Arquivo da tag: Grafite

Seco e colorido: Grafiteiros vão ao Cantareira em protesto artístico (Conta D’Água)

Em tempos de seca grafiteiros fazem arte-protesto no complexo cantareira e dão medidor de nível de água para a população

Por Henrique Santana, da Revista Vaidapé

2 de março de 2015

Submersos no maior colapso de abastecimento de água da história do Estado de São Paulo, grafiteiros resolveram dar um rolê pela represa de Atibainha, em Nazaré Paulista, para fazer o que sabem melhor: grafitar. A Vaidapé participou da ação do início ao fim e o registro vocês conferem nesta reportagem.

O time foi composto por grandes nomes do graffite da cidade: Thiago Mundano, encabeçador do projeto “Pimp My Carroça”, que estiliza o principal objeto de trabalho dos carroceiros paulistas; Mauro, do movimento Imargem; Enivo, um dos responsáveis pelo polêmico graffite nos Arcos do Jânio, criticado por fazer uma suposta exaltação ao líder venezuelano, Hugo Chavez; Subtu, famoso pelos desenhos de macacos brancos espalhados pela cidade; e Fel, exímio escalador de prédios, que estampa desenhos gigantes edifícios da cidade.

O APARELHO DE MEDIÇÃO

A trupe do spray foi ao Cantareira com o objetivo de fazer um graffite-medidor. As pinturas, realizadas em baixo da ponte da represa de Atibainha , serão usadas de parâmetro para acompanhar o nível da água. “Estamos aqui para ver, de fato, o nível da água do Cantareira, porque não dá para confiar muito no que a gente vê na TV, no que a Sabesb diz, no que dizem nossos governadores. Então a gente veio fazer uma arte para ser um nivelador, para a população que vem aqui também possa acompanhar a situação da água Não é porque cresceu um pouquinho que está bem. O nível está negativo e a gente vai acompanhar por essa arte, que é um jeito de trazer um novo olhar para essa crise hídrica”, explica Mundano.

Torneiras colocadas por Mundano em cactos da represa (Foto: André D’Elia)

Subtu, o famoso pintor de macacos brancos, criticou o desperdício de água e não deixou de lado seu carro chefe, estampando na ponte mais um de seus primatas. “Eu fiz o macaco assim, desperdiçando água, porque o macaco é o ser humano desprovido de inteligência. Então ele é meio burro e tal. É para fazer uma referência a essas pessoas que não se tocaram ainda que a gente está numa crise violenta de água, que continua lavando o carro, que não reutiliza a água. Então é meio que isso, ele tá na ‘gozolândia’, ele tá aqui na Cantareira despejando água da garrafinha”, provoca.

“A gente está aqui hoje, na Cantareira, fazendo o que a gente mais gosta de fazer, que é arte, que é pintar. E hoje tá servindo como um alerta, como uma crítica”, conta Enivo ao falar que a ideia é que os graffites sejam submerso — caso o nível da represa volte a subir.

O protesto artístico surgiu de uma camaradagem que aflorou nas ruas de São Paulo. Apesar dos grafiteiros atuarem em diferentes regiões da cidade, a afinidade entre seus projetos individuais e os roles pelo asfalto quente da terra da garoa fez com que seus caminhos se cruzassem. Enivo pontua que a ação “acaba sendo um encontro de amigos para pintar, mas agora com um porquê”.

ARTE DENTRO E FORA DE CASA

Além do graffite-medidor, a ida para a represa de Atibainha teve outros porquês. Tanto Mundano quanto Mauro irão, no dia 7 de março, inaugurar a exposição “Ver-A-Cidade Mudana”, na galeria A7MA, Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. O nome da mostra faz referência ao trabalho dos dois artistas. A ideia é construir um diálogo entre a arte exposta dentro e fora das galerias. Enivo é um dos sócios da A7MA, que abriu espaço para que artistas independentes consigam vender obras para garantir sua subesistência.

“Para a gente, que é artista, grafiteiro, é um prazer e uma missão poder falar disso, seja nas ruas, seja aqui nesse marco, nesse lugar monumental, importante para a sociedade paulistana. E também poder mostrar isso em um ambiente fechado, relacionando toda essa nossa poética em obras móveis que as pessoas podem olhar, podem até levar para casa. Então, na galeria A7MA, a gente vai fazer está exposição e vai relacionar tudo isso: arte na rua e arte dentro dos espaços”, diz Mauro, que também é idealizador de outros projetos, como o Cartograffiti.

Grafites de Mauro e Mundano, lado a lado na represa de Atibainda (Foto: André D’Elia)

Os artistas também vão abordar temas relativos a crise de abastecimento, levando para a galeria o projeto dos cinco grafiteiros no Cantareira. A arte ganha moldes de protesto e navega de Nazaré Paulista ao centro. Do subúrbio seco aos bairros em que o racionamento não veio.

A arte vai ao sertão paulista e os arredores da terra rachada ganham vida. Enquanto isso, os moradores da ‘gozolândia’ central continuam sem ver a cor da falta d’água. Na periferia, por outro lado, a torneira que não pinga já virou rotineira.

Brazilian artist’s image of starving child kicks up a World Cup storm (LA Times)

Paulo Ito’s artwork in São Paulo has been shared thousands of times online.

BY VINCENT BEVINS May 27, 2014, 10:30 a.m.

A work of graffiti here has become an overnight global symbol, subverting official representations of Brazil and placing street artist Paulo Ito unexpectedly in the middle of the battle to define the country’s image during next month’s World Cup.

In the untitled work on the fence of a local elementary school, a black child sits down to eat, only to be presented with a soccer ball on a plate. It went around the world quickly, Ito thinks, because it “brought together what a lot of people are thinking.”

From just two Facebook posts, the spray paint and latex image was shared more than 96,000 times, even before being subsequently reported on in numerous countries.

The simple message was obvious, even if it is metaphorical. Brazil’s poorest already receive monthly stipends for basic goods, and few of the thousands of World Cup protesters who have been on the streets ever mention food, instead focusing on cost overruns at stadiums and a shortage of quality education, healthcare and housing.

But like much else during the turbulent time before the games start, Ito’s image has taken on a different scale abroad than it has at home. Here it has even been used by those whose politics Ito considers unscrupulous, underlining the difficulty of nailing down a clear aesthetic message for the world’s cameras, which will arrive all too soon.

“Everything tends to be taken as from one side or the other, which doesn’t make sense. Right now, even the protesters don’t know what their actions will lead to, since the situation is so complex,” says Ito, 36, who’s been active in the street art scene here for 14 years. “I want the World Cup to be a failure for FIFA but a victory for the Brazilian people.”

The clash of ideas and representation over the World Cup is complex as about half the country currently thinks it will be bad overall for Brazil. At the moment, some insist that “there will be no World Cup,” saying a corrupted event should be disrupted in the name of other progressive social causes. Others have extensive complaints but are worried about linking them to the World Cup and how Brazil could look if things go the wrong way.

Still others, those in the right-leaning political opposition, may generally want to present a strong Brazil to the world but know that a poorly executed competition boosts their electoral chances in October. In the protest movement, literal fights have broken out over flags and images raised in the streets.

Then there is FIFA, soccer’s governing body, which last week presented the official World Cup video, featuring Pitbull and Jennifer Lopez and shot in Miami, alongside a gaggle of old-school Brazil Carnaval stereotypes that were widely condemned here.

Artistically, Ito’s work is firmly grounded in the tradition of São Paulo street art, which is as well-known here as it is underappreciated abroad. Its colors and fine features remind the viewer of Os Gemeos, a São Paulo graffiti duo who have garnered some international success and have worked with Ito.

But Ito says his main inspiration is pixação, the black latex paint spelling out tag names aggressively and illegally across the city in an extraterrestrial-meets-Druidic-runes script.

“People think they are representing Brazil because they do something very tropical, with some Indians. … but that’s not what we are,” says Ito. In fact, São Paulo, South America’s largest city and host of the opening match on June 12, “is chaos in concrete.”

But the viral image may already be more famous abroad than it is here. It took on a life of its own largely because a right-wing Brazilian Facebook page called TV Revolta used it to highlight its message.

“They think that everything that happens in the country is the fault of [Worker’s Party President] Dilma Rousseff. I find that type of thinking stupid,” says Ito, who says it’s important to praise the real advances made in the country while also pointing out misplaced priorities. “But we’re still very far from perfection … let’s show the world what we are, and not what some want to show or what others wish we looked like.”