Arquivo da tag: jornalismo

Torcida organizada não é sinônimo de violência (Esporte Essencial)

TORCIDA ORGANIZADA NÃO É SINÔNIMO DE VIOLÊNCIA

Por Katryn Dias – Esporte Essencial – 4 de dezembro de 2012

renzo2_426Em meados de 2001, cursando a pós-graduação em antropologia na Universidade de Columbia, em Nova York, Renzo Taddei iniciou sua pesquisa de campo, de caráter etnográfico. Como seu plano era estudar a violência, optou por um tema muito recorrente no cotidiano de diversos países: as torcidas organizadas. Comumente associadas a atos criminosos, de vandalismo ou brigas, as torcidas da Argentina foram o foco principal.

Nesta entrevista exclusiva, Taddei, que atualmente é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica um pouco do que pode observar enquanto esteve em contato com torcedores e líderes de torcidas, vivenciando o cotidiano daquele grupo. Na medida do possível, também traça alguns paralelos entre o que viu na Argentina e o que encontra hoje no Brasil.

Esporte Essencial: Durante a sua pesquisa de campo, você teve oportunidade de conhecer de perto uma torcida organizada em Buenos Aires. O que você observou lá também se adequa ao cenário brasileiro? Em que sentido?

Renzo Taddei: Há diferenças marcantes entre a forma como as torcidas existem e se organizam na Argentina e no Brasil. Uma delas é a associação com partidos políticos. Isso é muito forte na Argentina, mas, até onde eu sei, não ocorre no Brasil. Em parte isso se dá porque o Partido Peronista tem uma imensa base popular naquele país, do tamanho que nenhum partido tem no Brasil. Muitos políticos estabelecem relações com grupos de torcedores, muitas vezes inclusive usando-os para causar confusão em eventos políticos de rivais. Mas raramente se pode dizer que uma torcida organizada participa disso; em geral são grupos pequenos.

Outra diferença deve-se à distribuição espacial dos clubes. No ano em que fiz minha pesquisa de campo mais longa, em 2001, 13 dos 20 clubes da primeira divisão Argentina estavam sediados em Buenos Aires. No Brasil, não há mais de dois ou três clubes por cidade, o que reduz a relevância espacial do lugar onde o clube está sediado. Não há muita relação entre torcer pelo Botafogo e viver em Botafogo, ou torcer pelo Palmeiras e viver próximo ao Parque Antártica, em São Paulo. Na Argentina, com exceção de times como o Boca Júniors e o River Plate, que conjugam uma participação de bairro forte com uma existência que transcende o bairro onde estão, os demais times são muito fortemente ligados às localidades e bairros em que ficam. Isso significa que outras formas de conflito, como tensões entre bairros, tendem a contaminar a relação entre as torcidas.

“HÁ MUITO MAIS NA VIDA SOCIAL DAS TORCIDAS DO QUE A VIOLÊNCIA. ESSA É UMA PARTE ÍNFIMA DA ATIVIDADE DAS TORCIDAS, E DA QUAL PARTICIPAM POUCAS PESSOAS. MAS, INFELIZMENTE, É O QUE CHAMA A ATENÇÃO E VIRA NOTÍCIA”

Eu converso bastante com torcedores no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e acompanho pela imprensa as notícias sobre as torcidas organizadas. Leio também os trabalhos acadêmicos produzidos no Brasil sobre o tema. Creio que há muitas semelhanças entre os dois países – ou pelo menos entre as três cidades: Buenos Aires, Rio e São Paulo. Mas minhas opiniões sobre as torcidas no Brasil não são fundamentadas em trabalho de campo sistemático, como é minha visão sobre as torcidas argentinas, e em razão disso os paralelos têm que ser traçados com muito cuidado.

EE: O que você pode concluir com a pesquisa sobre a violência nas torcidas organizadas?

RT: Inicialmente, a primeira coisa que eu concluí é que a percepção da violência varia muito em função do lugar de quem observa. Se nos basearmos em estatísticas policiais, como faz boa parte dos estudiosos sobre o assunto, o que veremos é apenas violência, que pode crescer ou diminuir, mas é sempre violência. A abordagem da antropologia parte de uma tentativa mais ampla de compreensão do mundo das torcidas, para só então analisar o papel que a violência desempenha aí. Há muito mais na vida social das torcidas do que a violência. Essa é uma parte ínfima da atividade das torcidas, e da qual participam poucas pessoas. Mas, infelizmente, é o que chama a atenção e vira notícia. Ninguém tem interesse nas demais atividades, com a exceção do carnaval, em São Paulo, onde as três maiores torcidas participam com suas escolas de samba. É óbvio que se torcida organizada fosse sinônimo de violência, como a imprensa faz parecer recorrentemente, seria impossível que essas mesmas torcidas organizassem algo grande e complexo, que demanda cooperação e organização, como um desfile de carnaval.

Minha pesquisa ocorreu em um bairro da periferia de Buenos Aires, Mataderos, numa região onde há áreas habitadas pela classe média, por famílias de classe média baixa, e onde está também uma das maiores favelas da Argentina, chamadaCiudad Oculta. E o que eu encontrei foram pessoas vivendo suas vidas e tentando resolver seus problemas, em geral sem muita ajuda do poder público. A imensa maioria dos torcedores-habitantes da região se esforçava para tentar prevenir as situações em que a violência das torcidas ocorre, incluindo aí todos os líderes de torcidas com os quais tive a oportunidade de conviver. Em geral, estavam preocupados com o crescimento do consumo de drogas (pasta base e cola de sapateiro, naquele momento) por crianças, e com o aumento da disponibilidade de armas de fogo no bairro; mas o que realmente os preocupava era o empobrecimento da população da periferia. Vi os líderes recorrentemente organizando churrascos na sede de clube, nas manhãs dos dias de jogos, onde grande quantidade de comida era distribuída entre os torcedores mais pobres. Muitas vezes os líderes dedicavam parte da semana coletando doações de comida entre diretores do clube, jogadores e alguns torcedores mais abastados do bairro. Uma vez um líder me disse que se os torcedores mais pobres entrassem no estádio com fome, coisa que não era incomum, a chance de confusão era muito maior.

onibusbastao-renzo_650

Torcedor comemorando vitória do time Nueva Chicago, na Argentina, em ônibus da torcida.

Havia pessoas da comunidade que se envolviam em atividades ilícitas – como há em qualquer lugar, independente de classe social. Na torcida do Nueva Chicago, clube com o qual trabalhei, nenhum dos líderes era “bandido”, mas eram pessoas com perfil de líderes comunitários. Havia líderes do passado que tinham se envolvido com crimes, mas na época da minha pesquisa, eram todos trabalhadores. Quando voltei ao bairro, dez anos depois da pesquisa, todos os líderes de torcida com os quais eu havia trabalhado eram líderes comunitários; alguns eram líderes sindicais. Nenhum havia sido preso ou morrido.

O fato de que boa parte deles é grande, forte, barbudo, tatuado e tem “cara de mau” não faz qualquer diferença aqui. Grande parte do problema das torcidas é reflexo da discriminação social e racismo presentes em nossas sociedades – não apenas o racismo manifestado nas arquibancadas, pelas próprias torcidas, mas principalmente o racismo que não ganha espaço na mídia, o racismo das classes médias urbanas para com os jovens pobres de periferia. Esse racismo se manifesta, sobretudo, na relação tumultuada que a polícia tem com esses jovens.

Aliás, uma das “conveniências” da expressão “violência das torcidas” é o fato de que ela faz referência à violência associada à população jovem, pobre e negra, sem precisar ser explícito a respeito. Ninguém pensa em alguém rico e branco quando se evoca o problema das torcidas – como se essas pessoas não fizessem parte das torcidas. Tenho a impressão de que, muitas vezes, o uso dessa expressão permite que algumas pessoas e instituições sejam racistas sem parecer estarem sendo racistas.

“GRANDE PARTE DO PROBLEMA DAS TORCIDAS É REFLEXO DA DISCRIMINAÇÃO SOCIAL E RACISMO PRESENTES EM NOSSAS SOCIEDADES. PRINCIPALMENTE O RACISMO DAS CLASSES MÉDIAS URBANAS PARA COM OS JOVENS POBRES DE PERIFERIA”

EE: Quais as principais causas geradoras da violência dentro das torcidas organizadas? E como evitá-las?

RT: Não há sociedade sem violência. Nunca houve, na história da humanidade. O que temos são sociedades que sabem lidar melhor com certos tipos de violência; em geral, essas são as que tem uma visão mais aberta e realista sobre a violência, e não uma visão moralista, como a nossa. Fingimos o tempo todo que a violência não existe, apenas para nos chocarmos quando ela se manifesta.

Tratar a questão da violência das torcidas como problema de polícia faz parte desse panorama. É uma forma de evitar termos que pensar a sociedade em que vivemos, encarar nossos problemas a fundo. De qualquer forma, não acho que os atos de violência que ocorrem na relação entre torcidas tenham causas diferentes de outras formas de violência da sociedade. Posso elencar alguns fatores, correndo o risco de deixar muita coisa de fora. Há o fato de tentamos suprimir artificialmente as muitas formas de discriminação que existem em nossa sociedade, fingindo que elas não existem, o que apenas faz com que elas ressurjam de formas abruptas e violentas. Eu poderia também mencionar a impunidade, mas acho que essa é apenas a ponta de um iceberg. Pelo menos no que diz respeito às torcidas, por baixo disso – de atos violentos condenáveis – há o ressentimento por parte da população para com o poder público, e em especial para com a polícia, em razão da violência desmesurada e frequentemente aleatória por parte desta sobre a população jovem, pobre e negra. Tenho a impressão que, em situações de alteração emocional coletiva, esse ressentimento se transforma em ataque ao patrimônio público. No ano de 2001, durante a crise política argentina, a multidão incendiou o Congresso Nacional daquele país. Para grande parte daquelas pessoas, o Estado está ausente de suas vidas diárias, exceto pela presença da polícia. Ou seja, a polícia é a cara do Estado. E muita gente em Buenos Aires tem a experiência de ter apanhado da polícia ou de ter sido presa sem fazer a menor ideia do motivo para tanto. No Brasil não acho que isso é diferente.

policia-renzo_650

Portanto, a questão passa pela legitimidade do Estado frente às populações, muito mais do que pelo tema da impunidade. O Estado não faz qualquer esforço no sentido de construir sua legitimidade política junto às populações mais pobres, com muito raras exceções. A percepção de que o Estado é ilegítimo, somada ao tratamento aviltante dado pela polícia à população em geral, e aos torcedores em particular, resulta em ações contra a ordem instituída – depredação do patrimônio e agressão contra a própria polícia. Mas essa reação não é planejada, não é articulada objetivamente, e por isso ela pode também ser parte de outras formas de violência, como a que ocorre entre torcidas. Ou seja, é um contexto que produz a violência como forma de expressão, e que produz pessoas que usam a violência como forma de expressão. O contexto violento impõe as regras violentas do jogo; as pessoas não são violentas por alguma “essência” interior. E isso é uma questão que se faz presente em diversos contextos sociais, não apenas no futebol.

Assassinos devem ser julgados e punidos; a não punição de assassinos não vai melhorar a situação no curto prazo, só piorar. Mas reduzir a questão mais ampla dos atos de violência associados às torcidas a um problema de polícia não vai resolver nada de forma definitiva. Na minha percepção, a maneira como o poder público trata o problema se reduz a um imenso teatro. E a população em geral não consegue pensar de outro modo que não seja “isso é problema do poder público”; por isso estamos atolados, sem sair do lugar. Ou seja, é preciso, no mínimo, transformar as forma de relação entre o Estado e a população, o que passa por transformar a polícia.

EE: No seu trabalho, você afirma que “a maioria dos torcedores torcia pelas torcidas”. Como você explica esse fato? E por que motivo o que acontece dentro do campo deixa de ser tão importante?

RT: O futebol, como esporte, passou por muitas transformações ao longo dos últimos 150 anos. Inicialmente, na Inglaterra, houve o esforço de “civilizar” a sua prática, que era notória por sua capacidade de gerar tumulto e confusão. Segundo Eric Dunning, um importante estudioso da violência no futebol, as autoridades inglesas iniciaram um combate ao futebol, através de leis que o proibiam em certos locais, por volta do ano 1314. No século 19, as regras que conhecemos foram desenvolvidas, com o objetivo de transformar uma prática de lazer popular em exercício de disciplinamento do corpo e da mente. Esse já foi um primeiro passo no processo de distanciamento entre a vida das classes populares e o esporte. Ao longo do século 20, duas outras coisas importantes ocorrem nesse sentido: o futebol se transforma em espetáculo, o que faz com que participantes sejam transformados em espectadores – a própria ideia de torcedor, que implica em alguém que não participa diretamente do jogo, aparece apenas no início do século passado. Em segundo lugar, e em especial na segunda metade do século, há um processo de profissionalização e de aburguesamento do esporte, o que distancia ainda mais o que ocorre dentro de campo e a comunidade de torcedores. Jogadores que antes eram membros da comunidade, como ainda ocorre em times pequenos, de segundas e terceiras divisões, passam a ser profissionais-celebridades com quem a torcida não interage de forma significativa; inclusive porque tais jogadores tendem a permanecer pouco tempo em cada clube. Qualquer resquício de experiência de comunidade ficou então restrito às torcidas, ao que ocorre nas arquibancadas. Foi o que eu vivenciei na Argentina: os jogadores eram festejados como celebridades, mas a relação com eles era superficial; a relação com a vida da comunidade de torcedores, com seus símbolos e rituais, no entanto, era muito mais forte e perene. Por isso eu disse que os torcedores em geral torcem muito mais por suas próprias torcidas do que pela equipe.

“REDUZIR A QUESTÃO MAIS AMPLA DOS ATOS DE VIOLÊNCIA ASSOCIADOS ÀS TORCIDAS A UM PROBLEMA DE POLÍCIA NÃO VAI RESOLVER NADA DE FORMA DEFINITIVA”

Mas isso marca mais os torcedores que frequentam os estádios e outros lugares das torcidas. Há vários tipos de torcedores. O torcedor de sofá, em geral, não tem essa experiência. O torcedor de boteco tem um pouco dela. Na relação com a torcida nos estádios, há muitos torcedores que são espectadores de terceiro grau: são espectadores do jogo e do espetáculo que as torcidas promovem nas arquibancadas, que eles só veem pela televisão. Aliás, parte do cinismo presente nos discursos midiáticos sobre a violência das torcidas é o fato de que estes jamais mencionam que muitos espectadores veem nas torcidas um espetáculo tão notável quanto o que ocorre em campo. Tenho amigos corintianos que falam com muito orgulho da Gaviões da Fiel, sem nunca terem se aproximado fisicamente da torcida. Vi a mesma coisa com a La 12, maior torcida do Boca Juniors, na Argentina.

EE: Em Buenos Aires, você descobriu que os torcedores mais jovens são geralmente os mais agressivos. No Brasil, um levantamento do jornal Lance! mostrou que, nos últimos 24 anos, mais de 150 pessoas foram mortas em decorrência de brigas entre torcidas, sendo 47% delas na faixa etária entre 11 e 20 anos. Esse número pode ser explicado pelo mesmo motivo?

arquibancada-renzo_450RT: Ninguém deveria morrer indo ao estádio. Mas esses são números que revelam que o pânico moral em torno das torcidas é ridículo. Muito mais gente morre andando de bicicleta do que indo ao estádio. Pensemos através dos números: as grandes torcidas organizadas têm dezenas de milhares de associados; só no brasileirão de 2011, o público total foi de cinco milhões e meio de pessoas. Adicione aí os estaduais, e as outras divisões, e seguramente temos mais de 10 milhões de torcedores nos estádios anualmente. E temos uma média de 10 a 12 mortes por ano. Se esses números estiverem corretos, é como dizer que a taxa é de 0,1 mortes por 100.000 habitantes, e apenas levando em consideração as pessoas que efetivamente vão aos estádios. Estatisticamente, é obvio que ir ao estádio, e mesmo participar das torcidas, não está entre as coisas mais perigosas da vida urbana; pelo contrário. Para uma grande quantidade de gente – em especial os mais pobres nos grandes centros urbanos -, participar de uma torcida dá uma sensação de pertencimento e segurança não encontrada em outras áreas da vida. Foi isso que eu vi na Argentina: boa parte dos imigrantes de outras partes do país, ou de outros países, ia morar nas favelas da capital argentina, onde não tinham rede de apoio social, parentes, amigos. Encontravam isso nas torcidas.

“SE HOUVESSE UMA MELHOR INTERLOCUÇÃO ENTRE OS DIVERSOS SETORES DA SOCIEDADE ENVOLVIDOS NA QUESTÃO, E EM ESPECIAL ENTRE AS TORCIDAS E AS AUTORIDADES, TENHO CERTEZA DE QUE AS PRÓPRIAS TORCIDAS AJUDARIAM NO CONTROLE DO PROBLEMA. MAS AS TORCIDAS E SEUS LÍDERES SÃO PREVIAMENTE TAXADOS DE BANDIDOS”

Com relação à idade dos participantes, isso remete a outras questões que eu ainda não mencionei. As culturas e sociedades humanas, quaisquer que sejam, têm que lidar com essa questão, a necessidade de controlar, de alguma forma, a abundância de energia e os comportamentos agonísticos, agressivos, dos garotos adolescentes e jovens adultos. O próprio surgimento dos esportes pode estar ligado a isso, de alguma forma. Entre os jovens ligados às torcidas organizadas, não é incomum a visão de que, para se transformar em um líder com fama e prestígio, é preciso demonstrar altos níveis de coragem e agressividade. Com o tempo, os membros das torcidas, e especialmente os líderes, que tendem a ser mais velhos, entendem que para ter a liderança é preciso muito mais do que coragem e valentia; é preciso, fundamentalmente, inteligência e carisma. E isso não se ganha no grito.

Por isso eu digo que, sem as torcidas e os controles que elas exercem sobre seus membros, os índices de violência e criminalidade em áreas periféricas, como a que eu pesquisei na Argentina, seriam provavelmente maiores. Qualquer grupo social exerce alguma forma de controle sobre seus membros; as torcidas não são diferentes. Como eu ouvi recorrentemente na Argentina, situações de violência e confusão não são convenientes aos líderes de torcida, porque estes têm muito a perder com isso. Também não são convenientes, para usar um exemplo mais chocante ao nosso senso comum, a quem trafica drogas dentro das torcidas: em situações violentas, eles correm o risco de perder a droga e serem presos. Eu vi traficantes atuando de forma a conter o ímpeto de violência de alguns torcedores, o que poderia desencadear eventos violentos coletivos. Não se trata de apresentar traficantes como “bons moços”; muitas vidas são efetivamente perdidas com o consumo de droga na torcida, e não descarto que eventos violentos podem ser desencadeados por ações tolas e desmesuradas cometidas por alguém sob efeito de drogas. O que eu estou tentando dizer é que a realidade é mais complexa do que o que faz crer essa tendência que temos de dividir o mundo entre “bons” e “maus”.

invasao-renzo_650

De qualquer forma, minha experiência com as torcidas me diz que, em geral, quando uma torcida é a causadora de atos de violência contra a polícia ou outra torcida, isso frequentemente se dá em decorrência de atos impensados e impulsivos dos torcedores mais jovens. Os torcedores mais velhos e os líderes precisam saber administrar o ímpeto dos mais jovens. Mas nem sempre são capazes de fazê-lo, e quando a situação sai de controle e o combate se estabelece, os líderes acabam tendo que entrar na briga ao lado dos jovens que a causaram.

Eu presenciei negociações entre líderes de torcida e delegados de polícia de bairros de periferia, em que os últimos autorizavam a entrada de bandeiras ou tambores nos estádios, coisa proibida em Buenos Aires quando fiz minha pesquisa, em troca da garantia dos líderes que estes iriam controlar los pibes, a “molecada”, e que não haveria confusão ao redor do estádio. Ou seja, essa relação entre as ações dos mais jovens e as brigas era entendida de forma semelhante tanto por líderes como por policiais de bairro.

“PARA UMA GRANDE QUANTIDADE DE GENTE, EM ESPECIAL OS MAIS POBRES NOS GRANDES CENTROS URBANOS, PARTICIPAR DE UMA TORCIDA DÁ UMA SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO E SEGURANÇA NÃO ENCONTRADA EM OUTRAS ÁREAS DA VIDA”

Na Europa, uma das iniciativas mais ousadas de que tenho notícia é a contratação de assistentes sociais, na Bélgica, Holanda e Alemanha, com o intuito de conviver com as torcidas, e agir estrategicamente nos momentos em que ações de poucos indivíduos poderiam desencadear reações em cadeia, se alastrando para toda uma multidão e resultando em violência e depredação. Ou seja, a ideia era, ao invés de criminalizar todo um contingente de pessoas, evitar que a fagulha que produz a explosão coletiva ocorresse. Acho isso uma ideia genial; liberal demais, talvez, para o pensamento de nossas elites políticas, porque desarticula as formas de discriminação que existem na base de nossa existência social.

EE: Depois da obra, o Maracanã vai contar com um conjunto de ações anti-vandalismo, que inclui a utilização de materiais anticorrosivos e resistentes a pancadas. Você acredita que essa é a maneira correta de prevenir esse tipo de ação? Como evitar confusões entre torcedores em eventos de grandes proporções, como a Copa do Mundo?

RT: O Maracanã está saindo muito caro para a sociedade. Acho bom que ele seja, pelo menos, durável. Mas não há qualquer prevenção nisso.

arquibancadanoturno-renzo_450Pensando em escala de curtíssimo prazo, para os grandes eventos que se aproximam, as autoridades devem ser capazes de identificar agressores e submetê-los à justiça, mas de forma precisa, objetiva, isenta. Se houvesse uma melhor interlocução entre os diversos setores da sociedade envolvidos na questão, e em especial entre as torcidas e as autoridades, tenho certeza de que as próprias torcidas ajudariam no controle do problema. Mas as torcidas e seus líderes são previamente taxados de bandidos, e o que se vê pautando a percepção coletiva, via mídia, é então apenas o discurso da polícia, repetido no jornalismo de forma quase sempre acrítica. Muitos jornalistas, infelizmente, pensam: “não vou dar espaço a esses bandidos” – sem perceber que, ao fazê-lo, estão pré-julgando e condenando muita gente que nunca se envolveu em violência. Essa é uma das razões pelas quais nunca se ouve a voz de quem participa das torcidas. Ou seja, em geral, a cobertura jornalística sobre a questão das torcidas tende a refletir apenas um ponto de vista, dentre muitos outros possíveis: o que manifesta certo moralismo das classes médias urbanas. Como conclusão, eu diria então que um pré-requisito para qualquer avanço nessa área é a melhoria na interlocução entre torcidas, jornalistas, autoridades e demais envolvidos.

Num prazo mais longo, é preciso mudar a relação entre o Estado e os segmentos da população diretamente envolvidos. Uma das coisas que as lideranças da polícia do Rio de Janeiro aprenderam, a duras penas, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, é que o treinamento dado aos policiais para o policiamento das ruas não era adequado para a situação de convivência com as comunidades. É justamente essa a questão, o mesmo ocorre nos estádios: os policiais precisam, antes de tudo, ser treinados para a convivência com os torcedores, entendendo as lógicas específicas dos contextos das torcidas, e só então o combate ao crime entra em cena. Não se pode pensar que a convivência é uma coisa óbvia, e o combate ao crime é que é complexo: a convivência entre torcedores e policiais deve ser tomada como um elemento fundamental, tão importante e complexo, do ponto de vista dos policiais, quanto ser capaz de identificar um crime. Por essa razão, eu sinceramente espero que o Coronel Robson, uma das autoridades policiais mais esclarecidas a esse respeito no Rio de Janeiro, seja envolvido na preparação das polícias de todo o Brasil para a Copa do Mundo de 2014.

Fotos: Renzo Taddei

O agronegócio e a manipulação midiática: o caso dos conflitos fundiários em Mato Grosso do Sul e o papel da Antropologia (ABA)

Fabio Mura (antropólogo, membro da CAI)

Informativo especial n° 026/2012  |  28/11/2012 (retificado)

Uma decisão judicial revertendo uma reintegração de posse e tendo como beneficiária uma comunidade indígena, e, ademais, determinando que o Estado brasileiro (através do órgão indigenista oficial) promova a conclusão dos estudos para identificação e delimitação de uma terra indígena é seguida de uma chuva de artigos em jornais, revistas e blogs, que estão com ela diretamente relacionados. Em seu cerne, estes artigos focam-se num ataque aos antropólogos que são os profissionais responsáveis por tais tipos de estudos. Tal coincidência de fatos merece uma devida contextualização e uma análise, que passaremos a delinear.

“No que toca aos indígenas em especial a Veja tem exercitado com inteira impunidade o direito de desinformar a opinião pública, realimentar velhos estigmas e preconceitos, e inculcar argumentos de encomenda que não resistem a qualquer exame ou discussão”.

As matérias mentirosas, caluniosas e carregadas de preconceito “não devem ser vistas como episódios isolados, mas como manifestações de um poder abusivo que pretende inviabilizar o cumprimento de direitos constitucionais, abafando as vozes das coletividades subalternizadas e cerceando o livre debate e a reflexão dos cidadãos”

João Pacheco de Oliveira, Coordenador da CAI, maio de 2010

O artigo  expressa o ponto de vista da Associação Brasileira de Antropologia-ABA.

O contexto que dá origem à solidariedade da sociedade civil para com os indígenas e à reação midiática em defesa do agronegócio 

Vem cada vez mais ganhando a atenção da sociedade civil a situação em que se encontram os indígenas Guarani-Kaiowa e Guarani-Ñandéva de Mato Grosso do Sul. Os episódios de violência de que estes indígenas têm sido alvo em diversos enfrentamentos fundiários chamam a atenção por sua natureza: pessoas espancadas, feridas por arma de fogo, mortas, indícios de sequestro de corpos de vítimas para confundir investigações policiais, assim como um clima de tensão, gerado em cercos aos acampamentos organizados por esses indígenas nos espaços que consideram como de sua ocupação tradicional, e demonstrações de opulência paramilitar nas estradas que conduzem às fazendas da região.

Nos últimos tempos, a luta de uma comunidade kaiowa específica, Pyelito Kue, tem se constituído em algo emblemático pela tenacidade demonstrada por seus integrantes.  Acampada próxima ao rio Hovy, no município de Iguatemi, sul do estado essa comunidade afirmou uma disposição de morrer, antes de deixar o que consideram como suas terras de origem e de onde foram expulsas. Com efeito, não obstante a fragilidade de vida no acampamento – sofrendo de fome, com casos de suicídio entre seus membros –, as famílias de Pyelito reagiram à liminar de despejo emitida pela Justiça Federal de Naviraí (MS) dispondo-se a morrer na terra ancestral.

Todos esses fatores (embasados por outros de caráter especificamente jurídicos) eram de conhecimento do Juiz, através da argumentação interposta pelo MPF.  Na audiência para decidir o pleito, o juiz pode, ademais, contar com os esclarecimentos prestados pela antropóloga responsável pelos estudos de identificação e delimitação da terra indígena correspondente à comunidade de Pyelito, no concernente ao processo de expropriação fundiária que desembocou na expulsão das famílias de Pyelito de seus espaços de ocupação tradicional – ora reivindicados.  Não obstante essas informações, e o fato de os índios ocuparem apenas um hectare do total de 700 da fazenda cujo proprietário impetrou a ação de reintegração de posse, a sentença foi desfavorável aos indígenas – de modo idêntico, aliás, à esmagadora maioria dos casos julgados em primeira instância em Mato Grosso do Sul sobre disputa fundiária envolvendo comunidades Guarani-Kaiowa e Guarani-Ñandéva.

Em seguida, a referida atitude dos indígenas provocou a solidariedade e a indignação de parte significativa da sociedade civil, que percebia na decisão judicial uma atitude que atentava ao direito à vida e à especificidade dessa vida do ponto de vista indígena, assim refutando o que se revela como um genocídio e um etnocídio dos Guarani. Através das redes sociais da internet, iniciou-se uma campanha, de repercussão nacional e internacional, focada principalmente sobre o destino da comunidade de Pyelito e, de modo mais geral, sobre o destino de todo este povo.

Em decorrência de recurso da decisão, em uma instância externa a Mato Grosso do Sul, o Tribunal Regional Federal de São Paulo, não apenas foi acatado o recurso, suspendendo a liminar de despejo, mas, no corpo da sentença, intimou-se o Governo, responsável pelo processo administrativo, a publicar, no prazo de 30 dias, o relatório de identificação e delimitação da terra indígena – no caso, a “Terra Indígena Iguatemipegua I”, que abrange as comunidades de Pyelito Kue e Mbarakay.

É justamente a partir, e contrastando o mérito desta última decisão judicial, que no espaço de apenas duas semanas tem-se uma sequência de artigos publicados pela revista “Veja” e pela “Folha de São Paulo”, apoiados em resultados de uma pesquisa feita pelo Datafolha, sob encomenda de um organismo nada isento de interesse, como é a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Mais do que aprofundar-se em entender casos específicos como o de Pyelito, o intento destes artigos é discutir quais seriam as “reais exigências e interesses dos índios contemporâneos” (sic). Vejamos (e analisemos) a seguir os principais dados e argumentos apresentados pelos articulistas, bem como suas conclusões.

Os argumentos de certa mídia sobre os povos indígenas 

Os artigos veiculados pela revista Veja (Visão medieval de antropólogos deixa índios na penúria), de Leonardo Coutinho (http://www.abant.org.br/file?id=864 – Nota de João Pacheco de Oliveira, Coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas, em maio de 2010 sobre a matéria intitulada “A farra da antropologia oportunista”,  elaborada pelo mesmo mau jornalista), e os de autoria de Reinaldo Azevedo (As reservas indígenas e o surrealismo brasileiro: celular, televisão, cesta básica, Bolsa Família e 13% do território brasileiro para… nada! E há gente querendo mais!, e O que realmente querem os índios e o que alguns antropólogos querem que eles queiram…), publicados respectivamente nos dias 4, 10 e 11 de novembro de 2012, bem como a matéria Uma antropologia imóvel, da senadora Kátia Abreu, na Folha de São Paulo do sábado, dia 17 de novembro, apresentam estruturas argumentativas e objetivos bastante semelhantes, complementando-se entre si. A finalidade principal é apresentar resultados de pesquisas como aquela realizada recentemente pelo Datafolha, arrogando-se a competência necessária para analisar os dados produzidos, e apresentando situações sociais, culturais e materiais de suma complexidade, como se estas fossem de simples compreensão.

Improvisando-se em especialistas em antropologia e questões indígenas, os autores declaram que as “reais necessidades” dos indígenas contemporâneos, seriam manifestadas a partir de uma lógica de consumo, em tudo semelhante àquela que impulsiona a classe média da sociedade nacional: os índios desejam celulares, televisões, casas de alvenaria, geladeiras, etc. Afirma-se que escola e trabalho seriam, portanto, os caminhos para se conseguir estes bens, que permitiriam “progredir socialmente”, sendo a terra e os recursos naturais nela presentes de importância secundária, se não irrelevante. Declara-se que os indígenas (em geral) seriam, em suas origens, “pescadores, nômades e coletores”, como escreve a senadora Abreu, razão pela qual não teriam, em suas organizações enquanto povos, um vínculo específico com um determinado lugar; eles apenas “vagam” pelo Brasil”, como afirmado por Leonardo Coutinho. Não seriam agricultores, produtores de alimentos e as reivindicações fundiárias não surgiriam, portanto, das necessidades destes povos, mas da cabeça de missionários e antropólogos, que teriam convencido os índios (sempre nas palavras de Coutinho) “de que o nascimento ou o sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra que ocupem enquanto vagam pelo Brasil é o suficiente para considerarem toda a área de sua propriedade”.

Como fica evidente até mesmo nos títulos das matérias, a imagem que se quer transmitir é de uma antropologia que, propositalmente ou romanticamente, buscaria descrever os indígenas com características que seriam apenas de seus antepassados remotos, com o intuito de justificar a demarcação de amplas frações do território nacional para nelas continuar tutelando os povos indígenas. Reinaldo Azevedo chega a afirmar que o processo demarcatório estaria produzindo “uma horda de miseráveis com celular, televisão e DVD”.

Desta forma, acusa-se profissionais com uma longa formação acadêmica de manifestar um “pensamento medieval”, de promover uma “antropologia do miolo mole”, como definido pelo mesmo Azevedo em seu blog, ou ainda uma “antropologia imóvel”, segundo a expressão de Kátia Abreu.  Com exceção feita ao escrito da senadora, cujo tom apresenta uma formal polidez , para veicular esses argumentos as matérias utilizam-se de uma linguagem arrogante e profundamente preconceituosa, quando não ofensiva, principalmente em relação aos indígenas. Os Guarani (Kaiowa e Ñandéva) de Mato Grosso do Sul prontamente responderam aos argumentos de Coutinho, através de nota emitida pelo conselho da Aty Guasu, a assembleia geral destes povos, manifestando indignação e acusando a revista Veja de fomentar o preconceito para com os índios, apresentados que são como incapazes de pensar com suas próprias cabeças e de tomar suas próprias decisões. No tocante ao papel da Antropologia, cabe observar que especificamente a senadora, na abertura de sua matéria, parece reconhecer os profundos conhecimentos que a Antropologia vem acumulando a respeito dos diferentes povos indígenas, mas ao mesmo tempo afirma que seria injustificável que estas informações “sejam usadas como instrumento de dominação e manipulação”. Ainda citando o caso dos povos tupi e guarani, argumenta ela que estes “são estudados há tanto tempo quanto os astecas e os incas, mas a ilusão de que eles, em seus sonhos e seus desejos, estão parados no tempo não resiste a meia hora de conversa com qualquer um dos seus descendentes atuais”.

Pois bem, estas colocações nos levam a questionar: quem de fato está manipulando informações?  Qual seria a Antropologia que não leva em consideração, em suas análises, as formas de viver e de conceituar o mundo por parte dos indígenas contemporâneos? Comecemos enfrentando a segunda questão, para, em seguida, nos dedicarmos à primeira.

Desconstruindo estereótipos e lugares comuns: o saber antropológico e a questão indígena 

Indicaremos aqui, de modo sucinto, a complexidade dos dados e dos estudos voltados a identificar e delimitar uma terra indígena, bem como dos conhecimentos antropológicos, de modo geral. Para tal propósito, focaremos um contexto específico: o das reivindicações fundiárias feitas pelos Guarani Kaiowa e Guarani Ñandéva, em Mato Grosso do Sul. Com isto queremos evitar sermos excessivamente generalistas e, ao mesmo tempo, poder informar sobre o caso que desencadeou a reação de uma certa mídia, representada aqui pelos veículos e autores citados. O objetivo é revelar quão superficiais, mal informados, caricaturais e mal intencionados são os argumentos das matérias jornalísticas aqui tratadas.

Em primeiro lugar, é totalmente falso o fato de que todos os povos indígenas sejam ou tenham, um dia, sido nômades, centrando as suas economias na caça, na pesca e na coleta. E mais importante ainda, quando nômades, estes não “vagam” por um espaço geográfico, mas constroem, através de suas experiências acumuladas ao longo de séculos, verdadeiros territórios de referência, nos quais baseiam suas atividades e desenvolvem suas vidas.

Em segundo lugar, significativa parte dos indígenas centra suas atividades econômicas na agricultura. Os Guarani aqui em tela são milenares agricultores, existindo uma ampla e rica literatura histórica, arqueológica e antropológica que documenta este fato. Esta mesma literatura coloca em destaque também o fato de os Guarani terem, ao longo de milênios, num processo de expansão civilizacional em busca de terras férteis, realizado amplas migrações; isto de modo algum os caracteriza como nômades, como é muitas vezes erroneamente apresentado pela mídia. Com efeito, ao considerarmos os últimos séculos, percebe-se um modo de ocupação sedentário; milhares de sítios arqueológicos justamente revelam para os Guarani uma continuidade ocupacional e o desenvolvimento de rotações de cultivos ao redor de centros de habitações. Estes centros são construídos nas proximidades de fontes de água (nascentes, córregos e rios), formando amplas redes de comunidades locais. A relação entre estas comunidades, que permite a integração social e a cooperação, é determinada por uma elevada mobilidade espacial, para participar de rituais, realizar atividades econômicas (coleta, caça e pesca), socializar, visitar parentes, estabelecer casamentos, formar ou fortalecer alianças e, antigamente, para organizar e empreender ações guerreiras. Como fica claro, esta mobilidade não representa absolutamente um “vagar” pelo Brasil (ou entre Brasil e Paraguai), conforme pretendido por Leonardo Coutinho em sua matéria.

Em terceiro lugar, é importante destacar que os indígenas não são uma realidade abstrata e homogênea, cada povo sendo um sujeito histórico com suas peculiaridades, constituídas ao longo do tempo, em situações sociais, econômicas e territoriais concretas. Neste sentido, os povos indígenas não podem ser vistos como estáticos, relegados a um modo de vida pretérito, nem como seres passivos, suas vidas, desejos e inspirações sendo definidas apenas por fatores externos ao seu próprio agir. Não cabe dúvida de que o impacto da colonização e o contato com outras civilizações têm-lhe proporcionado novos saberes, tornando as experiências individuais e coletivas mais ricas e diversificadas.  Por outro lado, é também verdade que estas novas experiências não são realizadas a partir de um vazio de informação, de parâmetros e de lógicas de entendimento sobre o mundo; os indígenas vêm, ao longo de séculos e milênios, construído tradições de conhecimento, produzindo cosmologias, definindo quadros morais, lógicas de troca, circulação e uso de bens materiais e simbólicos, fatores estes que permitem a definição de parâmetros para dar um sentido específico a suas coletividades.

É a partir da compreensão destes parâmetros, que costumam ser bastante sofisticados, que podemos entender qual espaço um determinado objeto ocupa na escala de valores definida pelos indígenas, qual será o seu destino de uso, suas propriedades simbólicas, como este pode ser transacionado, trocado, distribuído, etc. Para dar um pequeno exemplo, quando se encontram geladeiras nas residências kaiowa, estas são utilizadas de uma forma bem específica: suas prateleiras são quase totalmente ocupadas por garrafas PET cheias de água, que é destinada ao preparo do tererê (infusão fria da erva mate), consumido geralmente de modo coletivo, quando da visita de parentes, algo constante nas residências destes indígenas. Fica, portanto, óbvio que a eficiência técnica da geladeira, como instrumento que subtrai calor, é algo apreciado pelos kaiowa, mas o uso social deste objeto é definido de modo bem particular. Este exemplo representa apenas a ponta de um iceberg, cuja base não poderemos apresentar aqui por falta de espaço, havendo que se levar em conta todos os parâmetros acima descritos, que são absolutamente diferentes daqueles que servem como referência aos membros da nova classe média nacional, e não similar, como pretendido em seu blog por Reinaldo Azevedo.

Há que se considerar, ainda, que a terra não representa para os povos indígenas em geral um mero meio econômico, assim como a agricultura e outras atividades produtivas não apresentam apenas aspectos materiais, sendo intimamente ligadas à ordem cósmica, adquirindo fortes conotações religiosas. Neste sentido, no caso dos kaiowa, pensar-se que a retirada forçada de seus integrantes de significativas porções de seus territórios de ocupação tradicional, com a sucessiva depauperação dos mesmos (por desmatamento para pecuária extensiva e monoculturas exportadoras) leve estes indígenas a renunciarem àqueles espaços territoriais, representa uma visão extremamente superficial do fenômeno em pauta. Com efeito, as famílias indígenas consideram-se pertencentes a esses lugares, cujo uso material e simbólico revela-se para elas fundamental na manutenção da ordem cósmica e no destino de seu povo. As violências (físicas e simbólicas) sofridas por efeitos da colonização têm, ao contrário, conduzido a uma exaltação simbólica das propriedades da terra e dos lugares de origem, num complexo processo de construção cultural do sentido de pertencimento territorial, étnico e cósmico. Esta complexidade emerge através de acuradas pesquisas e não resulta das presumidas fantasias de “antropólogos de miolo mole” (como disse Azevedo), que estariam convencendo os índios de que “o nascimento ou o sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra” lhes outorga o direito de propriedade sobre o mesmo (como afirmado por Leonardo Coutinho, na Veja).

Finalmente, é importante observar que quando se identifica e delimita uma terra indígena busca-se relacionar famílias indígenas concretas e específicas com espaços territoriais também concretos e específicos. Para tal propósito é necessário verificar as modalidades de uso, conceituação e exploração do território por parte do grupo em consideração. Assim, em Mato Grosso do Sul, a tarefa consiste em analisar a relação de comunidades indígenas contemporâneas com os lugares de onde foram expulsas há apenas poucas décadas, delimitando-se apenas os espaços necessários à reprodução física e cultural dessas comunidades específicas, conforme os ditames da Constituição Federal vigente. No caso da comunidade de Pyelito Kue, que tem atraído toda essa atenção midiática, por exemplo, trata-se de um esbulho ocorrido a partir dos anos quarenta e que se acirrou com uma remoção maciça das famílias indígenas dos lugares que consideram de sua origem no final da década de 1970. Não se trata, pois, de definir um elo imemorial com a situação pré-colonial, criando um território indígena abstrato e sem parâmetros no tamanho. Portanto, é totalmente desprovido de fundamento afirmar-se que, uma vez que antes da conquista européia o Brasil era habitado unicamente por indígenas, estes últimos poderiam reivindicar hoje a totalidade da sua superfície, colocando assim em perigo o resto da população do país (e a capacidade produtiva e econômica da nação).

Inúmeras páginas ainda poderiam detalhar os fatores necessários para se desenvolver uma adequada pesquisa que dê embasamento aos Relatórios Circunstanciados de Identificação e Delimitação de uma Terra Indígena (orientada, aliás, por regulamentação específica e criteriosa), feitos pelos antropólogos, mas, por motivos de espaço, isto se torna impossível. O objetivo maior é apontar sua complexidade, ao tempo que revela a desinformação, a banalização e a distorção da realidade que são apresentadas nos artigos aqui elencados. Poder-se-ia talvez afirmar que isto é fruto da ignorância, mas isto não é uma justificativa válida. Há uma vasta e riquíssima literatura sobre povos indígenas, constituída por publicações, dissertações e teses, bem como por relatórios de identificação de terras e laudos periciais antropológicos, que poderia bem ser consultada. Por que será que isto não ocorre? Pensamos que seja não um problema de mera ignorância, mas devido a uma proposital intenção de manipular a informação, cujas razões consideraremos a seguir.

Os interesses do agronegócio e a Antropologia como incômodo

Os estudos e aprofundamentos antropológicos podem se constituir em uma ameaça aos interesses do agronegócio. A imprensa que apoia as suas razões, por sua vez, sabe que em processos administrativos e jurídicos, argumentações bem fundamentadas, fruto das pesquisas de profissionais sérios, com formação consistente e ampla experiência sobre os indígenas podem redundar no reconhecimento de direitos territoriais, colocando assim em risco seus empreendimentos. Seus representantes sabem, igualmente, que atacar diretamente a Antropologia como um todo, uma ciência com mais de um século de formação, seria contraproducente; proceder deste modo os exporia, deixando transparecer de modo evidente e radical a unilateralidade de seus próprios interesses. Não podendo afrontá-la diretamente, enveredam por caminhos indiretos. Em lugar de conduzir o debate a partir de conteúdos antropológicos, lançam mão dos sentimentos nacionalistas, suscitando com isto alarmismos, ao afirmar que os índios atentam à soberania nacional, representam o atraso e estão associados a interesses estrangeiros. Recorrem também a ataques pessoais, buscando contrastar os profissionais antropólogos não tanto em seus argumentos, mas como indivíduos, que seriam suspeitos. Ainda assim, necessitam contornar o fato de que os argumentos antropológicos lhes são inconvenientes. Constroem então o expediente de se referir aos antropólogos que realizam identificações e laudos periciais como sendo representantes de “certa Antropologia”. É bastante evidente o objetivo desta estratégia: deixar imaginar a existência de outras possíveis Antropologias, cujos argumentos refutariam aqueles normalmente apresentados nos relatórios e nas perícias. Afirma-se, por exemplo, que os antropólogos da FUNAI em Mato Grosso do Sul estariam querendo demarcar o maior número de terras indígenas para nelas perpetuar a tutela. Isto é algo falso, na medida em que os Grupos Técnicos que estão realizando os trabalhos naquele estado são coordenados por antropólogos que não são funcionários desta instituição oficial. Ademais, esses antropólogos têm formação acadêmica em nível de doutorado ou mestrado, em sua maioria sendo professores de universidades federais, com experiência sobre os indígenas em pauta, tendo defendido sobre eles dissertações e teses, publicando livros e diversos artigos científicos.

É evidente que estas estratégias discursivas são rapidamente desmascaradas frente a um crivo acadêmico. Porém, há que se evidenciar que o seu principal alvo (além obviamente da opinião pública, contribuindo para reforçar lugares comuns) é o mundo jurídico, mais especificamente a Justiça Federal, buscando influenciar suas decisões, formando verdadeiros dossiês, compostos com matérias de artigos impressos e da internet. Por vezes os juízes não possuem parâmetros para discernir sobre a qualidade de um estudo antropológico, nem sobre correntes, paradigmas teóricos, metodologias, etc. É justamente em virtude desta situação que, por exemplo, em vários contra-laudos (documentos elaborados para contrastar os relatórios de identificação de terras e as perícias antropológicas) são exaltados determinados autores que sequer têm formação antropológica, apresentando-os como eminências na disciplina, buscando criar assim uma Antropologia fictícia, a ser contraposta àquela “Antropologia do miolo mole”. Gera-se, nesses termos, uma imagem de autoridade sobre a matéria, cuja verificação se torna de difícil realização pelos juízes, que confiam na idoneidade de seus elaboradores.

Por último mas não menos relevante, ao deslocar a atenção do conteúdo e da qualidade dos relatórios antropológicos de identificação de uma terra indígena para um ataque à FUNAI, essas estratégias discursivas buscam igualmente desestabilizar e deslegitimar a estrutura do Estado, procurando interferir, o máximo possível, nos processos administrativos voltados ao cumprimento de ditames constitucionais.

 

Hardtalk: Vandana Shiva, environmentalist (BBC)

Duration: 25 minutes / First broadcast: Monday 19 November 2012

Hardtalk speaks to the original tree hugger. The phrase was coined back in the 1970s when she – along with a group of women in India – hugged trees to stop them from being chopped down. In the decades since, Vandana Shiva has become known throughout the world for her environmental campaigns. She says a billion people go hungry in the world because of the way greedy international companies go about their business. So is it a naïve world view or could we really end poverty and improve everyone’s life by returning to old fashioned ways of farming?

http://www.bbc.co.uk/programmes/p010d95m

Overwhelming Public Support for Whistleblowers (Science Daily)

ScienceDaily (Nov. 19, 2012) — New research by the University of Greenwich shows 4 out of 5 Britons think that people should be supported for revealing serious wrongdoing, even if it means revealing inside information. However, under half of the respondents (47%) thought whistleblowing is an acceptable thing to do in our society. Hence, people think society is less supportive of it than it should be.

Three quarters of respondents, who are employees or members of an organisation, also indicated that if they observed wrongdoing, they would feel personally obliged to report it to someone in their organisation. However, a smaller proportion were confident their organisation would stop wrongdoing if they reported it, and less than half thought management in their organisation were serious about protecting people who report wrongdong. Still, almost 9 out of 10 in Britain believe whistleblowers should be able to use the media to draw attention to wrongdoing (either as a first resort, when there become specific reasons to do so or as a last resort).

Dr Wim Vandekerckhove from the Work and Employment Relations Unit (WERU) at the University of Greenwich, who leads the research, believes that at a time where a change in the UK legislation on whistleblower protection is demanded by different actors and in different directions, it is important to take stock of how citizens feel about whistleblowing. Any changes to the legislation should be in line with attempts to close the gaps identified by this research.

Dr Vandekerckhove concludes that this research shows people will raise concern inside their organisation, but adds: ‘If we don’t make it safer for employees to speak up inside their organisations, people will support those who blow the whistle to the media.’ Political, business and community leaders must accept this new reality, and develop and implement legislation and policies that make it safe and effective to speak up about wrongdoing inside the organisation.

This research was funded by the University of Greenwich Business School. ComRes interviewed 2,000 adults online from 26th to 28th October 2012. Data were weighted to be demographically representative of all British adults aged 18+. ComRes is a member of the British Polling Council and abides by its rules. Full data tables are available at ComRes.co.uk.

Dr Wim Vandekerckhove is Senior Lecturer at the University of Greenwich where he researches and teaches on whistleblowing, business ethics, and organisational behaviour. He has published widely in academic journals and books, and is a regular international speaker at conferences and events on whistleblowing and business ethics.

The survey is part of an ongoing international project measuring public attitudes to whistleblowing. Findings in Australia show a similar thrust as these from Britain.

Working paper: http://ssrn.com/abstract=2176193

Conhecimento não é fator determinante para formação de opinião sobre ciência (Fapesp)

Códigos morais e políticos podem influenciar muito mais as atitudes em relação a questões científicas e tecnológicas, aponta pesquisador (FAPESP)

14/11/2012

Por Elton Alisson

Agência FAPESP – As pesquisas sobre percepção pública da ciência e tecnologia realizadas em diferentes países, incluindo o Brasil, com o objetivo de avaliar a opinião dos cidadãos sobre temas científicos e tecnológicos deparam com o desafio de explicar quais fatores influenciam atitudes, interesse e engajamento em relação a esses assuntos.

Isso porque, do conjunto de indicadores utilizados nessas pesquisas para analisar quais fatores são mais relevantes na formação de interesses e atitudes dos cidadãos sobre ciência e tecnologia – como renda, educação, idade e escolaridade –, nenhum deles consegue explicar minimamente a variabilidade das respostas.

“Tem alguma outra variável que não estamos medindo que determina o tipo de atitude das pessoas sobre ciência e tecnologia em geral”, disse Juri Castelfranchi, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), durante conferência sobre os desafios interpretativos e metodológicos para o estudo da percepção pública da ciência e tecnologia que proferiu no dia 27 de outubro no 2º Seminário Internacional Empírika.

Realizado nos dias 26 e 27 de outubro no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o evento integrou a programação da Feira Ibero-americana de Ciência, Tecnologia e Inovação (Empírika).

De acordo com Castelfranchi, um dos fatores que contribuem para a dificuldade de as pesquisas sobre percepção pública da ciência e tecnologia determinarem qual ou quais processos contribuem para a construção da opinião pública sobre o tema é que elas estão “baseadas na hipótese mal fundada e fundamentada de que as atitudes das pessoas em relação aos assuntos científicos e tecnológicos são moduladas pelo conhecimento que têm sobre esses temas”.

Tradicionalmente, segundo Castelfranchi, a maioria dos estudos realizados sobre o que faz com que as pessoas aceitem ou rejeitem a realização de uma pesquisa científica ou uma nova tecnologia focalizou o interesse, o conhecimento e as atitudes dos entrevistados em relação à ciência e tecnologia, baseado na ideia de que esses três aspectos estariam relacionados.

Dessa forma, as pessoas não interessadas teriam baixo nível de informação e tenderiam, em geral, a ter atitudes mais negativas em relação à ciência e tecnologia. Por outro lado, ao estimular o interesse dessas pessoas por temas científicos e tecnológicos seria possível melhorar o nível de conhecimento delas sobre essas áreas e, consequentemente, suas atitudes em relação à ciência e tecnologia se tornariam mais positivas.

Entretanto, pesquisas de campo demonstraram que essas premissas são falsas e que a situação real é muito mais complexa do que a defendida por esse modelo, que foi derrubado.

Em geral, de acordo com os resultados de estudos recentes na área, existe um grande interesse de boa parte da população sobre os temas de ciência e tecnologia, mas que não corresponde à busca de informação.

“Há grupos de público com baixa escolaridade, principalmente em países em desenvolvimento, que não conhecem e não buscam informação sobre ciência e que têm atitudes bastante positivas em relação à ciência e tecnologia”, disse Castelfranchi.

“Em contrapartida, alguns estudos detectaram que não é verdade que, ao aumentar o conhecimento, a atitude das pessoas se torna mais positiva. Em alguns casos ocorre o contrário, elas tendem a ser mais cautelosas e críticas”, disse.

Paradoxo do conhecimento versus atitude

Segundo Castelfranchi, um dos exemplos que ilustram essa suposta contradição, batizada de “paradoxo do conhecimento versus atitude”, é a questão dos transgênicos na Europa.

O continente, que é um dos que mais investem em ciência e tecnologia, decretou no início dos anos 2000 uma moratória contra os alimentos transgênicos após intensos debates entre segmentos da sociedade favoráveis e outros contrários à tecnologia, baseados no apelo emocional e argumentos mais de cunho econômico e político do que científico.

Uma pesquisa realizada em 1998 e replicada em 2010 em toda a Comunidade Europeia sobre o conhecimento e atitudes dos europeus em relação a aplicações biotecnológicas, incluindo alimentos e vacinas transgênicas, apontou que o fator risco não era determinante para a rejeição ou não da população à nova tecnologia.

Em muitos casos, os entrevistados responderam que algumas aplicações biotecnológicas eram perigosas, mas que eram úteis, moralmente aceitáveis e que deveriam ser encorajadas. Em outros casos, os participantes da pesquisa apontaram determinadas aplicações biotecnológicas como não tão perigosas, mas politicamente e moralmente questionáveis – como os transgênicos –, o que fez com que a tecnologia fosse rejeitada.

“Não foi o risco o fator mais relevante que levou à rejeição dos transgênicos na Europa, mas considerações políticas como, entre elas, o fato de a tecnologia ser controlada por multinacionais, ser patenteada e porque os países europeus eram contrários a monoculturas”, avaliou Castelfranchi.

A pesquisa também apontou que os cidadãos europeus que tinham conhecimento mais baixo não rejeitavam os transgênicos, mas não tinham uma opinião formada sobre eles. Por outro lado, os participantes com maior escolaridade tinham opiniões favoráveis ou contrárias mais definidas.

“O conhecimento não mudou a atitude dos cidadãos europeus em relação aos transgênicos, mas sim o fato de terem uma atitude mais definida em relação à tecnologia, a exemplo do que também pode ser observado no Brasil e em outros países ibero-americanos onde foram realizadas pesquisas do gênero”, disse Castelfranchi.

Na mais recente pesquisa Percepção pública da ciência e tecnologia, realizada no fim de 2010 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com mais de 2 mil pessoas em todo o país, nenhum dos grupos específicos, de diferentes níveis sociais e de escolaridade, respondeu que as tecnologias trazem mais malefícios do que benefícios, quando perguntados sobre isso.

Porém, os participantes que mais conheciam cientistas e instituições de pesquisa foram justamente os que declararam em maior proporção que os cientistas podem ser perigosos em função do conhecimento que possuem.

“Não há nenhuma associação entre baixa escolaridade e achar que a ciência é perigosa. Mas, pelo contrário: pessoas de alta escolaridade tendem a ter uma postura mais cautelosa tanto em relação aos benefícios como sobre os malefícios apresentados pela ciência e tecnologia”, afirmou Castelfranchi.

Valores morais e políticos

No caso do Brasil, um dos fatores relevantes que influenciam as atitudes dos brasileiros em relação à ciência e tecnologia, identificado por Castelfranchi e outros pesquisadores que analisaram os dados da pesquisa realizada pelo MCTI, é o porte das cidades onde os entrevistados moram.

Os pesquisadores constataram que os participantes da pesquisa que moram em cidades brasileiras de grande porte tendem a avaliar melhor os prós e contras do desenvolvimento tecnocientífico para responder se a ciência e tecnologia trazem só benefícios ou malefícios. Já as pessoas que residem em cidades pequenas têm uma chance ligeiramente maior de apontar que a ciência só traz benefícios.

Contudo, tanto essa variável como nenhuma outra, como o sexo dos entrevistados, não consegue explicar, por si só, a variabilidade das respostas se a ciência e a tecnologia trazem mais benefícios ou malefícios.

“Nenhum dos fatores analisados até agora implica as pessoas terem uma posição mais otimista ou pessimista sobre a ciência e a tecnologia. Tem outros pontos, que precisamos descobrir, que influenciam essa resposta”, avaliou Castelfranchi.

Uma das hipóteses levantadas pelo pesquisador é que os códigos morais e políticos das pessoas, como a religião, podem ser mais determinantes do que o conhecimento que elas possuem ou não para formar suas opiniões sobre aspectos específicos da ciência e da tecnologia.

Entre os participantes da pesquisa sobre percepção pública da ciência e tecnologia realizada pelo MCTI, os que se declararam católicos concordaram mais do que os evangélicos com uma das afirmações feitas durante o estudo de que por causa de seu conhecimento os cientistas têm poderes que os tornam perigosos e que a ciência tem que ser controlada socialmente.

“A trajetória e a orientação de vida e os valores morais das pessoas, provavelmente, exercem uma influência muito maior na modulação de suas atitudes em relação à ciência e tecnologia em geral e sobre aspectos específicos da pesquisa do que o nível de conhecimento que elas têm”, estima Castelfranchi.

Para comprovar essa hipótese, de acordo com o pesquisador, é preciso desenvolver novas metodologias qualitativas e quantitativas e grandes quantidades de observações etnográficas para verificar como as pessoas se posicionam em relação à ciência e tecnologia, abolindo a ideia de que isso está relacionado apenas ao nível de conhecimento.

“Precisamos renovar nossas metodologias de pesquisa e a forma como olhamos e interpretamos os dados das pesquisas de percepção pública da ciência e tecnologia para entender como as pessoas atribuem sentido e constroem suas opiniões sobre questões científicas e tecnológicas, para termos uma visão dinâmica de como formam suas atitudes”, afirmou Castelfranchi.

Pesquisa Datafolha/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sobre a “integração” dos índios ao “modo de vida urbano”; Folha de S.Paulo e Veja + Carta do antrópologo Henyo Barretto à Ombudsman da Folha de SP

[A Folha se alinha com a Veja; não está claro se por má fé, interesse comercial, ou obtusidade. RT]

10/11/2012 – 04h00

MATHEUS LEITÃO

DE BRASÍLIA

Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles.

Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país.

Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular.

Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados.

Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.

De todo modo, os números ainda estão longe dos percentuais de acesso a bens de consumo da média da população. No Brasil como um todo, segundo o IBGE, 98% têm televisão; 82%, aparelho de DVD; e 79% têm celular.

A pesquisa teve ainda o intuito de avaliar as condições de vida dos indígenas.

Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde.

A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%).

Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece.

A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids.

A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles.

Algumas características das aldeias: 69% têm postos de saúde; 88%, escolas; 59%, igrejas; 19%, mercados; e 6%, farmácias.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Dois terços dos indígenas recebem do Bolsa Família
Guaranis-caiovás reclamam da falta de recursos para plantar

*   *   *

Pois é… as reservas indígenas brasileiras ocupam 13% do território nacional. Se depender da Funai e de alguns antropólogos do miolo mole, chega-se a 20%. A questão não está no número em si. Poder-se-ia destinar até 50% — desde que houvesse índios para tanto e que eles conseguissem tirar das imensas extensões de terra que dominam ao menos o suficiente para a sua subsistência. Mas não acontece. Não é só isso: as reservas são concedidas na suposição — falsa como nota de R$ 3 — de que aqueles enormes vazios econômicos em torno da comunidade são essenciais para que ela preserve sua cultura. Procurem na Internet a poesia indianista em prosa do ministro Ayres Britto, relator do caso Raposa Serra do Sol. Ele apelou a um índio que acabou junto com a literatura romântica. Ainda volto a esse aspecto.

Muito bem: pesquisa Datafolha demonstra que a maioria dos índios brasileiros está integrada às práticas próprias da vida urbana. Uma boa parcela conta com televisão, DVD, geladeira, celular… Esse aparato, não obstante, convive com a pobreza, razão por que quase a metade recebe cesta básica. Isso quer dizer que eles nem plantam nem caçam o que comem: vivem da caridade estatal — e em condições precárias.

As reservas são santuários para lustrar as aspirações de certa antropologia mistificadora, que ainda quer mais. Leiam o que informa Matheus Leitão naFolha. Volto depois:
*
Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles. Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país.

Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular. Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados. Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.
(…)
Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde. A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%). Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece.

A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids. A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles.

Bolsa família e cesta básica
A pesquisa sobre o perfil indígena feita pelo Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela que 64% dos índios são beneficiários do Programa Bolsa Família, recebendo em média R$ 153 por mês. A região Nordeste é a campeã do benefício: 76% dos índios recebem o programa social do governo. O Sul aparece em segundo com 71%; seguido do Centro-Oeste (63%), Norte (56%) e Sudeste (52%).

Mesmo com os benefícios, 36% afirmam ser insuficiente a quantidade de comida que consomem. A maioria dos índios (76%) bebe água que não é filtrada nem fervida. As doenças infectocontagiosas atingem 68% e os problemas estomacais, como diarreia e vômito, 45%. Os índios também afirmam que luz elétrica, água encanada, rede de esgoto e casa de alvenaria são muito importantes para eles.

Mais de 70% dos índios ouvidos atribuem muita relevância à atuação da Funai (Fundação Nacional do Índio) na sua aldeia. No entanto, 39% reprovam o desempenho do órgão, avaliando-o como ruim ou péssimo.

Cesta básica
Quase metade dos entrevistados (46%) relatou receber cesta básica da Funai ou da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Os índios da região Nordeste são os que mais recebem o benefício: 79%. Na região Norte apenas 7% ganham a cesta básica.

O acesso ao atendimento médico é considerado difícil por 63% dos índios; 69% deles foram atendidos em postos de saúde dentro da aldeia e 12% dentro de casa. Eles ainda usam mais os remédios naturais (66%) do que os farmacêuticos (34%). A maioria dos índios (66%) sabe ler, e 65% sabem escrever na língua portuguesa. Segundo a pesquisa, 30% exercem trabalho remunerado, mas somente 7% têm carteira assinada.

A agricultura é exercida por 94%, e 85% praticam a caça; 57% deles consideram que o tamanho das terras onde vivem é menor do que o necessário. Os índios também citaram algumas medidas governamentais que poderiam melhorar a vida dos indígenas no país: intervenções na área da saúde (25%), demarcação de terras (17%), reconhecimento dos direitos indígenas (16%), investimentos públicos (15%) e educação (15%).

Procurada anteontem, a Funai afirmou, pela assessoria de imprensa, que tinha muitas demandas e que não poderia responder às questões da reportagem até o encerramento desta edição. “A presidente [Marta Azevedo] está em viagem, sem disponibilidade de agenda. Ela seria a pessoa mais indicada para comentar a pesquisa”, afirmou, por e-mail.
(…)

Voltei
Viram só o que o modelo das reservas, que está em expansão (?!), provoca? Uma horda de miseráveis com celular, televisão e DVD. Prega-se a expansão das terras indígenas para que se produza ainda menos em um território maior… Com Raposa Serra do Sol, aconteceu o óbvio: os arrozeiros tiveram de ir embora, deixando atrás de si uma legião de desempregados. Na terra agora sob o controle de caciques ideológicos disfarçados de militantes indígenas, não se produz quase mais nada. Muitos dos índios foram viver como favelados em Boa Vista. A razão é simples: ser indígena não quer dizer ser… índio!

Leiam este trecho do voto de Ayres Britto (em vermelho):
(…) III – ter a chance de demonstrar que o seu tradicional habitat ora selvático ora em lavrados ou campos gerais é formador de um patrimônio imaterial que lhes dá uma consciência nativa de mundo e de vida que é de ser aproveitada como um componente da mais atualizada ideia de desenvolvimento,  que é o desenvolvimento como um crescer humanizado. Se se prefere, o desenvolvimento não só enquanto categoria econômica ou material, servida pelos mais avançados padrões de ciência, tecnologia e organização racional do trabalho e da produção, como  também permeado de valores que são a resultante de uma estrutura de personalidade ou modo pessoal indígena de ser mais obsequioso: a) da ideia de propriedade como um bem mais coletivo que individual; b) do não-enriquecimento pessoal à custa do empobrecimento alheio (inestimável componente ético de que a vida social brasileira tanto carece); c) de uma vida pessoal e familiar com simplicidade ou sem ostentação material e completamente avessa ao desvario consumista dos grandes centros urbanos; d) de um tipo não-predatoriamente competitivo de ocupação de espaços de trabalho, de sorte a desaguar na convergência de ações do mais coletivizado proveito e de uma vida social sem narsísicos desequilíbrios; e) da maximização de potencialidades sensórias que passam a responder pelo conhecimento direto das coisas presentes e pela premonição daquelas que a natureza ainda mantém em estado de germinação; f)de uma postura como que religiosa de respeito, agradecimento e louvor ao meio ambiente de que se retira o próprio sustento material e demais condições de sobrevivência telúrica, a significar a mais fina sintonia com a nossa monumental biodiversidade e mantença de um tipo de equilíbrio ecológico que hoje a Constituição brasileira rotula como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (art. 225,  caput), além de condição para todo desenvolvimento que mereça o qualificativo de sustentado.

Encerro
Esse índio acima descrito só existe na cabeça de Ayres Britto, como aqui falei tantas vezes. A tal integração “telúrica” com a natureza é uma fantasia. O desenvolvimento “sustentado” se faz com Bolsa Família e cesta básica — cedidas por nossa civilização tão egoísta…

Britto transformou os índios em grandes ecologistas, o que é uma piada até antropológica! Existissem realmente aos milhões, a Amazônia já seria uma savana. O ministro tem de descobrir que a ideia de preservação da natureza é um valor desta nossa triste civilização. Não tem nada a ver com índio, que não louva o meio ambiente nem retira da terra o sustento.

Com as terras de que dispõem, os índios poderiam estar é produzindo comida para os seus e para muitos outros brasileiros. Em vez disso, estão na fila do Bolsa Família e da cesta básica.

Por Reinaldo Azevedo

 

O que realmente querem os índios e o que alguns antropólogos querem que eles queiram…

11/11/2012

Já publiquei ontem um texto sobre a pesquisa Datafolha com índios brasileiros, encomendada pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A VEJA desta semana traz novos e impressionantes números. Mas, afinal, o que querem os índios, leitor amigo? Ora, o que queremos todos nós: bem-estar. Ocorre que uma boa parcela deles, sob a tutela da Funai e da antropologia do miolo mole, vive muito mal, dependente da caridade do estado.

Nada menos de 13% do território brasileiro são destinados a reservas indígenas. E se reivindica ainda mais terra — uma reivindicação de antropólogos, não dos índios propriamente, que têm outras necessidades e outras ambições.

Reproduzo abaixo trecho do texto de Leonardo Coutinho publicado na revista, entremeado com alguns dados da pesquisa.
*
Uma das principais reclamações dos índios é a de não serem ouvidos. De tempos em tempos, eles tingem o corpo de vermelho e negro em sinal de guerra e saem a brandir suas bordunas, arcos e flechas em frente a representantes do governo para chamar atenção para suas reivindicações. Na maioria das vezes, a sociedade brasileira só fica sabendo de suas demandas por meio de intermediários — padres marxistas ou ongueiros que fazem com que os moradores das cidades acreditem que os problemas indígenas consistem em falta de terras e em obras de infraestrutura nocivas ao ambiente.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pôs fim a essa lacuna. É o mais completo levantamento das opiniões dos índios brasileiros já realizado. Durante 55 dias, os pesquisadores visitaram 32 aldeias em todas as regiões do país e entrevistaram 1222 índios de vinte etnias. Trata-se de uma amostra robusta, maior, proporcionalmente, do que a que costuma ser usada nas sondagens eleitorais.

As respostas revelam que os índios têm aspirações semelhantes às da nova classe média nacional, ou seja, querem progredir socialmente por meio do trabalho e dos estudos. Eles sonham com os mesmos bens de consumo e confortos da vida moderna, sem deixar de valorizar sua cultura. Muito do que é apresentado pelos intermediários da causa indígena como prioridade nem sequer aparece na lista das preocupações cotidianas dos entrevistados. “A pesquisa libertará os índios da sua falsa imagem de anacronismo”, diz a presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO).

Nove em cada dez índios acham melhor morar em casa de alvenaria do que numa maloca. Oito em cada dez consideram muito importante ter um banheiro sob o teto em que vivem, um conforto desfrutado por uma minoria. Quase metade dos indígenas adoraria tomar uma ducha quentinha todos os dias. O grupo de índios donos de automóveis e seis vezes a média dos brasileiros de classes C e D. “Ninguém deixa de ser índio por querer viver bem. É inaceitável que as regras de como devemos ser continuem sendo ditadas de cima para baixo sem levar em consideração a nossa vontade”, diz Antônio Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, que representa 160 etnias. Segundo Apurinã, por causa da falta de condições adequadas nas áreas demarcadas, muitas aldeias passam por um êxodo sem precedentes.

Há quatro anos, 12 500 índios viviam na periferia de Manaus. Hoje, estima-se que mais de 30.000 vivam apinhados em construções precárias na cidade. Se a criação de reservas é alardeada como a demanda mais urgente dos povos indígenas, por que eles as estão abandonando para viver em favelas? Com a palavra, os índios. O problema mais citado é a precariedade dos serviços de saúde. Eles se queixam principalmente da falta de medicamentos farmacêuticos (que eles valorizam tanto quanto os remédios tradicionais) e de médicos. Em segundo lugar, está a falta de emprego. “Nós não vivemos mais como nos meus tempos de infância. A nova geração compreende a vantagem de ter um emprego, uma renda. Ela quer ter roupa de homem branco, celular e essas coisas de gente jovem. Os governantes precisam aprender que nossos filhos querem ter tudo o que os filhos do homem branco têm. Falar português, ir para a universidades e ser reconhecidos como brasileiros e índios”, diz o cacique Megaron Txucarramãe, um dos mais respeitados líderes caiapós, de Mato Grosso.
(…)


Por Reinaldo Azevedo

*   *   *

Carta do antrópologo Henyo Barretto à Ombudsman da Folha de SP

Por , 12/11/2012 19:29

Prezada Srª,

Lamentável e, porque não dizer, medíocre a matéria de Matheus Leitão que apresenta a “pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil” sobre “o perfil indígena brasileiro”, publicada hoje [ontem] na Folha de São Paulo – “um jornal a serviço do Brasil”. A rigor não sei se os predicados se aplicam a matéria, ou a “pesquisa” que ela se propõe a descrever/relatar.

A começar pelo objeto/objetivo da enquete (palavra mais adequada para definir o que o Datafolha faz, pois “pesquisa” com dados agregados gerais sobre povos indígenas é uma outra coisa): o que é “o perfil indígena brasileiro”? A julgar pela matéria sobre a enquete – que não sei se é parâmetro (ou não) para emitir um juízo sobre a mesma (mas vamos em frente) – referido perfil corresponde ao processamento de respostas a um conjunto de
perguntas pretensamente factuais e opinativas sobre o acesso a bens, serviços e políticas públicas. Isso é suficiente para definir “um perfil” – indígena ou não? Ou, perguntando de outro modo, é assim que se define “um perfil” – indígena ou não? O meu perfil, o seu, o nosso?

O primeiro parágrafo da descrição da metodologia – os “critérios” – seria patético, se não fosse trágico – dadas as consequências potencialmente nefastas da conclusão a que chegou a enquete (chegarei a esta já, já). Diz-se que o sorteio das aldeias teria “lev[ado] em conta a região em que se localizam e o tamanho da população indígena residente”, mas não se explicita como: Quantas e quais regiões? Considerou-se o que na definição destas? São as áreas etnográficas da América do Sul (Melatti), as regiões das Coordenações Regionais da FUNAI, os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, os Territórios Etnoeducacionais? Quais os distintos agregados demográficos considerados? Enfim, sem explicitar nada disso, a matéria (Ou seria a enquete? Ou seria a matéria como análise conclusiva dos dados  produzidos pela enquete?) afirma que: “os dados são representativos dos índios brasileiros” e “os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano”.

Ademais, ao indicar que “somente a população indígena brasileira que fala português” foi entrevistada, revela-se o completo descaso com a política linguística da enquete – aspecto fundamental em qualquer pesquisa com povos indígenas que almeje o predicado de “digna.” Quaisquer categorias nativas porventura existentes, que nos dariam os matizes como cada cultura interpreta a pergunta, processa o seu enunciado e a responde, foram – dada essa opção – solenemente ignoradas. Isso patenteia a abordagem geral etnocêntrica e colonial da enquete.

Sem entrar no mérito da imprecisão do termo “índios brasileiros” (com a teoria política e cultural e os preconceitos sobre os povos indígenas que lhe são subjacentes) e nem esperando – embora devesse esperar – que a FSP dialogasse com a vasta literatura antropológica e sociológica sobre: (i) mudança cultural (em especial a distinção entre “integração” e “assimilação”), parte da qual, inclusive, enfoca etnograficamente a situação de índios citadinos (veja-se, por exemplo, Urbanização e Tribalismo de Roberto Cardoso de Oliveira); e (ii) as redes de relação e os fluxos rural/urbano, aldeia/cidade, Terra Indígena/município; é espantosa a afirmação conclusiva, que, ao contrário do que supõem o autor da matéria e/ou o ideólogo da enquete, deveria ser não o ponto de chegada: “os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano” – mas, sim, o ponto de partida para uma reflexão sobre as distintas e variadas condições em que os diversos povos indígenas se situam no Brasil de hoje. Diversidade e multiplicidade essa que a enquete anula em prol de um “perfil indígena” genericamente definido, que desconsidera aquilo que deveria ser o seu ponto de partida: a diversidade de modos de viver e existir que marcam o Brasil de hoje – seja em sua face indígena, seja em qualquer outra.

Não é necessário ter uma formação em Ciências Sociais muito sólida para ler a enquete naquilo que ela não diz, nas suas entrelinhas, nos objetivos e interesses que ela dissimula – na condição de encomenda da CNA ao Grupo Folha. Embora a enquete sinalize que 94% das pessoas entrevistadas exerçam a agricultura, e que a situação territorial figure em segundo lugar entre os principais problemas enfrentados pelos entrevistados – “tecnicamente empatado” [sic] com “as dificuldades de acesso à saúde”, em primeiro lugar; a conclusão telegráfica da enquete (ou seria da matéria, já não sei mais) conspira em favor da manutenção de um dos mais perniciosos preconceitos que pesam sobre os povos indígenas: que estes seriam seres de um passado remoto (e não povos que coabitam e coexistem conosco contemporaneamente, em sua multiplicidade de jeitos de viver) e que a sua “modernização” e/ou “urbanização” seria como que uma patologia a conspirar contra a sua autenticidade (e não uma das várias dimensões das constantes transformações a que seus múltiplos jeitos de viver estão submetidos) – razão pela qual, concluir-se-ia o raciocínio, não deveriam ser objeto de nenhum regime de atenção e/ou proteção especial.

Eis o alvo que mira a enquete-matéria como dispositivo de formação de opinião: as questões territoriais são secundárias para os povos indígenas, já que têm também outras preocupações e aspirações, e se beneficiam de programas governamentais de transferência de renda, razão pela qual a terra deveria ser eliminada da equação dos povos indígenas no futuro do país. Ao contrário, a terra constitui um problema para a expansão do chamado “setor produtivo” agrário nacional, representado pela instituição que encomendou a – isto é, pagou pela – enquete, motivo suficiente para que esses povos não muito outros tenham suas relações com seus territórios desenraizadas em benefício daquela expansão.

A que “Brasil”, de fato, esse jornal está “a serviço”?

Cordialmente,

Henyo T. Barretto Fº

Os Guarani Kaiowá e as perversidades do senso comum (dos “brancos”) (Canal Ibase)

Renzo Taddei – 09/11/2012

Canal Ibase

Nas últimas semanas recebi uma quantidade impressionante de solicitações, via redes sociais e e-mail, para manifestar meu apoio à causa dos Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Não me lembro, em minha experiência com redes sociais, de ter visto mobilização desse porte. Há pouco mais de uma semana, saiu decisão judicial a favor dos indígenas – ou, para colocar em termos mais precisos, revogando a reintegração de posse da área onde estão. Como atentou gente mais próxima ao movimento indígena, isso por si só não garante quase nada, apenas que violências maiores não sejam cometidas no curto prazo. De qualquer forma, não tive muito tempo para me alegrar com o que parecia uma vitória do potencial de mobilização descentralizada da sociedade civil: ao comentar a questão com um amigo, no Rio de Janeiro, recebi como resposta a pergunta, maliciosamente feita de forma a combinar ironia e seriedade em proporções iguais: “mas, afinal, para que servem os índios?” Desconcertado, não consegui articular nada, apenas retruquei: “não sei; mas e você, pra que serve?”

Não pude deixar de pensar no assunto nos dias que se seguiram. Mas, no caso, o assunto deixou de ser exatamente a situação dos Guarani Kaiowá, ou das especificidades de conflitos entre índios e não-índios, e passou a ser a situação de certa configuração de ideias do senso comum da população urbana – ou pelo menos das coletividades nas quais me insiro, no Rio de Janeiro e em São Paulo – sobre os índios, em primeira instância, e sobre aqueles que são irredutivelmente diferentes, em última. Obviamente esse é assunto complexo, e vou me limitar a apenas pontuar alguns temas que, creio, são importantes para iluminar o contexto no qual notícias sobre os conflitos envolvendo indígenas ganham significados, para a grande parcela da população brasileira que inevitavelmente participa disso tudo na posição de meros espectadores.

Sobre a natureza dos índios e não-índios

Certa vez, em uma aula de antropologia, na Escola de Comunicação da UFRJ, usei um exemplo hipotético de jovem índio que vinha à universidade estudar medicina. “Aí ele deixa de ser índio”, alguém disse. Na discussão que se seguiu, a opinião prevalecente era de que as expressões “índio urbano” e “índio médico”, usadas por mim, eram contradições em termos. Eu perguntei, então, se o fato de eu ser descendente de italianos, o que me dá, segundo a legislação italiana, o direito de “virar italiano”, faz com que eu deixe de ser alguma coisa – brasileiro, por exemplo. Confusão nas fisionomias. Por que eu posso virar italiano sem deixar de ser brasileiro, e ninguém vê problema nisso, e o índio não pode “virar” urbano sem deixar de ser índio? Concluímos – com vários autores estudiosos das populações indígenas – que, sem que as pessoas se deem conta, nós, urbanos, ocidentalóides, nos entendemos na maior parte do tempo como seres “culturais”, tendo algum controle sobre nossas identidades, portanto; enquanto isso, percebemos a essência indígena (se é que isso existe) como algo “natural”, sobre a qual eles não têm, nem podem ter, controle algum.

Nada mais natural, então, que pensar que lugar de índio é na floresta, e que índio tem que ser preservado, como se fosse parte da biodiversidade. Ou então índio deixa de ser índio e vira não-índio, arranja emprego, compra casa, toca a vida na cidade – se desnaturaliza. O problema é o índio que quer morar na cidade, ser médico, talvez, sem abandonar suas formas indígenas de entender o mundo e vida. Ou o índio que quer câmeras fotográficas, antibióticos, televisores, antenas parabólicas e escolas, mas não quer abrir mão da sua forma não-ocidental, e portanto não capitalista, de entender sua relação com a terra, por exemplo. Ou não quer abrir mão de sua forma não-ocidental, e portanto não marcada por um reducionismo materialista esvaziado e irresponsável, de relação com câmeras fotográficas, antibióticos, televisores, antenas parabólicas e escolas (é parte do senso comum que o que essas coisas são para mim são também para todos que delas fazem uso, o que não é verdade sequer para gente do mesmo grupo social). A questão se apresenta de forma pervasiva até entre gente politicamente progressista: na Cúpula dos Povos da Rio+20, uma grande amiga, ativista, me confidenciou ter ficado espantada ao ouvir de lideranças indígenas que eles gostariam de ter energia elétrica, saneamento, escolas. Eram afirmações que contrariavam suas expectativas “romanceadas”, nas suas próprias palavras, a respeito dos índios.

Por que é tão difícil aceitar a ideia de que quando o índio diz querer escola, ele não está fazendo nenhuma declaração sobre a sua identidade? Porque, dentre muitas outras coisas, identidade é paranoia de não-índio, mas não (necessariamente) paranoia de índio. Aqui começamos a chegar a algum lugar: é muito incômodo conviver com alguém que não compartilha nossas paranoias.

Uma das decorrências perversas desse estado de coisas é a forma como somos levados a ver os índios como pessoas “incompletas”, como sendo “menos” que os não-índios. Não é à toa que, juridicamente, os índios foram ao longo do século 20, até a Constituição de 1988 pelo menos, tratados como equivalentes a crianças, ou seja, como seres incapazes e que demandavam tratamento jurídico diferenciado, justamente em função dessa incapacidade. O problema estava (e está) nos códigos jurídicos, fechados à possibilidade do direito à diferença, e não nos índios, que não são mais nem menos capazes que os não-índios, mas apenas diferentes em suas capacidades. A mudança constitucional de 1988, como a própria questão dos Guarani Kaiowá demostra, ocorreu infelizmente muito mais de juris do que de fato.

Foto: Rosa Gauditano

Os muitos significados do verbo servir

Mas voltemos à questão sobre a “serventia” dos índios. O tema apareceu novamente em reportagem da revista Veja, edição de 4 de novembro. Replicando argumentos usados em edições anteriores ao tratar do tema, o texto (que de jornalístico não tem quase nada) mescla desinformação e preconceito, ao fazer uso, por exemplo, de argumentos como a suposta “trágica situação [dos índios] de silvícolas em um mundo tecnológico e industrial”, de afirmações como “[a] Funai também apoia o expansionismo selvagem”, e de acusações descabidas, como a de que os antropólogos ligados ao Conselho Indigenista Missionário querem transformar o sul do Mato Grosso do Sul numa “grande nação guarani”, justamente na “zona mais produtiva do agronegócio” do estado. Em 2010, a revista havia afirmado, através de um malabarismo estatístico de quinta categoria (digno de envergonhar até ruralistas medianamente sofisticados), que 90% do território brasileiro é ocupado ou destinado a áreas de preservação ambiental, comunidades indígenas, quilombolas e áreas de reforma agrária; “a agricultura e demais atividades econômicas terão apenas 8% de área para se desenvolver”. Enfim, a estratégia retórica é clara: quem não contribui com o agronegócio e demais formas de produção capitalista em grande escala – no caso, os índios e todos os demais grupos de alguma forma ligados a usos não predatórios da terra – não contribui com a economia nacional. Em uma palavra: só serve para atrapalhar.

Essa é uma questão, me parece, fundamental: é preciso discutir o conceito de serventia. Como a ideia de “servir” participa em nossas vidas, e na forma como aprendemos a entender e viver o mundo? Se a serventia dos que (supostamente) não estão integrados ao projeto da nação é um tema relevante – tanto ao pseudo-jornalismo da Veja como a certo senso comum urbano -, e nós, não-índios, (supostamente) integrados, afinal, servimos pra quê? E como isso afeta nossa compreensão das questões indígenas no Brasil contemporâneo, e mais especialmente o caso dos Guarani Kaiowá? Na minha opinião, isso tudo serve de pano de fundo contra o qual as audiências urbanas, dos grandes canais de mídia, distantes do Mato Grosso do Sul, atribuem sentido às notícias.

O caso dos Guarani Kaiowá traz à luz um elemento da vida cotidiana brasileira que é feito estrategicamente invisível na forma como somos ensinados a entender o mundo. Eles não querem ser “como nós”; tenho a impressão de que para a maioria da população urbana isso não apenas é contra intuitivo, mas figura como um choque, quase como uma afronta. Se eles gostam de fotografia, eletricidade, escolas e antibióticos, qual o problema, então?

Há uma diferença fundamental entre a experiência de mundo dos índios e dos não-índios brasileiros, e isso está ligado ao “lugar” onde se encontram as coisas verdadeiramente importantes. De acordo com trabalhos antropológicos que descrevem as visões de mundo e formas de vida de várias etnias indígenas sul-americanas, uma das características marcantes da vida indígena (para quem não é índio, obviamente), é a proximidade existencial das pessoas com os níveis mais altos da existência política e religiosa das suas sociedades. O poder político, em geral, não é algo que se manifeste em forma de hierarquias verticais, da forma como as entendemos, e provavelmente está ocupado por alguém com quem as pessoas da tribo tem relação pessoal direta, muitas vezes de parentesco. O mesmo se dá no que diz respeito à existência espiritual: está tudo logo ali, divindades, antepassados, espíritos, mediados pelas práticas do xamã, que também é conhecido de todos (ainda que, igualmente, talvez temido por todos). Há a percepção de que as coisas do mundo, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, são intrinsecamente ligadas à existência das pessoas da comunidade – os antropólogos chamam isso de relação de imanência.

O que é que a “integração” ao Brasil oferece, em contrapartida? Fundamentalmente, o deslocamento do centro de gravidade da existência para algum outro lugar, mais distante, abstrato, de difícil compreensão. Os índios resistem à ideia de que o centro do mundo passe a residir em outro lugar – em Brasília, por exemplo. Ou seja, resistem ao processo que os faz marginais. A marginalização, tomando a expressão de forma conceitual (ou seja, fazendo referência a quem está nas margens, nas bordas ou periferia), pode se dar deslocando-se alguém para a periferia do mundo, ou deslocando o centro de lugar, de modo que quem era central passa a ser periférico, e, portanto, marginal. De certa forma é exatamente isso que o Brasil oferece aos indígenas. Mas quem é que quer ser marginal?

O que a imensa maioria de nós, urbanitas ocidentalóides, não percebemos é que é isso, exatamente, que o Estado faz conosco. Assistimos à política e às outras formas de organização do nosso mundo – justiça, administração pública, economia – na qualidade de espectadores. Irritados, confusos, insatisfeitos, mas quintessencialmente espectadores. Somos mais capazes de interagir com um reality show do que com o mundo da política. Desde pequenos somos ensinados – e as políticas educacionais e conteúdos programáticos são desenhados cuidadosamente para tanto – que as coisas realmente importantes acontecem em algum outro lugar, e que são muito complexas, e que por isso mesmo há alguém mais capacitado cuidando disso tudo, para que possamos viver nossas vidas em paz. Ou seja, para que possamos não pensar em nada que não seja nos mantermos vivos e sermos economicamente ativos – e assim contribuir com o “projeto da nação”. Ou seja, o Estado reduz nossa vida ao mínimo – pão e circo, bolsa família e telenovela – para que as coisas funcionem e efetivamente aconteçam em algum outro lugar. Somos espectros de cidadãos.

Ou seja, a pergunta sobre para que servem as pessoas deve ser recolocada em outros termos: do que é que cada um de nós abre mão para “participar” do Brasil? Nós servimos para servir ao Estado. Somos todos marginais, e não nos damos conta disso.

O escândalo da questão indígena é a resistência que eles têm em aceitar os nossos mitos, ou as nossas ilusões – sobre o Brasil, por exemplo. Acostumados à experiência da autodeterminação, eles talvez tenham uma visão do que é o Brasil, como “projeto de nação”, que em muitos sentidos pode ser mais realista do que a de todos nós.

O Estado brasileiro só vai ser capaz de avançar na questão dos conflitos indígenas quando parar de tratar o tema da autodeterminação como anátema. E só o fará quando deixar de ter na tutela dos seus súditos sua razão de ser – ou seja, quando as elites políticas abandonarem a visão que tem de que o Brasil é fundamentalmente habitado por gente desqualificada, intelectualmente e moralmente inferior, e mal intencionada, e que demanda, portanto, o esforço do Estado para corrigir desvios e induzir a massa ao caminho produtivo. O Estado brasileiro é incapaz de reconhecer valor nas diferenças, justamente porque a homogeneização coletiva é condição de existência do próprio Estado. Frequentemente é evocada a noção de atentado à soberania nacional quando o tema das diferenças é trazido ao centro da arena.

E se um bocado de gente decide – muito arrazoadamente, por sinal – que a economianão deve mais crescer? Isso, dirão muitos, é obviamente um atentado à soberania nacional. Ou não? É, antes que tudo, e talvez apenas, um atentado à soberania do soberano. Pelo menos da tecnocrática soberana da ocasião.

Manifestemo-nos hoje, enfaticamente, em defesa dos Guarani Kaiowá. Como forma de materializar nosso apreço pela liberdade e pelo direito à diferença. Como forma de protesto contra um Estado centralizador e autoritário. Como declaração de que não queremos juiz, médico, político ou professor nos dizendo como devemos viver nossas vidas. Essa função está reservada para os poetas – índios e não-índios, brancos e não-brancos.

Renzo Taddei é professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É doutor em antropologia pela Universidade de Columbia, em Nova York. Dedica-se aos estudos sociais da ciência e tecnologia.

Carta da Aty Guasu Guarani e Kaiowá aos diversos movimentos sociais e atos nacionais em defesa do nosso povo

9 de novembro de 2012

NOTA/CARTA DA ATY GUASU GUARANI E KAIOWÁ PARA TODOS (AS), DIVULGUE EM VÁRIAS LÍNGUAS, CARTA DA ATY GUASU GUARANI E KAIOWÁ AOS DIVERSOS MOVIMENTOS SOCIAIS E ATOS NACIONAIS EM DEFESA DO NOSSO POVO.

“Saiam às ruas, pintem os rotos, ocupem as praças, ecoem o grito do nosso povo que luta pela vida, pelos territórios!”

Esta é uma carta das lideranças do Aty Guasu (Grande Assembleia) direcionada especialmente às diversas “mobilizações contra o genocídio do nosso povo Guarani e Kaiowá” previsto para o dia 09 de novembro em várias cidades do País e do Mundo. Queremos agradecer por todas estas iniciativas de solidariedade em defesa das nossas terras e nossas vidas.

Hoje somos 46 mil pessoas sobreviventes de um continuo e violento processo de extermínio físico e cultural acarretado principalmente pela invasão histórica de nossos territórios tradicionais (tekoha guasu) e por assassinatos de nossas lideranças e famílias. Por isso reafirmamos que o Estado Brasileiro é o principal responsável por este estado de genocídio, ora por participação, ora por omissão.

Nossa Aty Guasu é responsável nos últimos 35 anos pela organização política regional e internacional do nosso povo e por nossa luta na defesa e efetivação de nossos direitos fundamentais e constitucionais, de modo prioritário a retomada dos territórios tradicionais. Por esse motivo, nosso povo possui a maior quantidade de comunidades atacadas por pistoleiros e de lideranças assassinadas na luta pela terra do Brasil República.

Por isso, através desta carta queremos unir nossas vozes a de todos vocês e promover o mesmo grito pela vida de nosso povo com as seguintes prioridades:

– A imediata demarcação de nossos territórios tradicionais e a desintrusão dos territórios já declarados e homologados.
– Que a Funai publique, ainda este ano, os relatórios de identificação dos territórios em estudo.
– Que diante do processo legítimo de retomada de nossos territórios, nosso povo não seja despejados, uma vez que roubaram nossas terras por primeiro e nos confinaram em pequenas reservas.
– Que o Conselho Nacional de Justiça – CNJ crie mecanismos para que as ações judiciais envolvendo nossos territórios sejam julgados com prioridade máxima, de modo, a não se arrastarem por anos nas instância do judiciário, enquanto nosso povo passa fome à beira das estradas em Mato Grosso do Sul.
– Que haja uma efetiva ação de segurança de nossas comunidades e lideranças em área de conflito e ameaçadas.
– Que os fazendeiros e pistoleiros assassinos de nosso povo sejam julgados e condenados.
– A imediata revogação da inconstitucional portaria 303 da Advocacia Geral da União e o fim das iniciativas do Congresso Nacional em destruir nossos direitos garantidos na Constituição Federal de modo unânime as PECs 215, 38, 71, 415, 257, 579 e 133. Não aceitaremos mudança constitucional!

Por fim, que todas as manifestações não se encerrem em 9 de novembro, mas que esta data seja o inicio de um continuo engajamento da sociedade não indígena na defesa da vida de nosso povo e de pressão sobre o governo.

Junto com todos vocês, nosso Povo é mais forte e venceremos o poder desumano do agronegócio explorador e destruidor de nossas terras. A ganancia deste sistema não vencerá a partilha de nossos povos.

Vamos continuar a retomada de todas as nossas terras tradicionais! Somos todos Guarani e Kaiowá! Muito obrigado pela SUA VOZ SAGRADA PROTETORA: “TODOS POR GUARANI E KAIOWÁ!”

Dourados, 7 de novembro de 2012 –
Conselho do Aty Guasu Guarani e Kaiowá.

Nota da liderança dos Guarani e Kaiowá contra artigo publicado na revista Veja

Esta nota pretende explicitar a luta histórica do Povo Guarani e Kaiowá pelas terras tradicionais frente à divulgação de situação Guarani e Kaiowá na REVISTA VEJA que na semana passada,divulgou a manchete “Visão medieval de antropólogos deixa índios na penúria” “Na crise dos guaranis-caiovás estão envolvidos interesses da Funai, de antropólogos e de ONGs. Ninguém se preocupa com os próprios índios”. Jornalista Leonardo Coutinho da REVISTA VEJA.

Em primeiro lugar, é fundamental se destacar que A LUTA/GUERRA GUARANI E KAIOWÁ pela posse da terra tradicional é muito antiga e do Século XVII. Essa luta indígena Guarani e Kaiowá citada começou antes mesmo existir a Ciência Antropológica/Ciências Sociais, ou seja, a luta Guarani em defesa de seus territórios tradicionais iniciou antes de existir o tal de antropólogo e indigenista das ONGs. Por exemplo: no Brasil, a FUNAI existiu desde 1968, quando a FUNAI foi criada já tem se deparado com a luta Guarani e Kaiowá pela terra tradicional. De modo similar, o CIMI surgiu em meado de 1970, esses agentes do CIMI encontraram os Guarani e Kaiowá já em processo de luta pela recuperação de seus territórios antigos. Por isso, jornalista Leonardo Coutinho desconhece ou ignora completamente a história da luta Guarani e Kaiowá. Alertamos a todos (as) cidadãos (ãs) que argumentação de Leonardo Coutinho não procede e nunca será verdade a argumentação da REVISTA VEJA sobre nós Guarani e Kaiowá.

Por fim, destacamos que a luta Guarani e Kaiowá pela recuperação de nossa terra tradicional é antiga já há séculos. Temos certeza que a FUNAI. CIMI e ONGS, etc., podem acabar, mas a nossa luta pela terra não acabará, porque é nosso interesse exclusivo se encontra cristalizada em nossa vida e repassada de geração a para geração Guarani e Kaiowá. Visto que a nossa luta pela terra tradicional já atravessou vários sistema histórico de nosso país Brasil, por exemplo: atravessamos lutando, o sistema de colônia de Império, Ditadura Militar, Democracia da República, assim por diante.
Mais uma vez, jornalista Leonardo Coutinho desconhece ou ignora completamente a história da luta Guarani e Kaiowá. Alertamos a todos (as) cidadãos (ãs) brasileiros (as) que argumentação de Leonardo Coutinho não procede e nunca será verdade a argumentação da REVISTA VEJA sobre nós Guarani e Kaiowá é falsa e enganadora que precisa a ser punida o seus mentores e autores.

Atenciosamente,
Lideranças/Conselho da Aty Guasu, 05 de novembro de 2012.

Visão medieval de antropólogos deixa índios na penúria (Veja)

04/11/2012 – 09:24

Mato Grosso do Sul

Na crise dos guaranis-caiovás estão envolvidos interesses da Funai, de antropólogos e de ONGs. Ninguém se preocupa com os próprios índios

Leonardo Coutinho
A OUTRA MARGEM - Crianças caiovás brincam na área invadida em Iguatemi. Seus pais deixaram a reserva do outro lado do rio em busca de mais terrasA OUTRA MARGEM – Crianças caiovás brincam na área invadida em Iguatemi. Seus pais deixaram a reserva do outro lado do rio em busca de mais terras (Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, tomou uma decisão para abrandar um movimento sem precedentes de homens brancos em nome de um grupo indígena brasileiro. Acatando um pedido da Advocacia-Geral da União, o TRF determinou que os índios guaranis-caiovás podem continuar ocupando as terras da Fazenda Cambará, no município de Iguatemi, em Mato Grosso do Sul. Em uma carta divulgada na internet no dia 10 do mês passado, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) condenaram a ordem de despejo dada pela Justiça Federal de Naviraí, em Mato Grosso do Sul, comparando-a a uma “morte coletiva”. Logo se espalhou pelas redes sociais a versão de que os índios iriam cometer um ritualístico suicídio coletivo. Das redes, a solidariedade ganhou as ruas de diversas cidades, onde muitas brasileiras não perderam a chance de protestar de peito aberto diante das câmeras.

O governo agiu rápido, pediu a suspensão da ordem de despejo e exigiu que a Fundação Nacional do Índio (Funai) conclua em um mês o laudo antropológico que serviria como o primeiro passo para a demarcação oficial da terra reclamada pelo Cimi em nome dos índios.

Com o episódio, o Cimi conseguiu mais uma vez aproveitar a ignorância das pessoas das grandes cidades sobre a realidade em Mato Grosso do Sul e, principalmente, sobre quais são as reais necessidades dos índios. As terras indígenas já ocupam 13,2% da área total do país. Salvo raras exceções, a demarcação de reservas não melhorou em nada a vida dos índios. Em alguns casos, o resultado foi até pior. A 148 quilômetros da Fazenda Cambará, no município de Coronel Sapucaia, há uma reserva onde os caiovás dispõem de confortos como escolas e postos de saúde, mas não têm emprego, futuro nem esperança. Ficam entregues à dependência total da Funai e do Cimi, sem a menor chance de sobrepujar sua trágica situação de silvícolas em um mundo tecnológico e industrial. São comuns ali casos de depressão, uso de crack e abuso de álcool. A reserva Boqueirão, próximo a Dourados, abriga caiovás submetidos ao mesmo estado desesperador. Levantamento feito por agentes de saúde locais revelou que 70% das famílias indígenas têm um ou mais membros viciados em crack. “Infelizmente, a vida dos 170 caiovás acampados na fazenda em Iguatemi não melhorará com um simples decreto de demarcação”, diz o antropólogo Edward Luz.

Os caiovás formam o segundo grupo indígena mais populoso do Brasil, atrás apenas dos ticunas, do Amazonas. Segundo o IBGE, há 43 400 membros dessa etnia no país. Outros 41 000 residem no Paraguai. Eles transitam livremente entre os dois países, como parte de sua tradição nômade. Os antropólogos os convenceram de que o nascimento ou o sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra que ocupem enquanto vagam pelo Brasil é o suficiente para considerarem toda a área de sua propriedade. Com base nessa visão absurda, todo o sul de Mato Grosso do Sul teria de ser declarado área indígena – e o resto do Brasil que reze para que os antropólogos não tenham planos de levar os caiovás para outros estados, pois em pouco tempo todo o território brasileiro poderia ser reclamado pelos tutores dos índios.

Em sua percepção medieval do mundo, os religiosos do Cimi alimentam a cabeça dos índios da região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma grande “nação guarani”. Ocorre que o território dessa “nação” coincide com a zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O Cimi e algumas ONGs orientam os índios a invadir propriedades. A Funai também apoia o expansionismo selvagem. Os 170 caiovás acampados na Fazenda Cambará moravam em uma reserva situada do outro lado da margem do Rio Hovy. Em novembro do ano passado, membros dos clãs Pyelito Kue e Mbarakay foram levados pelos religiosos e antropólogos a cruzar o rio e se estabelecer em uma área de 2 hectares. O secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, visitou os caiovás em Iguatemi um dia antes e deu-lhes a garantia de que o governo federal zelaria pelos seus direitos. Ex-marido da presidente da Funai, Marta Azevedo, Maldos é um conhecido oportunista que não perde a chance de usar a desgraça alheia em favor de suas convicções políticas. “Além de terra, queremos ter condições de plantar e trabalhar, mas isso nem a Funai nem ninguém faz por nós”, diz o cacique caiová Renato de Souza, da aldeia Jaguapiru, em Dourados. Enquanto os índios tiverem a vida manipulada pelos medievalistas do Cimi, pelos ideólogos da Funai e pelas ONGs, seu destino será de sofrimento e penúria.

VEJA

VEJA

Com reportagem de Kalleo Coura

It’s Global Warming, Stupid (Bloomberg)

By  on November 01, 2012

http://www.businessweek.com/articles/2012-11-01/its-global-warming-stupid

Yes, yes, it’s unsophisticated to blame any given storm on climate change. Men and women in white lab coats tell us—and they’re right—that many factors contribute to each severe weather episode. Climate deniers exploit scientific complexity to avoid any discussion at all.

Clarity, however, is not beyond reach. Hurricane Sandy demands it: At least 40 U.S. deaths. Economic losses expected to climb as high as $50 billion. Eight million homes without power. Hundreds of thousands of people evacuated. More than 15,000 flights grounded. Factories, stores, and hospitals shut. Lower Manhattan dark, silent, and underwater.

An unscientific survey of the social networking literature on Sandy reveals an illuminating tweet (you read that correctly) from Jonathan Foley, director of the Institute on the Environment at the University of Minnesota. On Oct. 29, Foley thumbed thusly: “Would this kind of storm happen without climate change? Yes. Fueled by many factors. Is storm stronger because of climate change? Yes.” Eric Pooley, senior vice president of the Environmental Defense Fund (and former deputy editor of Bloomberg Businessweek), offers a baseball analogy: “We can’t say that steroids caused any one home run by Barry Bonds, but steroids sure helped him hit more and hit them farther. Now we have weather on steroids.”

In an Oct. 30 blog post, Mark Fischetti of Scientific American took a spin through Ph.D.-land and found more and more credentialed experts willing to shrug off the climate caveats. The broadening consensus: “Climate change amps up other basic factors that contribute to big storms. For example, the oceans have warmed, providing more energy for storms. And the Earth’s atmosphere has warmed, so it retains more moisture, which is drawn into storms and is then dumped on us.” Even those of us who are science-phobic can get the gist of that.

Sandy featured a scary extra twist implicating climate change. An Atlantic hurricane moving up the East Coast crashed into cold air dipping south from Canada. The collision supercharged the storm’s energy level and extended its geographical reach. Pushing that cold air south was an atmospheric pattern, known as a blocking high, above the Arctic Ocean. Climate scientists Charles Greene and Bruce Monger of Cornell University, writing earlier this year in Oceanography, provided evidence that Arctic icemelts linked to global warming contribute to the very atmospheric pattern that sent the frigid burst down across Canada and the eastern U.S.

If all that doesn’t impress, forget the scientists ostensibly devoted to advancing knowledge and saving lives. Listen instead to corporate insurers committed to compiling statistics for profit.

On Oct. 17 the giant German reinsurance company Munich Re issued a prescient report titled Severe Weather in North America. Globally, the rate of extreme weather events is rising, and “nowhere in the world is the rising number of natural catastrophes more evident than in North America.” From 1980 through 2011, weather disasters caused losses totaling $1.06 trillion. Munich Re found “a nearly quintupled number of weather-related loss events in North America for the past three decades.” By contrast, there was “an increase factor of 4 in Asia, 2.5 in Africa, 2 in Europe, and 1.5 in South America.” Human-caused climate change “is believed to contribute to this trend,” the report said, “though it influences various perils in different ways.”

Global warming “particularly affects formation of heat waves, droughts, intense precipitation events, and in the long run most probably also tropical cyclone intensity,” Munich Re said. This July was the hottest month recorded in the U.S. since record-keeping began in 1895, according to the National Oceanic and Atmospheric Administration. The U.S. Drought Monitor reported that two-thirds of the continental U.S. suffered drought conditions this summer.

Granted, Munich Re wants to sell more reinsurance (backup policies purchased by other insurance companies), so maybe it has a selfish reason to stir anxiety. But it has no obvious motive for fingering global warming vs. other causes. “If the first effects of climate change are already perceptible,” said Peter Hoppe, the company’s chief of geo-risks research, “all alerts and measures against it have become even more pressing.”

Which raises the question of what alerts and measures to undertake. In his book The Conundrum, David Owen, a staff writer at theNew Yorker, contends that as long as the West places high and unquestioning value on economic growth and consumer gratification—with China and the rest of the developing world right behind—we will continue to burn the fossil fuels whose emissions trap heat in the atmosphere. Fast trains, hybrid cars, compact fluorescent light bulbs, carbon offsets—they’re just not enough, Owen writes.

Yet even he would surely agree that the only responsible first step is to put climate change back on the table for discussion. The issue was MIA during the presidential debates and, regardless of who wins on Nov. 6, is unlikely to appear on the near-term congressional calendar. After Sandy, that seems insane.

Mitt Romney has gone from being a supporter years ago of clean energy and emission caps to, more recently, a climate agnostic. On Aug. 30, he belittled his opponent’s vow to arrest climate change, made during the 2008 presidential campaign. “President Obama promised to begin to slow the rise of the oceans and heal the planet,” Romney told the Republican National Convention in storm-tossed Tampa. “My promise is to help you and your family.” Two months later, in the wake of Sandy, submerged families in New Jersey and New York urgently needed some help dealing with that rising-ocean stuff.

Obama and his strategists clearly decided that in a tight race during fragile economic times, he should compete with Romney by promising to mine more coal and drill more oil. On the campaign trail, when Obama refers to the environment, he does so only in the context of spurring “green jobs.” During his time in office, Obama has made modest progress on climate issues. His administration’s fuel-efficiency standards will reduce by half the amount of greenhouse gas emissions from new cars and trucks by 2025. His regulations and proposed rules to curb mercury, carbon, and other emissions from coal-fired power plants are forcing utilities to retire some of the dirtiest old facilities. And the country has doubled the generation of energy from renewable sources such as solar and wind.

Still, renewable energy accounts for less than 15 percent of the country’s electricity. The U.S. cannot shake its fossil fuel addiction by going cold turkey. Offices and factories can’t function in the dark. Shippers and drivers and air travelers will not abandon petroleum overnight. While scientists and entrepreneurs search for breakthrough technologies, the next president should push an energy plan that exploits plentiful domestic natural gas supplies. Burned for power, gas emits about half as much carbon as coal. That’s a trade-off already under way, and it’s worth expanding. Environmentalists taking a hard no-gas line are making a mistake.

Conservatives champion market forces—as do smart liberals—and financial incentives should be part of the climate agenda. In 2009 the House of Representatives passed cap-and-trade legislation that would have rewarded more nimble industrial players that figure out how to use cleaner energy. The bill died in the Senate in 2010, a victim of Tea Party-inspired Republican obstructionism and Obama’s decision to spend his political capital to push health-care reform.

Despite Republican fanaticism about all forms of government intervention in the economy, the idea of pricing carbon must remain a part of the national debate. One politically plausible way to tax carbon emissions is to transfer the revenue to individuals. Alaska, which pays dividends to its citizens from royalties imposed on oil companies, could provide inspiration (just as Romneycare in Massachusetts pointed the way to Obamacare).

Ultimately, the global warming crisis will require global solutions. Washington can become a credible advocate for moving the Chinese and Indian economies away from coal and toward alternatives only if the U.S. takes concerted political action. At the last United Nations conference on climate change in Durban, South Africa, the world’s governments agreed to seek a new legal agreement that binds signatories to reduce their carbon emissions. Negotiators agreed to come up with a new treaty by 2015, to be put in place by 2020. To work, the treaty will need to include a way to penalize countries that don’t meet emission-reduction targets—something the U.S. has until now refused to support.

If Hurricane Sandy does nothing else, it should suggest that we need to commit more to disaster preparation and response. As with climate change, Romney has displayed an alarmingly cavalier attitude on weather emergencies. During one Republican primary debate last year, he was asked point-blank whether the functions of the Federal Emergency Management Agency ought to be turned back to the states. “Absolutely,” he replied. Let the states fend for themselves or, better yet, put the private sector in charge. Pay-as-you-go rooftop rescue service may appeal to plutocrats; when the flood waters are rising, ordinary folks welcome the National Guard.

It’s possible Romney’s kill-FEMA remark was merely a pander to the Right, rather than a serious policy proposal. Still, the reconfirmed need for strong federal disaster capability—FEMA and Obama got glowing reviews from New Jersey Governor Chris Christie, a Romney supporter—makes the Republican presidential candidate’s campaign-trail statement all the more reprehensible.

The U.S. has allowed transportation and other infrastructure to grow obsolete and deteriorate, which poses a threat not just to public safety but also to the nation’s economic health. With once-in-a-century floods now occurring every few years, New York Governor Andrew Cuomo and New York City Mayor Michael Bloomberg said the country’s biggest city will need to consider building surge protectors and somehow waterproofing its enormous subway system. “It’s not prudent to sit here and say it’s not going to happen again,” Cuomo said. “I believe it is going to happen again.”

David Rothkopf, the chief executive and editor-at-large of Foreign Policy, noted in an Oct. 29 blog post that Sandy also brought his hometown, Washington, to a standstill, impeding affairs of state. To lessen future impact, he suggested burying urban and suburban power lines, an expensive but sensible improvement.

Where to get the money? Rothkopf proposed shifting funds from post-Sept. 11 bureaucratic leviathans such as the Department of Homeland Security, which he alleges is shot through with waste. In truth, what’s lacking in America’s approach to climate change is not the resources to act but the political will to do so. A Pew Research Center poll conducted in October found that two-thirds of Americans say there is “solid evidence” the earth is getting warmer. That’s down 10 points since 2006. Among Republicans, more than half say it’s either not a serious problem or not a problem at all.

Such numbers reflect the success of climate deniers in framing action on global warming as inimical to economic growth. This is both shortsighted and dangerous. The U.S. can’t afford regular Sandy-size disruptions in economic activity. To limit the costs of climate-related disasters, both politicians and the public need to accept how much they’re helping to cause them.

Profeta do nada óbvio (FSP)

RUY CASTRO

São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2012

RIO DE JANEIRO – Nelson Rodrigues era diabólico. Com toda a miopia e aversão a óculos, seu poder de enxergar ao longe era desconcertante. Como em 1970, quando, durante meses, sustentou sozinho a certeza de que a seleção brasileira “ganharia andando” a Copa do México (seus colegas, os “profetas da derrota”, apostavam na correria das seleções europeias). Bem, o Brasil ganhou andando.

Outra premonição foi a de fins de maio de 1962, quando garantiu que, se Pelé se machucasse na Copa do Chile, o garoto Amarildo o substituiria como um “possesso”. Um mês depois, Pelé se contundiu na segunda partida e a Copa acabou para ele. Amarildo entrou nos jogos restantes, fez os gols que Pelé faria e foi o “Possesso” que Nelson anteviu.

Outra de suas “verdades eternas” -proclamada na “Resenha Facit”, que Nelson estrelava na TV Rio com João Saldanha, Armando Nogueira e demais- foi a de que o videoteipe era “burro”. Na hora, parecia absurdo -como contestar algo que se podia ver e rever? Trinta anos depois, uma infração de Júnior Baiano na área do Brasil passou em branco pelos videoteipes e só apareceu, dias depois, por um ângulo inusitado de câmera. O juiz, que marcara o pênalti, estava certo. O videoteipe era mesmo burro.

Em fins dos anos 60, Nelson produziu outra frase impossível de ser verificada e que parecia provocação: “Ainda seremos o maior país ex-católico do mundo”. Previa um declínio da fé católica no Brasil porque setores da igreja estavam trocando a promessa da vida eterna pela luta armada contra a ditadura.

Nas décadas seguintes, sai papa, entra papa, essa linha política seria abandonada. Mas o encanto se quebrara. Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64%. E, em 2030, serão menos de 50%. Nelson errou a causa, mas sua sentença continuou de pé.

La violencia en el fútbol desde todos lados (Mundo D)

http://mundod.lavoz.com.ar

Sábado 25 de Agosto, 12:26

Punto de vista. Para el sociólogo Pablo Alabarces, los actos vandálicos no son exclusivos de la barra brava. Sobre posibles soluciones, dijo: “Son parches. No existen medidas a largo plazo”.

Los hinchas de Belgrano en cancha de Colón. (Foto: Pedro Castillo)Los hinchas de Belgrano en cancha de Colón. (Foto: Pedro Castillo)

Por Joaquin Aguirre

“¡Me importa un pito que digan que fomentamos la violencia. Este pibe no es un barrabrava. Este es un salame!”. A los gritos y con una rabia un tanto impostada, un conocido presentador repasaba la secuencia televisiva en la que un plateísta de Boca arrojaba un cartel sobre el banco de suplentes de Independiente. “Que busquen al responsable en las villas. Ahí está la violencia”, decía.

Justamente lo contrario opina Pablo Alabarces, el sociólogo con más publicaciones referidas a la violencia en las canchas de fútbol. Según él, ésta es originada por “el hincha común”, la policía, los dirigentes y los medios de comunicación.

Para el reconocido autor de Crónicas del aguante, con lo ocurrido en Colón-Belgrano quedó demostrado “una vez más” que las agresiones que solemos ver domingo a domingo en las canchas no son patrimonio exclusivo de la barra brava.

Los plateístas de Colón tiran de todo y la culpa es de Olave. La policía reprime y la culpa es de Olave. Bueno… Olave también es culpable como todos los jugadores que desde su lugar también generan lo que generan. Pero se está equivocando el foco de la cuestión”, dice el profesional con creciente indignación.

Tratar estos incidentes como si fueran aislados no sirve para nada. Mi primer trabajo sobre violencia en el fútbol fue hace 12 años, así que imaginate que nada me sorprende a esta altura. Todo es previsible, esperable. Y también es esperable cómo se reacciona… Los medios dicen ‘los violentos, la culpa es de ellos’. Pero no dicen que entre ellos están los jugadores, la policía, los periodistas cordobeses… todos”.

Alabarces lidera un conjunto de intelectuales que hace unos meses presentó un polémico proyecto para erradicar la violencia aboliendo las actuales medidas (represión policial, mayores operativos, prohibición de público visitante, entre otras cosas) que a la luz de los hechos no han brindado soluciones. En lugar de ello, propone un trabajo conjunto de profesionales de distintas disciplinas para reeducar a los violentos. Reconocer la existencia de la barra. “No legalizarla, como malinterpretan algunos”, aclara. “Hasta ahora son todos parches. No existen medidas a largo plazo. Prohibir el ingreso de público visitante es un negocio televisivo”, agrega.

Días atrás, en una declaración para muchos desacertada, la presidenta Cristina Fernández sostuvo que “si el tema de la violencia lo circunscribimos únicamente a algunos grupitos vamos a equivocarnos y no vamos a darle una verdadera respuesta al problema, que tiene que ver más con cosas que pasan fuera de la cancha, que son las mas graves y no adentro”. Según Alabarces, la mandataria fue “demasiado liviana, hizo una alusión rápida y poco profunda del tema”.

–¿Cuál es la solución?

–La cultura futbolística argentina encierra una ética de la violencia llamada “el aguante”, reconocida y alentada desde los medios. En 10 años podemos solucionarlo. El responsable de la seguridad en Inglaterra me dijo que se “cura” en ese tiempo.

–¿Cómo se hace?

–Yo propongo una serie de medidas que van desde la intervención de la AFA a blanquear la guita que se maneja en el fútbol. A fines del año pasado empecé a analizar el “Fútbol para Todos”. Ahí hace tres años tenés publicidad gratis y no hay ni un aviso sobre la violencia.

–¿Qué más?

–Campañas. Sacar la policía y poner un batallón de antropólogos y trabajadores sociales. Trabajar con las comunidades, dialogar, convencerlos…

–Con progresismo…

–No es izquierdista, es lo más liberal… No prejuzgar a los barras, hacer al revés: darles un shock de confianza. Pero si exigís orden tenés que darles infraestructura. Los baños tienen que estar en condiciones y no como los ves en cualquier estadio. La gente tiene derecho a acceder a eso.

–Como en el “Primer Mundo”.

–Los ingleses decían “usted no puede tratar a los hinchas como animales y después quejarse porque se portan como animales”. Hubo casos en los que al comienzo cuando se encontraban con cosas nuevas en el estadio se las robaban, pero con el tiempo se sentían orgullosos de su nuevo estadio.

–¿Realmente creés que es posible un cambio?

–La idea de que el cambio cultural es posible lo demuestra que antes esa cultura no era así. La cultura cambió, y lo hizo en relación a cambios globales: el peso de los hinchas es mayor. Ellos se perciben a sí mismos como los únicos que garantizan la continuidad de esa cultura.

–Decís que los medios y los futbolistas también son responsables.

–Cuando Belgrano le empató a River en la promoción y el relator decía “River sale a matar o morir”, el hincha lo siente así. Y los jugadores son tribuneros, se besan el escudo, provocan… No sólo ellos, mirá a los árbitros cómo dirigen…

–¿Por qué creés que los dirigentes no le encontraron la vuelta a la violencia?

–Y… Mirá el mejor ejemplo es Cantero (presidente de Independiente). Venía bien enfrentándose con la barra. Pero en el partido que se suspendió por la lluvia contra Vélez, salió a quejarse y decir “el fútbol es para hombres”. Hasta el más sensato parece capturado por esa cultura del aguante.

–¿Te ofrecieron algún cargo público?

–No, y no lo aceptaría.

Violência no futebol argentino – fim de semana de 18 e 19 de agosto de 2012

Incidentes en Chicago: dos policías baleados (Clarín)

También hay dos efectivos con traumatismos, debido al enfrentamiento que se produjo con un sector de la barra que quiso ingresar al estadio por la fuerza. Fueron detenidas dos personas.

20/08/12 – 21:00

Otra vez la violencia en el fútbol. Por tercer día consecutivo un partido queda manchado por los violentos. En el primer partido en su estadio en su regreso a la B Nacional, Nueva Chicago no pudo festejar ni adentro del campo de juego (igualó 0-0 con Gimnasia de Jujuy), ni afuera: un sector de la barra brava se enfrentó con la policía y hay dos oficiales heridos de bala, además de dos efectivos con traumatismos (uno en el cráneo), que fueron trasladados al Hospital Churruca.

El conflicto se originó por una interna entre dos facciones de la barra de Nueva Chicago. Es que a unos 150 barras del barrio Villegas, cercanos al sector de la barra denominado Los Perales, les aplicaron el derecho de admisión. Mientras que a los de Las Antenas, el grupo antagónico, tuvieron libre acceso a la cabecera local.

En la cancha de Chicago los de Las Antenas se ubican en una cabecera y los de Los Perales en la de enfrente. Los de Villegas quisieron ingresar al estadio por la fuerza y se enfrentaron con la Policía. Comenzaron las corridas en las afueras del estadio detrás del barrio Los Perales, hacia donde se dirigieron los efectivos policiales y según testigos se escucharon varias detonaciones. Allí habrían sido heridos dos efectivos policiales que fueron trasladados al Churruca. Hay dos detenidos a los que les fueron incautadas armas de fuego y son apuntados por la policía como los presuntos agresores.

Asimismo, cuando terminó el primer tiempo hubo nuevamente corridas, las cuales se repitieron en el desarrollo del segundo tiempo en la parte baja de una tribuna del estadio. Casi sobre la hora del partido el árbitro debió suspender el juego durante más de cinco minutos, ya que volvieron a producirse incidentes entre la policía y los barras.

En enero, Agustín Alejo Rodríguez, de 27 años, fue asesinado en el polideportivo del club. Rodríguez, miembro del sector de Los Perales, acudió al club por una supuesta reunión conciliatoria entre las dos facciones de la barra. Pero los de Las Antenas los habrían emboscado. En busca de venganza, los miembros de Los Perales ingresaron por la fuerza al Hospital Santojanni donde se encontraba herido el presunto asesino. El hecho sigue sin ser esclarecido.

El sábado hubo incidentes en Santa Fe entre la policía local y los hinchas de Belgrano. Juan Carlos Olave fue detenido tras el partido y procesado por una supuesta agresión a un oficial de policía y a un bombero. El arquero del Pirata intentó calmar a los hinchas cordobeses ante la represión policial.

Por otro lado, en Victoria, hubo un enfrentamiento entre los hinchas de River y la policía. Y después fue la barra brava de Tigre la que se enfrentó con las fuerzas de seguridad. Hubo un patrullero incendiado y un alto jefe de la Bonaerense sufrió una herida grave y debió ser operado de urgencia. Se trata de Daniel Herrera, Comisario Mayor Jefe de la Departamental Conurbano Norte, que recibió una pedrada en la cabeza y fue sometido a una cirugía reconstructora que le dejó 27 puntos de sutura.

Esta mañana, en la sede de Independiente sobre la calle Boyacá, en Flores, miembros de la barra brava del Rojo habrían arrojado una bomba molotov que incendió una marquesina. Además, el presidente del club, Javier Cantero, enfrentado con la barra, denunció un intento de robo en el estadio de Independiente, presuntamente por miembros de la barra de Independiente.

*   *   *

Pelea en Mataderos: Dos policías baleados en un choque con barras de Chicago (Clarín)

POR SEBASTIÁN VARELA DEL RÍO

Uno fue herido en el hombro y otro en una pierna. Hubo otros dos policías lesionados. El conflicto estalló porque los barrabravas intentaron eludir el derecho de admisión e ingresar sin entradas.

Mal momento. Un policía intenta controlar a los hinchas más exaltados. Hubo dos detenidos por portar armas de fuego. El enfrentamiento se produjo fuera del estadio y duró casi dos horas.

21/08/12

Llora Mataderos. Lo hace un poco por la costumbre impotente de vivir en un infierno. Lagrimea también por el infame gas que se ha vuelto habitual en cada uno de los episodios de una película de incidentes y asesinatos. El de ayer fue uno más de los capítulos de unahistoria que sigue derramando sangre . Una de las facciones de la barra de Chicago se enfrentó con la policía y dejó a dos efectivos heridos de bala . Otros dos fueron hospitalizados por diferentes traumatismos. Una larga batalla campal que puso la lupa nuevamente en los problemas de seguridad en las canchas argentinas en un fin de semana plagado de hechos de violencia. En la cancha de Colón la policía reprimió a los hinchas de Belgrano y el arquero Olave terminó detenido. En Independiente tiraron una bomba molotov contra la persiana de la sede social de Flores. Además, robaron computadoras del estadio. El fútbol, cada vez más oscuro.

En el barrio de Mataderos se sabía que algo iba a ocurrir. El rumor sobre posibles incidentes era habitual ya en la tarde del domingo.

“Cuidate si vas a la cancha que parece que mañana se pudre” , se podía escuchar de boca de los que en Mataderos conocen la interna. El primer partido como local en la vuelta a la B Nacional era una jornada para temer. El antecedente inmediato eran los incidentes en el portón de la tribuna visitante de Defensa y Justicia, hace una semana. Allí, a los barrabravas les cerraron el ingreso y hubo corridas. Varios habrían entrado al encuentro con armas de fuego y por temor a una masacre adentro de la popular, las dos facciones de la barra, Los Perales y Las Antenas no se enfrentaron.

El operativo de seguridad del partido de ayer ante Gimnasia de Jujuy estuvo lleno de incertidumbre. Sobre las 11 (el encuentro estaba programado para las 15) no se sabía la manera en la que se habilitarían las tribunas. De apuro, cerca del mediodía se decidió darle una cabecera a cada facción de la barra. La popular del lado del Barrio Manuel Dorrego para Los Perales . La tribuna “Mercado de Hacienda” estaba destinada a Las Antenas. Incluso se modificaron los corredores habituales de entrada del público visitante para prevenir un enfrentamiento.

Los problemas comenzaron en el portón de la tribuna donde se ubicaban los de Los Perales . Una facción de dicha hinchada, conocida como Los de Villegas, intentó ingresar corriendo y sin entradas. Cabe aclarar que Chicago viene implementando la modalidad de canje de entradas para socios, los únicos habilitados para concurrir a los partidos. La Policía, que identificó a varios que integran la lista de 90 personas sobre las que pesa el derecho de admisión, los frenó. A partir de eso se desencadenó una pelea que duró casi 100 minutos . Mientras el partido se jugaba, afuera había balas de goma, gases lacrimógeno y proyectiles.

Adentro del estadio, los miembros de la facción de Los Perales que estaban en la tribuna querían salir para sumarse a la pelea. La Policía formó un cordón policial para impedírselo. Las familias que estaban en la misma popular lograron pasar hacia un playón que comunica con la platea para apartarse.

En un momento del enfrentamiento, los barrabravas se replegaron hacia los edificios del barrio. Los efectivos seguían disparando balas de goma.

Los violentos respondieron con proyectiles de plomo que hirieron a dos policías.

Uno en el hombro y el otro en una pierna. Ambos están fuera de peligro, igual que otros dos con traumatismos en el cráneo.

Dos hombres quedaron detenidos por el hecho.

El 2012 fue sangriento para el club. En enero, un encuentro en el Polideportivo terminó con el asesinato de Agustín Rodríguez, de L os Perales . Su grupo fue a buscar venganza al hospital Santojanni, lugar en el que se encontraba internado por una puñalada Aldo Barralda, jefe de Las Antenas . La historia terminó con una batalla por los pasillos del hospital. Barralda falleció unos días después.

La historia de la interna está enmarcada por los puntos de contacto deLas Antenas con el kirchnerismo y de Los Perales con la pata peronista del macrismo.

Las Antenas quiere tomar el poder y contaría con la aprobación de sectores de la política. El uso de los barrabravas como fuerza de choque en los actos políticos no es nuevo.

Los jugadores de Chicago se mostraron enojados por los incidentes. Julio Serrano aseguró: “La Presidenta se tiene que hacer cargo. Los dirigentes políticos mantienen vivos a los barrabravas”. Daniel Ferreiro, secretario del club, afirmó preocupado: “Todos los integrantes de mi familia recibimos muchas amenazas por día”.

Por ahora, no se habla de sanciones a la institución. La posibilidad de no jugar más en Mataderos fue un rumor que circuló. Pero nada más.

*   *   *

Imágenes de los incidentes en Mataderos (TyC Sports)

*   *   *

BASTA DE VIOLENCIA (Olé)

De mal en peor

La Infantería ingresó a la tribuna de Chicago y se armó feo...

La Infantería ingresó a la tribuna de Chicago y se armó feo…

La facción de Los Perales de Chicago se trenzó con la Policía, que terminó con dos oficiales heridos de bala.

Faltaban tres horas para el inicio del partido y todavía no se conocía la distribución de tribunas para albergar a las dos facciones de la barra de Chicago: Los Perales (de Mataderos) y Las Antenas (de provincia). Como ayer anticipó Olé , el operativo policial tenía grietas profundas y desde la CD de la institución deslindaron responsabilidades hacia la Fuerza … El entorno del partido estuvo mal parido desde un principio, se esperaba una tarde nefasta. Y ocurrió. El saldo de la batalla entre Los Perales y la policía fue: dos oficiales con impactos de arma de fuego (uno en un hombro y otro en una pierna) internados en el Hospital Churruca, otros tres con contusiones. Habría dos barras detenidos, a los que se les incautaron armas.

La semana pasada, en la cancha de Defensa, Los Perales dejó afuera a Las Antenas. Hasta el domingo el plan del Ministerio de Seguridad era ubicarlos a todos juntos en la cabecera Calero y Persi. Un peligro latente. Con el correr de la mañana de ayer, se decidió separarlos. Pasadas las 12, se determinó que la barra de Capital ocupara la cabecera lindante a su barrio y en la popular de enfrente (originalmente estarían los jujeños, que fueron a la pequeña tribuna del costado de la platea), cercana a la General Paz, estuvo la gente de Provincia.

A los 43´ del PT se escucharon balazos de goma en el ingreso a la tribuna de Los Perales. Oficialmente el club y la Policía coincidieron en el argumento “quisieron ingresar sin entradas”. Por otro lado, se indica que el hecho se desató porque se les prohibió entrar a 50 barras que tienen derecho de admisión y se armó la gresca en las afueras del estadio y se extendió al barrio Manuel Dorrego. Durante el entretiempo continuaron los disparos, Infantería tiró gas lacrimógeno y produjo que los hinchas ubicados en esa popu se desplazaran hasta el playón.

La calma parecía haber llegado. Pero … Iban 22’ del complemento y volvieron a escucharse las detonaciones. El partido siguió al compás de los balazos. Hasta que a los 44´, increíblemente, una formación de Infantería transitó la tribuna y hubo otro choque, esta vez dentro del estadio. El juego se detuvo y los jugadores pidieron calma. El partido pudo culminar, pero Chicago quedó aún más herido.

*   *   *

B NACIONAL/ CHICAGO 0 – GIMANSIA (J) 0 (Olé)

Torito en problemas

Nueva Chicago y Gimnasia (J) igualaron sin goles en Mataderos. El partido se vio opacado por incidentes protagonizados por un sector de la hinchada local con la policía.

En Mataderos, Nueva Chicago, uno de los equipos recién ascendidos a la categoría, se midió ante Gimnasia y Esgrima de Jujuy. El partido, sin mayores sucesos, finalizó igualado sin goles. Repartieron puntos ambos. Pero, por desgracia, lo lamentable estuvo en las tribunas en donde se sucedieron una serie de incidentes entre la policía y una facción de la hinchada local.

Cuando el primer tiempo estaba por llegar a su fin, el grupo de Los Perales intentó ingresar al estadio sin entradas. Como resultado, los efectivos policiales los frenaron, desatando una pelea que se extendió a lo largo de los minutos, incluso con el segundo tiempo del partido disputándose.

A los 44 minutos del ST, a punto de que finalizara el choque, la policía entró en la cancha y hubo más incidentes con otros simpatizantes locales en una de las tribunas. Como resultado, el partido estuvo detenido por unos instantes. Se finalizó, aunque con los sucesos de violencia aún latentes. Una historia lamentable. Otra vez, incidentes.

*   *   *

Violencia, violencia y más violencia (Clarín)

POR GUSTAVO RONZANO

Otro fin de semana de violencia en el fútbol. Esta imagen pertenece al partido entre Colón y Belgrano. (Hugo Pascutti)

21/08/12 – 13:13

Aquella reunión del Comité Ejecutivo de AFA no fue una más. Como cada martes, aquel 29 de mayo volvieron a juntarse los dirigentes en el edificio de Viamonte 1366. Y el tenso cruce entre dos de ellos marcó a fuego esa noche: “Preocupate por tu club, que las cosas no están tan bien. Dejá a Boca fuera de todo esto”, le dijo el vice de Boca, Juan Carlos Crespi, a Javier Cantero. ¿Qué había dicho el presidente de Independiente? “En Boca todos se sacan fotos con la barra brava”.

La discusión tuvo un segundo round, pocas horas después, afuera de aquellas cuatro paredes. “No voy a andar discutiendo por los medios. El, yo y las treinta personas que estuvimos ahí sabemos lo que pasó, pero los problemas de vestuario quedan en el vestuario”, indicó Cantero. “Somos un buen ejemplo para todos. Somos un club muy bien administrado y por suerte no tenemos problemas como otros. En vez de criticar, deberían preguntarnos por qué no tenemos problemas. Esa es la manera de ayudar, y no pasearse por los canales de televisión. Espero que lo haya entendido, porque manejar un club no es igual que manejar un country, sin desmerecer a los countries”, contratacó Crespi. Y remató: “Yo no soy artista como algunos: Si tengo un problema lo resuelvo puertas para adentro”.

No hubo, claro, un antes y un después de ese episodio. Al cabo, día a día la dirigencia del fútbol argentino parece rendirle pleitesía a esa frase de cabecera que luce en su anillo Julio Grondona: Todo Pasa. Y así pasó otro fin de semana cargado de sinrazón. Un fin de semana largo, en este caso, que incluyó en el menú violencia en Santa Fe, el sábado; violencia en Tigre, el domingo; violencia en Mataderos, el lunes. Y una bomba molotov en la sede que tiene Independiente en Flores, en la madrugada del lunes. “Vamos a incrementar el derecho de admisión, no nos van a doblegar”, insiste Cantero, a quien sus pares del fútbol nacional siguen viendo como el auténtico sapo de otro pozo.

Es evidente que si no hay una política de Estado, una decisión en serio, profunda y sincera, los violentos continuarán formando parte de ese engranaje poderoso que no quiere sacar los pies de un plato demasiado grande y tentador. La presidenta Cristina Fernández de Kirchner elogió el 31 de julio a los barras porque “no miran el partido; arengan, arengan, arengan, la verdad, mi respeto para todos ellos”. Este martes, Aníbal Fernández, por si acaso, aclaró que no debe opinar de esas declaraciones porque “no soy ningún exégeta” de la Presidenta.

El senador nacional y presidente de Quilmes, en definitiva, no hizo más que sumar para la gran certeza: Cantero siempre estuvo solo.

*   *   *

Más repercusiones que soluciones (Clarín)

POR DAVID FLIER

El día después del fin de semana largo a puro descontrol en el fútbol argentino todo sigue igual. No habría quita de puntos para sancionar a los clubes involucrados.

21/08/12 – 12:32

Hasta ahora, los hechos de violencia que se sucedieron el último fin de semana en el fútbol argentino dejaron sólo repercusiones. Es que, mientras varios se han pronunciado al respecto de los incidentes ocurridos en Santa Fe, Victoria, Maraderos o en la sede de de Independiente en Flores, aún no se han aplicado sanciones al respecto.

“No es algo que sorprenda lo que ocurrió el fin de semana, siempre pasa algo”, señaló este martes Mónica Nizzardo, titular de la ONG Salvemos al Fútbol, en diálogo con Clarín. Y recordó el discurso de Cristina Fernández de Kirchner en el cual restó trascendencia a la influencia de las barra bravas en hechos de violencia.

También sobre la Presidenta recayó la diputada nacional de Unión por Todos, Patricia Bullrich. “Este nuevo incidente reafirma la gravedad de los dichos de la Presidenta de la Nación donde apañó, ponderó y justificó el accionar y la existencia de los barras en el fútbol”, dijo la legisladora en referencia a la bomba que había explotado en la sede de Independiente en Flores. La investigación acerca de este incidente es llevada a cabo por la Comisaría 50ª.

A su vez, aún no se han levantado voces oficiales para confirmar sanciones sobre Tigre o Chicago. Sobre los incidentes en Victoria, donde todos los demorados fueron liberados ayer, Luis Morales, titular del ApreViDe (Agencia de Prevención de Violencia en el Deporte) había señalado a Clarín que debían realizar el informe en base “a lo que mostraran las cámaras de seguridad”. Se trata del primer fin de semana de fútbol desde que el nuevo organismo asumió en reemplazo del CoProSeDe. “Siempre es lo mismo. Cambian la figurita y se escudan en que necesitan tiempo”, sostuvo Nizzardo, quien recordó que entre tanto recambio se suman víctimas de la violencia.

No es la primera vez en el año que los hinchas de Tigre se ven envueltos en hechos de violencia cerca de su estadio. En abril, luego de escupir a Clemente Rodríguez y a Santiago Silva, se tomaron a golpes con jugadores de Boca tras el encuentro que el equipo de Julio Falcioni perdió como visitante.

Mientras tanto, en Mataderos sólo existen rumores en relación a la sanción que recibirá Nueva Chicago. Se especula que el club no sufrirá quita de puntos, pero no hay precisiones todavía sobre qué pasará con su estadio. Algo muy probable es que los demás clubes de la B Nacional pidan jugar sin hinchas visitantes cuando reciban al equipo de Mataderos.

Lejos del área metropolitana de Buenos Aires, en Córdoba continúan las repercusiones acerca de los incidentes del sábado en Santa Fe. Por un lado, la dirigencia de Belgrano omitió en su reclarmo cualquier referencia a Juan Carlos Olave. El arquero había señalado que “fue oportuna la intervención de los jugadores, hasta el arbitro lo agradeció”. Olave, acusado de golpear a un bombero, se había defendido al decir que todo fue producto de un forcejeo por una manguera para que dejaran de tirar agua sobre la hinchada.

Sin embargo, lo curioso es que a pesar de la bronca entre los simpatizantes cordobeses, uno de ellos denunció que la parcialidad de Belgrano fue la que inició el conflicto en el estadio. “Es la primera vez que voy a la cancha y no puedo dejar de hacer la denuncia de lo que vi. Todo comenzó cuando un hincha de Belgrano se subió al alambrado y se robó una bandera de Colón. Ahí los locales se pusieron violentos y comenzaron a tirar piedras”, expresó el hincha cordobés, cuyo nombre no trascendió.

Lo cierto es que quedan muchas cuestiones por investigarse para que, esta vez, no siga todo como si nada hubiese ocurrido.

Cientistas apontam problemas da cobertura da imprensa sobre mudanças climáticas (Fapesp)

Especialistas reunidos em São Paulo para debater gestão de riscos dos extremos climáticos manifestam preocupação com dificuldades enfrentadas por jornalistas para lidar com a complexidade do tema (Wikimedia)

21/08/2012

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Na avaliação de especialistas reunidos em São Paulo para discutir a gestão de riscos dos extremos climáticos e desastres, para que seja possível gerenciar de forma adequada os impactos desses eventos, é fundamental informar a sociedade – incluindo os formuladores de políticas públicas – sobre as descobertas das ciências climáticas.

No entanto, pesquisadores estão preocupados com as dificuldades encontradas na comunicação com a sociedade. A complexidade dos estudos climáticos tende a gerar distorções na cobertura jornalística do tema e o resultado pode ser uma ameaça à confiança do público em relação à ciência.

A avaliação foi feita por participantes do workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na América Central e na América do Sul – o que podemos aprender com o Relatório Especial do IPCC sobre extremos?”, realizado na semana passada na capital paulista.

O evento teve o objetivo de debater as conclusões do Relatório Especial sobre Gestão dos Riscos de Extremos Climáticos e Desastres (SREX, na sigla em inglês) – elaborado e recentemente publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – e discutir opções para gerenciamento dos impactos dos extremos climáticos, especialmente nas Américas do Sul e Central.

O workshop foi realizado pela FAPESP e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com o IPCC, o Overseas Development Institute (ODI) e a Climate and Development Knowledge (CKDN), ambos do Reino Unido, e apoio da Agência de Clima e Poluição do Ministério de Relações Exteriores da Noruega.

Durante o evento, o tema da comunicação foi debatido por autores do IPCC-SREX, especialistas em extremos climáticos, gestores e líderes de instituições de prevenção de desastres.

De acordo com Vicente Barros, do Centro de Investigação do Mar e da Atmosfera da Universidade de Buenos Aires, o IPCC, do qual é membro, entrou há três anos em um processo de reestruturação que compreende uma mudança na estratégia de comunicação.

“A partir de 2009, o IPCC passou a ser atacado violentamente e não estávamos preparados para isso, porque nossa função era divulgar o conhecimento adquirido, mas não traduzi-lo para a imprensa. Temos agora um grupo de jornalistas que procura fazer essa mediação, mas não podemos diluir demais as informações e a última palavra na formulação da comunicação é sempre do comitê executivo, porque o peso político do que é expresso pelo painel é muito grande”, disse Barros.

A linguagem é um grande problema, segundo Barros. Se for muito complexa, não atinge o público. Se for muito simplificada, tende a distorcer as conclusões e disseminar visões que não correspondem à realidade.

“O IPCC trata de problemas muito complexos e admitimos que não podemos fazer uma divulgação que chegue a todos. Isso é um problema. Acredito que a comunicação deve permanecer nas mãos dos jornalistas, mas talvez seja preciso investir em iniciativas de treinamento desses profissionais”, disse.

Fábio Feldman, do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, manifestou preocupação com as dificuldades de comunicação dos cientistas com o público, que, segundo ele, possibilitam que os pesquisadores “céticos” – isto é, que negam a influência humana nos eventos de mudanças climáticas – ganhem cada vez mais espaço na mídia e no debate público.

“Vejo com preocupação um avanço do espaço dado aos negacionistas no debate público. A imprensa acha que é preciso usar necessariamente o princípio do contraditório, dando espaço e importância equânimes para as diferentes posições no debate”, disse.

De acordo com Feldman, os cientistas – especialmente aqueles ligados ao IPCC – deveriam ter uma atitude mais pró-ativa no sentido de se contrapor aos “céticos” no debate público.

Posições diferentes

Para Reynaldo Luiz Victoria, da Coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, é importante que a imprensa trate as diferentes posições de modo mais equitativo.

“Há casos específicos em que a imprensa trata questões de maneira pouco equitativa – e eventualmente sensacionalista –, mas acho que nós, como pesquisadores, não temos obrigação de reagir. A imprensa deveria nos procurar para fazer o contraponto e esclarecer o público”, disse Victoria à Agência FAPESP.

Victoria, no entanto, destacou a importância de que os “céticos” também sejam ouvidos. “Alguns são cientistas sérios e merecem um tratamento equitativo. Certamente que não se pode ignorá-los, mas, quando fazem afirmações passíveis de contestação, a imprensa deve procurar alguém que possa dar um contraponto. Os jornalistas precisam nos procurar e não o contrário”, disse.

De modo geral, a cobertura da imprensa sobre mudanças climáticas é satisfatória, segundo Victoria. “Os bons jornais publicam artigos corretos e há jornalistas muito sérios produzindo material de alta qualidade”, destacou.

Para Luci Hidalgo Nunes, professora do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os negacionistas ganham espaço porque muitas vezes o discurso polêmico tem mais apelo midiático do que a complexidade do conhecimento científico.

“O cientista pode ter um discurso bem fundamentado, mas que é considerado enfadonho pelo público. Enquanto isso, um pesquisador com argumentos pouco estruturados pode fazer um discurso simplificado, portanto atraente para o público, e polêmico, o que rende manchetes”, disse à Agência FAPESP.

Apesar de a boa ciência ter, em relação ao debate público, uma desvantagem inerente à sua complexidade, Nunes acredita ser importante que a imprensa continue pluralista. A pesquisadora publicou um estudo no qual analisa a cobertura do jornal O Estado de S. Paulo sobre mudanças climáticas durante um ano. Segundo Nunes, um dos principais pontos positivos observados consistiu em dar voz às diferentes posições.

“Sou favorável a que a imprensa cumpra seu papel e dê todos os parâmetros, para que haja um debate democrático. Acho que isso está sendo bem feito e a própria imprensa está aberta para nos dar mais espaço. Mas precisamos nos manifestar para criar essas oportunidades”, disse.

Nunes também considera que a cobertura da imprensa sobre mudanças climáticas, de modo geral, tem sido satisfatória, ainda que irregular. “O tema ganha vulto em determinados momentos, mas não se mantém na pauta do noticiário de forma permanente”, disse.

Segundo ela, o assunto sobressaiu especialmente em 2007, com a publicação do primeiro relatório do IPCC, e em 2012 durante a RIO+20.

“Em 2007, a cobertura foi intensa, mas a popularização do tema também deu margem a distorções e exageros. O sensacionalismo é ruim para a ciência, porque faz o tema ganhar as manchetes rapidamente por algum tempo, mas no médio prazo o efeito é inverso: as pessoas percebem os exageros e passam a olhar com descrédito os resultados científicos de modo geral”, disse.

Nelson Rodrigues e o “Sobrenatural de Almeida” (Portal Entretextos)

11.07.2012

Miguel Carqueija

Um mestre do “mainstream” também entrou em terreno fantástico.

Nelson Rodrigues, de quem se comemora o centenário em 2012, não foi apenas um dramaturgo e contista, mas também produziu crônica esportiva. Por muito tempo manteve uma coluna no jornal carioca “O Globo” — e naquele tempo este diário, hoje decadente, possuia bons colunistas — que mudava de nome, mas o seu titulo principal era “À sombra das chuteiras imortais” (outros títulos usados foram “A batalha” e “Os bandeirinhas também são anjos”).
Nelson tinha um estilo sui-generis e, a rigor, reconhecível facilmente, mesmo se ele não assinasse. Fluminense doente, era descaradamente parcial nas suas crônicas. E eu, que torcia pelo Fluminense, as lia comprazer.
Detalhe interessante é que Nelson, na maior cara-de-pau, gostava de “profetizar” a vitória do Flu no então campeonato carioca. O futebol, naquele tempo, era muito regional. E, claro, a profecia dava certo quando o clube ganhava o campeonato.
Certo ano, durante o que parecia ser uma maré de azar, Nelson escreveu que o sobrenatural estava perseguindo o Fluminense. Dias depois o cronista publicou uma “carta” que teria recebido, e que diria mais ou menos assim: “No dia tal o senhor disse que o sobrenatural está perseguindo o Fluminense. Ora, o Sobrenatural sou eu, e garanto que isso não é verdade etc.” O “personagem” encerrava a missiva garantindo que no próximo jogo o tricolor ganharia, e assinava: “Sobrenatural de Almeida”.
Veio o domingo e o Fluminense perdeu. Revoltado, Nelson acusou o Sobrenatural de Almeida de haver mentido descaradamente. Aí começava a guerra da torcida do Fluminense, chefiada por Nelson Rodrigues, contra o sinistro Sobrenatural de Almeida.
Pode parecer estranho hoje em dia, para quem não conheceu o carisma do cronista e dramaturgo falecido em 1980, mas o caso é que o Sobrenatural de Almeida foi, durante algum tempo, verdadeira coqueluche na cidade. Os repórteres esportivos falavam nele. Certo jogo foi acompanhado de forte ventania, que chegou a desviar a bola que ia para o gol. “É o Sobrenatural de Almeida!”, gritou o locutor da rádio.
Veio um novo jogo e o Fluminense venceu. Nelson comemorou a vitória contra o inimigo, que teria se retirado melancolicamente do Maracanã. Depois, porém, por motivos que hoje me escapam, o campeonato foi suspenso por algum tempo. Nelson Rodrigues então “recebeu” um telefonema do Sobrenatural de Almeida, assumindo ser o responsável pela interrupção do campeonato.
Com o tempo o colunista foi dando maiores informações sobre a misteriosa figura, que nas caricaturas aparecia com uma roupa preta, tão “assustador” como o Zé do Caixão. Segundo Nelson, o Sobrenatural tivera os seus tempos de glória mas agora, coitado, morava em Irajá e viajava nos trens da Central. Por isso até chegava atrasado ao Maracanã, e só então começava a interferir.
Essa febre do Sobrenatural de Almeida durou semanas, meses, mas acabou saturando e o Nelson terminou parando de falar nele. Mas, de certa forma, foi uma contribuição do jornalista para a nossa literatura fantástica.

Punishing Youth (counterpunch.org)

AUGUST 09, 2012

Saturated Violence in the Era of Casino Capitalism

by HENRY GIROUX

There is by now an overwhelming catalogue of evidence revealing the depth and breadth of the state sponsored assault being waged against young people across the globe, and especially in the United States. What is no longer a hidden order of politics is that American  society is at war with its children, and that the use of such violence against young people is a disturbing index of a society in the midst of a deep moral and political crisis.  Beyond exposing the moral depravity of a nation that fails to protect its youth, the violence used against American youth speaks to nothing less than a perverse death-wish, especially in light of the fact that As Alain Badiou argues, we live in an era in which there is zero tolerance for poor minority youth and youthful protesters and “infinite tolerance for the crimes of bankers and government embezzlers which affect the lives of millions.”  While the systemic nature of the assault on young people and its testimony to the rise of the neoliberal punishing state has been largely ignored by the mainstream media, youth in Canada and the United States are resisting the violence of what might be called neoliberalism or casino capitalism.  For instance, the Occupy Wall Street Movement and the Quebec Protest Movement are demonstrating against such assaults while simultaneously attempting to educate a larger public about the degree to which American and Canadian public spheres, institutions, and values have been hijacked by a culture of spectacular and unrelenting violence—largely directed against youthful protesters and those marginalized by class and race, who increasingly have become the targets of ruthless forms of state-sanctioned punishment.

Put into historical context, we can see that collective insurance policies and social protections in the United States, in particular, have over time given way to the forces of economic privatization, commodification, deregulation, and hyper individualism now driving the ongoing assault on democratic public spheres, public goods, and any viable notion of equality and social justice. At least since the 1980s, the American public has witnessed the transformation of the welfare state by punitive workfare programs, the privatization of public goods and spaces, and a hollow appeal to individual responsibility and self-interest as a substitute for civic responsibility and democratic engagement. Embracing the notion that market-driven values and relations should shape every domain of human life, a business-centered model of governance has eviscerated any viable notion of the public values and interests, while insidiously criminalizing social problems and cutting back on basic social services, especially for young people, the poor, minorities, immigrants, and the elderly. As young people and others organize to protest economic injustice and massive inequality, along with drastic cuts to education, workers benefits and pensions, and public services, the state has responded with the use of  injurious violence, while the mainstream media has issued insults rather than informed dialogue, critical engagement, and suggestions for meaningful reform. Indeed, it appears the United States has entered a new historical era when policy decisions not only translate into an intentional, systemic disinvestment in public institutions and the breakdown of those public spheres that traditionally provided the minimal conditions for social justice and democratic expression, but are also merging with state-sanctioned violence and the use of mass force against the state’s own citizenry. I am not referring to the violence now sweeping the United States in the form of the lone, crazed gunman shooting innocent victims in colleges, malls, and movie theaters. As horrifying as this violence is, it does not fully equate with the systemic violence now waged by the state on both the domestic and foreign fronts.

On the domestic front, state violence in response to the Occupy movement in its first six months has been decisive and swift: “There have been at least 6705 arrests in over 112 different cities as of March 6, 2012.”  Similarly, in Montreal, Canada thousands of peaceful protests have been arrested while protesting tuition increases, increasing debt burdens, and other assaults on young people and the social state. What does it mean as young people make diverse claims on the promise of a radical democracy and articulate their vision of a fair and just world that they are increasingly met with forms of physical, ideological, and structural violence? Abandoned by the existing political system, young people are placing their bodies on the line, occupying shrinking public spaces in a symbolic gesture that also deploys concrete measures demanding their presence be recognized when their voices are no longer being heard. They have, for the most part, protested peacefully while trying to produce a new language, political culture, public institutions, and a “community that manifests the values of equality and mutual respect that they see missing in a world that is structured by neoliberal principles.”  Young people are organizing in opposition to the structural violence of the state while also attempting to reclaim the discourse of the common good, social justice, and economic equality. Rejecting the notion that democracy and markets are the same or that capitalism is the only ideological and economic system that can speak in the name of democracy, youth movements are calling for an end to poverty, the suppression of dissent, the permanent warfare state, and the corporate control of the commanding institutions of politics and culture.

Many of us have been inspired by the hope for a better future that these young people represent for the nation as a whole. Yet, of utmost concern is the backlash the protesters have faced for exercising their democratic rights. Surely, what must be addressed by anyone with a stake in safeguarding what little remains of U.S. democracy is the immediate threat that an emerging police state poses not just to the young protesters occupying a number of North American cities but to the promise of a real democracy. This threat to the possibility of a democratic social order only increases with the ascendancy of a war-like mentality and neoliberal modes of discipline and education which make it that much more difficult to imagine, let alone enact, communal obligation, social responsibility, and civic engagement.  Unless the actions of young protesters, however diverse they may be, are understood as a robust form of civic courage commensurate with a vital democracy, it will be difficult for the American public to resist an increase in state violence and the framing of protests, dissent, and civic responsibility as un-American or, even worse, a species of criminal behavior.

Stuart Hall suggests that the current historical moment, or what he calls the “long march of the Neoliberal Revolution,” has to be understood in terms of the varied forms of violence that it deploys and reinforces. Such anti-democratic pressures and their provocation of the protests of young people in the United States and abroad have deepened an escalating crisis symptomatic of what Alex Honneth has termed the “failed sociality” characteristic of neoliberal states. In turn, state and corporate media-fueled perceptions of such a crisis have been used to stimulate fear and justify the creeping expansion of a militarized and armed state as the enforcer of neoliberal policies amid growing public dissent. Police violence against young people must therefore be situated within a broader set of categories that enables a critical understanding of the underlying social, economic, and political forces at work in such assaults. That is, in order to adequately address state-sponsored violence against young people, one should consider the larger context of the devolution of the social state and the corresponding rise of the warfare state. The notion of historical conjuncture—or a parallel set of forces coalescing at one moment in time—is important here because it provides both an opening into the factors shaping a particular historical moment and it allows for a merging of theory and strategy in our understanding of the conditions with which we are now faced. In this case, it helps us to address theoretically how youth protests are largely related to a historically specific neoliberal project that promotes vast inequalities in income and wealth, creates the student loan debt bomb, eliminates much needed social programs, eviscerates the social wage, and privileges profits and commodities over people.

Within the United States and Canada, the often violent response to non-violent forms of youth protest must also be analyzed within the framework of a mammoth military-industrial state and its commitment to extending violence and war through the entire society. As the late philosopher Tony Judt put it, “The United States is becoming not just a militarized state but a military society:  a country where armed power is the measure of national greatness, and war, or planning for war, is the exemplary (and only) common project.”  The blending of the military-industrial complex with state interests and unbridled corporate power points to the need for strategies that address what is specific about the current neoliberal project and  how different modes of power, social relations, public pedagogies, and economic configurations come together to shape its politics. Such considerations provide theoretical openings for making the practices of the warfare state and the neoliberal revolution visible in order “to give the resistance to its onward march, content, and focus, a cutting edge.” It also points to the conceptual value of making clear that history remains an open horizon that cannot be dismissed through appeals to the end of history or end of ideology.  It is precisely through the indeterminate nature of history that resistance becomes possible.

While there is always hope because a democratic political project refuses any guarantees, most Americans today are driven by shared fears, stoked to a great extent by media-induced hysteria. Corporations stand ready to supply a culture of fear with security and surveillance technologies that, far from providing greater public safety, do little more than ensure the ongoing militarization of the entire society, including the popular media and the cultural apparatuses that shape everyday life. Images abound in the mainstream media of such abuses. There is the now famous image of an 84-year-old woman looking straight into a camera after attending a protest rally, her face drenched in a liquid spray used by the police. There is the image of the 19-year-old pregnant woman being carried to safety after being pepper-sprayed by the police. There are the now all-too-familiar images of young people being dragged by their hair across a street to a waiting police van. In some cases, protesters have been seriously hurt. Scott Olsen, an Iraq war veteran, was critically injured in a protest in Oakland in October 2011. On March 17, 2012, young protesters attempting to re-establish an Occupy camp at Zuccotti Park in New York were confronted by excessive police violence. The Guardian reported that over 73 people were arrested in one day and that “A woman suffered a seizure while handcuffed on a sidewalk, another protester was thrown into a glass door by police officers before being handcuffed, and a young woman said she was choked and dragged by her hair….Witnesses claimed police punched one protester several times in the head while he was subdued by at least four officers.”  Another protester claimed the police broke his thumb and injured his jaw. Such stories have become commonplace in recent years, and so many are startling reminders of the violence used against civil rights demonstrators by the forces of Jim Crow in the fifties and sixties.

These stories are also indicative that a pervasive use of violence and the celebration of war-like values are no longer restricted to a particular military ideology, but have become normalized through the entire society.  As Michael Geyer points out, militarization in this sense is defined as “the contradictory and tense social process in which civil society organizes itself for the production of violence.” The war on terror has become a war on democracy, as police departments and baton-wielding cops across the 
nation are now being supplied with the latest military equipment and technologies imported straight from the battlefields of Iraq and Afghanistan. Procuring drones, machine-gun-equipped armored trucks, SWAT vehicles, “digital communications equipment and Kevlar helmets, like those used by soldiers used in foreign wars,” is justified through reference to the domestic war against “terrorists” (code for young protesters) and provides new opportunities for major defense contractors and corporations to become ever “more a part of our domestic lives.” As Glenn Greenwald confirms, the United States since 9/11 “has aggressively paramilitarized the nation’s domestic police forces by lavishing them with countless military-style weapons and other war-like technologies, training them in war-zone military tactics, and generally imposing a war mentality on them. Arming domestic police forces with paramilitary weaponry will ensure their systematic use even in the absence of a terrorist attack on U.S. soil; they will simply find other, increasingly permissive uses for those weapons.”

With the growth of a new militarized state, it should come as little surprise that “by age 23, almost a third of Americans are arrested for a crime.”  In a society that has few qualms with viewing its young people as predators, a threat to corporate governance, and a disposable population, the violent acts inflicted on youth by a punishing state will no doubt multiply with impunity. Domestic paramilitary forces will certainly undermine free speech and dissent with the threat of force, while also potentially violating core civil liberties and human rights. In other words, the prevailing move in American society toward permanent war status sets the stage for the acceptance of a set of unifying symbols rooted in a survival-of-the-fittest ethic that promotes conformity over dissent, the strong over the weak, and fear over civic responsibility. With the emergence of a militarized society, “the range of acceptable opinion inevitably shrinks,” as violence becomes the first and most important element of power and a mediating force in shaping all social relationships.

The grave reality is that violence saturates almost every aspect of North American culture. Domestically, violence weaves through the cultural and social landscape like a highly charged electric current burning everything in its path. Popular culture has become a breeding ground for a form of brutal masculine authority and the celebration of violence it incorporates has become the new norm in America. Representations of violence dominate the media and too often parade before viewers less as an object of critique than as a for-profit spectacle and heightened source of pleasure. As much as any form of governance seeks compliance among the governed, the permanent war state uses modes of public pedagogy—practices of pedagogical persuasion—to address, enlist, and construct subjects willing to abide by its values, ideology, and narratives of fear and violence. Legitimation in the United States is largely provided through a market-driven culture addicted to consumerism, militarism, and spectacles of organized violence. Circulated through various registers of popular culture, cruelty and violence imbue the worlds of high fashion and Hollywood movies, reality TV, extreme sports, video games, and around-the-clock news media. The American public is bombarded by an unprecedented “huge volume of exposure to… images of human suffering.” As Zygmunt Bauman argues, “the sheer numbers and monotony of images may have a ‘wearing off’ impact [and] to stave off the ‘viewing fatigue,’ they must be increasingly gory, shocking, and otherwise ‘inventive’ to arouse any sentiments at all or indeed draw attention. The level of ‘familiar’ violence, below which the cruelty of cruel acts escapes attention, is constantly rising.”

When an increasing volume of violence is pumped into the culture as fodder for sports, entertainment, news media, and other pleasure-seeking outlets, yesterday’s spine-chilling and nerve-wrenching violence loses its shock value. One consequence is that today’s audiences exhibit more than mere desensitization or indifference to violence. They are not merely passive consumers, but instead demand prurient images of violence in a way that fuels their increasing production. Spectacularized violence is now unmoored from moral considerations or social costs. It now resides, if not thrives, in a diverse commercially infused set of cultural apparatuses that offers up violence as a commodity with the most attractive and enjoyable pleasure quotient. Representations of torture, murder, sadism, and human suffering have become the stuff of pure entertainment, offering a debased outlet for experiencing intense pleasure and the thrill of a depoliticized and socially irresponsible voyeurism.  The consuming subject is now educated to take intense pleasure in watching—if not also participating as agents of death—in spectacles of cruelty and barbarism. After all, assuming the role of a first shooter in the age of video game barbarism has become an unquestioned badge of both pleasure and dexterity, leading potentially to an eventual employment by the Defense Department to operate Drone aircraft in the video saturated bunkers of death in some suburban west coast town.  Seemingly unconstrained by a moral compass based on a respect for human and non-human life, U.S. culture is increasingly shaped by a disturbing collective desire for intense excitement and a never-ending flood of heightened sensations.

Although challenging to ascertain precisely how and why the collective culture continues to plummet to new depths of depravity, it is far less difficult to identify the range of horrific outcomes and social costs that come with this immersion in a culture of staged violence. When previously unfamiliar forms of violence, such as extreme images of torture and death, become banally familiar, the violence that occurs daily becomes barely recognizable relegated to the realm of the unnoticed and unnoticeable. Hyper-violence and spectacular representations of cruelty disrupt and block our ability to respond politically and ethically to the violence as it is actually happening on the ground.  How else to explain the public indifference to the violence waged by the state against non-violent youthful protesters who are rebelling against a society in which they have been excluded from any claim on hope, prosperity, equality, and justice? Cruelty has saturated everyday life when young people, once the objects of compassion and social protections, are treated as either consumers and commodities, on the one hand, or suspects and criminals on the other.

Disregard for young people and a growing taste for violence can also be seen in policies that sanction the modeling of public schools after prisons. We see the criminalization of disadvantaged youth, instead of the social conditions which they are forced to endure. Behaviors that were once handled by teachers, guidance counselors, and school administrators are now dealt with by the police and the criminal justice system. The consequences have been disastrous for young people. Not only do schools take on the technologies and culture of prisons and engage in punishment creep, but young children are being arrested and put on trial for behaviors that can only be called trivial. There was the case of the 5-year-old girl in Florida who was put in handcuffs and taken to the local jail because she had a temper tantrum; or the 13-year-old girl in a Maryland school who was arrested for refusing to say the pledge of allegiance. Alexa Gonzales in New York was another student arrested by police—for doodling on her desk. There is more at work in these cases than stupidity and a flight from responsibility on the part of educators, parents, law enforcement officers, and politicians who maintain these policies. Clearly, embedded in these actions is also the sentiment that young people constitute a threat to adults, and that the only way to deal with them is to subject them to mind-crushing punishment. Students being miseducated, criminalized, and subjected to forms of penal pedagogy in prison-type schools provide a grim reminder of the degree to which the ethos of containment and punishment now creeps into spheres of everyday life that were once largely immune from this type of official violence.

Governing-through-crime policies also remind us that we live in an era that breaks young people, corrupts the notion of justice, and saturates the minute details of everyday life with the threat if not yet the reality of violence. A return to violent spectacles and other medieval types of punishment inflict pain on both the psyches and the bodies of young people. Equally disturbing is how law-and-order policies and practices in the United States appear to take their cue from a past era of slavery. Studies have shown that “Arrests and police interactions… disproportionately affect low-income schools with large African-American and Latino populations,” paving the way for these youth to move almost effortlessly through what has been called the school-to-prison pipeline.  Sadly, the next step one envisions for such a society is a reality TV franchise in which millions tune in to watch young kids being handcuffed, arrested, tried in the courts, and sent to juvenile detention centers.  This is not merely barbarism parading as reform—it is also a blatant indicator of the degree to which sadism and the infatuation with violence have become normalized in a society that seems to take delight in dehumanizing itself.

The prevalence of institutionalized violence in American society and other parts of the world suggests the need for a new conversation and politics that address what a just and fair world looks like. Young people and others marginalized by class, race, and ethnicity appear to have been abandoned as American society’s claim on democracy gives way to the forces of militarism, market fundamentalism, and state terrorism. Until educators, intellectuals, academics, young people, and other concerned citizens address how a physics and metaphysics of war and violence have taken hold on American society and the savage social costs they have exacted, the forms of social, political, and economic violence that young people are currently protesting against as well as the violence waged in response to their protests will become impossible to recognize and act on. The American public needs to make visible and critically engage the underlying ideological, political, educational, and economic forces that embrace violence as both a commodity, spectacle, and mode of governing.  Such an approach would address the necessity of understanding the emerging pathology of violence not just through a discourse of fear or isolated spectacles, but through policies that effectively implement the wider social, economic, and political reforms necessary to curb the culture of violence and the institutions that are sustained by it.  There is a cult of violence in America and it is reinforced by a type of collective ignorance spread endlessly by special interests such as the National Rifle Association, politicians wedded to the largess of the military-industrial complex, and national entertainment-corporate complex that both employs violence and uses it to refigure the meaning of news, entertainment, and the stories America tells itself about its national identity and sense of destiny.  Violence is not something to be simply criminalized by extending the reach of the criminal justice system to the regime of criminals that now run the most powerful financial services and industries. It must be also understood as part of a politics of distraction, a poisonous public pedagogy that depoliticizes as much as it entertains and corrupts.  That is, it must be addressed as a political issue that within the current historical moment is both deployed by the neoliberal state against young people, and employed as part of the reconfiguration or transformation of the social state into the punishing state. At the heart of this transformation is the emergence of new form of corporate sovereignty, a more intense form of state violence, a ruthless survival of the fittest ethic used to legitimate the concentrated power of the rich, and a concerted effort to punish young people who are out of step with neoliberal ideology, values, and modes of governance.  Of course, these anti-democratic tendencies represent more than a threat to young people, they also put in peril all of those individuals, groups, public spheres, and institutions now considered disposable because that are at odds with a world run by bankers, the financial elite, and the rich.  Only a well-organized movement of young people, educators, workers,  parents, religious groups, and other concerned citizens will be capable of changing the power relations and vast economic inequalities that have generated what has become a country in which it is almost impossible to recognize the ideals of a real democracy.

Henry A. Giroux holds the Global TV Network chair in English and Cultural Studies at McMaster University in Canada. His most recent books include: “Take Back Higher Education” (co-authored with Susan Searls Giroux, 2006), “The University in Chains: Confronting the Military-Industrial-Academic Complex” (2007) and “Against the Terror of Neoliberalism: Politics Beyond the Age of Greed” (2008). His latest book is Twilight of the Social: Resurgent Publics in the Age of Disposability,” (Paradigm.)

Post Normal Science: Deadlines (Climate Etc.)

Posted on August 3, 2012

by Steven Mosher

Science has changed. More precisely, in post normal conditions the behavior of people doing science has changed.

Ravetz describes a post normal situation by the following criteria:

  1. Facts are uncertain
  2. Values are in conflict
  3. Stakes are high
  4. Immediate action is required

The difference between Kuhnian normal science, or the behavior of those doing science under normal conditions, and post normal science is best illustrated by example. We can use the recent discovery of the Higgs Boson as an example. Facts were uncertain–they always are to a degree; no values were in conflict; the stakes were not high; and, immediate action was not required. What we see in that situation is those doing science acting as we expect them to, according to our vague ideal of science. Because facts are uncertain, they listen to various conflicting theories. They try to put those theories to a test. They face a shared uncertainity and in good faith accept the questions and doubts of others interested in the same field. Their participation in politics is limited to asking for money. Because values are not in conflict no theorist takes the time to investigate his opponent’s views on evolution or smoking or taxation. Because the field of personal values is never in play, personal attacks are minimized. Personal pride may be at stake, but values rarely are. The stakes for humanity in the discovery of the Higgs are low: at least no one argues that our future depends upon the outcome. No scientist straps himself to the collider and demands that it be shut down. And finally, immediate action is not required; under no theory is the settling of the uncertainty so important as to rush the result. In normal science, according to Kuhn,  we can view the behavior of those doing science as puzzle solving. The details of a paradigm are filled out slowly and deliberately.

The situation in climate science are close to the polar opposite of this. That does not mean and should not be construed as a criticism of climate science or its claims. The simple point is this: in a PNS situation, the behavior of those doing science changes. To be sure much of their behavior remains the same. They formulate theories; they collect data, and they test their theories against the data. They don’t stop doing what we notional  describe as science. But, as foreshadowed above in the description of how high energy particle physicists behave, one can see how that behavior changes in a PNS situation. There is uncertainty, but the good faith that exists in normal science, the faith that other people are asking questions because they actually want the answer is gone. Asking questions, raising doubts, asking to see proof becomes suspect in and of itself. And those doing science are faced with a question that science cannot answer: Does this person really want the answer or are they amerchant of doubt? Such a question never gets asked in normal science. Normal science doesn’t ask this question because science cannot answer it.

Because values are in conflict the behavior of those doing science changes. In normal science no one would care if Higgs was a Christian or an atheist. No one would care if he voted liberal or conservative; but because two different value systems are in conflict in climate science, the behavior of those doing science changes. They investigate each other. They question motives. They form tribes.  And because the stakes are high the behavior of those doing science changes as well. They protest; they take money from lobby groups on both sides and worse of all they perform horrendous raps on youTube. In short, they become human; while those around them canonize them or demonize them and their findings become iconized or branded as hoaxes.

This brings us to the last aspect of a PNS situation: immediate action is required. This perhaps is the most contentious aspect of PNS, in fact I would argue it is thedefining characteristic. In all PNS situations it is almost always the case the one side sees the need for action, given the truth of their theory, while the doubtersmust of necessity see no need for immediate action. They must see no need for immediate action because their values are at risk and because the stakes are high. Another way to put this is as follows. When you are in a PNS situation, all sides must deny it. Those demanding immediate action, deny it by claiming more certainty*than is present; those refusing immediate action, do so by increasing demands for certainty. This leads to a centralization and valorization of the topic of uncertainty, and epistemology becomes a topic of discussion for those doing science. That is decidedly not normal science.

The demand for immediate action, however, is broader than simply a demand that society changes. In a PNS situation the behavior of those doing science changes. One of the clearest signs that you are in PNS is the change in behavior around deadlines. Normal science has no deadline. In normal science, the puzzle is solved when it is solved. In normal science there may be a deadline to shut down the collider for maintenance. Nobody rushes the report to keep the collider running longer than it should. And if a good result is found, the schedules can be changed to accommodate the scienceBroadly speaking, science drives the schedule; the schedule doesn’t drive the science.

The climategate mails are instructive here. As one reads through the mails it’s clear that the behavior of those doing science is not what one would call disinterested patient puzzle solving. Human beings acting in a situation where values are in conflict and stakes are high will engage in behavior that they might not otherwise. Those changes are most evident in situations surrounding deadlines. The point here is not to rehash The Crutape Lettersbut rather to relook at one incident ( there are others, notably around congressional hearings ) where deadlines came into play. The deadline in question was the deadline for submitting papers for consideration. As covered in The Crutape Letters and in The Hockeystick Illusion, the actions taken by those doing science around the“Jesus Paper” is instructive. In fact, were I to rewrite the Crutape letters I would do it from the perspective of PNS, focusing on how the behavior of those doing science deviated from the ideals of openness, transparency and letting truth come on its own good time.

Climategate is about FOIA. There were two critical paths for FOIA: one sought data, the other sought the emails of scientists. Not quite normal. Not normal in that data is usually shared; not normal in that we normally respect the privacy of those doing science. But this is PNS, and all bets are off. Values and practices from other fields, such as business and government,  are imported into the culture of science: Data hoarding is defended using IP and confidentiality agreements. Demanding private mail is defended using values imported from performing business for the public. In short, one sign that a science is post normal, is the attempt to import values and procedures from related disciplines. Put another way, PNS poses the question of governance. Who runs science and how should they run it.

The “Jesus paper” in a nutshell can be explained as follows. McIntyre and McKittrick had a paper published in the beginning of 2005. That paper needed to be rebutted in order to make Briffa’s job of writing chapter 6 easier. However, there was a deadline in play. Papers had to be accepted by a date certain. At one point Steven Schneider suggested the creation of a new category, a novelty–  provisionally accepted — so that the “jesus paper” could make the deadline. McIntyre covers the issue here. One need not re-adjudicate whether or not the IPCC rules were broken. And further these rules have nothing whatsoever ever to do with the truth of the claims in that paper. This is not about the truth of the science. What is important is the importation of the concept of a deadline into the search for truth. What is important is that the behavior of those doing science changes. Truth suddenly cares about a date. Immediate action is required. In this case immediate action is taken to see to it that the paper makes it into the chapter. Normal science takes no notice of deadlines. In PNS, deadlines matter.

Last week we saw another example of deadlines and high stakes changing the behavior of those doing science. The backstory here explains .   It appears to me that the behavior of those involved changed from what I have known it to be. It changed because they perceived that immediate action was required. A deadline had to be met. Again, as with the Jesus paper, the facts surrounding the releasedo not go to the truth of the claims. In normal science, a rushed claimed might very well get the same treatment as an unrushed claim: It will be evaluated on its merits. In PNS, either the rush to meet an IPCC deadline– as in the case of the Jesus paper, or the rush to be ready for congress –as in the Watts case, is enoughfor some doubt the science.  What has been testified to in Congress by Christy, a co author, may very well be true. But in this high stakes arena, where facts are uncertain and values are in conflict, the behavior of those doing science can and does change. Not all their behavior changes. They still observe and test and report. But the manner in which they do that changes. Results are rushed and data is held in secret. Deadlines change everything. Normal science doesn’t operate this way; if it does, quality can suffer. And yet, the demand for more certainty than is needed, the bad faith game of delaying action by asking questions, precludes a naïve return to science without deadlines.

The solution that Ravetz suggests is extended peer review and a recognition of the importance of quality. In truth, the way out of a PNS situation is not that simple. The first step out of a PNS situation is the recognition that one is in the situation to begin with. Today, few people embroiled in this debate would admit that the situation has changed how they would normally behave. An admission that this isn’t working is a cultural crisis for science. No one has the standing to describe how one should conduct science in a PNS situation. No one has the standing to chart the path out of a PNS situation. The best we can do is describe what we see. Today, I observe that deadlines change the behavior of those doing science. We see that in climategate; we see that in the events of the past week. That’s doesn’t entail anything about the truth of science performed under pressure. But it should make us pause and consider if truth will be found any faster by rushing the results and hiding the data.

*I circulated a copy of this to Michael Tobis to get his reaction. MT took issue with this characterization. MT, I believe, originated the argument that our uncertainty is a reason for action. It is true that while the certainty about the science  has been a the dominant piece of the rhetoric, there has been a second thread of rhetoric that bases action in the uncertainty about sensitivity. I would call this certainty shifting. While the uncertainty about facts of sensitivity are accepted in this path of argument the certainty is shifted to certainty about values and certainty about impacts. In short, the argument becomes that while we are uncertain about sensitivity the certainty we have about large impacts and trans-generational obligations necessitates action.

Scientists struggle with limits – and risks – of advocacy (eenews.net)

Monday, July 9, 2012

Paul Voosen, E&E reporter

Jon Krosnick has seen the frustration etched into the faces of climate scientists.

For 15 years, Krosnick has charted the rising public belief in global warming. Yet, as the field’s implications became clearer, action has remained elusive. Science seemed to hit the limits of its influence. It is a result that has prompted some researchers to cross their world’s no man’s land — from advice to activism.

As Krosnick has watched climate scientists call for government action, he began pondering a recent small dip in the public’s belief. And he wondered: Could researchers’ move into the political world be undermining their scientific message?

Jon Krosnick
Stanford’s Jon Krosnick has been studying the public’s belief in climate change for 15 years, but only recently did he decide to probe their reaction to scientists’ advocacy. Photo courtesy of Jon Krosnick.

“What if a message involves two different topics, one trustworthy and one not trustworthy?” said Krosnick, a communication and psychology professor at Stanford University. “Can the general public detect crossing that line?”

His results, not yet published, would seem to say they can.

Using a national survey, Krosnick has found that, among low-income and low-education respondents, climate scientists suffered damage to their trustworthiness and credibility when they veered from describing science into calling viewers to ask the government to halt global warming. And not only did trust in the messenger fall — even the viewers’ belief in the reality of human-caused warming dropped steeply.

It is a warning that, even as the frustration of inaction mounts and the politicization of climate science deepens, researchers must be careful in getting off the political sidelines.

“The advice that comes out of this work is that all of us, when we claim to have expertise and offer opinions on matters [in the world], need to be guarded about how far we’re willing to go,” Krosnick said. Speculation, he added, “could compromise everything.”

Krosnick’s survey is just the latest social science revelation that has reordered how natural scientists understand their role in the world. Many of these lessons have stemmed from the public’s and politicians’ reactions to climate change, which has provided a case study of how science communication works and doesn’t work. Complexity, these researchers have found, does not stop at their discipline’s verge.

For decades, most members of the natural sciences held a simple belief that the public stood lost, holding out empty mental buckets for researchers to fill with knowledge, if they could only get through to them. But, it turns out, not only are those buckets already full with a mix of ideology and cultural belief, but it is incredibly fraught, and perhaps ineffective, for scientists to suggest where those contents should be tossed.

It’s been a difficult lesson for researchers.

“Many of us have been saddened that the world has done so little about it,” said Richard Somerville, a meteorologist at the Scripps Institution of Oceanography and former author of the United Nations’ authoritative report on climate change.

“A lot of physical climate scientists, myself included, have in the past not been knowledgeable about what the social sciences have been saying,” he added. “People who know a lot about the science of communication … [are] on board now. But we just don’t see that reflected in the policy process.”

While not as outspoken as NASA’s James Hansen, who has taken a high-profile moral stand alongside groups like 350.org and Greenpeace, Somerville has been a leader in bringing scientists together to call for greenhouse gas reductions. He helped organize the 2007 Bali declaration, a pointed letter from more than 200 scientists urging negotiators to limit global CO2 levels well below 450 parts per million.

Such declarations, in the end, have done little, Somerville said.

“If you look at the effect this has had on the policy process, it is very, very small,” he said.

This failed influence has spurred scientists like Somerville to partner closely with social scientists, seeking to understand why their message has failed. It is an effort that received a seal of approval this spring, when the National Academy of Sciences, the nation’s premier research body, hosted a two-day meeting on the science of science communication. Many of those sessions pivoted on public views of climate change.

It’s a discussion that’s been long overdue. When it comes to how the public learns about expert opinions, assumptions mostly rule in the sciences, said Dan Kahan, a professor of law and psychology at Yale Law School.

“Scientists are filled with conjectures that are plausible about how people make sense about information,” Kahan said, “only some fraction of which [are] correct.”

Shifting dynamic

Krosnick’s work began with a simple, hypothetical scene: NASA’s Hansen, whose scientific work on climate change is widely respected, walks into the Oval Office.

As he has since the 1980s, Hansen rattles off the inconvertible, ever-increasing evidence of human-caused climate change. It’s a stunning litany, authoritative in scope, and one the fictional president — be it a Bush or an Obama — must judge against Hansen’s scientific credentials, backed by publications and institutions of the highest order. If Hansen stops there, one might think, the case is made.

But he doesn’t stop. Hansen continues, arguing, as a citizen, for an immediate carbon tax.

“Whoa, there!” Krosnick’s president might think. “He’s crossed into my domain, and he’s out of touch with how policy works.” And if Hansen is willing to offer opinions where he lacks expertise, the president starts to wonder: “Can I trust any of his work?”

Richard Somerville
Part of Scripps’ legendary climate team — Charles David Keeling was an early mentor — Richard Somerville helped organize the 2007 Bali declaration by climate scientists, calling for government action on CO2 emissions. Photo by Sylvia Bal Somerville.

Researchers have studied the process of persuasion for 50 years, Krosnick said. Over that time, a few vital truths have emerged, including that trust in a source matters. But looking back over past work, Krosnick found no answer to this question. The treatment was simplistic. Messengers were either trustworthy or not. No one had considered the case of two messages, one trusted and one shaky, from the same person.

The advocacy of climate scientists provided an excellent path into this shifting dynamic.

Krosnick’s team hunted down video of climate scientists first discussing the science of climate change and then, in the same interview, calling for viewers to pressure the government to act on global warming. (Out of fears of bruised feelings, Krosnick won’t disclose the specific scientists cited.) They cut the video in two edits: one showing only the science, and one showing the science and then the call to arms.

Krosnick then showed a nationally representative sample of 793 Americans one of three videos: the science-only cut, the science and political cut, and a control video about baking meatloaf (The latter being closer to politics than Krosnick might admit). The viewers were then asked a series of questions both about their opinion of the scientist’s credibility and their overall beliefs on global warming.

For a cohort of 548 respondents who either had a household income under $50,000 or no more than a high school diploma, the results were stunning and statistically significant. Across the board, the move into politics undermined the science.

The viewers’ trust in the scientist dropped 16 percentage points, from 48 to 32 percent. Their belief in the scientist’s accuracy fell from 47 to 36 percent. Their overall trust in all scientists went from 60 to 52 percent. Their belief that government should “do a lot” to stop warming fell from 62 to 49 percent. And their belief that humans have caused climate change fell 14 percentage points, from 81 to 67 percent.

Krosnick is quick to note the study’s caveats. First, educated or wealthy viewers had no significant reaction to the political call and seemed able to parse the difference between science and a personal political view. The underlying reasons for the drop are far from clear, as well — it could simply be a function of climate change’s politicization. And far more testing needs to be done to see whether this applies in other contexts.

With further evidence, though, the implications could be widespread, Krosnick said.

“Is it the case that the principle might apply broadly?” he asked. “Absolutely.”

‘Fraught with misadventure’

Krosnick’s study is likely rigorous and useful — he is known for his careful methods — but it still carries with it a simple, possibly misleading frame, several scientists said.

Most of all, it remains hooked to a premise that words float straight from the scientist’s lips to the public’s ears. The idea that people learn from scientists at all or that they are simply misunderstanding scientific conclusions is not how reality works, Yale’s Kahan said.

“The thing that goes into the ear is fraught with misadventure,” he said.

Kahan has been at the forefront of charting how the empty-bucket theory of science communication — called the deficit model — fails. People interpret new information within the context of their own cultural beliefs, peers and politics. They use their reasoning to pick the evidence that supports their views, rather than the other way around. Indeed, recent work by Kahan found that higher-educated respondents were more likely to be polarized than their less-educated peers.

Krosnick’s study will surely spur new investigations, Kahan said, though he resisted definite remarks until he could see the final work. If the study’s conditions aren’t realistic, even a simple model can have “plenty of implications for all kinds of ways of which people become exposed to science,” he said.

The survey sits well with other research in the field and carries an implication about what role scientists should play in scientific debates, added Matthew Nisbet, a communication professor at American University.

“As soon as you start talking about a policy option, you’re presenting information that is potentially threatening to people’s values or identity,” he said. The public, he added, doesn’t “view scientists and scientific information in a vacuum.”

The deficit model has remained an enduring frame for scientists, many of whom are just becoming aware of social science work on the problem. Kahan compares it to the stages of grief. The first stage was that the truth just needs to be broadcast to change minds. The second, and one still influential in the scientific world, is that if the message is just simplified, the right images used, than the deficit will be filled.

“That too, I think, is a stage of misperception about how this works,” Kahan said.

Take the hand-wringing about science education that accompanied a recent poll finding that 46 percent of the United States believed in a creationist origin for humans. It’s a result that speaks to belief, not an understanding of evolution. Many surveyed who believed in evolution would still fail to explain natural selection, mutation or genetic variance, Kahan said, just as they don’t have to understand relativity to use their GPS.

Much of science doesn’t run up against the public’s belief systems and is accepted with little fuss. It’s not as if Louis Pasteur had to sell pasteurization by using slick images of children getting sick; for nearly all of society, it was simply a useful tool. People want to defer to the experts, as long as they don’t have to concede their beliefs on the way.

“People know what’s known without having a comprehension of why that’s the truth,” Kahan said.

There remains a danger in the emerging consensus that all scientific knowledge is filtered by the motivated reasoning of political and cultural ideology, Nisbet added. Not all people can be sorted by two, or even four, variables.

“In the new ideological deficit model, we tend to assume that failures in communication are caused by conservative media and conservative psychology,” he said. “The danger in this model is that we define the public in exclusively binary terms, as liberals versus conservatives, deniers versus believers.”

‘Crossing that line’

So why do climate scientists, more than most fields, cross the line into advocacy?

Most of all, it’s because their scientific work tells them the problem is so pressing, and time dependent, given the centuries-long life span of CO2 emissions, Somerville said.

“You get to the point where the emissions are large enough that you’ve run out of options,” he said. “You can no longer limit [it]. … We may be at that point already.”

There may also be less friction for scientists to suggest communal solutions to warming because, as Nisbet’s work has found, scientists tend to skew more liberal than the general population with more than 50 percent of one U.S. science society self-identifying as “liberal.” Given this outlook, they are more likely to accept efforts like cap and trade, a bill that, in implying a “cap” on activity, rubbed conservatives wrong.

Dan Kahan
A prolific law professor and psychologist at Yale, Dan Kahan has been charting how the public comes to, and understands, science. Photo courtesy of Dan Kahan.

“Not a lot of scientists would question if this is an effective policy,” Nisbet said.

It is not that scientists are unaware that they are moving into policy prescription, either. Most would intuitively know the line between their work and its political implications.

“I think many are aware when they’re crossing that line,” said Roger Pielke Jr., an environmental studies professor at the University of Colorado, Boulder, “but they’re not aware of the consequences [of] doing so.”

This willingness to cross into advocacy could also stem from the fact that it is the next logical skirmish. The battle for public opinion on the reality of human-driven climate change is already over, Pielke said, “and it’s been won … by the people calling for action.”

While there are slight fluctuations in public belief, in general a large majority of Americans side with what scientists say about the existence and causes of climate change. It’s not unanimous, he said, but it’s larger than the numbers who supported actions like the Montreal Protocol, the bank bailout or the Iraq War.

What has shifted has been its politicization: As more Republicans have begun to disbelieve global warming, Democrats have rallied to reinforce the science. And none of it is about the actual science, of course. It’s a fact Scripps’ Somerville now understands. It’s a code, speaking for fear of the policies that could happen if the science is accepted.

Doubters of warming don’t just hear the science. A policy is attached to it in their minds.

“Here’s a fact,” Pielke said. “And you have to change your entire lifestyle.”

For all the focus on how scientists talk to the public — whether Hansen has helped or hurt his cause — Yale’s Kahan ultimately thinks the discussion will mean very little. Ask most of the public who Hansen is, and they’ll mention something about the Muppets. It can be hard to accept, for scientists and journalists, but their efforts at communication are often of little consequence, he said.

“They’re not the primary source of information,” Kahan said.

‘A credible voice’

Like many of his peers, Somerville has suffered for his acts of advocacy.

“We all get hate email,” he said. “I’ve given congressional testimony and been denounced as an arrogant elitist hiding behind a discredited organization. Every time I’m on national news, I get a spike in ugly email. … I’ve received death threats.”

There are also pressures within the scientific community. As an elder statesman, Somerville does not have to worry about his career. But he tells young scientists to keep their heads down, working on technical papers. There is peer pressure to stay out of politics, a tension felt even by Somerville’s friend, the late Stephen Schneider, also at Stanford, who was long one of the country’s premier speakers on climate science.

He was publicly lauded, but many in the climate science community grumbled, Somerville said, that Schneider should “stop being a motormouth and start publishing technical papers.”

But there is a reason tradition has sustained the distinction between advising policymakers and picking solutions, one Krosnick’s work seems to ratify, said Michael Mann, a climatologist at Pennsylvania State University and a longtime target of climate contrarians.

“It is thoroughly appropriate, as a scientist, to discuss how our scientific understanding informs matters of policy, but … we should stop short of trying to prescribe policy,” Mann said. “This distinction is, in my view, absolutely critical.”

Somerville still supports the right of scientists to speak out as concerned citizens, as he has done, and as his friend, NASA’s Hansen, has done more stridently, protesting projects like the Keystone XL pipeline. As long as great care is taken to separate the facts from the political opinion, scientists should speak their minds.

“I don’t think being a scientist deprives you of the right to have a viewpoint,” he said.

Somerville often returns to a quote from the late Sherwood Rowland, a Nobel laureate from the University of California, Irvine, who discovered the threat chlorofluorocarbons posed to ozone: “What’s the use of having developed a science well enough to make predictions if, in the end, all we’re willing to do is stand around and wait for them to come true?”

Somerville asked Rowland several times whether the same held for global warming.

“Yes, absolutely,” he replied.

It’s an argument that Krosnick has heard from his own friends in climate science. But often this fine distinction gets lost in translation, as advocacy groups present the scientist’s personal message as the message of “science.” It’s luring to offer advice — Krosnick feels it himself when reporters call — but restraint may need to rule.

“In order to preserve a credible voice in public dialogue,” Krosnick said, “it might be that scientists such as myself need to restrain ourselves as speaking as public citizens.”

Broader efforts of communication, beyond scientists, could still mobilize the public, Nisbet said. Leave aside the third of the population who are in denial or alarmed about climate change, he said, and figure out how to make it relevant to the ambivalent middle.

“We have yet to really do that on climate change,” he said.

Somerville is continuing his efforts to improve communication from scientists. Another Bali declaration is unlikely, though. What he’d really like to do is get trusted messengers from different moral realms beyond science — leaders like the Dalai Lama — to speak repeatedly on climate change.

It’s all Somerville can do. It would be too painful to accept the other option, that climate change is like racism, war or poverty — problems the world has never abolished.

“[It] may well be that it is a problem that is too difficult for humanity to solve,” he said.

Ciência e cultura, o que elas têm em comum? (Jornal da Ciência)

JC e-mail 4549, de 27 de Julho de 2012.

A pergunta foi tema da mesa-redonda “Divulgação da Ciência e da Cultura”, realizada na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que termina hoje (27), em São Luís.

Para Ildeu de Castro Moreira, diretor de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e conselheiro da SBPC, o debate sobre a relação da ciência com a arte é muito importante porque são duas facetas fundamentais da cultura humana. “Ciência, arte e cultura têm em comum a criatividade inerente ao ser humano”, definiu. Ele explica que arte e ciência são atividades humanas e sociais baseadas na criatividade e curiosidade.

Físico e divulgador científico, Ildeu falou sobre o “imaginário científico presente na mente de artistas”, e explicou que a ciência também tem preocupação estética e guarda semelhanças com a arte. Para ele, há beleza nas teorias científicas. “Equações matemáticas e fórmulas físicas são lindas. Podem parecer chatas em sala de aula, mas contando com a ajuda do olhar de um artista é possível mostrar essa beleza. É preciso aprender a olhar a beleza da ciência, assim como temos que aprender a olhar muita coisa na arte contemporânea”, exemplifica.

Para Ildeu, as conexões entre ciência e arte são importantes para fazer a divulgação científica chegar mais facilmente ao público. Em sua exposição, ele mostrou manifestações artísticas que falam de ciência, dando exemplos de poesias, músicas, enredos de escolas de samba, ditos populares e cordel.

Público infantil – Em sua apresentação na mesa-redonda, Luisa Medeiros Massarani, jornalista e chefe do Museu da Vida da Fiocruz, no Rio de Janeiro, falou sobre iniciativas de divulgação científicas voltadas para o público infantil. “A experiência tem demonstrado uma grande receptividade das crianças, maior do que a de adultos e adolescentes. Principalmente devido à curiosidade da criança, que são consideradas como ‘cientistas naturais'”, explica.

Luisa falou sobre o crescimento de museus de ciências no País, que atualmente são cerca de 200, embora ainda estejam concentrados em algumas regiões. “Os museus têm apelo incrível para as crianças e são importantes também para o divulgador que vê na hora a reação da criança”, revela. Apesar de os museus terem grande parte do público formado por crianças, Luisa afirma que é preciso pensar em espaços específicos para elas, desde a redução do tamanho dos móveis até atividades interativas adequadas.

Ela defende que a criança deve ser encarada como ator social importante no processo de divulgação científica. “Falar de divulgação científica para criança não é falar de ciência unilateralmente, é preciso que a criança seja ator importante e protagonista do processo”, explica ao dizer que a experiência de uma feira de ciência, ou a visita a um museu fica na memória da criança e pode influenciar sua formação, além de provocar e despertar o interesse pela ciência.

A chefe do Museu da Vida citou exposições, livros e publicações voltadas para o público infantil. E destacou a importância de fazer avaliações junto às crianças depois dessas experiências, para saber qual caminho seguir.

Ildeu aproveitou para sugerir que artistas participem mais ativamente das reuniões da SBPC, não somente como um evento paralelo, como a SBPC Cultural, mas como integrantes de mesas e debates com os cientistas. A ideia é aproveitar o público da Reunião, que alcança 15, 20 mil pessoas para falar dessa relação.

(Jornal da Ciência)

Definição de economia verde, uma pedra no sapato da Rio+20 (IPS)

Envolverde Rio + 20
15/6/2012 – 09h58

por Thalif Deen, da IPS

Slide18 Definição de economia verde, uma pedra no sapato da Rio+20Nova York, Estados Unidos, 15/6/2012 (IPS/TerraViva) – A discussão central da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontecerá na próxima semana no Rio de Janeiro, será em torno do conceito de “economia verde” e sobre a melhor forma de defini-la.

“Se a economia for definida claramente apontando para um desenvolvimento sustentável, sem recorrer a experimentos baseados no mercado ou em soluções técnicas, será um êxito”, disse Alex Scrivener, oficial de políticas do World Delepoment Movement (WDM – Movimento Mundial de Desenvolvimento), com sede em Londres. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que a comunidade internacional deve chegar a um consenso sobre a economia verde inclusiva, “que tire as pessoas da pobreza e proteja o meio ambiente”. Isto, acrescentou, exige colaboração internacional. Contudo, também investimento, financiamento, experiências compartilhadas e transferência de tecnologia.

Um tema fundamental da Rio+20 será como integrar uma “economia verde” ao conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável. Segundo o WDM, “uma verdadeira economia verde adotará a justiça econômica e o direito das comunidades pobres de definirem seu próprio caminho para sair da pobreza e acabar com as políticas perniciosas que priorizam o lucro em relação às pessoas e ao meio ambiente”. O WDM também diz que esta economia porá fim “à nossa obsessão pelo crescimento econômico e um consumo não sustentável, os quais reorientará insistindo em como cobrir as necessidades de todo o mundo de maneira verdadeiramente sustentável”.

O rascunho do plano de ação, documento a ser discutido na Rio+20, divulgado em janeiro, era vago e deixava de fora muitos dos compromissos concretos, diz a organização, mas as negociações seguintes parecem tê-lo diluído ainda mais. Sem declarações específicas, como a disponibilidade de fundos para facilitar para os países em desenvolvimento a implantação de políticas verdes ou um cronograma concreto para o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, o documento final da conferência corre o risco de ser uma declaração insossa de generalidades, destaca o WDM.

Esta organização observa que as nações industrializadas, como a Grã-Bretanha, além dos bancos e das companhias multinacionais, utilizam o termo “economia verde” como cortina de fumaça para esconder seus planos de privatizar bens globais e criar novos mercados para os serviços que a natureza fornece gratuitamente. “Deste cavalo de Troia surgirão novos mecanismos de mercado que permitirão ao setor financeiro obter maior controle sobre a gestão dos bens globais”, alerta a organização.

Em lugar de contribuir para o desenvolvimento sustentável e a justiça econômica, esta “economia verde corporativa” levará à privatização da terra e da natureza, as quais passarão a ser controladas por multinacionais que as afastarão das comunidades que delas dependem, prevê o WDM. Scrivener não acredita que o Fundo Verde para o Clima alcance o objetivo de reunir US$ 100 bilhões até 2020. “A falta de fundos públicos se tornou a desculpa dos países industrializados para justificar sua falta de colaboração econômica para o clima ou sua tentativa de utilizar fundos privados para cobrir o vazio”, afirmou.

“A realidade é que, apesar da crise de dívida soberana na Europa ter aumentando a pressão sobre a disponibilidade de fundos públicos, perdeu-se totalmente a oportunidade de explorar novas fontes”, apontou Scrivener. Como exemplo mencionou que a ideia de introduzir novos impostos em setores muito contaminantes, como são a aviação e os transportes, citada na cúpula de Copenhague no final de 2009, caiu no esquecimento, apesar de esse tipo de medida ser suficiente para cobrir a falta de fundos públicos.

“Quando se fala de escassez de fundos não devemos esquecer a dívida climática que o mundo industrializado tem com as nações em desenvolvimento”, ressaltou Scrivener. Esse dinheiro, que representaria uma ínfima proporção dos orçamentos das nações ricas, “não deveria ser considerado um compromisso discricionário e sua concessão deveria ser vista como prioritária”, considerou.

“Infelizmente, é pouco provável que no Rio de Janeiro seja anunciado um pacote com fundos públicos, e o rascunho preliminar do documento final não estabelece nada significativo além da tradicional assistência oficial ao desenvolvimento, de 0,7% do produto interno bruto”, lamentou Scrivener. “É ruim, mas creio que a principal batalha na cúpula girará em torno dos princípios para definir uma nova economia verde”, acrescentou.

A atual crise econômica deveria servir de lição para os governos sobre a inerente instabilidade, a falta de sustentabilidade de nosso sistema econômico e as razões pelas quais deve ser substituído. No entanto, os governos se concentram em regressar a um crescimento econômico que não é sustentável, e inclusive estudam destinar um valor monetário à natureza, o que poderia estender a influência dos instáveis mercados financeiros sobre o meio ambiente.

A crise também faz os governos não darem importância aos grandes desafios que representam a mudança climática, a redução da pobreza e a degradação ambiental. “Vemos que isso acontece em diferentes âmbitos como a falta de ambição do rascunho do documento final da Rio+20”, acrescentou Scrivener. Quanto à mudança climática, essa mentalidade ficou demonstrada com a retirada de Canadá, Japão e Rússia do Protocolo de Kyoto, bem como pela tentativa de considerar o gás natural como uma fonte de energia barata que emite pouco dióxido de carbono.

Envolverde/IPS

Free application for smartphones with real time information on the Rio+20 conference (IISD)

Free application for smartphones with real time information on the Rio+20 conference, by IISD:

http://itunes.apple.com/us/app/enb-mobile/id529597393?ls=1&mt=8

On the web:

http://enb.iisd.mobi/uncsd-rioplus20/

 

O liberalismo de jabuticaba (Carta Capital)

Artigo
29/5/2012 – 11h21

por Luis Nassif*

c617 O liberalismo de jabuticaba

Luis Nassif. Foto: Divulgação

Há anos, por seu alcance, o sistema Globo tornou-se a principal influência na opinião pública, inclusive em questões econômicas. TV GloboGlobonewsCBN, jornal O Globo, portal G1, constituem-se na mais formidável caixa de irradiação de opiniões no país.

Por isso mesmo, é um bom laboratório para se analisar como se formam consensos, especialmente em temas ligados ao mercado e à economia.

Em geral, o discurso assenta-se em bordões de fácil assimilação  que, pela repetição, vulgarizam-se, podendo ser repetidos desde executivos com pouca formação econômica até papos de boteco. Paradoxalmente, essa banalização de conceitos responde pela extrema superficialidade da análise e, ao mesmo tempo, por sua enorme eficácia.

Até agosto do ano passado, esse discurso mercadista era facilitado pelo sofisma da prioridade única. Todas as análises tinham como mote a inflação. Justificava-se qualquer nível de taxa de juros porque era anti-inflação. Criticava-se qualquer redução da Selic, por mínima que fosse, por acirrar a inflação.

Não havia a menor necessidade de pensar. Baixou a taxa, imediatamente rebimbava o coro anti-inflação. Aumentou em percentuais ínfimos gastos sociais, acordava o coro contra a gastança.

Quando, em fins de agosto passado, o Banco Central reduziu a Selic e a inflação continuou caindo, o discurso desmoronou. Seria preciso refazer o discurso, recriar bordões.  E aí o sistema deu tilt.

Por exemplo, a boa análise econômica sabe que não é possível desenvolvimento sustentável sem dois eixos bem azeitados: consumo e investimento.

Primeiro, trata-se de montar o mercado – o interno, através da ampliação da base de consumo, e o externo, através de instrumentos de apoio à exportação.

Dado o mercado, garantir o investimento, através de ferramentas fiscais, financeiras e cambiais.

Cria-se o mercado interno. Estimula-se o investimento na produção. Amplia-se a capacidade produtiva do país, geram-se empregos mais qualificados e, por conseguinte, mais consumidores, completando o ciclo virtuoso do crescimento.

Sem o investimento, esse crescimento será apropriado pelo produto importado até o limite do estrangulamento externo. Não se completaria o ciclo. Mas não se investe sem dispor de um mercado de consumo em expansão.

No entanto, anos de defesa de juros altos criaram um pensamento anti-crescimento irracional – que é repetido de cabo a cabo por todo aparato midiático das Organizações Globo.

Ontem, as medidas de redução do custo do financiamento foram taxadas de temerárias por induzir o consumidor ao “endividamento irresponsável”.

Ora, o discurso econômico das Organizações é fundamentalmente neoliberal.

É princípio elementar do liberalismo o pleno direito de opção ao consumidor, ao investidor, à empresa. Ao Estado compete apenas criar condições adequadas, sem pretender tutelar os agentes econômicos.

Na hora de criar o bordão, esquece-se o livre arbítrio do consumidor, as ferramentas de análise de crédito dos bancos, o monitoramento da inadimplência pelo Banco Central, o fato do financiamento de automóvel ser garantido pelo próprio veículo, aspectos técnicos e conceituais.

Em Wall Street – onde esse pessoal se espelha -, seria motivo de chacota.

* Luis Nassif é jornalista econômico e editor do site www.advivo.com.br/luisnassif – lnassif2011@bol.com.br.

** Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.