ActionAid calcula que países desenvolvidos devem doar 0,1% do PIB a fundo comum
POR O GLOBO
18/11/2015 6:00
Mulheres polonesas conversam em frente à usina: países desenvolvidos não pagam valores justos para atenuar mudanças climáticas, diz ONG – JOE KLAMAR/AFP
RIO — Um novo estudo da ONG ActionAid denunciou ontem a diferença abissal entre as quantias exigidas e as doadas pelos países desenvolvidos para que as nações mais pobres criem medidas de adaptação contra as mudanças climáticas. Em 2013, foram destinados cerca de US$ 5 bilhões para o combate ao aquecimento global. Na próxima década, serão necessários US$ 150 bilhões por ano para combater os eventos extremos. O debate sobre financiamento está entre as prioridades da Conferência do Clima de Paris, a partir do dia 30.
De acordo com o instituto, as nações ricas deveriam dedicar pelo menos 0,1% de seu PIB a um fundo climático internacional. É um índice 70 vezes menor do que o gasto em 2008 para a adoção de políticas contra a recessão econômica.
Os EUA deveriam aumentar suas contribuições aos países pobres em mais de 154 vezes, passando dos US$ 440 milhões gastos em 2013 para US$ 67,5 bilhões em 2025.
A União Europeia precisa multiplicar os seus investimentos em 11 vezes, passando dos US$ 3,2 bilhões vistos em 2013 para US$ 36,9 bilhões em 2025.
Os cálculos são baseados nas emissões históricas — a contribuição atribuída a cada país para provocar as mudanças climáticas — e em sua capacidade de ajudar financeiramente, levando em conta os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Especialista em financiamento climático da ActionAid, Brandon Wu acredita que os países em desenvolvimento estão enfrentando sozinhos “uma crise que não causaram”.
— O problema não é falta de dinheiro — assegura. — Os EUA, por exemplo, gastam muito mais em subsídios para os combustíveis fósseis do que em medidas de adaptação ao clima. É falta de vontade política.
IMPASSE HISTÓRICO
Wu avalia que o financiamento contra as mudanças climáticas pode ser o item mais polêmico entre os discutidos na Conferência do Clima. Tradicionalmente, os países ricos e pobres discordam sobre o tamanho do rombo, e as nações desenvolvidas não concordam em assumir totalmente as indenizações contra o aquecimento global, eximindo economias emergentes, como China e Brasil, de qualquer compromisso financeiro.
— Um novo acordo (global sobre o clima) não é possível sem esclarecimento sobre como serão as finanças — pondera. — Os países em desenvolvimento não podem adaptar suas economias, livrando-as das emissões de carbono, sem apoio internacional. Talvez não consigamos saber exatamente quanto será investido por cada país, mas precisamos impor novos prazos e objetivos. Aqueles discutidos até agora são vagos demais.
Já Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, acredita que as negociações financeiras não devem ser uma prioridade.
— O mais importante é discutir que metas podem impedir o avanço da temperatura global — defende. — O financiamento é um jogo político. Resistimos a abandonar o petróleo, da mesma forma como, antes, não queríamos largar o carvão. Mais do que abrir o cofre, precisamos pensar em um novo modelo econômico, que tipo de capitalismo devemos adotar.