PUBLICADO 18 SETEMBRO 2014
por Jennifer Morgan*
No próximo dia 23 de setembro, chefes de estado e líderes do sistema financeiro, de empresas e da sociedade civil se reunirão em Nova York na Cúpula do Clima das Nações Unidas de 2014. A reunião será um marco importante no caminho de enfrentamento da crise climática. O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou a Cúpula de alto nível para reengajar os líderes mundiais e estimular a ação pelo clima nos níveis nacionais e internacional.
Dezenas de milhares de cidadãos interessados estão aproveitando a oportunidade para organizar a maior marcha pelo clima da história. Durante a semana da Cúpula centenas de organizações organizarão palestras, exibições de cinema documental e outros encontros para apresentar evidências esmagadoras das consequências das alterações climáticas e soluções custo-efetivas para resolver o problema. Novos estudos científicos como a Avaliação Nacional do Clima dos EUA e os últimos relatórios do IPCC iluminaram os riscos de poluição da atmosfera pelo carbono, enquanto novas análises econômicas, incluindo próximo relatório Nova Economia do Clima, do World Resources Institute, devem dissipar a noção de que a ação pelo clima desacelerará o crescimento econômico.
No entanto, esta não é a primeira vez que os governos são convocados para combater as mudanças climáticas. Então, por que vale a pena assistir a esta Cúpula? Aqui estão os porquês:
1) É a primeira vez em cinco anos na qual chefes de estado se reunirão para enfrentar a mudança climática
Esta será a primeira vez em cinco anos – desde as negociações de Copenhague de 2009 – que tantos líderes mundiais se reunirão para discutir a mudança climática. O Secretário-Geral Ban Ki-moon chamou a Cúpula para dar o pontapé inicial de um período de 15 meses de intenso engajamento e negociação pelo clima como tentativa de obter um acordo global em dezembro de 2015. Criar uma boa dinâmica em Nova York será extremamente importante para alcançar esse objetivo.
2) Obama e Xi estarão lá**
Tanto o presidente dos EUA, Barack Obama quanto o presidente chinês, Xi Jinping, líderes dos dois países que mais emitem gases de efeito estufa, participarão da cúpula. Se medidas substantivas de redução das emissões devem ser implantadas, tanto os EUA quanto a China deverão se envolver completamente. É encorajador que os dois países já estejam colaborando em projetos de energia limpa nos níveis de pesquisa, de governo e empresarial por meio de iniciativas como os Centro de Pesquisa de Energia Limpa EUA-China (CERC). Em julho os dois países revelaram oito novos acordos de parceria climática. A presença desses chefes de estado na Cúpula oferece uma oportunidade de continuidade da cooperação.
3) Novas vozes que clamam por maior ação
A maioria dos atuais líderes ainda não estava no poder em 2009, quando da Cúpula de Copenhague. Muitos destes falam abertamente sobre a ameaça que a mudança climática representa para seus países, bem como sobre as oportunidades econômicas que se abrem com a perspectiva de economia de baixo carbono. Estas novas vozes vêm de países de renda média como Chile, Colômbia, Costa Rica e Indonésia onde os governos estão implantando políticas climáticas ambiciosas ou manifestam vontade de fazê-lo. Suas novas visões devem moldar as discussões da cúpula de alto nível.
Também se espera que os países mais pobres apresentem seus desafios e suas contribuições para a solução do problema.
4) Novos compromissos de países, cidades e do setor privado
A Cúpula de um dia será um fórum para a troca de iniciativas entre os países. Durante a manhã acontecerão três sessões simultâneas nas quais os países devem anunciar suas medidas de combate às mudanças climáticas. Os anúncios provavelmente variarão de compromissos de capitalização do Fundo Verde para o Clima, como a contribuição de US$ 1 bilhão feita recentemente pela Alemanha como ajuda aos demais países para sua preparação para os impactos do clima e busca de caminhos de baixo carbono, até ações internas como de alteração de matrizes energéticas desde o carvão às energias renováveis de grande escala.
Os líderes mundiais também podem usar a reunião para se comprometerem a apresentar um rascunho de seus planos climáticos pós-2020 até o mês de março de 2015 (processo conhecido no jargão das negociações como “contribuições intencionais nacionais determinadas” ou INDCs na sigla em inglês) – de modo a incentivar seus colegas a também fazê-lo. O respeito a esse prazo dará aos ‘stakeholders’ nacionais e internacionais a oportunidade de responder e sugerir melhorias antes dos países apresentarem suas propostas definitivas nove meses depois, em Paris.
Finalmente, o encontro oferece uma plataforma para a apresentação de novas e significativas ideias pelos líderes do setor privado e das cidades. Prepare-se para conhecer novos esforços privados e/ou públicos em matéria de energia, cidades de baixo carbono, restauração florestal, transporte, agricultura, finanças e resiliência. Estas novas iniciativas complementarão as ações nacionais envolvendo todos os níveis da sociedade no esforço global para o enfrentamento do problema.
5) A transição global para a energia limpa está remodelando a paisagem da política
A rápida adoção de energias renováveis nos últimos anos mudou o que era considerado viável há apenas cinco anos. Os custos de produção da energia solar caíram 80% e a energia eólica nunca foi tão acessível. Em outubro passado, a Dinamarca produziu mais energia a partir dos ventos do que o total consumido pelo país. A China estabeleceu metas agressivas para energias renováveis para os anos de 2015, 2017 e 2020. Mais e mais empresas elétricas norte americanas estão descobrindo que o vento e o Sol oferecem a forma mais barata para adicionar capacidade de geração adicional. E cerca de 100 países em desenvolvimento têm agora estabelecidas políticas para energia renováveis. O panorama energético em mudança e os fortes benefícios sociais e econômicos da transição para a energia limpa dão argumentos fortes aos líderes dos países e das empresas pela liderança climática.
Uma chance para que os líderes mundiais se comprometam pela ação climática
A Cúpula será um prenúncio para o compromisso dos chefes de estado quanto ao enfrentamento da crise climática no período que leva a Paris e além. Fortes e claros compromissos elevariam a mudança climática na agenda global e preparariam o terreno para o progresso nacional e internacional.
Durante uma reunião de alto nível em Abu Dhabi em maio deste ano, Ban Ki-moon exortou os participantes a “capacitar e motivar os seus líderes nacionais para que tragam anúncios ousados à Cúpula do Clima de setembro… A corrida começou. É hora de liderar”. Em poucas semanas veremos se os líderes estão à altura do desafio.
* Artigo publicado em no dia 5 de setembro passado em http://www.wri.org/blog/2014/09/5-reasons-watch-nyc-climate-summit e traduzido por Délcio Rodrigues.
**Nota do editor: Depois da publicação deste post soubemos que o presidente chinês Xi Jinping não deve participar da Cúpula do Clima da ONU em Nova York. É esperado que o presidente Xi envie um outro político sênior em seu lugar.