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Máximas passam de 40°C no RS em meio a onda de calor extremo (Folha de S.Paulo)

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Fernanda Canofre – 13 de janeiro de 2022


A onda de calor em meio a estiagem no Rio Grande do Sul tem levado os termômetros do estado a máximas acima dos 40°C desde a quarta-feira (12), segundo registros de estações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, temperatura máxima registrada foi de 41,5°C na quarta, segundo registro do instituto, a maior do estado em 2022 até o momento. Esta é também a maior temperatura já registrada na estação automática, desde que a mesma foi instalada, em 2007.

Nesta quinta-feira (13), o município voltou a registrar máxima acima de 40°C, chegando a 41,2°C. Em Uruguaiana, na região da Fronteira Oeste, onde a temperatura chegou a 41,1°C no dia anterior, a máxima foi de 41°C nesta quinta. Em Porto Alegre, ela chegou a 34,8°C.

A previsão no Rio Grande do Sul é de temperaturas ainda mais elevadas nos próximos dias, que podem levar a registros recordes.

O calor extremo é resultado de um bloqueio atmosférico, sistema de alta pressão —instalado na região que pega parte da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil— que mantém o ar seco há vários dias consecutivos e impede a entrada de frentes frias, explica Daniela Freitas, meteorologista da empresa Climatempo.

“Funciona como se fosse uma tampa que impede que as frentes frias ou mesmo sistemas de baixa pressão consigam avançar. Como se fosse uma barreira. A gente sabe que para ter esse refresco na temperatura precisa ter chuva. O que está acontecendo é que estamos com ar muito seco instalado naquela região há vários dias, por isso vem ganhando força e a temperatura está subindo”, diz ela.

Depois do fim de semana, porém, a previsão é que haja uma quebra nesse padrão de bloqueio, trazendo assim chuvas a região já na próxima semana e fazendo com que o calor perca força.

Estael Sias, meteorologista da empresa MetSul, lembra que a temperatura mais alta registrada no estado em mais de cem anos de medições foi de 42,6°C. A marca foi registrada em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, em janeiro de 1943.

Termômetros batendo nos 40°C não são comuns no Rio Grande do Sul —a análise leva em consideração números das estações oficiais do Inmet.

“A gente está dentro de um período de estiagem severa no Rio Grande do Sul, longo, de baixa umidade no solo, na atmosfera, nível dos rios muito baixos, é normal ocorrer picos de calor, justamente pelo tempo mais firme, ainda mais no período de verão, em que temos muitas horas de luminosidade”, explica.

“Tudo isso favorece essas ondas de calor extremo. Pelos dados históricos, os anos mais quentes no RS, com temperaturas mais altas, 1917 e 1943, também tiveram estiagem severa”, completa.

Um cálculo da FecoAgro-RS (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul) aponta que as perdas financeiras aos produtores de milho e soja, devido à falta de chuvas, podem passar de R$ 19 bilhões.

Até o dia 7 de janeiro, 195 mil propriedades rurais já haviam sido atingidas com perdas devido à seca, segundo dados da Emater-RS. O levantamento aponta ainda 10,2 mil famílias sem acesso à água, 84,7 mil produtores de milho atingidos e 72 mil produtores de soja, além da queda de 1,6 milhão de litros de leite captados ao dia no estado.

Em Santa Catarina, o Epagri/Ciram emitiu aviso de forte calor no extremo oeste e oeste do estado, válido entre o meio-dia desta quinta e às 18h de sábado. A previsão fala em forte calor, com máximas acima de 35°C e umidade relativa do ar entre 30% e 40%.

Até esta quarta-feira, a máxima diária do estado em 2022 foi de 38,2°C, alcançada no dia 2 de janeiro, na cidade de Urussanga.

O recorde absoluto de máximas na região sul do país foi registrado em Santa Catarina, com a marca de 44,6°C registrada em Orleans, em 1963, segundo dados do Inmet.

Em meio ao calor extremo na região, áreas altas do estado, como São Joaquim, que costuma registrar as temperaturas mais baixas do país, chegaram a amanhecer com geada na última quarta-feira, de acordo com a MetSul. O fenômeno se dá pela baixa umidade do ar.

Junho bate recorde de calor; 2015 deve ser o ano mais quente da história (Folha de S.Paulo)

Thibault Camus/Associated Press

SETH BORENSTEIN
DA AP, EM WASHINGTON

21/07/2015 11h35

A temperatura do planeta Terra subiu em junho, superando os recordes de calor tanto para o mês de junho quanto para o primeiro semestre do ano.

Jessica Blunden, climatologista da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), junho foi o quarto mês de 2015 a marcar um recorde: “É quase impossível que 2015 não seja o ano mais quente da história”.

Temperaturas excepcionalmente altas estão se tornando algo que se repete todos os meses, segundo Blunden. A agência calculou que a temperatura média mundial em junho chegou a 16,33°C, superando em 0,12 graus o recorde anterior, do ano passado.

Geralmente, os recordes de temperatura são superados em um ou dois centésimos de grau, não em quase um quarto de grau. E a situação se mostra ainda mais dramática quando se levam em conta os semestres.

Os seis primeiros meses de 2015 foram um sexto de um grau mais quentes que o recorde anterior, marcado em 2010. A média de temperatura foi 14,35°C. O recorde anterior do primeiro semestre do ano foi marcado em 2010, a última vez em que ocorreu o fenômeno El Niño, um aquecimento do oceano Pacífico central que modifica o clima mundial.

Mas em 2010, o El Niño foi fraco. Este ano os serviços de meteorologia preveem que o El Niño vai se intensificar. “Se isso acontecer, a temperatura vai superar todos os recordes”, disse Blunden.

O mês de junho foi quente em quase todo o mundo, com calor excepcional na Espanha, Áustria, partes da Ásia, Austrália e América do Sul. O sul do Paquistão sofreu uma onda de calor em junho que matou mais de 1.200 pessoas e que, segundo um banco de dados internacional, foi a oitava mais letal no mundo desde 1900. Em maio, uma onda de calor na Índia deixou mais de 2.000 mortos e foi classificada como a quinta mais letal da história.

Harish Tyagi/Efe

A temperatura em maio e março também superou os recordes mensais de temperatura, que são registrados há 136 anos. Inicialmente, a agência calculou que fevereiro de 2015 foi apenas o segundo fevereiro mais quente da história registrada, mas, segundo Blunden, foram recebidos novos dados indicando que foi o mês de fevereiro mais quente já registrado.

A Terra superou recordes mensais de calor 25 vezes desde o ano 2000, mas desde 1916 não supera um recorde mensal de frio. “O aquecimento global antropogênico é assim: mais e mais calor”, disse Jonathan Overpeck, codiretor do Instituto do Meio Ambiente da Universidade do Arizona.

Tradução de CLARA ALLAIN

Clima marombado (Folha de S.Paulo)

Marcelo Leite, 31/05/2015  01h45

Como o jornal anda cheio de notícias boas, esta coluna retoma sua predileção desmesurada pelas más novas impopulares e anuncia: 2015 caminha para ser dos infernos também na esfera do clima.

É provável, por exemplo, que este ano bata o recorde de temperatura global. A marca estava antes, veja só, com 2014. Os dez anos mais escaldantes ocorreram todos depois de 1998.

Um dos que acreditam no novo recorde é o alemão Stefan Rahmstorf. O climatologista do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre Impacto do Clima, que ficou famoso em 2007 por criticar as previsões do IPCC como muito conservadoras, lançou sua predição para 20 jornalistas de 17 países reunidos em Berlim há 20 dias.

O período janeiro-abril de 2015 brindou o planeta com o primeiro quadrimestre mais quente já registrado desde 1880. O período de 12 meses compreendido entre maio de 2014 e abril de 2015 também foi o pior em matéria de calor.

Isso tudo já acontecia enquanto o fenômeno El Niño ainda era considerado fraco. Esse aquecimento anormal das águas do Pacífico na costa oeste sul-americana, que costuma abrasar o clima mundial, ganhou impulso neste mês de maio e deve permanecer até o segundo semestre.

Notícia péssima para o Nordeste brasileiro. O semiárido tem bolsões que enfrentam o quarto ano seguido de seca. Entre os efeitos mais conhecidos de um El Niño está exatamente a diminuição das chuvas nessa região do Brasil (assim como o aumento da precipitação no Sul).

Pior é a situação na Índia. Até sexta-feira (29), uma onda de calor –a pior em duas décadas, com temperaturas de 47 graus Celsius– havia causado mais de 2.000 mortes. E o El Niño pode atrasar e enfraquecer as monções, chuvas torrenciais que começam em junho e poderiam refrescar o segundo país mais populoso do mundo.

Enquanto indianos torram, amazonenses estão debaixo d’água. A cheia do rio Negro, também ela perto de bater recordes, já atrapalhou a vida de 238 mil pessoas em 33 municípios do Estado do Amazonas.

O governo estadual se limita a medidas de remediação. Mais de 450 toneladas de alimentos não perecíveis foram distribuídas, assim como “kits dormitório” (colchões, redes e mosquiteiros) e “kits de higiene pessoal” para milhares de desabrigados.

Também foram destinados às cidades atingidas 68 metros cúbicos de madeira e 750 kits de tábuas, caibros e ripões para os moradores construírem passarelas elevadas conhecidas como “marombas”.

Essa enchente provavelmente nada tem a ver com o El Niño, e também seria difícil demonstrar um nexo causal entre a onda de calor indiana e a anomalia no Pacífico. Os dois eventos constituem bons exemplos, contudo, das situações extremas que a mudança do clima em curso deverá tornar mais frequentes nas próximas décadas.

Pelo andar da carruagem das negociações internacionais, parece cada vez mais difícil, se não impossível, que se consiga evitar um aquecimento global maior que 2 graus Celsius neste século. Esse é o limite de segurança indicado pelo IPCC.

A mudança do clima está contratada. Não resta muito mais que adaptar-se –e preparar a infraestrutura das cidades para ela exigirá muito mais do que marombas improvisadas.