Arquivo da tag: Mercado

Kelman: ‘A solução para a crise hídrica no país passa pela iniciativa privada’ (Brasil Econômico)

17/11/2014 | 08:40 – Atualizado em: 17/11/2014 | 08:43

Responsável pela implementação da Agência Nacional de Águas (ANA), o engenheiro Jerson Kelman, hoje na UFRJ, defende as Parcerias Público-Privadas para ampliar a segurança hídrica no país

Nicola Pamplona e Octávio Costa

Com passagens pelo comando da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o engenheiro Jerson Kelman defende o modelo de Parcerias Público-Privadas para ampliar a segurança hídrica no país. Segundo ele, investimentos em saneamento e novas fontes de captação de água serão mais eficientes se forem contratados como prestação de serviços, e não como obras públicas. “Esse conceito de contratação pelo resultado, e não pela obra, é um salto qualitativo”, afirma. Para Kelman, que também passou pela presidência da Light, o poder público está amarrado pelo “excessivo” sistema de controle, pelo lobby das empreiteiras e por circunstâncias políticas, responsáveis pela falta de transparência sobre a dimensão das crises de água e de energia no período pré-eleitoral.

“Faltou, em São Paulo, dizer claramente à população que a situação era grave. Mas isso vale também para o governo federal na energia”, comenta o especialista (hoje de volta à Coppe/UFRJ), que não acredita, porém, em um cenário de desabastecimento. “A minha visão é de que, mesmo a longuíssimo prazo, tem água para todos. Mas a questão é tratada com um componente emocional muito forte”, afirma, defendendo a posição de São Paulo na briga pela captação de água do Rio Paraíba do Sul. Responsável pelo relatório que identificou as causas do racionamento de 2001, que levou seu nome, Kelman diz que o diagnóstico da crise energética atual é o mesmo da época: falta de garantias físicas das hidrelétricas.

O que nos trouxe a esse cenário de crise hídrica?

A hidrologia este ano, de fato, ali na região do Piracicaba, que abastece o Sistema Cantareira, não é só a pior da história, é disparada a pior da história. Nenhum hidrólogo poderia imaginar que isso pudesse acontecer. Se a afluência média no verão é 100, o pior ano histórico até então era metade disso. E este ano é metade da metade. É metade do pior. No São Francisco é também a pior do histórico. Não é uma seca trivial, é barra pesada.

É uma situação que costumava acontecer apenas no Nordeste…

São Paulo, em condições normais, já tem baixa disponibilidade de recursos hídricos, porque fica na cabeceira dos rios. Se dividir a disponibilidade hídrica pela população, o Nordeste terá uma taxa maior, porque a população de São Paulo é brutal, 20 milhões de habitantes. Por isso, São Paulo já depende, há muito tempo, de água das bacias vizinhas. E este ano teve uma seca tão intensa, que toda a análise hidrológica anterior terá que ser refeita, ninguém imaginava a possibilidade de ter tão pouca chuva. Quer dizer, São Paulo sempre esteve mais inseguro do que imaginávamos, porque nós não sabíamos que poderia acontecer um ano tão seco.

E como ampliar a segurança hídrica?

São Paulo já tinha feito um plano de macro metrópole, procurando fontes de abastecimento de água, porque não tem outra fonte local. E não tem também porque a água é muito poluída. Se o esgoto estivesse sendo coletado e tratado, os rios Pinheiros e Tietê seriam fontes de abastecimento. Então, antes mesmo da crise, ficou pronto um plano sobre onde buscar água para São Paulo. Mas aquilo era para ser visto a longo ou médio prazo, hoje é urgente, porque São Paulo não pode mais viver sem reforço. E aí há três possíveis locais. Uma possibilidade é tirar água do Alto Paraíba do Sul, mais especificamente da Represa de Jaguari. O problema é que se tirar dali, a água deixa de correr para cidades paulistas como São José dos Campos, Taubaté, e depois para as cidades fluminenses até Campos. E para complicar mais, em 1950, foi feita a transposição do Paraíba do Sul para o Guandu.

Mas o Rio quer impedir a retirada, alegando que pode faltar água aos cariocas…

Hoje, em uma situação crítica, a Cedae está retirando 110 metros cúbicos por segundo do Paraíba do Sul. Mas só usa 50. Abaixo do Guandu, tem umas indústrias, que tiram outros 10, mais ou menos. O Alckmin quer tirar cinco e diz que só vai afetar produção de energia. E ele tem razão. Somando a Cedae e as indústrias, mais uma projeção de crescimento, a demanda máxima no futuro seriam uns 80 metros cúbicos por segundo. Se está passando hoje 110, no mínimo sobram uns 30. O que falta dizer é que, vergonhosamente, o Rio Guandu recebe dejetos de pequenos rios que cortam a Baixada Fluminense. Então, os 110 metros cúbicos por segundo são usados para diluir a carga de poluição. Nos anos 80, fizemos um projetinho simples de desviar essa água poluída para depois da captação. A obra nunca foi feita.

Qual o investimento?

É de R$ 75 milhões. Não é nada. E até a Cedae economizaria. Mas ainda tem outro problema. Se reduzir a vazão do Guandu, lá perto de Sepetiba, o mar invade um pouco mais e tem uma intrusão salina no local de captação dessas indústrias. Esse é um problema de facílima solução, é só mudar a tomada de água das indústrias e trazer por uma tubulação. Resumindo, a ideia de captar água do Paraíba do Sul é perfeitamente exequível. Não há porque ter guerra d’água, desde que se faça o dever de casa no Guandu e no Paraíba do Sul. No fundo, é investimento em saneamento. Se tratar da qualidade da água, sobra quantidade.

Cinco metros cúbicos por segundo resolvem o problema de São Paulo?

Melhora muito, porque, com cinco metros cúbicos por segundo, São Paulo volta a ter a confiabilidade que imaginávamos ter. E pode tirar até mais. São Paulo vai crescer e não pode ficar fazendo obrinha. Mas, enquanto isso for visto como uma obra pública, vamos cair nessas armadilhas relacionadas à origem do dinheiro, e se o Estado do Rio deixa ou não deixa. Uma alternativa seria fazer desse problema uma oportunidade para uma PPP (Parceria Público-Privada). Em vez de obra pública, com dinheiro do PAC, imagine fazer uma licitação para colocar água no Cantareira, vencendo quem oferecer o menor preço por metro cúbico. Essa empresa privada teria que fazer todas as obras necessárias para viabilizar a captação, não só a adutora: resolveria o problema da poluição no Guandu e faria a nova captação de água para as indústrias. Seria uma solução em que ninguém perde. Quem oferecer o melhor preço, leva um contrato para vender água por 30 anos.

A legislação tem instrumentos para permitir isso?

Tem, é uma PPP. Esse modelo se ajusta a quase todas as obras do PAC. Algumas já são assim, como o Minha Casa Minha Vida, por exemplo. O governo paga pelo resultado, não fica pagando por ferro, tijolo. Quando eu estava na ANA, fiz um projeto piloto disso, para a construção de estações de tratamento de esgoto. É normal, no saneamento, ter dinheiro público, porque o beneficiário é o cidadão, e não o consumidor — é a comunidade. No mundo inteiro tem subsídio para saneamento. Ou faz uma obra pública, que é o que se fez aqui sempre, mas não funciona, porque toda a ênfase está na obra; ou se cria um modelo de PPP. O que se fez na ANA foi garantir o recebível. Quer dizer, não quero saber da tecnologia, qual o seu projeto. Quero saber quanto esgoto chega na estação e quanto é tratado. Se trata no padrão combinado, recebe o valor por metro cúbico. Então, o cara não tem risco. E tudo que ele tem que fazer é demonstrar que é capaz de coletar e tratar o esgoto. Esse conceito de pagamento pelo resultado, e não pela obra, é um salto qualitativo.

E as outras alternativas?

Uma é tirar água ao Sul, do Rio Juquiá, que tem várias usinas hidrelétricas. É uma obra cara, porque é longe, e o Juquiá está mais baixo que São Paulo, teria que subir uns 300 metros. Nessa alternativa também pode ser uma PPP, mas como o bombeamento é muito grande, o esquema devia ser um backup: continua tirando água do Sistema Cantareira e, em uma situação parecida com 2014, bombeia a água para lá. Nesse caso, teria que desligar as hidrelétricas, que são da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio, do grupo Votorantim), e cuja concessão vence em 2016. Pode ser fazer uma nova licitação prevendo a parada das usinas nos anos críticos. E a terceira fonte é mais longínqua, é lá no Paranapanema, na divisa com o Paraná, na Represa Jurumirim, a 200 km da região metropolitana. Mas tem a vantagem de resolver uma série de problemas de abastecimento de cidades pelo caminho.

Qual a melhor alternativa?

Acho que o Paraíba do Sul, que custa uns R$ 500 milhões. Mas, pode ser que tirar da Votorantim seja melhor. O problema é que os projetistas sempre imaginaram obras públicas, com as restrições políticas que existem. Quer dizer, já foi uma ousadia imaginar tirar 5 m³ por segundo do Paraíba do Sul porque o Rio ia chiar. É um falso problema, que só existe porque não se resolveu o saneamento. Se resolver, o problema não existe. A minha visão é que, mesmo a longuíssimo prazo, tem água para todos. Mas a questão é tratada com um componente emocional muito forte.

São Paulo e Rio têm perdas enormes nas redes de água. Como resolver isso?

As duas empresas são estatais e a regulação e a fiscalização são muito mais tênues quando se trata de estatais. A Aneel, por exemplo, tem centenas de empresas para fiscalizar, o poder de fiscalização dela é bem maior. Em São Paulo, é uma agência para fiscalizar um monstro que é a Sabesp. E no Rio de Janeiro, a agência não tem nenhum peso, é para inglês ver. No médio prazo, precisamos fazer duas coisas diferentes. A primeira é investir em saneamento. Se compararmos os índices de saneamento básico brasileiro com países análogos, vemos que estamos atrasados. Enquanto 99,3% das casas têm energia elétrica, apenas 60% têm conexões e redes de tratamento de esgoto. E, em tratamento, é pior ainda. E temos que investir também em perdas. A Cedae trata 47 m³ por segundo, mas fatura muito menos do que isso. Deve faturar 60% disso. E essa diferença tem duas origens: uma é vazamento físico, outra são as perdas comerciais. É gato, água roubada, não medida… Tem que trabalhar nas duas frentes. Mas isso tudo são programas de décadas que não deveriam ser feitos com obras públicas, e sim no modelo PPP.

O fato de as empresas de saneamento serem estatais é um obstáculo?

Não. O problema é que o motor que move o saneamento é o lobby da construção civil; não é o lobby da operação do sistema. Quem está no Congresso fazendo emenda ao orçamento está preocupado em construir, em inaugurar obra. Aí, depois de dois anos, se a obra estiver funcionando ou não, não tem problema. Temos um sistema perverso, porque o lobby é para construção, para maximização do custo, para inauguração e para o não funcionamento. Quando ouço na campanha política o cara dizer “Gastei tanto, vou gastar tanto”, penso: e daí? Não interessa quanto gasta; interessa é quando ficará pronto, se funciona ou não. E o segredo disso é a PPP, botar a iniciativa privada na história.

No curto prazo, o Brasil corre risco de desabastecimento?

Nenhuma das obras sobre as quais falamos é para 2015. Olhando para trás, o governo fez a melhor política em relação à água? Claro que não. Porque era ano eleitoral. Não teve transparência, não teve a franqueza com a população que teve, por exemplo, o governo Fernando Henrique Cardoso em 2001. Lá, o governo disse que havia um problema grave. Fui coordenador de uma comissão em 2001 para explicar porque tinha havido o racionamento. Foi feito um relatório, que o setor elétrico chamou de relatório Kelman, que concluía que houve problema de governança. Eu fui entregar o relatório ao presidente e disse que, infelizmente, o governo não saía bem na fotografia. Mas o presidente determinou que comunicássemos à população que a situação era grave e que precisávamos adotar medidas. Uma coisa o governo de São Paulo fez: bônus para quem economizar. Mas não basta, quem usa mais água tem que levar uma pancada. Cerca de 50% da população de São Paulo diminuiu o consumo, cerca de um quarto ficou na mesma e um quarto aumentou. São os espertos. Esse pessoal tem comportamento antissocial e precisa ser penalizado. No racionamento em 2001, quem consumia mais do que a meta pagava uma multa. Em São Paulo, só teve a cenoura, não teve o tacape. Faltou também dizer claramente à população que a situação estava grave. Mas isso vale para o governo federal também na energia. Foi uma infelicidade que 2014 fosse um ano eleitoral, porque não se aplicou a mesma transparência, a mesma clareza de informações que tivemos em 2001. O Alckmin deve ter tido suas razões, porque em 2002 quem ganhou as eleições foi o Lula, e não o Serra. Esse deve ter sido o raciocínio dele. Mas sob o ponto de vista de governo, de interesse público, a atuação não foi a melhor, desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios do que deveriam.

Essa atitude ampliou o risco?

A população olha os últimos seis meses e, baseada na experiência de não ter chovido nada, entra em pânico achando que não vai chover nos próximos seis meses. É errado. As pessoas não se lembram que as chuvas são muito sazonais, elas caem no verão. Então, não tem dúvida de que vai chover no verão, e não tem dúvida de que os reservatórios vão se recuperar no verão. A dúvida é se vai chover o suficiente. Se chover a média, os reservatórios da Cantareira vão chegar em abril, no final da estação chuvosa, com 25%. O que está longe do estoque confortável, que é de 65%. Se chegarem a 65%, estamos com a vida ganha. Mas não vão chegar. O mais provável é que saiam do negativo, recuperem um pouquinho, mas de forma insuficiente para dar conforto em 2015. E tem, claro, um cenário péssimo, que não encha nada, e aí é uma tragédia, pode ter caos em São Paulo. Mas é pouco provável. Os dois extremos são improváveis. Então, 2015 será parecido com 2014. Não é o caos, mas as pessoas vão sofrer, como hoje.

Não seria melhor fazer um racionamento compulsório?

Em energia elétrica é possível fazer, já foi feito no Rio nos anos 50, porque pode programar e ter baterias nos hospitais, pode de alguma forma se organizar. Em água, é um pouco mais complicado. Porque as tubulações estão sempre sob pressão e vazando água para o terreno. Quando esvazia o tubo, o terreno está encharcado de água poluída que passa a entrar pelos buracos da tubulação. Então, tem um risco de saúde pública. Têm razão aqueles que dizem para ter cuidado com racionamento. Então o prognóstico para 2015 é preocupante. A obra que está aí na pauta, de uso de água do Paraíba do Sul, já deveria estar sendo feita em regime emergencial, o mais rápido possível. Mas o Brasil caiu em uma armadilha de excesso de controle. A cada novo escândalo, a tendência da população é clamar por mais controle. No setor público, o mecanismo de controle de corrupção, de mau gasto, não tem a medida de eficiência, de qual é o custo do controle versus o custo de eficiência. A não ser na Receita Federal, que é um exemplo positivo. Então, o que tem acontecido é cada vez mais controle, mais burocracia. Na tentativa de inibir o comportamento deletério dos desonestos ou incompetentes, cria-se um monte de regras que restringe a capacidade de operar do honesto e do capaz. Na realidade, todo o incentivo para a administração pública é para não fazer nada. Se não fizer nada, não corre o risco.

A crise energética é grave?

Não falta energia. O que acontece é que a energia está muito cara. Eu fiz uma conta grosseira: de acordo com o TCU, consumidores e contribuintes pagaram extraordinariamente, ou seja, a mais do que seria normal, R$ 60 bilhões nos últimos anos, por conta da hidrologia desfavorável. Para onde foi esse dinheiro externo ao setor elétrico brasileiro? Pagar combustível, porque nós tivemos que ligar as térmicas. Quanto se pagou? R$ 50 bilhões. Então, R$ 10 bilhões foi dinheiro que mudou de bolso dentro do setor elétrico. Geradora que estava com excesso de energia e ganhou bastante dinheiro, por exemplo. De fato, isso não é muito salutar. Em dois anos, um volume tão grande de dinheiro mudar de mãos é porque alguma coisa entre as regras está mal. Mas o fundamental é que R$ 50 bilhões de gasto com térmicas é demais.

Qual o diagnóstico?

A PSR (consultoria especializada), desde 2010, descobriu o que ela chama de fator de ficção. 2013 não foi um ano de hidrologia muito ruim. Pelo contrário, essa energia afluente no sistema, que neste ano está em 80%, foi de 98% em 2013. Foi um ano na média. No entanto, os reservatórios chegaram ao final do ano vazios. Em 2013, foram ligadas todas as térmicas, foi um ano de hidrologia normal e os reservatórios chegaram vazios. A que atribuir isso? A primeira coisa é atraso. O setor conta com a entrada de um monte de usinas e esse cronograma, sistematicamente, atrasa. E muito mais do que atribuir ao Ibama, à Funai, é atribuir às sentenças judiciais tomadas sem que o juiz tenha uma percepção das consequências — na economia, em nossa competitividade, no nível de emprego, no preço da energia.

Como resolver esse problema?

Com planejamento. No Brasil, estamos aprovando, ou desaprovando, empreendimentos individualmente. A análise dos empreendimentos é assim: “Devo construir a usina X, seja hidrelétrica termelétrica ou solar?”. Faz-se uma audiência pública. Quem vai à audiência são os que serão prejudicados localmente, um legítimo direito, e alguns que têm ideologia contrária. Agora, os beneficiários de uma resposta positiva somos todos nós espalhados pelo Brasil inteiro, que não vamos à audiência pública, nem sabemos que existe isso. Hoje, sou favorável a uma discussão política sobre a matriz elétrica que precisamos. O planejamento do país tem que sair de uma esfera puramente tecnocrata para uma esfera política, em que se faça um pacto sobre qual matriz precisamos. Isso foi feito, por exemplo, no trabalho Plataformas dos Cenários Energéticos, realizado por uma ONG, que chamou o Greenpeace, a Coppe, o pessoal de carvão e o ITA. O Greenpeace disse que queria tudo solar. É possível? É. Agora, vai precisar de bateria, porque de noite não tem sol. A energia vai custar tanto, e aí o Brasil não fica competitivo. É isso mesmo? Quem quer o Brasil competitivo ou não gosta de bateria vai se opor. Ou seja, muda de patamar a discussão, em vez de ser “não, não, não”.

Como se daria essa discussão no âmbito político?

Poderia ser no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética. Uma discussão da matriz elétrica que passasse a ser mandatória para os órgãos. Em vez de Ibama, ICMBio, Funai examinarem item a item, você reúne o presidente desses órgãos com o ministro de Minas e Energia para chegar a um acordo sobre uma lista de empreendimentos que atenda às necessidades do país. Não será uma lista ótima do ponto de vista ambiental, econômico, energético ou social, mas será uma lista possível. Hoje, temos uma Torre de Babel.

Que nos trouxe a essa situação…

Além dos atrasos nas obras, há uma questão técnica. As decisões tomadas no setor elétrico seguem modelos matemáticos e de otimização muito sofisticados. Mas como qualquer modelo, os dados de entrada têm de estar corretos. Percebeu-se que temos garantia física de usinas que não condiz à realidade. A PSR percebeu uma divergência entre o mundo real e o que o modelo está vendo. No real, está se usando mais água para se produzir energia do que o modelo imaginava. E aí tem uma série de hipóteses que ninguém sabe ao certo o que é. A primeira é uma mudança do regime hidrológico. Outra hipótese é que a relação entre a quantidade de água que passa na turbina e a quantidade de energia produzida esteja errada. Além disso, os reservatórios são como se fossem bacias e, depois de 30 anos que aquilo foi alagado, já mudou completamente a topografia, com o acúmulo de sedimentos no fundo.

Temos um estoque de energia menor do que imaginamos?

Isso. É tão importante conhecer a real capacidade que eu até prefiro que se faça uma anistia: “Olha meus amigos, me contem a verdade, e eu não vou lhes punir”. Uma espécie de delação premiada. Permitiria fazer uma energia de reserva maior.

E as perspectivas para 2015?

Acho que a energia vai continuar cara. Vai ter um grande salto de custo de energia e o cenário mais provável é que continue acumulando isso, porque as térmicas continuarão ligadas.

Pode vir uma chuva e resolver?

Sim, eventualmente, pode chover. Mas eu prefiro esperar, porque é precoce falar de tragédia em novembro, início da estação chuvosa, seja em água, seja em energia. Mas, imaginando um verão que não chova nada, o que não é comum, nós vamos ter racionamento de energia e água em 2015. Porque vamos chegar a abril com estoque perto de zero.

No relatório Kelman, de 2001, o diagnóstico foi de governança…

(Interrompendo) Não, o problema principal é que havia energia garantida falsa na praça.

Ou seja, se houvesse um relatório Kelman agora, o diagnóstico seria o mesmo…

(Risos) É verdade, o problema é parecido.

Projeto da biodiversidade vai à comissão geral com polêmicas em aberto (Agência Câmara)

JC 5061, 7 de novembro de 2014

Agronegócio não aceita fiscalização pelo Ibama. Agricultura familiar quer receber pelo cultivo de sementes crioulas. Cientistas criticam regras sobre royalties

A comissão geral que vai discutir na próxima terça-feira as novas regras para exploração do patrimônio genético da biodiversidade brasileira (PL 7735/14) terá o desafio de buscar uma solução para vários impasses que ainda persistem na negociação do texto. Deputados ambientalistas, ligados ao agronegócio e à pesquisa científica continuarão em rodadas de negociação até a terça-feira na busca do projeto mais consensual.

Parte das polêmicas são demandas dos deputados ligados ao agronegócio, que conseguiram incluir as pesquisas da agropecuária no texto substitutivo. A proposta enviada pelo governo excluía a agricultura, que continuaria sendo regulamentada pela Medida Provisória 2.186-16/01. Agora, o texto em discussão já inclui a pesquisa com produção de sementes e melhoramento de raças e revoga de vez a MP de 2001.

O governo já realizou várias reuniões entre parlamentares e técnicos do governo. Até o momento, foram apresentadas três versões diferentes de relatórios.

Fiscalização
O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), que está à frente das negociações, defende que o Ministério da Agricultura seja o responsável pela fiscalização das pesquisas para produção de novas sementes e novas raças. Já o governo quer repassar essa atribuição ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esse item deverá ser decidido no voto.

“Não vamos permitir que o Ibama, que tem um distanciamento longo da cadeia produtiva, seja o responsável pela fiscalização das pesquisas com agricultura, pecuária e florestas. Terá de ser o Ministério da Agricultura”, afirmou o deputado.

Royalties
O agronegócio também conseguiu incluir no texto tratamento diferenciado para pesquisas com sementes e raças. O pagamento de repartição de benefícios – uma espécie de cobrança deroyalties – só será aplicado para espécies nativas brasileiras. Ficam de fora da cobrança pesquisa com espécies de outros países que são o foco do agronegócio: soja, cana-de açúcar, café.

E quando houver cobrança de royalties, isso incidirá apenas sobre o material reprodutivo – sementes, talos, animais reprodutores ou sêmen – excluindo a cobrança sobre o produto final. “Não pode ter cobrança na origem, que é a semente, e depois outra cobrança no produto final. Se vai ter no produto final, não pode ter na pesquisa”, disse Alceu.

A limitação do pagamento de royalties na agricultura desagradou integrantes da agricultura familiar, que cobram acesso e remuneração pelo cultivo de sementes crioulas, aquelas em que não há alteração genética.

Conselho paritário
Outra demanda do agronegócio é uma composição paritária do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen) entre representantes do governo federal, da indústria, da academia e da sociedade civil. A intenção é dar mais voz ao agronegócio nesse conselho, que hoje tem apenas representantes do Ministério da Agricultura e da Embrapa.

Cientistas
Já a comunidade científica, segundo a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que também tem conduzido as negociações, critica o percentual baixo de royalties que será cobrado do fabricante de produto final oriundo de pesquisa com biodiversidade.

O texto prevê o pagamento de 1% da receita líquida anual com o produto, mas esse valor poderá ser reduzido até 0,1%. Também prevê isenção para microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores individuais.

Os cientistas discordam, ainda, do fato de o projeto escolher apenas a última etapa da cadeia para a cobrança da repartição de benefícios. “Eles acham que é injusto e precisa ser considerado a repartição de benefícios de etapas do processo porque, às vezes, ao final não se comercializa apenas um produto acabado, mas um intermediário”, disse.

Ambientalistas
Os ambientalistas também não decidiram se apoiarão ou não o texto. A decisão será tomada na semana que vem, mas o líder do partido, deputado Sarney Filho (MA), saiu da reunião da última terça-feira (4) insatisfeito com o texto apresentado.

O líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), disse que a intenção é chegar a um texto de consenso após a comissão geral e colocar o tema em votação na quarta-feira (12). Luciana Santos admitiu que, por mais que os deputados tentem chegar a um acordo, vários dispositivos só serão decididos no voto.

Íntegra da proposta:

(Agência Câmara) 

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/477144-PROJETO-DA-BIODIVERSIDADE-VAI-A-COMISSAO-GERAL-COM-VARIAS-POLEMICAS-EM-ABERTO.html

Metade da riqueza mundial pertence a 1% da população, diz relatório (Portal do Meio Ambiente)

PUBLICADO 27 OUTUBRO 2014

9586

O 1% mais rico da população detém mais de 48% da riqueza mundial, que cresceu 8,3% de meados do ano passado a meados deste ano.

De acordo com relatório do Credit Suisse sobre o assunto, em 2014 o total da riqueza no mundo bateu um novo recorde, alcançando US$ 263 trilhões.

No documento, o banco diz que o valor já é o dobro do registrado em 2000, “apesar do ambiente econômico desafiador”, marcado pela crise econômica e pela lenta recuperação dos países.

A criação de recursos foi particularmente forte na América do Norte, com um crescimento de 11,4% entre meados de 2013 e meados de 2014, e na Europa, onde a alta foi de 10,6%. Nas duas regiões, o mercado de capitais foi o principal impulsionador.

Nos mercados emergentes, a Ásia –com destaque para a China– foi a principal responsável pelo aumento de riquezas, assim como no ano passado.

“No entanto, achamos que o crescimento das riquezas no mercados emergentes não foi capaz de manter o seu momento pré-crise, entre 2000 e 2008. Isso não deve nos distrair do fato de que a riqueza pessoal na Índia e na China cresceu pelo fator de 3,1 e 4,6 desde 2000.”

DESIGUALDADE

Segundo o relatório, uma pessoa precisa de US$ 3.650 para estar na metade mais rica do mundo. Para ser membro dos 10% mais ricos são necessários US$ 77 mil. Já para fazer parte do 1% mais rico é preciso ter US$ 798 mil.

O mínimo de recursos para pertencer ao 1% mais rico cresceu desde a crise de 2008. Naquele ano, eram necessários US$ 635 mil, contra US$ 798 mil hoje.
Por sua vez, a riqueza média global tem diminuído desde 2010.

“Esses achados indicam um aumento da desigualdade global nos anos recentes. No entanto, nossos resultados sugerem que a tendência inversa ocorreu no período que antecedeu à crise financeira.”

Coping with water scarcity: Effectiveness of water policies aimed at reducing consumption evaluated (Science Daily)

Date: October 23, 2014

Source: University of California, Riverside

Summary: Southern California water agencies have turned to new pricing structures, expanded rebate programs and implemented other means to encourage their customers to reduce consumption. Some of those policies have greatly reduced per capita consumption, while others have produced mixed results.


As California enters its fourth year of severe drought, Southern California water agencies have turned to new pricing structures, expanded rebate programs and implemented other means to encourage their customers to reduce consumption.

Some of those policies have greatly reduced per capita consumption, while others have produced mixed results, according to a report published in the UC Riverside School of Public Policy journal Policy Matters. The journal is published quarterly by the School of Public Policy, and provides timely research and guidance on issues that are of concern to policymakers at the local, state, and national levels.

Water policy experts Kurt Schwabe, Ken Baerenklau and Ariel Dinar reviewed some of their recent research that was presented at a UCR workshop on urban water management in June 2014. Schwabe and Baerenklau are associate professors and Dinar is professor of environmental economics and policy. The workshop highlighted efforts by Southern California water agencies to promote water conservation, relevant research findings by UC faculty, and challenges that remain to further reduce water demand.

“California is a water-scarce state and needs to have policy tools to deal with scarcity whether in drought years or otherwise,” Dinar said. Water policy research in the School of Public Policy focuses on strategies that agencies and California can take to help reduce vulnerability to drought.

Water utilities throughout California are working to satisfy a 2010 state mandate to reduce per capita urban water demand 20 percent by 2020. Reducing residential water demand is an appealing response to water scarcity as approaches such as building more storage and conveyance systems have become increasingly expensive, the authors wrote in “Coping with Water Scarcity: The Effectiveness of Allocation-Based Pricing and Conservation Rebate Programs in California’s Urban Sector.”

“Reducing residential water demand is also attractive given it is a local solution to relieving water stress with seemingly much recent success,” they wrote.

Efforts to reduce water demand by changing behavior fall into two categories: price and non-price, the researchers said. Price-based approaches focus on adjusting the price of water while non-price approaches include other demand-management strategies such as the use of water-conserving technologies and conversion of lawns to drought-tolerant landscape, often promoted with rebates, and mandatory restrictions.

“Price-based instruments for water management … have proven to be very effective when compared to non-price instruments,” the researchers found.

One such instrument is the “water budget,” which has been adopted by more than 25 Southern California water agencies in recent years. Water budgets typically are defined as an indoor allocation based on the number of people in the house and an outdoor allocation based on the amount of irrigable land, special needs, and local weather conditions, according to the report. The sum of the indoor and outdoor allocations is a household’s water budget. Staying within that budget is deemed efficient use. Water use that exceeds a household’s budget is considered inefficient, and is priced at a higher rate to encourage conservation.

“Recent empirical evidence within southern California suggests that this sort of pricing structure can be very effective for reducing residential water demand while securing the financial cash-flow of the water utility,” the researchers reported.

Non-price efforts to reduce water consumption have not been as effective, however. For example, the researchers refer to a study of 13 groundwater-dependent California cities in which modest water price increases were more effective and more cost-effective than promoting technology standards to curb water consumption.

Some studies have found that rebate programs, in particular, have shown smaller-than-expected water savings, the researchers said in the report. For example, studies show that low-flow showerheads tend to result in longer showers and frontloading washing machines result in more cycles.

“This does not mean that such measures should be abandoned, but rather suggests that achieving real water savings in a cost-effective manner requires more research and partnerships between agencies and the research community to find an optimal mix between these two approaches,” the researchers said.


Journal Reference:

  1. Kurt Schwabe, Ben Baerenklau, and Ariel Dinar. Coping With Water Scarcity: The Effectiveness of Allocation-Based Pricing and Conservation Rebate Program in California’s Urban Sector.. Policy Matters, Volume 6, Issue 1, 2014 [link]

What were they thinking? Study examines federal reserve prior to 2008 financial crisis (Science Daily)

Date: September 15, 2014

Source: Swarthmore College

Summary: A new study illustrates how the Federal Reserve was aware of potential problems in the financial markets prior to 2008, but did not take the threats seriously.


Six years after the start of the Great Recession, a new study from three Swarthmore College professors illustrates how the Federal Reserve was aware of potential problems in the financial markets, but did not take the threats seriously.

Published in the Review of International Political Economy, the study is the result of a collaboration between Swarthmore College economist Stephen Golub, political scientist Ayse Kaya, and sociologist Michael Reay.

The team looked at pre-crisis Federal Reserve documents to come to its conclusion, focusing particularly on the transcripts of meetings of the Federal Open Market Committee. The meeting transcripts indicate that policymakers and staff were aware of troubling developments but remained largely unconcerned.

Drawing on literatures in economics, political science and sociology, the study demonstrates that the Federal Reserve’s intellectual paradigm in the years before the crisis focused on ‘post hoc interventionism’ — the institution’s ability to limit the fallout should a problem arise. Additionally, the study argues that institutional routines and a “silo mentality” contributed to the Federal Reserve’s lack of attention to the serious warning signals in the pre-crisis period.

To speak with Professors Golub, Kaya, or Reay, please contact Mark Anskis (manskis1@swarthmore.edu / 570-274-0471) in the Swarthmore College communications office.


Journal Reference:

  1. Stephen Golub, Ayse Kaya, Michael Reay. What were they thinking? The Federal Reserve in the run-up to the 2008 financial crisis. Review of International Political Economy, 2014; 1 DOI: 10.1080/09692290.2014.932829

Once a Symbol of Power, Farming Now an Economic Drag in China (New York Times)

 

Li Haiwen, 47, grows medicinal plants, rather than grain, on the plot of land he rents from the local government in Yangling. “The more grain you plant,” he said, “the poorer you get.” Credit Gilles Sabrie for The New York Times

YANGLING, China — For about 4,000 years, farming in this region has been a touchstone of Chinese civilization. It was here that the mythic hero Hou Ji is said to have taught Chinese how to grow grain, and the area’s rich harvests underpinned China’s first dynasties, feeding officials and soldiers in the nearby imperial capital.

But nowadays, Yangling’s fields are in disarray. Frustrated by how little they earn, the ablest farmers have migrated to cities, hollowing out this rural district in the Chinese heartland. Left behind are people like Hui Zongchang, 74, who grows wheat and corn on a half-acre plot while his son works as a day laborer in the metropolis of Xi’an to the east.

Mr. Hui, still vigorous despite a stoop, said he makes next to no money from farming. He tills the earth as a kind of insurance. “What land will they farm if I don’t keep this going?” he said of his children. “Not everyone makes it in the city.”

Farm output remains high. But rural living standards have stagnated compared with the cities, and few in the countryside see their future there.The most recent figures show a threefold gap between urban and rural incomes, fueling discontent and helping to make China one of the most unequal societies in the world.

The nation’s Communist leaders have declared that fixing the countryside is crucial to maintaining social stability. Last year, they unveiled a new blueprint for economic reform with agricultural policy as a centerpiece. But the challenge confronting them resembles a tangled knot.

It begins with the fact that farms in China are too small to generate large profits, about 1.6 acres on average, compared with 400 acres in the United States. Yet it is difficult to consolidate these farms into larger, more efficient operations because Chinese farmers do not own their plots — they lease them from the government.

Privatizing farmland would allow market forces to create bigger farms. But that would be a political minefield for the Communist Party. It would also risk exacerbating inequality, by concentrating land ownership in the hands of a few while leaving many rural families without farms to fall back on if they hit hard times in the cities.

“All of these issues are interlocked and require a series of reforms to be solved,” said Luo Jianchao, a professor at Northwest A & F University in Yangling, and a government adviser. “There’s no magic bullet.”

In late September, President Xi Jinping endorsed an experiment underway in Yangling and other parts of China to untangle this knot. The measure, called liuzhuan, stops short of privatization but gives farmers land-use rights that they can transfer to others in exchange for a rental fee.

The goal is to simulate a private land market and allow China’s family-run, labor-intensive farms to change hands and be amalgamated into large-scale, industrialized businesses. In theory, liuzhuan allows this to happen without cutting ties between rural families and the land, because they collect rental fees as a safety net.

Mr. Xi has presented the policy as critical to China’s next phase of economic reform. Skeptics, however, say it shows the government remains unwilling to consider a bold measure that has worked in many countries: giving farmers full ownership of their land.

“Privatization of land is a key issue but it’s completely taboo,” said Tao Ran, an agricultural expert at Renmin University in Beijing. The party leadership, he said, “cannot countenance it.”

More is at stake than the socialist credentials of the Communist Party, which came to power in a peasant revolution in 1949 and immediately collectivized farmland. State ownership of land is also a major source of government revenue. In areas near cities, local officials often rezone agricultural land and flip it to developers at a huge premium, sometimes setting off violent protests by residents who are left out.

Others see the system of political control of the countryside at stake. “The rural system they’ve had since the 1950s is based on the state ownership of land,” said Fred Gale, who writes an influential blog on China’s agricultural sector called Dim Sums. “If this unravels, then the bureaucrats would be at a loss as to how to manage the countryside.”

In Yangling, a district of 155,000 people that has been a center for agricultural sciences since the 1930s, several problems with the government’s attempt to sidestep privatization are apparent.

Because farmers do not own their land, they cannot sell it and get a large, lump sum payment that could be used to make a new start. Nor can they mortgage land for funds that could be reinvested in their farms or in other businesses.

Yang Tewang, a branch manager of the state-run Yangling Rural Commercial Bank, said he has made about $3 million in mortgage-style loans since the liuzhuan experiment began. But he said they were not true mortgages since the banks cannot repossess land if the farmer defaults — the state owns the land, not the farmer. As a result, Mr. Yang said he minimizes risk by lending only to large-scale vegetable and fruit farmers.

“The rest don’t pay,” he said. A grain farmer, for example, could never get a loan, he said.

Another problem has been figuring out how to set the rental fees that rural families collect if they transfer their land-use rights.

Yangling set up a land bank that took over land-use rights in an area of 36 square miles, then set an annual rental fee of at least $750 per acre of land. Farmers could choose between giving up their land and collecting that rent, or leasing their land back from the state and continuing to farm.

But the fees can distort the market. For example, they have discouraged production of grain, which does not sell for enough of a margin over the cost of renting the land. Grain pays only about $1,250 per acre, for an annual profit of about $500, said one resident, Li Haiwen.

“The more grain you plant,” he said, “the poorer you get.”

Mr. Li grows magnolia bushes used in traditional Chinese medicine instead. But he said farming is just a sideline for him. His main source of income is in professional landscaping. “I think our minds are opening up and we realize there are other ways to make money,” he said.

Exactly why rental prices are so high is open to debate. In some parts of China, rents are even higher than in Yangling, topping $1,200 per acre. By contrast, the average acre of farmland in the United States rented for $136 in 2013, according to the United States Department of Agriculture. Some experts say the rental fees have been driven up by the same sort of speculation that has made apartments so exorbitantly expensive in Chinese cities. Even in a remote area like Yangling, an apartment of 1,000 square feet sells for $50,000, and in cities like Beijing the price can easily be 10 times that.

In recent months, banks like the China International Trust and Investment Corporation have been buying rural land-use rights at high prices. Li Ping, an agricultural expert at Landesa, a nongovernmental organization focused on rural issues, said he believed the purchases have been made with an eye toward rezoning land for housing or industrial use.

“It’s like the housing prices here being higher than in most parts of the U.S.,” Mr. Li said. “It’s not sustainable.”

One of the success stories in Yangling has been the case of Zhang Hongli, who took over 197 acres once farmed by three villages and pays about $150,000 per year in rental fees.

Mr. Yang, the banker, described it as a win-win exchange. Mr. Zhang uses the land to grow watermelons, which sell for a nice profit in Xi’an. Meanwhile, the families who gave up their land are collecting about $500 per year on average, and almost all received free apartments from the government as well.

Government planners hope that more farmers will be moved to the cities so the countryside gradually depopulates and ever-larger-scale farming takes over. For farmers with a job already lined up in the city, this system is attractive. But for people still wanting to work the land, like Zhou Yuansheng, 66, it is an example of how little say he has.

“The big decisions are made by the government,” he said. “No one asked me what I wanted to do with my land.”

Diálogos sobre o fim do mundo (El País)

Do Antropoceno à Idade da Terra, de Dilma Rousseff a Marina Silva, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e a filósofa Déborah Danowski pensam o planeta e o Brasil a partir da degradação da vida causada pela mudança climática 

29 SEP 2014 – 11:18 BRT

Se alguns, entre os milhares que passaram pela calçada da Casa de Rui Barbosa, na semana de 15 a 19 de setembro, por um momento tivessem o ímpeto de entrar, talvez levassem um susto. Ou até se desesperassem. Durante cinco dias, debateu-se ali, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, algo que, apesar dos sinais cada vez mais evidentes, ainda parece distante das preocupações da maioria: a progressiva e cada vez mais rápida degradação da vida a partir da mudança climática. Pensadores de diversas áreas e de diferentes regiões do mundo discutiram o conceito de Antropoceno – o momento em que o homem deixa de ser agente biológico para se tornar uma força geológica, capaz de alterar a paisagem do planeta e comprometer sua própria sobrevivência como espécie e a dos outros seres vivos. Ou, dito de outro modo, o ponto de virada em que os humanos deixam de apenas temer a catástrofe para se tornar a catástrofe.

Com o título “Os mil nomes de Gaia – do Antropoceno à Idade da Terra”, o encontro foi concebido pelo francês Bruno Latour, uma das estrelas internacionais desse debate, e dois dos pensadores mais originais do Brasil atual, Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski. Na mesma semana, Eduardo e Déborah lançaram o livro que escreveram juntos: Há mundo por vir? – ensaio sobre os medos e os fins (Editora Cultura e Barbárie).

Na obra, abordam as várias teorias, assim como as incursões da literatura e do cinema, sobre esse momento em que a arrogância e o otimismo da modernidade encontram uma barreira. O homem é então lançado no incontrolável e até na desesperança, no território de Gaia, o planeta ao mesmo tempo exíguo e implacável. Como escrevem logo no início do livro, com deliciosa ironia: “O fim do mundo é um tema aparentemente interminável – pelo menos, é claro, até que ele aconteça”.

Déborah é filósofa, professora da pós-graduação da PUC do Rio de Janeiro. Pesquisa a metafísica moderna e, ultimamente, o pensamento ecológico. Eduardo é etnólogo, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autor do “perspectivismo ameríndio”, contribuição que impactou a antropologia e o colocou entre os maiores antropólogos do mundo. Como disse Latour, Déborah é uma “filósofa meio ecologista”, Eduardo um “antropólogo meio filósofo”.

Eduardo e Déborah são marido e mulher e pais de Irene, a quem o livro é dedicado. Além da casa, os dois compartilham a capacidade bastante rara de dialogar com os vários campos de conhecimento e da cultura sem escapar de refletir também sobre a política – para muito além de partidos e eleições, mas também sobre partidos e eleições. Ambos têm uma ação bastante ativa nas redes sociais. Como diz Eduardo, o Twitter é onde ele pensa.

A entrevista a seguir contém alguns dos momentos mais interessantes de cinco horas de conversa – três horas e meia no apartamento deles, em Botafogo, no sábado após o colóquio, e uma hora e meia por Skype, dias depois. Entre os dois encontros, 400.000 pessoas, segundo os organizadores, participaram da Marcha dos Povos pelo Clima, em Nova York, e 4.000 no Rio de Janeiro; Barack Obama afirmou que “o clima está mudando mais rápido do que as ações para lidar com a questão” e que nenhum país ficará imune; e o Brasil recusou-se a assinar o compromisso de desmatamento zero até 2030.

Ainda que tenham sido dias intensos, é possível afirmar que para muitos parece mais fácil aderir a ameaças de fim de mundo, como a suposta profecia maia, de 21 de dezembro de 2012, do que acreditar que a deterioração da vida que sentem (e como sentem!), objetiva e subjetivamente, no seu cotidiano – e que em São Paulo chega a níveis inéditos com a seca e a ameaça de faltar água para milhões – é resultado da ação do homem sobre o planeta. É mais fácil crer na ficção, que ao final se revela como ficção, salvando a todos, do que enfrentar o abismo da realidade, em que nosso primeiro pé já encontrou o nada.

É sobre isso que se fala nesta entrevista. Mas também sobre pobres e sobre índios, e sobre índios convertidos em pobres; sobre esquerda e sobre direita; sobre capitalismo e sobre o fim do capitalismo; sobre Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva. Sobre como nos tornamos “drones”, ao dissociar ação e consequência. E como todos estes são temas da mudança climática – e não estão distantes, mas perto, bem perto de nós. Mais próximos do que a mesa de cabeceira onde desligamos o despertador que nos acorda para uma vida que nos escapa. O problema é que o que nos acorda nem sempre nos desperta. Talvez seja hora de aprender, como fazem diferentes povos indígenas, a dançar para que o céu não caia sobre a nossa cabeça.

A antropóloga sul-africana Lesley Green referiu-se, em sua exposição no colóquio, ao momento de países como África do Sul e Brasil, países em que uma parcela da população que historicamente estava fora do mundo do consumo passa a ter acesso ao mundo do consumo. No Brasil, estamos falando da chamada Classe C ou “nova classe média”. Me parece que esse é quase um dogma no Brasil de hoje, algo que poucos têm a coragem de confrontar. Como dar essa má notícia, a de que agora que podem consumir, de fato não podem, porque as elites exauriram o planeta nos últimos séculos? E como dizer isso no Brasil, em que todo o processo de inclusão passa pelo consumo?

“O capitalismo está fundado no princípio da produção de riqueza, mas a questão num planeta finito é redistribuir a riqueza”

Eduardo Viveiros de Castro – Essa é uma grande questão em países como o Brasil. E totalmente legítima. O que está em jogo aí é a questão da igualdade. Até certo ponto é muito mais fácil você dar um carro para o pobre do que tirar o carro do rico. E talvez fosse muito mais fácil para o pobre aceitar que ele não pode ter um carro se o rico parasse de ter carro também. Dizendo, de fato: “Olha, lamento, você não pode mais usar, mas eu também não”. É claro que enquanto você ficar dizendo para o pobre – “Você não pode ter e eu tenho” – não dá. Ele vai dizer: “Por que vocês podem continuar a consumir seis planetas Terra e eu não posso comprar o meu carrinho?”. É preciso dissociar crescimento de igualdade, como afirma o Rodrigo Nunes (professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio). E sobretudo você tem que parar de superdesenvolver os países superdesenvolvidos. E a palavra tem que ser “superdesenvolvido”. Porque a gente fala muito em sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas, como antigamente – países subdesenvolvidos, países em vias de desenvolvimento, países desenvolvidos. Nunca ninguém falou que existem países superdesenvolvidos, isto é, excessivamente desenvolvidos. É o caso dos Estados Unidos, onde um cidadão americano médio gasta o equivalente a 32 cidadãos do Quênia ou da Etiópia. A relação que sempre se faz é que, para tirar as populações da pobreza, é preciso crescer economicamente. E aí você tem um dilema: se você cresce economicamente, com uso crescente de energia fortemente poluente, como petróleo e carvão, nós vamos destruir o planeta. Assim, a luta pela igualdade não pode depender do nosso modelo de crescimento econômico mundial, do qual o Brasil, Índia e China são só as pontas mais histéricas, porque querem crescer muito rápido. O jeito como o mundo está andando não pode continuar porque se baseia numa ideia de que o crescimento pode ser infinito, quando a gente sabe que mora num mundo finito, com recursos finitos. Entretanto, eu nunca vi ninguém falar: “O crescimento vai ter que parar aqui”. Você vai ser preso se você disser isso em qualquer lugar do mundo. Eu não acho que o Brasil tenha que parar de crescer, no sentido de crescimento zero. O que o Brasil precisa, como o mundo precisa, é de uma redistribuição radical da riqueza. Quanto mais você redistribui, menos precisa crescer, no sentido de aumentar a produção. A economia capitalista está fundada no princípio de que viver economicamente é produzir riqueza, quando a questão realmente crítica é redistribuir a riqueza existente.

Mas aí você toca na parte mais difícil, os privilégios… E a mudança parece ainda mais distante, quase impossível.

Eduardo – É verdade. Os grandes produtores de petróleo têm todo interesse em tirar até a última gota de petróleo do chão, mas eles também não são completamente imbecis. E estão se preparando para monopolizar outras riquezas no futuro que possam vir a ser a mercadoria realmente importante. Por exemplo, água. Eu não tenho a menor dúvida de que existem planos estratégicos das grandes companhias petrolíferas para a passagem de produtoras de petróleo a produtoras de água, que será a mercadoria escassa. Você pode viver sem petróleo, você pode viver sem luz, inclusive, mas você não pode sobreviver sem água. A minha impressão é que, assim que passar a eleição, São Paulo vai entrar numa vida de science fiction. O que é uma megalópole sem água?

Acho que saberemos em breve…

“São Paulo é uma espécie de laboratório do mundo. Tudo está acontecendo de maneira acelerada”

Eduardo – É mais fácil você dizer que a culpa é do (Geraldo) Alckmin (governador de São Paulo, pelo PSDB), que não tomou as medidas necessárias. É mais fácil do que dizer: isso aí é o efeito de São Paulo ter cimentado todo o seu território, se transformado num captor térmico gigantesco, só com cimento, asfalto e carro jogando gás carbônico. Desapareceu a garoa, não existe mais a garoa em São Paulo. A Amazônia foi e está sendo desmatada por empresários paulistas. São Paulo é uma metáfora, mas não é só uma metáfora. São Paulo está destruindo a Amazônia e está sofrendo as consequências disso. Acho que São Paulo é um laboratório espetacular, no sentido não positivo da palavra. É como se estivesse passando em fast forward, acelerado, tudo o que está acontecendo no mundo. Explodiu a quantidade de carros, explodiu a poluição, explodiu a falta de água, explodiu a violência, explodiu a desigualdade. Em suma, São Paulo é uma espécie de laboratório do mundo, neste sentido. Não só São Paulo, há outras cidades iguais, mas São Paulo é a mais próxima de nós, e estamos vendo o que está acontecendo.

E por que as pessoas não conseguem fazer a conexão, por exemplo, entre a seca em São Paulo e o desmatamento na Amazônia?

Eduardo – Porque é muito grande a coisa. Há um pensador alemão, o Günther Anders, que foi o primeiro marido da Hannah Arendt. Ele fugiu do nazismo e virou um militante antinuclear, especialmente entre o fim da década de 40 e os anos 70. Ele diz que a arma nuclear é uma prova de que aconteceu alguma coisa com a humanidade, na medida em que ela se tornou incapaz de imaginar o que é capaz de fazer. É uma situação antiutópica. O que é um utopista? Um utopista é uma pessoa que consegue imaginar um mundo melhor, mas não consegue fazer, não conhece os meios nem sabe como. E nós estamos virando o contrário. Nós somos capazes tecnicamente de fazer coisas que não somos nem capazes de imaginar. A gente sabe fazer a bomba atômica, mas não sabe pensar a bomba atômica. O Günther Anders usa uma imagem interessante, a de que existe essa ideia em biologia da percepção de fenômenos subliminares, abaixo da linha de percepção. Tem aquela coisa que é tão baixinha, que você ouve mas não sabe que ouviu; você vê, mas não sabe que viu; como pequenas distinções de cores. São fenômenos literalmente subliminares, abaixo do limite da sua percepção. Nós, segundo ele, estamos criando uma outra coisa agora que não existia, o supraliminar. Ou seja, é tão grande, que você não consegue ver nem imaginar. A crise climática é uma dessas coisas. Como é que você vai imaginar um troço que depende de milhares de parâmetros, que é um transatlântico que está andando e tem uma massa inercial gigantesca? As pessoas ficam paralisadas. Dá uma espécie de paralisia cognitiva. Então as pessoas falam: “Não posso pensar nisso. Se eu pensar nisso, como é que eu vou dar conta? Você está dizendo que o mundo vai aquecer quatro graus… E o que vai acontecer? Então é melhor não pensar”. Bem, a gente acha que tem que pensar.

Déborah Danowski – Os indígenas, os pequenos agricultores, eles estão percebendo no contato com as plantas, com os animais, que algo está acontecendo. Eles têm uma percepção muito mais apurada do que a gente.

Eduardo – Como eles veem que o clima está mudando? No calendário agrícola de uma tribo indígena você sabe que está na hora de plantar porque há vários sinais da natureza. Por exemplo, o rio chegou até tal nível, o passarinho tal começou a cantar, a árvore tal começou a dar flor. E a formiga tal começou a fazer não-sei-o-quê. O que eles estão dizendo agora é que esses sinais dessincronizaram. O rio está chegando a um nível antes de o passarinho começar a cantar. E o passarinho está cantando muito antes de aquela árvore dar flor. É como se a natureza tivesse saído de eixo. E isso todos eles estão dizendo. As espécies estão se extinguindo, e a humanidade parece que continua andando para um abismo. O mundo vai, de fato, piorar para muita gente, para todo mundo. Só o que vai melhorar é a taxa de lucro de algumas empresas, e mesmo os acionistas delas vão ter que talvez tirar a casa de luxo que eles têm na Califórnia e jogar para outro lugar, porque ali vai ter pegado fogo. Se houver uma epidemia, um vírus, uma pandemia letal, violenta, tipo ebola, pode pegar todo mundo. Enquanto os sujeitos têm corpo de carne e osso, ninguém está realmente livre, por mais rico que seja, do que vai acontecer. Mas é evidente que quem vai primeiro soçobrar serão os pobres, os danados da Terra, os condenados da Terra. Algumas pessoas estão começando a se preocupar, mas não conseguem fazer parar, porque todas as outras estão empurrando. E você diz: “para, para, para!”. E você não consegue. Mas há muitas iniciativas pelo mundo de gente que percebeu que os estados nacionais, ou que as grandes tecnologias gigantescas, heroicas e épicas, não vão nos salvar. E que está nas nossas mãos nos salvarmos. Não está nas mãos dos nossos responsáveis. Não temos responsáveis. A ideia de que o governo é responsável por nós, a gente já viu que não é. Ele é irresponsável. Ele toma decisões irresponsáveis, destrói riquezas que ele não pode substituir, e, portanto, há um descrédito fortíssimo nas formas de representação.

Como os protestos de junho de 2013…

Eduardo – As crises de junho são crises de “não nos representa”. Isso não é só no Brasil. É como se tivesse havido uma espécie de fissura. É uma outra geração. Não deixa de ser parecido com 68, de certa maneira. Só que agora não é em torno de novas lutas, como gênero, sexualidade, etnia. Tudo isso continua, mas há uma outra coisa muito maior por cima: o que estamos fazendo com a Terra onde a gente vive? Vamos continuar comendo transgênico? Vamos continuar nos envenenando? Vamos continuar destruindo o planeta? Vamos continuar mudando a temperatura?

Pegando como gancho a nossa situação aqui no Brasil, com um governo desenvolvimentista, com grandes obras na Amazônia, transposição do rio São Francisco etc, gostaria que vocês falassem sobre a questão do pobre. Você afirma, de uma maneira muito original, Eduardo, que o pobre é um “nós” de segunda classe. A grande promessa seria tirá-lo da pobreza para ficar mais parecido com a única forma desejável de ser, a nossa. E o índio problematiza isso e, portanto, se torna um problema. O índio não se interessa em ser “nós”. Então eu queria que vocês explicassem melhor essa ideia e a situassem na política do atual governo para os pobres e para os índios.

“A história do Brasil é um processo de conversão do índio em pobre. É o que está acontecendo na Amazônia agora”

Eduardo – O capitalismo é uma máquina de fazer pobres. Inclusive na Europa. Os pobres não estão aqui, só. O pobre é parte integrante do sistema de crescimento. As pessoas acham que o crescimento diminui a pobreza. O crescimento, na verdade, produz e reproduz a pobreza. Na medida em que ele tira gente da pobreza, ele tem que criar outros pobres no lugar. O capitalismo conseguiu melhorar a condição de vida do operariado europeu porque jogou para o Terceiro Mundo as condições miseráveis. Então, era o operário daqui sendo explorado para que os pobres operários de lá fossem menos explorados. Essa oposição que eu fiz entre índio e pobre é, na verdade, uma crítica direta, explícita, a uma boa parte da esquerda, a esquerda tradicional, a velha esquerda que está no poder, que divide o poder por concessão da direita, dos militares e tal, e é muito voltada para a ideia de desenvolvimento. Uma coisa era o desenvolvimentismo do Celso Furtado, naquela época. Acho, inclusive, um insulto à memória dele. O Celso Furtado estava vivendo uma outra época, um outro mundo, um outro modelo. E as pessoas hoje continuam a falar essas palavras de ordem que têm 40, 50, 60 anos, como se fosse a mesma coisa. Mas, qual é o problema? O problema é que a esquerda de classe média, o intelectual de esquerda, vê o seu Outro essencialmente como um pobre. Pobre é uma categoria negativa, né? Pobre é alguém que se define pelo que não tem. Não tem dinheiro, não tem educação, não tem oportunidade. Então, a atitude natural em relação ao pobre, e isso não é uma crítica, é o ver natural, é que o pobre tem que deixar de ser aquilo. Para ele poder ser alguma coisa, ele tem que deixar de ser pobre. Então a atitude natural é você libertar o pobre, emancipar o pobre das suas condições. Tirá-lo do trabalho escravo, dar a ele educação, moradia digna. Mas, invariavelmente, esse movimento tem você mesmo como padrão. Você não se modifica, você modifica o pobre. Você traz o pobre para a sua altura, o que já sugere que você está por cima do pobre. Ao mesmo tempo, você torna o pobre homogêneo. Sim, porque se o pobre é definido por alguém que não tem algo, então é todo mundo igual.

E o que é um índio?

Eduardo – O índio, ao contrário, é uma palavra que acho que só existe no plural. Índio, para mim, é índios. É justamente o contrário do pobre. Eles se definem pelo que têm de diferente, uns dos outros e eles todos de nós, e por alguém cuja razão de ser é continuar sendo o que é. Mesmo que adotando coisas da gente, mesmo que querendo também a sua motocicleta, o seu rádio, o seu Ipad, seja o que for, ele quer isso sem que lhe tirem o que ele já tem e sempre teve. E alguns não querem isso, não estão interessados. Não é todo mundo que quer ser igual ao branco. O que aconteceu com a história do Brasil é que foi um processo circular de transformação de índio em pobre. Tira a terra, tira a língua, tira a religião. Aí o cara fica com o quê? Com a força de trabalho. Virou pobre. Qual foi sempre o truque da mestiçagem brasileira? Tiravam tudo, convertiam e diziam: agora, se vocês se comportarem bem, daqui a 200, 300, 400 anos, vocês vão virar brancos. Eles deixam de ser índios, mas não conseguem chegar a ser brancos. Pessoal, vocês precisam misturar para virar branco. Se vocês se esforçarem, melhorarem a raça, melhorarem o sangue, vai virar branco. O que chamam de mestiçagem é uma fraude. O nome é branqueamento. E é o que estão fazendo na Amazônia. É re-colonização. O Brasil está sendo recolonizado por ele mesmo com esse modelo sulista/europeu/americano. Essa cultura country que está invadindo a Amazônia junto com a soja, junto com o boi. E ao mesmo tempo transformando quem mora ali em pobre. E produzindo a pobreza. O ribeirinho vira pobre, o quilombola vira pobre, o índio vai virando pobre. Atrás da colheitadeira, atrás do boi, vem o programa de governo, vem o Bolsa Família, vem tudo para ir reciclando esse lixo humano que vai sendo pisoteado pela boiada. Reciclando ele em “pobre bom cidadão”. E aí a Amazônica fica liberada…

Como enfrentar isso?

“Qual foi a grande carta de alforria que o governo Dilma deu ao pobre? O cartão de crédito”

Eduardo – Se você olhar a composição étnica, cultural, da pobreza brasileira, você vai ver quem é o pobre. Basicamente índios, negros. O que eu chamo de índios inclui africanos. Inclui os imigrantes que não deram certo. Esse pessoal é essa mistura: é índio, é negro, é imigrante pobre, é brasileiro livre, é o caboclo, é o mestiço, é o filho da empregada com o patrão, filho da escrava com o patrão. O inconsciente cultural destes pobres brasileiros é índio, em larga medida. Tem um componente não branco. É aquela frase que eu inventei: no Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é. Então, em vez de fazer o pobre ficar mais parecido com você, você tem que ajudar o pobre a ficar mais parecido com ele mesmo. O que é o pobre positivado? Não mais transformado em algo parecido comigo, mas transformado em algo que ele sempre foi, mas que impedem ele de ser ao torná-lo pobre. O quê? Índio. Temos de ajudá-los a lutar para que eles mesmos definam seu próprio rumo, em vez de nos colocarmos na posição governamental de: “Olha, eu vou tirar vocês da pobreza”. E fazendo o quê? Dando para eles consumo, consumo, consumo.

Déborah – Fora a dívida, né.

Eduardo – Endividando, no cartão de crédito. Qual foi a grande carta de alforria que o governo Dilma deu ao pobre? O cartão de crédito. Hoje pobre tem cartão de crédito. Legal? Muito legal, sobretudo para as firmas que vendem as mercadorias que os pobres compram no cartão de crédito. Porque a Brastemp está adorando o cartão de crédito para pobre. As Casas Bahia estão nas nuvens. Porque o pobre agora pode se endividar.

E aí vêm os elogios à honestidade do pobre…

Eduardo – Eles, sim, pagam as dívidas, porque rico não paga. Eike Batista não paga dívida, mas a empregada morre de trabalhar para pagar o cartão de crédito. Eu provocava a esquerda, dizendo: “O que vocês não estão entendendo é o seguinte. Enquanto vocês tratarem o Outro como pobre, e portanto como alguém que tem que ser melhorado, educado, civilizado – porque no fundo é isso, civilizar o pobre! –, vocês vão estar sendo cúmplices de todo esse sistema de destruição do planeta que permitiu aos ricos serem ricos”.

Vocês afirmam que os índios são especialistas em fim do mundo. E que vamos precisar aprender com eles. No livro, há até uma analogia com o filme de Lars Von Trier, no qual um planeta chamado Melancolia atinge a Terra. Vocês dizem que, em 1492, o Velho Mundo atingiu o Novo Mundo, como um planeta que vocês chamam ironicamente de Mercadoria. O que os índios podem nos ensinar sobre sobreviver ao fim do mundo?

Eduardo – Eles podem nos ensinar a viver num mundo que foi invadido, saqueado, devastado pelos homens. Isto é, ironicamente, num mundo destruído por nós mesmos, cidadãos do mundo globalizado, padronizado, saturado de objetos inúteis, alimentado à custa de pesticidas e agrotóxicos e da miséria alheia. Nós, cidadãos obesos de tanto consumir lixo e sufocados de tanto produzir lixo. A gente invadiu a nós mesmos como se tivéssemos nos travestidos de alienígenas que trataram todo o planeta como nós, europeus, tratamos o Novo Mundo a partir de 1492. Digo “nós”, porque eu acho que a classe média brasileira, os brancos, no sentido social da palavra, não são europeus para os europeus, mas são europeus para dentro do Brasil. Nós, então, nos vemos como alienígenas em relação ao mundo. Como se a gente tivesse uma relação com o mundo diferente da relação dos outros seres vivos, como se os humanos fossem especiais. Não deixa de ser uma coisa importante na tradição do catolicismo e do cristianismo. O homem tem um lado que não é mundano, um destino fora do mundo. Isso faz com que ele trate o mundo como se fosse feito para ser pilhado, saqueado, apropriado. E a gente acaba tratando a nós mesmos como nós tratamos os povos que habitavam aqui no Novo Mundo. Ou seja, como gente a explorar, a escravizar, a catequizar e a reduzir. Esta é a primeira coisa que eu acho que os índios podem nos ensinar: a viver num mundo que foi de alguma maneira roubado por nós mesmos de nós.

E a segunda?

“Os índios são especialistas em fim do mundo, eles podem nos ensinar a viver melhor num mundo pior”

Eduardo – Acho que os índios podem nos ensinar a repensar a relação com o mundo material, uma relação que seja menos fortemente mediada por um sistema econômico baseado na obsolescência planejada e, portanto, na acumulação de lixo como principal produto. Eles podem nos ensinar a voltar à Terra como lugar do qual depende toda a autonomia política, econômica e existencial. Em outras palavras: os índios podem nos ensinar a viver melhor em um mundo pior. Porque o mundo vai piorar. E os índios podem nos ensinar a viver com pouco, a viver portátil, e a ser tecnologicamente polivalente e flexível, em vez de depender de megamáquinas de produção de energia e de consumo de energia como nós. Quando eu falo índio é índio aqui, na Austrália, o pessoal da Nova Guiné, esquimó… Para mim, índio são todas as grandes minorias que estão fora, de alguma maneira, dessa megamáquina do capitalismo, do consumo, da produção, do trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana. Esses índios planetários nos ensinam a dispensar a existência das gigantescas máquinas de transcendência que são o Estado, de um lado, e o sistema do espetáculo do outro, o mercado transformado em imagem. Eu acho que os índios podem também nos ensinar a aceitar os imponderáveis, os imprevistos e os desastres da vida com o “pessimismo alegre” (expressão usada originalmente pelo filósofo francês François Zourabichvili, com relação a Deleuze, mas que aqui ganha outros sentidos). O pessimismo alegre caracteriza a atitude vital dos índios e demais povos que vivem à margem da civilização bipolar que é a nossa, que está sempre oscilando entre um otimismo maníaco e um desespero melancólico. Os índios aceitam que nós somos mortais e que do mundo nada se leva. Em muitos povos indígenas do Brasil, e em outras partes do mundo, os bens do defunto são inclusive queimados, são destruídos no funeral. A pessoa morre e tudo o que ela tem é destruído para que a memória dela não cause dor aos sobreviventes. Acho que essas são as coisas que os índios poderiam nos ensinar, mas que eu resumiria nesta frase: os índios podem nos ensinar a viver melhor num mundo pior.

Como é um “pessimismo alegre”?

Eduardo – Acho que o pessimismo alegre é o que você encontra na favela carioca. É o que você encontra no meio das populações que vivem no semiárido brasileiro. É a mesma coisa que você encontra, em geral, nas camadas mais pobres da população. O fato de que você vive em condições que qualquer um de nós, da classe média para cima, consideraria materialmente intoleráveis. Mas isso não os torna seres desesperados, tristes, melancólicos, etc. Muito pelo contrário. É claro que eu não estou falando de situações dramáticas, de gente morrendo de fome. Isso aí não há ninguém que aguente. Mas, se você perguntar para o índio, ele vai dizer: estamos todos fritos, um dia o mundo vai acabar caindo na nossa cabeça, mas isso não impede que você se distraia, que se divirta, que ria um pouco dessa condição meio patética que é a de todo ser humano, em que ele vive como se fosse imortal e ao mesmo tempo sabe que vai morrer. Os índios não acham que o futuro vai ser melhor do que o presente, como nós, e portanto não se desesperam porque o futuro não vai ser melhor do que o presente, como a gente está descobrindo. Eles acham que o futuro vai ser ou igual ou pior do que agora, mas isso não impede que eles considerem isso com pessimismo alegre, que é o contrário do otimismo desencantado, que é um pouco o nosso. Do tipo estamos mal, mas vai dar tudo certo, a tecnologia vai nos salvar, ou o homem vai finalmente chegar ao socialismo. Os índios acham que tudo vai para as cucuias, mesmo. Mas isso não lhes tira o sono, porque viver é uma coisa que você tem que fazer de minuto a minuto, tem que viver o presente. E nós temos um problema, que é a dificuldade imensa em viver o presente. Os índios são pessoas que de fato vivem no presente no melhor sentido possível. Vamos tratar de viver o presente tal como ele é, enfrentando as dificuldades que ele apresenta, mas sem imaginar que a gente tem poderes messiânicos, demiúrgicos de salvar o planeta. Essa é um pouco a minha sensação. O pessimismo alegre é uma atitude que eu sinto como característica de quem tem que viver, e não simplesmente gente que acha que é a palmatória do mundo, que tem que pensar pelo mundo todo.

“Como é que a Dilma Rousseff pode dar Bolsa Família e ao mesmo tempo tornar a vida da Kátia Abreu cada vez mais fácil? Porque o dinheiro não sai do bolso dos ricos, mas da natureza”

Déborah – Acho que sobretudo depende da criação de relações com as outras pessoas. Em vez de você confiar na acumulação, que nos torna sempre tristes, porque está sempre faltando alguma coisa, precisamos sempre obter mais, acumular mais, etc, nós criamos relações com as pessoas que estão à nossa volta, com os outros seres, no meio dos quais nós vivemos.

Parece que há uma cegueira de parte do que se denomina esquerda, hoje, para compreender outras formas de estar no mundo, assim como para compreender desafios como os impostos pela mudança climática, como vemos no Brasil, mas não só no Brasil. Aqui, estamos num momento bem sensível do país, com Belo Monte e as grandes barragens previstas para o Tapajós. Supostamente, teríamos hoje duas candidatas de esquerda (Dilma Rousseff e Marina Silva) nos primeiros lugares da disputa eleitoral para a presidência, mas as questões socioambientais pouco são tocadas. Qual é a dificuldade?

Eduardo – Você tem pelo menos duas esquerdas, como se vê até pelas candidaturas. Só que, infelizmente, uma esquerda muito bem caracterizada, que é a da Dilma, e outra esquerda, representada pela Marina, em que falta capacidade para formular com clareza o que diferencia ela da outra. Essas duas esquerdas, de certa maneira, sempre existiram. Lá no início, na Primeira Internacional, essa fratura correspondeu à distinção entre os anarquistas e os comunistas. Mas hoje eu diria que você tem duas posições dentro da esquerda. Uma posição que a gente poderia chamar de “crescimentista”, centralista, que acha que a solução é tomar o controle do aparelho do Estado para implementar uma política de despauperização do povo brasileiro, dentro da qual a questão do meio ambiente não tem nenhuma importância. A Dilma chegou a cometer aquele famoso ato falho lá em Copenhagen (em 12/2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula), ao dizer: “O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Ato falho. Não era isso o que ela queria dizer, mas disse. Essa esquerda tem zero de sensibilidade ambiental. Ela poderia perceber que uma outra maneira de falar “ambiente” é falar “condições materiais de existência”. Falta de esgoto na favela é problema ambiental do mesmo jeito que desmatamento na Amazônia é problema ambiental. Não é de outro jeito, é do mesmo jeito. Mas, para essa esquerda, ar, água, planta, bicho não faz parte do mundo. São pessoas completamente antropocêntricas, que veem o mundo à disposição dos homens, para ser dominado, controlado e escravizado. Essa esquerda, que é a esquerda da Dilma, é uma esquerda velha, no sentido de que é uma esquerda que, na verdade, pensa como se 1968 não tivesse acontecido. É alguém com uma espécie de nostalgia da União Soviética…

Déborah – Com nostalgia do que nunca aconteceu.

Eduardo – Soviet mais eletricidade, a famosa fórmula do Lenin. O que é o comunismo? O comunismo são os soviets, que são os conselhos operários, mais eletricidade, isto é, mais tecnologia. Aí eu brincava, quando a Dilma tomou o poder: “A Dilma é isso, só que sem o soviet”. É só eletricidade… Ou seja, capitalismo. O que distinguia o socialismo comunista do Lenin era a tecnologia moderna mais a organização social comunista. Se você tira a organização comunista só sobra o capitalismo. Então essa esquerda é uma esquerda sócia do capitalismo. Acha que é preciso levar o capitalismo até o fim, para que ele se complete, para que a industrialização se complete, para que a transformação de todos os índios do mundo em pobres se complete. Para que você então transforme o pobre em proletário, o proletário em classe revolucionária, ou seja, é uma historinha de fadas. Como se pudesse separar a parte boa da parte ruim do capitalismo. Como se fosse possível: isso aqui eu quero, isso aqui eu não quero. Outra coisa, essa esquerda fez um pacto satânico com a direita, que é o seguinte: a gente gosta dos pobres, quer melhorar a vida deles, quer melhorar o nível de renda deles, mas não vai tocar no bolso de vocês, fiquem tranquilos. É o que está dito na Carta ao Povo Brasileiro (documento escrito por Lula na campanha eleitoral de 2002). Pode deixar, que a gente não vai fazer a revolução, não vai ser Robin Hood, ao contrário. E foi exatamente isso o que aconteceu. Ou seja, os bancos nunca lucraram tanto. O Brasil optou por se transformar num exportador de commodities e virar uma verdadeira plantation, como ele era desde o começo. Era exportador de matéria-prima para o centro do império, agora para a China. Mas o pacto foi esse: a gente governa se, primeiro, não prender os militares, não acertar as contas com a ditadura; e, segundo, não mexer no bolso dos ricos, não tocar na estrutura do capital. Veja o tamanho das algemas que a esquerda se pôs. De onde é que vai vir, então, a grana para melhorar a vida dos pobres? Só tem um lugar. Da natureza. Então você superexplora, você queima os móveis da casa. Aumentou o dinheiro disponível para dar umas migalhas para os pobres, o bolo cresceu. Não é por acaso que o Delfim Netto (ministro da Fazenda no período do chamado “Milagre Econômico Brasileiro”, na ditadura civil-militar) é um grande conselheiro do Lula. Primeiro é preciso crescer para depois distribuir. Está crescendo, está dando renda para os pobres, mas esse dinheiro não está saindo do bolso dos ricos. Está saindo da natureza, da floresta destruída. É da água que a gente está exportando para a China sob a forma de boi, de carne e de soja. Estamos comendo o principal para não tocar no bolso dos ricos. E assim a Dilma sai passeando com a Kátia Abreu (senadora pelo PMDB, representante do agronegócio e a principal líder da bancada ruralista do Congresso) e dá Bolsa Família. Como é que a Dilma consegue ao mesmo tempo dar Bolsa Família e tornar a vida da Kátia Abreu cada vez mais fácil? O dinheiro tem que sair de algum lugar. Não está saindo de empréstimo internacional, mas está saindo de empréstimo natural. Esse empréstimo não dá para pagar. Quando a natureza vier cobrar, estaremos fritos. E a natureza está cobrando de que forma? Seca, tufão, furacão, enchente… E no Brasil ainda não chegou a barra pesada. Outro problema desta esquerda é que ela não tem nenhuma noção de mundo, de planeta. Ela pensa o Brasil. Ela é nacionalista em todos os sentidos. Vê curto. Ela vê o Brasil no mundo quando se trata do mercado. Agora, quando se trata do planeta, enquanto casa das espécies, lugar onde nós moramos, ela não está nem aí. O fato de que o Ártico está derretendo não é um problema para o Brasil. Pré-Sal ser um problema para o planeta? Não queremos saber. É uma esquerda xenófoba, neste sentido. Ela não percebe que o Brasil é grande, mas o mundo é pequeno. A Dilma, para mim, é um fóssil. Tem pensamento fossilizado. Ela não está nem no século 20, ela está no século 19.

E a esquerda que a Marina representaria?

“A Marina Silva representaria uma esquerda pós-68, mais democrática e menos vertical, mas ela perdeu o rumo”

Eduardo – Essa é uma esquerda pós-68, que incorporou aquilo que apareceu em 1968, de que dentro da luta de classes há muitas outras lutas. Há a luta das mulheres, a luta dos índios, a luta dos homossexuais… Enfim, todas essas outras formas de pensar as diferenças sociais que não se reduz à questão dos ricos e dos pobres. A pobreza não é uma categoria econômica, mas uma categoria existencial que envolve justiça. E a justiça não é só dar dinheiro para o pobre, mas reconhecer todas essas diferenças que são ignoradas e que explodiram em 1968. A política mudou porque, primeiro, em 68 o socialismo começou a se desacreditar. Não esqueçamos que o Partido Comunista Francês foi contra 1968. Apoiou a repressão policial exatamente como a esquerda oficial apoiou baixar a porrada nos manifestantes de junho de 2013. Ela apoiou a repressão policial à revolta de 68, que não foi francesa, foi mundial. Em 1968 foi a Marcha dos 100.000 aqui, foi a revolta contra a guerra do Vietnã nos Estados Unidos, foi a revolta propriamente dita na França, na Itália e em outros países. Ou seja, foi uma revolução mundial. E nós estamos vivendo, de lá até hoje, a contrarrevolução mundial. A direita retomou o poder e falou: “Temos que impedir que isso aconteça de novo”.

E como a Marina representaria essa esquerda pós-68?

Eduardo – É uma esquerda em que o pobre urbano operário não é mais o personagem típico. Mas é quem? É o índio, o seringueiro, é a mulher, é o negro. A Marina acumula várias identidades…

Déborah – Como você escreveu, Eliane, no seu artigo sobre as diferenças entre os Silvas

Eduardo – Isso. O Lula é o representante do sonho brasileiro de ser como o norte do planeta, os Estados Unidos. Como diz o (antropólogo) Beto Ricardo (um dos fundadores do Instituto Socioambiental), o Brasil é como se fosse dividido entre uma grande São Bernardo e uma grande Barretos. Quer dizer, a zona rural vai ser como Barretos (cidade do interior paulista onde se faz a maior festa country do país): gado, rodeio, bota, chapéu e 4X4. E a parte urbana vai ser uma grande São Bernardo (cidade do chamado ABC Paulista, onde Lula se tornou líder sindical metalúrgico nas grandes greves da virada dos anos 70 para os 80): fábricas, metalurgia, motores, carros. A Marina representaria o outro lado. Essa outra esquerda, muito mais democrática, que aposta menos na organização vertical, autoritária, centralista, clássica dos partidos de esquerda comunista. Embora o PT não seja um partido comunista, nem de longe, é um partido que incorporou vários ex-comunistas, várias pessoas que têm a concepção de que é preciso tomar o Estado, o poder central, para instalar o socialismo, digamos.

E a Marina consegue representar essa outra esquerda?

“O centro do Brasil não é São Paulo, mas a Amazônia”

Eduardo – A Marina está numa posição equívoca, porque ela representa um tipo de pensamento que deveria estar nas ruas, e não no Estado. Deveria estar mobilizando a população, a chamada sociedade civil, e não disputando a presidência num sistema político corrupto, que é praticamente impossível de mexer. Acho que estamos num sistema político com um nó cego e só sairíamos disso aí, literalmente, com uma insurreição popular que forçasse o poder a se auto-reformar. Nestas condições, o governo da Marina é um governo impossível, sob certo ponto de vista. Na minha opinião, depois que ela saiu daquela primeira eleição em 2010 com 20 milhões de votos, tinha que ter saído da lógica da política partidária e se transformado numa líder de movimento social. Uma pessoa capaz de exprimir todo esse jogo de diferenças que tem no Brasil. Ela era líder seringueira, do povo da floresta. Estava lutando pelo ambiente. Essas questões foram sumindo e, quando houve a tentativa de pendurar na campanha dela essas outras lutas para as quais ela pessoalmente não estava preparada – aborto, direitos da mulher, direitos dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros) –, aí ela ficou travada por toda a outra composição dela, que é com o eleitorado evangélico. Então ela também tem o seu problema por ali. Mas o problema principal não é esse. Eu acho que a Marina representa a outra esquerda, a esquerda horizontalista, localista, ambientalista, que entende que é de baixo para cima que as coisas se organizam, mas ela está envolvida num processo eleitoral que é todo o contrário disso. Eleição é um momento de lazer, no sentido de que a população pensa que tem poder, porque pode escolher seus governantes, e depois da eleição volta à posição passiva. Se você tenta sair da posição passiva fora do período eleitoral, a polícia vem e bate em você. Você só pode se manifestar durante as eleições, o povo só pode ser político durante as eleições. Hoje só há dois tipos de cidadão no Brasil: o eleitor e o vândalo. O eleitor só tem uma vez a cada dois, quatro anos, e o resto do tempo você tem que ser vândalo. Ou ficar quietinho em casa, pegando propaganda, sonhando com seu carro e juntando dinheiro para ir para Miami. Acho que a Marina perdeu o rumo. Tenho uma admiração imensa por ela, pessoal, coisa que eu não tenho por nenhum outro. Tenho uma admiração pelo Lula, em outro sentido. Esse cara é incrível, tem um carisma político, mas não o conheço pessoalmente. A Marina, que eu conheço pessoalmente, é uma pessoa fantástica. Inteligentíssima. E é uma pessoa de enorme elegância, no amplo sentido da palavra. Mas ela tem que agradar todo mundo, o que é impossível. Se ela for presidente, espero que ela tenha contado a mentira certa. Isto é, que ela engane, que ela traia, quem merece ser traído. E não, como fez a Dilma, trair quem não merecia ser traído. A Marina não aproveitou a oportunidade para se colocar como uma candidata realmente alternativa. Eu não entendi ainda o que ela está dizendo que seja diferente da Dilma. Não entendi.

Déborah, em sua exposição no colóquio, você falou sobre a esquerda e a direita, a partir de (Gilles) Deleuze (filósofo francês), de uma forma muito interessante….

Déborah – Na verdade, isso é uma definição dele num vídeo que se chama Abecedário. Ele tem outras definições de esquerda, como, por exemplo, que o papel da esquerda é pensar; e que a esquerda coloca questões que a direita quer a todo custo esconder. Essa da percepção é uma que gosto especialmente porque me ajuda a reconhecer posições de direita ou de esquerda. Ser de esquerda é até mais uma questão de percepção do que de conceito. O ser de direita é sempre perceber as coisas a partir de si mesmo, como num endereço postal. Assim: eu, aqui, neste lugar, na minha casa, na rua tal, na praia de Botafogo, Flamengo, Rio de Janeiro, América do Sul. E você pensa o mundo, ali, como uma extensão de si mesmo. E cada vez que você se afasta, vai perdendo interesse, a coisa vai decaindo de valor. E ser de esquerda é o contrário: vai do horizonte até a casa.

Eduardo – Esse pensar a partir de si mesmo significa: como é que eu posso me manter onde estou e não perder nada? Como é que eu posso preservar os meus privilégios, mexer no mundo sem mexer em mim?

Déborah – Acho que a Dilma, o PT, têm sido de direita nesse sentido. O que importa é estender seus próprios privilégios aos outros, trazer os outros para si mesmo, mas pensando a partir de si mesmo. O que eu sou é o que eles devem ser também. Eu continuo a ser o que eu era e dou aos outros um pouco do que eu sou, e no melhor dos mundos eles vão acabar sendo iguais a mim. E a Marina é – ou seria – essa outra maneira de pensar, a partir da floresta, a partir desses outros povos, seria pensar nas outras possibilidades de ser diferente.

“Para imaginar o não fim do mundo é preciso imaginar o fim do capitalismo”

Eduardo – É pensar que o centro do Brasil é a Amazônia, e não São Paulo. No sentido de que é lá que está se decidindo o futuro do Brasil, não em São Paulo. É o que a gente fizer lá, com as pessoas de lá, que vai definir o que o Brasil vai ser. O Brasil vai ser todo São Paulo? Igual a São Paulo? É isso o que a gente quer? Uma grande São Paulo? Ou a gente quer, ao contrário, que o Brasil se “amazonize”, que o que resta de Amazônia no Brasil possa contaminar o Brasil que se “desamazonizou”. A Mata Atlântica sumiu. A gente não quer voltar tudo, mas a gente quer que a Amazônia nos ensine a voltar a ser Mata Atlântica. A gente quer que a Amazônia nos ensine como os pobres da cidade podem voltar a ser um pouco índios. E a gente sabe que, do ponto de vista geopolítico, histórico, a Amazônia é o centro do Brasil. É lá que está rolando tudo. E o pessoal fica discutindo a eleição em São Paulo. É bom que discuta. Tem que discutir a água de São Paulo, é claro. Mas como é que se discute a água de São Paulo? É por causa da Amazônia que está faltando água em São Paulo. É por causa do que estamos fazendo na Amazônia que estamos sofrendo falta de água aqui. Ah, mas a ligação não é direta. Claro que não é direta. Mas existe, e é por ela que a coisa passa. A plataforma da Dilma, no fundo, é isso. Você olha a partir de São Paulo, Brasília, Rio… Você olha a Amazônia a partir de onde você está e vê a Amazônia lá no fundo. Ou então você pode olhar o Brasil a partir da Amazônia e se perguntar o que isso significa. Isso é sair de onde eu estou, é mudar minha posição.

Acho que foi a Isabelle Stengers (filósofa belga) que disse que “o capitalismo pode não se preocupar com a atmosfera, mas é muito mais grave que a atmosfera não se preocupe com o capitalismo”. Você, Eduardo, afirma que é mais fácil imaginar o fim do capitalismo do que o fim do mundo, mas que teremos de imaginar os dois. Mas quem fala no fim do capitalismo é visto como alguém que está viajando, que está fora da realidade. Se essa é também uma crise de imaginação, como fazer isso, na medida em que seria imaginação contra poder?

Eduardo – O ambiente, o clima, a atmosfera estão mudando mais depressa do que o capitalismo, do que a sociedade. O Obama falou isso agora. A gente sempre imaginou a sociedade mudando num ritmo muito mais rápido do que a natureza, que era um pano de fundo imóvel para a história do homem. O fato de que o capitalismo não acaba é a razão pela qual o mundo está acabando, vamos dizer assim. O capitalismo – esse sistema socioeconômico e técnico, instalado desde o começo da modernidade, com a invasão da América, alterações no sistema de propriedade, mudanças técnicas que sobrevieram na Europa ali no começo do século 16, acentuando-se de maneira dramática com a industrialização e o uso de combustíveis fósseis no século 18 – é o responsável pelo estado presente do mundo. Ou seja, para imaginar o não fim do mundo, nós temos que imaginar o fim do capitalismo. E isso é extremamente difícil. Porque a questão do capitalismo nunca foi substituir, mas somar, sobrepor. Então nós temos hoje o quê? Nunca se consumiu tanto carvão quanto se consome agora. Então essa coisa de que o petróleo iria substituir o carvão, porque o petróleo é menos poluente do que o carvão, não é verdade. Está se consumindo mais carvão do que petróleo. Agora está se usando energia nuclear, energia eólica, energia solar. Isso não baixou o consumo de petróleo. O que está acontecendo é que nós estamos acrescentando fontes de energia, ou seja, não para nunca. Quanto mais melhor.

E como se imaginaria o fim do capitalismo?

Eduardo – O fim do capitalismo, provavelmente, não virá do esgotamento das fontes energéticas. Ele virá de outro lugar. Ele virá, provavelmente, de catástrofes climáticas, sociais, políticas. Aí já me permito sonhar um pouco. Com uma certa capacidade de a população planetária pouco a pouco ir criando pequenos bolsões alternativos de deserção. Enfim, uma certa “indianização” da população, na tentativa de se tornar independente das fontes globais de mercadoria, dos sistemas globais de transporte e de energia e lutar pelo mínimo de autossuficiência local, como já vem acontecendo em muitos lugares do planeta. Com ênfase no município, na comunidade, nos governos locais, nos arranjos locais, no transporte de curta distância, no consumo de produtos produzidos não muito longe de casa. Acho que vai haver uma certa contração da economia, porque é muito possível que essas crises afetem os sistemas mundiais de distribuição de energia. Veja essa seca de São Paulo. O que é isso? Isso significa que, enfim, essas cidades gigantescas que dependem de redes gigantescas de aprovisionamento de energia, de água, de eletricidade, etc, vão se tornar inviáveis. Acho que nós tendemos a um mundo de bairros, mais do que a um mundo de megalópoles. A tendência vai ser você criar um mundo onde as relações de vizinhança, a usina solar local, as hortas comunitárias, os governos de vereança local vão se tornar cada vez mais importantes. Acho que vai haver uma inversão da política, cada vez mais de baixo para cima do que de cima para baixo. Ou, pelo menos, a pressão de baixo para cima vai tender a contrabalançar a pressão de cima para baixo exercida pelas grandes companhias de petróleo, pelos governos nacionais, pelos grandes tomadores de decisão do mundo. Eles vão começar a se defrontar com uma multiplicação de ações locais, uma multiplicação de iniciativas cidadãs, se você quiser, que vão se parecer mais com o índio do que com o turista globetrotter que atravessa o planeta como se tivesse sempre no mesmo lugar em toda a parte. Acho que essa é uma maneira de imaginar o fim do capitalismo.

Déborah – Mas acho que isso não basta, porque será necessário um enfrentamento. Senão fica parecendo que cada um saindo para por em prática sua ação local seria o suficiente…

Eduardo – Vai haver sangue, como se diz. Lembremos que a Primavera Árabe teve como um dos fatores fundamentais uma crise brutal de abastecimento alimentar. De pão, particularmente. De trigo. O governo chinês tem tomado medidas dramáticas de redução da poluição e de tentativa de baixar um pouco a bola, porque está havendo uma grande quantidade de revoltas populares, de motins, dessas coisas que a gente não sabe, porque a Muralha na China é altíssima em termos de censura. Mas está havendo uma reação das populações locais, que estão brigando com os governos e pressionando para que ele tome medidas. O futuro nos reserva grandes acontecimentos ruins em termos de catástrofes climáticas, de fome, de seca…

Para vocês, qualquer saída, se há saída, passa pela recusa do excepcionalismo humano. Apareceu várias vezes no colóquio esse mundo de humanos e não humanos horizontalizados. Como seria esse mundo e como mudar uma forma de funcionar, na qual a visão de si mesmo como centro está confundida com a própria identidade do que é ser um humano?

“O símbolo de nossa relação com o mundo é o drone. Somos todosdrones

Eduardo – Tem uma frase que o Lévi-Strauss escreveu certa vez, que é muito bonita. Ele diz que nós começamos por nos considerarmos especiais em relação aos outros seres vivos. Isso foi só o primeiro passo para, em seguida, alguns de nós começar a se achar melhores do que os outros seres humanos. E nisso começou uma história maldita em que você vai cada vez excluindo mais. Você começou por excluir os outros seres vivos da esfera do mundo moral, tornando-os seres em relação aos quais você pode fazer qualquer coisa, porque eles não teriam alma. Esse é o primeiro passo para você achar que alguns seres humanos não eram tão humanos assim. O excepcionalismo humano é um processo de monopolização do valor. É o excepcionalismo humano, depois o excepcionalismo dos brancos, dos cristãos, dos ocidentais… Você vai excluindo, excluindo, excluindo… Até acabar sozinho, se olhando no espelho da sua casa. O verdadeiro humanismo, para Lévi-Strauss, seria aquele no qual você estende a toda a esfera do vivente um valor intrínseco. Não quer dizer que são todos iguais a você. São todos diferentes, como você. Restituir o valor significa restituir a capacidade de diferir, de ser diferente, sem ser desigual. É não confundir nunca diferença e desigualdade. Não é por acaso que todas as minorias exigem respeito. Respeitar significa reconhecer a distância, aceitar a diferença, e não simplesmente ir lá, tirar os pobrezinhos daquela miséria em que eles estão. Respeitar quer dizer: aceite que nem todo mundo quer viver como você vive.

O atual governo, por exemplo, assim como setores da sociedade brasileira, parecem ter dificuldade de reconhecer os índios, os ribeirinhos e os quilombolas no caminho das grandes obras como gente. Se isso é difícil quando se trata de humanos, é imensamente mais difícil respeitar as diferenças dos animais ou das árvores, que, nesse conceito de excepcionalidade que atravessa a nossa forma de enxergar o mundo – e nós no mundo – estão a serviço dos humanos…

Eduardo – Uma coisa é você dizer que os animais são humanos, no sentido de direitos humanos. Outra coisa é dizer que os animais são pessoas, isto é, são seres que têm valor intrínseco. É isso o que significa ser pessoa. Reconhecer direitos aos demais viventes não é reconhecer direitos humanos aos demais viventes. É reconhecer direitos característicos e próprios daquelas diferentes formas de vida. Os direitos de uma árvore não são os mesmos direitos de um cidadão brasileiro da espécie homo sapiens. O que não quer dizer, entretanto, que ela não tenha direitos. Por exemplo, o direito à existência, que só pode ser negado sob condições que exigem reflexão. Os índios não acham que as árvores são iguais a eles. O que eles acham simplesmente é que você não faz nada impunemente. Todo ser vivo, com exceção dos vegetais, tem que tirar a vida de um outro ser vivo para sobreviver. A diferença está no fato de que os índios sabem disso. E sabem que isso é algo sério. Nós estamos acostumados a fazer a nossa caça nos supermercados, não somos mais capazes de olhar de frente uma galinha antes de matá-la para comer. Assim, perdemos a consciência de que nós vivemos num mundo em que viver é perigoso e traz consequências. E que comer tem consequências. Os animais seriam pessoas no sentido de que eles possuem valor intrínseco, eles têm direito à vida, e só podemos tirar a vida deles quando a nossa vida depende disso. Isso é uma coisa que, para os índios, é absolutamente claro. Se você matar à toa, você vai ter problemas. Eles não estão dizendo que é tudo igual. Eles estão dizendo que tudo possui um valor intrínseco e que mexer com isso envolve você mesmo. Acho que o símbolo da nossa relação com o mundo, hoje, é o tipo de guerra que os Estados Unidos fazem com os drones, aqueles aviões não tripulados, ou apertando um botão. Ou seja, você nem vê a desgraça que você está produzindo. Nós todos, hoje, estamos numa relação com o mundo cujo símbolo seria o drone. A pessoa está lá nos Estados Unidos apertando um botão num computador, aquilo vai lá para o Paquistão, joga uma bomba em cima de uma escola, e a pessoa que apertou o botão não está nem sabendo o que está acontecendo. Ou seja, nós estamos distantes. As consequências de nossas ações estão cada vez mais separadas das nossas ações.

Perderam-se os sentidos e as conexões entre morrer e matar…

Eduardo – Exatamente. Ou seja, o índio que vai para o mato e tem que flechar o inimigo, ele tem que arcar com as consequências psicológicas, morais, simbólicas disso. Aquele soldadinho americano que está num quartel nos Estados Unidos, apertando um botão, ele nem sabe o que está fazendo. Porque ele está longe. Você cada vez mais distancia os efeitos das suas ações de você mesmo. Então nós somos todos dronesnesse sentido. A gente compra carne no supermercado quadradinha, bem embaladinha, refrigeradinha, sem cara de bicho. E você está o mais longe possível daquela coisa horrorosa que é o matadouro. Daquela coisa horrorosa que são as fazendas em que as galinhas estão enfiadas em gaiolas apertadas. Se o pessoal lembrar que 50% das galinhas que nascem são galos e que esses 50% que nascem são triturados ao nascer para virar ração animal porque não colocam ovos, talvez não conseguissem comer galinhas. Se você mostrasse que metade dos pintinhos vão todos vivos para uma máquina que tritura, talvez melhorasse um pouco. Mas as pessoas não querem saber disso. Nisso, nós somos iguaizinhos ao soldado americano que aperta o botão para matar inocentes no Paquistão. Nós fazemos a mesma coisa com as galinhas. Nós somos todos drones. Temos uma relação com o mundo igual à que os Estados Unidos tem com suas máquinas de guerra. Somos como os pilotos da bomba atômica que não sabiam bem o que estavam fazendo quando soltaram a bomba atômica em cima de Hiroshima. Dissociação mental. Essa coisa de não se dar conta do que a gente está fazendo, por um lado está aumentando. Mas, por outro lado, com a mudança climática, as pessoas estão começado a perceber que o que elas estão fazendo está influenciando o mundo. Estamos num momento crucial: por um lado o aumento brutal do modelo drone, com tudo cada vez mais distante, e, por outro, as catástrofes batendo na sua porta. O mar está subindo, o furacão está chegando, a seca está vindo.

Eu queria terminar perguntando o seguinte: vocês escrevem que tudo o que pode ser dito sobre a mudança climática se torna anacrônico e tudo o que se pode fazer a respeito é necessariamente pouco e tarde demais. Então, o que fazer? Como sonhar outros sonhos, como diz Isabelle Stengers? Ou como dançar para que o céu não caia na nossa cabeça, como fazem os índios?

Déborah – É tarde demais para algumas coisas, mas não para outras. Disso a gente não pode esquecer nunca. Por exemplo: nós não podemos fazer sumir em curto, médio ou longo prazo com esses gases de efeito estufa. E nem com o forte desequilíbrio energético que nós já causamos, já imprimimos ao sistema climático da Terra. E como as emissões continuam aumentando, acho que não seria razoável esperar, politicamente, que essas emissões sejam estancadas de uma hora para outra.

Eduardo – O mundo está esquentando e não vai parar de esquentar mesmo se a gente parar agora. Já começou um processo que é irreversível, até certo ponto.

Déborah – Então, uma parte do que vai acontecer não depende mais das nossas decisões e ações presentes. Já é passado. Mas existe uma diferença enorme entre um aquecimento de dois graus e um aquecimento de, sei lá, quatro e seis graus. Essa diferença é a diferença entre um mundo difícil e um mundo hostil à espécie humana e a várias outras espécies. Quer dizer, a diferença se traduz entre milhares de mortes por ano em virtude de eventos extremos e milhões de flagelados do clima, de vítimas fatais, talvez centenas de milhões, até, como alguns chegam a dizer. Isso sem contar as outras espécies. Então, não podemos nos dar ao luxo de nos desesperarmos, eu acho.

O desespero é um luxo?

Déborah – É, o desespero seria um luxo. Se a gente pensa em nós mesmos, nos nossos filhos, e nos outros viventes que existem e que vão existir, se desesperar não é uma opção. Então, por um lado a gente tem que fazer o que puder para mitigar essas emissões, para criar também condições de adaptação das diferentes populações, dos ecossistemas, aos efeitos do aquecimento global. Isso em relação ao que já foi e ao que ainda vai ser, que não poderemos evitar. E, por outro lado, nós temos que fazer, como diz Donna Haraway (filósofa americana), numa expressão que é muito boa, mas que não dá muito para traduzir em português: stay with the trouble. Ficar, viver com o problema. Aguentar. Não é só aguentar o tranco. É: sim, temos esse mundo empobrecido, mas nós vamos viver com ele. O que significa viver como a grande maioria das pessoas já vive. Pessoas que não podem se proteger desse mundo que a gente criou, ou acha que criou. Há uma porção de populações que stay with the trouble há muito tempo, e a gente vai ter que aprender com elas.

Eduardo – A gente vai ter que aprender a ter sociedades com capacidade de mudar de escala. Imagina uma aldeia indígena, numa ilha, em que o mar sobe um metro. Será necessário mudar a aldeia de lugar porque o mar subiu um metro. Vai ter que entrar mais para dentro da costa. É chato, tal, mas ela muda de lugar. Agora, imagina Nova York. Os caras não vão conseguir tirar o Empire State do lugar. Ou seja, tem modos de vida em que é muito mais fácil se adaptar ao que vem por aí. Por um lado, a gente fala: quem vai se dar mal primeiro? Quem vai se dar mal primeiro com as mudanças climáticas vão ser os pobres. Eles é que vão ser os primeiros a sofrer. É verdade. Por outro lado, eu desconfio que eles vão ser os primeiros a sofrer e os primeiros a se virar.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes – o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: elianebrum.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

Money talks when it comes to acceptability of ‘sin’ companies, study reveals (Science Daily)

Date: July 30, 2014

Source: University of Toronto, Rotman School of Management

Summary: Companies who make their money in the ‘sin’ industries such as the tobacco, alcohol and gaming industries typically receive less attention from institutional investors and financial analysts. But new research shows social norms and attitudes towards these types of businesses are subject to compromise when their share price looks to be on the rise.


Companies who make their money in the “sin” industries such as the tobacco, alcohol and gaming industries typically receive less attention from institutional investors and financial analysts.

But new research shows social norms and attitudes towards these types of businesses are subject to compromise when their share price looks to be on the rise. A paper from the University of Toronto’s Rotman School of Management found that institutional shareholdings and analysts’ coverage of sin firms were low when firm performance was low but went up with rising performance expectations.

That suggests that market participants may ignore social norms and standards with the right financial reward.

“This is a way to test the trade-off between people’s non-financial and financial incentives. The boundary of people’s social norms is not a constant,” said researcher Hai Lu, an associate professor of accounting at the Rotman School. Prof. Lu co-wrote the paper with two former Rotman PhD students, McMaster University’s Kevin Veenstra and Yanju Liu, now with Singapore Management University.

The paper sheds light on why there can be a disconnect between the investment behaviour of Wall St. and the ethical expectations of ordinary people. It also suggests a worrisome implication that compromising one’s ethical values in the face of high financial rewards can become a social norm in itself.

On the brighter side, the paper also finds that strong social norms still have an influence over people’s behaviour. If social norms are strong enough and the price of ignoring them is high, this may act as a disincentive to disregard them in favour of other benefits.

This is the first study to examine whether the social acceptability of sin stocks can vary with financial performance. The researchers compared consumption and attitudinal data with information on sin firm stocks, analysts’ coverage and levels of institutional investment.

Journal Reference:

  1. Liu, Yanju and Lu, Hai and Veenstra, Kevin J. Is Sin Always a Sin? The Interaction Effect of Social Norms and Financial Incentives on Market Participants’ Behavior. Accounting, Organizations and Society, March 31, 2014 [link]

Luxury cruise line accused of offering ‘environmental disaster tourism’ with high-carbon footprint Arctic voyage (The Independent)

Cruise passengers will pay upwards of £12,000 to see polar bears and humpback whales in their natural habitat – before it disappears

ADAM WITHNALL
Tuesday 29 July 2014

A luxury cruise operator in the US has announced it will offer a “once-in-a-lifetime” trip to experience the environmental devastation of the Arctic – using a mode of transport that emits three times more CO2 per passenger per mile than a jumbo jet.

It will be the first ever leisure cruise through the Northwest Passage, only accessible now because of the melting of polar ice, and is being marketed at those with an interest in witnessing the effects of climate change first-hand.

Tickets for the trip, scheduled for 16 August 2016 and organised by Crystal Cruises, will cost between $20,000 (£12,000) and $44,000.

Yet there is no mention on Crystal Cruises’ promotion or FAQ for the journey of the boat’s own carbon footprint.

Up to 1,070 passengers will be taken on the 32-day expedition to see seals, walruses, humpback whales and musk-ox – though the company admits there is “no guarantee” of catching a glimpse of a polar bear.

The bulk of the voyage will take place on the Crystal Serenity, a 68,000-ton, 13-deck ship, though it will also be accompanied by an escort vessel and a helicopter.

Popular Science described the trip as “environmental disaster tourism”, and quoted research which suggests that the carbon footprint of a cruise ship, per passenger per mile covered, is triple that of a Boeing 747 flight.

The company said passengers may be able to see endangered polar bears while on the cruise

The company said passengers may be able to see endangered polar bears while on the cruise

The cruise promotion was criticised by social media users for giving people the opportunity to “see/help ruin the environment”, “watch the ravages of global warming in person and become a human vulture” and take a “high-carbon-footprint cruise to watch polar bears drown”.

World Ocean Observatory wrote: “Is no place safe from our intrusion, waste, and consumption?”

In an FAQ on its website, Crystal Cruises said 14 experts would be accompanying guests on the cruise to give lectures about the impacts on the environment around them of climate change, as well as the “historic” nature of their inaugural journey down the Northern Passage.

Company executive Thomas Mazloum told the website GCaptain: “During this voyage, speakers will enlighten guests on information regarding climate change, and how it has impacted this passage.

“With the recent retreat of polar ice, the time is right for us to lead the way within the travel industry, as Crystal has done throughout our 25-year history.”

Under the heading of “Environmental” on its FAQ, Crystal Cruises said both the main ship and escort vessel would “voluntarily use Marine Gas Oil, a low-sulphur fuel… well in excess of the existing environmental regulations”.

The Pricing of Everything (The Guardian)

The Natural Capital Agenda looks like an answer to the environmental crisis. But it’s a delusion.

By George Monbiot, published on the Guardian’s website, 24th July 2014

This is the transcript of George Monbiot’s SPERI Annual Lecture, hosted by the Sheffield Political Economy Research Institute at the University of Sheffield. The lecture was delivered without notes, and transcribed afterwards, so a few small changes have been made for readability, but it’s more or less as given. You can watch the video here.

“Ladies and gentlemen, we are witnessing the death of both the theory and the practice of neoliberal capitalism. This is the doctrine which holds that the market can resolve almost all social, economic and political problems. It holds that people are best served, and their prosperity is best advanced, by the minimum of intervention and spending by the state. It contends that we can maximise the general social interest through the pursuit of self-interest.

To illustrate the spectacular crashing and burning of that doctrine, let me tell you the sad tale of a man called Matt Ridley. He was a columnist on the Daily Telegraph until he became – and I think this tells us something about the meritocratic pretensions of neoliberalism – the hereditary Chair of Northern Rock: a building society that became a bank. His father had been Chair of Northern Rock before him, which appears to have been his sole qualification.

While he was a columnist on the Telegraph he wrote the following:

The government “is a self-seeking flea on the backs of the more productive people of this world. … governments do not run countries, they parasitize them.”(1) He argued that taxes, bail-outs, regulations, subsidies, interventions of any kind are an unwarranted restraint on market freedom. When he became Chairman of Northern Rock, Mr Ridley was able to put some of these ideas into practice. You can see the results today on your bank statements.

In 2007 Matt Ridley had to go cap in hand to the self-seeking flea and beg it for what became £27 billion. This was rapidly followed by the first run on a British bank since 1878. The government had to guarantee all the deposits of the investors in the bank. Eventually it had to nationalise the bank, being the kind of parasitic self-seeking flea that it is, in order to prevent more or less the complete collapse of the banking system(2).

By comparison to Mr Ridley, the likes of Paul Flowers, our poor old crystal Methodist, were pretty half-hearted. In fact about the only things which distinguish Mr Flowers from the rest of the banking fraternity were that a) he allegedly bought his own cocaine and b) he singularly failed to bring the entire banking system to its knees.

Where’s Mr Ridley now? Oh, we don’t call him Mr Ridley any more. He sits in the House of Lords as a Conservative peer. That, ladies and gentlemen, is how our system works.

It is not just that neoliberalism has failed spectacularly in that this creed – which was supposed to prevent state spending and persuade us that we didn’t need state spending – has required the greatest and most wasteful state spending in history to bail out the deregulated banks. But also that it has singularly failed to create the great society of innovators and entrepreneurs that we were promised by the originators of this doctrine, by people like Friedrich Hayek and Milton Friedman, who insisted that it would create a society of entrepreneurs.

As Thomas Piketty, a name which is on everybody’s lips at the moment, so adeptly demonstrates in his new book, Capital in the Twenty-first Century, what has happened over the past thirty years or so has been a great resurgence of patrimonial capitalism, of a rentier economy, in which you make far more money either by owning capital or by positioning yourself as a true self-serving flea upon the backs of productive people, a member of an executive class whose rewards are out of all kilter with its performance or the value it delivers(3). You make far more money in either of those positions than you possibly can through entrepreneurial activity. If wealth under this system were the inevitable result of hard work and enterprise, every woman in Africa would be a millionaire.

So just at this moment, this perfect moment of the total moral and ideological collapse of the neoliberal capitalist system, some environmentalists stumble across it and say, “This is the answer to saving the natural world.” And they devise a series of ideas and theories and mechanisms which are supposed to do what we’ve been unable to do by other means: to protect the world from the despoilation and degradation which have done it so much harm.

I’m talking about the development of what could be called the Natural Capital Agenda: the pricing, valuation, monetisation, financialisation of nature in the name of saving it.

Sorry, did I say nature? We don’t call it that any more. It is now called natural capital. Ecological processes are called ecosystem services because, of course, they exist only to serve us. Hills, forests, rivers: these are terribly out-dated terms. They are now called green infrastructure. Biodiversity and habitats? Not at all à la mode my dear. We now call them asset classes in an ecosystems market. I am not making any of this up. These are the names we now give to the natural world.

Those who support this agenda say, “Look, we are failing spectacularly to protect the natural world – and we are failing because people aren’t valuing it enough. Companies will create a road scheme or a supermarket – or a motorway service station in an ancient woodland on the edge of Sheffield – and they see the value of what is going to be destroyed as effectively zero. They weigh that against the money to be made from the development with which they want to replace it. So if we were to price the natural world, and to point out that it is really worth something because it delivers ecosystems services to us in the form of green infrastructure and asset classes within an ecosystems market (i.e. water, air, soil, pollination and the rest of it), then perhaps we will be able to persuade people who are otherwise unpersuadable that this is really worth preserving.”

They also point out that through this agenda you can raise a lot of money, which isn’t otherwise available for conservation projects. These are plausible and respectable arguments. But I think they are the road to ruin – to an even greater ruin than we have at the moment.

Let me try to explain why with an escalating series of arguments. I say escalating because they rise in significance, starting with the relatively trivial and becoming more serious as we go.

Perhaps the most trivial argument against the Natural Capital Agenda is that, in the majority of cases, efforts to price the natural world are complete and utter gobbledygook. And the reason why they are complete and utter gobbledygook is that they are dealing with values which are non-commensurable.

They are trying to compare things which cannot be directly compared. The result is the kind of nonsense to be found in the Natural Capital Committee’s latest report, published a couple of weeks ago(4). The Natural Capital Committee was set up by this Government, supposedly in pursuit of better means of protecting the natural world.

It claimed, for example, that if fresh water ecosystems in this country were better protected, the additional aesthetic value arising from that protection would be £700 million. That’s the aesthetic value: in other words, what it looks like. We will value the increment in what it looks like at £700 million. It said that if grassland and sites of special scientific interest were better protected, their wildlife value would increase by £40 million. The value of their wildlife – like the chalk hill blues and the dog violets that live on protected grasslands – would be enhanced by £40 million.

These figures, ladies and gentlemen, are marmalade. They are finely shredded, boiled to a pulp, heavily sweetened … and still indigestible. In other words they are total gibberish.

But they are not the worst I’ve come across. Under the last Government, the Department for Transport claimed to have discovered “the real value of time.” Let me read you the surreal sentence in which this bombshell was dropped. “Forecast growth in the real value of time is shown in Table 3.”(5) There it was, the real value of time – rising on a graph.

The Department for Environment, when it launched the National Ecosystem Assessment in 2011, came out with something equally interesting. It said it had established “the true value of nature for the very first time”(6). Unfortunately it wasn’t yet able to give us a figure for “the true value of nature”, but it did manage to provide figures for particular components of that value of nature. Let me give you just one of these. It said that if we looked after our parks and greens well they would enhance our well-being to the tune of £290 per household per year in 2060.

What does it mean? It maintained that the increment in well-being is composed of “recreation, health and solace”; natural spaces in which “our culture finds its roots and sense of place”; “shared social value” arising from developing “a sense of purpose” and being “able to achieve important personal goals and participate in society” enhanced by “supportive personal relationships” and “strong and inclusive communities”(7). So you put solace and sense of place and social value and personal goals and supportive personal relationships and strong and inclusive communities all together into one figure and you come out with £290 per household per year.

All we require now is for the Cabinet Office to give us a price for love and a true value for society and we will have a single figure for the meaning of life.

I know what you’re thinking: it’s 42(8). But Deep Thought failed to anticipate the advent of Strictly Come Dancing, which has depreciated the will to live to the extent that it’s now been downgraded to 41.

It is complete rubbish, and surely anyone can see it’s complete rubbish. Not only is it complete rubbish, it is unimprovable rubbish. It’s just not possible to have meaningful figures for benefits which cannot in any sensible way be measured in financial terms.

Now there are some things that you can do. They are pretty limited, but there are some genuinely commensurable pay-offs that can be assessed. So, for instance, a friend of mine asked me the other day, “What’s the most lucrative investment a land owner can make?”. I didn’t know. “An osprey! Look at Bassenthwaite in the Lake District where there’s a pair of ospreys breeding and the owners of the land have 300,000 people visiting them every year. They charge them for car parking and they probably make a million pounds a year.”

You can look at that and compare it to what you were doing before, such as rearing sheep, which is only viable because of farm subsidies: you actually lose money by keeping sheep on the land. So you can make a direct comparison because you’ve got two land uses which are both generating revenue (or losing revenue) that is already directly costed in pounds. I’ve got no problem with that. You can come out and say there is a powerful economic argument for having ospreys rather than sheep.

There are a few others I can think of. You can, for instance, look at watersheds. There is an insurance company which costed Pumlumon, the highest mountain in the Cambrian mountains, and worked out that it would be cheaper to buy Pumlumon and reforest it in order to slow down the flow of water into the lowlands than to keep paying out every year for carpets in Gloucester.

There were quite a few assumptions in there, as we don’t yet have all the hydrological data we need, but in principle you can unearth some directly commensurable values – the cost of insurance pay-outs, in pounds, versus the cost of buying the land, in pounds – and produce a rough ballpark comparison. But in the majority of cases you are not looking at anything remotely resembling financial commensurability.

So that is Problem One, and that is the most trivial of the problems.

Problem Two is that you are effectively pushing the natural world even further into the system that is eating it alive. Dieter Helm, the Chairman of the Natural Capital Committee, said the following in the same report I quoted from just a moment ago. “The environment is part of the economy and needs to be properly integrated into it so that growth opportunities will not be missed.”(9)

There, ladies and gentlemen, you have what seems to me the Government’s real agenda. This is not to protect the natural world from the depredations of the economy. It is to harness the natural world to the economic growth that has been destroying it. All the things which have been so damaging to the living planet are now being sold to us as its salvation; commodification, economic growth, financialisation, abstraction. Now, we are told, these devastating processes will protect it.

(Sorry, did I say the living planet? I keep getting confused about this. I meant asset classes within an ecosystem market.)

It gets worse still when you look at the way in which this is being done. Look at the government’s Ecosystems Markets Task Force, which was another of these exotic vehicles for chopping up nature and turning it into money. From the beginning it was pushing nature towards financialisation. It talked of “harnessing City financial expertise to assess the ways that these blended revenue streams and securitisations enhance the return on investment of an environmental bond.”(10) That gives you an idea of what the agenda is – as well as the amount of gobbledygook it is already generating.

What we are talking about is giving the natural world to the City of London, the financial centre, to look after. What could possibly go wrong? Here we have a sector whose wealth is built on the creation of debt. That’s how it works, on stacking up future liabilities. Shafting the future in order to serve the present: that is the model. And then that debt is sliced up into collateralised debt obligations and all the other marvellous devices that worked so well last time round.

Now nature is to be captured and placed in the care of the financial sector, as that quote suggests. In order for the City to extract any value from it, the same Task Force says we need to “unbundle” ecosystem services so they can be individually traded(11).

That’s the only way in which it can work – this financialisation and securitisation and bond issuing and everything else they are talking about. Nature has to be unbundled. If there is one thing we know about ecosystems, and we know it more the more we discover about them, it’s that you cannot safely disaggregate their functions without destroying the whole thing. Ecosystems function as coherent holistic systems, in which the different elements depend upon each other. The moment you start to unbundle them and to trade them separately you create a formula for disaster.

Problem Three involves what appears to be a very rude word, because hardly anyone uses it, certainly not in polite society. It begins with a ‘p’ and it’s five letters long and most people seem unable to utter it. It is, of course, power.

Power is the issue which seems to get left out of the Natural Capital Agenda. And because it gets left out, because it it is, I think, deliberately overlooked, what we are effectively seeing is the invocation of money as a kind of fairy dust, that you sprinkle over all the unresolved problems of power in the hope that they will magically resolve themselves. But because they are unresolved, because they are unaddressed, because they aren’t even acknowledged; the natural capital agenda cannot possibly work.

Let me give you an example of a system which doesn’t work because of this problem, despite high commensurability, simple and straightforward outputs and a simple and straightforward monitoring system. That is the European Emissions Trading System, which seeks to reduce carbon emissions by creating a carbon price.

I am not inherently opposed to it. I can see it is potentially as good a mechanism as any other for trying gradually to decarbonise society. But it has failed. An effective price for carbon begins at about £30 a ton. That is the point at which you begin to see serious industrial change and the disinvestment in fossil fuels we so desperately need to see.

Almost throughout the history of the European Emissions Trading System, the price of carbon has hovered around five Euros. That is where it is today. The reason is an old-fashioned one. The heavily polluting industries, the carbon-intensive industries, which were being asked to change their practices, lobbied the European Union to ensure that they received an over-allocation of carbon permits. Far too many permits were issued. When the European Parliament started talking about withdrawing some of those permits, it too was lobbied and it caved in and failed to withdraw them. So the price has stayed very low.

What we see here is the age-old problem of power. Governments and the Commission are failing to assert political will. They are failing to stand up for themselves and say, “This is how the market is going to function. It is not going to function without a dirigiste and interventionist approach.” Without that dirigiste and interventionist approach we end up with something which is almost entirely useless. In fact worse than useless because I don’t think there has been a single coal-burning power station, motorway or airport in the European Union approved since the ETS came along, which has not been justified with reference to the market created by the trading system.

You haven’t changed anything by sprinkling money over the problem, you have merely called it something new. You have called it a market as opposed to a political system. But you still need the regulatory involvement of the state to make that market work. Because we persuade ourselves that we don’t need it any more because we have a shiny new market mechanism, we end up fudging the issue of power and not addressing those underlying problems.

Let me give you another example: The Economics of Ecosystems and Biodiversity project, overseen by Pavan Sukhdev from Deutsche Bank. This huge exercise came up with plenty of figures, most of which I see as nonsense. But one or two appeared to be more more plausible. Among the most famous of these was its valuation of mangrove forests. It maintained that if a businessman or businesswoman cuts down a mangrove forest and replaces it with a shrimp farm, that will be worth around $1,200 per hectare per year to that person. If we leave the mangrove forest standing, because it protects the communities who live on the coastline and because it is a wonderful breeding ground for fish and crustaceans, it will be worth $12,000 per hectare per year(12). So when people see the figures they will conclude that it makes sense to save the mangrove forests, and hey presto, we have solved the problem. My left foot!

People have known for centuries the tremendous benefits that mangrove forests deliver. But has that protected them from being turned into shrimp farms or beach resorts? No, it hasn’t. And the reason it hasn’t is that it might be worth $12,000 to the local impoverished community of fisher folk, but if it’s worth $1,200 to a powerful local politician who wants to turn it into shrimp farms, that counts for far more. Putting a price on the forest doesn’t in any way change that relationship.

You do not solve the problem this way. You do not solve the problem without confronting power. But what we are doing here is reinforcing power, is strengthening the power of the people with the money, the power of the economic system as a whole against the power of nature.

Let me give you one or two examples of that. Let’s start on the outskirts of Sheffield with Smithy Wood. This is an ancient woodland, which eight hundred years ago was recorded as providing charcoal for the monks who were making iron there. It is an important part of Sheffield’s history and culture. It is full of stories and a sense of place and a sense of being able to lose yourself in something different. Someone wants to turn centre of Smithy Wood into a motorway service station(13).

This might have been unthinkable until recently. But it is thinkable now because the government is introducing something called biodiversity offsets. If you trash a piece of land here you can replace its value by creating some habitat elsewhere. This is another outcome of the idea that nature is fungible and tradeable, that it can be turned into something else: swapped either for money or for another place, which is said to have similar value.

What they’ve said is, “We’re going to plant 60,000 saplings, with rabbit guards around them, in some other place, and this will make up for trashing Smithy Wood.” It seems to me unlikely that anyone would have proposed trashing this ancient woodland to build a service station in the middle of it, were it not for the possibility of biodiversity offsets. Something the Government has tried to sell to us as protecting nature greatly threatens nature.

Let me give you another example. Say we decide that we’re going to value nature in terms of pounds or dollars or euros and that this is going to be our primary metric for deciding what should be saved and what should not be saved. This, we are told, is an empowering tool to protect the natural world from destruction and degradation. Well you go to the public enquiry and you find that, miraculously, while the wood you are trying to save has been valued at £x, the road, which they want to build through the wood, has been valued at £x+1. And let me tell you, it will always be valued at £x+1 because cost benefit analyses for such issues are always rigged.

The barrister will then be able to say, “Well there you are, it is x+1 for the road and x for the wood. End of argument.” All those knotty issues to do with values and love and desire and wonder and delight and enchantment, all the issues which are actually at the centre of democratic politics, are suddenly ruled out. They are outside the box, they are outside the envelope of discussion, they no longer count. We’ve been totally disempowered by that process.

So that was Problem Three. But the real problem, and this comes to the nub of the argument for me, is over the issues which I will describe as values and framing. Am I allowed to mention Sheffield Hallam? Too late. In response to an article I wrote that was vaguely about this issue last week, Professor Lynn Crowe from Sheffield Hallam University wrote what I thought was a very thoughtful piece(14). She asked this question: “How else can we address the challenge of convincing those who do not share the same values as ourselves of our case?”.

In other words, we are trying to make a case to people who just don’t care about the natural world. How do we convince them, when they don’t share those values, to change their minds? To me the answer is simple. We don’t.

We never have and we never will. That is not how politics works. Picture a situation where Ed Miliband stands up in the House of Commons and makes such a persuasive speech that David Cameron says, “You know, you’ve completely won me over. I’m crossing the floor and joining the Labour benches.”

That’s not how it works. That is not how politics has ever proceeded, except in one or two extremely rare cases. You do not win your opponents over. What you do to be effective in politics is first, to empower and mobilise people on your own side and secondly, to win over the undecided people in the middle. You are not going to win over the hard core of your opponents who are fiercely opposed to your values.

This is the horrendous mistake that New Labour here and the Democratic Party in the United States have made. “We’ve got to win the next election so we’ve got to appease people who don’t share our values, so we’re going to become like them. Instead of trying to assert our own values, we are going to go over to them and say, ‘Look, we’re not really red; we’re not scary at all. We are actually conservatives.’” That was Tony Blair’s message. That was Bill Clinton’s message. That, I’m afraid, is Barack Obama’s message.

Triangulation possibly won elections – though in 1997 a bucket on a stick would have won – but it greatly eroded the Labour vote across the intervening years. We’ve ended up with a situation where there are effectively no political alternatives to the neoliberalism being advanced by the coalition government. In which the opposition is, in almost every case, failing to oppose. It is in this position because it has progressively neutralised itself by trying to appease people who do not share its values.

As George Lakoff, the cognitive linguist who has done so much to explain why progressive parties keep losing the elections that they should win and keep losing support even in the midst of a multiple crisis caused by their political opponents, points out, you can never win by adopting the values of your opponents(15).

You have to leave them where they are and project your own values to people who might be persuaded to come over to your side. That is what conservatives have done on both sides of the Atlantic. They have been extremely good at it, especially in the United States, where they have basically crossed their arms and said, “We’re over here and we don’t give a damn about where you are. We don’t care about what you stand for, you hippies on the Left. This is what we stand for and we are going to project it, project it, project it, until the electoral arithmetic our stance creates means that you have to come to us.”

So what we’ve got there is a Democratic Party that is indistinguishable from where the Republicans were ten years ago. It has gone so far to the right that it has lost its core values. I think you could say the same about the Labour Party in this country.

This, in effect, is what we are being asked to do through the natural capital agenda. We are saying “because our opponents don’t share our values and they are the people wrecking the environment, we have to go over to them and insist that we’re really in their camp. All we care about is money. We don’t really care about nature for its own sake. We don’t really believe in any of this intrinsic stuff. We don’t believe in wonder and delight and enchantment. We just want to show that it’s going to make money.”

In doing so, we destroy our own moral authority and legitimacy. In a recent interview George Lakoff singled out what he considered to be the perfect example of the utter incompetence of progressives hoping to defend the issues they care about. What was it? The Natural Capital Agenda(16).

As Lakoff has pointed out, these people are trying to do the right thing but they are completely failing to apply a frames analysis. A frame is a mental structure through which you understand an issue. Instead of framing the issue with our own values and describing and projecting our values – which is the only thing in the medium- to long-term that ever works – we are abandoning them and adopting instead the values of the people who are wrecking the environment. How could there be any long-term outcome other than more destruction?

There’s another way of looking at this, which says the same thing in a different ways. All of us are somewhere along a spectrum between intrinsic values and extrinsic values. Extrinsic values are about reputation and image and money. They’re about driving down the street in your Ferrari and showing it to everyone. They are about requiring other people’s approbation for your own sense of well-being.

Intrinsic values are about being more comfortable with yourself and who you are. About being embedded in your family, your community, among your friends, and not needing to display to other people in order to demonstrate to yourself that you are worth something(17).

Research in seventy countries produces remarkably consistent results: these values are highly clustered(18). So, for instance, people who greatly value financial success tend to have much lower empathy than those with a strong sense of intrinsic values. They have much less concern about the natural world, they have a stronger attraction towards hierarchy and authority. These associations are very strongly clustered.

But we are not born with these values. They are mostly the product of our social and political environment. What the research also shows is that if you change that environment, people’s values shift en masse with that change. For instance, if you have a good, functioning public health system where no one is left untreated, that embeds and imbues among the population a strong set of intrinsic values. The subliminal message is “I live in a society where everyone is looked after. That must be a good thing because that is the society I live in.” You absorb and internalise those values.

If on the other hand you live in a devil-take-the-hindmost society where people, as they do in the United States, die of treatable conditions because they cannot afford medical care, that will reinforce extrinsic values and push you further towards that end of the spectrum. The more that spectrum shifts, the more people’s values shift with it.

People on the right understand this very well. Mrs Thatcher famously said, “Economics are the method; the object is to change the heart and soul.”(19) She understood the political need to change people’s values – something the left has seldom grasped.

If we surrender to the financial agenda and say, “This market-led neoliberalism thing is the way forward,” then we shift social values. Environmentalists are among the last lines of defence against the gradual societal shift towards extrinsic values. If we don’t stand up and say, “We do not share those values, our values are intrinsic values. We care about people. We care about the natural world. We are embedded in our communities and the people around us and we want to protect them, not just ourselves. We are not going to be selfish. This isn’t about money”, who else is going to do it?

So you say to me, “Well what do we do instead? You produce these arguments against trying to save nature by pricing it, by financialisation, by monetisation. What do you do instead?”

Well, ladies and gentlemen, it is no mystery. It is the same answer that it has always been. The same answer that it always will be. The one thing we just cannot be bothered to get off our bottoms to do, which is the only thing that works. Mobilisation.

It is the only thing that has worked, the only thing that can work. Everything else is a fudge and a substitute and an excuse for not doing that thing that works. And that applies to attempts to monetise and financialise nature as much as it does to all the other issues we are failing to tackle. Thank you.”

http://www.monbiot.com

References:

1. Matt Ridley, 22nd July 1996. Power to the people: we can’t do any worse than government. The Daily Telegraph.

2. http://www.theguardian.com/commentisfree/2010/may/31/state-market-nothern-rock-ridley

3. http://www.hup.harvard.edu/catalog.php?isbn=9780674430006

4. http://nebula.wsimg.com/d512efca930f81a0ebddb54353d9c446?AccessKeyId=68F83A8E994328D64D3D&disposition=0&alloworigin=1

5. http://www.persona.uk.com/bexhill/HA_DOCS/HA-05.pdf

6. http://www.defra.gov.uk/news/2011/06/02/hidden-value-of-nature-revealed/

7. http://uknea.unep-wcmc.org/LinkClick.aspx?fileticket=ryEodO1KG3k%3d&tabid=82

8. http://www.bbc.co.uk/cult/hitchhikers/guide/answer.shtml

9. http://nebula.wsimg.com/d512efca930f81a0ebddb54353d9c446?AccessKeyId=68F83A8E994328D64D3D&disposition=0&alloworigin=1

10. http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20130822084033/http://www.defra.gov.uk/ecosystem-markets/files/EMTF-VNN-STUDY-FINAL-REPORT-REV1-14.06.12.pdf

11. http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20130822084033/http://www.defra.gov.uk/ecosystem-markets/files/EMTF-VNN-STUDY-FINAL-REPORT-REV1-14.06.12.pdf

12. http://www.unep.org/documents.multilingual/default.asp?DocumentID=602&ArticleID=6371&l=en&t=long

13. http://www.sheffieldmotorwayservices.co.uk/

14. http://lynncroweblog.wordpress.com/category/valuing-nature/

15. George Lakoff, 2004. Don’t think of an elephant!: know your values and frame the debate. Chelsea Green, White River Junction, VT, USA.

16. http://www.theguardian.com/books/2014/feb/01/george-lakoff-interview

17. http://assets.wwf.org.uk/downloads/common_cause_report.pdf

18. http://assets.wwf.org.uk/downloads/common_cause_report.pdf

19. http://www.margaretthatcher.org/document/104475

80 percent of U.S. adults face near-poverty, unemployment, survey finds (CBS)

People look through boxes of food during a food distribution by the Food Bank of the Southern Tier Mobile Food Pantry on June 20, 2012 in Oswego, New York. The mobile food pantry program was introduced in 2007 in the Southern Tier of New York and covers nearly 4,000 predominately rural miles. The converted beverage truck delivers fresh produce, dairy products and other grocery items to individuals and families in need. The pantry typically distributes for a period of two hours and provides 100 to 160 families with food. According to the 2010 Census, 15.72% the population serviced by the mobile pantry live at or below the federal poverty level. According to statistics presented at a recent U.S. Senate committee hearing, almost one in seven Americans are living below the poverty line with a significant number of them being children.  SPENCER PLATT/GETTY IMAGES

Four out of 5 U.S. adults struggle with joblessness, near-poverty or reliance on welfare for at least parts of their lives, a sign of deteriorating economic security and an elusive American dream.

Survey data exclusive to The Associated Press points to an increasingly globalized U.S. economy, the widening gap between rich and poor, and the loss of good-paying manufacturing jobs as reasons for the trend.

The findings come as President Barack Obama tries to renew his administration’s emphasis on the economy, saying in recent speeches that his highest priority is to “rebuild ladders of opportunity” and reverse income inequality.

As nonwhites approach a numerical majority in the U.S., one question is how public programs to lift the disadvantaged should be best focused — on the affirmative action that historically has tried to eliminate the racial barriers seen as the major impediment to economic equality, or simply on improving socioeconomic status for all, regardless of race.

Hardship is particularly growing among whites, based on several measures. Pessimism among that racial group about their families’ economic futures has climbed to the highest point since at least 1987. In the most recent AP-GfK poll, 63 percent of whites called the economy “poor.”

“I think it’s going to get worse,” said Irene Salyers, 52, of Buchanan County, Va., a declining coal region in Appalachia. Married and divorced three times, Salyers now helps run a fruit and vegetable stand with her boyfriend but it doesn’t generate much income. They live mostly off government disability checks.

“If you do try to go apply for a job, they’re not hiring people, and they’re not paying that much to even go to work,” she said. Children, she said, have “nothing better to do than to get on drugs.”

While racial and ethnic minorities are more likely to live in poverty, race disparities in the poverty rate have narrowed substantially since the 1970s, census data show. Economic insecurity among whites also is more pervasive than is shown in the government’s poverty data, engulfing more than 76 percent of white adults by the time they turn 60, according to a new economic gauge being published next year by the Oxford University Press.

The gauge defines “economic insecurity” as a year or more of periodic joblessness, reliance on government aid such as food stamps or income below 150 percent of the poverty line. Measured across all races, the risk of economic insecurity rises to 79 percent.

Marriage rates are in decline across all races, and the number of white mother-headed households living in poverty has risen to the level of black ones.

“It’s time that America comes to understand that many of the nation’s biggest disparities, from education and life expectancy to poverty, are increasingly due to economic class position,” said William Julius Wilson, a Harvard professor who specializes in race and poverty. He noted that despite continuing economic difficulties, minorities have more optimism about the future after Obama’s election, while struggling whites do not.

“There is the real possibility that white alienation will increase if steps are not taken to highlight and address inequality on a broad front,” Wilson said.

___

Nationwide, the count of America’s poor remains stuck at a record number: 46.2 million, or 15 percent of the population, due in part to lingering high unemployment following the recession. While poverty rates for blacks and Hispanics are nearly three times higher, by absolute numbers the predominant face of the poor is white.

More than 19 million whites fall below the poverty line of $23,021 for a family of four, accounting for more than 41 percent of the nation’s destitute, nearly double the number of poor blacks.

Sometimes termed “the invisible poor” by demographers, lower-income whites generally are dispersed in suburbs as well as small rural towns, where more than 60 percent of the poor are white. Concentrated in Appalachia in the East, they are numerous in the industrial Midwest and spread across America’s heartland, from Missouri, Arkansas and Oklahoma up through the Great Plains.

Buchanan County, in southwest Virginia, is among the nation’s most destitute based on median income, with poverty hovering at 24 percent. The county is mostly white, as are 99 percent of its poor.

More than 90 percent of Buchanan County’s inhabitants are working-class whites who lack a college degree. Higher education long has been seen there as nonessential to land a job because well-paying mining and related jobs were once in plentiful supply. These days many residents get by on odd jobs and government checks.

Salyers’ daughter, Renee Adams, 28, who grew up in the region, has two children. A jobless single mother, she relies on her live-in boyfriend’s disability checks to get by. Salyers says it was tough raising her own children as it is for her daughter now, and doesn’t even try to speculate what awaits her grandchildren, ages 4 and 5.

Smoking a cigarette in front of the produce stand, Adams later expresses a wish that employers will look past her conviction a few years ago for distributing prescription painkillers, so she can get a job and have money to “buy the kids everything they need.”

“It’s pretty hard,” she said. “Once the bills are paid, we might have $10 to our name.”

poverty, urban decline, generic, america, connecticut

A car drives by a closed factory on May 20, 2013 in Waterbury, Connecticut. Waterbury, once a thriving industrial city with one of the largest brass manufacturing bases in the world, has suffered economically in recent decades as manufacturing jobs have left the area. According to recent census data, 20.6 percent of the city’s residents are living below the poverty level. SPENCER PLATT/GETTY IMAGES

Census figures provide an official measure of poverty, but they’re only a temporary snapshot that doesn’t capture the makeup of those who cycle in and out of poverty at different points in their lives. They may be suburbanites, for example, or the working poor or the laid off.

In 2011 that snapshot showed 12.6 percent of adults in their prime working-age years of 25-60 lived in poverty. But measured in terms of a person’s lifetime risk, a much higher number — 4 in 10 adults — falls into poverty for at least a year of their lives.

The risks of poverty also have been increasing in recent decades, particularly among people ages 35-55, coinciding with widening income inequality. For instance, people ages 35-45 had a 17 percent risk of encountering poverty during the 1969-1989 time period; that risk increased to 23 percent during the 1989-2009 period. For those ages 45-55, the risk of poverty jumped from 11.8 percent to 17.7 percent.

Higher recent rates of unemployment mean the lifetime risk of experiencing economic insecurity now runs even higher: 79 percent, or 4 in 5 adults, by the time they turn 60.

By race, nonwhites still have a higher risk of being economically insecure, at 90 percent. But compared with the official poverty rate, some of the biggest jumps under the newer measure are among whites, with more than 76 percent enduring periods of joblessness, life on welfare or near-poverty.

By 2030, based on the current trend of widening income inequality, close to 85 percent of all working-age adults in the U.S. will experience bouts of economic insecurity.

“Poverty is no longer an issue of ‘them’, it’s an issue of ‘us’,” says Mark Rank, a professor at Washington University in St. Louis who calculated the numbers. “Only when poverty is thought of as a mainstream event, rather than a fringe experience that just affects blacks and Hispanics, can we really begin to build broader support for programs that lift people in need.”

The numbers come from Rank’s analysis being published by the Oxford University Press. They are supplemented with interviews and figures provided to the AP by Tom Hirschl, a professor at Cornell University; John Iceland, a sociology professor at Penn State University; the University of New Hampshire’s Carsey Institute; the Census Bureau; and the Population Reference Bureau.

Among the findings:

–For the first time since 1975, the number of white single-mother households living in poverty with children surpassed or equaled black ones in the past decade, spurred by job losses and faster rates of out-of-wedlock births among whites. White single-mother families in poverty stood at nearly 1.5 million in 2011, comparable to the number for blacks. Hispanic single-mother families in poverty trailed at 1.2 million.

–Since 2000, the poverty rate among working-class whites has grown faster than among working-class nonwhites, rising 3 percentage points to 11 percent as the recession took a bigger toll among lower-wage workers. Still, poverty among working-class nonwhites remains higher, at 23 percent.

–The share of children living in high-poverty neighborhoods — those with poverty rates of 30 percent or more — has increased to 1 in 10, putting them at higher risk of teenage pregnancy or dropping out of school. Non-Hispanic whites accounted for 17 percent of the child population in such neighborhoods, compared with 13 percent in 2000, even though the overall proportion of white children in the U.S. has been declining.

The share of black children in high-poverty neighborhoods dropped from 43 percent to 37 percent, while the share of Latino children went from 38 percent to 39 percent.

–Race disparities in health and education have narrowed generally since the 1960s. While residential segregation remains high, a typical black person now lives in a nonmajority black neighborhood for the first time. Previous studies have shown that wealth is a greater predictor of standardized test scores than race; the test-score gap between rich and low-income students is now nearly double the gap between blacks and whites.

___

Going back to the 1980s, never have whites been so pessimistic about their futures, according to the General Social Survey, a biannual survey conducted by NORC at the University of Chicago. Just 45 percent say their family will have a good chance of improving their economic position based on the way things are in America.

The divide is especially evident among those whites who self-identify as working class. Forty-nine percent say they think their children will do better than them, compared with 67 percent of nonwhites who consider themselves working class, even though the economic plight of minorities tends to be worse.

Although they are a shrinking group, working-class whites — defined as those lacking a college degree — remain the biggest demographic bloc of the working-age population. In 2012, Election Day exit polls conducted for the AP and the television networks showed working-class whites made up 36 percent of the electorate, even with a notable drop in white voter turnout.

Last November, Obama won the votes of just 36 percent of those noncollege whites, the worst performance of any Democratic nominee among that group since Republican Ronald Reagan’s 1984 landslide victory over Walter Mondale.

Some Democratic analysts have urged renewed efforts to bring working-class whites into the political fold, calling them a potential “decisive swing voter group” if minority and youth turnout level off in future elections. “In 2016 GOP messaging will be far more focused on expressing concern for ‘the middle class’ and ‘average Americans,'” Andrew Levison and Ruy Teixeira wrote recently in The New Republic.

“They don’t trust big government, but it doesn’t mean they want no government,” says Republican pollster Ed Goeas, who agrees that working-class whites will remain an important electoral group. His research found that many of them would support anti-poverty programs if focused broadly on job training and infrastructure investment. This past week, Obama pledged anew to help manufacturers bring jobs back to America and to create jobs in the energy sectors of wind, solar and natural gas.

“They feel that politicians are giving attention to other people and not them,” Goeas said.

A Return to a World Marx Would Have Known (New York Times)

Doug Henwood is editor of Left Business Observer, host of a weekly radio show originating on KPFA, Berkeley, and is author of several books, including “Wall Street: How It Works and For Whom” and “After the New Economy.”

UPDATED MARCH 30, 2014, 7:02 PM

I don’t see how you can understand our current unhappy economic state without some sort of Marx-inspired analysis.

Here we are, almost five years into an officially designated recovery from the worst downturn in 80 years, and average household incomes are more than 8 percent below where they were when the Great Recession began, and employment still 650,000 short of its pre-recession high.

For years, excessive consumer borrowing muted the effects of stagnant wages. But low demand is stifling the economy, with no end in sight.

Though elites are prospering, for millions of Americans, it’s as if the recession never ended.

How can this all be explained? The best way to start is by going back to the 1970s. Corporate profitability — which, as every Marxist schoolchild knows, is the motor of the system — had fallen sharply off its mid-1960s highs. Stock and bond markets were performing miserably. Inflation seemed to be rising without limit. After three decades of seemingly endless prosperity, workers had developed a terrible attitude problem, slacking off and, quaintly, even going out on strike. It’s no accident that Johnny Paycheck scored a No. 1 country hit with “Take This Job and Shove It” in 1977 — utterly impossible to imagine today.

This is where Marx begins to come in. At the root of these problems was a breakdown in class relations: workers no longer feared the boss. A crackdown was in order.

And it came, hard. In October 1979, the Federal Reserve began driving interest rates toward 20 percent, to kill inflation and restrict borrowing, creating the deepest recession since the 1930s. (It was a record we only broke in 2008/2009). A little over a year later, Ronald Reagan came into office, fired the striking air-traffic controllers, setting the stage for decades of union busting to follow. Five years after Johnny Paycheck’s hit, workers were desperate to hold and/or get jobs. No more attitude problem.

The “cure” worked for about 30 years. Corporate profits skyrocketed and financial markets thrived. The underlying mechanism, as Marx would explain it, is simple: workers produce more in value than they are paid, and the difference is the root of profit. If worker productivity rises while pay remains stagnant or declines, profits increase. This is precisely what has happened over the last 30 years. According to the Bureau of Labor Statistics, productivity rose 93 percent between 1980 and 2013, while pay rose 38 percent (all inflation-adjusted).

The 1 percent got ever-richer and more powerful. But there was a problem: a system dependent on high levels of mass consumption has a hard time coping with the stagnation or decline in mass incomes.The development of a mass consumer market after Marx died, with the eager participation of a growing middle class, caused a lot of people to say his analysis was obsolete. But now, with the hollowing out of the middle class and the erosion of mass purchasing power, the whole 20th century model of mass consumption is starting to look obsolete.

Borrowing sustained the mass consumption model for a few decades. Non-rich households borrowed to buy cars, buy food, pay medical bills, buy ever-more-expensive houses, and so on. Conveniently, rich households had plenty of spare cash to lend them.

That model broke apart in 2008 and has not — and cannot — be revived. Without the juice provided by spirited borrowing, demand remains constricted and growth rates, low. (See also: Europe.)

Raising the incomes of the bottom 90 percent of the population through higher wages and public spending initiatives — stifled since Reagan starting putting the squeeze on them — could change that. But the stockholding class has resisted that, and they have a lot of political power.

And an extraordinarily lopsided economy is the result. We didn’t expect that the 21st century would bring about a return of the 19th century’s vast disparities, but it’s looking like that’s just what’s happened.

Países desenvolvidos exportam emissões de carbono (Folha de São Paulo)

JC e-mail 4882, de 28 de janeiro de 2014

Matéria do “The New York Times” sobre efeitos climáticos publicada na Folha de São Paulo

Durante sua vida útil, o iPhone 5S emite o equivalente a 70 kg de dióxido de carbono. A boa notícia: isso é 4 kg a menos do que o iPhone 5.

Seja como for, cerca de três quartos desse dióxido de carbono são considerados de responsabilidade não dos Estados Unidos, mas de lugares como China, Taiwan, Coreia do Sul e Mongólia Interior (região autônoma da China), onde o telefone e seus componentes são fabricados.

A globalização -a qual, no processo de “exportar” produção e emprego dos países ricos para os pobres, “exportou” também o dióxido de carbono emitido para a fabricação dos produtos- adiciona um novo aspecto à alocação das responsabilidades pela emissão de carbono na atmosfera: será que essas emissões devem ser de responsabilidade dos países fabricantes ou dos países para os quais os produtos se destinam?

Dois anos atrás, algumas das localidades mais ambientalmente corretas dos EUA solicitaram à seção americana do Instituto Ambiental de Estocolmo que calculasse suas emissões de carbono. Em vez de contabilizar o carbono que produziam, elas queriam um inventário das emissões geradas na fabricação, no transporte, na utilização e na eliminação do que é consumido nesses lugares.

O resultado surpreendeu. San Francisco, por exemplo, gerou em 2008 apenas 8 milhões de toneladas de CO2 ou equivalente. O consumo da cidade, por outro lado, acrescentou quase 22 milhões de toneladas de carbono à atmosfera. Usando medições baseadas no consumo, as emissões do Oregon saltaram em 2005 de 53 milhões para 78 milhões de toneladas. “As pessoas que nos contrataram se viam como muito ‘verdes’ e inovadoras”, disse Frank Ackerman, que na época chefiava o Grupo de Economia Climática da entidade nos EUA. “Eles achavam que, por terem boas iniciativas em andamento, teriam um resultado menor, apesar de muitos dos produtos industriais por eles consumidos serem fabricados no exterior.”

O foco no consumo faz sentido. Compreender o seu impacto sobre a mudança climática é um primeiro passo necessário para que as pessoas e as cidades, grandes ou pequenas, tomem medidas concretas para reduzir as emissões de carbono. Este novo tipo de cálculo, no entanto, pode ter um efeito imprevisto sobre a política internacional de mudança climática, deslocando a responsabilidade em escala global.

Enquanto a concentração de CO2 disparou no primeiro semestre de 2013 para o seu maior nível desde que os mastodontes vagavam pela Terra, há 3 milhões de anos, as Nações Unidas, contrariando todas as probabilidades, esperam que 2014 finalmente traga os avanços necessários para que as grandes nações cuspidoras de carbono cheguem a um acordo sobre um plano climático até 2015.

“Desafio os senhores a trazer promessas ousadas para a cúpula”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao convidar líderes mundiais para uma reunião em setembro próximo, em Nova York.

Um estudo publicado há dois anos na revista “PNAS”, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, observou que, entre 1990 e 2008, a globalização exportou o equivalente a 1,2 bilhão de toneladas de emissões de carbono por ano do mundo desenvolvido para nações em desenvolvimento.

Cálculos com critérios estritamente geográficos dão a impressão de que os países industriais avançados conseguiram estabilizar suas emissões de carbono.

Mas eles apenas transferiram o aumento para fora das suas fronteiras. As emissões de carbono criadas pelo consumo dos americanos são cerca de 8% superiores às emissões produzidas nos EUA, de acordo com os cientistas do Projeto Global do Carbono. Por outro lado, cerca de um quinto das emissões da China são de produtos consumidos fora de suas fronteiras.

A União Europeia, satisfeita com seus resultados ambientais nos cálculos habituais, com base no lugar onde o carbono é emitido, parece menos virtuosa sob uma lente baseada no consumo. Em 2011, os europeus emitiram apenas 3,6 bilhões de toneladas de CO2, mas 4,8 bilhões de toneladas foram jogados na atmosfera para a produção das coisas que os europeus consumiram.

Aqui está o dilema. A abordagem habitual, a qual está sendo considerada para contabilizar o custo do carbono “comercializado”, consistiria em taxar as emissões registradas nas fronteiras. Não surpreende que países exportadores, como a China, não gostem dessa abordagem.

Um estudo recente corroborou a imposição de um imposto de carbono sobre as importações. Mas “a China tem tudo a perder”, disse GlenPeters, do Centro para o Clima Internacional e a Pesquisa Ambiental, em Oslo. “Se a China trouxesse isso para as negociações, estaria permitindo que os EUA e Europa regulamentassem as exportações chinesas.”

Outra pesquisa concluiu que a imposição de uma penalidade na fronteira incentivaria a China e outros países em desenvolvimento a tributarem suas próprias emissões de carbono -ficando com o dinheiro- em vez de deixar que outros as tributem. Mas, se o mundo quiser evitar uma mudança climática catastrófica, alguém -em algum lugar- deve arcar com o custo de consumir menos carbono. E ninguém está se voluntariando.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/149511-paises-desenvolvidos-exportam-emissoes-de-carbono.shtml

 

Crônicas do Consumismo, à entrada de dezembro (Envolverde)

03/12/2013 – 12h14

por George Monbiot*

consumo Crônicas do Consumismo, à entrada de dezembro

Grafite anti-consumista. Foto: Edgar Fabiano

Publicidade ensina crianças a acariciar… o plástico. Jornais anunciam skates de mogno. E se “Admirável Mundo Novo” já não for ficção?

A culpa cumpre um papel. É o que distingue o resto da população dos psicopatas. Trata-se do sentimento que você tem quando é capaz de sentir empatia. Mas a culpa inibe o consumo. Para sufocá-la, surgiu uma indústria global que usa celebridades, personagens de desenhos animados e música de elevador. Ela procura nos convencer a não ver e a não sentir. Parece funcionar.

Os resultados da pesquisa Greendex 2012 (“Consumers Choice and the Environment”, ou “As Opções dos Consumidores e o Meio-ambinte”) mostram que nos países mais pobres as pessoas sentem-se, em geral, mais culpadas com relação aos impactos causados na natureza do que as populações dos países ricos. Os países onde as pessoas sentem menos culpa são Alemanha, Estados Unidos, Austrália e Grã-Bretanha, nessa ordem – enquanto Índia, China, México e Brasil são os países onde as pessoas estão mais preocupadas. Nossa culpa, revela o estudo, acontece na proporção inversa ao tamanho dos danos causados pelo consumo. Isso é o contrário do que nos dizem milhares de editoriais da imprensa corporativa: que as pessoas não podem dar-se ao luxo de cuidar da natureza até que se tornem ricas. As evidências sugerem que deixamos de cuidar justamente quando nos tornamos ricos.

“Consumidores em países como México, Brasil, China e Índia”, diz o estudo, “tendem a ser mais preocupados com as questões das mudanças climáticas, poluição do ar e da água, desaparecimento de espécies e escassez de água doce … Por outro lado, a economia e os custos de energia e combustível suscitam a maior preocupação entre os consumidores norte-americanos, franceses e britânicos.” Quanto mais dinheiro se tem, mais importante ele se torna. Meu palpite é que nos países mais pobres a empatia não foi tão entorpecida por décadas de consumo irracional.

Assista ao mais recente anúncio da Toys R Us nos EUA. Um homem vestido como guarda florestal arrebanha crianças em um ônibus verde em que se lê “Encontre a Fundação Árvores”. “Hoje nós estamos levando as crianças à viagem de campo que mais poderiam desejar”, diz o guarda dirigindo-se a nós. “E eles nem sabem disso.”

No ônibus ele começa a ensiná-las, mal, sobre as folhas. As crianças bocejam e se mexem nos bancos. De repente, ele anuncia: “Mas nós não estamos indo à floresta hoje …” Ele tira a camisa de guarda florestal. “Estamos indo para a Toys R Us, pessoal!” As crianças ficam alucinadas. “Vamos brincar com todos os brinquedos, e vocês podem escolher o brinquedo que quiserem!” As crianças correm, em câmera lenta, pelos corredores da loja, e quase desmaiam enquanto acariciam os brinquedos.

A natureza é um tédio, já o plástico é emocionante. Crianças que vivem no centro da cidade e que levei a um bosque, semanas atrás, contariam uma história diferente; mas a mensagem, martelada com suficiente frequência, acaba por tornar-se verdadeira.

O Natal permite que a indústria global de besteiras recrute os valores com os quais muitos de nós gostaríamos que a data estivesse associada – o amor, a vivacidade, uma comunidade espiritual –, com o único objetivo de vender coisas de que ninguém necessita ou mesmo deseja. Infelizmente, como todos os jornais, The Guardian participa dessa orgia. A revista de sábado trazia o que parecia ser uma lista de compras para os últimos dias do Império Romano. Há um relógio cuco inteligente para os que têm familiares estúpidos o suficiente, uma chaleira operada remotamente, um distribuidor de sabão líquido por 55 libras [R$ 210]; um skate de mogno (vergonhosamente, a origem da madeira não é mencionada nem pelo Guardian, nem pelo varejista), um “pino pappardelle de rolamento”, seja lá que diabo for isso, bugigangas de chocolate a 25 libras [R$ 96], uma caixa de… barbante de jardim (!) por 16 libras [R$ 61].

Estaremos tão entediados, tão carentes de afeto, que precisamos ganhar essas porcarias para acender uma última centelha de satisfação hedonista? Terão as pessoas se tornado tão imunes ao sentimento de irmandade a ponto de se prontificarem a gastar 46 libras [R$ 177] num pacote de petiscos para cães ou 6,50 libras [R$ 20] em incríveis biscoitos personalizados, em vez de dar o dinheiro a uma causa melhor? Ou isso é o potlatch do mundo ocidental, no qual gastam-se quantias ridículas em presentes ostensivamente inúteis, para melhorar nosso status social? Se assim for, devemos ter esquecido que aqueles que se deixam impressionar por dinheiro não merecem ser impressionados.

Para atender a essa forma peculiar de doença mental, devemos retalhar a Terra, abrir grandes buracos na superfície do planeta, ocupar-se fugazmente com os produtos da destruição e então despejar os materiais em outros buracos.Relatório da Fundação Gaia revela um crescimento explosivo no ritmo da mineração: a produção de cobalto aumentou 165% em 10 anos, a doo minério de ferro em 180% e, entre 2010 e 2011, houve um aumento de 50% na exploração de metais não-ferrosos.

Os produtos dessa destruição estão em tudo: eletroeletrônicos, plásticos, cerâmicas, tintas, corantes, a embalagem em que nossas besteiras vão chegar. À medida que os depósitos mais ricos se esgotam, cada vez mais terra deve ser rasgada para manter a produção. Mesmo os materiais mais preciosos e destrutivos são sucateados quando um novo nível de dopamina torna-se necessário: o governo do Reino Unido informa que uma tonelada de ouro, embutido em equipamentos eletrônicos, é depositada nos aterros a cada ano, neste país.

Em agosto, uma briga das mais instrutivas inflamou o Partido Conservador. O ministro do Meio Ambiente, Lord de Mauley, pediu às pessoas para consertar suas engenhocas em vez de atirá-las no lixo. Isso era necessário, argumentou, para reduzir a quantidade de aterros, seguindo as diretrizes da política europeia de resíduos. Para o The Telegraph, “as propostas poderiam alarmar as empresas que lutam para aumentar a demanda por seus produtos.” O parlamentar do Partido Conservador Douglas Carswell bradou: “desde quando precisamos do governo para nos dizer o que fazer com torradeiras quebradas?”…

Para ele, o programa de recuperação econômica do governo depende de consumo incessante: se as pessoas começarem a consertar as coisas, o esquema entra em colapso; skates de mogno e chaleiras wifi são respostas necessárias a um mercado saturado; o deus de ferro do crescimento, ao qual nos devemos curvar, demanda que gastemos o mundo dos vivos até o esquecimento fim dos tempos.

“‘Mas roupas velhas são estupidez’, continuou o sussurro incansável. ‘Nós sempre jogamos fora as roupas velhas. Descartar é melhor que consertar, descartar é melhor que consertar.’” O Admirável Mundo Novo parece menos fantástico, a cada ano.

George Monbiot é jornalista é escritor, acadêmico e ambientalista do Reino Unido. Escreve uma coluna semanal no jornal The Guardian./ Tradução: Inês Castilho.

** Publicado originalmente no site Outras Palavras.

Roussolph the red-nosed reindeer (FT)

http://blogs.ft.com/beyond-brics/2012/12/24/roussolph-the-red-nosed-reindeer/#ixzz2GHguUlpl

Dec 24, 2012 2:00pm by Henry Mance

This year, the Christmas tale from beyondbrics takes us to the up-and-coming area of Brics-ton, where Roussolph the Brazilian reindeer has been unceremoniously dumped from Santa Capital’s portfolio.

Read on…

Santa: Right, listen up. This year’s sleigh team is the same as last year’s, except that the Latin American representative will be Peña Nieto of Mexico, who takes over from Roussolph. Talking of glossy hair gel, please welcome our new chief caribou Xi Jinping.

Roussolph: You can’t ditch/ underweight me! What about my wonderful shiny red nose?

Santa: It’s your red nose that’s the problem. Some children think you’re a socialist. Who trusts a socialist to deliver the goodies?

Roussolph: But Xi is a communist!

Santa: And yet he says all the right things.

Xi Jinping: Hello. Let’s fight corruption! Goodbye.

Santa: See? He also waves and smiles.

Roussolph: Fine. But remember my antlers – they’re the sixth biggest in the world!

David Camerolph: They’re not any more. Frightfully sorry, but ours are.

Roussolph: Overtaken by the omnishambles?! Why aren’t my antlers growing faster?

[Enter Guido the Forecasting Elf]

Guido the Elf: Great news! Next year your antlers will grow by one metre!

Roussolph: How do you know?

Guido the Elf: I stuck my finger in the air.

Roussolph: Eh?

Guido the Elf: I mean, I have performed a thorough calculation. I got predictions from all the other elves then doubled them.

Roussolph: Oh, Guido. You’re as persistent as Argentine bond hold-out – and about as helpful. Why don’t I sack you?

Guido the Elf: Because the Economist told you to?

Roussolph: Alas. Where did it all go wrong? Whatever happened to the shining ‘B’ of emerging markets – rich in resources, loved by investors, finally overcoming years of corrupt government…

Santa: Do you mean Bur—

Roussolph: NO, I DO NOT MEAN BURMA. Is Burma hosting the World Cup?

Guido the Elf: The World Cup! I knew there was something I was meant to be preparing for. How many stadiums was it?

[Exits, pursued by a bear]

Roussolph: Oh, this is like a Greek tragedy.

Bluff the Magic Draghi [entering]: Did someone call for me?

Roussolph: The Magic Draghi! Thank goodness. Do you remember the good times? When everyone loved my red nose?

Draghi: When they called you exotic – but in a good way?

Roussolph: They would look at me and whisper, “Oh, what a lovely pair of commodities ” … and no one would ever say, “but a pity the roads back to your place are so bad.”

Draghi: You deserve better than this ! I have a simple solution. With my magic, I can turn back time, using only the power of liquidity!

Roussolph: please, turn it back!

Draghi: Back you go! To the time you were future! To the days your red nose shone most proudly! Back to the 1970s!

Roussolph: Saved at last! I’ll definitely be in the sleigh portfolio next year!

Draghi: Yes! Now what was that tune…

Roussolph the Reindeer [all join in and sing:]

You know old Vladdy Putin
And shiny Xi Jinping
There’s smooth Peña Nieto
And shy Manmohan Singh
But do you recall
The boldest EM reindeer of all?

Roussolph the red-nosed reindeer,
Busy as a jumping bean.
Each time she saw a problem,
Thought the state should intervene.

Vanquished fund managers
Even dared to call her names
(like “Cristina”).
They made sure poor Roussolph
Never saw no share price gains
(Remember Petrobras?).

Then one growth-free Christmas Eve
Santa came to say,
“Roussolph, oh your nose so bright
Gives investors quite a fright!”

All of the other reindeers
Were smitten with anxiety.
Maybe some emerging markets
Haven’t learnt their history?

Apologies to Johnny Marks

 

We Are Basically Honest – Except When We Are at Work, Study Suggests (Science Daily)

Dec. 14, 2012 — A new study has revealed we are more honest than you might think. The research by the University of Oxford and the University of Bonn suggests that it pains us to tell lies, particularly when we are in our own homes. It appears that being honest is hugely important to our sense of who we are. However, while it might bother us to tell lies at home, we are less circumspect at work where we are probably more likely to bend the truth, suggests the study.

The researchers conducted simple honesty tests by ringing people in their own homes in Germany and asking them to flip a coin. The study participants were asked over the phone to report on how it landed. The catch to this test was that each of the individuals taking part was given a strong financial incentive to lie without the fear of being found out. The study participants were told that if the coin landed tails up, they would receive 15 euros or a gift voucher; while if the coin landed heads up, they would receive nothing.

Using randomly generated home phone numbers, 658 people were contacted who agreed to take part. Although the researchers could not directly observe the behaviour of the individuals in their own homes, the aggregated reports show a remarkably high level of honesty. Over half of the study participants (55.6 per cent) reported that the coin landed heads-up, which meant they would receive nothing. Only 44.4 per cent reported tails up, collecting their financial reward as a result.

A second similar test was done involving 94 participants over the phone. This time they were asked to report on the results of four consecutive coin tosses with the promise of five euros for every time the coin landed tails up. Despite a potential maximum pay-off of 20 euros, the reports they received from the respondents reflected the likely distribution of a fair coin. This is based on the premise that the coin would have landed tails up around 50 per cent of the time.

All those taking part in the experiments answered questions about their own gender, age, views on honesty and their religious background. The study suggests, however, that personal attributes play no part here as the overall level of honesty demonstrated in both experiments was high.

This latest study can be compared with previous similar studies, which were conducted with students in tightly controlled laboratory situations. In those studies around 75 per cent of participants reported tails-up, which the researchers suggest could infer that people are more honest when they are in their own homes.

Dr Johannes Abeler, from the Department of Economics at the University of Oxford, said: The fact that the financial incentive to lie was outweighed by the perceived cost of lying shows just how honest most people are when they are in their own homes. One theory is that being honest is at the very core of how we want to perceive ourselves and is very important to our sense of self identity. Why it is so important? It may be to do with the social norms we have been given about what is right and wrong from the moment we could walk and talk.

‘This study has implications for policy-makers. For instance, if they want to catch those involved in fraudulent behaviour, perhaps the forms and questionnaires could be designed to reveal more about our personal lives and sense of self-identity. Our experiments showed that if people plainly see that to lie in a given situation would be fraudulent, they shy away from it. However, if people are given “wriggle room,” they can convince themselves that their behaviour is not fraudulent and this does not attack their sense of who they are.’

The computer-assisted telephone interviews were carried out by the Institute for Applied Social Sciences (infas), a private, well-known German research institute. They were conducted between November 2010 and February 2011. Telephone numbers were selected using a random digit dialling technique with numbers randomly based on a data set of all potential landline telephone numbers in Germany. Part of the study consisted of questions relating to the participants’ social background, age and education, their economic and political preferences, their religious beliefs, their attitudes to crime, and their beliefs about other people’s behaviour in the experiment.

Pesquisa Datafolha/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sobre a “integração” dos índios ao “modo de vida urbano”; Folha de S.Paulo e Veja + Carta do antrópologo Henyo Barretto à Ombudsman da Folha de SP

[A Folha se alinha com a Veja; não está claro se por má fé, interesse comercial, ou obtusidade. RT]

10/11/2012 – 04h00

MATHEUS LEITÃO

DE BRASÍLIA

Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles.

Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país.

Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular.

Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados.

Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.

De todo modo, os números ainda estão longe dos percentuais de acesso a bens de consumo da média da população. No Brasil como um todo, segundo o IBGE, 98% têm televisão; 82%, aparelho de DVD; e 79% têm celular.

A pesquisa teve ainda o intuito de avaliar as condições de vida dos indígenas.

Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde.

A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%).

Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece.

A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids.

A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles.

Algumas características das aldeias: 69% têm postos de saúde; 88%, escolas; 59%, igrejas; 19%, mercados; e 6%, farmácias.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Dois terços dos indígenas recebem do Bolsa Família
Guaranis-caiovás reclamam da falta de recursos para plantar

*   *   *

Pois é… as reservas indígenas brasileiras ocupam 13% do território nacional. Se depender da Funai e de alguns antropólogos do miolo mole, chega-se a 20%. A questão não está no número em si. Poder-se-ia destinar até 50% — desde que houvesse índios para tanto e que eles conseguissem tirar das imensas extensões de terra que dominam ao menos o suficiente para a sua subsistência. Mas não acontece. Não é só isso: as reservas são concedidas na suposição — falsa como nota de R$ 3 — de que aqueles enormes vazios econômicos em torno da comunidade são essenciais para que ela preserve sua cultura. Procurem na Internet a poesia indianista em prosa do ministro Ayres Britto, relator do caso Raposa Serra do Sol. Ele apelou a um índio que acabou junto com a literatura romântica. Ainda volto a esse aspecto.

Muito bem: pesquisa Datafolha demonstra que a maioria dos índios brasileiros está integrada às práticas próprias da vida urbana. Uma boa parcela conta com televisão, DVD, geladeira, celular… Esse aparato, não obstante, convive com a pobreza, razão por que quase a metade recebe cesta básica. Isso quer dizer que eles nem plantam nem caçam o que comem: vivem da caridade estatal — e em condições precárias.

As reservas são santuários para lustrar as aspirações de certa antropologia mistificadora, que ainda quer mais. Leiam o que informa Matheus Leitão naFolha. Volto depois:
*
Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles. Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país.

Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular. Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados. Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.
(…)
Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde. A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%). Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece.

A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids. A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles.

Bolsa família e cesta básica
A pesquisa sobre o perfil indígena feita pelo Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela que 64% dos índios são beneficiários do Programa Bolsa Família, recebendo em média R$ 153 por mês. A região Nordeste é a campeã do benefício: 76% dos índios recebem o programa social do governo. O Sul aparece em segundo com 71%; seguido do Centro-Oeste (63%), Norte (56%) e Sudeste (52%).

Mesmo com os benefícios, 36% afirmam ser insuficiente a quantidade de comida que consomem. A maioria dos índios (76%) bebe água que não é filtrada nem fervida. As doenças infectocontagiosas atingem 68% e os problemas estomacais, como diarreia e vômito, 45%. Os índios também afirmam que luz elétrica, água encanada, rede de esgoto e casa de alvenaria são muito importantes para eles.

Mais de 70% dos índios ouvidos atribuem muita relevância à atuação da Funai (Fundação Nacional do Índio) na sua aldeia. No entanto, 39% reprovam o desempenho do órgão, avaliando-o como ruim ou péssimo.

Cesta básica
Quase metade dos entrevistados (46%) relatou receber cesta básica da Funai ou da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Os índios da região Nordeste são os que mais recebem o benefício: 79%. Na região Norte apenas 7% ganham a cesta básica.

O acesso ao atendimento médico é considerado difícil por 63% dos índios; 69% deles foram atendidos em postos de saúde dentro da aldeia e 12% dentro de casa. Eles ainda usam mais os remédios naturais (66%) do que os farmacêuticos (34%). A maioria dos índios (66%) sabe ler, e 65% sabem escrever na língua portuguesa. Segundo a pesquisa, 30% exercem trabalho remunerado, mas somente 7% têm carteira assinada.

A agricultura é exercida por 94%, e 85% praticam a caça; 57% deles consideram que o tamanho das terras onde vivem é menor do que o necessário. Os índios também citaram algumas medidas governamentais que poderiam melhorar a vida dos indígenas no país: intervenções na área da saúde (25%), demarcação de terras (17%), reconhecimento dos direitos indígenas (16%), investimentos públicos (15%) e educação (15%).

Procurada anteontem, a Funai afirmou, pela assessoria de imprensa, que tinha muitas demandas e que não poderia responder às questões da reportagem até o encerramento desta edição. “A presidente [Marta Azevedo] está em viagem, sem disponibilidade de agenda. Ela seria a pessoa mais indicada para comentar a pesquisa”, afirmou, por e-mail.
(…)

Voltei
Viram só o que o modelo das reservas, que está em expansão (?!), provoca? Uma horda de miseráveis com celular, televisão e DVD. Prega-se a expansão das terras indígenas para que se produza ainda menos em um território maior… Com Raposa Serra do Sol, aconteceu o óbvio: os arrozeiros tiveram de ir embora, deixando atrás de si uma legião de desempregados. Na terra agora sob o controle de caciques ideológicos disfarçados de militantes indígenas, não se produz quase mais nada. Muitos dos índios foram viver como favelados em Boa Vista. A razão é simples: ser indígena não quer dizer ser… índio!

Leiam este trecho do voto de Ayres Britto (em vermelho):
(…) III – ter a chance de demonstrar que o seu tradicional habitat ora selvático ora em lavrados ou campos gerais é formador de um patrimônio imaterial que lhes dá uma consciência nativa de mundo e de vida que é de ser aproveitada como um componente da mais atualizada ideia de desenvolvimento,  que é o desenvolvimento como um crescer humanizado. Se se prefere, o desenvolvimento não só enquanto categoria econômica ou material, servida pelos mais avançados padrões de ciência, tecnologia e organização racional do trabalho e da produção, como  também permeado de valores que são a resultante de uma estrutura de personalidade ou modo pessoal indígena de ser mais obsequioso: a) da ideia de propriedade como um bem mais coletivo que individual; b) do não-enriquecimento pessoal à custa do empobrecimento alheio (inestimável componente ético de que a vida social brasileira tanto carece); c) de uma vida pessoal e familiar com simplicidade ou sem ostentação material e completamente avessa ao desvario consumista dos grandes centros urbanos; d) de um tipo não-predatoriamente competitivo de ocupação de espaços de trabalho, de sorte a desaguar na convergência de ações do mais coletivizado proveito e de uma vida social sem narsísicos desequilíbrios; e) da maximização de potencialidades sensórias que passam a responder pelo conhecimento direto das coisas presentes e pela premonição daquelas que a natureza ainda mantém em estado de germinação; f)de uma postura como que religiosa de respeito, agradecimento e louvor ao meio ambiente de que se retira o próprio sustento material e demais condições de sobrevivência telúrica, a significar a mais fina sintonia com a nossa monumental biodiversidade e mantença de um tipo de equilíbrio ecológico que hoje a Constituição brasileira rotula como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (art. 225,  caput), além de condição para todo desenvolvimento que mereça o qualificativo de sustentado.

Encerro
Esse índio acima descrito só existe na cabeça de Ayres Britto, como aqui falei tantas vezes. A tal integração “telúrica” com a natureza é uma fantasia. O desenvolvimento “sustentado” se faz com Bolsa Família e cesta básica — cedidas por nossa civilização tão egoísta…

Britto transformou os índios em grandes ecologistas, o que é uma piada até antropológica! Existissem realmente aos milhões, a Amazônia já seria uma savana. O ministro tem de descobrir que a ideia de preservação da natureza é um valor desta nossa triste civilização. Não tem nada a ver com índio, que não louva o meio ambiente nem retira da terra o sustento.

Com as terras de que dispõem, os índios poderiam estar é produzindo comida para os seus e para muitos outros brasileiros. Em vez disso, estão na fila do Bolsa Família e da cesta básica.

Por Reinaldo Azevedo

 

O que realmente querem os índios e o que alguns antropólogos querem que eles queiram…

11/11/2012

Já publiquei ontem um texto sobre a pesquisa Datafolha com índios brasileiros, encomendada pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A VEJA desta semana traz novos e impressionantes números. Mas, afinal, o que querem os índios, leitor amigo? Ora, o que queremos todos nós: bem-estar. Ocorre que uma boa parcela deles, sob a tutela da Funai e da antropologia do miolo mole, vive muito mal, dependente da caridade do estado.

Nada menos de 13% do território brasileiro são destinados a reservas indígenas. E se reivindica ainda mais terra — uma reivindicação de antropólogos, não dos índios propriamente, que têm outras necessidades e outras ambições.

Reproduzo abaixo trecho do texto de Leonardo Coutinho publicado na revista, entremeado com alguns dados da pesquisa.
*
Uma das principais reclamações dos índios é a de não serem ouvidos. De tempos em tempos, eles tingem o corpo de vermelho e negro em sinal de guerra e saem a brandir suas bordunas, arcos e flechas em frente a representantes do governo para chamar atenção para suas reivindicações. Na maioria das vezes, a sociedade brasileira só fica sabendo de suas demandas por meio de intermediários — padres marxistas ou ongueiros que fazem com que os moradores das cidades acreditem que os problemas indígenas consistem em falta de terras e em obras de infraestrutura nocivas ao ambiente.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pôs fim a essa lacuna. É o mais completo levantamento das opiniões dos índios brasileiros já realizado. Durante 55 dias, os pesquisadores visitaram 32 aldeias em todas as regiões do país e entrevistaram 1222 índios de vinte etnias. Trata-se de uma amostra robusta, maior, proporcionalmente, do que a que costuma ser usada nas sondagens eleitorais.

As respostas revelam que os índios têm aspirações semelhantes às da nova classe média nacional, ou seja, querem progredir socialmente por meio do trabalho e dos estudos. Eles sonham com os mesmos bens de consumo e confortos da vida moderna, sem deixar de valorizar sua cultura. Muito do que é apresentado pelos intermediários da causa indígena como prioridade nem sequer aparece na lista das preocupações cotidianas dos entrevistados. “A pesquisa libertará os índios da sua falsa imagem de anacronismo”, diz a presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO).

Nove em cada dez índios acham melhor morar em casa de alvenaria do que numa maloca. Oito em cada dez consideram muito importante ter um banheiro sob o teto em que vivem, um conforto desfrutado por uma minoria. Quase metade dos indígenas adoraria tomar uma ducha quentinha todos os dias. O grupo de índios donos de automóveis e seis vezes a média dos brasileiros de classes C e D. “Ninguém deixa de ser índio por querer viver bem. É inaceitável que as regras de como devemos ser continuem sendo ditadas de cima para baixo sem levar em consideração a nossa vontade”, diz Antônio Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, que representa 160 etnias. Segundo Apurinã, por causa da falta de condições adequadas nas áreas demarcadas, muitas aldeias passam por um êxodo sem precedentes.

Há quatro anos, 12 500 índios viviam na periferia de Manaus. Hoje, estima-se que mais de 30.000 vivam apinhados em construções precárias na cidade. Se a criação de reservas é alardeada como a demanda mais urgente dos povos indígenas, por que eles as estão abandonando para viver em favelas? Com a palavra, os índios. O problema mais citado é a precariedade dos serviços de saúde. Eles se queixam principalmente da falta de medicamentos farmacêuticos (que eles valorizam tanto quanto os remédios tradicionais) e de médicos. Em segundo lugar, está a falta de emprego. “Nós não vivemos mais como nos meus tempos de infância. A nova geração compreende a vantagem de ter um emprego, uma renda. Ela quer ter roupa de homem branco, celular e essas coisas de gente jovem. Os governantes precisam aprender que nossos filhos querem ter tudo o que os filhos do homem branco têm. Falar português, ir para a universidades e ser reconhecidos como brasileiros e índios”, diz o cacique Megaron Txucarramãe, um dos mais respeitados líderes caiapós, de Mato Grosso.
(…)


Por Reinaldo Azevedo

*   *   *

Carta do antrópologo Henyo Barretto à Ombudsman da Folha de SP

Por , 12/11/2012 19:29

Prezada Srª,

Lamentável e, porque não dizer, medíocre a matéria de Matheus Leitão que apresenta a “pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil” sobre “o perfil indígena brasileiro”, publicada hoje [ontem] na Folha de São Paulo – “um jornal a serviço do Brasil”. A rigor não sei se os predicados se aplicam a matéria, ou a “pesquisa” que ela se propõe a descrever/relatar.

A começar pelo objeto/objetivo da enquete (palavra mais adequada para definir o que o Datafolha faz, pois “pesquisa” com dados agregados gerais sobre povos indígenas é uma outra coisa): o que é “o perfil indígena brasileiro”? A julgar pela matéria sobre a enquete – que não sei se é parâmetro (ou não) para emitir um juízo sobre a mesma (mas vamos em frente) – referido perfil corresponde ao processamento de respostas a um conjunto de
perguntas pretensamente factuais e opinativas sobre o acesso a bens, serviços e políticas públicas. Isso é suficiente para definir “um perfil” – indígena ou não? Ou, perguntando de outro modo, é assim que se define “um perfil” – indígena ou não? O meu perfil, o seu, o nosso?

O primeiro parágrafo da descrição da metodologia – os “critérios” – seria patético, se não fosse trágico – dadas as consequências potencialmente nefastas da conclusão a que chegou a enquete (chegarei a esta já, já). Diz-se que o sorteio das aldeias teria “lev[ado] em conta a região em que se localizam e o tamanho da população indígena residente”, mas não se explicita como: Quantas e quais regiões? Considerou-se o que na definição destas? São as áreas etnográficas da América do Sul (Melatti), as regiões das Coordenações Regionais da FUNAI, os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, os Territórios Etnoeducacionais? Quais os distintos agregados demográficos considerados? Enfim, sem explicitar nada disso, a matéria (Ou seria a enquete? Ou seria a matéria como análise conclusiva dos dados  produzidos pela enquete?) afirma que: “os dados são representativos dos índios brasileiros” e “os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano”.

Ademais, ao indicar que “somente a população indígena brasileira que fala português” foi entrevistada, revela-se o completo descaso com a política linguística da enquete – aspecto fundamental em qualquer pesquisa com povos indígenas que almeje o predicado de “digna.” Quaisquer categorias nativas porventura existentes, que nos dariam os matizes como cada cultura interpreta a pergunta, processa o seu enunciado e a responde, foram – dada essa opção – solenemente ignoradas. Isso patenteia a abordagem geral etnocêntrica e colonial da enquete.

Sem entrar no mérito da imprecisão do termo “índios brasileiros” (com a teoria política e cultural e os preconceitos sobre os povos indígenas que lhe são subjacentes) e nem esperando – embora devesse esperar – que a FSP dialogasse com a vasta literatura antropológica e sociológica sobre: (i) mudança cultural (em especial a distinção entre “integração” e “assimilação”), parte da qual, inclusive, enfoca etnograficamente a situação de índios citadinos (veja-se, por exemplo, Urbanização e Tribalismo de Roberto Cardoso de Oliveira); e (ii) as redes de relação e os fluxos rural/urbano, aldeia/cidade, Terra Indígena/município; é espantosa a afirmação conclusiva, que, ao contrário do que supõem o autor da matéria e/ou o ideólogo da enquete, deveria ser não o ponto de chegada: “os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano” – mas, sim, o ponto de partida para uma reflexão sobre as distintas e variadas condições em que os diversos povos indígenas se situam no Brasil de hoje. Diversidade e multiplicidade essa que a enquete anula em prol de um “perfil indígena” genericamente definido, que desconsidera aquilo que deveria ser o seu ponto de partida: a diversidade de modos de viver e existir que marcam o Brasil de hoje – seja em sua face indígena, seja em qualquer outra.

Não é necessário ter uma formação em Ciências Sociais muito sólida para ler a enquete naquilo que ela não diz, nas suas entrelinhas, nos objetivos e interesses que ela dissimula – na condição de encomenda da CNA ao Grupo Folha. Embora a enquete sinalize que 94% das pessoas entrevistadas exerçam a agricultura, e que a situação territorial figure em segundo lugar entre os principais problemas enfrentados pelos entrevistados – “tecnicamente empatado” [sic] com “as dificuldades de acesso à saúde”, em primeiro lugar; a conclusão telegráfica da enquete (ou seria da matéria, já não sei mais) conspira em favor da manutenção de um dos mais perniciosos preconceitos que pesam sobre os povos indígenas: que estes seriam seres de um passado remoto (e não povos que coabitam e coexistem conosco contemporaneamente, em sua multiplicidade de jeitos de viver) e que a sua “modernização” e/ou “urbanização” seria como que uma patologia a conspirar contra a sua autenticidade (e não uma das várias dimensões das constantes transformações a que seus múltiplos jeitos de viver estão submetidos) – razão pela qual, concluir-se-ia o raciocínio, não deveriam ser objeto de nenhum regime de atenção e/ou proteção especial.

Eis o alvo que mira a enquete-matéria como dispositivo de formação de opinião: as questões territoriais são secundárias para os povos indígenas, já que têm também outras preocupações e aspirações, e se beneficiam de programas governamentais de transferência de renda, razão pela qual a terra deveria ser eliminada da equação dos povos indígenas no futuro do país. Ao contrário, a terra constitui um problema para a expansão do chamado “setor produtivo” agrário nacional, representado pela instituição que encomendou a – isto é, pagou pela – enquete, motivo suficiente para que esses povos não muito outros tenham suas relações com seus territórios desenraizadas em benefício daquela expansão.

A que “Brasil”, de fato, esse jornal está “a serviço”?

Cordialmente,

Henyo T. Barretto Fº

Profits on Carbon Credits Drive Output of a Harmful Gas (N.Y.Times)

Qilai Shen for The New York Times. A view of a coolant-producing factory in Jiangsu Province, China. Some manufacturers of gases used in air-conditioning and refrigeration have earned millions by accumulating emissions credits from the destruction of an obscure waste gas normally released as a byproduct. The credits are then resold on international markets.

By  and 

Published: August 8, 2012

RANJIT NAGAR, India — When the United Nations wanted to help slow climate change, it established what seemed a sensible system.

Greenhouse gases were rated based on their power to warm the atmosphere. The more dangerous the gas, the more that manufacturers in developing nations would be compensated as they reduced their emissions.

But where the United Nations envisioned environmental reform, some manufacturers of gases used in air-conditioning and refrigeration saw a lucrative business opportunity.

They quickly figured out that they could earn one carbon credit by eliminating one ton of carbon dioxide, but could earn more than 11,000 credits by simply destroying a ton of an obscure waste gas normally released in the manufacturing of a widely used coolant gas. That is because that byproduct has a huge global warming effect. The credits could be sold on international markets, earning tens of millions of dollars a year.

That incentive has driven plants in the developing world not only to increase production of the coolant gas but also to keep it high — a huge problem because the coolant itself contributes to global warming and depletes the ozone layer. That coolant gas is being phased out under a global treaty, but the effort has been a struggle.

So since 2005 the 19 plants receiving the waste gas payments have profited handsomely from an unlikely business: churning out more harmful coolant gas so they can be paid to destroy its waste byproduct. The high output keeps the prices of the coolant gas irresistibly low, discouraging air-conditioning companies from switching to less-damaging alternative gases. That means, critics say, that United Nations subsidies intended to improve the environment are instead creating their own damage.

The United Nations and the European Union, through new rules and an outright ban, are trying to undo this unintended bonanza. But the lucrative incentive has become so entrenched that efforts to roll it back are proving tricky, even risky.

China and India, where most of the 19 factories are, have been resisting mightily. The manufacturers have grown accustomed to an income stream that in some years accounted for half their profits. The windfall has enhanced their power and influence. As a result, many environmental experts fear that if manufacturers are not paid to destroy the waste gas, they will simply resume releasing it into the atmosphere.

A battle is brewing.

Disgusted with the payments, the European Union has announced that as of next year it will no longer accept the so-called waste gas credits from companies in its carbon trading system — by far the largest in the world — essentially declaring them counterfeit currency. That is expected to erode their value, but no one is sure by how much.

“Consumers in Europe want to know that if they’re paying for carbon credits, they will have good environmental effects — and these don’t,” Connie Hedegaard, the European commissioner for climate action, said in an interview.

Likewise, the United Nations is reducing the number of credits the coolant companies can collect in future contracts. But critics say the revised payment schedule is still excessive and will have little immediate effect, since the subsidy is governed by long-term contracts, many of which do not expire for years.

Even raising the possibility of trimming future payments “was politically hard,” said Martin Hession, the immediate past chairman of the United Nations Clean Development Mechanism’s executive board, which awards the credits. China and India both have representatives on the panel, and the new chairman, Maosheng Duan, is Chinese.

Carbon trading has become so essential to companies like Gujarat Fluorochemicals Limited, which owns a coolant plant in this remote corner of Gujarat State in northwest India, that carbon credits are listed as a business on the company Web site. Each plant has probably earned, on average, $20 million to $40 million a year from simply destroying waste gas, says David Hanrahan, the technical director of IDEAcarbon, a leading carbon market consulting firm. He says the income is “largely pure profit.”

And each plant expects to be paid. Some Chinese producers have said that if the payments were to end, they would vent gas skyward. Such releases are illegal in most developed countries, but still permissible in China and India.

As the United Nations became involved in efforts to curb climate change in the last 20 years, it relied on a scientific formula: Carbon dioxide, the most prevalent warming gas, released by smokestacks and vehicles, is given a value of 1. Other industrial gases are assigned values relative to that, based on their warming effect and how long they linger. Methane is valued at 21, nitrous oxide at 310. HFC-23, the waste gas produced making the world’s most common coolant — which is known as HFC-22 — is near the top of the list, at 11,700.

The United Nations used the values to calibrate exchange rates when it began issuing carbon credits in 2005 under the Clean Development Mechanism. That system grants companies that reduce emissions in the developing world carbon credits, which they are then free to sell on global trading markets. Buyers of the credits include power plants that need to offset emissions that exceed European limits, countries buying offsets to comply with the Kyoto Protocol — an international environmental treaty — and some environmentally conscious companies that voluntarily offset their carbon footprint.

Since the United Nations program began, 46 percent of all credits have been awarded to the 19 coolant factories, in Argentina, China, India, Mexico and South Korea. Two Russian plants receive carbon credits for destroying HFC-23 under a related United Nations program.

“I was a climate negotiator, and no one had this in mind,” said David Doniger of the Natural Resources Defense Council. “It turns out you get nearly 100 times more from credits than it costs to do it. It turned the economics of the business on its head.”

Destroying the waste gas is cheap and simple, but it is hard to know exactly how much any one company has earned from doing so, since the market price for carbon credits has varied considerably with demand — from about $9 to nearly $40 per credit — and they can be sold at a discount through futures contracts.

The production of coolants was so driven by the lure of carbon credits for waste gas that in the first few years more than half of the plants operated only until they had produced the maximum amount of gas eligible for the carbon credit subsidy, then shut down until the next year, United Nations reports said. The plants also used inefficient manufacturing processes to generate as much waste gas as possible, said Samuel LaBudde of the Environmental Investigation Agency, an organization based in Washington that has long spearheaded a campaign against what he called “an incredibly perverse subsidy.”

Michael Wara, a law professor at Stanford University, has calculated that in years when carbon credits were trading at high prices and coolant was dirt-cheap because of the oversupply, companies were earning nearly twice as much from the credits as from producing the coolant itself.

The United Nations, recognizing the temptation for companies to jump into the lucrative business, has refused since 2007 to award carbon credits to any new factories destroying the waste gas. And last November, it announced that in contract renewals, factories could claim credits for waste gas equivalent only to 1 percent of their coolant production, down from 3 percent. The United Nations believes that eliminates the incentive to overproduce, said Mr. Hession, the former Clean Development Mechanism board chairman.

Even with these adjustments, credits for destroying waste gas this year remain the most common type in the United Nations system, which rewards companies for reducing all types of warming emissions. Eighteen percent of credits in 2012 will go to the 19 coolant plants, compared with 12 percent to 2,372 wind power plants and 0.2 percent for 312 solar projects for the carbon dioxide emissions avoided by the clean energy they produce.

In India, coolant plants received about half of the United Nations carbon credits awarded to companies in that country, for destroying their waste gas, during the system’s first five years. They accrued the power and money to fight efforts to roll back the subsidy.

Compared with Indian representatives, Chinese diplomats have shown greater willingness at international meetings to consider altering the subsidy for waste gas credits, said Stephen O. Andersen, a former United States Environmental Protection Agency official who is now with the Institute for Governance and Sustainable Development in Washington. That is because China has a more centrally controlled economy and because it is developing an industry based on newer coolants. “It’s easier for them to put the national interest before the interest of one manufacturing sector,” he said.

A bigger question is just how much the European Union’s decision to disallow, as of next year, the waste gas credits in its immense carbon trading system will decrease their value.

Banks and companies holding such credits have been rushing to cash them in or sell them. And the potential devaluation of the carbon credits has an impact in other industrialized nations, since the carbon credit projects involve foreign sponsors and investors, who sometimes received carbon credits in exchange for services or financing.

The Gujarat project was financed by Rabobank of the Netherlands and the Sumitomo Corporation of Japan.

A coolant factory in Monterrey, Mexico, that receives carbon credits is 49 percent owned by Honeywell. Goldman Sachs bought many of its carbon credits.

Such credits are likely to have some continued value, because they can be used in other environmental programs that allow their use, like voluntary ones through which companies offset the emissions generated by having a conference or travelers opt to pay a fee to offset the emissions from an airplane flight.

Mr. LaBudde, of the Environmental Investigation Agency, who has long campaigned against the subsidy, said he hoped that no one would buy these “toxic” credits that “have no place in carbon markets” and that they would quickly disappear. In its latest annual report, Gujarat Fluorochemicals acknowledged that its carbon credits “may not have a significant market” starting next year because European companies have previously been their primary buyers.

Mr. Hanrahan, of IDEAcarbon, said that the credits could, at the very least, be sold at a low price to traders who see the possibility for marginal profit in a way similar to the market for junk bonds. Even if all the proposals to make the carbon trade far less valuable succeeded, the 19 factories certified to generate carbon credits by destroying the waste gas could earn $1 billion from that business over the next eight years, according to projections by IDEAcarbon.

And even as the economics shift, one big environmental question remains: Without some form of inducement, will companies like Gujarat Fluorochemicals continue to destroy the waste gas HFC-23? Already, a small number of coolant factories in China that did not qualify for the United Nations carbon credits freely vent this dangerous chemical. And atmospheric levels are rapidly rising.

Elisabeth Rosenthal reported from Gujarat State, India, and Andrew W. Lehren from New York.

Michael Sandel: ‘We need to reason about how to value our bodies, human dignity, teaching and learning’ (The Guardian)

The political philosophy professor on his new book, What Money Can’t Buy, and why economics needs to be seen not as a science but a moral philosophy

Decca Aitkenhead
guardian.co.uk, Sunday 27 May 2012 20.01 BST
'What is a good hospital?' … Michael Sandel

‘What is a good hospital?’ … Michael Sandel Photograph: Felix Clay for the Guardian

Something curious happened when I tried to potty train my two-year-old recently. To begin with, he was very keen on the idea. I’d read that the trick was to reward him with a chocolate button every time he used the potty, and for the first day or two it went like a breeze – until he cottoned on that the buttons were basically a bribe, and began to smell a rat. By day three he refused point-blank to go anywhere near the potty, and invoking the chocolate button prize only seemed to make him all the more implacable. Even to a toddler’s mind, the logic of the transaction was evidently clear – if he had to be bribed, then the potty couldn’t be a good idea – and within a week he had grown so suspicious and upset that we had to abandon the whole enterprise.

It’s a pity I hadn’t read What Money Can’t Buybefore embarking, because the folly of the chocolate button policy lies at the heart of Michael Sandel‘s new book. “We live at a time when almost everything can be bought and sold,” the Harvard philosopher writes. “We have drifted from having a market economy, to beinga market society,” in which the solution to all manner of social and civic challenges is not a moral debate but the law of the market, on the assumption that cash incentives are always the appropriate mechanism by which good choices are made. Every application of human activity is priced and commodified, and all value judgments are replaced by the simple question: “How much?”

What Money Can’t Buy: The Moral Limits of Markets, by Michael Sandel

Sandel leads us through a dizzying array of examples, from schools paying children to read – $2 (£1.20) a book in Dallas – to commuters buying the right to drive solo in car pool lanes ($10 in many US cities), to lobbyists in Washington paying line-standers to hold their place in the queue for Congressional hearings; in effect, queue-jumping members of the public. Drug addicts in North Carolina can be paid $300 to be sterilised, immigrants can buy a green card for $500,000, best man’s speeches are for sale on the internet, and even body parts are openly traded in a financial market for kidneys, blood and surrogate wombs. Even the space on your forehead can be up for sale. Air New Zealand has paid people to shave their heads and walk around wearing temporary tattoos advertising the airline.

According to the logic of the market, the matter of whether these transactions are right or wrong is literally meaningless. They simply represent efficient arrangements, incentivising desirable behaviour and “improving social utility by making underpriced goods available to those most willing to pay for them”. To Sandel, however, the two important questions we should be asking in every instance are: Is it fair to buy and sell this activity or product? And does doing so degrade it? Almost invariably, his answers are no, and yes.

Sandel, 59, has been teaching political philosophy at Harvard for more than 30 years, and is often described as a rock star professor, such is the excitement his lectures command. In person there is nothing terribly rock star about him; he grew up in a middle-class Jewish family in Minneapolis, studied for his doctorate at Balliol college in Oxford as a Rhodes Scholar, and has been married for decades to a social scientist with whom he has two adult sons. His career, on the other hand, is stratospheric.

Sandel’s justice course is said to be the single most popular university class on the planet, taken by more than 15,000 students to date and televised for a worldwide audience that runs into millions. His 2009 book Justice, based upon the course, became a global bestseller, sparking a craze for moral philosophy in Japan and earning him the accolade “most influential foreign figure” from China Newsweek. If you heard a series of his lectures broadcast on Radio 4 in the spring you would have glimpsed a flavour of his wonderfully discursive approach to lecturing, which is not unlike an Oxbridge tutorial, only conducted with an auditorium full of students, whom he invites to think aloud.

In keeping with his rock star status, Sandel is currently embarked upon a mammoth world tour to promote his new book, and when we meet in London he has almost lost his voice. His next sleep, he croaks, half smiling, isn’t scheduled for another fortnight, and he looks quite weak with jetlag. Understandably, then, he isn’t quite as commanding as I had expected. But although I found his book fascinating – and in parts both confronting and deeply moving – in truth, until the very last pages I didn’t find it quite as persuasive as I had hoped.

This may, as we’ll come on to, have something to do with the fact that its central argument is harder to make in the US than it would be here. “It is a harder sell in America than in Europe,” he agrees. “It cuts against the grain in America.” This is truer today than ever before, he adds, for since he began teaching Sandel has observed in his students “a gradual shift over time, from the 80s to the present, in the direction of individualistic free-market assumptions”. The book’s rather detached, dispassionate line of inquiry into each instance of marketisation – is it fair, and does it degrade? – was devised as a deliberate strategy to “win over the very pro-market American audience” – and it certainly makes for a coolly elegant read, forgoing rhetoric for forensic examination in order to engage with free market economics in terms the discipline understands. But I’m just not entirely sure it works.

If, like me, you share Sandel’s view that moral values should not be replaced by market prices, the interesting way to read What Money Can’t Buy is through the eyes of a pro-market fundamentalist who regards such a notion as sentimental nonsense. Does he win you over then?

He certainly provides some fascinating examples of the market failing to do a better job than social norms or civic values, when it comes to making us do the right thing. For example, economists carried out a survey of villagers in Switzerland to see if they would accept a nuclear waste site in their community. While the site was obviously unwelcome, the villagers recognised its importance to their country, and voted 51% in favour. The economists then asked how they would vote if the government compensated them for accepting the site with an annual payment. Support promptly dropped to 25%. It was the potty-and-chocolate-buttons syndrome all over again. Likewise, a study comparing the British practice of blood donation with the American system whereby the poor can sell their blood found the voluntary approach worked far more effectively. Once again, civic duty turned out to be more powerful than money.

However, a true believer in the law of the market would surely argue that all this proves is that sometimes a particular marketisation device doesn’t work. For them it remains not a moral debate but simply one of efficacy. Sandel writes about the wrongness of a medical system in which the rich can pay for “concierge doctors” who will prioritise wealthy patients – but to anyone who believes in markets, Sandel’s objection would surely cut little ice. They would say it’s a question of whether or not the system is fulfilling its purpose. If the primary purpose of a particular hospital is to save lives, then if it treats a millionaire’s bruised toe while a poorer patient dies of a heart attack in the waiting room, the marketisation has clearly not worked. But if the function of the hospital is to maximise profits, then treating the millionaire’s sore toe first makes perfect sense, doesn’t it?

“I suspect that you have – we have – a certain idea of what a hospital is for, such that a purely profit-driven one misses the mark; it’s deficient in some way; it falls short of what hospitals are properly for. You would say, wouldn’t you, that that hospital – that market-driven one – is not a proper hospital. They’ve misidentified, really, what a hospital is for. Just as if they were a school that said: ‘Our purpose isn’t, really, primarily, to educate students, but to maximise revenue – and we maximise revenue by offering certain credentials, and so on,’ you’d say: ‘Well, that’s not a proper school; they’re deficient in some way.'”

I would, I agree. But a rabid rightwinger wouldn’t. They would say the profit motive is in itself blameless, and pursuing it by mending people’s bodies or expanding their minds is no different to making motor cars, as long as it works.

“My point is that the debate, or the argument, with someone who held that view of the purpose of the hospital would be a moral argument about how properly to understand the purpose of a hospital or a school. And, yes, there would be disagreement – but that disagreement, about purpose, would be, at the same time, a moral disagreement. I’d say ‘moral disagreement’, because it’s not just an empirical question: How did this hospital define its mission? It’s: What are hospitals properly for? What is a good hospital?”

I don’t think that would convince a hardliner at all. Similarly, I imagine a hardline rightwinger might read Sandel’s chapter about the practice in the US of corporations taking life insurance policies out on their staff, often unbeknown to the employees, and think: what’s the problem? Sandel writes about the “moral tawdriness” of companies having a financial interest in the death of an employee, but as he doesn’t suggest it would tempt them to start killing their staff, these policies would strike many on the right as a rational financial investment.

At this point Sandel begins to peer at me across the table with an expression of mild disgust and disbelief. Is this woman really, I think I can see him wondering, from the Guardian? So I explain hastily that I tried very hard to read his book wearing Thatcherite glasses.

“You tried a bit too hard,” he says wryly. “You shouldn’t have tried so hard. You should have gone with the flow a bit more.” Which feels like a disappointing answer.

The irony is that I think Sandel would have written a more powerful book had he not tried to argue the case on free-market economists’ own dry, dispassionate terms. It is, as he rightly points out, the language in which most modern political debate is conducted: “Between those who favour unfettered markets and those who maintain that market choices are free only when they’re made on a level playing field.” But it feels as if by engaging on their terms, he’s forcing himself to make an argument with one hand tied behind his back. Only in the final chapter does he throw caution to the wind, and make the case in the language of poetry.

“Consider the language employed by the critics of commercialisation,” he writes. “‘Debasement’, ‘defilement’, ‘coarsening’, ‘pollution’, the loss of the ‘sacred’. This is a spiritually charged language that gestures toward higher ways of living and being.” And it works, for the book suddenly makes sense to me. His closing elegy to what is lost by a society that surrenders all decisions to the market almost moved me to tears.

“Does that mean I should have just started and ended with the poetry, and forgotten about the argumentative and analytical part?” he asks. “I want to address people who are coming to this from different ideological directions.” But funnily enough, I think the poetry might well do a better job of persuading those very sceptics he’s trying to convert.

A fascinating question he addresses is why the financial crisis appears to have scarcely put a dent in public faith in market solutions. “One would have thought that this would be an occasion for critical reflection on the role of markets in our lives. I think the persistent hold of markets and market values – even in the face of the financial crisis – suggests that the source of that faith runs very deep; deeper than the conviction that markets deliver the goods. I don’t think that’s the most powerful allure of markets. One of the appeals of markets, as a public philosophy, is they seem to spare us the need to engage in public arguments about the meaning of goods. So markets seem to enable us to be non-judgmental about values. But I think that’s a mistake.”

Putting a price on a flat-screen TV or a toaster is, he says, quite sensible. “But how to value pregnancy, procreation, our bodies, human dignity, the value and meaning of teaching and learning – we do need to reason about the value of goods. The markets give us no framework for having that conversation. And we’re tempted to avoid that conversation, because we know we will disagree about how to value bodies, or pregnancy, or sex, or education, or military service; we know we will disagree. So letting markets decide seems to be a non-judgmental, neutral way. And that’s the deepest part of the allure; that it seems to provide a value-neutral, non-judgmental way of determining the value of all goods. But the folly of that promise is – though it may be true enough for toasters and flat-screen televisions – it’s not true for kidneys.”

Sandel makes the illuminating observation that what he calls the “market triumphalism” in western politics over the past 30 years has coincided with a “moral vacancy” at the heart of public discourse, which has been reduced in the media to meaningless shouting matches on cable TV – what might be called the Foxification of debate – and among elected politicians to disagreements so technocratic and timid that citizens despair of politics ever addressing the questions that matter most.

“There is an internal connection between the two, and the internal connection has to do with this flight from judgment in public discourse, or the aspiration to value neutrality in public discourse. And it’s connected to the way economics has cast itself as a value-neutral science when, in fact, it should probably be seen – as it once was – as a branch of moral and political philosophy.”

Sandel’s popularity would certainly indicate a public appetite for something more robust and enriching. I ask if he thinks academia could do with a few more professors with rock star status and he pauses for a polite while before smiling. “That’s a question I would rather have you answer than me, I would say.” That someone as unflashy and mild-mannered as Sandel can command more attention in the US than even a rightwing poster boy academic such as Niall Ferguson must, I would say, be some grounds for optimism. On a purely personal level, I ask, is there any downside to engaging with the world through the eyes of moral philosophy, rather than simple market logic?

“None but the burden of reflection and moral seriousness.”

Brasil é país-modelo em PSA, mas precisa intensificar atuação (Valor Econômico)

JC e-mail 4370, de 24 de Outubro de 2011.

Ainda sem regulamentação nacional, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) se expande no Brasil, mas a passos lentos.

O estudo Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica, feito pela Agência de Cooperação Internacional Alemã (GIZ), levantou quase 80 programas de PSA na região. São 40 projetos de PSA de água, 33 de carbono e 5 em biodiversidade. “As iniciativas aqui estão se proliferando rapidamente. Mas ainda são projetos isolados, que precisam ganhar escala”, afirma Susan Seehusen, assessora técnica em Economia de Meio Ambiente da GIZ. Com 22% de sua área original, a Mata Atlântica fornece serviços ambientais para comunidades tradicionais e rurais de seu entorno e a comunidade global.

De maior abrangência, os projetos de água contam com fontes de recursos de orçamentos públicos e verba do Comitê de Bacias Hidrográficas lideradas por prefeituras municipais e empresas do setor. O programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Água (ANA), remunera produtores rurais e impulsiona o desenvolvimento do setor. Com o pagamento desses recursos humanos mais ações de restauração e conservação florestal, o custo anual dos projetos vai de R$ 200 mil a R$ 2,5 milhões por ano. Hoje, programas em fase inicial envolvem cerca de 350 produtores e beneficiam 22,2 milhões de pessoas.

Ligados a projetos de neutralização de CO2, os PSA de carbono se concentram na região do Pontal de Paranapanema, na tríplice fronteira São Paulo, Paraná e Minas Gerais, em terras de 10 hectares e 50 hectares. Já proprietários de áreas de mais de 100 hectares aderem aos programas a fim de atrair investidores.

Já atividades de proteção à biodiversidade são as menos apoiadas. “Nessa área, há baixa disposição para pagar. As pessoas se aproveitam do serviço mas não pagam por eles, são os chamados caronistas”, ressalta Susan.

A ampliação dos programas de PSA esbarra em problemas de governança, nos altos investimentos e na falta de regulamentação – tramita no Congresso o projeto de lei nº 792/2007, que visa instituir uma política nacional e criar um programa nacional e um fundo de PSA. Restaurar 1 hectare de terra custa de R$ 10 mil a R$ 20 mil. Então, ganham pontos ações que visam diminuir a pobreza e melhorar a distribuição de renda, como o ICMS-Ecológico, em regiões do Paraná.

Ainda assim, o Brasil é um dos países mais avançados em PSA e serve como modelo para outros países, de acordo com Peter May, professor de pós-graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro da International Society for Ecological Economics (ISEE), May faz estudo comparativo global sobre Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (Redd) e divulga dados estratégicos para formuladores de políticas públicas. “Em relação a outros países, temos um mercado agropecuário maduro sem ilegalidades e donos de terras mais instruídos. Estados como Espírito Santo, São Paulo, Amazonas e Acre criaram leis próprias”, diz. Segundo ele, a Costa Rica é modelo clássico com legislação e PSA desenvolvidos. Já Colômbia, Peru, México e Equador têm políticas próprias, mas se espelham nos nossos moldes.

Para May, além de quadro regulatório, a política de PSA deve ser incorporada pelo Código Florestal. Ele alerta ainda que o Brasil carece de experiências mais concretas e resultados práticos. O que, no entanto, exige pesquisa e monitoramento que podem sair mais caros que o projeto.