrícola, extremamente contaminantes. “Mas, em geral, essa cúpula mostra que há muitas partes do setor privado que ainda não estão à altura, já que as iniciativas que serão apresentadas não cumprem com a  transformação que precisamos”, destacou Gore.

“Isso serve para recordarmos a importância fundamental que tem a forte liderança governamental na mudança climática. As iniciativas voluntárias de baixo para cima não são um substituto da ação real do governo”, afirmou Gore. Envolverde/IPS

(IPS)