Arquivo da tag: Redes sociais

Black Bloc: “Fazemos o que os outros não têm coragem de fazer” (Revista Fórum)

Eles afirmam não temer o confronto com a polícia e defendem a destruição de “alvos capitalistas”. Conheça a história e a forma de luta que se popularizou com o movimento antiglobalização e ganha destaque no Brasil

Esta matéria faz parte da edição 125 da revista Fórum.

Por Paulo Cezar Monteiro

20/08/2013 7:20 pm

“Os ativistas Black Bloc não são manifestantes, eles não estão lá para protestar. Eles estão lá para promover uma intervenção direta contra os mecanismos de opressão, suas ações são concebidas para causar danos às instituições opressivas.” É dessa forma que a estratégia de ação do grupo que vem ganhando notoriedade devido às manifestações no País é definida por um vídeo, divulgado pela página do Facebook “Black Bloc Brasil”, que explica parte das motivações e forma de pensar dos seus adeptos.

A ação, ou estratégia de luta, pode ser reconhecida em grupos de pessoas vestidas de preto, com máscaras ou faixas cobrindo os rostos. Durante os protestos, eles andam sempre juntos e, usualmente, atacam de maneira agressiva bancos, grandes corporações ou qualquer outro símbolo das instituições Eles afirmam não temer o confronto com a polícia e defendem a destruição de “alvos capitalistas”. Conheça a história e a forma de luta que se popularizou com o movimento antiglobalização e ganha destaque no Brasil “capitalistas e opressoras”, além de, caso julguem necessário, resistirem ou contra-atacarem intervenções policiais.

Devido ao atual ciclo de protestos de rua, o Black Bloc entrou no centro do debate político nacional. Parte das análises e opiniões classifica as suas ações como “vandalismo” ou “violência gratuita”, e também são recorrentes as críticas ao anonimato produzido pelas máscaras ou panos cobrindo a face dos adeptos. Mas o Black Bloc não é uma organização ou entidade. Leo Vinicius, autor do livro Urgência das ruas – Black Bloc, Reclaim the Streets e os Dias de Ação Global, da Conrad, (sob o pseudônimo Ned Ludd), a define o como uma forma de agir, orientada por procedimentos e táticas, que podem ser usados para defesa ou ataque em uma manifestação pública.

(Flickr.com/nofutureface)

Zuleide Silva (nome fictício), anarquista e adepta do Black Bloc no Ceará, frisa que eles têm como alvo as “instituições corporativas” e tentam defender os manifestantes fora do alcance das ações repressoras da polícia. “Fazemos o que os manifestantes não têm coragem de fazer. Botamos nossa cara a tapa por todo mundo”, afirma.

O jornalista e estudioso de movimentos anarquistas, Jairo Costa, no artigo “A tática Black Bloc”, publicado na Revista Mortal, lembra que o Black Bloc surgiu na Alemanha, na década de 1980, como uma forma utilizada por autonomistas e anarquistas para defenderem os squats (ocupações) e as universidades de ações da polícia e ataques de grupos nazistas e fascistas. “O Black Bloc foi resultado da busca emergencial por novas táticas de combate urbano contra as forças policiais e grupos nazifascistas. Diferentemente do que muitos pensam, o Black Bloc não é um tipo de organização anarquista, ONG libertária ou coisa parecida, é uma ação de guerrilha urbana”, contextualiza Costa.

De acordo com um dos “documentos informativos” disponíveis na página do Facebook, alguns dos elementos que os caracterizam são a horizontalidade interna, a ausência de lideranças, a autonomia para decidir onde e como agir, além da solidariedade entre os integrantes. Atualmente, há registros, por exemplo, de forças de ação Black Bloc nas recentes manifestações e levantes populares no Egito.

Manifestantes se reúnem em rua do Leblon, no Rio de Janeiro, próximos à casa do governador Sérgio Cabral (Foto: Mídia Ninja)

Black Bloc no Brasil

Para Leo Vinicius, é um “pouco surpreendente” que essa estratégia de manifestação urbana, bastante difundida ao redor do mundo, tenha demorado a chegar por aqui. “Essa forma de agir em protestos e manifestações ganhou muito destaque dentro dos movimentos antiglobalização, na virada da década de 1990 para 2000. Não é uma forma de ação política realmente nova”. No Brasil, existem páginas do movimento de quase todas as capitais e grandes cidades, a maior parte delas criadas durante o período de proliferação dos protestos. A maior é a Black Bloc Brasil, com quase 35 mil seguidores, seguida pela Black Bloc–RJ, com quase 20 mil membros.

A respeito da relação com o anarquismo, Vinicius faz uma ressalva. É preciso deixar claro que a noção de que “toda ação Black Bloc é feita por anarquistas e que todos anarquistas fazem Black Bloc” é falsa. “A história do Black Bloc tem uma ligação com o anarquismo, mas outras correntes como os autonomistas, comunistas e mesmo independentes também participavam. Nunca foi algo exclusivo do anarquismo. Na prática, o Black Bloc, por se tratar de uma estratégia de operação, pode ser utilizado até por movimentos da direita”, explica o escritor.

Para alguns ativistas, o processo de aceitação das manifestações de rua, feito pela grande mídia e por parte do público, de certa forma impôs que, para serem considerados legítimos, os protestos deveriam seguir um padrão: pacífico, organizado, com cartazes e faixas bem feitas e em perfeito acordo com as leis. Vinicius demonstra certa preocupação com a possibilidade do fortalecimento da ideia de que essa forma “pacífica” seja vista como o único meio possível ou legítimo de protestar. Ele afirma que não entende como violenta a ação Black Bloc de quebrar uma vidraça ou se defender de uma ação policial excessiva. “A violência é um conceito bastante subjetivo. Por isso, não dá pra taxar qualquer ato como violento, é preciso contextualizá-lo, entender as motivações por trás de cada gesto”, avalia.

Para ele, a eficácia de uma manifestação está em saber articular bem formas de ação “pacíficas” e “não pacíficas”. Foi esse equilíbrio, analisa, que fez com que o Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP) barrasse o aumento da tarifa na capital paulista. “Só com faixas e cartazes a tarifa não teria caído”, atesta. “Quem tem o poder político nas mãos só cede a uma reivindicação pelo medo, por sentir que as coisas podem sair da rotina, de que ele pode perder o controle do Estado”, sentencia.

Por outro lado, Vinicius alerta que é preciso perceber os limites para evitar que as ações mais “radicais” façam com que o movimento seja criminalizado ou se isole da sociedade e, com isso, perca o potencial de realizar qualquer mudança. Em sua obra, faz a seguinte definição daqueles que adotam a estratégia Black Bloc: “Eles praticam uma desobediência civil ativa e ação direta, afastando assim a política do teatro virtual perfeitamente doméstico, dentro do qual [a manifestação política tradicional] permanece encerrada. Os BB não se contentam com simples desfiles contestatórios, certamente importantes pela sua carga simbólica, mas incapazes de verdadeiramente sacudir a ordem das coisas”, aponta.

Outra crítica recorrente é o fato de os BB usarem máscaras ou panos para cobrirem os rostos. Os adeptos da ação explicam que as máscaras são um meio de proteger suas identidades para “evitar a perseguição policial” e outras formas de criminalização, como também criar um “sentimento de unidade” e impedir o surgimento de um “líder carismático”.

Luta antiglobalização

Com o passar do tempo, segundo Jairo Costa, as táticas Black Bloc passaram a ser reconhecidas como um meio de expressar a ira anticapitalista. Ele explica que geralmente as ações são planejadas para acontecer durante grandes manifestações de movimentos de esquerda.

O estudioso destaca como um dos momentos mais significativos da história Black Bloc a chamada “Batalha de Seattle”, em 1999, contra uma rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 30 de novembro daquele ano, após uma tarde de confrontos com as forças policiais, uma frente móvel de black blockers conseguiu quebrar o isolamento criado entre os manifestantes e o centro comercial da cidade. Após vencer o cerco policial, os manifestantes promoveram a destruição de várias propriedades, limusines e viaturas policiais, e fizeram várias pichações com a mensagem “Zona Autônoma Temporária”. Estimativas apontam prejuízos de 10 milhões de dólares, além de centenas de feridos e 68 prisões.

Para Costa, um dos episódios mais impactantes – e duros – da história Black Bloc foi o assassinato de Carlo Giuliani, jovem anarquista de 23 anos, durante a realização simultânea do Fórum Social de Gênova e a reunião do G8 (Grupo dos oito países mais ricos), na Itália, em julho de 2001. Ele lembra que, após vários confrontos violentos – alguns deles vencidos pelos manifestantes, que chegaram a provocar a fuga dos policiais, que deixaram carros blindados para trás –, ocorreu o episódio que levou à morte de Giuliani.
“Ele partiu para cima de um carro de polícia tentando atirar nele um extintor de incêndio. Muitos fotógrafos estavam por lá e seus registros falam por si. Ao se aproximar do carro, Giuliani é atingido por dois tiros, um na cabeça. E, numa cena macabra, o carro da polícia dá marcha a ré e atropela-o várias vezes”, narra. Os assassinos de Carlo Giuliani não foram condenados. Dois anos após o fato, a Justiça italiana considerou que a ação policial se deu como “reação legítima” ao comportamento do militante.

Alvos capitalistas

Entre as formas de ação direta do Black Bloc destacam-se os ataques aos chamados “alvos simbólicos do capital”, que incluem joalherias, lanchonetes norte-americanas ou ainda a depredação de instituições oficiais e empresas multinacionais. Costa explica que essas ações “não têm como objetivo atingir pessoas, mas bens de capital”.

Zuleide justifica a destruição praticada contra multinacionais ou outros símbolos capitalistas, porque elas seriam mecanismo de “exploração e exclusão das pessoas”. “Queremos que esses meios que oprimem e desrespeitam um ser humano se explodam, vão embora, morram. Trabalhar dez horas por dia para não ganhar nada, isso é o que nos enfurece. Por isso, nossas ações diretas a eles, porque queremos causar prejuízos, para que percebam que há pessoas que rejeitam aquilo e que lutam pela população”, explica.

Ela reconhece que essas ações diretas podem deixá-los “mal vistos” na sociedade, já que há pessoas que pensam: “Droga, não vou poder mais comer no ***** porque destruíram tudo”. Porém, Zuleide afirma que o trabalhador, explorado por essas corporações, “adoraria fazer o que nós fazemos”, mas, por ter família para sustentar e contas a pagar, não faz. “Esse é mais um dos motivos que nos fazem do jeito que somos”, pontua.

Vinicius explica que, nas “ações diretas”, os black blockers atacam bens particulares por considerarem que “a propriedade privada – principalmente a propriedade privada corporativa – é em si própria muito mais violenta do que qualquer ação que possa ser tomada contra ela”. Quebrar vitrines de lojas, por exemplo, teria como função destruir “feitiços” criados pela ideologia capitalista. Esses “feitiços” seriam meios de “embalar o esquecimento” de todas as violências cometidas “em nome do direito de propriedade privada” e de “todo o potencial de uma sociedade sem ela [as vitrines]”.

Sem violência?

Em praticamente todas as manifestações, independentemente das causas e dos organizadores, tornou-se comum o grito: “Sem violência! Sem violência!”, que tinha como destinatários os policiais que, teoricamente, entenderiam o caráter “pacifista” do ato. Também seria uma tentativa de coibir a ação de “vândalos” ou “baderneiros”, que perceberiam não contar com o apoio do restante da massa.

Zuleide reconhece que, inicialmente, a ação Black Bloc era alvo desses gritos, mas, segundo ela, quando as pessoas entendem a forma como eles atuam, isso muda. “Os manifestantes perceberam que o Estado não iria nos deixar falar, nos deixar reivindicar algo, e começaram a nos reprimir. Quando há confronto [com a polícia], nós os ajudamos retardando a movimentação policial ou tirando eles de situações que ofereçam perigo, e alguns perceberam isso”, afirma.

Apesar de os confrontos com policiais não serem uma novidade durante as suas ações, os adeptos afirmam não ter como objetivo atacar policiais. Contudo, outro documento intitulado “Manifesto Black Bloc” deixa claro que, caso a polícia assuma um caráter “opressor ou repressor”, ela se torna, automaticamente, uma “inimiga”.

No “Manual de Ação Direta – Black Bloc”, também disponível na internet, a desobediência civil é definida como “a não aceitação” de uma regra, lei ou decisão imposta, “que não faça sentido e para não se curvar a quem a impõe. É este o princípio da desobediência civil, violenta ou não”. Entre as possibilidades de desobediência civil são citadas, por exemplo, a não aceitação da proibição da polícia que a manifestação siga por determinado caminho, a resistência à captura de algum manifestante ou, ainda, a tentativa de resgatar alguém detido pelos policiais.

Também são ensinadas táticas para resistir a gás lacrimogêneo, sprays de pimenta e outras formas de ação policial, além de dicas de primeiros socorros e direitos legais dos manifestantes. De acordo com o documento, as orientações desse manual tratam apenas da desobediência civil “não violenta”.

Outra orientação é que seja definido, antes da manifestação, se a desobediência civil será “violenta” ou “não violenta”. Caso se opte pela ação ‘não violenta’, essa decisão deve ser respeitada por todos, visto que não cumprir o combinado pode pôr “em risco” outros companheiros, além de ser um sinal de “desrespeito”.

Contudo, o mesmo manual deixa claro que o que “eles fazem conosco” todos os dias é uma violência, sendo assim, “a desobediência violenta é uma reação a isso e, portanto, não é gratuita, como eles tentam fazer parecer”.

Uma breve história

1980: O termo Black Bloc (Schwarzer Block) é usado pela primeira vez pela polícia alemã, como
forma de identificar grupos de esquerda na época denominados “autônomos, ou autonomistas”, que lutavam contra a repressão policial aos squats (ocupações).

1986: Fundada, em Hamburgo (Alemanha), a liga autonomista Black Bloc 1500, para defender o Hafenstrasse Squat.

1987: Anarquistas vestidos com roupas pretas protestam em Berlim Ocidental, por ocasião da presença de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, na cidade.

1988: Em Berlim Ocidental, o Black Bloc confronta-se com a polícia durante uma manifestação
contra a reunião do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

1992: Em São Francisco (EUA), na ocasião do 500º aniversário da descoberta da América por Cristóvão Colombo, o Black Bloc manifesta-se contra o genocídio de povos nativos das Américas.

1999: Seattle contra a Organização Mundial do Comércio (OMC). Estima-se em 500 o número de integrantes do Black Bloc que destruíram o centro econômico da cidade.

2000: Em Washington, durante reunião do FMI e Banco Mundial, cerca de mil black blockers anticapitalistas saíram às ruas e enfrentaram a polícia.

2000: Em Praga (República Tcheca), forma-se um dos maiores Black Blocs que se tem notícia, durante a reunião do FMI. Cerca de 3 mil anarquistas lutam contra a polícia tcheca.

2001: Quebec (Canadá). Membros do Black Bloc
são acusados de agredir um policial durante uma marcha pela paz nas ruas de Quebec. Após esse evento, a população local e vários manifestantes de esquerda distanciaram-se da tática Black Bloc e de seus métodos extremos.

2001: A cidade de Gênova (Itália), ao mesmo tempo, recebeu a cúpula do G8 e realizou o Fórum Social de Gênova, com um grande número de Black blockers, além de aproximadamente de 200 mil ativistas. A ação ficou marcada pela violenta morte do jovem Carlo Giuliani, de 23 anos.

2007: Em Heiligendamm (Alemanha), reunião do G8 foi alvo de uma ação com a participação de cerca de 5 mil blackblockers . Mobilização Black Bloc de cerca de 5.000 pessoas

2010: Toronto (Canadá), na reunião do G20. Neste confronto, mais de 500 manifestantes foram presos e dezenas de outros ativistas foram parar em hospitais com inúmeras fraturas.

2013: Cairo (Egito). O Black Bloc aparece com forte atuação nos protestos da Praça Tahir, no combate e resistência ao exército do então presidente Hosni Mubarak.

Fonte: Artigo “A Tática Black Bloc”, escrito por Jairo Costa, na Revista Mortal, 2010

Occupying Wall Street: Places and Spaces of Political Action (Places)

PEER REVIEWED: JONATHAN MASSEY & BRETT SNYDER

The Design Observer Group

09.17.12
Occupy Wall Street digital activity timeline
Occupy Wall Street activity online. Click image to enlarge. [Timeline by the authors]

For nine weeks last fall crowds gathered every evening at the eastern end of Zuccotti Park, where a shallow crescent of stairs creates a modest amphitheater, to form the New York City General Assembly. A facilitator reviewed rules for prioritizing speakers and gestures by which participants could signal agreement or dissent. Over two hours or more, they worked through issues of common concern — every word repeated by the assembly, which formed a human microphone amplifying the speaker’s voice — until they reached consensus.

Such was the daily practice of Occupy Wall Street, paralleled in more than a thousand cities around the world. Participants borrowed tactics from Quaker meetings, Latin American popular assemblies, Spanish acampadas, and other traditions of protest and political organization. They also enacted something foundational to the western democratic tradition: constituting a polity as a group of speaking bodies gathered in a central public place.

At the same time, another crowd assembled in a range of online spaces. Moving between the physical and the virtual, participants navigated a hypercity built of granite and asphalt, algorithms and information, appropriating its platforms and creating new structures within it. As they posted links, updates, photos and videos on social media sites; as they deliberated in chat rooms and collaborated on crowdmaps; as they took to the streets with smartphones, occupiers tested the parameters of this multiply mediated world.

What is the layout of this place? What are its codes and protocols? Who owns it? How does its design condition opportunities for individual and collective action? Looking closely at these questions, we learn something about the possibilities for public life and political action created at the intersection of urban places and online spaces.


Top: Occupiers camp in Liberty Plaza as news vans line up across the street. Middle: Detail of#OccupyMap. Bottom: Occupy coordinators meet in the atrium of 60 Wall Street. [Photos by Jonathan Massey]

Occupying the Public Square 
Zuccotti Park — or Liberty Plaza — was the site not only of General Assembly but also of the bustling camp that materialized and sustained the occupation. As architects, we were fascinated by the intensive use of this privately owned public space. As citizens, we were inspired by the movement’s critique of the U.S. political system and its experiment with alternate forms of social organization. After the arrest of 700 protesters on the Brooklyn Bridge, Jonathan began visiting Liberty Plaza and occasionally participating in rallies. Brett tracked the movement’s use of new media to expose inequalities in wealth distribution. Jonathan enlisted friends to survey and document the encampment, while Brett developed an interactive project, Public Space 2.0, that linked Occupy to broader questions about public space. Following the eviction of occupiers in New York and other cities, we decided to collaborate on a project examining the spatial and social organization of Liberty Plaza.

In the tradition of urban demonstrations and sit-ins, the camp claimed a prominent and symbolically charged city space in order to call attention to a political cause. It provided logistical support as the first day of protest extended into a two-month occupation. It gave visitors a point of entry into the movement and its ideas. Moreover, it prefigured in microcosm the alternative polity desired by many participants, modeling and testing modes of self-organization partly autonomous from those provided by the state and the market.

As such, it embodied one of the defining tensions of Occupy Wall Street: between the aims of protest and prefiguration. [1] One reason for claiming Liberty Plaza was to command the attention of the public and the state. Indeed, the blog post that sparked the movement, by the Canadian magazine Adbusters, urged activists to create “a Tahrir moment” by insistently repeating “one simple demand” akin to the call for Egyptian president Hosni Mubarak’s resignation. [2] But some of the New York activists who planned the occupation pursued a vision of autonomous self-organization and self-government informed by anarchist principles. Occupiers refused to formulate their objectives as political demands, even though doing so might have strengthened their grip on the public imagination. Instead of a unified plea to elected representatives, broadcast from a central square, Occupy yielded a polyphony of discussions in the agoras of the hypercity.

Occupy Wall Street police observation tower
Top: Occupiers in mid-October. Bottom: NYPD Skywatch portable surveillance tower. [Photos by Jonathan Massey]

From its founding on September 17, 2011, the occupation traced contours of regulation and control. Its location, design and construction limned the legal, juridical and police affordances of New York’s public realm, revealing the constraints placed on people assembling to form a counterpublic — a public operating according to practices distinct from those of the mainstream. [3] The declared site of the first protest, carnival, and General Assembly was Chase Manhattan Plaza, but occupiers arrived to find the corporate space closed off by barricades and patrolled by police. Prior General Assemblies had been held in New York public parks and squares, but organizers knew the city tightly controlled those spaces by requiring permits, enforcing nighttime closures and barricading areas. The use of city sidewalks was also curtailed. Bloombergville, a sidewalk encampment near City Hall, had survived for three weeks in July, but a test camp-out on Wall Street on September 1 had been broken up by police. [4] When demonstrators found Chase Plaza closed, they moved to the privately-owned Zuccotti Park, three blocks away, claiming the space with signs, megaphones, sleeping bags and blankets.

The following weeks confirmed that the state would use police control to assert its hegemony over the terms of public assembly and discourse. When protesters crossed the border of Liberty Plaza onto city streets or squares, they encountered “order maintenance policing,” a euphemistic directive that empowers New York police to intervene in public events irrespective of criminal action. Over the past 15 years, the NYPD has expanded the practice to assert control over parades, festivals and rallies, often arresting participants for “disorderly conduct” and releasing them without charge. [5] Under this vague authority, NYPD limited the range and duration of Occupy demonstrations and tightly controlled their internal dynamics through barricades, kettling and arrests.

And yet Occupy Wall Street showed that possibilities foreclosed on private and public land could be actualized in the liminal territory of the city’s privately owned public spaces(POPS) — plazas, arcades and other spaces built by real estate developers in return for density bonuses under the terms of the 1961 Zoning Resolution. [6] The occupation of Zuccotti Park was made possible by ambiguities in the POPS system, which has created places where the city government must negotiate authority with corporate owners as well as site occupants. Even so, the city intervened in the camp’s internal organization and operation: fire marshals prohibited tents and other structures in the early weeks; they removed generators as the weather grew cold in late October; and, shortly after midnight on November 15, police forcibly cleared the park.

Zuccotti Park after eviction of protestors
Top: The planned site of the September 17 protest, Chase Manhattan Plaza, was barricaded at the request of its corporate owners. [Photo by David Shankbone] Bottom: Police patrol Zuccotti Park on November 15 after evicting protesters. [Photo by Jonathan Massey]

During the two-month occupation, protesters rewrote the social and spatial codes that had determined use of the block for decades. Created in the late 1960s as a POPS concession linked to the construction of One Liberty Plaza, the park was rebuilt by new owners Brookfield Properties in 2006 to a design by Cooper Robertson & Partners that serves downtown office workers by encouraging passive recreations like lunch and chess while discouraging active ones like cycling and skateboarding. In a related feature on Places, we look more closely at the Cooper Robertson design and its transformation into the Liberty Plaza encampment.

Stepping partially outside state and market systems, occupiers created their own structures for discussion and governance; for provision of daily services; for medical care and sacred space; for music, dance and art. Some aspects of this counterpublic resembled the exhilarating, liberatory “Temporary Autonomous Zones” described by anarchist writer Hakim Bey. [7] Others were pragmatic, even bureaucratic. Within days, working groups resembling urban agencies — dedicated to issues like Comfort, Medical, Kitchen, Library, Sanitation and Security — created a series of nodes or workstations that cut diagonally across the park. They appropriated design elements such as retaining walls, benches and tables to define functional zones.

In overlaying the permanent landscape of the park with new activities and installations, the occupation created what anthropologist Tim Ingold calls a “taskscape”: a topography of related activities deployed in space and changing over time. [8] Through their patterns of spatial appropriation, occupiers responded to the asymmetries of the park — its slope, the priority of Broadway relative to Trinity Place, and the more favorable sun and wind exposures available in the northeast corner — by programming the plaza along a gradient. Running from north and east to south and west, this gradient shaded from public to private, mind to body, waking to sleeping, and reason to faith. Outreach/Media/Legal claimed the location that afforded the most shelter and the best sun exposure while also being situated far from the noise and dust of the World Trade Center construction site.


Kitchen compost station and The People’s Library. [Photos by Jonathan Massey]

On the austere geometry of a tasteful corporate plaza, just under 33,000 square feet, the occupation created an entire world in which you could meditate, change your wardrobe, update your blog, cook lentils, read a book, sweep up litter, bandage a wound, bang a drum, roll a cigarette, debate how best to challenge corporate hegemony, make art, wash dishes and have sex, usually in the company of others.  The square teemed with friends and strangers, allies and antagonists; it was intensely public and interactive. Daily activities were saturated with a talky sociability in which the challenges and opportunities of every action, every decision, were open to reinterpretation and negotiation. At any moment, the call of “Mic check!” could ring out across the camp, obligating participants to drop personal conversations and become part of a communal discourse. The act of chanting in unison, as a human microphone, created a common sense of purpose, established relationships among neighbors and intensified awareness of surrounding bodies.

This new world could feel exhilarating and inspiring but also threatening and claustral. It was crowded. It was charged with strong emotions. Its core members were working hard, and they were often tired. On top of reforming global capitalism, they had to handle fights, thefts, drug use and sexual assaults, while operating under the strain of official hostility, police surveillance, constant interaction with supportive and hostile visitors, and weather. Radical openness and participatory self-government proved taxing. As the occupation stretched from days into weeks and months, participants took shelter from cold, rain and snow in tents and tarps. The plaza became more internalized and lost some of its intense sociability.

The functional zoning also reinforced sociological differences in the camp. Many of the most active members identified themselves as coordinators or occupiers. These groups were not mutually exclusive, but they gravitated toward spaces in separate ends of the park.Coordinators, who facilitated discussions and posted on blogs, often spent nights at home, while occupiers put their bodies on the line by living and sleeping in the park. A spatial gradient emerged, with occupiers’ tents clustered toward the western end. Not surprisingly, these constituencies were marked by differences in class, education level, ethnicity, sexuality and gender. The Daily Show even aired a skit about the differences, using “uptown” and “downtown” to describe the two ends of the park. [9]

Occupy Wall Street Sanitation Workstation


Top: Sanitation workstation. [Photo by Jonathan Massey] Bottom: Liberty Plaza Site Map drawn by Occupy participant on October 10. Click image to enlarge. [Map by Jake Deg]

Organizers worked hard to build the institutions needed to sustain the micro-city, but its autonomy was inherently limited; the camp was shaped by its adjacencies to the social, commercial and political networks of Lower Manhattan and the Financial District. Businesses provided restrooms. Sympathetic unions made facilities available. Organizations lent kitchen and office space. Individuals donated money, books, clothing and food. Murray Bergtraum High School opened its auditorium to meetings of the OWS Spokescouncil. A local government authority, Manhattan Community Board 1, mediated among protesters, neighborhood residents, Brookfield Properties and city officials in discussions about drum noise and other issues where order maintenance was enforced through claims about “quality of life.”

These interactions extended the spatial and social gradients of Liberty Plaza across a broader urban geography. Dozens of working groups met in the enclosed atrium at 60 Wall Street, a privately owned public space at the base of an office tower built by J.P. Morgan and currently occupied by Deutsche Bank. In that large room, designed by Roche and Dinkeloo and clad in marble and mirror and decorated with palm trees and postmodern grottoes, they shared space with chess-players and well-heeled denizens of the Financial District. From morning to night they used the tables, benches, chairs and wifi of the climate-controlled space as a purposeful, orderly extension of the eastern end of Liberty Plaza, establishing commuting patterns that figured 60 Wall as the Occupy office.

Occupying the Internet 
The Wall Street protests would not have materialized without extensive work by on-the-ground activists in New York. But it was the Adbusters blog post that gave the action a name and date. It also gave them #occupywallstreet, the first of thousands of #Occupy hashtags that enabled the spontaneous assembly of strangers on Twitter and other internet platforms. In the months leading up to the first occupation, and in the year afterward, Occupy established an online presence unmatched in the history of social action, leveraging multiple online spaces to stage protests and to generate a distinctive counter-public and alternative polity.


Top: Occupiers connect via laptops and smartphones from Liberty Plaza. [Photo by David Shankbone] Bottom: Instagram photo sent by Occupy activist: “Riding in a bus with 50 others, in cuffs writing this.” [Photo by pulseprotest]

In the United States, the internet was largely exempt from the state control and censorship that curtailed protest activity on the street, but it was inherently open to surveillance and imposed another set of exclusions based on access to online spaces and protocols. Its various platforms afforded ties that were both broader and weaker than those at Liberty Plaza. Discussions took place in specialized forums and channels quite unlike the multisensory, multiparticipatory assemblies, meetings, marches and rallies of the physical realm. From its inception, Occupy tested the capacities of the internet’s virtual spaces to sustain organizational activity, deliberative discourse and other kinds of public-making. [10]

As with the physical occupation, many online actions had precedent in earlier movements, from the anti-globalization protests of the 1990s to the Arab Spring of 2011. For years U.S. activists have used sites like Indymedia to distribute information and mobilize protest participation. [11] After posting its call to action, Adbusters sent word to its email distribution list and created a Facebook event, mobilizing a pre-existing network of followers. As one of the largest privately owned public spaces online, Facebook became a key platform for the Occupy movement. Facebook profiles such as OccupyWallSt,Gilded.Age and OccupyTogether, created in the weeks leading up to the first protest, provided broadly accessible channels for information. When individuals “liked” or commented on items in these newsfeeds, Occupy ideas propagated through user-generated social networks. Throughout the fall, members used the site’s text, link, note, and photo and video sharing features to endorse events and activities. [12]

During the groundwork phase, organizers also used open-source web-coding tools to create dedicated Occupy websites. The most important were Occupywallst.org, a Github site launched in mid-July as a clearinghouse and contact-point for the movement;NYCGA.net, a WordPress site created a few weeks later to serve the New York City General Assembly and its working groups; and the blog Occupytogether.org. These sites combined newsfeeds and social media links with manifestos, videos, crowdmaps and other resources, and they linked together other sites to create a sprawling landscape of information.


A selection of the more than 1600 posts submitted to the 99 Percent Project in October 2011.

In parallel, organizers tapped the internet’s capacity to build what sociologists Jennifer Earl and Katrina Kimport call “e-movements”: politically effective campaigns that circulate in the media without necessarily coalescing into mass gatherings. Online tools provide immediate and inexpensive site design and back-end functionality, allowing organizations or individuals to launch awareness campaigns and other political actions that demand little money or time from participants. [13] One such tool for Occupy activists was the image-based microblogging site Tumblr. In late summer, the 99 Percent Project invited people to “get known” as part of a majority disenfranchised by the super-rich. Under the slogan “We Are the 99 Percent,” the image blog featured self-portraits of working- and middle-class Americans holding handwritten signs or letters describing the circumstances of their indebtedness. The project called attention to the rise in income inequality and helpedpopularize the rhetoric of “the 99 percent.” [14] After September 17, it became an online analogue to Liberty Plaza, enabling a geographically dispersed set of participants to join the occupation of Wall Street and forging a common consciousness about debt and disenfranchisement. The self-portraits were often shot at a computer desk with a webcam, and overwhelmingly they were set in domestic interiors like living rooms, dens and bedrooms. But the handwritten signs pointed to a world outside those walls, evoking the signs of the homeless explaining their misfortunes and asking for help, as well as the signs of protesters bearing expressions of solidarity and calls to action. [15]


Global crowdmap on the Ushahidi platform. [Screenshot by the authors]

Contours of the Hypercity 
In the summer of 2011, before the first protesters had set foot in Liberty Plaza, the Occupy movement was evolving toward a model of General Assembly that hybridized online and offline discourse. While street activists in New York were practicing consensus decision-making in public parks, online participants were responding to a poll Adbusters created using Facebook’s “question” function: “What is our one demand?” Answers included abolishing capitalism, demilitarizing the police, legalizing marijuana, reinstating the Glass-Steagall Act and freeing the unicorns. (The winner was “Revoke Corporate Personhood.”) Through this asynchronous online polling, Facebook supported a weak form of political discussion that prefigured the stronger and more interactive deliberations that filled Liberty Plaza.

By September 10, General Assembly minutes were being posted online at NYCGA. Over time these became more elaborate, and note-takers projected their evolving documents on a screen in Liberty Plaza so that participants could respond to the minutes-in-the-making. Assembly meetings were livestreamed so that participants across the globe could follow in real time, and some were archived online in audio and video formats. Congregants also livetweeted the assemblies under Twitter handles such as @DiceyTroop and @LibertySqGA. These accounts attracted thousands of followers, many of whom responded to live events, adding a layer of online conversation that augmented the face-to-face assemblies.

Hybrid discussions were the norm for the working groups that handled the day-to-day and week-to-week activity of Occupy Wall Street. During and after the occupation, working groups met regularly at Liberty Plaza, the 60 Wall atrium, Union Square and other locations throughout New York. A blackboard at Liberty Plaza listed some of these meetings, but more reliable information was found online at NYCGA, where nearly every working group had a page with a blog, activity wall, shared documents and event calendar, and discussion forum involving members who had never attended the face-to-face meetings. By spring 2012, the site hosted roughly 90 working groups, some with just a handful of registered users and a couple of posts, others with many hundreds of users and more than 2,000 entries.


Top: Blackboard at Liberty Plaza announces working group meetings. [Photo by Jonathan Massey] Bottom left: Livestream at Occupy Detroit. [Photo by Stephen Boyle] Bottom right: “People’s Mic: Please join the Conversation.” 24/7 internet broadcast from Occupy Wall Street. [Photo by Chris Rojas]

As the weather changed in late October, the Town Planning forum hosted extensive discussions on a topic that simultaneously preoccupied the group’s in-person meetings and the General Assembly: how to sustain the camp into the winter. One participant lit up the forum with a long post advocating event tents that would cover large expanses of the park in communal enclosures, as an alternative to individual camping tents. “Safety teams are unfortunately learning … that privacy equals risk,” wrote Sean McKeown, “because privacy allows for unseen violence, unseen sexual menace, and for drugs, alcohol, and weapons to be kept in shockingly large number if we are to guess by the number of needles found around tents lately since they have gone up.” [16] Members suggested building geodesic domes or frame structures with salvaged materials, or claiming regulatory exemption by designating the camp as a Native American sacred site. The reconfiguration of Liberty Plaza at the beginning of November was negotiated simultaneously in the park, in dispersed work-group meetings, and on the internet.

While online forums, as the Latin term implies, evoke the experience of face-to-face discussion, other online technologies create public spaces without analogue in the physical world. The Twitter hashtag, for example, enables radically new modes of creating, discovering and organizing affinity clusters, which proved useful in movements like the January 25 Egyptian Revolution and the Green Revolution in Iran. In self-conscious emulation of those precedents, Adbusters branded September 17 with the hashtag#occupywallstreet, signaling an expectation that participants would use Twitter to communicate with one another and with larger publics.

It took more than a week for the hashtag to catch on, and from July 25 through the end of August, the four hashtags #occupywallstreet, #occupywallst, #occupy and #ows together accounted for an average of only 27 messages per day. Activity increased in September, and by the day of occupation, Twitter volume on this group of hashtags hit 78,351 as the broader public of participants, bystanders and commentators joined organizers in using the platform for realtime micoblogging of information, opinions and photos. Twitter’s instantaneous syndication was a valuable conduit for time-sensitive news, and its 140-character message limit was well suited to the mobile devices that predominated in Liberty Plaza. Some activists used photo, video and geotagging features on their phones to make Twitter a medium for mapping and building the extended Occupy taskscape. Volume on those four hashtags peaked at 411,117 on November 15, the day protesters were evicted from the park. [17]


Visualization of the Occupy movement online, July to December 2011, including activity on Google, Facebook, Twitter, blogs, and We Are the 99 Percent. Click image to enlarge. [Timeline by the authors]

Many other online spaces provided venues for discourse and arenas for participation. Internet relay chat channels allowed participants to talk to one another, individually and in groups. Live video streams from Liberty Plaza and other camps opened real-time windows onto parks, squares and streets around the world. Occupystreams.org compiled more than 250 such livestreams, each flanked on screen by a chat feed. Video and photo-sharing sites such as YouTube, Vimeo, Flickr and Instagram enabled participants to post, share and discuss images of Occupy protests, police actions, and other content. Much of this activity garnered only limited interest, but some posts went viral, such as the late September videoof a high-ranking NYPD officer pepper-spraying women who had already been corralled on the sidewalk. Edited and annotated with the low-tech tools that support user-generated content, the video broadened awareness of and sympathy for the occupation.

As social media expanded the range of channels for participation in Occupy Wall Street, it also changed the nature of the public that joined. Extrapolating from the work of anthropologist Jeffrey S. Juris, we can contrast the network logics that predominated in summer 2011, when organizations and activists used email lists and websites to mobilize pre-existing networks, with a new set of aggregation logics that developed as the event took off. Social media engaged many thousands of people who had no pre-existing connection to social change organizations and activist networks. These virtual spaces, even more than city parks, became points of encounter where previously unrelated individuals aggregated to form popular assemblies.

Focusing on Occupy Boston, Juris suggests that while the alter-globalization protests of the 1990s created “temporary performative terrains along which networks made themselves and their struggles visible,” the Occupy movement activated a wider public. “Rather than providing spaces for particular networks to coordinate actions and physically represent themselves,” he writes, “the smart mob protests facilitated by social media such as Facebook and Twitter make visible crowds of individuals aggregated within concrete locales.” [18]

Political scientist Stephania Milan has characterized Occupy protests as “cloud protesting,” comparing the movement to “a cloud where a set of ‘soft resources’ coexist: identities, narratives, and know-how, which facilitate mobilization,” much as social media hosted via cloud computing gives individuals the tools for “producing, selecting, punctuating, and diffusing material like tweets, posts and videos.” [19]


Top: Protest sign in Times Square: “Get off the internet. I’ll Meet you in the streets.” [Photo by Geoff Stearns] Bottom: Collaboratively edited User Map at OccupyWallSt.org.

Though Milan and Juris don’t address them, we could add crowdmaps to the list of “cloud tools” that activated aggregation logics in the Occupy movement. Online maps populated by user-generated content were published at Take the SquareUS Day of Rage,OccupyWallSt.org, and Occupy.net. Most used Ushahidi, free open-source crowdmapping software developed in 2008 in Kenya to support disaster relief and response efforts. By compiling data into a common geospatial framework, these crowdmaps visualized Occupy participants and camps as discrete elements that aggregated to form a global phenomenon. They associated people, texts, images and videos with particular places, constructing hypergeographies of action and potential. Animated timeline features encouraged users to visualize themselves and local events as part of a process of “#globalchange.”

The most robust crowdmap was the #OccupyMap at Occupy.net, built by the Tech Ops working group of NYCGA. It provided a web interface for reporting events such as marches, rallies and police interventions, with easy media embedding and compatibility with the Ushahidi app on iOS and Android mobile devices. It also populated automatically from Twitter: any tweet from a location-enabled device that included the hashtag #occupymap generated a geotagged report that could incorporate photos and videos via the Twitpic and Twitvid apps. By spring 2012, the map had aggregated some 900 entries from New York City into a database that could be sorted geographically and temporally, by medium and by event type — all viewable via map, timeline and photo interfaces. By pulling together disparate events and data across space and time, the #OccupyMap created a counterpublic integrated through its use of online media to contest state and corporate control of urban places.

The Occupy crowdmaps were most compelling rhetorically at larger scales, where they visualized landscapes fundamentally distinct from those visible in city streets. In counterpoint to the intense attention paid to Liberty Plaza, these virtual geographies redefined the public of Occupy Wall Street as a dispersed set of agents linked more by online communication channels than by proximity. Viewed at national scale, the red placemarker icons on the User Map at OccupyWallSt.org suggested a crowd of hot air balloons that had landed — or were preparing to take off — all across the country. In places they clustered so tightly as to create red contours marking an otherwise invisible topography of radicalism. But at the local scale, what had seemed a continuous landscape of occupiers thinned out; zooming in on Liberty Plaza, you saw only a forlorn green oblong scattered with a few markers.

Open-Source Urbanism 
While some online activists relied on corporate media such as Facebook and Twitter to reach a broad public, many made a point of using open-source software, sources and methods such as wikicoding. Occupy websites became spaces for the elaboration of what Christopher Kelty calls a recursive public, “a public that is vitally concerned with the material and practical maintenance and modification of the technical, legal, practical, and conceptual means of its own existence.” [20] In the physical realm, Liberty Plaza and other occupied spaces functioned as offline analogues of a wiki page. Participants without much prior affiliation built new worlds and organized themselves to maintain them while avoiding hierarchy and formalization whenever they could. At these “wikicamps,” open-source urbanism operated at a scale simultaneously local and global. [21] The New York camp was built with knowledge, idea and resources from Spain and Argentina, Chiapas and Cairo, as well as from local coalitions.


Jonathan Massey and Brett Snyder map Liberty Plaza’s functional zones and activities. See the sidebar  “Mapping Liberty Plaza” for axonometric drawings of the site’s transformation.

Participants have continued to explore the ways that digital media can reshape our public spaces and public spheres. One example is a course project at The New School that emerged from a multi-day, multi-city “hackathon” sponsored by the working group Occupy Research. The Twitter bot @OccupyPOPS is a script that cross-references check-ins on social media sites Foursquare and Twitter with the New York City government database of privately-owned public spaces, then automatically tweets a call to temporarily occupy a particular POPS at a specific date and time. Created by Christo de Klerk, @OccupyPOPS mobilizes virtual spaces, physical places and social networks to reshape urban public space and the regulations that govern it. Other New York-based projects addressing the issues foregrounded by Occupy include #whOWNSpace and The Public School, as well as pre-existing initiatives like Not an Alternative.

Open-source hypercity urbanism becomes increasingly important as governments constrain public assembly in the offline world. On November 15, the state cleared the experimental agora at Liberty Plaza. Police and sanitation workers with bulldozers removed tents and tarps while resisting occupiers fell back to the People’s Kitchen. As NYPD blockaded the surrounding streets and airspace, people and texts and media feeds streamed out from an atmosphere made toxic by chemical and sonic weapons. Coordinated police actions evicted occupiers in Oakland, Portland, Denver and other cities.

Occupy Wall Street working groups and General Assemblies continue to meet in the 60 Wall Street atrium and other public locations, and to stage intermittent marches, rallies and actions. Occupations were sustained in other cities around the world, and activists tried several times to retake Zuccotti Park. Without its base camp, the Occupy movement relied even more extensively on websites and other online media as its primary means of communication and self-representation. This activity expanded into an array of diffuse campaigns: to reduce and renegotiate student debt; to resist foreclosures and reclaim bank-owned houses; and to challenge corporate power on many fronts.


Top: Sign posted at the 60 Wall atrium on November 15: “No excessive use of space.” [Photo byJohanna Clear] Bottom: Protesters remove police barriers and reoccupy Zuccotti Park on November 17. [Photo by Brennan Cavanaugh]

Occupy Wall Street had an immediate impact on U.S. domestic politics. Counteracting anti-deficit rhetoric from the Republican Party and Tea Party activists who sought to cut social services while borrowing heavily to fund wars and regressive income redistributions, the Occupy movement shifted the focus of mainstream political discourse to income inequality and the burdens of consumer debt. For many participants and observers, though, its more compelling achievement was to embody a minimally hierarchical communitarian polity that combined consensual direct democracy with a high degree of individual autonomy, and also a voluntary sharing economy with the market logics and state service provision that dominate everyday urban life. The longer-term impact of #OWS may well stem from the techniques it modeled online and in the streets for building new publics and polities.

What might this history mean for the future of public space and political action? Events are still unfolding, so the question is open-ended. But here are some provisional conclusions:

  • Online tools are rapidly changing the dynamics of political action. The aggregative, rhizomatic, and exponentially expanding character of the Occupy movement reflects the distinctive capacities of social media.
  • Media are accelerating the pace of discourse and action. Flash mobs and viral tweets may be excessively hyped, but the compressed temporality of the new media landscape is reflected in the rapid emergence, metastasis, and dormancy of Occupy Wall Street.
  • Digital communities are good at building systems. Wikicoding and other modes of online collaboration can build online venues fast and well.
  • These communities may still require face-to-face interaction to achieve substantive change. Digital communication is easy, but for that reason it can feel too light and weightless to mobilize people for the tenacious action it often takes to achieve deep structural changes.
  • Bodies in the street still matter for commanding attention and galvanizing engagement.
  • Modern forms of police control violate basic civil liberties. From the constraints placed on all manner of public assembly to the everyday civil rights violations of the stop-and-frisk system, police in New York and some other American cities have passed a dangerous tipping point.
  • Asserting a broad right to the city means claiming public places, online and offline, for assembly, dialogue and deliberation by multiple publics with varying spatial and temporal requirements.
  • Privately owned public spaces offer platforms for experimentation. The prevalence of corporate enclaves in our cities and online often homogenizes and constrains public life, but Occupy Wall Street showed that POPS can be sites for public-making and political action.
  • But users should reclaim some of the value we create in using corporate media. Activists should find ways to gain at least partial control over the valuable and revealing information trails that users generate through activity online and in our cities.

Finally, initiative is shifting to global-local coalitions. While Occupy was often framed in nationalist terms, its more pervasive character was simultaneously transnational and highly local, reflecting the new geographies of capitalism and its media. The intersections between global and local, online and face-to-face, reformist and radical are promising sites for the creation of the new publics and polities that might open up futures beyond the neoliberal state.


Editors’ Note
 

See the sidebar “Mapping Liberty Plaza” for axonometric drawings of the site’s transformation, by Jonathan Massey and Brett Snyder.For related content on Places, see also “Occupy: What Architecture Can Do” and “Occupy: The Day After,” by Reinhold Martin, and “Housing and the 99 Percent,” by Jonathan Massey.

Authors’ Note 

Andrew Weigand and Grant D. Foster assisted with research and visualization for this project.

We would like to thank many colleagues who contributed research and ideas. Early discussions about Occupy Wall Street included Joy Connolly, Elise Harris, Greg Smithsimon and Jenny Uleman. Matt Boorady, Timothy Gale, Steve Klimek, Gabriella Morrone and Nathaniel Wooten contributed to the mapping and surveying of Liberty Plaza. Jennifer Altman-Lupu, Rob Daurio and Katie Gill shared Occupy Wall Street maps they had made and gathered. The Transdisciplinary Media Studio at Syracuse University supported our research with funding from a Chancellor’s Leadership Initiative.

The project benefited from feedback at two stages. The Aggregate Architectural History Collaborativeworkshopped an early version of the text. Organizers and participants in the National Endowment for the Humanities Summer Institute in Digital Humanities, “Digital Cultural Mapping,” held at UCLA in June and July 2012, helped us develop the project both intellectually and representationally. Particular thanks to organizers Todd Presner, Diane Favro and Chris Johanson, and to consultants Zoe Borovsky, Yoh Kawano, David Shepard and Elaine Sullivan, as well as Micha Cárdenas of USC.

Notes 

1. See Doug Singsen, “Autonomous Zone on Wall Street?,” Socialist Worker, October 11, 2011.
2. “#OCCUPYWALLSTREET,” Adbusters, July 31, 2011.
3. On Occupy Oakland as a counterpublic, see Allison Laubach Wright, “Counterpublic Protest and the Purpose of Occupy: Reframing the Discourse of Occupy Wall Street,” Plaza: Dialogues in Language and Literature 2.2 (Spring 2012): 138-146.
4. “Nine Arrested and Released Without Charge in Occupy Wall Street Test Run,” Occupy Wall Street, September 8, 2011. For early histories of OWS in New York, see Writers for the 99%, Occupying Wall Street: The Inside Story of an Action that Changed America (New York and London: OR Books, 2011), andOccupyScenes from Occupied America, ed. Astra Taylor, Keith Gessen, et al. (London: Verso, 2011).
5. See Alex Vitale, “NYPD and OWS: A Clash of Styles,” in OccupyScenes from Occupied America, 74-81; and Vitale, City of Disorder: How the Quality of Life Campaign Transformed New York Politics (New York: NYU Press, 2008).
6. On the POPS system, see Jerold S. Kayden et al., Privately Owned Public Spaces: The New York City Experience (John Wiley & Sons, 2000); and Benjamin Shepard and Greg Smithsimon, The Beach Beneath the Streets: Contesting New York City’s Public Spaces (Albany: Excelsior Editions/State University of New York Press, 2011), Chs. 2-3.
7. Hakim Bey, T.A.Z.: The Temporary Autonomous ZoneOntological AnarchyPoetic Terrorism (New York: Autonomedia, 1985). See also Shepard and Smithsimon, The Beach Beneath the Streets, Ch. 1.
8. Tim Ingold, “The Temporality of the Landscape,” World Archaeology, 25:2 (1993): 152-174. Thanks to Jennifer Altman-Lupu for suggesting this way of understanding Liberty Plaza.
9. The Daily Show with Jon Stewart, “Occupy Wall Street Divided,” 16 November 2011. For a more serious account, see Writers for the 99%, Occupying Wall Street, 61-67.
10. The Occupy movement online combined two modes that Sándor Végh describes as “internet-enhanced activism” and “internet-enabled activism.” See “Classifying Forms of Online Activism: The Case of Cyberprotests against the World Bank,” in Cyberactivism: Online Activism in Theory and Practice, ed. Martha McCaughey and Michael D. Ayers (Portsmouth, NH: Routledge, 2003), 71-96. These approaches constituted what we might call a digital repertory of contention. See Charles Tilly, Regimes and Repertoires (Chicago: University of Chicago Press, 2006), and Brett Rolfe, “Building an Electronic Repertoire of Contention,” Social Movement Studies 4:1 (May 2005): 65-74.
11. Jennifer Earl and Katrina Kimport call this “e-mobilization”: using the web to facilitate and coordinate in-person protest. See Digitally Enabled Social Change: Activism in the Internet Age (Cambridge: MIT Press, 2011).
12. Some commentators even used the site’s “notes” function to publish commentaries on and critiques of the movement for others to discuss and repost. See, for instance, Greg Tate’s note “Top Ten Reasons Why So Few Blackfolk Seem Down to Occupy Wall Street,” 17 October 2011.
13. See Earl and Kimport, Digitally Enabled Social Change, Introduction.
14. See Adam Weinstein, “‘We Are the 99 Percent’ Creators Revealed,” Mother Jones, 7 October 2011, and Rebecca J. Rosen, “The 99 Percent Tumblr and Self-Service History,” The Atlantic, 10 October 2011.
15. After a slow start in August 2011, participation in the 99 Percent Project spiked at the beginning of October 2011, as the Brooklyn Bridge march and arrests spread awareness of Occupy Wall Street. Activity peaked on October 20, when site managers posted 264 photos and site visitors added nearly 6,000 comments. By the end of May 2012, the project encompassed 3255 posts and more than 134,000 comments.
16. Sean McKeown, “Winter Event Tents for Liberty Plaza,” Town Planning forum, New York City General Assembly.
17. Twitter data is drawn from a dataset compiled by social analytics company PeopleBrowsr.
18. Jeffrey S. Juris, “Reflections on #Occupy Everywhere: Social media, public space, and emerging logics of aggregation,” American Ethnologist 39:2 (2012): 259-79: 260-61.
19. Stefania Milan, “Cloud Protesting: On Mobilization in Times of Social Media,” lecture, 10 February 2012 (abstract).
20. Christopher Kelty, Two Bits: The Cultural Significance of Free Software (Duke University Press, 2008). See also “Recursive Public,” The Foundation for P2P Alternatives.
21. “Wikicamps” adapts the term that sociologist Manuel Castells used to describe the camps that filled Spanish plazas beginning in May 2011. See Castells, “The Disgust Becomes a Network” (translation of “#Wikiacampadas,” La Vanguardia, 28 May 2011), trans. Hugh Green, Adbusters 97 (2 August 2011).

Muito além de uma resposta do poder público (Canal Ibase)

Renzo Taddei, Colunista do Canal Ibase

Link original: http://www.canalibase.org.br/muito-alem-de-uma-resposta-do-poder-publico/

15/07/2013

Na quarta-feira, dia 10 de julho, o Juca Kfouri afirmou em entrevista à Agência Pública que “se não houver respostas, as manifestações serão maiores em 2014”. Na sexta (12) a Deutsche Welle publicou entrevista com Marina Silva, onde ela afirma que a reação do Congresso Nacional e da Presidência da República está “aquém da grandeza dos protestos”. Acredito que a imensa maioria dos analistas concorda com esse ponto: o governo não foi capaz, até o momento, de dar respostas à altura do que pede a ocasião. Nesse texto, no entanto, eu gostaria de discutir dimensões dos acontecimentos que estamos vivenciando que transcendem a resposta do estado.

Inicialmente, eu gostaria de colocar em questão até que ponto o fazer-se ouvir é o sentido último do que estamos vivendo. Isso me parece redutor, porque coloca o estado no centro de tudo. Sou da opinião de que não se deve medir o que está ocorrendo, em seu sucesso ou fracasso, apenas em função da resposta do poder público. Não me parece que as pessoas saem às ruas apenas para provocar uma resposta do poder público. Talvez muitos o façam, ou seja essa a forma que dão sentido ao fato de saírem às ruas. No entanto, o que está ocorrendo é o fortalecimento de redes de organização, de articulação social, cultural e política; redes essas que existem de forma independente ao estado. A assembleia popular horizontal que ocorreu sábado (13) em Belo Horizonte, transmitida ao vivo na Internet pela PósTV/mídia NINJA, é um exemplo disso. Não estou aqui dizendo que as manifestações são anti-estado – ainda que certos grupos certamente o sejam, estes parecem ser uma minoria. O que estou dizendo é que, para que sejam capazes de organizar suas ações e veicular suas mensagens, novas formas de associação entre grupos surgem, inclusive novas formas de pensamento sobre a vida coletiva e sobre o mundo, que não tem o estado como mediador perpétuo de tudo. A política das redes sociais e das ruas é a política que não se resume a fazer referência direta ao que ocorre no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto ou nos muitos palácios-sedes de governo estadual. Em uma palavra, o que esses movimentos têm como fundamento de ação é a afirmação de que o mundo é maior do que o sistema político; o sistema político deve trabalhar para a plenitude da vida no mundo, e não o contrário.

Foto: Mídia Ninja

É em função disso que a tentativa de encontrar uma causa fundamental ou mais urgente, que dê uma identidade ao movimento das ruas, é tarefa vã. Trata-se da tentativa de negar a dimensão múltipla das manifestações, e, ao mesmo tempo, de não enxergar as transformações estruturais, de fundo, que estão ocorrendo. Isso se dá porque falar em “demandas” sugere que o problema é conjuntural, enquanto há uma dimensão estrutural em jogo.

Que dimensão é essa? Em sua última coluna na Carta Capital, Vladimir Safatle afirma que além da crise de representação política, há o esgotamento do ciclo de desenvolvimento com distribuição de renda da época de Lula. A solução para isso é impossível no governo Dilma, diz Safatle, porque requer uma reforma fiscal que seja verdadeiramente de esquerda, algo impossibilitado pelo modelo de alianças partidárias que caracteriza o lulismo. Safatle tem razão, mas essa é apenas metade da história. A outra metade é exógena ao sistema político; está ligada a uma transformação maior em curso, que nos afasta das práticas de organização da sociedade ao redor de hierarquias verticais, onde há um esforço de homogeneização da população em pensamento e ação, de modo que seja mais fácil impor a todos uma visão daquilo que é “mais importante”. A nova realidade social parece estar se configurando de modo que grupos distintos, cada qual com suas agendas específicas, se juntam e separam o tempo todo, formando redes de colaboração que, apesar de eficazes, são mais ou menos instáveis.

Ou seja, Safatle faz referência a um modelo de governabilidade em crise; eu diria que essa é apenas a ponta do iceberg: o que está em crise é o sistema todo; mais que o governo, é o próprio estado que se mostra incapaz de responder às demandas políticas da população. Isso se dá no contexto da crise do modelo republicano francês – crise que afeta a França há décadas e que se faz visível agora no Brasil. Aqui estou fazendo referência a como nosso sistema político, como o francês, depende do esforço do estado na criação de uma certa subjetividade política nos cidadãos; subjetividade essa que, em escala populacional, faz com que o país seja administrável à distância, quase que por controle remoto. Falando em bom português: há um esforço do estado e das instituições (escolas, mídia, tribunais, hospitais) no sentido de produzirem os brasileiros de forma que estes sejam politicamente passivos; o Brasil é mais administrável se todo mundo pensar de forma semelhante, e mais ainda se todo mundo ficar em casa, vendo o mundo pela TV, anestesiados. Esse é o contexto da democracia representativa no Brasil, aquele que reduz a participação política da população às eleições, e onde grande parte das pessoas sequer consegue lembrar em quem votou para os cargos legislativos.

É esse modelo de estado que está em crise, e que nem a reforma política, nem a tributária, irá resolver. A crise da representatividade não se resume à falta de confiança na classe política; há também, e fundamentalmente, uma nova consciência do direito à diferença; para além de ser ineficiente e corrupto, o estado é entendido como fascista porque cala (com o apoio da FIFA, do COB e de empresários do petróleo) qualquer forma de diferença que se mostre inadministrável. Os ataques à imprensa corporativa, e em especial à Rede Globo, tem essa questão como pano de fundo, e não a questão da corrupção. A emergência de mídias abertas, descentralizadas, como a NINJA e a PósTV, são parte desse movimento. Resulta disso tudo a recusa a qualquer forma de representação, e a participação direta, nas ruas e na Internet, é seu principal sintoma.

Sendo assim, não vejo possibilidade de avanço no país que não passe pela transformação das instituições políticas, algumas vezes de forma radical (como a desmilitarização das polícias), de modo que estas sejam mais participativas, mais transparentes e mais flexíveis, para que o bom funcionamento do sistema não seja dependente da homogeneização e da alienação das massas, mas que o sistema possa, ao invés disso, se alimentar da energia e da sinergia produzida pela diversidade de formas de existir. Nesse contexto, não se trata do povo pedir e do governo atender. Ao invés disso, povo e governo tem a difícil missão de transformarem, juntos ou não, o estado em outra coisa, diferente do que ele é na atualidade.

A disputa dos sentidos associados à violência

Existe uma clara disputa pelos sentidos do que está ocorrendo, envolvendo governos, mídias, partidos, movimentos sociais. É importante notar que nem sempre essa disputa tem como objetivo o fazer-se ouvir. Muitas vezes, é fruto de uma vontade de fazer com que o outro não seja ouvido. O uso de adjetivos como “vândalos” e “baderneiros”, por exemplo, é uma tentativa de sequestrar os sentidos associados a algumas das ações de grupos participantes nas manifestações, esvaziando a sua dimensão política. Infelizmente, os governos, e em maior escala a grande imprensa nacional, tem feito um uso estúpido e estupidificante destes adjetivos. As ações violentas, de ataque a automóveis e edifícios, não são aleatórias, como a imprensa faz crer. Podem ser reprováveis, mas não são aleatórias, e em não o sendo comunicam algo. Na Argentina em 2001, depredaram-se os bancos. Porque não houve ataque a bancos aqui? Houve manifestações em outros países onde lojas do McDonalds foram depredadas. Novamente, aqui no Brasil, neste momento, há certa constância em ataque a edifícios e automóveis ligados ao poder público e às corporações de imprensa. Isso é, obviamente, uma forma de comunicação. A questão então é: o que faz com que setores da população adotem esse tipo de prática como estratégia comunicativa?

Como resposta possível a essa questão, não faltam evidências, tanto na produção das ciências sociais como no discurso de ativistas dos movimentos sociais, de que a comunicação através da violência é um padrão usado pelo próprio estado na sua relação com setores marginalizados da população. Ou seja, há certas arenas da vida social em que o contexto se organiza em torno de práticas violentas, e impõe a violência como estratégia de ação comunicativa. Não é por acaso que os grupos que se envolvem em ações violentas são aqueles que não se reconhecem no discurso do estado ou da imprensa, acham que sua voz nunca é ouvida. Em minhas próprias pesquisas, vi muito isso entre lideranças de torcidas organizadas. Quando é que a imprensa dá espaço a tais lideranças? Nunca.

Como dizem alguns autores, a violência não é um fato, mas uma acusação: a polícia tem o poder autorizado de dizer o que e quem é violento, e fazer com que a sua própria violência fique invisível, não constando nos relatórios oficiais, nem em grande parte da cobertura da imprensa, que tem na própria polícia uma de suas mais importantes fontes de informação. Infelizmente, muitos dos nossos jornalistas são ventríloquos da polícia. Por isso a violência policial que temos visto é tão chocante e assustadora para a classe média, em especial para quem aprendeu a pensar o mundo através da televisão. A circulação livre e intensa de imagens e vídeos, e a ação de mídias alternativas, comprometidas com as causas dos movimentos sociais, estão rompendo esse regime visual ao qual estávamos submetidos. A polícia e o poder público não são mais capazes de regimentar a visualidade das violências e só mostrar a violência dos outros. A polícia mostra que tem consciência de que está numa guerra de imagens: um sem número de policiais tem atuado na repressão às manifestações sem suas identificações; quando convém, no entanto, a polícia filma as próprias ações e distribui o vídeo à imprensa.

pm Manifestações– continuação

Foto: Movimento Passe Livre

O que não se pode ignorar, no entanto, é que existe uma dimensão pedagógica na violência policial. Para um bocado de gente, as balas de borracha e o gás lacrimogêneo estão servido como uma espécie de rito de passagem de retorno, com muita energia, ao mundo da política. Um jornalista gastronômico inglês que participou das manifestações de ontem (11 de julho) no Rio de Janeiro, e sofreu na pele a brutalidade policial, escreveu em seu site: “agora entendo como eventos como esse podem radicalizar as pessoas”. Tais acontecimentos estão ensinando a população a respeito do fascismo do estado; está fazendo parte da classe média experimentar o gosto da repressão policial que só as classes mais baixas vivem cotidianamente. Enfim, isso pode dar muito errado; mas pode ser também o início de um processo de repolitização da juventude. Ou as duas coisas. Eu tenho a impressão de que essa repolitização está acontecendo. Por isso as eleições do ano que vem serão extraordinariamente interessantes.

E o que é que pode dar errado? Há um outro lado dessa dimensão constitutiva da violência: a ação policial, não mediada por lideranças políticas responsáveis e capazes (e está claro a ausência disso em cidades como o Rio de Janeiro), pode criar uma realidade política inexistente no Brasil: grupos organizados de guerrilha urbana, que se armam para enfrentar a polícia. Recentemente, em debate sobre as manifestações no Instituto de Estudos Avançados da USP, Massimo Canevacci, antropólogo italiano, mencionou o conceito de mimese como algo importante na compreensão do que está ocorrendo no Brasil, em sua relação com eventos internacionais, como o que ocorre na Turquia, por exemplo. Isso imediatamente me trouxe à mente algo que vi em minha pesquisa de campo na periferia de Buenos Aires, junto a torcidas organizadas de futebol. Encontrei uma correlação entre o momento em que a polícia militar instalou delegacias nos bairros de periferia e começou uma história de conflito com as torcidas locais, e o início do uso de armas de fogo pelas mesmas torcidas (coisa que anteriormente era vista como sinal de covardia). Obviamente é difícil afirmar que existe uma relação causal entre uma coisa e outra; de qualquer forma, a ideia de equilíbrio de forças é parte fundamental do discurso dos líderes de torcidas mais velhos. Minha hipótese é que a polícia, que obviamente não tem qualquer interesse em igualar forças, mas sim de subjugar o outro, ao inserir uma desigualdade nesse panorama de busca do equilíbrio de forças, acabou fazendo com que as torcidas buscassem as mesmas armas de combate, o que resultou na adoção de armas de fogo pelas mesmas. Novamente, trata-se apenas de uma hipótese. Mas vejamos o que está ocorrendo no Brasil: nas primeiras manifestações de junho, não havia qualquer intenção, por parte dos manifestantes, de entrar em combate com a polícia. Foram brutalizados; e a brutalização tem se repetido, por várias semanas consecutivas, no país todo. Como resultado, o que temos visto é a disposição crescente, por parte de grupos específicos (e cada vez maiores), em preparar-se para o combate com a polícia: do uso de vinagre como instrumento de resistência, nas manifestações de junho, passamos a ver o uso de rojões e coquetéis molotov, como na última quinta (11), no Rio de Janeiro. Esses grupos estão mimetizando a ação da polícia, e isso se dá porque as lideranças políticas estão com suas cabeças enterradas, como avestruzes, e deixaram à polícia a responsabilidade de fazer política pública de segurança. Ou seja, não há interlocução; a polícia impõe a violência como única forma de comunicação. O Brasil pode estar a caminho de criar o seu Weather Underground, e isso é tudo o que a polícia precisa para justificar níveis ainda mais altos de violência contra a população civil, em razão do fortalecimento de agendas da direita. É essencial que as novas lideranças políticas, dos movimentos sociais, busquem atuar para desarticular essa guerrilha urbana nascente, de modo que o movimento todo não caia nisso que é, claramente, uma armadilha.

Foto: Manifestações Brasil 24h (Facebook)

O sentido das manifestações não se resume à demanda por uma resposta do Estado. O mundo é muito maior que o sistema político.

Entrevista com Renzo Taddei, professor de sociologia da Universidade Federal de São Paulo, sobre as manifestações no Brasil.

Por Marcos Nepomuceno, do blog do Templo.

Como os protestos brasileiros se relacionam com as manifestações turcas, a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street nos EUA, o movimento 15M na Espanha e as revoltas das periferias em Paris e Londres, em 2005 e 2011? Há uma interseção comum de causas entre eles?

Em minha opinião, há três pontos de interseção que vale a pena mencionar. Em primeiro lugar, as instituições políticas formais sofrem de uma aguda crise de legitimidade, e em todos os contextos mencionados, ainda que por razões estruturais e conjunturais diferentes em cada um dos casos, essa crise cruzou a fronteira da estabilidade do convívio social cotidiano; as sociedades entraram em uma espécie de ebulição. Em segundo lugar, há a existência da Internet, da telefonia celular e das redes sociais como uma dimensão da vida coletiva que possibilita formas novas de relação entre pessoas, entre pessoas e ideias, e em especial entre as pessoas e a política. E, em terceiro lugar, o grande ator social em todos esses casos é a juventude. Essas são três coisas inter-relacionadas, e a relação entre elas está em franca transformação. O que vejo nas redes sociais, e o que escuto dos jovens sobre sua relação com a política, é diferente hoje do que era há apenas um mês.

Mas, ainda que pareça haver alguns pontos de interseção, é preciso ter cuidado para que não se esvazie as coisas que cada um destes eventos tem de peculiar. Há muitas e importantes diferenças entre eles. O Occupy Wall Street tem um foco muito claro na crítica à concentração de renda promovida pelo capitalismo liberal norte-americano, com o consequente empobrecimento de grande parte da população, e no fato de que o governo trabalha para a manutenção desse sistema concentrador. Não há referências à corrupção, como aqui – pelo menos não na forma como nós comumente entendemos corrupção. A agenda coletiva era bastante mais clara, e não houve destruição de equipamentos públicos; o caráter da manifestação foi, em geral, mais pacífico. Essa diferença de agendas pode explicar porque, por exemplo, uma coisa ocorreu em Wall Street, no coração financeiro do capitalismo mundial, e outra resultou na depredação de edifícios do governo, como ocorreu em Brasília há duas semanas.

Por outro lado, em Nova York, na Espanha, na Turquia e no Brasil há a participação de gente de todas as classes sociais, com especial participação das classes médias urbanas, enquanto os eventos de Paris e Londres são caracterizados pela presença majoritária de jovens oriundos de comunidades de imigrantes e de minorias étnicas empobrecidas. A questão da exclusão social é relevante aqui, porque enquanto isso parece ser um elemento claro dos eventos de Paris e Londres, há analistas que sugerem que parte do que está ocorrendo no Brasil está relacionado com a ascensão social de segmentos da população brasileira; estes, ao sentirem-se economicamente integrados, agora demandam integração política. Ou seja, o problema da exclusão estaria relacionado às manifestações de forma inversa em cada um dos casos. Essa hipótese, no entanto, me parece algo extravagante, carente de embasamento sociológico.

De todas as causas apresentadas, ou não, qual a mais urgente no caso brasileiro?

O Brasil é um país heterogêneo, com muita diversidade social e cultural, e o sentido de urgência está ligado ao lugar de onde se fala e se vive. Não se pode apresentar uma perspectiva como sendo universalmente mais urgente. Veja, por exemplo, a forma como Davi Kopenawa, líder yanomami, pensa as manifestações e as demandas sociais a elas vinculadas. Ainda que existam pontos de convergência com as demandas que vemos nas ruas, elas não se resumem à mesma coisa. Não há razão pra pensar que a causa é a mesma, nos diversos cantos do Brasil.

Além disso, as manifestações são fenômenos complexos, com diversos níveis de ação e interpretação possíveis. Há coisas não ditas verbalmente, mas materializadas na ação da multidão, que geralmente não são levadas em consideração. Por exemplo, na minha percepção, uma coisa não dita explicitamente nos cartazes e gritos da multidão, mas que é variável fundamental nisso tudo, é a emergência de novas formas de associação política, frente à incapacidade das instituições políticas em dar conta de novas formas de participação e novas demandas sociais. Os problemas causados pela natureza das polícias, e sua péssima relação com a população, é um sintoma disso. Trata-se de colocar em pauta as relações entre a população e o estado, relações que estão em franca transformação. Este é um processo que o estado tenta, sem sucesso, conter. São necessárias mudanças não apenas nas práticas de governo, mas no próprio desenho institucional do estado, e a desmilitarização das polícias é parte fundamental disso.

Desta forma, tentar encontrar uma causa fundamental ou mais urgente é negar a dimensão múltipla das manifestações, e é, ao mesmo tempo, não enxergar as transformações estruturais, de fundo, que estão ocorrendo. Isso se dá porque falar em “demandas” sugere que o problema é conjuntural, enquanto há uma dimensão estrutural em jogo. Essa transformação maior que está em curso está nos afastando das práticas de organização da sociedade ao redor de hierarquias verticais, onde há um esforço de homogeneização da população em pensamento e ação, de modo que seja mais fácil impor a todos uma visão daquilo que é “mais importante”. A nova realidade social parece estar se configurando de modo que grupos distintos, cada qual com suas agendas específicas, se juntam e separam o tempo todo, formando redes de colaboração que, apesar de eficazes, são mais ou menos instáveis. Nosso sistema político formal, ainda que fruto de mudanças recentes, de algumas décadas apenas, se mostra demasiado engessado para dar conta do dinamismo das transformações sociais que estão em curso. Há uma marcada assincronia entre estado e setores mais dinâmicos da população, e essa assincronia só parece crescer com o tempo.

Sendo assim, se há algo urgente no Brasil, esse algo é a transformação das instituições políticas de modo que estas sejam mais participativas, mais transparentes e mais flexíveis, para que o bom funcionamento do sistema não seja dependente da homogeneização e da alienação das massas, mas que o sistema possa, ao invés disso, se alimentar da energia e da sinergia produzida pela diversidade de formas de existir.

A horizontalidade na liderança dos movimentos abre espaço para sua descaracterização?

Para que ocorra uma descaracterização, é preciso que exista o reconhecimento de características previamente percebidas e entendidas. Mas isso não existe no momento atual. Muitas reuniões estão sendo organizadas, no meio acadêmico e no âmbito dos movimentos sociais, para que se construa um diagnóstico a respeito do que está ocorrendo. E esse diagnóstico é difícil porque o que está se passando não é uma coisa, mas muitas ao mesmo tempo, algumas vezes de forma inter-relacionada, outras de forma independente. Qualquer diagnóstico é parcial, e desconfio que a maioria tenha – em especial os que a mídia e o poder público se apressam em produzir -, na verdade, o objetivo de tentar colocar as coisas sob controle, de forma conservadora, mais do que efetivamente produzir uma descrição das coisas como estas estão ocorrendo. Os fenômenos que estamos observando desafiam nossos recursos linguísticos e narrativos. Isso sempre foi assim no que diz respeito aos fenômenos de multidão, e por isso mesmo é que há tanta ansiedade, tanto naqueles que tem no controle público seu trabalho, os gestores públicos, como naqueles que tem como trabalho o controle das ideias, dentre os quais estão os acadêmicos.

Como são muitas coisas ocorrendo ao mesmo tempo, e não uma massa homogênea de gente demandando a mesma coisa, não se pode esperar que exista apenas uma liderança, definida claramente. Isso faz o trabalho da mídia mais difícil, porque não se enquadra nos seus modelos limitados de análise da ação política. No entanto, devido ao fato de que a energia da multidão é, ao mesmo tempo, algo perigoso e também um recurso valioso para a transformação política, muitos tentam apoderar-se dela de alguma forma. Ou seja, é de se esperar que existam disputas pelo controle dessa energia. Em minha opinião, no entanto, a emergência de uma liderança é que descaracterizaria o movimento, porque seria a negação de sua multiplicidade, e o sinal de que essa multiplicidade foi sequestrada.

Isso não significa a ausência de liderança, mas essa liderança se constrói de outras formas, num padrão de redes de associações dinâmicas. São muitos líderes, com protagonismos variáveis, em função das formas como as redes se configuram a cada momento. Certamente se dirá que a ausência de liderança claramente identificável fará com que as manifestações se enfraqueçam, ou que uma parte da coisa toda descambe para o caos destrutivo. Ainda que existam riscos nisso tudo que estamos vivendo, grande parte dos analistas da mídia e do poder público não entende os novos padrões de liderança desses processos de associação e ação em rede. As manifestações vão cessar em algum momento, mas não em função de falta de liderança, nem porque a energia do movimento tenha deixado de existir. As associações em rede parecem ser capazes de manter essa energia em estado “latente” por tempo indeterminado, e então de provocar uma ação rápida e explosiva, através de padrões virais de comunicação distribuída. Líderes políticos (e jornalistas) que não dedicam parte do seu tempo a monitorar as redes sociais, e a Internet, de forma mais ampla, mostram não terem entendido esse aspecto das transformações sociais em curso.

Muitos grupos surgiram na disputa de sentidos do movimento após a emergência dos protestos. Como essa vontade social de se fazer ouvir pode ser aproveitada? Os conflitos internos e cisões fazem parte do amadurecimento do processo para mudanças efetivas?

Inicialmente, é preciso que se diga que as ações na disputa pelos sentidos nem sempre têm como objetivo vontades específicas de se fazer ouvir. Muitas vezes, é fruto de uma vontade de fazer com que o outro não seja ouvido. O uso de adjetivos como “vândalos” e “baderneiros”, por exemplo, é uma tentativa de sequestrar os sentidos associados a algumas das ações de grupos participantes nas manifestações, esvaziando a sua dimensão política. Infelizmente, os governos, e em maior escala a grande imprensa nacional, tem feito um uso estúpido e estupidificante destes adjetivos. As ações violentas, de ataque a automóveis e edifícios, não são aleatórias, como a imprensa faz crer. Podem ser reprováveis, mas não são aleatórias, e em não o sendo comunicam algo. Na Argentina em 2001, depredaram-se os bancos. Porque não houve ataque a bancos aqui? Houve manifestações em outros países onde lojas do McDonalds foram depredadas. Novamente, aqui no Brasil, neste momento, há certa constância em ataque a edifícios e automóveis ligados ao poder público e às corporações de imprensa. Isso é, obviamente, uma forma de comunicação. A questão então é: o que faz com que setores da população adotem esse tipo de prática como estratégia comunicativa?

Por outro lado, não faltam evidências, tanto na produção das ciências sociais como no discurso de ativistas dos movimentos sociais, de que a comunicação através da violência é um padrão usado pelo próprio estado na sua relação com setores marginalizados da população. Ou seja, há certas arenas da vida social em que o contexto se organiza em torno de práticas violentas, e impõe a violência como estratégia de ação comunicativa. Não é por acaso que os grupos que se envolvem em ações violentas são aqueles que não se reconhecem no discurso do estado ou da imprensa, acham que sua voz nunca é ouvida. Em minhas próprias pesquisas, vi muito isso entre lideranças de torcidas organizadas. Quando é que a imprensa dá espaço a tais lideranças? Nunca.

Como dizem alguns autores, a violência não é um fato, mas uma acusação: a polícia tem o poder autorizado de dizer o que e quem é violento, e fazer com que a sua própria violência fique invisível, não conste nos relatórios oficiais, nem em grande parte da cobertura da imprensa, que tem na própria polícia uma de suas mais importantes fontes de informação. Infelizmente, muitos dos nossos jornalistas são ventríloquos da polícia. Por isso a violência policial que temos visto é tão chocante e assustadora para a classe média, em especial para quem aprendeu a pensar o mundo através da televisão. A circulação livre e intensa de imagens e vídeos, e a ação de mídias alternativas, comprometidas com as causas dos movimentos sociais, estão rompendo esse regime visual ao qual estávamos submetidos. A polícia e o poder público não são mais capazes de regimentar a visualidade das violências e só mostrar a violência dos outros. A própria polícia percebeu isso: quando convém, a polícia filma as próprias ações e distribui o vídeo à imprensa; nas ações de repressão violenta às manifestações, por outro lado, um sem número de policiais escondeu suas identificações.

Há também os casos de violência entre manifestantes, o que tem assustado muitos analistas. Nas grandes manifestações em São Paulo, havia gente de todo o espectro político, da extrema direita (neonazistas) à extrema esquerda. O convívio entre esses grupos é muito difícil; não se pode esperar grandes alianças que consigam costurar todas as incompatibilidades; a lógica agora é mais molecular. O rechaço às bandeiras acabou tomando uma dimensão maior do que era de se imaginar, e minha opinião a esse respeito é que isso se dá em função dos níveis alarmantes de analfabetismo político no Brasil. Uma amiga, declaradamente anarquista, foi agredida por manifestantes porque caminhava ao lado de pessoas com camisetas do PT; segundo ela, qualquer um que usasse roupas vermelhas corria o risco de apanhar na Avenida Paulista. Pessoas dos movimentos sociais e das centrais sindicais também foram hostilizadas. O clima é de rejeição ao sistema político, mas a classe média politicamente analfabeta (ou politicamente analfabetizada) não consegue identificar com clareza quem é ou não integrante da parte podre do sistema, e acaba hostilizando tudo que seja minimamente institucionalizado. O próprio governo é agora vítima do conservadorismo dessa classe média politicamente analfabeta. No entanto, a atual situação de analfabetismo político é sistêmica e estrutural, e não apenas mérito ou culpa de alguém especificamente.

O que não se pode ignorar, no entanto, é a dimensão pedagógica disso tudo. Pra um bocado de gente que saiu às ruas, as balas de borracha ou gás lacrimogêneo serviram como rito de passagem de retorno, com muita energia, ao mundo da política. A classe média vive por experiência própria o fascismo do estado, experimenta o gosto da repressão policial que só as classes mais baixas vivem cotidianamente. Enfim, isso pode dar muito errado; mas pode ser também o início de um processo de repolitização da juventude. Eu tenho a impressão de que é isso que está acontecendo. Por isso as eleições do ano que vem serão extraordinariamente interessantes.

Por fim, a questão indaga sobre a vontade de se fazer ouvir. Antes de responder a isso, eu gostaria de colocar em questão até que ponto o fazer-se ouvir é o sentido disso tudo. Isso me parece redutor e perigoso, porque coloca o estado novamente no centro de tudo, e me parece que uma das coisas que está ocorrendo é exatamente o oposto disso. Ou seja, o que eu estou dizendo é que não se deve medir o que está ocorrendo, em seu sucesso ou fracasso, apenas em função da resposta do poder público. Não me parece que as pessoas saem às ruas apenas para provocar uma resposta do poder público. Talvez muitos o façam, ou seja essa a forma que dão sentido ao fato de saírem às ruas. No entanto, o que está ocorrendo é a formação de redes de organização, de articulação social, cultural e política, de forma independente do estado. Não estou aqui dizendo que as manifestações são anti-estado – ainda que certos grupos certamente o sejam, estes parecem ser uma minoria. O que estou dizendo é que, para que sejam capazes de organizar suas ações e veicular suas mensagens, novas formas de associação entre grupos surgem, inclusive novas formas de pensamento sobre a vida coletiva e sobre o mundo, que não tem o estado como mediador de tudo, o tempo todo. A política das redes sociais e das ruas é a política que não se resume a fazer referência direta ao que ocorre no Congresso Nacional ou nos muitos palácios-sedes de governo estadual. O mundo é muito maior do que o sistema político; o sistema político deve trabalhar para a plenitude da vida no mundo, e não o contrário.

Os protestos que se alastraram pelo país, e no resto do mundo, tem na internet seu epicentro de força e disseminação. Lá também reside sua fraqueza? Qual seria ela?

Não se sabe exatamente, de antemão, quais são as forças e fraquezas dos protestos. Essas coisas, força e fraqueza, se constroem à medida que os protestos ocorrem, que a coisa toda vai se desenrolando, nos tempos e nos espaços, físicos e virtuais. O que estamos vivendo mostra que a Internet é uma plataforma poderosíssima, em sua capacidade de coagular energia política em ações materiais; no entanto, ainda é possível que corporações e governos exerçam controle censor sobre ela, como vemos no Facebook e na China. O fato de que tanta atividade política ocorra dentro do Facebook faz com que esta atividade seja vulnerável a censura, em geral justificada em função das normas obscuras e obtusas da corporação. Me parece fundamental que uma versão aberta e colaborativa do Facebook seja criada. Outra vulnerabilidade é que a existência da Internet exige investimentos em infraestrutura muito altos, o que tende a colocar o controle físico do funcionamento da rede na mão dos governos. De qualquer forma, me parece que a tendência inexorável de desenvolvimento tecnológico aponta para padrões descentralizados de comunicação, o que tende a dificultar essas ações de censura.

Como você vê a emergência de novas formas de narrativa e cobertura de mídias alternativas, como a NINJA, no contexto virtual?

Em certo sentido, trata-se de uma das novidades mais revolucionárias dentro de tudo o que está ocorrendo, porque pode gerar transformações reais nas comunidades imaginadas nas quais nos encontramos. Ninguém nasce brasileiro ou paulista; nós aprendemos a nos sentirmos essas coisas e a agir no mundo em função disso. Há um esforço do estado e das instituições (escola, mídia, tribunais, hospitais) no sentido de produzirem os brasileiros de formas específicas. De maneira geral, o brasileiro é produzido para ser politicamente passivo: o Brasil é mais administrável se todo mundo ficar em casa, vendo o mundo pela TV – em especial se for futebol -, anestesiados. Vivemos a cidadania como zumbis do capitalismo: vivemos para trabalhar, trabalhamos para pagar contas, educamos nossos filhos para que eles trabalhem, como se isso fosse um fim em si. O sucesso é o sucesso no trabalho, o valor de cada um se reduz ao seu potencial de produtor de bens econômicos.

As manifestações, a multidão, operam em outra lógica; a emergência de mídias abertas, descentralizadas, como a NINJA e a PósTV, também. Isso é um pesadelo para o status quo. Há uma ansiedade geral, hoje, no sentido de entender o que está acontecendo. Para grande parte da população, isso é sintoma da passividade mental à qual somos induzidos: imaginamos o mundo como estando fora dele. A lógica das manifestações é diferente: as coisas não estão acontecendo, nós é que as estamos fazendo acontecer. E mídias como a NINJA e a PósTV são capazes de traduzir isso em novas formas de linguagem midiática.

Juventude “apolítica” reinventa a política (Envolverde/IPS)

02/7/2013 – 09h20

por Fabiana Frayssinet, da IPS

n11 300x225 Juventude “apolítica” reinventa a política

A estudante Stephany Gonçalves dos Santos escreve seu politizado cartaz. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS

Rio de Janeiro, Brasil, 2/7/2013 – Com palavras de ordem contra os partidos políticos, as manifestações juvenis no Brasil trazem consigo o paradoxo de uma nova e efetiva forma de fazer política, que consegue respostas concretas dos poderes do Estado. A palavra de ordem nas ruas é “partidos políticos, não”, e a maioria dos manifestantes se declara, com orgulho “apolítica”. “Não tenho nenhum partido”, diz à IPS a estudante Stephany Gonçalves dos Santos.

Como centenas de milhares de estudantes que protestam, convocados por meio das redes sociais, como o Facebook, ela escreve um cartaz para um protesto no Rio de Janeiro, com lápis de cor em uma simples cartolina. E escolhe a frase “Um filho teu não foge à luta”, do hino nacional brasileiro. “Estou aqui por um ideal de país. quero que meu país seja democrático. Mas onde há repressão não há democracia”, argumentou Stephany, referindo-se à dura resposta policial que, longe de aplacar os protestos, estimulou muitos a aderirem a eles.

“O governo quer alienar o povo com o futebol”, acrescentou, ao abordar outro tema de descontentamento: os gastos milionários em instalações para competições esportivas como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Stephany vive em um país onde diariamente se respira futebol e este é parte de uma cultura popular tão arraigada quanto o carnaval. Mas reclama, indignada, do dinheiro que se deixou de investir em educação e saúde para construir grandes instalações esportivas. “Construíram estádios de primeiro mundo, mas ao redor deles não temos nada. É uma falta de respeito com o povo”, afirmou.

A revolta nasceu de um tema específico: o aumento das passagens de ônibus, serviço já caro e ineficiente. Porém, se estendeu a outras áreas: saúde, educação e a suposta corrupção de muitos dirigentes políticos. “A maioria dos que participam do movimento constitui uma massa de jovens que se sentem muito desgostosos com a atual vida política”, apontou à IPS o especialista político William Gonçalves, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Eles repudiam a corrupção e a cumplicidade de forças que se apresentam como progressistas com as que são símbolo do atraso”, afirmou, referindo-se a alianças parlamentares forjadas pelos partidos para governarem.

Pelas dimensões e pela diversidade territorial do Brasil e da sua população, nenhum partido pode assegurar a Presidência e a maioria das cadeiras no Congresso. “Desta forma, temos um parlamentarismo disfarçado, já que todos os partidos que chegam à Presidência só podem governar aliando-se a outros que têm a única ambição de obter cargos em troca de apoio parlamentar”, explicou Gonçalves. “Até o Partido dos Trabalhadores é prisioneiro dessa aliança. A saída seria uma reforma política”, acrescentou.

Tal reforma, largamente reclamada, não saía das gavetas oficiais. E, curiosamente, foi o susto diante da “apolítica” ebulição das ruas que conseguiu em poucos dias que esse assunto entrasse na agenda oficial. Os manifestantes também conseguiram reduzir o preço do transporte público, a aprovação em tempo recorde de uma lei que declara a corrupção crime “hediondo” e a votação de outra lei para destinar royalties do petróleo para a saúde e educação.

Isto é ser apolítico? O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, acredita que não. “A juventude não é apolítica, pelo contrário. Tanto não é, que levou a política às ruas, mesmo sem ter consciência de seu significado”, afirmou em uma entrevista ao jornal Brasil de Fato. “A juventude está cansada dessa forma de fazer política, burguesa e mercantilista. O mais grave é que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se amoldaram a esses métodos. E, portanto, gerou-se na juventude uma repulsa à forma de atuar dos partidos”, ressaltou.

Para o historiador Marcelo Carreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “este é um novo dado da história nacional, cujo contexto já era claramente observável no esvaziamento dessas instituições”. Carreiro disse à IPS que “as manifestações confirmam essa caducidade das instituições e mostram, apesar de tudo, que a população pode estar mais politicamente ativa que nunca”.

Os três poderes do Estado tomaram nota e já começam a propor e discutir formas alternativas de incluir a cidadania em mecanismos mais dinâmicos e participativos. A presidente Dilma Rousseff deu um passo nessa direção ao admitir que “estas vozes têm de ser ouvidas” porque “deixaram evidente que superam os mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos, das entidades de classe e da própria imprensa”. Uma proposta em debate é estabelecer a consulta popular como instrumento permanente de democracia direta.

Algumas organizações não governamentais propõem, por outro lado, a participação efetiva de diferentes grupos sociais, comunidades e bairros, em decisões sobre onde e como aplicar orçamentos de saúde, educação, infraestrutura, transporte e saneamento. “Tudo o que está acontecendo com estas novas expressões da sociedade em rede – no Brasil e em outros países – aponta para uma reinvenção da política para reinventar a democracia”, opinou Augusto de Franco, diretor da organização Escola de Redes. Os jovens manifestantes atiraram a primeira pedra, e não somente contra a repressão policial.

Sobre as manifestações (OESP)

‘Epidemia’ de manifestações tem quase 1 protesto por hora e atinge 353 cidades

Movimento ganhou força depois do dia 17, ao monopolizar o noticiário das grandes redes de TV, e auge foi no dia 20, em 150 cidades

29 de junho de 2013 | 19h 49

Bruno Paes Manso e Rodrigo Burgarelli – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – No dia 6 de junho, os jornais de São Paulo ainda repercutiam mortes violentas em tentativas de assalto quando uma primeira manifestação de 150 jovens, aparentemente despretensiosa, aconteceu no centro da cidade, na hora do rush, rumo à Avenida Paulista. Era o primeiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que nos dias seguintes atrairia os holofotes da imprensa e se espalharia como “epidemia” pelo Brasil, contagiando rapidamente a população de diferentes cidades.

Veja também:
link Saiba tudo sobre os protestos pelo País

Manifestantes na Avenida Paulista,  em São Paulo, na quarta-feira, 26 - JF Diorio/AE

JF Diorio/AE. Manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo, na quarta-feira, 26

Até quinta-feira, a população saiu às ruas com cartazes para protestar em pelo menos 353 municípios, conforme levantamento feito pelo Estado em eventos no Facebook e em menções na imprensa regional. Ao todo, houve pelo menos 490 protestos em três semanas (mais de 22 por dia). Já a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em pesquisa feita nas prefeituras, identificou protestos em 438 cidades.

O papel das redes sociais (Twitter e Facebook) foi decisivo para a articulação dos discursos e para divulgar hora e local dos protestos. Mas a epidemia só ganhou força depois do dia 17, ao monopolizar o noticiário das grandes redes de televisão. “Fazendo um paralelo com o casamento, esses eventos não têm causa única. O casal não termina porque a toalha foi deixada em cima da cama. Essa toalha pode ser a gota d’água de brigas antigas. O mesmo ocorreu nos protestos, que explodiram por uma longa história de crises enfrentadas em silêncio”, diz o professor de comunicação digital Luli Radfahrer (ECA-USP).

Avanço. Em São Paulo, os primeiros três protestos aconteceram em um intervalo de seis dias e não ultrapassaram os 10 mil manifestantes. Mesmo assim, já eram a principal história dos jornais. No dia 13 de junho, outras dez cidades aderiram – capitais ou cidades médias, como Natal, Porto Alegre, Rio, Santos e Sorocaba. No dia 17, quando São Paulo parou, com 200 mil pessoas nas ruas, já eram 21 protestando.

O auge foi no dia 20, quando 150 municípios tiveram protestos. Pelo menos 1 milhão de brasileiros foram às passeatas, segundo dados das Polícias Militares de 75 cidades. Desde Belém, no Pará, até Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. A menor cidade a se rebelar foi Figueirão (MS), que tem 2,9 mil habitantes.

O mote do transporte público foi o mais popular principalmente nas cidades que têm rede de ônibus. Mas os protestos também ganharam conotações regionais, especialmente nas cidades menores. Picos (PI), por exemplo, atraiu manifestantes contra os pistoleiros. Coxim (MS) protestou contra os buracos nas ruas e pediu a saída do secretário de obras. “Foi uma revolta típica da pós-modernidade, aparentemente sem causa. Do ponto de vista político, contudo, a multiplicidade de causas tornou os protestos mais fortes justamente porque permite várias interpretações dos que vão se manifestar”, diz o psicanalista Jorge Forbes.

Forbes enxerga, no entanto, um ponto em comum nas demandas. “Trata-se de uma sociedade civil renovada, mais informada e educada, que continua tendo de lidar com as instituições do século passado, anacrônicas, que não atendem mais os anseios da população.”

Difícil leitura. Mesmo para aqueles que acompanham a história do movimento, a epidemia de protestos surpreendeu. O filósofo Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos autonomistas no Brasil, ainda se esforça para entender o que aconteceu. “A resistência e a desobediência civil já eram discutidas desde Seattle, em 1999, nos movimentos antiglobalização. A novidade foi o Passe Livre, que passou a ter uma pauta clara, com um grupo de referência para negociar. O governo foi acuado pelas passeatas e mudou sua decisão.” As manifestações continuaram em menor quantidade depois da redução das tarifas, apesar de muitos protestos contra a Copa das Confeder[ações.]

*   *   *

‘Ativismo de sofá’ chegou às ruas, diz especialista

Para diretor de organização de petições online, recentes protestos mostram que assinar abaixo-assinado pela internet não é sinal de despolitização

30 de junho de 2013 | 2h 07

RICARDO CHAPOLA – O Estado de S.Paulo

O diretor de campanhas da Avaaz, uma das maiores organizações mundiais de abaixo-assinados online, Pedro Abramovay, acredita que a recente onda de protestos que tomaram conta do País desbanca o que especialistas e parte da sociedade apelidaram de “ativismo de sofá” – que nasce nas redes sociais e não chega às ruas.

Em atos que se espalharam por capitais e outras cidades brasileiras, manifestantes usaram a internet para dar musculatura à mobilização e, depois, foram às ruas. Abramovay avalia que esse fenômeno é o resultado de uma combinação de dois fatores: internautas mais politizados na rede diante de um cenário em que a política está muito obsoleta.

“Tinha gente que dizia: ‘Olha só, isso é uma despolitização, isso se resume a sofá’. E não, as pessoas não perceberam que a internet hoje faz parte da vida das pessoas”, afirmou ao Estado.

“Quando as pessoas compartilhavam uma petição pelo Facebook, pelo Twitter, elas estavam assumindo posição política diante dos seus amigos. Aquilo foi criando um caldo novo de cultura política num ambiente no qual a política e a forma de se fazer política está muito envelhecida. Uma hora tinha que explodir. E acho que explodiu, foi para as ruas.”

Reforma. Tanto a adesão maciça de pessoas aos atos quanto o número de protestos que ocorreram nas últimas semanas sinalizam, acredita Abramovay, que o eleitor está descontente com a falta de espaço político. Para ele, o poder público não dá abertura para participação social. “O que agora isso tem que gerar é uma mudança das instituições. E a criação de uma abertura política para esses movimentos, para essa vontade das pessoas participarem”, afirmou, em referência à necessidade de uma reforma política – a pauta entrou na agenda do governo federal na semana passada.

Respostas pontuais. Mas a postura do poder público não convence, na avaliação do diretor da Avaaz. Ele disse que a sociedade pede mudanças estruturais, a seu ver a única maneira de a política conseguir atender a todas as demandas existentes nos protestos. “Não bastam respostas imediatas e pontuais para o momento de movimentação aguda como a gente viu agora. Essa energia tem que ser canalizada para mudanças estruturais. A gente tem que ter canais pelos quais essa vontade de a sociedade participar seja acolhida permanentemente pelas instituições políticas”, disse Pedro Abramovay.

“A gente percebe que as pessoas querem falar de política e elas não veem nos canais normais os canais que as representem, que canalizem essas demandas. Então vão para a rua. É preciso reorganizar nossa democracia para que essas demandas encontrem lugar.”

Apartidarismo. Ex-secretário nacional de Justiça no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pedro Abramovay ainda é filiado ao PT. Apesar de criticar o que classifica de engessamento das instituições políticas, como os partidos, e a sua indisposição às mudanças reivindicadas nas ruas, o diretor da Avaaz avalia que o clamor público não é pela extinção das siglas. A questão, de acordo com Abramovay, é a falta de representatividade.

“Eu não acho que as pessoas não querem mais partidos, elas se cansaram de partidos que não as representam. As pessoas se cansaram de partidos que estão descolados da opinião pública, que são clubes eleitorais, como se tem dito. E não a extinção dos partidos.”

Para ele, não existe democracia sem legendas. “A existência de partidos é algo que faz parte da democracia. O respeito à preferência partidária também tem que fazer parte da democracia. Agora os partidos têm que acordar para essa movimentação e por esse desprezo que as pessoas têm pela maneira que eles estão funcionando atualmente.”

Abramovay classificou a onda de manifestações impulsionadas pela internet como um passo importante na história do País. Ele ainda disse que o Brasil tem plenas condições de ser pioneiro nesse novo tipo de política democrática.

“O Brasil tem condições de ser pioneiro nessas inovações democráticas. Não é à toa que o Brasil é o primeiro país da Avaaz”, observou. A organização de petições online, segundo ele, tem cerca de 4,5 milhões de membros brasileiros.

*   *   *

Onda de protestos tomou 353 cidades

30 de junho de 2013 | 7h 40

BRUNO PAES MANSO E RODRIGO BURGARELLI – Agência Estado

No dia 6 de junho, os jornais de São Paulo ainda repercutiam mortes violentas em tentativas de assalto quando uma primeira manifestação de 150 jovens, aparentemente despretensiosa, aconteceu no centro da cidade, na hora do rush, rumo à Avenida Paulista. Era o primeiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que nos dias seguintes atrairia os holofotes da imprensa e se espalharia como “epidemia” pelo Brasil, contagiando rapidamente a população de diferentes cidades.

Até quinta-feira, a população saiu às ruas com cartazes para protestar em pelo menos 353 municípios, conforme levantamento feito pelo Estado em eventos no Facebook e em menções na imprensa regional. Ao todo, houve pelo menos 490 protestos em três semanas (mais de 22 por dia). Já a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em pesquisa feita nas prefeituras, identificou protestos em 438 cidades.

O papel das redes sociais (Twitter e Facebook) foi decisivo para a articulação dos discursos e para divulgar hora e local dos protestos. Mas a epidemia só ganhou força depois do dia 17, ao monopolizar o noticiário das grandes redes de televisão. “Fazendo um paralelo com o casamento, esses eventos não têm causa única. O casal não termina porque a toalha foi deixada em cima da cama. Essa toalha pode ser a gota d”água de brigas antigas. O mesmo ocorreu nos protestos, que explodiram por uma longa história de crises enfrentadas em silêncio”, diz o professor de comunicação digital Luli Radfahrer (ECA-USP).

Avanço. Em São Paulo, os primeiros três protestos aconteceram em um intervalo de seis dias e não ultrapassaram os 10 mil manifestantes. Mesmo assim, já eram a principal história dos jornais. No dia 13 de junho, outras dez cidades aderiram – capitais ou cidades médias, como Natal, Porto Alegre, Rio, Santos e Sorocaba. No dia 17, quando São Paulo parou, com 200 mil pessoas nas ruas, já eram 21 protestando.

O auge foi no dia 20, quando 150 municípios tiveram protestos. Pelo menos 1 milhão de brasileiros foram às passeatas, segundo dados das Polícias Militares de 75 cidades. Desde Belém, no Pará, até Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. A menor cidade a se rebelar foi Figueirão (MS), que tem 2,9 mil habitantes.

O mote do transporte público foi o mais popular principalmente nas cidades que têm rede de ônibus. Mas os protestos também ganharam conotações regionais, especialmente nas cidades menores. Picos (PI), por exemplo, atraiu manifestantes contra os pistoleiros. Coxim (MS) protestou contra os buracos nas ruas e pediu a saída do secretário de obras. “Foi uma revolta típica da pós-modernidade, aparentemente sem causa. Do ponto de vista político, contudo, a multiplicidade de causas tornou os protestos mais fortes justamente porque permite várias interpretações dos que vão se manifestar”, diz o psicanalista Jorge Forbes.

Forbes enxerga, no entanto, um ponto em comum nas demandas. “Trata-se de uma sociedade civil renovada, mais informada e educada, que continua tendo de lidar com as instituições do século passado, anacrônicas, que não atendem mais os anseios da população.”

Difícil leitura. Mesmo para aqueles que acompanham a história do movimento, a epidemia de protestos surpreendeu. O filósofo Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos autonomistas no Brasil, ainda se esforça para entender o que aconteceu. “A resistência e a desobediência civil já eram discutidas desde Seattle, em 1999, nos movimentos antiglobalização. A novidade foi o Passe Livre, que passou a ter uma pauta clara, com um grupo de referência para negociar. O governo foi acuado pelas passeatas e mudou sua decisão.” As manifestações continuaram em menor quantidade depois da redução das tarifas, apesar de muitos protestos contra a Copa das Confederações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

*   *   *

Quarta-feira, 26 de Junho 2013, 22h28

Congresso entra em ritmo frenético diante da pressão de manifestantes

Além de decisões de prefeitos e governadores, Câmara e Senado aprovam propostas que estavam engavetadas há anos; veja linha do tempo

Breno Lemos Pires/Estadão

*   *   *

Aliados culpam políticos por queda da popularidade de Dilma nas pesquisas

Datafolha apontou queda de 27 pontos na aprovação do governo da presidente após os protestos

29 de junho de 2013 | 13h 13

Ricardo Brito e Ricardo Della Coletta – Agência Estado

BRASÍLIA – Aliados da presidente Dilma Rousseff preferiram atribuir a queda de 27 pontos porcentuais na popularidade da presidente Dilma Rousseff, apontada na pesquisa Datafolha, divulgada neste sábado, 29, a uma insatisfação geral da população com os políticos, canalizada na chefe do Executivo, após os protestos que tomaram as ruas nas últimas semanas. Já a oposição não quis comemorar abertamente o resultado, que apontou que 30% dos brasileiros consideram a gestão Dilma boa ou ótima, ante 57% de avaliação positiva registrada na sondagem da primeira semana de junho.

A presidente recebeu no Palácio da Alvorada seus principais operadores políticos dentro do governo para conversar sobre a pesquisa e as novas medidas a serem tomadas. Participaram do encontro na manhã deste sábado os ministros da Comunicação Social, Helena Chagas, das Comunicações, Paulo Bernardo, e da Educação, Aloizio Mercadante, que tem atuado como um ministro informal da articulação política.

Para os governistas do Congresso, é prematuro afirmar que Dilma, que em todas as sondagens eleitorais feitas até o momento venceria no primeiro turno das eleições presidenciais no ano que vem, perdeu seu favoritismo. “É muito cedo para falar sobre 2014. A oposição já está vendo-a fora do governo”, ironizou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). “Não tem nada a ver com a reeleição (a pesquisa), estamos firmes e fortes. O nosso projeto é a reeleição da presidente Dilma. Eu não sou de abandonar o barco”, reforçou o líder do PT na Casa, José Guimarães (CE).

O líder petista lembrou que o ex-presidente Lula passou por dificuldades políticas maiores em 2005, quando eclodiu o escândalo do mensalão, e se reelegeu um ano depois. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), afirmou que a pesquisa está “contaminada” pela atual circunstância. “Qualquer pesquisa vai mostrar queda dos governantes, porque você esta fazendo pesquisa no olho do vulcão, em que estão acontecendo as manifestações e os protestos”, completou.

Oposição. A oposição não vê motivos para festejar a queda acentuada de Dilma de olho em 2014. “A gravidade do momento é tal que tanto o governo como a oposição não podem pensar em si próprios”, avaliou o presidente do Democratas, Agripino Maia (RN). “Com a eclosão das manifestações, o jogo zerou. A oposição sempre pregou no deserto e, de repente, essa mobilização dá à oposição a perspectiva de se preparar para um bom embate”, afirmou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).

O presidente do Democratas, senador Agripino Maia (RN), disse que o resultado da pesquisa é uma “constatação clara” dos equívocos da gestão petista. “Acabou este tempo de governar em nome da reeleição”, disse, ao cobrar de Dilma “humildade de mudar” e ao ressaltar que a oposição está disposta a conversar com a presidente em torno do pacto lançado semana passada. Os oposicionistas, porém, são contrários à realização do plebiscito para se fazer uma reforma política. Agripino Maia defende melhorias na gestão fiscal e uma forte atuação para debelar o câmbio e a inflação altas no País.

O líder do PSDB do Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), avaliou a queda de popularidade da presidente como um “tombo catastrófico, um sinal amarelo”. Para ele, Dilma desperdiçou a capacidade de liderança que tinha para fazer reformas importantes, como a tributária, enquanto ainda apresentava elevados índices de aprovação. “A capacidade de atuação agora fica mais difícil. Ela não atuou quando tinha gordura para queimar. Mas ainda há tempo, desde que se disponha a fazer a atribuição dela e não perca seu tempo com manobras políticas como a do plebiscito”, afirmou.

O parlamentar disse ainda que o Congresso Nacional tem boas lideranças, mas falta uma conversa que parta da presidente e seja capaz de sensibilizar inclusive a oposição, que “nunca se negou a apoiar com aquilo que pode para melhorar o país”.

Veja também:
link Popularidade de Dilma cai de 57% para 30%, indica Datafolha 
link Queda de popularidade de Dilma é insatisfação com a classe política, diz Aécio 
link Dilma está tranquila com pesquisa, diz ministro das Comunicações

 

Acompanhe os desdobramentos dos protestos pelo País (OESP)

27/06/2013

22h23 – SALVADOR – Um confronto entre policiais e manifestantes na Estação da Lapa, em Salvador, no início da noite desta quinta-feira, manchou a manifestação pacífica promovida ao longo da tarde pelo Movimento Passe Livre na cidade. Cerca de 1,5 mil manifestantes, segundo a PM, participaram do ato, caminhando pelos 2 quilômetros que separam a Praça do Campo Grande e a Prefeitura, no centro da cidade.

O confronto começou por volta das 18h30, cerca de uma hora depois de as lideranças do movimento decidirem que a manifestação estava encerrada. Segundo os organizadores, o ato foi concluído quando os objetivos principais do protesto – protocolar a pauta de 21 reivindicações para a mobilidade urbana da cidade na Prefeitura e agendar uma audiência pública sobre o tema – foram alcançados. (Tiago Décimo)

Veja vídeo postado no Youtube pelo internauta brunobellens:

21h55 – Manifestantes continuam bloqueando a  pista expressa da Rodovia Presidente Dutra, no sentido Rio de Janeiro. A interdição, na altura de Caçapava (SP), está agora no km 121 e gera lentidão até o km 134. Acompanhe a situação do trânsito nas ruas da capital e estradas de SP.

21h43– PORTO ALEGRE – A manifestação em Porto Alegre nesta quinta reuniu público bem menor que as 20 mil pessoas da quinta-feira passada e as 10 mil pessoas de segunda-feira desta semana. Também teve carros de som e shows musicais. Uma comissão de 11 representantes dos manifestantes foi recebida pelo governador Tarso Genro, apresentou as reivindicações do movimento e ficou de receber respostas nos próximos dias.

O grupo que se desgarrou e partiu para as depredações saiu gritando “protesto não é festa”. Por volta das 21 h,  o grupo maior deixou a praça e caminhou cinco quadras, até o Largo Zumbi dos Palmares, já na Cidade Baixa, onde permaneceu concentrado, pacificamente. (Elder Olgliari)

21h41 – PORTO ALEGRE – A manifestação pela redução das tarifas do transporte público e mais recursos para educação e saúde causou confusões e alguns confrontos entre ativistas e soldados da Brigada Militar na noite desta quinta-feira, em Porto Alegre. Enquanto a maioria dos cerca de 3 mil participantes do protesto permaneceu diante do Palácio Piratini, um grupo menor, com cerca de cem pessoas, saiu para o outro lado da Praça Marechal Deodoro e atirou pedras e rojões contra o Palácio da Justiça, sede de Judiciário. Na sequência, saiu depredando contêineres de lixo, virando dois deles, e chutando grades de lojas na Rua Jerônimo Coelho e Avenida Borges de Medeiros e se dispersou em direção ao bairro Cidade Baixa. (Elder Ogliari)

21h27 – JOÃO PESSOA – O Terminal de Integração Rodoviário de João Pessoa foi invadido nesta quinta-feira, 27, durante o segundo protesto em favor da redução de tarifas de transportes públicos. Mais de três mil pessoas participaram do ato organizado pelas redes sociais exibindo cartazes e gritando palavras de ordem, segundo a Polícia Militar da Paraíba. O local foi fechado pela Guarda Municipal para evitar vandalismo.

Os manifestantes se concentraram no colégio Lyceu Paraibano, no centro da cidade, onde cantaram músicas e exibiam cartazes. Depois do fim da PEC 37, o alvo agora é a PEC 33, que propõe a revisão de decisões do STF pelo Legislativo. Depois do Terminal Rodoviário, os estudantes e famílias seguiram pacificamente até o Paço Municipal, na Praça Pedro Américo. Apenas um grupo ateou fogo em objetos para chamar atenção, mas não houve incidentes maiores.

Os jovens seguiram até a Praça Três Poderes – local onde se concentra a Assembleia Legislativa da Paraíba, o Tribunal de Justiça e o Palácio da Redenção, sede do governo do Estado. Pediram políticas na educação, saúde e menos corrupção. (Janaína Araujo)

21h08 – A Rodovia Presidente Dutra está com a pista expressa bloqueada no sentido Rio na altura do km 133, em Caçapava (SP), por causa de uma manifestação. Acompanhe a situação das estradas paulistas no Blog do Trânsito. A fila de veículos se estende até o km 128.

20h10 – BAURU– Cerca de 400 manifestantes bloquearam no começo da noite desta quinta-feira a Rodovia Marechal Rondon, em  Bauru, no centro-paulista, para exigir melhorias no transporte coletivo. Eles fecharam a estrada nos dois sentidos. A Polícia Rodoviária desviou o trânsito. Ao menos 100 policiais militares acompanham o protesto.

O cancelamento no aumento do preço da passagem, desconto de 50% para estudantes de qualquer idade e a construção de um novo terminal rodoviário são as principais exigências dos manifestantes.

Até agora há pouco a rodovia continuava interditada. Os prédios da Prefeitura e da Câmara de Vereadores estão com a segurança reforçada. Não houve incidentes. É a terceira manifestação este mês em Bauru. (Sandro Villar)

19h14 – RIO –  Manifestantes que partiram da Igreja da Candelária, no  Rio, por volta das 17h30, se aproximam da Assembleia Legislativa (Alerj). A passeata é pacífica e acompanhada por policiais militares, que também fazem um cordão de isolamento na Alerj.

18h53 – Veja galeria de fotos dos protestos em Fortaleza:

18h16 – RIO – Na manifestação que segue pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio, as pessoas levam faixas e cartazes pela desmilitarização da PM e lembram a morte de dez pessoas, na operação ocorrida na segunda-feira, 24, na Favela Nova Holanda, uma das comunidades do Complexo da Maré.

“A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela”, é o dizer de uma das faixas da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. Mais cedo, um grupo de estudantes e moradores do Complexo da Maré se reuniu no Largo São Francisco, em frente ao Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ para discutir a ação da polícia e confeccionar cartazes para o ato. Eles marcaram ato ecumênico na Favela Nova Holanda, em memória dos dez mortos em confronto com a polícia militar, para terça-feira, 2. (Heloisa Aruth Sturm). Veja galeria de fotos.

18h00 –  A aula pública organizada pelo Passe Livre na frente da Prefeitura de São Paulo já começou e reúne cerca de 400 pessoas no calçadão em frente ao Edifício Matarazzo. O professor que iniciou o evento foi o  ex-secretário municipal dos Transportes Lúcio Gregori, que atuou na gestão de Luiza Erundina, nos anos 1990. Ele defende a tarifa zero no transporte público, que, na sua visão, deveria seguir a lógica de serviços como a coleta de lixo e a saúde, cujos custos já estão embutidos nos impostos. (Renato Vieira)

18h00 – PORTO ALEGRE – A 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sulmanteve a tarifa de R$ 2,85 para o transporte coletivo de Porto Alegre. A decisão foi tomada nesta quinta-feira, em julgamento de recurso das empresas de ônibus contra despacho de primeiro grau que havia reduzido o valor dos R$ 3,05 para o patamar atual.

A ação foi movida pelos vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna, ambos do PSOL, para contestar o reajuste de R$ 2,85 para R$ 3,05 estabelecido em 22 de março. Em 4 de abril o Juiz de Direito Hilbert Maximiliano Akihito Obara, da 5ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central, deferiu a tutela antecipada e determinou a volta à tarifa anterior. A decisão do Tribunal considerou as desonerações de impostos sobre componentes do cálculo da tarifa ocorridas desde então. Os dois vereadores anunciaram que moverão nova ação porque entendem que o preço pode cair ainda mais. (Elder Ogliari)

17h41 – FORTALEZA – Depois que a Força Nacional foi acionada, a situação começou a ficar menos tensa nas imediações da Arena Castelão, onde jogam Espanha e Itália pela Copa das Confederações . Um canhão sônico foi utilizado para afastar os manifestantes. O equipamento é semelhante ao usado para evacuar o Parque Zuccotti, em Nova York, encerrando o acampamento do movimento Occupy Wall Street.

Grupo rompe isolamento das grades perto do Castelão. Foto: Natacha Pisarenko/AP

Dependendo da distância, a arma provoca desorientação, tontura, náuseas e dores no peito. Protetores de ouvido não são suficientes para se proteger. O de Fortaleza chegou a ser testado antes de ser utilizado na manifestação. De acordo com as autoridades locais, a menos de 20 metros no volume máximo não havia provocado ânsia de vômitos ou náuseas.

Mais cedo, manifestantes se aproximaram de um cordão de  isolamento de policiais na Arena Castelão e houve confronto. (Lauriberto Braga)

 

Em um dos momentos mais tensos, manifestantes atearam fogo em veículos. Foto: Natacha Pisarenko/AP

17h36 – RIO – Teve início há pouco a passeata no centro da cidade. Cerca de mil manifestantestomaram todas as faixas da Avenida Rio Branco. Quase não se veem cartazes, mas há muitas bandeiras, como as do PSTU, MST e do DCE da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No último ato, as pessoas que levaram bandeiras foram hostilizadas. Mil e quatrocentos policiais, de três batalhões, acompanham a passeata. (Heloisa Aruth Sturm)

17h32– Veja depoimento de uma das representantes do Passe Livre, Luíza Madetta, de 19 anos.

 

17h19 – SÃO PAULO – A aula pública organizada por membros do Movimento Passe Livre  em frente à Prefeitura reúne cerca de 250 pessoas.  Os temas a serem discutidos serão a viabilidade da tarifa zero na capital e a mobilidade urbana de uma forma geral.

Público espera pela aula pública na frente da Prefeitura, no Viaduto do Chá, centro de São Paulo. Foto: Renato Vieira/Estadão

Cadeiras foram colocadas na frente da sede do governo municipal, cujas grades de proteção foram retiradas a pedidos dos organizadores do evento, para que  os interessados possam ocupar o  calçadão – apesar do que ocorreu na terça-feira passada, 18, quando vândalos destruíram vidraças e picharam o Edifício Matarazzo. O clima é pacífico e policiais militares  acompanham  a movimentação do outro lado da rua, onde também há uma viatura da Guarda Civil Municipal (GCM). (Renato Vieira)

ex-secretário municipal dos Transportes Lúcio Gregori, que atuou na gestão de Luiza Erundina, nos anos 1990, será um dos palestrantes, ao lado do professor Paulo Arantes, do Departamento de Filosofia da USP. Gregori é um dos idealizadores do conceito de tarifa zero nos ônibus de São Paulo.

17h01 – Os protestos que acontecem em todo o Brasil desde o começo de junho já deixaram umsaldo de seis mortos, alguns deles atropelados por motoristas presos nas manifestações.

Clique no mapa para ver o mapa em tamanho ampliado e ter mais detalhes sobre cada caso.

16h53 – RIO – Cerca de 250 pessoas estão reunidas neste momento na Igreja da Candelária, de onde sairão em breve em direção à Cinelândia para iniciar o 13.º protesto na cidade do Rio de Janeiro. Um grupo de 30 indígenas da Aldeia Maracanã participa do ato. Nesta tarde, os advogados da Aldeia entraram com novo recurso na Justiça para tentar a reintegração de posse do antigo Museu do Índio, de onde foram obrigados a sair por causa das obras no estádio do Maracanã.

“Viemos aqui pedir apoio à população”, disse o advogado Aarão da Providência Araújo Filho, índio da etnia guajajara.

Policiais de três batalhões vão acompanhar o protesto. Em frente à Assembleia Legislativa, que sofreu ataques em duas manifestações, está um grupo de 60 PMs. Antes de chegar à Cinelândia, os manifestantes pretendem ir à Rua da Assembleia, onde fica a sede da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), entidade que congrega os dez sindicatos de empresas de ônibus no Estado. (Heloisa Aruth Sturm)

16h49 – FORTALEZA – Policiais e parte dos manifestantes se enfrentaram na avenida Dedé Brasil antes de começar o jogo entre Itália e Espanha, nesta quinta-feira, na Arena Castelão, em Fortaleza. Um ônibus que conduzia torcedores foi invadido e apedrejado . Pedras, vidros e bombas caseiras estão sendo arremessados contra o Batalhão de Choque. Jornalistas são aconselhados pelos policiais a se afastarem.

Foi ateado fogo em um carro da TV Diário. Outro, da TV Jangadeiro, foi depredado. Balas de borracha estão sendo usadas pelos policiais contra os manifestantes. A Cavalaria continua tentando dispersar o grupo. Algumas pessoas correram para ruas intermediárias.

Pelo menos cinco policiais já foram socorridos pela ambulância dos Bombeiros. Entre eles há homens da Cavalaria que foram atingidos na perna por pedras e bolas de gude. Helicópteros da Força Nacional sobrevoam a área. (Lauriberto Braga)

16h37– SÃO PAULO – o Movimento Passe Livre, organizador da  série de atos pela redução  da tarifa de ônibus em São Paulo, promoverá nesta quinta-feira, 27, uma aula pública em frente à Prefeitura de São Paulo sobre tarifa zero e mobilidade urbana. O evento ocorrerá a partir das 17h no Viaduto do Chá, em frente à sede do governo municipal. Caso chova, segundo o MPL, a ação será realizada embaixo do viaduto.

ex-secretário municipal dos Transportes Lúcio Gregori, que atuou na gestão de Luiza Erundina, nos anos 1990, será um dos palestrantes, ao lado do professor Paulo Arantes, do Departamento de Filosofia da USP. Gregori é um dos idealizadores do conceito de tarifa zero nos ônibus de São Paulo. (Caio do Valle)

16h31 – SALVADOR –  A chuva atrapalha a caminhada do Movimento Passe Livre em Salvador, nesta quinta-feira. O protesto teve saída da Praça do Campo Grande pouco antes das 15h, uma hora depois do previsto pelos organizadores. Eles pretendem caminhar cerca de 2 quilômetros até a Prefeitura, no centro histórico, onde querem se encontrar com o prefeito ACM Neto (DEM).

O número de manifestantes no início da caminhada era pequeno, cerca de 500 pessoas, mas deve crescer durante o trajeto, com a passagem do grupo pela Avenida Sete de Setembro, tradicional ponto de comércio popular na cidade. A maioria das lojas da região fechou as portas depois das 14h – muitas instalaram tapumes de madeira para proteger as fachadas de vidro.  (Tiago Décimo)

16h10 – FORTALEZA – Por volta do meio-dia houve confronto entre um pequeno grupo de manifestantes e PMs e homens da Força de Segurança Nacional na Avenida Dedé Brasil, no entorno do estádio Castelão.  A capital cearense recebe o jogo entre Espanha e Itália pela semifinal da Copa das Confederações. A manifestação seguiu pacífica em seguida, mas há muito entulho na rua. (Tobias Saldanha)

Jogos na Copa das Confederações tem sido antecedidos por protestos, especialmente contra os gastos do governo para realizar a Copa do Mundo. Foto: Natacha Pisarenko/AP

15h58 – RECIFE – Sete pessoas detidas e dois menores apreendidos por depredação, resistência ou roubo e três policiais atingidos por pedras. Este foi o balanço da manifestação realizada na quarta-feira, 26, e organizada por estudantes, no Recife. O balanço foi divulgado nesta quinta-feira,27, pelo secretário estadual da Defesa Social, Wilson Damázio.

A presidente do Diretório Central dos Estudantes da faculdade Fafire, Cryslaine Maria da Silva, de 19 anos, chegou a ser encaminhada para a Colônia Penal Feminina porque não pagou a fiança estipulada em R$ 5 mil. De acordo com a polícia ela foi detida por agredir “com bombas e pedradas um funcionário público no exercício da função”. (Angela Lacerda)

15h52 – Acaba de ser aprovada na Câmara Municipal de São Paulo a CPI dos Transportes, que irá investigar a contas do setor na capital paulista. Por 40 votos favoráveis e 11 contrários, a Casa criou uma comissão comandada pela base governista do prefeito Fernando Haddad (PT). O grupo terá a tarefa de investigar, a partir de agosto, os contratos bilionários da Prefeitura com as empresas de ônibus e peruas.

Veja repercussão da medida entre manifestantes que protestavam na porta da Câmara nesta tarde:

 


15h46 – RIO – O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), reuniu-se hoje durante cerca de uma hora e meia com cinco manifestantes que participaram do acampamento montado em frente ao prédio onde o governador mora, no Leblon, na zona sul.

Ao final da reunião, só um dos manifestantes, que se identificou como Eduardo Oliveira, atendeu a imprensa. Ele afirmou que ainda não tem uma pauta de reivindicações completa e que, durante a reunião, pediu que o governo “controle as manifestações, porque as pessoas estão se sentindo
Inseguras”.

Eduardo disse que integra um grupo chamado “Somos o Brasil” e ele e os quatro colegas romperam com os demais acampados. Por isso, o quinteto já deixou de participar do grupo que se mantém desde sexta-feira na porta da casa de Cabral.(Fábio Grellet)

15h38 – A onda de protestos pelo País desde o começo de junho já deixou  seis mortos até esta quinta-feira, 27. Em Belo Horizonte, o estudante Douglas Henrique Oliveira, de 21 anos, morreu ao cair de um viaduto durante protesto nessa quarta-feira, 26. Também na noite de quarta, um jovem de 16 anos morreu atropelado por um motorista que desviou o caminhão de uma manifestação em um acesso à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, no Guarujá (SP).

Na segunda-feira, 24, duas mulheres foram atropeladas durante um protesto em uma rodovia de Cristalina, em Goiás. Valdinete Rodrigues Pereira e Maria Aparecida morreram no local e o condutor fugiu sem prestar socorro. A Polícia Civil avalia se pede ou não a prisão temporária do motorista, Carlos Baromeu Dias, que depôs nessa quarta-feira, 26. Na quinta-feira, 20, o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, foi atropelado e morto por Alexsandro Ishisato de Azevedo, que avançou sobre as pessoas que protestavam em Ribeirão Preto (SP). A prisão do acusado já foi decretada. Na sexta-feira, 21,morreu em Belém a gari Cleonice Moraes, de 54 anos, que foi intoxicada por gás lacrimogêneo ao tentar fugir de confusão em protesto.

No Guarujá, o jovem morto estava de carona na bicicleta do amigo. Ele foi socorrido no Pronto-Atendimento Médico da Rodoviária, mas não resistiu aos ferimentos. O amigo, de 17 anos, ficou gravemente ferido, mas não corre risco de morte. Em depoimento prestado à polícia, ele disse que o motorista acabou arrastando os rapazes. O caminhoneiro foi preso em flagrante e levado à delegacia-sede do município, na Avenida Puglisi. De acordo com o motorista, ele tentou desviar o veículo de uma manifestação de protesto e não viu quando os jovens foram atropelados. Por isso, continuou dirigindo.

POSTV, de pós-jornalistas para pós-telespectadores (Observatório da Imprensa)

ECOS DO PROTESTO

Por Elizabeth Lorenzotti em 25/06/2013 na edição 752

Como diria Henfil, deu até no New York Times. “One group, called N.I.N.J.A., a Portuguese acronym for Independent Journalism and Action Narratives, has been circulating through the streets with smartphones, cameras and a generator held in a supermarket cart – a makeshift, roving production studio” (NYT, 20/6/2013, íntegra aqui).

N.I.N.J.A., sigla em português para Narrativas Independentes Jornalismo e Ação é o grupo responsável pela POSTV, sua mídia digital independente. E não nasceu agora, mas há um ano e meio, e está ancorada no movimento nacional Circuito Fora do Eixo. Nas manifestações que tomaram as ruas de várias capitais, ganhou maior visibilidade e chegou a picos de audiência de 120 mil espectadores. O que significa uma marca de 1,2 dos ibopes oficiais – e não é pouco, pois muitos programas da TV aberta não o atingem.

Nesses tempos fora do eixo e de paradigmas, talvez seja este o embrião da nova mídia do futuro que já é hoje – uma POSTV feita por pós-jornalistas, para pós-telespectadores.

Com seus smartphones e câmeras, eles protagonizam uma grande novidade na cobertura dessas manifestações e na alternativa à mídia tradicional. Segundo um dos ninjas, Bruno Torturra, trata-se de outra concepção de mídia. E sua diferença com a tradicional começa pela “honestidade, a ética, o posicionamento integrado dentro dos protestos e não lançando mão de analistas; sem drones, sem helicópteros, mas testemunhando. E a credibilidade pela não edição, a não mediação de interesses comerciais. A grande mídia teve e tem grande papel no tamanho da alienação política do país”.

“Tenho de ficar”

Mas o que é, e como é feita a POSTV? Na semana passada, no meio das manifestações, um garoto tuitava: “Não precisamos de mídia partidarista, temos celulares!”.

Síntese perfeita de novos tempos aos quais os jornalistas da mídia tradicional precisam ficar atentos. Enquanto a Globo ficava do alto de edifícios, sitiada, a mídia independente sempre esteve no meio das ruas nesses dias de rebelião. “Estamos aqui, do alto deste edifício”, diziam os repórteres globais. Mas quem quer ficar vendo manifestação do alto de edifícios?, eu me perguntei. E fui às redes, onde encontreiwww.postv.orgpor meio de chamadas no Facebook, onde o N.I.N.J.A. tem uma página.

E vi, na noite/madrugada de terça-feira (18/6), a cobertura de Filipe Peçanha, 24 anos, comunicador da Casa Fora do Eixo já há alguns anos, documentando ao vivo, em São Paulo, durante horas e sem edição, os embates entre manifestantes e a tropa de choque da Polícia Militar, desde a Praça da Sé até a Avenida Paulista. “Antes de a polícia chegar, a manifestação era totalmente pacífica. Saímos por volta das 17 horas, demos a volta pelo Parque Dom Pedro, subimos de novo para a Sé, partimos para a Augusta. Em todo o trajeto que acompanhei, enquanto não houve polícia não houve tumulto. Daí voltamos porque soubemos dos incidentes na sede da Prefeitura. E voltamos para a Paulista, porque a tropa de choque foi para lá.”

Chegaram às 20 horas, não havia mais muitos manifestantes. Mas o painel da Copa do Mundo, da Fifa com Coca Cola, foi incendiado. Caíram muitas latinhas, um catador veio retirar e os manifestantes disseram: “Que bom, pelo menos alguém aproveita alguma coisa da Coca Cola”.

Estes relatos todos foram feitos pela POSTV. Quando chegou a polícia, manifestantes foram muito agredidos e um deles praticamente enforcado por meia dúzia de policiais. Filipe entrevistou dois rapazes de branco que ajudaram a apagar o fogo.

– Quem são vocês? Bombeiros?

– Não, nós somos protestantes.

– Protestantes? Da igreja?

– Não, viemos aqui por vontade própria protestar, mas somos contra o vandalismo.

“Depois”, conta Filipe, “entrevistei os dois de novo, sentados no meio fio. Um deles disse que tirar as latinhas do painel tudo bem, mas incendiar não, e que a PM estava de parabéns por ter acabado com aquilo.”

O repórter comentou: “Não, eu vi muita violência da PM, acho que você não viu o que eu vi”.

“Coloquei o meu ponto de vista”, diz Filipe.

Alguns criticam, via Twitter, e dizem que a cobertura não é plural. Responde Filipe: “Nós documentamos o que está acontecendo do ponto de vista de quem participa também. A Mídia Ninja se compreende como narrativa independente de jornalismo e ação, e essa ação é o ativismo, que nos coloca em movimento em tempo real, não só fazendo produção de conteúdo, mas também nos envolvendo com o processo. O Ninja está envolvido com as manifestações de rua. A gente estava dentro, junto com os manifestantes”.

Portanto trata-se de uma cobertura com lado. Mas quem não tem?

No meio das manifestações, eles dão voz a gente de todos os tipos e matizes, numa espécie de método socrático de entrevista. Como o rapaz que se dizia a favor do Movimento Passe Livre (MPL), mas contra partidos.

– E como você acha que deveriam dirigido o país?

– Ah, eu acho que quem devia dirigir é uma mulher de cabelos vermelhos que começou o movimento, não sei o nome dela.

– O país deveria ser dirigido por ela?

– É, eu acho. E não devia ter partidos.

– Mas o MPL não é contra partidos, você não apoia o movimento?

– Apoio, mas não nessa parte.

Um certo major Felix, durante os conflitos na Paulista, também foi entrevistado. Depois de muito tempo, deu este nome.

– Por que o senhor não está com a identificação na farda?

– (Sem resposta)

– Quem é seu comandante?

– Não sei.

– O senhor é comandando por ele e não sabe o nome dele?

Outra entrevista, feita em Belo Horizonte, palco de repressão violentíssima da Força Nacional em dia de jogo, no sábado (22/6), houve outra entrevista parecida feita por Gian Martins. Transmiti a íntegra do Facebook, onde muitos de nós sabemos que há censura e a sentimos, mas foi deletada, junto com vários outros posts referentes às manifestações. Mais ou menos assim, era uma espécie de coletiva de um coronel no meio da rua:

POSTV- A proibição de manifestações em capitais onde há Copa, imposta pela Fifa, na cria um Estado de exceção?

Coronel – Não posso opinar, mas quando você elege um representante político, está dando a ele um cheque em branco…

Depois de algum tempo a POSTV se retira e comenta: “Jornalistas são muito redundantes em suas perguntas, só querem saber quantos feridos.

Repórter do Hoje em Dia: “Que pergunta não foi feita?”

POSTV quer que conversem, mas o colega vai embora.

“É uma pena”, diz ele, “poderia ser um bom debate.”

Em certo momento a POSTV, junto a várias pessoas, leva gás lacrimogêneo e ninguém tem vinagre. Um fogo de artifício desencadeou o gás e muitas cacetadas.

“Estou com medo”, diz o repórter da POSTV na Praça Sete, que já estava havia doze horas trabalhando direto.

Já em Salvador, um colaborador que se juntou à POSTV no sábado (22/6), também dia de jogo de Copa e de manifestações, e de repressão violenta, que conquistou 8 mil pós-espectadores, exclamava: “Quero ver agora quem diz que baiano é preguiçoso”, enquanto corria esbaforido da polícia pelas ruas de Salvador. Atingido por gás pimenta, foi se recuperar no banheiro do Shopping Iguatemi, teve de tirar a camiseta e lavar, porque “ardia como churrasquinho”.

“Eu não vou embora, eu tenho de ficar” ele dizia. Em outro momento, comentou que um policial pediu para diminuírem o gás. Nem eles estavam aguentando.

Colaboradores no Brasil e no exterior

Pós-repórteres “precisam ter disposição e também coragem de ficar no meio dos manifestantes, questionar a polícia e os próprios manifestantes”, diz Bruno Torturra.

O bravo pós-repórter de Salvador é novíssimo membro da mídia, ofereceu seus serviços em cima da hora. Assim tem acontecido na POSTV por esses dias. Muita gente chegando, de todo o país e do exterior – onde várias transmissões são feitas na Europa, com brasileiros se solidarizando ao movimento.

No domingo (23/6), a página do NI.N.J.A. no Facebook postou uma convocação de correspondentes para ajudar na cobertura em tempo real dos protestos:

“Fotógrafos, repórteres, cinegrafistas, cidadãos a fim de entrar em nossas tropas, escrevam para midianinja@gmail.com dizendo de onde são e como podem colaborar. Estamos começando a cadastrar gente do país todo. Primeiro passo na montagem de uma rede nacional de jornalismo independente antes do lançamento do nosso site. Quem anima?”

Em 30 minutos já havia 125 compartilhamentos. No dia 24, até às 19 horas, havia 735 “curtir” e 413 compartilhamentos. Gente oferecendo material de todos os cantos, gente perguntando o que é preciso, muita gente.

Segundo Bruno Torturra, é impossível dizer o número de colaboradores porque, devido ao caráter de rede, há pessoas que se dispõem a ser um ninja por um dia, ou por horas. Na quinta-feira (20/6), o N.I.N.J.A. cobriu 50 cidades. Em São Paulo, o núcleo é de seis a oito pessoas, com idade média de 22 anos e nenhum com formação jornalística.

A cobertura via internet chama-se streaming. Da Wikipédia:

Streaming, fluxo de mídia, é uma forma de distribuir informação multimídianumaredeatravés de pacotes. É frequentemente utilizada para distribuir conteúdo multimédia através da Internet. Em streaming, as informações multimédia não são, usualmente, arquivadas pelo usuário que está recebendo o stream (a não ser a arqueação temporária no cache do sistema ou que o usuário ativamente faça a gravação dos dados) – a mídia é reproduzida à medida que chega ao usuário, desde que a sua largura de banda seja suficiente para reproduzir os conteúdos em tempo real. Isso permite que um usuário reproduza conteúdos protegidos por direitos de autor, na Internet, sem a violação desses direitos, similar ao rádio ou televisão aberta. A informação pode ser transmitida em diversas arquiteturas, como na forma Multicast IP ou Broadcast.”

A POSTV utiliza o TwitCasting, mas é possível usar também o Android, entre outras plataformas. E o trabalho é completamente copyleft. Em todas as praças, eles explicam como transmitem e convocam as pessoas a também serem o que chamam de “midialivristas”. Com um celular, uma banda 3G e um laptop na mochila para recarregar. A cada meia hora saem do ar, recarregam e voltam em minutos. Claro que perdem espectadores; os insistentes voltam, outros chegam.

Há dificuldades de sinal quando há muita gente com celular, há raros locais com wi-fi. “Fazemos cobertura de rua faz tempo, criando tecnologia há um ano e meio”, conta Bruno Torturra. E não é só streaming. A mídia tem fotógrafos que mandam da câmera para o fone, do fone para a rede, e a cobertura é instantânea na página do Facebook. “A gente faz o que dá, mas vai até o fim. Se não tem 3G, temos alguém com carro, que leva o cartão do fotógrafo até onde encontra internet e volta”.

Liberdade de expressão e força da rede

O projeto começou em junho de 2011, após o sucesso das transmissões ao vivo das Marchas da Maconha e da Liberdade, em São Paulo, Depois, foram lançados alguns programas, como o Supremo Tribunal Liberal(Claudio Prado), o Segunda Dose (Bruno Torturra) e Desculpe a Nossa Falha (Lino Bocchini). E começaram as transmissões de festivais independentes de música em todo o país.

Eles explicam que a POSTV, na prática, reinventa e potencializa a tecnologia do streaming, baseando-se em dois pontos centrais: “Liberdade de expressão absoluta (aproveitando que não temos anunciantes nem padrinhos) e a força da nossa rede, que é grande e divulga forte todos os programas”.

Os formatos também são livres: programas de debate, transmissão de shows, sofá armado no meio da rua com o apresentador entrevistando os passantes. E como estão na internet sempre ao vivo, a interatividade é outro ponto responsável pelo sucesso da iniciativa. Quem está assistindo manda comentários e perguntas por Twitter, e-mail e até mesmo entra por Skype e participa do papo. Já deram vários furos, como as imagens da prisão do rapper Emicida durante um show em Belo Horizonte. E também foi o veículo escolhido pelo ex-ministro Franklin Martins para sua primeira entrevista após deixar o governo.

E o financiamento? Quem sustenta?

A rede Ninja faz parte do Circuito Fora do Eixo; em São Paulo tem base em uma das Casas, no Cambuci. Circuito Fora do Eixo é uma rede de trabalhos concebida por produtores culturais das regiões centro-oeste, norte e sul no fim de 2005. Começou com uma parceria entre produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR) que queriam estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos nesta rota desde então batizada de Circuito Fora do Eixo.

Hoje o circuito está em 25 das 27 unidades federativas do Brasil. O sul, o centro-oeste, o sudeste e o norte são regiões totalmente associadas, já que contam com todos os estados inclusos. Há 72 pontos espalhados pelo país, que “gostam de produzir eventos culturais, debater comunicação colaborativa, pensar sustentabilidade, pensar políticas públicas da cultura”.

Dezesseis gestores de diferentes pontos do Brasil migraram para São Paulo, formando a Casa Fora do Eixo SP, nos limites da Liberdade. “Mas basicamente, nós experimentamos, compartilhamos e aprimoramos tecnologias livres de se produzir cultura”, dizem em seu site.

Atualmente a sustentabilidade da POSTV se dá via Circuito Fora do Eixo, mas continuam as discussões sobre crowdfunding – ou financiamento coletivo, que consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo por meio da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas nos projetos – e toda e qualquer ideia de autossustentabilidade.

Aliás, na terça-feira (25/6) foi convocada uma discussão aberta na Praça Roosevelt, em São Paulo, atual “Praça Rosa”, para “discutir as saídas para garantir a comunicação como um direito e não como um simples negócio comercial”.

Esta é a integra da convocação

“A cobertura das manifestações mostrou que a velha mídia está mais caduca do que nunca, mas que ainda tem um grande poder. A mídia tradicional no Brasil é concentrada, nada plural e nada diversa. Muitas vezes ela se comporta como um partido político, tentando dar a pauta e organizar os setores mais conservadores. Enquanto isso, a internet tem sido o espaço arejado de diálogo e organização, mas o acesso à rede ainda é limitado a 40% das residências, com um serviço péssimo das empresas de telecomunicações, que ainda querem acabar com a neutralidade da rede. As grandes corporações que atuam na rede faturam bilhões sobre a violação de privacidade dos usuários, e vários governos usam essas informações para controlar os cidadãos. Venha discutir as saídas para garantir a comunicação como um direito e não como um simples negócio comercial.

Censura no Facebook

No sábado (22/6), amigos denunciaram no Facebook o bloqueio da página do N.I.N.J.A.

“Fomos denunciados por conteúdo impróprio ou pornográfico. Estão ‘analisando o caso’. Mas não tivemos qualquer argumento detalhado ou chance de defesa escrita. Acreditamos que pode ter sido fruto de denúncias de usuários contra fotos da manifestação anti-cura gay, anti-Feliciano de ontem. Fotos em que não havia qualquer pornografia, apenas material de afeto e felicidade explícita. Pedimos que compartilhem e pressionem o Facebook a recolocá-la no ar. Infelizmente, por enquanto, essa é nossa principal plataforma de divulgação da nossa dedicada cobertura independente dos protestos no Brasil.”

A página foi desbloqueada depois de cerca de quatro horas. O mesmo não aconteceu com a do jornalBrasil de Fato, bloqueada desde o dia 16 de junho. Os jornalistas não conseguem postar a não ser com um programa especial (ver aqui).

Portanto, não se trata de paranoia, e existem páginas em todo o mundo denunciando a censura no Facebook. No ano passado, jornalistas, escritores, poetas e artistas protagonizaram um “Dia contra a Censura ao Nu no Facebook”. O robô censor de Mark Zuckerberg atira a esmo e censura qualquer nu, seja de Michelangelo, Leonardo, os grandes clássicos e/ou menos famosos. Nem Lady Godiva escapou. Além de mães amamentando, que são alvos planetários da censura facebookiana. O protesto consistiu em publicar nus variadíssimos e foi parar nos jornais.

Instalou-se a discussão sobre quem censura. Robôs? Censores contratados? Denúncias de anônimos? Muitos concluíram que se trata de todas as alternativas, em vigor até hoje. O portal UOL divulgou texto, no ano passado, afirmando a existência de censores contratados em todo o mundo por um dólar a hora de trabalho. Além de imagens, textos também são censurados. O que se estranha é que, por mais que denúncias sejam feitas, páginas como “Golpe Militar 2014” continuem no ar, assim como páginas neonazistas e propagadoras de violência (ver aqui).

O poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer deste então compõe um dossiê sobre censura nesta rede, que até o dia 24 de junho contabilizava 61 relatos (ver aqui).

***

Elizabeth Lorenzotti é escritora e jornalista, autora de Suplemento Literário – Que Falta ele Faz (ensaio),Tinhorão, o Legendário (biografia) e As Dez Mil Coisas (poesia)

Muita calma agitada nessa hora… (Combate Racismo Ambiental)

Por , 25/06/2013 09:02

Castelão e burro

Em frente ao Castelão das elites, a vala a céu aberto, a negação da cidade ao povo-Nação. Foto captada de vídeo.

Por Cris Faustino, para Combate Racismo Ambiental

É muito provável que no calor da hora não tenhamos como fazer análises mais completa e complexa sobre o que está acontecendo Brasil adentro e Brasil afora. É provável que não se trate de uma revolução, mas é possível que as coisas jamais sejam as mesmas. Ou pelo menos, que haja mudanças, se não estruturantes, ao menos conjunturais nos discursos e nos rumos de algumas políticas e políticos (falo dos ruins, de direita ou esquerda).

Não se pode negar a potência criativa do momento, nem tampouco as preocupações que ele gera. É preciso analisar com a sabedoria possível na excitação, surpresa e perplexidade que nos pegou, enquanto movimentos e lutas sociais (as velhas e os novas), considerando a pressão histórica e a multiplicidade de questões que se impõem agora sobre nós e sobre os outros. Pois, se ficamos estarrecidas com algumas leituras e demandas da multidão revoltada, imagine ela com algumas das nossas. Tampouco se pode perder de vista as desigualdades de condições em que estamos pautando as disputas. Portanto, se é preciso ter firmeza, uma boa dose de humildade no diálogo com a multidão não fará mal.

Contudo, creio que nossa meta imediata deve ser incidir nos rumos do desfecho do que vem se tornando uma confusão, menos dos fatos mobilizadores e mais das leituras da realidade e formas de organização. A movimentação está desorganizada. Se isso a torna ampliada do ponto de vista da multidão que a adere, também a torna suscetível às leituras simplistas, enquadradas e direitistas. Como lidar com isso?

Nesse momento, as divergências entre nós são fatores que podem determinar o tamanho da nossa capacidade de ação coletiva. Mas já temos acúmulo de debates e questões suficientemente construídas para saber o que nenhum de nós quer, ou precisa. Sabemos que não queremos injustiças, desigualdades, racismo, misoginia, homo/lesbo e transfobia, nem na vida cotidiana e nem nos manifestos. Sabemos que, para a quentura do momento, não precisamos e nem temos como ter o fim dos partidos, nem tampouco a negação da participação dos partidos de esquerda nas mobilizações e nas lutas de um modo geral.

Os movimentos sociais críticos que não querem os partidos muito nos ajudam a pensar a realidade, mas precisam se dar conta de que insuflar isso agora não ajuda no nosso esforço e, nem é preciso dizer, favorece as tendências reacionárias e conservadoras. Não queremos o rechaço a nenhuma luta popular que reivindique melhores condições de vida.  Não queremos que políticos e mídias oportunistas tomem definitivamente as rédeas do processo. E, decididamente, não queremos fazer mobilizações com a “playboiada” nazifascistas, e nem queremos a violência do estado contra quem quer seja.

Sabemos que temos que encontrar jeitos de dialogar com as pessoas de boa fé, mas que são influenciadas por lideranças e tendências reacionárias. Sabemos que a massa mobilizada dificilmente teria como organizar um movimento 100% politizado desde as nossas demandas, leituras e jeito de fazer. Provavelmente, boa parte das pessoas envolvidas nas mobilizações não entende a profundidade das questões, ou mesmo sobre as institucionalidades dos fatos e demandas.  Outras tantas compreendem um pouco alguns temas. É possível que muitas não estejam nem sabendo bem o porquê de estarem ali, e que tantas outras vejam apenas nas pessoas dos políticos o mal do País e/ou personificam os problemas e responsabilidade de resolvê-los na pessoa da presidenta. Quanto a isso, é preciso ter paciência, já que em grande parte, é verdade. Particularmente não acho que é uma boa estratégia tentar convencer o povo de que tudo isso é ilusão; não teremos como.

Acho que a tarefa “estruturante” mais possível é tentar incidir de diferentes formas na cultura dos que vão às ruas movidos pelas incertezas e dos que estão olhando de fora a movimentação. Esses últimos estão fortemente pautados pelos interesses da mídia conservadora, tendenciosa e/ou mal informada; pela cultura alienada e alienante. Alguns reconhecem a legitimidade das mobilizações, principalmente sob a perspectiva das “bandeiras nacionais”, mas estão cansados dos transtornos, ou só têm a oportunidade de ver, não com “bons olhos”, principalmente se se sentem ameaçados, o “quebra-quebra”. Disputar o senso comum sobre o significado da violência, desnudando o banditismo cometido pelo estado e capitalistas, assim como reinventar o sentimento coletivo desde uma visão político-solidária, são bons fatores de diálogo.

Os movimentos críticos das cidades precisam se articular, realizar atos gerais e ações individuais. Mas também precisa haver uma liga com os movimentos camponeses, pois muitos dos descontentamentos expressos nas ruas urbanas estão fortemente vinculados ao processo de dizimação dos povos do campo. Esses não podem se furtar a se pronunciar e a colocar a sua força em ação para denunciar suas questões, dialogar com as lutas urbanas.  Potencializar a urgente e necessária articulação campo-cidade é preciso. Se os movimentos do campo não podem vir para as cidades e nem têm como demarcar suas questões no seu local, é preciso que os movimentos e militantes que fazem a “ponte” levantem as problemáticas. Isso não pode ser impossível.

Rechacemos a palavra vandalismo! Se os manifestantes nacionalistas estão mandando mensagens e imagens para a Rede Globo e as outras de seu naipe, precisamos mandar muitas mensagens e imagens de nosso campo para a mídia internacional e para a nossa mídia engajada de todos os dias.

A força dos cartazes é incrível, e parece que isso foi importante para expressão e decisão “saí do facebook”. Interessante observar como fazemos milhares de análises e criamos muitos conceitos engajados que explicam brilhantemente a realidade e que sempre ficam entre nós. É preciso “recomunicar” ainda mais nossas críticas e projetos. As frases de efeito do Facebook dizem logo a “coisa”, de forma direta, simples e descontraída. Além disso, a militância online afinal tem um papel importantíssimo nesse momento e nesse processo todo. Não a desprezemos ou subestimemos!

O sofrimento das pessoas e os privilégios dos poderosos quando contrastados têm muita potencia de indignação. Vale muito denunciar veementemente o coronelismo na política brasileira, o enriquecimento ilícito e as vantagens dos poderosos, em contraste com os problemas denunciados e que são partes do cotidiano de todos: insegurança pública, precarização das políticas e violências entre as classes sociais. Entretanto cair no moralismo das tendências direitistas e do pensamento simplista é um risco a ser atentado. Nas pautas temos que dar nosso tom de forma a dialogar bem com a população.

Existem questões fervilhantes que ajudam muito. Só para falar de alguns: os temas das Copas têm muito potencial, pela pujança das elites e da Fifa, por seu caráter excludente da torcida e pelas suas zonas de sacrifício. O enriquecimento ilícito, a corrupção e perversões dos fundamentalistas contra mulheres, LGBTs, população negra e as diversidades culturais são alvos importantíssimos. A Reforma Política é questão gritante. Sobre o tema dos transportes públicos, vale pautar também o caos urbano das cidades construídas para os automóveis privados e as políticas voltadas para esse modelo de mobilidade urbana, associado à mobilidade social e bem estar individual, que torna as cidades “bombas relógios”. O genocídio contra os povos indígenas, que todos presenciamos, em nome do desenvolvimento também é fator que indigna e envergonha.

Não acho que devamos  ter a pretensão de “direcionar” o movimento ou nos precipitar na armadilha de negociar, mediante representações, pautas com o poder público. O que não impede de elegermos focos de conquistas imediatas que expressem o poder popular. Entretanto “sentar” com autoridades para negociar pode afrouxar precipitadamente a tensão necessária que as autoridades públicas precisam experimentar nesse momento, frente às besteiras e atrocidades que cometem ou se omitem de enfrentar. Ou, de outro modo, pode lhes proporcionar oportunidade de fazerem promessas só para acalmar as massas, justificar políticas injustas para suprir as demandas e satisfazer os “sujeitos emergentes”, como têm sido os pronunciamentos da presidenta da república. Negociar também pode fazer recrudescer, no pós-diálogo, a violência da polícia e criminalização de militantes.

Se preocupar com o momento de parar as mobilizações não faz parte de nossas vontades históricas! Pelo contrário. Mesmo que haja dispersão das multidões, continuaremos a fazê-las, como sempre fizemos (às vezes mais, às vezes menos). Se conseguirmos incidir mais no senso comum, pode ser que tenhamos mais adesão daqui pra frente. Nós sabemos fazer, gostamos e compreendemos a importância das ruas politizadas.

Temos algumas vantagens, pois somos povo; bem ou mal, muitas de nossas questões estão pautadas também pelos outros e, quem sabe, teremos mais força daqui pra frente. Fato é que o momento exige construir uma frente múltipla e amarrada em acordos, desde um campo crítico, que incida no senso comum e enfrente as tendências reacionárias que se veem legitimadas para, por dentro das mobilizações populares, empurrarem a multidão para a direita das coisas.  E parece que, se não nos acertamos minimamente, é pior.

Protestos – de onde vêm e para onde irão (O Estado de S. Paulo/Envolverde)

24/6/2013 – 10h27

por Washington Novaes*

ca17 300x225 Protestos   de onde vêm e para onde irãoAo mesmo tempo que se amiúdam na comunicação análises preocupadas com a situação econômica do País, vão-se tornando mais frequentes também manifestações populares de inconformismo e desapreço por governos, de protesto contra preço e qualidade de transportes, custo de vida, insatisfação com a saúde e educação ou ainda por causa do custo de construção de estádios de futebol. Que significado político mais amplo podem ter? Muitos, certamente. Mas índices de inflação e custos de alimentos têm tido presença importante.

Índices de inadimplência de famílias perante o sistema financeiro podem ser, por isso, um dos indicadores, já que em abril (Estado, 11/5) atingiram 7,6%. Já a porcentagem de famílias endividadas subiu, em maio, para 57,1%, a maior desde 2006. E 19,5% delas tinham mais de 50% da renda comprometido com dívidas. Os calotes no sistema bancário subiram para 19,5% em abril. Essa é uma das razões para o índice de confiança do consumidor haver baixado uns 6% desde abril do ano passado.

Segundo artigo de Amir Khair neste jornal (16/6), “o que causou a inflação foram os alimentos in natura”, cujo preço cresceu 53% nos últimos 12 meses, inclusive por motivos climáticos (onde nos faltam políticas adequadas). Mas não apenas por isso. Diz a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU (FAO) que é alta a perda de áreas plantadas com alimentos no mundo por causa do alto custo dos agrotóxicos e da produção em geral (25/3). No Brasil, arroz e feijão já perderam 50% das áreas plantadas há 25 anos (Folha de S.Paulo, 7/4). O feijão, inclusive por causa da seca no Semiárido, teve a produção reduzida em 7%. E agora os preços subiram 20% em um ano.

Tudo isso pesa muito num país que, embora tenha reduzido a pobreza por meio de programas como o Bolsa Família, de até R$ 70 mensais por pessoa, ainda tem estas e milhões de outras vivendo abaixo da linha da pobreza, que segundo a ONU é de US$ 1,25 (cerca de R$ 2,50) por dia, ou R$ 75 por mês, por pessoa. E nas palavras do papa Francisco (Estado, 2/5), “viver com 38 (pouco mais de R$ 100) por mês é trabalho escravo, vai contra Deus”. Em sete regiões metropolitanas a taxa de desemprego nos primeiros meses do ano passou de 10%. E a população ocupada em fevereiro diminuiu 2% (Estado, 29/3). Caíram os índices de ocupação na indústria, na construção e nos serviços (26/4).

Christine Lagarde, dirigente do FMI, chama a atenção (5/6) para o “enfraquecimento da economia mundial em meses recentes”. A seu ver, “perde ritmo a expansão econômica dos países emergentes” e no Brasil são “menos brilhantes” as perspectivas de investimentos. Não chega a surpreender. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adverte (3/5) para os riscos de nova crise bancária na Europa, onde os bancos estão “precariamente capitalizados” e o PIB de 34 países pouco passará de um crescimento de 1% este ano. No Brasil, o superávit nas contas externas, de US$ 1,6 bilhão em 2007, recuou para um rombo de US$ 54,2 bilhões em 2012 (Panorama Econômico, 9/6). Por tudo isso, não são otimistas as projeções do mercado financeiros para o crescimento econômico este ano, juntamente com um “rombo externo” recorde e taxas de juros altas.

É inevitável, assim, retornar à crise econômico-financeira externa e às perguntas que vem suscitando nos últimos anos: quem pagará o custo astronômico das “bolhas financeiras” que explodiram, os bancos ou a sociedade (por meio da redução dos programas sociais e da alta do desemprego)? As classes de maior renda ou as menos favorecidas? Esses custos se limitarão aos países industrializados ou eles também tentam e tentarão repassá-los aos demais? Como tudo isso se traduzirá nos países fora da Europa e da América do Norte?

O desemprego nos EUA continua alto para padrões norte-americanos (7,6%). A crise de 2008 “deixou um déficit de 14 milhões de empregos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho; somados aos 16,7 milhões de jovens que chegarão ao mercado de trabalho em 2013, o déficit global será de 30,7 milhões de empregos” (Agência Estado, 4/6). Na Europa, o desemprego já está em 12,2%, ou 19,37 milhões de pessoas. Entre os menores de 15 anos, num recorde de 24,4% – 1 em 4 jovens desempregado; na Espanha, total de 26,7%; Portugal, 17,5%; Grécia, quase 27% (entre jovens, 64%). Não por acaso, 1 milhão de pessoas migraram da Europa desde 2008, o maior êxodo em meio século. Ainda assim, 40 milhões de pessoas no mundo ascenderão à classe C (6/4), o que aumentará o consumo e, certamente, terá reflexos nos preços, principalmente de alimentos.

É preciso dar atenção especial, no Brasil – pelas características da população -, ao quadro dos alimentos. Os preços dos insumos usados na agropecuária, controlados por um cartel global de fabricantes, estão em forte alta e o País é o maior consumidor mundial. O dos herbicidas subiu 71,1%; o dos inseticidas, 66,4%; e o dos fungicidas, 55,3% (IBGE, 13/5). Consumimos mais de 1 milhão de toneladas em 2010, segundo a Anvisa. Cerca de 1/5 do consumo mundial.

É fundamental ter muita atenção nessa área. Inclusive porque os protestos e manifestações de insatisfação recentes mostram que chega também a nós o caminho observado em muitos países da África e do Oriente Médio, de movimentação política não comandada por partidos, e, sim, por redes sociais – sem projetos políticos claros e definidos. Se não reorientarmos nossas políticas – que insistem num desenvolvimentismo à outrance (que inclui, por exemplo, incentivos bilionários à fabricação de automóveis que ninguém sabe onde poderão trafegar), conjugado com heranças da política externa concebida na década de 1960 -, certamente teremos pela frente momentos muito difíceis. Ainda mais com a grande maioria da corporação política praticamente descolada da sociedade, voltada para os interesses diretos de seus membros.

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

Momento histórico vivido no Brasil (Adital/Envolverde)

Sociedade
26/6/2013 – 09h29

por Leonardo Boff*

ca28 300x160 Momento histórico vivido no BrasilEstou fora do país, na Europa a trabalho e constato o grande interesse que todas as mídias aqui conferem às manifestações no Brasil. Há bons especialistas na Alemanha e França que emitem juízos pertinentes. Todos concordam nisso, no caráter social das manifestações, longe dos interesses da política convencional. É o triunfo dos novos meios e congregação que são as mídias sociais.

O grupo da libertação e a Igreja da libertação sempre avivaram a memória antiga do ideal da democracia, presente, nas primeiras comunidades cristãs até o século segundo, pelo menos. Repetia-se o refrão clássico: “o que interessa a todos deve poder ser discutido e decidido por todos”. E isso funcionava até para a eleição dos bispos e do Papa. Depois se perdeu esse ideal nas nunca foi totalmente esquecido. O ideal democrático de ir além da democracia delegatícia ou representativa e chegar à democracia participativa, de baixo para cima, envolvendo o maior número possível de pessoas, sempre esteve presente no ideário dos movimentos sociais, das comunidades de base, dos Sem Terra e de outros. Mas, nos faltavam os instrumentos para implementar efetivamente essa democracia universal, popular e participativa.

Eis que esse instrumento nos foi dado pelas várias mídias sociais. Elas são sociais, abertas a todos. Todos agora têm um meio de manifestar sua opinião, agregar pessoas que assumem a mesma causa e promover o poder das ruas e das praças. O sistema dominante ocupou todos os espaços. Só ficaram as ruas e as praças que, por sua natureza, são de todos e do povo.

Agora, surgiram a rua e a praça virtuais, criadas pelas mídias sociais.

O velho sonho democrático segundo o qual o que interessa a todos, todos têm direito de opinar e contribuir para alcançar um objetivo comum pode, enfim, ganhar forma.

Tais redes sociais podem desbancar ditaduras, como no Norte da África; enfrentar regimes repressivos, como na Turquia; e agora mostram no Brasil que são os veículos adequados de revindicações sociais, sempre feitas e quase sempre postergadas ou negadas: transporte de qualidade (os vagões da Central do Brasil têm quarenta anos), saúde, educação, segurança, saneamento básico. São causas que têm a ver com a vida comezinha, cotidiana e comum à maioria dos mortais. Portando, coisas da Política em maiúsculo. Nutro a convicção de que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde sempre deveria ter começado, a partir do povo mesmo que já encostou nos limites do Brasil feito para as elites. Estas costumavam fazer políticas pobres para os pobres e ricas para os ricos. Essa lógica deve mudar daqui para frente. Ai dos políticos que não mantiverem uma relação orgânica com o povo. Estes merecem ser varridos da praça e das ruas.

Escreveu-me um amigo que elaborou uma das interpretações do Brasil mais originais e consistentes, o Brasil como grande feitoria e empresa do Capital Mundial, Luiz Gonzaga de Souza Lima. Permito-me citá-lo: “Acho que o povo esbarrou nos limites da formação social empresarial, nos limites da organização social para os negócios. Esbarrou nos limites da Empresa Brasil. E os ultrapassou. Quer ser sociedade, quer outras prioridades sociais, quer outra forma de ser Brasil, quer uma sociedade de humanos, coisa diversa da sociedade dos negócios. É a Refundação em movimento”.

Creio que este autor captou o sentido profundo e, para muitos, ainda escondido das atuais manifestações multitudinárias que estão ocorrendo no Brasil.

Anuncia-se um parto novo. Devemos fazer tudo para que não seja abortado por aqueles daqui e de lá de fora que querem recolonizar o Brasil e condená-lo a ser apenas um fornecedor de commodities para os países centrais que alimentam ainda uma visão colonial do mundo, cegos para os processos que nos conduzirão fatalmente a uma nova consciência planetária e à exigência de uma governança global. Problemas globais exigem soluções globais. Soluções globais pressupõem estruturas globais de implementação e de orientação. O Brasil pode ser um dos primeiros nos quais esse inédito viável pode começar a sua marcha de realização. Dai ser importante não permitirmos que o movimento seja desvirtuado. Música nova exige um ouvido novo. Todos são convocados a pensar este novo, dar-lhe sustentabilidade e fazê-lo frutificar num Brasil mais integrado, mais saudável, mais educado e melhor servido em suas necessidades básicas.

Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comissionado da Carta da Terra.

** Publicado originalmente no site Adital.

A multiplicidade não é uma sopa de letrinhas (uninomade.net)

“A potência está numa afirmação criadora onde se é todo nela, e não em um monte de essenciazinhas meia bomba espalhadas por aí, expressões do niilismo da forma-mercadoria,”

A multiplicidade não é uma sopa de letrinhas de clichês e o fascismo não é mais um estilo vida entre outros possíveis

alphabet-soup_4

Por Rodrigo Guerón, no facebook – 

24/06/2013

– mal traçadas e não revisadas linhas, escritas na correria dos acontecimentos das revoltas dos últimos dias, depois de uma troca de ideias virtuais com minha amiga Ivana Bentes –

 Escrevi há apenas cinco dias um texto, http://www.releasevirtual.com.br/o-que-e-e-o-que-nao-pode-ser-que-nao-e/,no qual mostrei entusiasmo como o movimento que começou contra o aumento das passagens, falei sobre a relação entre desejo e política mostrando como o capital sempre deixa o desejo aflorar para capturá-lo e as esquerdas, por sua vez, têm medo do desejo (as oficiais, burocratizadas, acadêmicas, hirarquizadas em partido, com exceções portanto: eis o pessoal do MPL mandando bem), isto é, não percebem que ele é revolucionário, ou no mínimo transformador: por isso perdem constantemente a batalha. Ainda por cima bati duro, sempre numa crítica que se pretendia “pela esquerda”, em certas posições de certos petistas e alguns militantes de esquerda (alguns, insisto, com exceções), chamando-os de “Reginas Duarte de vermelho”.

O problema, no entanto, é que não dá para usar, como vejo alguns fazerem, uma espécie de “cartilha pós-moderna padrão” para explicar tudo o tempo todo, sem avaliar cada momento a cada dia, como as coisas mudaram, foram e voltaram, as muitas forças ( e contra forças), quais são elas, quando e onde estão, mais e/ou menos forte e, sobretudo, onde cada um de nós está, se posiciona e age, em vez de ficar pairando sobre tudo (num sintoma de verticalização intelectual, de autoridade acadêmica, de especialista em “novos movimentos”, “multiplicidade” e etc). Em outros termos, não dá para desprezar os fatos e os acontecimentos. Se não fizermos assim vamos terminar por apresentar uma concepção de “multiplicidade” que mais parece ser uma grande sopa de letrinhas de clichês onde, no final, a potência da diferença, do singular, aquilo que escapa a maneira homogeneizadora como o capital regula os modos de vida, se esvazia quase que completamente.

Além disso, desqualificar qualquer relação com a história, numa espécie de “positivismo pós-moderno”, teleologia hegeliana rasteira, determinismo histórico com brinco no umbigo, encarando a pós-modernidade como “uma grande nova fase” onde todo o resto estaria “velho” e “superado”, é impotência pura, prato cheio para ações reacionárias (no sentido de “reativas”). Se há uma potência no pós-moderno (noção bem problemática, mas não tenho dúvidas que não somos mais modernos, e gosto disso) é exatamente no fato dele nos jogar para fora de qualquer teleologia histórica, isto é, o pós-moderno não pode ser visto como nenhum “fim da história” e sim como a oportunidade (a ser efetivada ou não) do fim da “grande narrativa histórica” e a liberação de novas histórias para além de qualquer “telos”. Estou completamente de acordo com aquele velho filósofo bigodudo que disse que não há criação e nem reinvenção na vida sem que façamos um movimento de “livre-se do seu passado”, mas o mesmo filósofo pensou isso num texto cujo título é “Das Utilidades e dos Inconvenientes da História para a Vida”, ou seja, as “utilidades” da história estão aí também.

Assim, sobre as manifestações da última quinta-feira (e não em relação a quase todas antes), o que eu achei é que as coisas ficaram esquisitas. Poderíamos até ver ainda ali uma multiplicidade que não era “sopa de letrinhas” (potente em suas diferenças), onde tinha de tudo, mas numa correlação de forças já bem diferente de antes; ou seja, um certo movimento pasteurizador de tudo me parecia cada vez mais evidente. Um grupo grande de meninos que pareciam de uma escola pública, ou de algum coletivo, bem espertos politicamente, com o qual andamos durante um tempo, estava também muito incomodado com isso; ou seja, a antipolítica que se espelhava pela manifestação que, mesmo como carnaval, parecia pobre: mais pra micareta do que pra bloco de rua; mais pra auditório de Luciano Hulk que pra baile funk.

No caso da predominância do hino nacional e da bandeira, posso até concordar com o argumento que diz ser meio absurdo ficar cobrando dos garotos o fato deles só cantarem hino nacional e gritos de torcida do Brasil se muitos deles estão indo pela primeira vez às ruas para se manifestar; ou seja, eles cantam o que sabem. Mas isso não significa que algum determinismo fatalista supostamente pós-moderno vá fazer com que eu deixe de considerar toda a semiótica destes símbolos na ligação com outros momentos da história do Brasil. Dizer que tudo já passou e é outro momento é um argumento que pode ser usado numa nota oficial das forças armadas contra a apuração dos crimes da ditadura.

Mas sim, evidentemente, é outro momento (radicalmente outro), e é o mesmo (assustadoramente repetitivo): “tudo ao mesmo tempo agora”. Por exemplo, a falta de apuração dos crimes da ditadura têm uma íntima relação com a violência da polícia militar sobre as pessoas que estavam nos bares da Lapa: violência molar e molecular a qual não fomos capazes, ao longo de todos estes anos, de se contrapor com eficácia (força) política. E que aliás, foi fichinha perto do que acontece na periferia e nas favelas frequentemente.

Ainda me detendo na última quinta-feira, eu acho que a ação conservadora foi de fato efetiva: os partidos, e alguns movimentos sociais, foram expulsos da manifestação debaixo porrada. Quando atacaram o pessoal da CUT foi bem em frente ao carro de som e o babaca lá, que não era nenhum neófito, ficou gritando o tal “sem violência” em vez de falar dos direitos que as pessoas têm de levar a bandeira. Na frente do ataque estavam visivelmente uns caras que pareciam milicos a paisana. Acabei de escrever que é ridículo a esquerda não ver a crise da democracia representativa e da forma-partido, mas quando o “grande” analista político da Globo fala isso, está querendo outra coisa do que eu. Como disse mais uma vez o filósofo, a pergunta não é “o que é?” e sim “o que quer?” tal ou tal força. Já ao pessoal que se concentrou no IFCS para ir, no momento em que saiu em direção à Presidente Vargas, foi atacado por uns caras que pareciam milicianos e que sabiam muito bem quem eram os líderes. Em Sampa, na Paulista, eles batiam em quem estava apenas com uma camisa vermelha, e não foi só a bandeira dos partidos, mas também a bandeira do Educafro que foi rasgada. Existe ( e eu apurei com cuidado esta informação) uma pauta própria da PM, em especial do Rio e na Bahia, ou seja, os policiais estão em franco confronto com os governadores e secretários de segurança (não que o Cabral não fosse capaz de ordenar aquela repressão na Lapa).

E, finalmente, tem toda a captura pela mídia, a pauta que ela tenta impor (com sucesso apenas parcial) e, sobretudo, o discurso dos “vândalos” que é abraçado por vários manifestantes que se apresentam prontamente como voluntários da polícia e da mídia contra os que não se manifestam nos padrões de “bom comportamento”. Padrões de bom comportamento estes que são rompidos de formas diferentes entre si, ou seja, não é apenas um tipo de ato de “quebra da ordem”, de insurgência – e podem ser mesmo eventualmente uma “ação da ordem” – que estoura em meio às manifestações; e é cínico não admitir que eles tiveram alguma função política na pressão para fazer baixar as passagens. E aí os eufóricos das novas tecnologias devem fazer uma pergunta: se é evidente que as mudanças políticas trazidas pelas redes sociais, as possibilidades de luta, de articulações produtivas e de resistência são enormes (vejamos o exemplo da Globo mostrando com 24 horas de atraso a violência na Lapa que antes tentou esconder – porque apoiou – graças a situação que se criou nas rede), por que tantas pessoas entram na rede para irem direto aos portais das grandes corporações de comunicação? Por que nas redes de relacionamento boa parte do que é compartilhado são notícias e imagens postadas por estas corporações? Por que tanto se busca este pensamento hierarquizado ali onde a potência está numa horizontalidade? É claro que vimos esses anos mil e uma formas de resistências e formas de organização produtiva nas redes, mas também não se pode deixar de notar o fascismo molecular impressionante que circula nelas (e que desceu às ruas quinta, principalmente na Paulista), e nem como as formas molares de organização têm tratado de aglutinar estas forças de forma mais sistemática de uns anos para cá, dentro da própria rede.

Não adianta ficar procurando linhas de fuga sem estar atento às capturas. E mais, uma das mais violentas formas do biopoder no capitalismo contemporâneo é impor esta alegria que nunca pode parar, esse otimismo que interdita a tristeza, a hesitação, a dor que provoca a dúvida. A propósito, eu já fiz um ensaio cinematográfico sobre isso “Eu estou bem cada vez melhor”…http://vimeo.com/65393274

Não fui o único a sair com um certo mal estar daquela manifestação, outras pessoas que também não são de uma esquerda burocrática e hierarquizada saíram. Aliás, o MPL se retirou em São Paulo e disse, em nota, que a direita tinha capturado o movimento. O mal estar, o incômodo, podem fazer pensar. Pelo que entendi do Espinosa e impressionante atualidade política da teoria dos afetos, não se trata de nenhuma forma de auto-ajuda antecipada em pleno século XVII.

E para encerrar, uma última reflexão: o fascismo não é parte da multiplicidade, ele é uma força anti-multipplicidade, destruidora das diferenças, e que pode se instalar no coração desta para diluí-las. Ou como disse aquele filósofo careca: o fascismo é “Eros fora”. Não se trata de escolher, ou usar tênis, ou ser punk, ou usar sandália de couro, ou entrar para PSTU, ou ser “coxinha”, ou gostar de funk, ou ser gay, ou ser fascista. A potência está numa afirmação criadora onde se é todo nela, e não em um monte de essenciazinhas meia bomba espalhadas por aí, expressões do niilismo da forma-mercadoria, que é a maneira como o capitalismo reduz os fluxos do desejo – sem os quais nem ele nem nós vivemos – a fluxos de merda. Nem muito menos pode haver possibilidade de vida numa força que existe para destruir toda e qualquer diferença: mesmo violento, do ponto de vista da vida e da política como forma de liberação social de novas possibilidades de vida, o fascismo é uma anti-força.

A falácia do liberalismo é tentar nos convencer que o fascismo é mais uma escolha que temos que “tolerar”, talvez porque o capital goste sempre de mantê-lo como uma carta na manga a qual ele pode lançar mão em situações limites. Assim, os que criticaram o filme “Tropa de Elite” de José Padilha, que fazia a apologia do Boppe e da violência policial, foram acusados de “intolerantes”, “patrulhadores” e etc. Pois bem, senhores liberais ingênuos e senhores liberais cínicos, o Boppe, o choque, a PM e etc, aparecem agora claramente como a carta na manga para manter os negócios copa – empreiteiras – Estado – corporações de comunicação – FIFA – patrocinadores em geral. “Não existe capitalismo liberal, só existe capitalismo de Estado”; disse o filósofo. E isso significa, inclusive, capitalismo com polícia sem limites: quando os limites existem, são as lutas que os conquistaram. O Wiki Leaks que nos ajude…

Por isso, que o mesmo filósofo que falou em multiplicidade, produção de subjetividade e diferença, afirmou a univocidade do ser. Isso não quer dizer que ele tenha dito, numa tentativa besta de quantificar, que o “Ser é Um”, mas que o Ser é todo no ato criador. A condescendência liberal com tudo na falsa multiplicidade-sopa-de-letrinha é a própria padronização-clichê que esvazia a possibilidade da criação da vida – e portanto da criação política – para além da forma mercadoria. Trata-se de uma operação política de poder que esvazia a possibilidade do devir revolucionário. Isso pode parecer uma simples elucubração filosófica, mas é a que faz politicamente toda a diferença; literalmente.

Divulgue na rede

Nem tudo é igual na revolta do Brasil (Desinformemonos)

“As manifestações criam um novo tipo de relação entre a população e o poder público. A Guerra da Água demonstrou isso na Bolívia e, agora no Brasil, dezenas de cidades também estão fazendo isso”, pontua Rafael Siqueira, do Movimento Passe Livre.

BRISA ARAUJO
FOTOS: MÍDIA NINJA
Número 98    junio 2013

midianinja11Centenas de milhares de pessoas continuam nas ruas do Brasil enquanto os governos baixam as tarifas dos transportes – demanda que detonou as primeiras marchas – numa tentativa de acalmar os manifestantes. Novos atores sociais chegam às manifestações para desconcerto dos políticos de todas as orientações.

No dia 19 de junho, o movimento social ganhou a revogação do aumento de 20 centavos na tarifa dos transportes públicos de São Paulo, seguida pela diminuição das tarifas em outras importantes cidades do país. Mas na marcha de comemoração do dia seguinte, algo mais saltou aos olhos: mais de um milhão e 200 mil brasileiros de distintos grupos sociais saíram às ruas de mais de cem cidades em marchas que reivindicaram causas diversas, desde saúde e educação pública até a ira contra os partidos políticos, a corrupção no governo e os altos impostos.

O transporte foi o princípio

As marchas explodiram na quinta maior economia do mundo por uma causa aparentemente local e pontual, que é o preço do transporte nas grandes cidades. De alguma maneira, foi a gota d’água.

Rafael Siqueira, professor de música e militante do Movimento Passe Livre (MPL), indica que a mobilidade é um problema nacional. “Os sistemas de transporte público são caóticos em todo o país e no início de 2013 aumentam as tarifas em várias idades. Ainda que cada cidade tenha a sua situação particular, o problema é nacional”, explica. O MPL é formado por trabalhadores e estudantes e atua nacionalmente desde 2005, depois de revoltas na Bahia, em 2003 e Santa Catarina, em 2004. Uma das principais bandeiras do movimento é o acesso universal ao sistema de transporte urbano, que para eles deve ser gerido pelo Estado e não por empresas privadas.

Segundo Carlos Eduardo Martins, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maciça adesão às manifestações inicialmente convocadas pelo MPL vem de uma indignação pela desmedida repressão policial contra o aumento, mas tem bases sociais mais profundas, como “a deterioração das condições materiais de vida pela inflação dos preços de habitação e a péssima qualidade dos serviços públicos de saúde, educação e transporte”. O professor afirma que a falta de definição entre o que é direita e esquerda no país também gera uma falta de esperança na política, já que “o Partido dos Trabalhadores (PT) passou a dirigir o bloco de poder que reúne o grande capital nacional e estrangeiro, as oligarquias financeiras e o agronegócio. A consequência é uma ampla corrupção da vida política nacional”.

Inconformidade com os gastos excessivos no futebol

Desde o sábado 15 de junho, outro fator entrou na complexa conjuntura política brasileira. A Copa das Confederações, torneio de futebol da FIFA, é o primeiro evento que utiliza as megaobras programadas para o Mundial de Futebol de 2014. Os estádios Mané Garrincha (Brasília), Mineirão (Belo Horizonte), Castelão (Fortaleza) e o tradicional Maracanã (Rio de Janeiro) são agora cenário de manifestações fortemente reprimidas pela polícia durante todos os partidos do torneio. Fora dos estádios, pessoas se expressaram “contra o que se consideram gastos excessivos e abusivos na construção dos estádios. Além disso, reivindicam que esses recursos sejam investidos em áreas mais importantes para os cidadãos, como saúde, educação e mobilidade urbana”, resume o sociólogo Wagner Iglecias, da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista com Desinformémonos.

Os Comitês Populares da Copa (COPACs) são movimentos sociais presentes nas 12 cidades que serão sede do torneio do próximo ano e estão articulados nacionalmente. Uma das principais preocupações dos comitês são os despejos nas cercanias dos estádios, assim como o aumento do fosso entre as classes altas e baixas das cidades. “Muitas das obras para o mundial são fruto de projetos antigos das classes dominantes, que agora encontram um motivo necessário para justificar reformas que provocarão o distanciamento dos pobres para a periferia mais distante de Fortaleza, causando segregação e distinção social”, defende o COPAC de Fortaleza, Ceará. Esta cidade já tem um claro exemplo deste processo: nas comunidades de Lagoa da Zeza e Vila Cazumba, mais de 5 mil pessoas foram desalojadas para um conjunto habitacional muito distante do centro, onde não há infraestrutura de escolas e creches.

O COPAC do Rio de Janeiro reforça as denúncias: “O que vemos hoje é o aumento da violação a direitos, principalmente contra comunidades pobres. Além disso, sabemos que a velocidade dos programas de urbanização de algumas favelas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), assim como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são parte de um conjunto de ações para que a cidade passe uma imagem de ‘ordem e progresso’ para os investidores e os turistas”, denunciam.

Os novos atores, entre o conservadorismo e a ira contra a classe política

Grande parte dos participantes das últimas marchas, no entanto, não são parte de movimentos sociais nem de nenhum partido político. São tão contrários a eles que nas grandes marchas do dia 20 de junho atacaram física e verbalmente pessoas com camisas ou bandeiras de partidos políticos. Convocados pelas redes sociais e estimulados por palavras de ordem nacionalistas e contra a classe política, representam, pontua o jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto, “um Brasil muito conservador. As manifestações nos mostram que não porque centenas de milhares de pessoas saiam às ruas por uma reivindicação justa, a realidade mudou e vivemos agora numa comunidade de Ursinhos Carinhosos”, ironiza. O jornalista considera um erro assumir que estamos diante de um movimento fascista, como parte da esquerda teme. “É um grupo, principalmente de jovens, precariamente informado, que subitamente deu de cara com as manifestações de rua mas que não tem nenhuma formação política, somente muita raiva e indignação. Sua revolta não foi necessariamente contra os partidos, mas contra as instituições tradicionais que representam a autoridade como um todo”, analisou.

O futuro da política

Para Carlos Eduardo Martins, as marchas expressam “o colapso do sistema político brasileiro”. Iglecias acredita que são uma mostra de que o sistema políticos está demasiado afastado dos cidadãos e de suas preocupações cotidianas. “O sistema político brasileiro tem estado demasiado fechado em si mesmo, muito mais próximo dos interesses privados que da sociedade”, afirmou o sociólogo.

No calor do momento, algumas pessoas questionaram a ameaça de que as forças políticas de direita se aproveitassem da massificação para promover algum tipo de golpe de Estado, semelhante ao que aconteceu no Brasil em 1964 – quando a classe média descontente com os rumos do governo de João Goulart favoreceu um complô militar que derrubou o presidente. Para o professor da USP, esta possibilidade resulta pouco provável “porque há um sentimento muito forte de que este movimento pertence à sociedade civil, é um movimento que não quer a proteção de partidos, grupos, da mídia ou de qualquer outro ator político”, avaliou.

O que se pode dizer com segurança é que as manifestações que levaram mais de um milhão e meio de pessoas às ruas não são banais. O militante do MPL avalia que “a história prova que as manifestações mudam as coisas. Ou a escravidão ainda é normal? Ou a França ainda é uma monarquia? As manifestações criam um novo tipo de relação entre a população e o poder público. A Guerra da Água mostrou isso na Bolívia e agora no Brasil dezenas de cidades também estão mostrando”, finaliza Rafael Siqueira.

NSA Prism program taps in to user data of Apple, Google and others (Guardian)

• Top-secret Prism program claims direct access to servers of firms including Google, Apple and Facebook
• Companies deny any knowledge of program in operation since 2007
• Obama orders US to draw up overseas target list for cyber-attacks
Glenn Greenwald and Ewen MacAskill
The Guardian, Friday 7 June 2013
Prism

A slide depicting the top-secret PRISM program.

The National Security Agency has obtained direct access to the systems of Google, Facebook, Apple and other US internet giants, according to a top secret document obtained by the Guardian.

The NSA access is part of a previously undisclosed program calledPrism, which allows officials to collect material including search history, the content of emails, file transfers and live chats, the document says.

The Guardian has verified the authenticity of the document, a 41-slide PowerPoint presentation – classified as top secret with no distribution to foreign allies – which was apparently used to train intelligence operatives on the capabilities of the program. The document claims “collection directly from the servers” of major US service providers.

Although the presentation claims the program is run with the assistance of the companies, all those who responded to a Guardian request for comment on Thursday denied knowledge of any such program.

In a statement, Google said: “Google cares deeply about the security of our users’ data. We disclose user data to government in accordance with the law, and we review all such requests carefully. From time to time, people allege that we have created a government ‘back door’ into our systems, but Google does not have a back door for the government to access private user data.”

Several senior tech executives insisted that they had no knowledge ofPrism or of any similar scheme. They said they would never have been involved in such a program. “If they are doing this, they are doing it without our knowledge,” one said.

An Apple spokesman said it had “never heard” of Prism.

The NSA access was enabled by changes to US surveillance law introduced under President Bush and renewed under Obama in December 2012.

PrismThe program facilitates extensive, in-depth surveillance on live communications and stored information. The law allows for the targeting of any customers of participating firms who live outside the US, or those Americans whose communications include people outside the US.

It also opens the possibility of communications made entirely within the US being collected without warrants.

Disclosure of the Prism program follows a leak to the Guardian on Wednesday of a top-secret court order compelling telecoms provider Verizon to turn over the telephone records of millions of US customers.

The participation of the internet companies in Prism will add to the debate, ignited by the Verizon revelation, about the scale of surveillance by the intelligence services. Unlike the collection of those call records, this surveillance can include the content of communications and not just the metadata.

Some of the world’s largest internet brands are claimed to be part of the information-sharing program since its introduction in 2007. Microsoft – which is currently running an advertising campaign with the slogan “Yourprivacy is our priority” – was the first, with collection beginning in December 2007.

It was followed by Yahoo in 2008; Google, Facebook and PalTalk in 2009; YouTube in 2010; Skype and AOL in 2011; and finally Apple, which joined the program in 2012. The program is continuing to expand, with other providers due to come online.

Collectively, the companies cover the vast majority of online email, search, video and communications networks.

Prism 

The extent and nature of the data collected from each company varies.

Companies are legally obliged to comply with requests for users’ communications under US law, but the Prism program allows the intelligence services direct access to the companies’ servers. The NSAdocument notes the operations have “assistance of communications providers in the US”.

The revelation also supports concerns raised by several US senators during the renewal of the Fisa Amendments Act in December 2012, who warned about the scale of surveillance the law might enable, and shortcomings in the safeguards it introduces.

When the FAA was first enacted, defenders of the statute argued that a significant check on abuse would be the NSA’s inability to obtain electronic communications without the consent of the telecom and internet companies that control the data. But the Prism program renders that consent unnecessary, as it allows the agency to directly and unilaterally seize the communications off the companies’ servers.

A chart prepared by the NSA, contained within the top-secret document obtained by the Guardian, underscores the breadth of the data it is able to obtain: email, video and voice chat, videos, photos, voice-over-IP (Skype, for example) chats, file transfers, social networking details, and more.

PRISM slide crop
The document is recent, dating to April 2013. Such a leak is extremely rare in the history of the NSA, which prides itself on maintaining a high level of secrecy.

The Prism program allows the NSA, the world’s largest surveillance organisation, to obtain targeted communications without having to request them from the service providers and without having to obtain individual court orders.

With this program, the NSA is able to reach directly into the servers of the participating companies and obtain both stored communications as well as perform real-time collection on targeted users.

The presentation claims Prism was introduced to overcome what the NSAregarded as shortcomings of Fisa warrants in tracking suspected foreign terrorists. It noted that the US has a “home-field advantage” due to housing much of the internet’s architecture. But the presentation claimed “Fisa constraints restricted our home-field advantage” because Fisa required individual warrants and confirmations that both the sender and receiver of a communication were outside the US.

“Fisa was broken because it provided privacy protections to people who were not entitled to them,” the presentation claimed. “It took a Fisa courtorder to collect on foreigners overseas who were communicating with other foreigners overseas simply because the government was collecting off a wire in the United States. There were too many email accounts to be practical to seek Fisas for all.”

The new measures introduced in the FAA redefines “electronic surveillance” to exclude anyone “reasonably believed” to be outside the USA – a technical change which reduces the bar to initiating surveillance.

The act also gives the director of national intelligence and the attorney general power to permit obtaining intelligence information, and indemnifies internet companies against any actions arising as a result of co-operating with authorities’ requests.

In short, where previously the NSA needed individual authorisations, and confirmation that all parties were outside the USA, they now need only reasonable suspicion that one of the parties was outside the country at the time of the records were collected by the NSA.

The document also shows the FBI acts as an intermediary between other agencies and the tech companies, and stresses its reliance on the participation of US internet firms, claiming “access is 100% dependent on ISP provisioning”.

In the document, the NSA hails the Prism program as “one of the most valuable, unique and productive accesses for NSA”.

It boasts of what it calls “strong growth” in its use of the Prism program to obtain communications. The document highlights the number of obtained communications increased in 2012 by 248% for Skype – leading the notes to remark there was “exponential growth in Skype reporting; looks like the word is getting out about our capability against Skype”. There was also a 131% increase in requests for Facebook data, and 63% for Google.

The NSA document indicates that it is planning to add Dropbox as aPRISM provider. The agency also seeks, in its words, to “expand collection services from existing providers”.

The revelations echo fears raised on the Senate floor last year during the expedited debate on the renewal of the FAA powers which underpin the PRISM program, which occurred just days before the act expired.

Senator Christopher Coons of Delaware specifically warned that the secrecy surrounding the various surveillance programs meant there was no way to know if safeguards within the act were working.

“The problem is: we here in the Senate and the citizens we represent don’t know how well any of these safeguards actually work,” he said.

“The law doesn’t forbid purely domestic information from being collected. We know that at least one Fisa court has ruled that the surveillance program violated the law. Why? Those who know can’t say and average Americans can’t know.”

Other senators also raised concerns. Senator Ron Wyden of Oregon attempted, without success, to find out any information on how many phone calls or emails had been intercepted under the program.

When the law was enacted, defenders of the FAA argued that a significant check on abuse would be the NSA’s inability to obtain electronic communications without the consent of the telecom and internet companies that control the data. But the Prism program renders that consent unnecessary, as it allows the agency to directly and unilaterally seize the communications off the companies’ servers.

When the NSA reviews a communication it believes merits further investigation, it issues what it calls a “report”. According to the NSA, “over 2,000 Prism-based reports” are now issued every month. There were 24,005 in 2012, a 27% increase on the previous year.

In total, more than 77,000 intelligence reports have cited the PRISMprogram.

Jameel Jaffer, director of the ACLU’s Center for Democracy, that it was astonishing the NSA would even ask technology companies to grant direct access to user data.

“It’s shocking enough just that the NSA is asking companies to do this,” he said. “The NSA is part of the military. The military has been granted unprecedented access to civilian communications.

“This is unprecedented militarisation of domestic communications infrastructure. That’s profoundly troubling to anyone who is concerned about that separation.”

A senior administration official said in a statement: “The Guardian and Washington Post articles refer to collection of communications pursuant to Section 702 of the Foreign Intelligence Surveillance Act. This law does not allow the targeting of any US citizen or of any person located within the United States.

“The program is subject to oversight by the Foreign Intelligence Surveillance Court, the Executive Branch, and Congress. It involves extensive procedures, specifically approved by the court, to ensure that only non-US persons outside the US are targeted, and that minimize the acquisition, retention and dissemination of incidentally acquired information about US persons.

“This program was recently reauthorized by Congress after extensive hearings and debate.

“Information collected under this program is among the most important and valuable intelligence information we collect, and is used to protect our nation from a wide variety of threats.

“The Government may only use Section 702 to acquire foreign intelligence information, which is specifically, and narrowly, defined in the Foreign Intelligence Surveillance Act. This requirement applies across the board, regardless of the nationality of the target.”

Additional reporting by James Ball and Dominic Rushe

Cientistas sociais procuram modelo para onda de protestos no Brasil (Folha de S.Paulo)

23/06/2013 – 11h09

CASSIANO ELEK MACHADO
GRACILIANO ROCHA

Olhem para paris, diz Teresa Caldeira. Mas não a de Maio de 68: para a antropóloga brasileira radicada nos EUA, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, a análise das manifestações que tomaram o país na semana passada deve se pautar pelos distúrbios que eclodiram nas periferias francesas em 2005, quando cidades suburbanas na região metropolitana de Paris (“banlieues”) explodiram em uma onda de protestos sociais.

Especialista em antropologia urbana, Caldeira, 58, pesquisa a cultura da periferia, em especial a de São Paulo, e diz que se vários cientistas sociais se declararam surpresos, para ela não há novidade.

“Todos comparam com Istambul ou com a Primavera Árabe, mas deveriam olhar para o que houve em Paris há oito anos”, diz Caldeira. “Dá muito bem para entender o que está acontecendo e isso vem sendo articulado há muito tempo”, acredita a antropóloga, autora do livro “Cidade de Muro: Crime, Segregação e Cidadania” (Editora 34).

Ela lembra que o Movimento Passe Livre (MPL) existe há muitos anos e afirma que ele “articula todo o imaginário da produção cultural da periferia”.

“A Folha fez uma foto em 2010 de um grafite feito pelo MPL no Minhocão, em São Paulo, que dizia ‘A cidade só existe para quem pode se movimentar por ela’.”

Caldeira reproduziu a imagem em um artigo dela na revista “Public Culture” (Duke University Press, 2012) e a frase do grafite como uma ideia fundamental do movimento cultural da periferia. “Rap, literatura marginal, pixação, saraus, todos se fazem na base e rede e de circulação. E circular por São Paulo é um caos para quem não tem dinheiro.”

Opinião diferente tem o sociólogo francês Sebastian Roché. Em seu livro “Le Frisson de l’Émeute”, (Seuil, sem tradução no Brasil), ele afirma que as revoltas que inflamaram a França -cujo estopim foi a morte de dois adolescentes eletrocutados em uma perseguição policial- foram protagonizadas por jovens que se consideram vítimas da xenofobia por não terem a pele branca e, na maioria, filhos de imigrantes e muçulmanos.

“Os jovens muçulmanos, muito numerosos nas ‘banlieues’, não se sentem aceitos nem respeitados em suas crenças. Além disso, essa juventude foi abandonada à própria sorte. Nas ‘banlieues’, a taxa de desemprego oscila entre 25% e 40% entre jovens com menos de 25 anos”, frisa Roché.

Professor da celebrada Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos), da Universidade de Grenoble e pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Social), Roché diz ter acompanhado com atenção a onda de protestos no Brasil, e não vê “muitos pontos de comparação” entre o que aconteceu aqui e lá. Na França, diz ele, “não foram pobres destruindo o meio de vida de outros pobres”.

“A burguesia ou o governo não foram os alvos. Nenhum espaço do poder foi sitiado ou tomado. Ninguém se aproximou, por exemplo, do parlamento nem da sede do governo [como ocorreu no Brasil]. Aqui, os grupos operavam durante a noite, escondiam o rosto em capuzes e muitas vezes buscavam o confronto com a polícia. Não houve qualquer manifestação de massa, nenhum líder ou palavra de ordem emergiu.”

Teresa Caldeira, que no ano passado ganhou a prestigiosa bolsa Guggenheim de pesquisa, nos EUA, aponta outra foto dos movimentos recentes, que ela diz ter visto nas redes sociais, como icônica do que está acontecendo. Dois rapazes seguravam cartazes: um dizendo “O Brasil acordou” e outro “A periferia nunca dormiu”.

Também chamaram a atenção dela as faixas que faziam referências ao trabalho da polícia. “A PM está fazendo na Paulista o que faz todo dia na periferia”, dizia uma delas. “Há uma tensão de classes latente. E não me surpreende que os protestos tenham chegado agora na periferia”, diz ela, citando como exemplo as manifestações dos últimos dias em regiões como a estrada do M’Boi Mirim (na zona sul de São Paulo).

Ela aposta que, “tal como em Paris, em 2005, veremos agora a explosão da periferia”. Ainda que, segundo ela, a presença de classes A e B tenha tido importante papel na eclosão dos movimentos, os protestos veiculam uma insatisfação que vem sendo cozinhada nas periferias. “Uma coisa é de onde vem o caldo e a outra é a forma que a manifestação adquire. Na forma, parece um pouco com a Primavera Árabe: a maneira como circularam as informações e a insatisfação com as instituições políticas tradicionais”, diz.

“No conteúdo, é muito significativo que tenha estourado pelos R$ 0,20. Ninguém aguenta mais os ônibus da cidade. Conheço muita gente da periferia, devido às pesquisas, que todos os dias posta algo em mídias sociais contra o transporte público.”

Para o francês Roché, “a melhoria das condições de vida faz com que aqueles que se sentem excluídos se mobilizem coletivamente para reivindicar, como é o caso do Brasil”. “Na França, a questão é de exclusão social em um período de estagnação econômica, e a revolta de 2005 não gerou um modelo coletivo de massas e organizado. Não houve protesto contestador, mas sim apropriações individuais, como roubos e saques, ou então confrontos e destruição para exprimir a raiva. Nas ‘banlieues’, não houve reivindicação explícita.”

Ele afirma que, embora “revoltas possam ensinar muito aos governantes”, isso depende de eles “serem capazes de olhá-las de frente”. “Na França, nós não aprendemos muito. Em novembro de 2005, a França estava a um ano e meio das eleições presidenciais. O então ministro do Interior [Nicolas Sarkozy, presidente entre 2007-2012] viu naquilo uma oportunidade de reafirmar sua autoridade e estigmatizar as ‘banlieues’ e seus habitantes com vistas à eleição de 2007” -que ele terminaria vencendo. “Nenhuma análise política foi feita pelo Parlamento e menos ainda pelo ministério do Interior, proibido de refletir sobre sua atuação pelo próprio ministro.”

Para o sociólogo, as revoltas urbanas podem, ainda, exprimir um desejo de participação direta nas decisões públicas, no caso de países como Brasil e Turquia. “Nesses dois países, muitos jovens com acesso à educação apresentam reivindicações sobre o direito à diferença e que sejam levadas em conta suas demandas sociais pelo poder central desses países.”
O estudioso considera que “há progressos econômicos tanto no Brasil quanto na Turquia, e esses movimentos de contestação se dão em um contexto bem diferente do que ocorreu na França, cujo crescimento econômico tem sido mínimo ou nulo nos últimos anos”.

Para o sociólogo “o que está acontecendo no Brasil se parece mais com o Maio de 68”. “Naquela época a França vivia em pleno Les Trente Glorieuses [como ficaram conhecidas as três décadas de crescimento e prosperidade no pós-Guerra], e a juventude, com trabalho ou diplomas, mergulhou numa luta para que seu modo de vida e aspirações fossem reconhecidos pelo governo”, recorda.

You’re So Vain: Study Links Social Media Use and Narcissism (Science Daily)

June 11, 2013 — Facebook is a mirror and Twitter is a megaphone, according to a new University of Michigan study exploring how social media reflect and amplify the culture’s growing levels of narcissism.

New research shows that narcissistic college students and their adult counterparts use social media in different ways to boost their egos and control others’ perceptions of them. (Credit: © mtkang / Fotolia)

The study, published online inComputers in Human Behavior, was conducted by U-M researchers Elliot Panek, Yioryos Nardis and Sara Konrath.

“Among young adult college students, we found that those who scored higher in certain types of narcissism posted more often on Twitter,” said Panek, who recently received his doctorate in communication studies from U-M and will join Drexel University this fall as a visiting fellow.

“But among middle-aged adults from the general population, narcissists posted more frequent status updates on Facebook.”

According to Panek, Facebook serves narcissistic adults as a mirror.

“It’s about curating your own image, how you are seen, and also checking on how others respond to this image,” he said. “Middle-aged adults usually have already formed their social selves, and they use social media to gain approval from those who are already in their social circles.”

For narcissistic college students, the social media tool of choice is the megaphone of Twitter.

“Young people may overevaluate the importance of their own opinions,” Panek said. “Through Twitter, they’re trying to broaden their social circles and broadcast their views about a wide range of topics and issues.”

The researchers examined whether narcissism was related to the amount of daily Facebook and Twitter posting and to the amount of time spent on each social media site, including reading the posts and comments of others.

For one part of the study, the researchers recruited 486 college undergraduates. Three-quarters were female and the median age was 19. Participants answered questions about the extent of their social media use, and also took a personality assessment measuring different aspects of narcissism, including exhibitionism, exploitativeness, superiority, authority and self-sufficiency.

For the second part of the study, the researchers asked 93 adults, mostly white females, with an average age of 35, to complete an online survey.

According to Panek, the study shows that narcissistic college students and their adult counterparts use social media in different ways to boost their egos and control others’ perceptions of them.

“It’s important to analyze how often social media users actually post updates on sites, along with how much time they spend reading the posts and comments of others,” he said.

The researchers were unable to determine whether narcissism leads to increased use of social media, or whether social media use promotes narcissism, or whether some other factors explain the relationship. But the study is among the first to compare the relationship between narcissism and different kinds of social media in different age groups.

Funding for the study comes in part from The Character Project, sponsored by Wake Forest University via the John Templeton Foundation.

Journal Reference:

  1. Elliot T. Panek, Yioryos Nardis, Sara Konrath. Mirror or Megaphone?: How relationships between narcissism and social networking site use differ on Facebook and TwitterComputers in Human Behavior, 2013; 29 (5): 2004 DOI: 10.1016/j.chb.2013.04.012

Cientistas desenvolvem simulador de mídias sociais (Fapesp)

Criado por pesquisadores da IBM e do Instituto de Matemática e Estatística da USP, sistema possibilitará prever o impacto de ações de comunicação em redes como Twitter e Facebook

04/06/2013

Elton Alisson

Agência FAPESP – O poder de difusão e a velocidade de propagação das informações nas mídias sociais têm despertado o interesse de empresas e organizações em realizar ações de comunicação em plataformas como Twitter e Facebook.

Um dos desafios com os quais se deparam ao tomar essa decisão, no entanto, é prever o impacto que as campanhas terão nessas mídias sociais, uma vez que elas apresentam um efeito altamente “viral” – as informações se propagam nelas muito rapidamente e é difícil estimar a repercussão que terão.

“Se antes uma pessoa divulgava uma informação no boca-a-boca para mais três ou quatro pessoas, agora ela possui uma audiência que pode chegar aos milhares de seguidores por meio da internet. Daí a dificuldade de prever o impacto de uma ação em uma mídia social”, disse Claudio Pinhanez, líder do grupo de pesquisa em sistemas de serviços da IBM Research – Brazil – o laboratório brasileiro de pesquisa da empresa norte-americana de tecnologia da informação – à Agência FAPESP.

Para tentar encontrar uma resposta a esse desafio, o grupo iniciou um projeto em parceria com pesquisadores do Departamento de Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP) a fim de desenvolver um simulador capaz de prever o impacto das ações de comunicação em mídias sociais com base nos padrões de comportamento dos usuários.

Os primeiros resultados do projeto foram apresentados no início de maio durante o 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation, realizado na cidade de Saint Paul, no estado de Minnesota, nos Estados Unidos e, posteriormente, no Latin American eScience Workshop 2013, que ocorreu nos dias 14 e 15 de maio no Espaço Apas, em São Paulo.

Promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research, o segundo evento reuniu pesquisadores e estudantes da Europa, da América do Sul e do Norte, da Ásia e da Oceania para discutir avanços em diversas áreas do conhecimento possibilitados pela melhoria na capacidade de análise de grandes volumes de informações produzidas por projetos de pesquisa.

Segundo Pinhanez, para desenvolver um método inicial para modelar e simular as interações entre os usuários de redes sociais, foram coletadas mensagens publicadas por 25 mil pessoas nas redes no Twitter do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de seu adversário político, Mitt Romney, em outubro de 2012, último mês da recente campanha eleitoral presidencial norte-americana.

Os pesquisadores analisaram o conteúdo das mensagens e o comportamento dos usuários nas redes de Obama e Romney, de modo a identificar padrões de ações, a frequência com que postavam mensagens, se eram mais positivas ou negativas e qual a influência dessas mensagens sobre outros usuários.

Com base nesse conjunto de dados, desenvolveram um modelo de simulação de agentes – um sistema por meio do qual cada usuário avaliado é representado por programas individuais de computador que rodam integrados e ao mesmo tempo – que indica as probabilidades de ação na rede de cada uma dessas pessoas, apontando qual o momento do dia mais provável para publicar uma mensagem positiva ou negativa com base em seu histórico de comportamento.

Uma das constatações nos experimentos com o simulador foi que a retirada dos dez usuários mais engajados nas discussões realizadas no Twitter do presidente teria mais impacto na rede social do que se o próprio Obama fosse excluído.

“Esses resultados são preliminares e ainda não temos como dizer que são válidos, porque o modelo ainda é inicial e muito simples. Servem, contudo, para demonstrar que o modelo é capaz de mostrar situações interessantes e que, quando estiver pronto, será muito útil para testar hipóteses e responder a perguntas do tipo ‘será que a frequência com que o presidente Obama publica uma mensagem afeta sua rede social?’”, disse Pinhanez.

A IBM já possuía um sistema que permite a análise de “sentimento” – como é denominada a classificação do tom de uma mensagem – de grandes volumes de textos em inglês e em fluxo contínuo (em tempo real de informação), que a empresa pretende aprimorar para disponibilizá-la no Brasil.

“Estamos trabalhando para trazer uma série de tecnologias e adaptá-las para a língua portuguesa e à cultura brasileira, uma vez que o Brasil é o segundo país mais engajado em redes sociais no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”, afirmou Pinhanez.

Desafios

Segundo os pesquisadores, um dos principais desafios para a análise de sentimento de mensagens publicadas nas redes sociais no Brasil é que o português usado nessas novas mídias costuma não seguir as normas cultas da língua portuguesa, e isso não se deve, necessariamente, ao fato de o usuário não dominar o idioma.

“Existem convenções de como se escrever de maneira cool nas redes sociais”, disse Pinhanez. Por causa disso, um dos desafios no Brasil será o de incorporar o novo vocabulário surgido nesses fóruns.

Além disso, os textos são mais curtos e informais do que os publicados em sites de avaliações de filmes, por exemplo, como o do Internet Movie Database, em que os comentários são mais longos, mais bem formatados e rotulados.

“Com base nesse tipo de critério, podemos saber, de antemão, qual o sentimento do texto: se o usuário deu muitas estrelas para o filme é que ele está falando bem. E se deu poucas estrelas é porque sua avaliação foi negativa”, disse Samuel Martins Barbosa Neto, doutorando do IME e participante do projeto.

“A linguagem usada no Twitter é muito mais natural. Há muita expressão e variações de palavras, o que torna muito mais complicada a classificação das mensagens. Às vezes não se tem informação suficiente para assegurar que, de fato, um determinado tweet é positivo ou negativo, uma vez que ele não tem um rótulo que permita compará-lo com outros. Por isso, muitas dessas mensagens precisam ser rotuladas manualmente”, explicou Barbosa Neto.

Outro desafio é extrair dados das redes sociais. No início, o acesso aos dados das mensagens de redes, como o Twitter, era totalmente aberto. Hoje, é limitado. Além disso, o número de informações geradas por redes sociais cresceu exponencialmente, impondo aos pesquisadores o desafio de extrair mostras significativas de grandes volumes de dados para validar suas pesquisas.

“A rede do Obama no Twitter deve ter chegado aos 25 milhões de seguidores. Como podemos apenas extrair uma pequena parte desses dados, o desafio é garantir que eles não sejam enviesados – representando, por exemplo, apenas um nicho de seguidores – para gerar um resultado válido”, explicou Barbosa Neto.

Colaboração de pesquisa

Roberto Marcondes Cesar Junior, professor do IME-USP e orientador do trabalho de doutorado de Barbosa Neto, conta que o projeto de desenvolvimento do simulador de rede social é o primeiro realizado por seu grupo em colaboração com a IBM Research – Brazil.

O grupo do IME trabalha há dez anos no desenvolvimento de projetos de análise de dados usando modelos estatísticos em áreas como Biologia e Medicina, para descobertas de novos genes e de redes gênicas, por exemplo. E, mais recentemente, começou a desenvolver pesquisas para a aplicação de modelos matemáticos em Ciências Sociais.

“Ingressamos nessa área com o intuito de aplicar as mesmas técnicas matemáticas e computacionais em situações em que os dados provêm de alguma atividade humana, especificamente, em vez da ação de um gene ou de uma proteína, por exemplo, e vimos a oportunidade de trabalhar essas técnicas em redes sociais, que, do ponto de vista abstrato, têm muitas semelhanças com uma rede gênica, porque são redes que conectam elementos”, comparou Marcondes Cesar, que é membro da Coordenação Adjunta de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP e coordena o Projeto Temático “Modelos e métodos de e-Science para ciências da vida e agrárias”.

“Enquanto em uma rede gênica os elementos são os genes, que trocam informação bioquímica, em uma rede social os integrantes são os usuários, que trocam mensagens de texto”, disse.

A parceria com a IBM Research – Brazil, segundo Marcondes Cesar, possibilita implementar as ferramentas desenvolvidas na universidade. Para facilitar a realização do projeto, o estudante de doutorado orientado por ele foi contratado como estagiário pela empresa.

“Temos feito muitos projetos em parceria com universidades e instituições de pesquisa. Acreditamos muito em inovação aberta e atuamos bastante dessa forma”, disse Pinhanez.

Segundo Pinhanez, poucos grupos de pesquisa no mundo tentaram desenvolver um simulador de mídias sociais, em grande parte pela dificuldade de se montar uma equipe multidisciplinar de pesquisa.

“Acho que, pela primeira vez, a comunidade científica tem algo parecido com o mapa de quem conhece quem no mundo. É um mapa ainda incompleto, cheio de erros e enviesado, mas o nosso trabalho é uma das primeiras simulações de comportamento de um número tão grande de pessoas”, afirmou. “Antes, quando se fazia isso era, no máximo, com 300 pessoas, e era preciso ficar coletando dados por anos.”

O artigo Large-Scale Multi-Agent-based Modeling and Simulation of Microblogging-based Online Social Network, de Pinhanez e outros, pode ser lido nos anais do 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation.

In Big Data, We Hope and Distrust (Huffington Post)

By Robert Hall

Posted: 04/03/2013 6:57 pm

“In God we trust. All others must bring data.” — W. Edwards Deming, statistician, quality guru

Big data helped reelect a pesident, find Osama bin Laden, and contributed to the meltdown of our financial system. We are in the midst of a data revolution where social media introduces new terms like Arab Spring, Facebook Depression and Twitter anxiety that reflect a new reality: Big data is changing the social and relationship fabric of our culture.

We spend hours installing and learning how to use the latest versions of our ever-expanding technology while enduring a never-ending battle to protect our information. Then we labor while developing practices to rid ourselves of technology — rules for turning devices off during meetings or movies, legislation to outlaw texting while driving, restrictions in classrooms to prevent cheating, and scheduling meals or family time where devices are turned off. Information and technology: We love it, hate it, can’t live with it, can’t live without it, use it voraciously, and distrust it immensely. I am schizophrenic and so am I.

Big data is not only big but growing rapidly. According to IBM, we create 2.5 quintillion bytes a day and that “ninety percent of the data in the world has been created in the last two years.” Vast new computing capacity can analyze Web-browsing trails that track our every click, sensor signals from every conceivable device, GPS tracking and social network traffic. It is now possible to measure and monitor people and machines to an astonishing degree. How exciting, how promising. And how scary.

This is not our first data rodeo. The early stages of the customer relationship management movement were filled with hope and with hype. Large data warehouses were going to provide the kind of information that would make companies masters of customer relationships. There were just two problems. First, getting the data out of the warehouse wasn’t nearly as hard as getting it into the person or device interacting with the customers in a way that added value, trust and expanded relationships. We seem to always underestimate the speed of technology and overestimate the speed at which we can absorb it and socialize around it.

Second, unfortunately the customers didn’t get the memo and mostly decided in their own rich wisdom they did not need or want “masters.” In fact as providers became masters of knowing all the details about our lives, consumers became more concerned. So while many organizations were trying to learn more about customer histories, behaviors and future needs — customers and even their governments were busy trying to protect privacy, security, and access. Anyone attempting to help an adult friend or family member with mental health issues has probably run into well-intentioned HIPAA rules (regulations that ensure privacy of medical records) that unfortunately also restrict the ways you can assist them. Big data gives and the fear of big data takes away.

Big data does not big relationships make. Over the last 20 years as our data keeps getting stronger, our customer relationships keep getting weaker. Eighty-six percent of consumers trust corporations less than they did five years ago. Customer retention across industries has fallen about 30 percent in recent years. Is it actually possible that we have unwittingly contributed in the undermining of our customer relationships? How could that be? For one thing, as companies keep getting better at targeting messages to specific groups and those groups keep getting better at blocking their messages. As usual, the power to resist trumps the power to exert.

No matter how powerful big data becomes, if it is to realize its potential, it must build trust on three levels. First, customers must trust our intentions. Data that can be used for us can also be used against us. There is growing fear institutions will become a part of a “surveillance state.” While organizations have gone to great length to promote protection of our data — the numbers reflect a fair amount of doubt. For example, according to MainStreet, “87 percent of Americans do not feel large banks are transparent and 68 percent do not feel their bank is on their side.:

Second, customers must trust our actions. Even if they trust our intentions, they might still fear that our actions put them at risk. Our private information can be hacked, then misused and disclosed in damaging and embarrassing ways. After the Sandy Hook tragedy a New York newspaper published the names and addresses of over 33,000 licensed gun owners along with an interactive map that showed exactly where they lived. In response names and addresses of the newspaper editor and writers were published on-line along with information about their children. No one, including retired judges, law enforcement officers and FBI agents expected their private information to be published in the midst of a very high decibel controversy.

Third, customers must trust the outcome — that sharing data will benefit them. Even with positive intentions and constructive actions, the results may range from disappointing to damaging. Most of us have provided email addresses or other contact data — around a customer service issue or such — and then started receiving email, phone or online solicitations. I know a retired executive who helps hard-to-hire people. She spent one evening surfing the Internet to research about expunging criminal records for released felons. Years later, Amazon greets her with books targeted to the felon it believes she is. Even with opt-out options, we felt used. Or, we provide specific information, only to repeat it in the next transaction or interaction — not getting the hoped for benefit of saving our time.

It will be challenging to grow the trust at anywhere near the rate we grow the data. Information develops rapidly, competence and trust develop slowly. Investing heavily in big data and scrimping on trust will have the opposite effect desired. To quote Dolly Parton who knows a thing or two about big: “It costs a lot of money to look this cheap.”

O episódio Marco Feliciano, o Congresso e as manifestações populares

Guilherme Karakida, da UFRJ Plural, me entrevistou ontem, poucas horas antes do anúncio, por parte do PSC, de que Marco Feliciano permaneceria na presidência da CDHM. Reproduzo a entrevista abaixo – Renzo Taddei.

Por Guilherme Karakida – 26 de março de 2013

O que significa, do ponto de vista político, a presidência do Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos e Minorias(CDHM)?

Essa não é uma questão simples. Há vários fatores distintos que marcam o momento político atual brasileiro, e que se cruzam no caso do Marco Feliciano. Vou mencionar alguns que acho mais importantes, do meu ponto de vista. E o meu ponto de vista é o de alguém mais próximo aos movimentos sociais e não de um especialista no funcionamento do legislativo. É importante deixar claro a partir de onde se está falando. Se o Marco Feliciano tem uma virtude que muitos outros congressistas não têm, é o fato de ele não esconder quem ele é.

Em primeiro lugar, há a estratégia de amplas alianças partidárias como forma de chegar ao poder e se manter nele, usada pelo PT desde meados da década de 1990. Isso não é marca exclusiva do PT: em ciência política, se diz que o Brasil tem como sistema político um presidencialismo de coalizão. Isso significa que os partidos necessitam criar coalisões para ter sucesso eleitoral, e os presidentes da república precisam delas para governar, especialmente no que diz respeito às formas como a presidência se relaciona com o Congresso Nacional. O que ocorre é que, no caso da era PT, há partidos na base aliada que são marcadamente conservadores. Ou seja, aquela ideia antiga que diz que o governo do PT é de esquerda e a oposição é de direita não condiz com a realidade. O PT se relaciona melhor com partidos de centro-direita do que com partidos de esquerda, como o PSTU e o PSOL. É nesse contexto que o PSC passa a fazer parte da ampla coligação de partidos em apoio à candidatura de Dilma Roussef em 2010. Marco Feliciano foi cabo eleitoral importante de Dilma dentro do mundo evangélico. Com o consequente loteamento de cargos dentro das várias instâncias do governo, inclusive no legislativo, era de se esperar que Marco Feliciano assumisse alguma posição de liderança.

Em segundo lugar há o avanço da bancada evangélica no universo da política, de forma crescente, nos últimos anos. Há, entre lideranças políticas evangélicas, a agenda declarada de ocupar todos os cargos possíveis, com o intuito de barrar a aprovação de legislação que vá contra os preceitos morais que defendem. O próprio Marco Feliciano diz abertamente que está lá para barrar a aprovação do PL 122, o projeto de lei que criminaliza a homofobia.

E, finalmente, há o descaso do governo Dilma para com as questões dos direitos humanos e das minorias. Apesar de o governo Dilma ter sinalizado,no início de sua gestão, em direção favorável no que diz respeito a esses temas, com a criação da Comissão da Verdade e com a valorização da questão de gênero na composição do governo, e também com a manutenção do movimento pró-cotas que herdou do governo Lula, o que viria depois iria demonstrar que aquelas eram iniciativas de certa forma pontuais, e que não constituiriam uma linha de ação perene. Em virtude de uma série de conflitos com grande parte dos movimentos sociais, por razões que vão do descaso e desrespeito às populações chamadas tradicionais, como os indígenas, ao retrocesso quanto às políticas culturais da gestão anterior, onde havia a compreensão de que o direito à própria cultura é uma forma de direito humano, o governo Dilma enfrenta a oposição massiva das organizações da sociedade civil – pelo menos daquelas que não foram cooptadas pelo governo e passaram a depender de verba federal para existir. De certa forma, o governo Dilma reduz o tema dos direitos humanos, como todos os demais problemas sociais, à questão da renda, pura e simplesmente. O governo Dilma foi criticado pela Anistia Internacional e pelo HumanRightsWatch, apenas para mencionar duas entidades importantes na área. É esse descaso que fez com que a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias não fosse prioridade das lideranças governistas no legislativo, e esta se tornou alvo fácil da bancada evangélica.

Como um parlamentar que deu declarações homofóbicas e racistas pode assumir um órgão que luta justamente pela garantia e manutenção dos direitos humanos desses grupos?

Trata-se de uma estratégia política, fundamentada na agenda específica da bancada evangélica, e não na compreensão que o senso comum tem do que são os direitos humanos e as minorias. Ou seja, é óbvio que Marco Feliciano não está lá para avançar na questão dos direitos humanos e das minorias, da forma como estas pautas se constituem historicamente no Brasil; pelo contrário, ele está lá para evitar que qualquer avanço nessa área se dê de forma conflitante com a agenda moralizante da bancada à qual ele faz parte. No Brasil, os temas dos direitos humanos e das minorias são historicamente parte das agendas políticas da esquerda; a direita sempre defendeu a supressão desses temas dos debates nacionais, como ainda se pode ver dentro dos meios militares, por exemplo. O que ocorre é que é a direita religiosa, e não a direita histórica, formada por militares e ruralistas, por exemplo, e com a qual a esquerda sempre esteve mais acostumada, começou a ocupar cargos importantes. E, o que é mais problemático, o faz de dentro mesmo do governo, como parte da base aliada.

É preciso que se diga, no entanto, que a bancada evangélica é notoriamente fragmentada em questões políticas, convergindo apenas em questões ligadasas decorrência políticas de sua fé, como nos temas do casamento entre pessoas do mesmo sexo e aborto. Nesse contexto, Marco Feliciano é particularmente patético e espalhafatoso, a ponto de uma grande quantidade de pastores evangélicos no país terem aderido à campanha “Marco Feliciano não me representa”. Ou seja, ele se transformou num abacaxi até mesmo para parte importante do universo evangélico.

Um aspecto disso que passa despercebido da maioria dos debates é o fato de que há o risco de que se reforcem os preconceitos de classe associados à população evangélica, tipicamente proveniente de camadas populares. Ou seja, dentro do contexto de ascensão conservadora em lugares como a cidade de São Paulo, tema de debate recente na USP, há o potencial de que o ressentimento da classe média dita “tradicional” para com as populações favorecidas pelos programas sociais das últimas duas décadas se dê na forma de recrudescimento de preconceitos religiosos.

A presidência do CDHM por um sujeito como o parlamentar do PSC reflete o cenário político brasileiro, no qual os absurdos se repetem?

Sem dúvida, e o uso do termo absurdo ilustra outra dimensão do problema: a crise de legitimidade do Estado atinge agora níveis estratosféricos. Particularmente no parlamento, com Renan Calheiros na presidência do Senado, Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos e Minorias – e esses são apenas os exemplos do momento -, as duas casas são marcadas porum nível de descrédito talvez inédito. Ou seja, a população vive a velha sensação de desconexão com o parlamento de forma inflacionada, em parte porque tanto Renan Calheiros quanto Marco Feliciano e alguns de seus apoiadores, como o Jair Bolsonaro, dão performances públicas profundamente desrespeitosas à população brasileira.

Por outro lado, há um aspecto positivo nisso tudo: tenho a impressão de que essa controvérsia toda, somada a outros conflitos como o de Belo Monte, o dos Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, o da Aldeia Maracanã e demais remoções desumanas ocorridas no Rio de Janeiro em função dos chamados grandes eventos, esta inserindo um bocado de gente jovem no mundo da política, repolitizando gente não tão jovem assim, e quebrando a ideia de que a população só pode se relacionar com a política através de partidos políticos e das eleições. Frequentemente escuto alguém dizer “mas ele foi eleito,e não há nada que se possa fazer a esse respeito”. Isso é discurso de quem não tem interesse na efetiva participação popular na política desse país. A democracia participativa é mais democrática que a representativa; manifestações populares nas ruas e petições públicas são coisas que fortalecem a democracia. E há iniciativas ligadas à democracia participativa ocorrendo em diversas partes do mundo. O sociólogo espanhol Manuel Castells tem escrito sobre a iniciativa chamada Partido do Futuro naquele país; no Brasil, articula-se o #rede. Em ambos os casos, um dos objetivos centrais é a valorização e o fortalecimento de ações políticas existentes fora das instituições tradicionais de poder.

É de se esperar, naturalmente, que aslideranças ligadas ao status quo tendam a ser conservadoras, e se esforcem para diminuir a importância das manifestações populares: em todos os poderes iremos escutar que não se pode administrar um país em função do clamor que vem das ruas, sob o risco de se deixar levar por sentimentalismos de momento e, assim, fragilizar as instituições e o Estado. Não se pode discutir a redução da maioridade penal ou a pena de morte com base no sensacionalismo da mídia; obviamente existe lógica no argumento. O problema é que ele é frequentemente usado para desarticular movimentos políticos legítimos – Renan Calheiros usou esse argumento para justificar a razão pela qual não deixaria a presidência do Senado. O resultado disso tudo é a sensação de que o custo da estabilidade institucional do parlamento é a sua falência moral. O ponto é justamente esse: para grande parte da população brasileira, as instituições de poder estão moralmente falidas, e as ações de membros da base aliada, como Renan Calheiros e Marco Feliciano, sem que as principais lideranças se manifestem a esse respeito, não fazem mais do que evidenciar isso de forma contundente.

O parlamentar já se defendeu publicamente e pediu um “voto de confiança” da população. Nesse caso, e com a repercussão que o assunto alcançou, isso é possível?

Marco Feliciano não vai mudar sua linha de ação. Talvez modere o seu discurso, mas não vai mudar de agenda. Mesmo após o movimento que exige sua renúncia tomar as proporções que tomou, ele afirmou recentemente à revista Veja que a população LGBT não constitui minoria; na tentativa de dizer que os negros não são amaldiçoados, ele simplesmente repetiu o argumento original e, portanto, a calúnia, e pateticamente adicionou “Eu não disse que os africanos são todos amaldiçoados. Até porque o continente africano é grande demais. Não tem só negros. A África do Sul tem brancos”.

Não estou dizendo, com isso, que não há lugar no parlamento para ele. Isso seria profundamente antidemocrático. É natural que exista a bancada evangélica, e ela deve ser respeitada. O que é um contrassenso é ter um líder de comissão cuja agenda é impedir que a comissão funcione, como é claramente o caso de Marco Feliciano.

O que pode vir a ocorrer caso o deputado permaneça no cargo?

Infelizmente nem a Dilma nem o PT, insulados que estão no jogo do poder, tem preocupação com o que pensam a sociedade civil e os movimentos sociais. A cada pesquisa de opinião que mostra os níveis elevados de popularidade da presidenta, menos interesse ela tem em dialogar com os atores ativos da sociedade civil. Daí o mutismo presidencial no que diz respeito a esse imbróglio político. O que ocorre, no entanto, é que nunca no Brasil o movimento LGBT, por exemplo, foi tão organizado e ativo; o mesmo pode se dizer de grupos que atuam em defesa de populações indígenas, muitas das quais veem na atividade missionária evangélica uma ameaça real à sua existência cultural. Não acredito que possa haver qualquer forma de acomodação quanto à presença de Marco Feliciano na presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias. Marco Feliciano provavelmente irá bloquear a discussão de pontos importantes da agenda de alguns movimentos, notadamente o LGBT, o que sem dúvida irá manter a briga acirrada.

As manifestações tanto nas redes sociais como nas ruas podem contribuir de que maneira para sua saída?

Cabe à sociedade civil transformar essa questão em algo que cause desgaste político a Dilma e ao PSC; ou seja, é hora de fazer barulho.Nesse exato momento, o PSC examina o custo político de deixar as coisas como estão, porque sentiu o efeito da mobilização popular. Não há qualquer dúvida de que foram as redes sociais, nesse caso, como na coleta de mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas na petição em favor da renúncia de Renan Calheiros, ou no apoio aos Guarani Kaiowá ou à Aldeia Maracanã, que fizeram toda a diferença.

As redes sociais tem papel fundamental na circulação de informações que não figuram na mídia tradicional, ou pela possibilidade de enquadramentos diversos àqueles que caracterizam as grandes corporações de imprensa desse país. Além disso, a própria forma como as informações existem nas redes sociais são um diferencial enorme: boa parte delas circula como dado, como declaração de apoio à causa e como convocação à ação, tudo isso ao mesmo tempo. Quebra-se assim a falsidade ideológica característica do discurso supostamente neutro da imprensa corporativa. Há também o risco de que a mobilização política nas redes ganhe um caráter de linchamento cibernético, como tem reclamado o próprio Marco Feliciano; infelizmente os movimentos sociais não sabem como lidar com esse problema, que é real.

O fato é que vivemos um momento de transformação dos processos políticos, em especial no que diz respeito à relação destes com as tecnologias digitais. Ninguém sabe exatamente como se dá a relação entre redes sociais e a política, porque não temos muita experiência a esse respeito, tudo é muito novo, ainda estamos engatinhando nesse sentido. Mas já pudemos ver o potencial existente nessa articulação. E é exatamente por isso que vivemos um momento excepcional: estou certo de que 2014 será um ano de enormes surpresas. Espero que aí se inicie um processo através do qual muitos dos paleopolíticos que infestam Brasília sejam extintos; mas só esperando pra ver. Só não podemos esperar sentados: para que isso efetivamente ocorra, é preciso acreditar que a política das ruas e dos teclados é tão, senão mais, importante que a das instituições centrais do poder.

A política do futuro já chegou (Revista Fórum)

25/03/2013 9:12 pm

Uma iniciativa popular na Espanha propõe exercer a democracia direta. A ideia se disseminou na internet e evidenciou a crise institucional do país, e também, a necessidade de outro sistema de representação.

Por Manuel Castells*

No dia 8 de janeiro foi anunciada, na internet, a criação do “partido do futuro”, um método experimental para construir uma democracia sem intermediários, que substituiria as atuais instituições deslegitimadas na mente dos cidadãos. A repercussão social e midiática tem sido considerável. Apenas no primeiro dia de lançamento, apesar do colapso do servidor ao receber 600 petições por segundo, foram 13 mil seguidores no twitter, 7 mil no Facebook e 100 mil visitas no Youtube. Mídias estrangeiras e espanholas têm repercutido o futuro que anuncia o triunfo eleitoral de seu programa: democracia e ponto. (http://partidodelfuturo.net).

Movimento 15-M em Madri: nova política (Foto: Wikimedia Commons)

Sinal de que já não se pode ignorar o que surge do 15-M (nascimento do movimento dos indignados). Porque este partido emerge do caldo  criado pelo movimento, embora de forma alguma se equipare ao mesmo. Porque não há “o movimento” com estrutura organizada, nem representantes, e sim pessoas em movimento que compartilham de uma denúncia básica das formas de representação política que tem deixado pessoas indefesas diante dos efeitos de uma crise que não foram culpadas, porém sofrem os resultados a cada dia. O 15-M é uma prática coletiva e individual diversificada e de mudanças, que vive na rede e nas ruas, e cujos componentes tomam iniciativas de todo o tipo, desde a defesa contra o escândalo das hipotecas até a proposta de lei eleitoral que democratize a política.

Porém, até agora, muitas destas iniciativas parecem condenadas a um beco sem saída. Por um lado, as pesquisas mostram que uma grande maioria dos cidadãos (cerca de 70%) concorda com a crítica do 15-M e com muitas de suas propostas. Por outro lado, toda esta mobilização não se traduz em medidas concretas que aliviem as pessoas, pois há um bloqueio institucional para a adoção destas propostas. Os dois grandes partidos espanhóis são corresponsáveis pela submissão da política aos poderes financeiros no tratamento da crise, compartilhando, por exemplo, a gestão irresponsável dos diretores do Banco da Espanha, com um governador socialista, no caso de Bankia e do sistema de caixas, que tem conduzido a ruína milhares de famílias. Por isso, o 15-M se expressou no espaço público, em acampamentos, manifestações, assembleias de bairro e em ações pontuais de denúncia. Mas, embora esta intervenção seja essencial para criar consciência, se esgota em si mesma quando se confronta com uma repressão policial cada vez mais violenta.

Felizmente, o 15-M tem freado qualquer impulso de protesto violento, e tem feito um papel de canalizador pacífico da ira popular. O dilema é como superar as barreiras atuais sem deixar de ser um movimento espontâneo, auto-organizado, com múltiplas iniciativas que não são um programa. E por isso, podem unir potencialmente os 99% que sabem o que não querem, e que concordam em buscar um conjunto de novas vias políticas de gestão pela vida.

Para avançar nesse sentido, tem surgido uma iniciativa espontânea de ocupar o único espaço em que o movimento é pouco presente: as instituições. Mas não imediatamente, porque seu projeto não é ser uma minoria parlamentar, e sim de modificar a forma de fazer política, mediante uma democracia direta, instrumentada na internet, propondo referendos sobre temas-chaves, elaborando propostas legislativas mediante consultas e debates no espaço público, urbano e cibernético, implantando medidas concretas de debates entre os cidadãos e utilizando a plataforma com propostas que saiam do povo.

Na realidade, não é um partido, embora esteja inscrito no registro dos partidos, mas sim um experimento político, que vai se reinventando conforme avança. No horizonte vislumbra-se um momento em que o apoio do povo para votar contra todos os políticos de uma vez e em favor de uma plataforma eleitoral que tenha como único ponto no programa, permitir uma ocupação legal do parlamento e o desmantelamento do sistema tradicional de representação por dentro dele mesmo. Não é tão descabido. É muito o que aconteceu na Islândia, referência explicita do partido do futuro.

Mas, como evitar reproduzir o esquema de partido no processo de conquistar a maioria eleitoral? Aqui é onde surge a decisão, criticada pela classe política e alguns meios, das pessoas que têm tomado esta iniciativa de manter-se no anonimato. Porque se não há nomes, não há lideres, nem cargos, nem comitês federais, nem porta-vozes que dizem falar pelos demais, mas que acabam representando a si mesmos. Se não há rostos, o que sobra são ideias, práticas, iniciativas. De fato, é a prática da máscara como forma de criação de um sujeito coletivo composto de milhões de indivíduos mascarados, como fizeram os zapatistas, ou como fazem os Anonymous com a sua famosa máscara reconhecida em todo o mundo, mas com múltiplos portadores. Inclusive o anonimato do protesto se encontra em nossos clássicos: “Fuenteovejuna todos a una”.

Talvez chegue o momento em que as listas eleitorais queiram nomes, mas não necessariamente serão líderes, porque poderão ser sorteados os nomes entre milhares de pessoas que estejam de acordo com uma plataforma de ideias. No fundo se trata de pôr em primeiro plano a política das ideias com a que os políticos enchem a boca, enquanto fazem sua carreira entre cotoveladas. A personalização da política é maior sequela da liderança ao longo da história, baseada na demagogia, na ditadura do chefe e na política do escândalo para destruir pessoas representativas. O X do partido do futuro não é para esconder-se, mas sim para que seu conteúdo preencha as pessoas que projetem neste experimento seus sonhos pessoais em um sonho coletivo: democracia e ponto. A definir.

*Tradução: Carolina Rovai. Artigo publicado originalmente no La Vanguardia

‘Networked Minds’ Require Fundamentally New Kind of Economics (Science Daily)

Mar. 20, 2013 — In their computer simulations of human evolution, scientists at ETH Zurich find the emergence of the “homo socialis” with “other-regarding” preferences. The results explain some intriguing findings in experimental economics and call for a new economic theory of “networked minds”.

In their computer simulations of human evolution, scientists at ETH Zurich find the emergence of the “homo socialis” with “other-regarding” preferences. The results explain some intriguing findings in experimental economics and call for a new economic theory of “networked minds”. (Credit: © violetkaipa / Fotolia)

Economics has a beautiful body of theory. But does it describe real markets? Doubts have come up not only in the wake of the financial crisis, since financial crashes should not occur according to the then established theories. Since ages, economic theory is based on concepts such as efficient markets and the “homo economicus”, i.e. the assumption of competitively optimizing individuals and firms. It was believed that any behavior deviating from this would create disadvantages and, hence, be eliminated by natural selection. But experimental evidence from behavioral economics show that, on average, people behave more fairness-oriented and other-regarding than expected. A new theory by scientists from ETH Zurich now explains why.

“We have simulated interactions of individuals facing social dilemma situations, where it would be favorable for everyone to cooperate, but non-cooperative behavior is tempting,” explains Dr. Thomas Grund, one of the authors of the study. “Hence, cooperation tends to erode, which is bad for everyone.” This may create tragedies of the commons such as over-fishing, environmental pollution, or tax evasion.

Evolution of “friendliness”

Prof. Dirk Helbing of ETH Zurich, who coordinated the study, adds: “Compared to conventional models for the evolution of social cooperation, we have distinguished between the actual behavior – cooperation or not – and an inherited character trait, describing the degree of other-regarding preferences, which we call the friendliness.” The actual behavior considers not only the own advantage (“payoff”), but also gives a weight to the payoff of the interaction partners depending on the individual friendliness. For the “homo economicus”, the weight is zero. The friendliness spreads from one generation to the next according to natural selection. This is merely based on the own payoff, but mutations happen.

For most parameter combinations, the model predicts the evolution of a payoff-maximizing “homo economicus” with selfish preferences, as assumed by a great share of the economic literature. Very surprisingly, however, biological selection may create a “homo socialis” with other-regarding preferences, namely if offsprings tend to stay close to their parents. In such a case, clusters of friendly people, who are “conditionally cooperative”, may evolve over time.

If an unconditionally cooperative individual is born by chance, it may be exploited by everyone and not leave any offspring. However, if born in a favorable, conditionally cooperative environment, it may trigger cascade-like transitions to cooperative behavior, such that other-regarding behavior pays off. Consequently, a “homo socialis” spreads.

Networked minds create a cooperative human species

“This has fundamental implications for the way, economic theories should look like,” underlines Professor Helbing. Most of today’s economic knowledge is for the “homo economicus”, but people wonder whether that theory really applies. A comparable body of work for the “homo socialis” still needs to be written.

While the “homo economicus” optimizes its utility independently, the “homo socialis” puts himself or herself into the shoes of others to consider their interests as well,” explains Grund, and Helbing adds: “This establishes something like “networked minds”. Everyone’s decisions depend on the preferences of others.” This becomes even more important in our networked world.

A participatory kind of economy

How will this change our economy? Today, many customers doubt that they get the best service by people who are driven by their own profits and bonuses. “Our theory predicts that the level of other-regarding preferences is distributed broadly, from selfish to altruistic. Academic education in economics has largely promoted the selfish type. Perhaps, our economic thinking needs to fundamentally change, and our economy should be run by different kinds of people,” suggests Grund. “The true capitalist has other-regarding preferences,” adds Helbing, “as the “homo socialis” earns much more payoff.” This is, because the “homo socialis” manages to overcome the downwards spiral that tends to drive the “homo economicus” towards tragedies of the commons. The breakdown of trust and cooperation in the financial markets back in 2008 might be seen as good example.

“Social media will promote a new kind of participatory economy, in which competition goes hand in hand with cooperation,” believes Helbing. Indeed, the digital economy’s paradigm of the “prosumer” states that the Internet, social platforms, 3D printers and other developments will enable the co-producing consumer. “It will be hard to tell who is consumer and who is producer”, says Christian Waloszek. “You might be both at the same time, and this creates a much more cooperative perspective.”

Journal Reference:

  1. Thomas Grund, Christian Waloszek, Dirk Helbing. How Natural Selection Can Create Both Self- and Other-Regarding Preferences, and Networked Minds.Scientific Reports, 2013; 3 DOI: 10.1038/srep01480

Cracking the Semantic Code: Half a Word’s Meaning Is 3-D Summary of Associated Rewards (Science Daily)

Feb. 13, 2013 — We make choices about pretty much everything, all the time — “Should I go for a walk or grab a coffee?”; “Shall I look at who just came in or continue to watch TV?” — and to do so we need something common as a basis to make the choice.

Half of a word’s meaning is simply a three dimensional summary of the rewards associated with it, according to an analysis of millions of blog entries. (Credit: © vlorzor / Fotolia)

Dr John Fennell and Dr Roland Baddeley of Bristol’s School of Experimental Psychology followed a hunch that the common quantity, often referred to simply as reward, was a representation of what could be gained, together with how risky and uncertain it is. They proposed that these dimensions would be a unique feature of all objects and be part of what those things mean to us.

Over 50 years ago, psychologist Charles Osgood developed an influential method, known as the ‘semantic differential’, that attempts to measure the connotative, emotional meaning of a word or concept. Osgood found that about 50 per cent of the variation in a large number of ratings that people made about words and concepts could be captured using just three summary dimensions: ‘evaluation’ (how nice or good the object is), ‘potency’ (how strong or powerful an object is) and ‘activity’ (whether the object is active, unpredictable or chaotic). So, half of a concept’s meaning is simply a measure of how nice, strong, and active it is. The main problem is that, until now, no one knew why.

Dr Baddeley explained: “Over time, we keep a running tally of all the good and bad things associated with a particular object. Later, when faced with a decision, we can simply choose the option that in the past has been associated with more good things than bad. This dimension of choice sounds very much like the ‘evaluation’ dimension of the semantic differential.”

To test this, the researchers needed to estimate the number of good or bad things happening. At first sight, estimating this across a wide range of contexts and concepts seems impossible; someone would need to be observed throughout his or her lifetime and, for each of a large range of contexts and concepts, the number of times good and bad things happened recorded. Fortunately, a more practical solution is provided by the recent phenomenon of internet blogs, which describe aspects of people’s lives and are also searchable. Sure enough, after analysing millions of blog entries, the researchers found that the evaluation dimension was a very good predictor of whether a particular word was found in blogs describing good situations or bad.

Interestingly, they also found that how frequently a word was used was also a good predictor of how much we like it. This is a well-known effect — the ‘mere exposure effect’ — and a mainstay of the multi-billion dollar advertising industry. When comparing two options we just choose the option we like the most — and we like it because in the past it has been associated with more good things.

Analysing the data showed that ‘potency’ was a very good predictor of the probability of bad situations being associated with a given object: it measured one kind of risk.

Dr Fennell said: “This kind of way of quantifying risk is called ‘value at risk’ in financial circles, and the perils of ignoring it have been plain to see. Russian Roulette may be, on average, associated with positive rewards, but the risks associated with it are not for everyone!”

It is not the only kind of risk, though. In many situations, ‘activity’ — that is, unpredictability, or more importantly uncontrollability — is a highly relevant measure of risk: a knife in the hands of a highly trained sushi chef is probably safe, a knife in the hands of a drunk, erratic stranger is definitely not.

Dr Fennell continued: “Again, this different kind of risk is relevant in financial dealings and is often called volatility. It seems that the mistake that was made in the credit crunch was not ignoring this kind of risk, but to assume that you could perfectly guess it based on how unpredictable it had been in the past.”

Thus, the researchers propose that half of meaning is simply a summary of how rewarding, and importantly, how much of two kinds of risk is associated with an object. Being sensitive not only to rewards, but also to risks, is so important to our survival, that it appears that its representation has become wrapped up in the very nature of the language we use to represent the world.

Journal Reference:

  1. John G. Fennell, Roland J. Baddeley. Reward Is Assessed in Three Dimensions That Correspond to the Semantic DifferentialPLoS ONE, 2013; 8 (2): e55588 DOI:10.1371/journal.pone.0055588

New research discovers the emergence of Twitter ‘tribes’ (University of London)

Public release date: 14-Mar-2013

Tanya Gubbay – University of London 

A project led by scientists from Royal Holloway University in collaboration with Princeton University, has found evidence of how people form into tribe-like communities on social network sites such as Twitter.

In a paper published in EPJ Data Science, they found that these communities have a common character, occupation or interest and have developed their own distinctive languages.

“This means that by looking at the language someone uses, it is possible to predict which community he or she is likely to belong to, with up to 80% accuracy,” said Dr John Bryden from the School of Biological Sciences at Royal Holloway. “We searched for unusual words that are used a lot by one community, but relatively infrequently by the others. For example, one community often mentioned Justin Bieber, while another talked about President Obama.”

Professor Vincent Jansen from Royal Holloway added: “Interestingly, just as people have varying regional accents, we also found that communities would misspell words in different ways. The Justin Bieber fans have a habit of ending words in ‘ee’, as in ‘pleasee’, while school teachers tend to use long words.”

The team produced a map of the communities showing how they have vocations, politics, ethnicities and hobbies in common. In order to do this, they focused on the sending of publically available messages via Twitter, which meant that they could record conversations between two or many participants.

To group these users into communities, they turned to cutting-edge algorithms from physics and network science. The algorithms worked by looking for individuals that tend to send messages to other members of the same community.

Dr Bryden then suggested analysing the language use of these discovered communities.

Dr Sebastian Funk from Princeton University said: “When we started to apply John’s ideas, surprising groups started to emerge that we weren’t expecting. One ‘anipals’ group was interested in hosting parties to raise funds for animal welfare, while another was a fascinating growing community interested in the concept of gratitude.”

David Graeber: Some Remarks on Consensus (Occupy Wall Street)

Posted on Feb. 26, 2013, 3:37 p.m. EST by OccupyWallSt 

the medium is the message

As part of our recent series on Occupy and consensus, we are posting this timely piece by David Graeber, originally published at OccupyWallStreet.net

There has been a flurry of discussion around process in OWS of late. This can only be a good thing. Atrophy and complacency are the death of movements. Any viable experiment in freedom is pretty much going to have to constantly re-examine itself, see what’s working and what isn’t—partly because situations keep changing, partly because we’re trying to invent a culture of democracy in a society where almost no one really has any experience in democratic decision-making, and most have been told for most of their lives that it would be impossible, and partly just because it’s all an experiment, and it’s in the nature of experiments that sometimes they don’t work.

A lot of this debate has centered around the role of consensus. This is healthy too, because there seem to be a lot of misconceptions floating around about what consensus is and is supposed to be about. Some of these misconceptions are so basic, though, I must admit I find them a bit startling.

Just one telling example. Justine Tunney recently wrote a piece called “Occupiers: Stop Using Consensus!” that begins by describing it as “the idea that a group must strictly adhere to a protocol where all decisions are unanimous”—and then goes on to claim that OWS used such a process, with disastrous results. This is bizarre. OWS never used absolute consensus. On the very first meeting on August 2, 2011 we established we’d use a form of modified consensus with a fallback to a two-thirds vote. Anyway, the description is wrong even if we had been using absolute consensus (an approach nowadays rarely used in groups of over 20 or 30 people), since consensus is not a system of unanimous voting, it’s a system where any participant has the right to veto a proposal which they consider either to violate some fundamental principle, or which they object to so fundamentally that proceeding would cause them to quit the group. If we can have people who have been involved with OWS from the very beginning who still don’t know that much, but think consensus is some kind of “strict” unanimous voting system, we’ve got a major problem. How could anyone have worked with OWS that long and still remained apparently completely unaware of the basic principles under which we were supposed to be operating?

Granted, this seems to be an extreme case. But it reflects a more general confusion. And it exists on both sides of the argument: both some of the consensus’ greatest supporters, and its greatest detractors, seem to think “consensus” is a formal set of rules, analogous to Roberts’ Rules of Order, which must be strictly observed, or thrown away. This certainly was not what people who first developed formal process thought that they were doing! They saw consensus as a set of principles, a commitment to making decisions in a spirit of problem-solving, mutual respect, and above all, a refusal of coercion. It was an attempt to create processes that could work in a truly free society. None of them, even the most legalistic, were so presumptuous to claim those were the only procedures that could ever work in a free society. That would have been ridiculous.

Let me return to this point in a moment. First,

1) CONSENSUS IS “A WHITE THING” (OR A MIDDLE CLASS WHITE THING, OR AN ELITIST FORM OF OPPRESSION, ETC)

The first thing to be said about this statement is that this idea is a very American thing. Anyone I mention it to who is not from the United States tends to react to the statement with complete confusion. Even in the US, it is a relatively recent idea, and the product of a very particular set of historical circumstances.

The confusion overseas is due to the fact that almost everywhere except the US, the exact opposite is true. In the Americas, Africa, Asia, Oceania, one finds longstanding traditions of making decisions by consensus, and then, histories of white colonialists coming and imposing Roberts Rules of Order, majority voting, elected representatives, and the whole associated package—by force. South Asian panchayat councils did not operate by majority voting and still don’t unless there has been a direct colonial influence, or by political parties that learned their idea of democracy in colonial schools and government bodies the colonialists set up. The same is true of communal assemblies in Africa. (In China, village assemblies also operated by consensus until the ’50s when the Communist Party imposed majority voting, since Mao felt voting was more “Western” and therefore “modern.”) Almost everywhere in the Americas, indigenous communities use consensus and the white or mestizo descendants of colonialists use majority voting (insofar as they made decisions on an equal basis at all, which mostly they didn’t), and when you find an indigenous community using majority voting, it is again under the explicit influence of European ideas—almost always, along with elected officials, and formal rules of procedure obviously learned in colonial schools or borrowed from colonial regimes. Insofar as anyone is teaching anyone else to use consensus, it’s the other way around: as in the case of the Maya-speaking Zapatista communities who insisted the EZLN adopt consensus over the strong initial objections of Spanish-speaking mestizos like Marcos, or for that matter the white Australian activists I know who told me that student groups in the ’80s and ’90s had to turn to veterans of the Maoist New People’s Army to train them in consensus process—not because Maoists were supposed to believe in consensus, since Mao himself didn’t like the idea, but because NPA guerillas were mostly from rural communities in the Philippines that had always used consensus to make decisions and therefore guerilla units had adopted the same techniques spontaneously.

So where does the idea that consensus is a “white thing” actually come from? Indigenous communities in America all used consensus decision-making instead of voting. Africans brought to the Americas had been kidnapped from communities where consensus was the normal mode of making collective decisions, and violently thrust into a society where “democracy” meant voting (even though they themselves were not allowed to vote.) Meanwhile, the only significant group of white settlers who employed consensus were the Quakers—and even they had developed much of their process under the influence of Native Americans like the Haudenosaunee.

As far as I can make out the ideas comes out of political arguments that surrounded the rise of Black Nationalism in the 1960s. The very first mass movement in the United States that operated by consensus was the SNCC, or Student Non-Violent Coordinating Committee, a primarily African-American group created in 1960 as a horizontal alternative to Martin Luther King’s (very vertical) SCLC. SNCC operated in a decentralized fashion and used consensus decision-making. It was SNCC for instance that organized the famous “freedom rides” and most of the direct action campaigns of the early ’60s. By 1964, an emerging Black Power faction was looking for an issue with which to isolate and ultimately expel the white members of the group. They seized on consensus as a kind of wedge issue—this made sense, politically, because many of those white allies were Quakers, and it was advantageous, at first, to frame the argument as one of efficiency, rather than being about more fundamental moral and political issues like non-violence. It’s important to emphasize though that the objections to consensus as inefficient and culturally alien that were put forward at the time were not put forward in the name of moving to some other form of direct democracy (i.e., majority voting), but ultimately, part of a rejection of the whole package of horizontality, consensus, and non-violence with the ultimate aim of creating top-down organizational structures that could support much greater militancy. It also corresponded to an overt attack on the place of women in the organization—an organization that had in fact been founded by the famous African-American activist Ella Baker on the principle “strong people don’t need strong leaders.” Stokely Carmichael, the most famous early Black Power advocate in SNCC, notoriously responded to a paper circulated by feminists noting that women seemed to be systematically excluded from positions in the emerging leadership structure by saying as far as he was concerned, “the only position for women in SNCC is prone.”

Within a few years SNCC began to splinter; white allies were expelled in 1965; after a brief merger with the Panthers it split again, and dissolved in the ’70s.

These tensions—challenges to horizontalism and consensus, macho leadership styles, the marginalization of women—were by no means peculiar to SNCC. Similar battles were going on in predominantly white groups: notably SDS, which ultimately ditched consensus too, and ended up splitting between Maoists and Weathermen. This is one reason the feminist movement of the early ’70s, which within the New Left began partly as a reaction to just this kind of macho posturing, embraced consensus as an antidote. (Anarchists only later adopted it from them.) But one point bears emphasizing. It’s important. None of those who challenged consensus did so in the name of a different form of direct democracy. In fact, I’m not aware of any example of an activist group that abandoned consensus and then went on to settle on some different, but equally horizontal approach to decision-making. The end result is invariably abandoning direct democracy entirely Sometimes that’s because, as here, that is explicitly what those challenging consensus want. But even when it’s not, the same thing happens, because moving from consensus sets off a dynamic that inevitably leads in a vertical direction. When consensus is abandoned, some are likely to quit in protest. These are likely to be the most dedicated to horizontal principles. Factions form. Minority factions that consistently lose key votes, and don’t have their concerns incorporated in resulting proposals, will often split off. Since they too are likely to consist of more horizontally oriented participants, the group becomes ever more vertical. Before long, those who never liked direct democracy to begin with start saying it’s what’s really to blame for all these problems, it’s inefficient, things would run far more smoothly with clearly defined leadership roles—and it only takes a vote of 51% of the remaining, much more vertical group, to ditch direct democracy entirely.

Obviously, the widespread perception of consensus process as white isn’t just be a hold-over from events that took place forty years ago. A lot of the problem is that, since the ’70s, consensus process has largely been developed among direct-action oriented groups, and, while there are certainly African-American-based groups operating in what might be called the Ella Baker tradition, most of those groups have been largely white. The reasons are pretty obvious. Those lacking white privilege face much higher levels of state repression, and (unlike, in say, Mexico, or India, where those who face the most repression are generally speaking already organized in semi-autonomous communities that operate at least partly by consensus), in the US, this limits the degree to which it’s possible to engage in creating experimental spaces outside the system. Communities face immediate such practical concerns so pressing many feel working outside the system would be irresponsible. Those who don’t often feel they have no choice but to adopt either strict, rigorous, MLK-style non-violence, or adopt revolutionary militarism like the panthers—both of which tend to lead to top down forms of organization. As a result, the culture of consensus, the style in which it’s conducted, the sensibilities surrounding it, inevitably comes to reflect the white middle-class background of so many of those who have created and shaped it, and the result is that those who do not share these sensibilities feel alienated and excluded. Obviously this is something that urgently needs to be addressed. But the problem here is not with the principles underlying consensus (that all voices have equal weight, that no one be compelled to act against their will), but with the way it’s being done—and the fact that the way it’s being done have the effect of undermining those very principles.

2) RULES VERSUS PRINCIPLES

I think the real problem here is a misunderstanding about what we’re basically arguing about. A lot of people on both sides of the debate seem to think “consensus” is a set of rules. If you follow the rules, you’re doing consensus. If you break the rules, or even do them in the wrong order it’s somehow not. I’ve seen people show up to meetings armed with elaborate diagrams or flow-charts for some kind of formal process downloaded from some web page and insist that only this is the really real thing. So it’s hardly surprising that other people put off by all this, or who see that particular form of process hit some kind of loggerhead, say “well consensus doesn’t work. Let’s try something else.”

As far as I’m concerned both sides completely miss the point.

I’ll say it again. Consensus is not a set of rules. It’s a set of principles. Actually I’d even go so far to say that if you really boil it down, it ultimately comes down to just two principles: everyone should have equal say (call this “equality”), and nobody should be compelled to do anything they really don’t want to do (call this, “freedom.”)

Basically, that’s it. The rules are just a way to try to come to decisions in the spirit of those principles. “Formal consensus process,” in is various manifestations, is just one technique people have made up, over the years, to try to come to group decisions that solve practical problems in a way that ensures no one’s perspective is ignored, and no one is forced to do anything or comply with rules they find truly obnoxious. That’s it. It’s a way to find consensus. It’s not itself “consensus.” Formal process as it exists today has been proved to work pretty well for some kinds of people, under some circumstances. It is obviously completely inappropriate in others. To take an obvious example: most small groups of friends don’t need formal process at all. Other groups might, over time, develop a completely different approach that suits their own dynamics, relations, situation, culture, sensibilities. And there’s absolutely no reason any group can’t improvise an entirely new one if that’s what they want to do. As long as they are trying to create a process that embodies those basic principles, one that gives everyone equal say and doesn’t force anyone to go along with a decision they find fundamentally objectionable, then what they come up with is a form of consensus process—no matter how it operates. After all, it a group of people all decide they want to be bound by a majority decision, well, who exactly is going to stop them? But if they all decide to be bound by a majority decision, then they have reached a consensus (in fact, an absolute consensus) that they want to operate that way. The same would be true if they all decided they wanted to be bound by the decisions of a Ouija Board, or appointed one member of the group Il Duce. Who’s going to stop them? However, for the exact same reason, the moment the majority (or Ouija board, or Il Duce) comes up with a decision to do something that some people think is absolutely outrageous and refuse to do, how exactly is anyone going to force them to go along? Threaten to shoot them? Basically, it could only happen if the majority is somehow in control of some key resource—money, space, connections, a name—and others aren’t. That is, if there is some means of coercion, subtle or otherwise. In the absence of a way to compel people to do things they do not wish to do, you’re ultimately stuck with some kind of consensus whether you like it or not.

The question then is what kind of decision making process is most likely to lead to decisions that no one will object to so fundamentally that they will march off in frustration or simply refuse to cooperate? Sometimes that will be some sort of formal consensus process. In other circumstances that’s the last thing one should try. Still, there’s a reason that 51/49% majority voting is so rarely employed in such circumstances: usually, it is the method least likely to come up with such decisions.

Think of it this way.

Imagine the city is about to destroy some cherished landmark and someone puts up posters calling for people to meet in a nearby square to organize against it. Fifty people show up. Someone says, okay, “I propose we all lay down in front of the bulldozers. Let’s hold a vote.” So 30 people raised their hands yes, and 20 people raise their hands no. Well, what possible reason is there that the 20 people who said no would somehow feel obliged to now go and lay in front of the bulldozers? These were just 50 strangers gathered in a square. Why should the opinions of a majority of a group of strangers oblige the minority to do anything—let alone something which will expose them to personal danger?

The example might seem absurd—who would hold such a vote?—but I experienced something almost exactly like it a few years ago, at an “all-anarchist” meeting called in London before a mass mobilization against the G8. About 200 people showed up at the RampArts Social Center. The facilitator, a syndicalist who disliked consensus, explained that another group had proposed a march, followed by some kind of direct action, and immediately proceeded to hold a vote on whether we, as a group, wanted to join as. Oddly, it did not seem to occur to him that, since we were not in fact a group, but just a bunch of people who had showed up at a meeting, there was no reason to think that those who did not want to join such an action would be swayed by the result. In fact he wasn’t taking a vote at all. He was taking a poll: “how many people are thinking of joining the march?” Now, there’s nothing wrong with polls; arguably, the most helpful thing he could have done under the circumstance was to ask for a show of hands so everyone could see what other people were thinking. The results might even have changed some people’s minds—”well, it looks like a lot of people are going to that march, maybe I will too” (though in this case, in fact, it didn’t.) But the facilitator thought he was actually conducting a vote on what to do, as if they were somehow bound by the decision.

How could he have been so oblivious? Well, he was a syndicalist; unions use majority vote; that’s why he preferred it. But of course, unions are membership-based groups. If you join a union, you are, by the very act of doing so, agreeing to abide by its rules, which includes, accepting majority vote decisions. Those who do not follow the group’s rules can be sanctioned, or even expelled. It simply didn’t occur to him that most unions’ voting system depended on the prior existence of membership rolls, dues, charters, and usually, legal standing—which in effect meant that either everyone who had voluntarily joined the unions was in effect consenting to the rules, or else, if membership was obligatory in a certain shop or industry owing to some prior government-enforced agreement, was ultimately enforced by the power of the state. To act the same way when people had not consented to be bound by such a decision, and then expect them to follow the dictates of the majority anyway, is just going to annoy people and make them less, not more, likely to do so.

So let’s go back to Justine’s first example,

the first time I saw a block used at Occupy was at one of the first general assemblies in August 2011. There were about a hundred people that day and in the middle of the meeting a proposal was made to join Verizon workers on the picket line as a gesture of solidarity in the hope that they might also support us in return. People loved the idea and there was quite a bit of positive energy until one woman in the crowd, busy tweeting on her phone, casually raised her hand and said, “I block that”. The moderator, quite flabbergasted asked why she blocked and she explained that showing solidarity with workers would alienate the phantasm of our right-wing supporters. Discussion then abruptly ended and the meeting went on. The truth was irrelevant, popular opinion didn’t matter, and solidarity—the most important of all leftist values—was thrown to the wind based on the whims of just one individual. Occupy had to find a new way to do outreach.

Now, I was at this meeting, and I remember the event quite vividly because at the time I was one of the participants who was more than a little bit annoyed by the block. But I also know that this is simply not what happened.

First of all, as I remarked, OWS from the beginning did not have a system where just one person could block a proposal; in the event of a block, we had the option to fall back on a 2/3 majority vote. So if everyone had really loved the proposal, the block could have been simply brushed aside. While many felt the woman in question was being ridiculous (most of us suspected the “national movement” she claimed to represent didn’t really exist), the facilitator, when she asked if anyone felt the same way, was surprised to discover a significant contingent–some, but not all, insurrectionist anarchists–did in fact object to holding the next meeting at a picket line, since they didn’t want to immediately identify the movement with the institutional left. Once it became clear it was not just one crazy person, but a significant chunk of the meeting—probably not quite a third, but close (there weren’t really a hundred people there, incidentally; more like sixty)—she asked if anyone felt strongly that we should move to a vote, and no one insisted. Was this a terrible failure of process? I must admit at the time I found it exasperating. But in retrospect I realize that had we forced a vote, the results might well have been catastrophic. Because at that point we, too were just a bunch of people who’d all showed up in a park. We weren’t a “group” at all. Nobody had committed to anything; certainly, no one had committed to going along with a majority decision.

A block is not a “no” vote. It’s a veto. Or maybe a better way to put it is that giving everyone the power to block is like giving the power to take on the role of the Supreme Court, and stop a piece of legislation that they feel to be unconstitutional, to anyone who has the courage to stand up in front of the entire group and use it. When you block you are saying a proposal violates one of the group’s agreed-on common principles. Of course, in this case we didn’t have any agreed-on common principles. In cases like that, the usual rule of thumb is that you should only block if you feel so strongly about an issue that you’d actually leave the group. In this sense I suspect the initial blocker was indeed being irresponsible (she wouldn’t have really left; and many wouldn’t have mourned her if she had.) However, others felt strongly. Had we held a vote and decided to hold our next meeting at a picket line over their objections, many of them would likely not have shown up. The anti-authoritarian contingent would have been weakened. Had that happened, there was a real chance later decisions, much more important ones, might have gone the other way. I am thinking here in particular of the crucial decision, made some weeks later, not to appoint official marshals and police liaisons for September 17. Judging by the experience of other camps, had that happened, everything might have gone differently and the entire occupation failed. In retrospect, the loss of one early opportunity to create ties with striking unionists now seems a small price to pay for heading off on a road that might have led to that. Especially since we had no trouble establishing strong ties with unions later—precisely because we had succeeded in creating a real occupation in the park.

There are a lot of other issues that one could discuss. Above all, we desperately need to have a conversation about decentralization. Another point of confusion about consensus is the idea that it’s crucial to get approval from everyone about everything, which is again stifling and absurd. Consensus only works if working groups or collectives don’t feel they need to seek constant approval from the larger group, if initiative arises from below, and people only check upwards if there’s a genuinely compelling reason not to go ahead with some initiative without clearing it with everyone else. In a weird way, the very unwieldiness of consensus meetings is helpful here, since it can discourage people from taking trivial issues to a larger group, and thus potentially waste hours of everyone’s time.

But all this will no doubt will be hashed out in the discussions that are going on (another good rule of thumb for consensus meetings: you don’t need to say everything you can think to say if you’re pretty sure someone else will make a lot of the same points anyway). Mainly what I want to say is this:

Our power is in our principles. The power of Occupy has always been that it is an experiment in human freedom. That’s what inspired so many to join us. That’s what terrified the banks and politicians, who scrambled to do everything in their power—infiltration, disruption, propaganda, terror, violence—to be able to tell the word we’d failed, that they had proved a genuinely free society is impossible, that it would necessarily collapse into chaos, squalor, antagonism, violence, and dysfunction. We cannot allow them such a victory. The only way to fight back is to renew our absolute commitment to those principles. We will never compromise on equality and freedom. We will always base our relations to each other on those principles. We will not fall back on top-down structures and forms of decision making premised on the power of coercion. But as long as we do that, and if we really believe in those principles, that necessarily means being as open and flexible as we can about pretty much everything else.