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Opinião – Desigualdades: Precisamos falar sobre a beleza dos yanomamis (Folha de S.Paulo)

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Cenas de horror dizem mais sobre os napë, os não indígenas, do que sobre esse povo

Dário Kopenawa Yanomami

8 de fevereiro de 2023


Neste momento em que muito se fala sobre a tragédia yanomami, há quem atribua as causas do sofrimento desse povo ao seu modo de vida. Sugerem que a fome e a doença são produtos da suposta ineficiência do sistema produtivo indígena, não da economia predatória que há anos vem devorando povos e territórios planeta afora. Ignoram que esse mesmo modo de vida garantiu uma existência abundante por séculos, enquanto o extrativismo não indígena é o verdadeiro produtor da escassez —algo que se vê, por exemplo, nos grandes centros urbanos que se pretendem monumentos da civilização ocidental. Como diria Davi Kopenawa, “o povo da mercadoria” está condenado.

Não é difícil notar a contradição no discurso que imputa aos indígenas a culpa por esta tragédia. Basta observar o que acontece nos lugares cotidianamente consumidos pelo garimpo. Onde há garimpo não há prosperidade. Há pobreza e violência, nada mais. Nesses lugares, enquanto a maioria padece de moléstias como a malária ou é envenenada pelo mercúrio, apenas alguns poucos acumulam riquezas, que são ostentadas bem longe das crateras de onde são extraídas.

Em meio à tragédia, é urgente não perder de vista a beleza desse povo. A beleza das festas reahu, das danças de apresentação. Céu azul, corpos pintados de vermelho, o balé das palhas amarelas. Tampouco perder de vista a beleza da floresta e do conhecimento milenar que ajudou a construí-la e torná-la ainda mais bela. Abelhas comendo no jatobá-roxo, os perfumes do fundo da mata, a majestade das sumaúmas e as fantásticas ilhas de pupunheiras e cacauais. Não podemos perder de vista a beleza dos xamãs e de seus espíritos auxiliares, que contribuem para o equilíbrio cósmico. A beleza da língua yanomami e dos seus cantos, que têm a sutileza de haicais e o ritmo dos cantos dos bichos.

Para os inimigos dos povos indígenas, uma forma de extermínio é a destruição dessa beleza. Pois é por meio da beleza que os yanomamis afirmam a sua humanidade no mundo.

Viver com a floresta é uma arte e requer uma sabedoria que não pode ser fabricada em laboratório. Os yanomamis manejam mais de 160 espécies vegetais silvestres comestíveis, conhecem minuciosamente o comportamento de mais de 80 animais de caça, pescam cerca de 50 tipos de peixes, coletam 30 variedades diferentes de mel silvestre, 11 espécies de cogumelos, dezenas de invertebrados e cultivam mais de uma centena de alimentos, com destaque para a banana, a mandioca, a batata-doce, a taioba, o cará, a cana e o milho.

Davi Kopenawa, com sua perspicácia e inteligência fora do comum, há anos vem nos alertando sobre isso, assim como vem lutando para que os napë (os não indígenas) reconheçam a beleza do seu povo, a sua humanidade.

Leiam as suas palavras em “A Queda do Céu“. Assistam à poesia dos moradores da serra do vento em “A Última Floresta“. Deixem-se apaixonar por esse povo e por sua maneira própria de criar mundos. A aposta de Davi é que o respeito pelo seu povo só pode nascer da admiração, não da pena ou da comiseração.

Um povo cujas crianças podem nomear mais de duzentos tipos de flores durante uma brincadeira é um tesouro. E é desse tipo de tesouro de que o Brasil e a humanidade precisam.

As cenas de horror que circulam hoje, seguramente, dizem mais sobre quem são os napë do que sobre os yanomamis.

Como alcançar o céu Yanomami se a imagem capturada está disseminada na internet? (Sumaúma)

Reflexos luminosos do céu nas águas de um rio na Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima. Foto: Pablo Albarenga/SUMAÚMA

Perspectiva

O dramático impasse dos indígenas que, para denunciar seu genocídio ao mundo, precisam correr o risco de não alcançar a felicidade após a morte

Hanna Limulja

26 janeiro 2023

— Fátima, para onde vão os Yanomami quando morrem?

— Para o hutu mosi.

— E onde fica o hutu mosi? Você já foi pra lá?

— Eu já fui pra lá em sonho. O hutu mosi fica no céu, parece longe, mas é perto. É bonito, há muita fartura, os Yanomami sempre dançam, cantam, as mulheres e os homens viram moças e rapazes, estão sempre enfeitados. Todos vivem felizes no hutu mosi.

— Como podem viver felizes se estão mortos?

— O corpo morre, mas a imagem se transforma em pore. São pore, mas ainda vivem.

A imagem que se transforma em pore quando a pessoa morre é a parte da pessoa que desprende do corpo quando ela sonha. Na língua Yanomami, se diz pei utupë. Se traduz como a imagem que todos os seres possuem dentro de si. Utupë também pode ser um reflexo, uma sombra. Assim, a imagem que se vê no espelho é um utupë, da mesma forma que uma foto, uma imagem que se vê na TV.

Para que um Yanomami possa morrer, é preciso que todas as partes que compõem a pessoa sejam destruídas.

— O que vocês, brancos, fazem quando morre um parente?

— A gente enterra.

— Vocês colocam seus mortos debaixo da terra?? Vocês deixam ele apodrecer sozinho?? Como podem fazer isso??

— É assim que a gente faz com os nossos mortos. Às vezes a gente crema, igual vocês, Yanomami, fazem.

— E o que vocês fazem com as coisas que eram do morto?

— A gente deixa para os nossos filhos.

— Como vocês são capazes de deixar as coisas dos mortos para os que estão vivos? Dessa forma, os vivos ficarão olhando para essas mercadorias e não conseguirão esquecer os mortos, e irão sofrer. Vocês, brancos, são mesmo outra gente!!

Estes foram alguns dos diálogos que tive com Fátima, uma mulher Yanomami de 40 anos, com quem convivi e aprendi muito sobre o mundo do povo que segura o céu. O assombro de Fátima vem do fato de que as coisas do morto possuem a marca do morto, e, portanto, geram tristeza e nostalgia naqueles que ficam. Dentro do pensamento Yanomami, é preciso realizar a separação entre os mortos e os vivos, e tudo o que remete ao morto deve ser apagado, algo que ocorre ao longo de sucessivos e complexos rituais funerários que podem durar anos.

A imagem faz parte do morto, assim como seu nome. Por isso, quando alguém morre, o nome não deve ser pronunciado, pois chamar é trazer para perto, e é preciso estabelecer distância dos mortos, é preciso esquecê-los, para que possam ir definitivamente para o hutu mosi, e para que os vivos possam seguir vivendo.

Tudo o que pertencia ao morto precisa ser destruído. É por isso que a imagem, que é parte constituinte e fundamental da pessoa Yanomami, é algo tão precioso e precisa ser tratada com cuidado. É por essa razão que os Yanomami pediram, dias atrás, que a foto onde aparece uma velha mulher em estado de desnutrição severa fosse apagada. Ela faleceu, mas no pensamento Yanomami ela não pode morrer enquanto sua imagem permanecer nesse plano e reanimar nos vivos a dor de sua ausência.

Davi Kopenawa, xamã e líder político Yanomami, sabe que sua imagem vai permanecer mesmo após a sua morte. Abriu essa concessão com a consciência de que era preciso levar para o mundo a situação que os Yanomami estavam vivendo durante o fim da década de 1980 e início de 1990, quando houve a primeira corrida do ouro. Sim, essa tragédia já aconteceu antes, mas nunca na escala em que está acontecendo agora.

As imagens capturadas pela fotógrafa Claudia Andujar também tiveram que percorrer o mundo para dar testemunho do que foi a tragédia da construção da rodovia Perimetral Norte, na década de 1970 – e, mais tarde, na explosão do garimpo, nos anos 1980. A foto do missionário da Consolata Carlo Zacquini, em que aparecem mulheres com rostos pintados de preto segurando cabaças, estampada na capa dos principais jornais do mundo em 1993, são mulheres em luto. Nas cabaças estão as cinzas de seus mortos, que foram assassinados no massacre de Haximu, considerado o primeiro crime de genocídio reconhecido pela justiça brasileira: 16 Yanomami, crianças, adultos e velhos foram brutalmente assassinados por um grupo de garimpeiros.

Essas imagens tiveram que vir à tona e percorrer o mundo para que os napë pë (brancos) pudessem ter a dimensão da tragédia humana que os Yanomami estavam vivendo. Neste ano, fará 30 anos do genocídio de Haximu e a tragédia novamente se repete, mas dessa vez os registros fotográficos dão prova do que acontece no meio da floresta. Nós, povo da mercadoria, como pontua Davi Kopenawa, também somos o povo da imagem, e é por meio dela que podemos constatar a calamidade que os Yanomami estão vivendo.

Se os relatos viessem sem as imagens dilacerantes publicadas em SUMAÚMA, que depois proliferaram por todos os lados nas redes sociais, certamente não causariam o necessário impacto que tiveram. Nós, napë pë, só cremos naquilo que vemos, e por isso as imagens são tão importantes. Mas, porque precisamos da imagem, os Yanomami hoje morrem sem poder morrer. Do lado de lá da floresta Yanomami, a imagem também tem o seu lugar. Para os parentes que ficam, é impossível lidar com a dor da perda do morto sabendo que parte da pessoa continuará presente no mundo dos vivos, reavivando neles a lembrança daquele que é preciso esquecer.

No início da pandemia, mães Sanumä perderam seus bebês, que foram enterrados na cidade de Boa Vista, sem o seu consentimento e com um falso diagnóstico de covid-19. Essas mães voltaram para suas comunidades sem seus filhos, não apenas porque eles morreram, mas porque seus corpos não puderam ser chorados, para que o luto pudesse se realizar. A separação entre vivos e mortos não foi possível.

A dor de não poder destinar aos seus mortos o devido tratamento funerário, porque falta o corpo, ou parte do corpo – sua imagem – não é uma especificidade dos Yanomami. Nós, napë pë, também temos nossos ritos. Para as famílias das três pessoas que ainda não foram encontradas na tragédia de Brumadinho ou para as famílias que tiveram seus parentes e amigos “desaparecidos” pela ditadura empresarial-militar (1964-1985), existe um vazio que não pode ser preenchido, um luto que não cessa, porque os corpos não foram encontrados e seus mortos não puderam ser devidamente chorados.
Os Yanomami fazem um esforço permanente para esquecer seus mortos, sabendo que, quando morrerem, todos vão se encontrar no hutu mosi, um lugar muito melhor onde viverão felizes. Como diz Fátima, “são pore, mas ainda vivem”. A ideia de apagar os mortos da memória pode parecer estranha para nós, napë pë, que registramos tudo, e que fazemos questão de não sermos esquecidos, sobretudo após a nossa morte.

Mas se há algo que os Yanomami não esquecem são aqueles que mataram seus mortos. Nenhuma morte é natural, ela é sempre causada por um outro, que vem de fora. As 570 crianças Yanomami que morreram nos últimos quatro anos não morreram à toa, sem razão. Elas foram mortas por uma política deliberada do governo Bolsonaro. Sim, foi genocídio, e dessa vez não haverá anistia.


Hanna Limulja é antropóloga e indigenista. Trabalha com os Yanomami desde 2008, tendo atuado em ONGs no Brasil e no exterior, como Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Instituto Socioambiental (ISA), Wataniba e Survival International. É autora do livro O Desejo dos Outros — Uma Etnografia dos Sonhos Yanomami (Ubu, 2022).

Vista aérea da aldeia Demini, na Terra Indígena Yanomami, no Amazonas. Foto: Pablo Albarenga/SUMAÚMA

Djamila Ribeiro: Salta na biografia de Claudia Andujar o seu compromisso com povos ameaçados (Folha de S.Paulo)

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Djamila Ribeiro, 27 de agosto de 2020

Recebi de presente de um querido amigo o livro “A Luta Yanomami”, de Claudia Andujar (editado pelo Instituto Moreira Salles, org. Thyago Nogueira).

Andujar dedicou parte considerável de sua vida a fotografar o povo indígena na fronteira entre Brasil e Venezuela, no extremo norte da Amazônia. Além do talento, que refletiu a tradição, a comunidade, a espiritualidade, as dores e perdas pela integração forçada por projetos de colonização da região implementados pelo regime militar, passando por suas próprias incursões experimentais na fotografia, salta na biografia da fotógrafa o seu compromisso com os direitos dos povos constantemente ameaçados e atacados pelos interesses predatórios do garimpo nas jazidas minerais da área, pelas doenças ocidentais e pelos governos.

Fabio Cypriano, estudioso da obra de Andujar, analisa no artigo “Quando o museu se torna um canal de informação” que a exposição “‘Luta Yanomami’ foi vista no início de um governo que se caracteriza por perseguir a causa indígena, ocupando um espaço nobre na avenida Paulista em defesa dessa causa urgente, o que foi, afinal, sempre o objetivo de Andujar”.

O livro, com fotos colhidas durante uma vida, que neste ano completou 89 anos, tem valor cultural inestimável e me aproximou dos ianomâmis, a quem peço licença para fazer uma ligeira visita pelas imagens.

Ao visitar, peço a bênção de Davi Kopenawa Yanomami, xamã, porta-voz e escritor, junto ao antropólogo Bruce Albert, da obra monumental “A Queda do Céu”, livro que narra a vida de Kopenawa até se tornar líder ianomâmi, fazendo dessa trajetória uma incursão na espiritualidade, na visão de mundo e de conceitos a partir da matriz de seu povo, bem como a denúncia de todos os graves ataques do garimpo na região.

É uma obra rara em um país que costuma apagar tais saberes do debate público. Ao explicar a origem de seu nome, Kopenawa, este de origem guerreira presenteado a ele pelos espíritos xapiri “em razão da fúria que havia em mim para enfrentar os brancos”, explica um pouco de seu povo.

“Primeiro foi Davi, o nome que os brancos me atribuíram na infância, depois foi Kopenawa, o que me deram mais tarde os espíritos vespa. E por fim acrescentei Yanomami, que é palavra sólida que não pode desaparecer, pois é o nome do meu povo. Eu não nasci numa terra sem árvores. Minha carne não vem do esperma de um branco. Sou filho dos habitantes das terras altas da floresta e caí no solo da vagina de uma mulher yanomami. Sou filho da gente à qual Omama deu a existência no primeiro tempo. Nasci nesta floresta e sempre vivi nela. Hoje, meus filhos e netos, por sua vez, nela crescem. Por isso meus dizeres são os de um verdadeiro yanomami.”

As palavras de Kopenawa ecoam pelo mundo. Em março, ele esteve na ONU para denunciar avanços contra os índios. O xamã denunciou o garimpo predatório sob a chancela do governo, eleito sob um discurso de ódio contra as populações originais desse país: “Essas são as palavras daquele que se faz de grande homem no Brasil e se diz presidente da República. É o que ele verdadeiramente diz: ‘Eu sou o dono dessa floresta, desses rios, desse subsolo, dos minérios, do ouro e das pedras preciosas! Tudo isso me pertence, então, vão lá buscar tudo e trazer para a cidade. Faremos tudo virar mercadoria!’. É o que os brancos acham e é com essas palavras que destroem a floresta, desde sempre. Mas, hoje, estão acabando com o pouco que resta. Eles já destruíram as nossas trilhas, sujaram os rios, envenenaram os peixes, queimaram as árvores e os animais que caçamos. Eles nos matam também com as suas epidemias”.

As palavras de Kopenawa, ditas antes da eclosão da pandemia no Brasil, ganharam contornos ainda mais sombrios. Desde 2019, o país vinha apresentando retrocessos desastrosos na preservação de terras indígenas. Segundo relatório do Instituto Socioambiental, a derrubada da floresta nas terras ianomâmi cresceu 113% no último ano, sendo que o aumento foi de 80% nas terras indígenas.

No cenário de pandemia, a situação é trágica. Somado ao desmonte em órgãos de proteção indígena, a subnotificação dos números de indígenas mortos pelo Ministério da Saúde, bem como o demorado e insuficiente plano para prevenção de contágio em comunidades indígenas e quilombolas com vetos que vão da obrigação do governo em fornecer água potável até a facilitação ao acesso ao auxílio emergencial, o governo segue com seu projeto de genocídio da população e deve ser responsabilizado, na pessoa do presidente, no Tribunal Penal Internacional, no qual está denunciado. Havendo justiça, assim será.

Eduardo Viveiros de Castro: ‘O que se vê no Brasil hoje é uma ofensiva feroz contra os índios’ (O Globo)

Antropólogo lança livro ‘Metafísicas canibais’ e expõe fotografias na mostra ‘Variações do corpo selvagem’

POR GUILHERME FREITAS


Índio com filmadora de Viveiros de Castro no Alto Xingu, em 1976. – Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

RIO – Certa vez, ao dar uma palestra em Manaus, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro deparou-se com uma plateia dividida entre cientistas e índios. Enquanto apresentava suas teses sobre o perspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido a partir da cosmologia dos povos com que estudou na Amazônia, notou que a metade branca da plateia ia perdendo o interesse. No fim da palestra, diante do silêncio dos cientistas, uma índia pediu a palavra para alertá-los: “Vocês precisam prestar atenção ao que o professor aí está dizendo. Ele está dizendo o que a gente sempre disse”.

A cena, relembrada por Viveiros de Castro em entrevista ao GLOBO, remete a uma das teses centrais de seu novo livro, “Metafísicas canibais” (Cosac Naify e n-1 Edições). O autor descreve-o como a “resenha” ou “sinopse” de uma obra que nunca conseguirá concluir e que se chamaria “O Anti-Narciso”. Nela, aproximaria filosofia e antropologia, Deleuze e Lévi-Strauss, para investigar a pergunta: “o que deve conceitualmente a antropologia aos povos que estuda?”. As culturas e sociedades pesquisadas pelos antropólogos, escreve, “influenciam, ou, para dizer de modo mais claro, coproduzem” as teses formuladas a partir dessas pesquisas.

Um dos mais influentes antropólogos hoje, autor de “A inconstância da alma selvagem” (Cosac Naify, 2002) e professor do Museu Nacional da UFRJ, Viveiros de Castro desenvolve em “Metafísicas canibais” suas ideias sobre o perspectivismo, formadas a partir de ideias presentes em sociedades amazônicas sobre como humanos, animais e espíritos veem-se a si mesmos e aos outros. Ele descreve a antropologia como uma forma de “tradução cultural” e pleiteia que seu ideal é ser “a teoria-prática da descolonização permanente do pensamento”. O que implica reconhecer a diferença e a autonomia do pensamento indígena: “não podemos pensar como os índios; podemos, no máximo, pensar com eles”.Os primeiros contatos de Viveiros de Castro com esse universo estão registrados nas fotografias que fez durante o trabalho de campo com os índios Araweté, Yanomami, Yawalapiti e Kulina, entre meados dos anos 1970 e início dos 1990. Parte dessas fotos será exibida pela primeira vez na exposição “Variações do corpo selvagem”, no Sesc Ipiranga, em São Paulo, a partir do dia 29 de agosto. Com curadoria da escritora e crítica de arte Veronica Stigger e do poeta e crítico literário Eduardo Sterzi, a mostra reúne ainda fotos feitas pelo antropólogo nos anos 1970, quando trabalhava com o cineasta Ivan Cardoso, mestre do gênero “terrir” e diretor de filmes como “O segredo da múmia” (1982) e “As sete vampiras” (1986).

Em entrevista por e-mail, Viveiros de Castro, de 64 anos, fala sobre o livro e a exposição e discute outros temas de sua obra e sua atuação pública, como a crise climática, abordada em “Há mundo por vir?” (Cultura e Barbárie, 2014), que escreveu com a filósofa Déborah Danowski, com quem é casado. Fala também sobre a resistência dos índios contra o “dispositivo etnocida” armado contra eles no Brasil, que mira “suas terras, seu modo de vida, os fundamentos ecológicos e morais de sua economia e sua autonomia política interna”.

Numa nota em “Metafísicas canibais”, você comenta que, sempre que expôs a ouvintes ameríndios suas teses sobre o perspectivismo, eles perceberam as implicações que elas poderiam ter para “as relações de força em vigor entre as ‘culturas’ indígenas e as ‘ciências’ ocidentais que as circunscrevem e administram”. Quais seriam essas implicações? O que interlocutores ameríndios costumam lhe dizer sobre o perspectivismo?

“Sempre que” é um pouco exagerado; dá impressão que eu faço tours de seminários sobre o pensamento indígena para ouvintes indígenas… Eu tinha em mente, naquela nota, uma ocasião em particular. Em 2006, a convite do Instituto Socioambiental, fiz uma palestra para uma plateia de cientistas do INPA, em Manaus, sobre as cosmologias amazônicas e as concepções indígenas da natureza da natureza, por assim dizer. Ao entrar na sala, descobri, com não pouca ansiedade, que apenas metade da plateia era composta de cientistas (biólogos, botânicos, pedólogos etc.) — e que a outra metade da sala estava cheia de índios do Rio Negro. Falar do que pensam os índios diante de uma plateia de índios não é exatamente uma situação confortável. Decidi então apresentar uma versão esquemática do que eu sabia a respeito do modo como o que chamei de “perspectivismo ameríndio” se manifestava nas culturas rionegrinas (povos Tukano e Aruaque, principalmente). No meio da palestra fui percebendo os cientistas cada vez menos interessados naquilo, e os índios cada vez mais agitados. Na hora das perguntas, nenhum cientista falou nada. Os índios, com sua cortesia habitual, esperaram os brancos presentes pararem de não dizer nada até que eles começassem a falar. Uma senhora então se levantou e, dirigindo-se à metade branca e científica da plateia, disse: “vocês precisam prestar atenção ao que o professor aí está dizendo. Ele está dizendo o que a gente sempre disse: que vocês não veem as coisas direito; que, por exemplo, os peixes, quando fazem a piracema (a desova) estão na verdade, lá no fundo do rio, transformados em gente como nós, fazendo um grande dabucuri (cerimônia indígena típica da região)”. E outro índio perguntou: “aquilo que o professor disse, sobre os morros da região serem habitados por espíritos protetores da caça, é verdade. Mas isso quer dizer então que destruir esses morros com garimpo e mineração é perigoso, não é mesmo? E não quereria dizer também que índio não pode ser capitalista?” Percebi, naquele confronto entre cientistas que estudam a Amazônia e os índios que vivem lá, que os primeiros estão interessados apenas no saber indígena que interessa ao que eles, cientistas, já sabem, isto é, àquilo que se encaixa na moldura do conhecimento científico normalizado. Os índios são “úteis” aos cientistas na medida em que podem servir de informantes sobre novas espécies, novas associações ecológicas etc. Mas a estrutura metafísica que sustenta esse conhecimento indígena não lhes dizia absolutamente nada, ou era apenas um ornamento pitoresco para os fenômenos reais. E os índios, ao contrário, se interessaram precisamente pelo interesse de um branco (eu) sobre isso. O que me deu muita coisa a pensar.

Mais geralmente, porém, tenho tido notícia da difusão lenta e episódica, mas real, de meus escritos (e os de meus colegas) sobre isso que chamei de “perspectivismo” junto a pensadores indígenas, ou muito próximos politicamente a eles, em outros países da América Latina (o livro foi traduzido para o espanhol, assim como diversos artigos de mesmo teor). Isso me alegra e, por que não dizer, envaidece muito. Mil vezes poder servir, com esses meus escritos aparentemente tão abstratos, à luta indígena pela autonomia política e filosófica que ser lido e comentado nos círculos acadêmicos — o que também não faz mal nenhum, bem entendido.

Eduardo Viveiros de Castro na Flip 2014 – Arquivo/André Teixeira/2-8-2014

No livro, você pergunta: “O que acontece quando se leva o pensamento nativo a sério?”. E continua: “Levar a sério é, para começar, não neutralizar”. Partindo destes termos, quais são as maiores ameaças de “neutralização” do pensamento indígena no Brasil hoje?

‘O que se pretende é transformar o índio em pobre, tirando dele o que tem — suas terras, seu modo de vida, os fundamentos ecológicos e morais de sua economia, sua autonomia política interna — para obrigá-lo a desejar consumir o que não tem.’

– EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO, Antropólogo

Neutralizar este pensamento significa reduzi-lo ao efeito de um complexo de causas ou condições cuja posse conceitual não lhes pertence. Significa, como escrevi no livro, pôr entre parênteses a questão de saber se e como tal pensamento ilustra universais cognitivos da espécie humana, explica-se por certos modos de transmissão socialmente determinada do conhecimento, exprime uma visão de mundo culturalmente particular, valida funcionalmente a distribuição do poder político, e outras tantas formas de neutralização do pensamento alheio. Trata-se de suspender tais explicações-padrão, típicas das ciências humanas, ou, pelo menos, evitar encerrar a antropologia nela. Trata-se de decidir, em suma, pensar o outro pensamento como uma atualização de virtualidades insuspeitas do pensamento em geral, o “nosso” inclusive. Tratá-lo como tratamos qualquer sistema intelectual ocidental: como algo que diz algo que deve ser tratado em seus próprios termos, se quisermos respeitá-lo e incorporá-lo como uma contribuição singular e valiosa à nossa própria e orgulhosa tradição intelectual. Só depois disso poderemos, se tal for nossa veleidade, anatomizá-lo e dissecá-lo segundo os instrumentos usuais da redução científica das práticas de sentido humano.

Mas sua pergunta acrescentava “no Brasil hoje”. No Brasil hoje o que se vê é muito mais que uma “neutralização do pensamento nativo”. O que se vê é uma ofensiva feroz para acabar com os nativos, para varrer suas formas de vida (e portanto de pensamento) da face do território nacional. O que se pretende hoje — o que sempre se pretendeu, mas hoje os métodos são ao mesmo tempo cada vez mais sutis e eficazes sem deixarem de ser brutais como sempre foram — é silenciar os índios, desindianizar todo pensamento nativo, de modo a transformar aquela caboclada atrasada toda que continua a “rexistir” (este é o modo de existência dos índios no Brasil hoje: a “rexistência”) em pobre, isto é, em “bom brasileiro”, mal assistencializado, mal alfabetizado, convertido ao cristianismo evangélico por um exército de missionários fanáticos, transformado em consumidor dócil do estoque infinito de porcarias produzidas pela economia mundial. Em suma: fazer do índio (os que não tiverem sido exterminados antes) um “cidadão”. Cidadão pobre, é claro. Índio rico seria uma ofensa praticamente teológica, uma heresia, à ideologia nacional. Para fazê-lo passar de índio a pobre, é preciso primeiro tirar dele o que ele tem — suas terras, seu modo de vida, os fundamentos ecológicos e morais de sua economia, sua autonomia política interna —‚ para obrigá-lo a desejar consumir o que ele não tem — o que é produzido na terra dos outros (no país do agronegócio, por exemplo, ou nas fábricas chinesas).

Como avalia o estado atual das mobilizações indígenas contra intervenções do Estado em seus modos de vida, como na região do Xingu, com a construção da usina de Belo Monte?

Os índios fazem o que podem. Estão lutando contra uma máquina tecnológica, econômica, politica e militar infinitamente mais poderosa do que eles. No caso de Belo Monte, já perderam. Mas não sem dar um bocado de trabalho ao “programa” que esse governo, cujo ódio estúpido aos índios só é comparável ao que se via nos sombrios tempos da ditadura, vai implantando a ferro e a fogo na Amazônia inteira, inclusive fora do Brasil. Mas a luta continua, e ainda tem muito índio disposto a resistir (a “rexistir”) ao dispositivo etnocida armado contra eles, no Mato Grosso do Sul, no Tapajós, no Xingu, no Rio Negro e por aí afora.

Você tem trabalhado com o conceito de Antropoceno (que já definiu como o momento em que “o capitalismo passa a ser um episódio da paleontologia”) para alertar sobre os efeitos destrutivos da ação humana sobre o planeta. O que precisa mudar no debate público sobre a crise climática?

Muito. Isso tudo vai descrito no livro que coautorei com a filósofa Déborah Danowski, “Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins”, onde comparamos, de um lado, os efeitos já instalados e aqueles por vir da catástrofe ecológica desencadeada pela economia movida a combustíveis fósseis, e tudo o que vem com ela (inclusive o capitalismo financeiro e cognitivo), com os modos com que esse tema arquimilenar, o “fim do mundo”, vem sendo tematizado pela imaginação estética, política e mitológica de nossa própria civilização moderna, de outro lado. E por fim, tecemos considerações sobre como a “mudança de Era” (como dizem os camponeses nordestinos para se referir aos efeitos já palpáveis das mudanças climáticas) por que passamos hoje é pensada pelos índios, em suas mitologias e em sua prática ecopolítica concreta. Penso que as ciências humanas têm sido lentas em assumir que esta questão, que a palavra “Antropoceno” resume, é a questão mais grave e urgente da história humana desde o começo da era Neolítica, e que estamos entrando em uma situação inédita para a espécie como um todo. O debate na esfera pública tem sido laboriosamente mitigado, quando não silenciado, por uma poderosíssima máquina de propaganda financiada pelos principais interessados no status quo, a saber, as grandes corporações petroleiras e outras, como a Monsanto, a Nestlé, a Bunge, a Dow, a Vale, a Rio Tinto etc. Sem falarmos nos governos nacionais, meros instrumentos de polícia desses atores econômicos. Mas as coisas começam a mudar, devagar, mas mudando. Infelizmente, “devagar” é péssimo. Porque a aceleração dos processos de desequilíbrio termodinâmico do planeta marcha em ritmo crescente. O tempo e o espaço entraram em crise, escapam-nos por todos os lados. Hoje a luta política fundamental, a ser levada a nível mundial, é a luta pela liberação do espaço e do tempo.

Você afirma que o perspectivismo não é uma forma de relativismo cultural e, ao conceito corrente de “multiculturalismo”, contrapõe a noção de “multinaturalismo”. Quais são os problemas do relativismo cultural e como o multinaturalismo os evita?

‘O problema que se coloca não é o da “tolerância” (só os donos do poder são “tolerantes”), mas o da diplomacia’

– EDUARDO VIVEIROS DE CASTROAntropólogo

O relativismo cultural é, ao menos como costumeiramente divulgado pela vulgata ideológica dominante, meramente a ideia de que existem várias opiniões sobre o mundo, o universo ou a “realidade”, mas que esta “coisa lá fora” (o mundo etc.) é uma só. Entre essas várias opiniões, há uma certa — a nossa, ou melhor, aquela que acreditamos ser a verdade cientifica (e 99,99% dos que acreditam nela não sabem em que estão acreditando). O resto é “cultura”, superstição, visões exóticas de gente que vive “fora da realidade”. Em relação a essa gente, podemos e até devemos mostrar um pouco de tolerância (afinal, são apenas opiniões, “visões de mundo”), devemos ser “multiculturalistas”. Mas a Natureza, com N maiúsculo, é uma só, e independe de nossas opiniões (exceto da minha, isto é, a da “Ciência” que nos serve de religião laica). O que chamei de “multinaturalismo” ou de “perspectivismo multinaturalista”, para caracterizar as metafísicas indígenas, supõe a indissociabilidade radical, ou pressuposição recíproca, entre “mundo” e “visão”. Não existem “visões de mundo” (muitas visões de um só mundo), mas mundos de visão, mundos compostos de uma multiplicidade de visões eles próprios, onde cada ser, cada elemento do mundo é uma visão no mundo, do mundo — é mundo. Para este tipo de ontologia, o problema que se coloca não é o da “tolerância” (só os donos do poder são “tolerantes”), mas o da diplomacia ou negociação intermundos.

Você defende uma concepção de antropologia como “descolonização permanente do pensamento”. Como ela pode fazer isso? Quais são os maiores impasses da disciplina hoje?

Vou responder rapidamente, ou os leitores não precisarão ler o livro… Trata-se de tomar o discurso dos povos que estudamos (os “nativos”, sejam quem forem) como interlocutores horizontalmente situados em relação ao discurso dos “observadores” (os “antropólogos”). O que a antropologia estuda são sempre outras antropologias, as antropologias dos outros, que articulam conceitos radicalmente diversos dos nossos sobre o que é o anthropos, o “humano”, e sobre o que é o logos (o conhecimento). Descolonizar o pensamento é explodir a distinção entre sujeito e objeto de conhecimento, e aceitar que só existe entreconhecimento, conhecimento comparativo, e que a antropologia como “estudo do outro” é sempre uma tradução (e uma tradução sempre equívoca) para nosso vocabulário conceitual do estudo do outro. O maior desafio vivido hoje pela antropologia é o de aceitar isso e tirar daí todas as consequências, inclusive as consequências políticas.

As fotografias reunidas em “Variações do corpo selvagem” remetem ao seu trabalho de campo com os Araweté, Yanomami, Yawalapiti e Kulina. Quais foram suas maiores descobertas nos encontros com esses povos?

Tudo o que eu escrevi sobre eles.

Kuyawmá se pintando com tabatinga para o javari. Aldeia Wauja, Alto Xingu, 1977.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Mapukayaka pinta Sapaim que pinta Ayupu. Aldeia Yawalapíti, Alto Xingu, 1977.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Combatente yawalapíti pinta-se para ritual do Javari, Alto Xingu, 1977.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Os Araweté assistindo a fime sobre eles, no Xingu, em 1992Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Índio com filmadora do antropólogo em aldeia yawalapíti no Alto Xingu, em 1976.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Yuruawï-do no jirau da casa de farinha. Aldeia do médio Ipixuna, 1982.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Foto inédita do filme O Segredo da Múmia, de Ivan Cardoso. Floresta da Tijuca, 1981.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Anselmo Vasconcelos, Ivan Cardoso, Oscar Ramos e a múmia, em O Segredo da Múmia, de Ivan Cardoso,…Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Hélio Oiticica como adepto de Dionísio. Filmagem de O Segredo da MúmiaFoto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

Wilson Grey e Felipe Falcão em O Segredo da Múmia, de Ivan Cardoso, 1981.Foto: Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro

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Tres imágenes que ilustran la tensión en Brasil antes del Mundial (BBC Mundo)

Gerardo Lissardy

BBC Mundo, Brasil

30 Mayo 2014

Maracaná

Las imágenes de esta semana difieren radicalmente del mensaje oficial respecto del Mundial.

Tres imágenes de Brasil esta semana parecieron convertir en un abismo la distancia que separa la realidad de algunos mensajes oficiales sobre el Mundial que comienza en 13 días.

Una de ellas mostró a un grupo de profesores en huelga rodeando el autobús de la selección brasileña en Río de Janeiro el lunes, reclamando por los costos astronómicos de la Copa. Otra imagen salió de Brasilia cuando policías a caballo lanzaron gas lacrimógeno a activistas anti-Mundial e indígenas con arcos y flechas cerca del moderno estadio mundialista.

La tercera apareció en las redes sociales: un texto compartido por la directora ejecutiva del Comité Organizador Local (COL) de la Copa diciendo que “lo que había de ser gastado, robado, ya fue”.

¿Qué dicen estas imágenes acerca del Mundial que llega a Brasil?

1. Falla de seguridad

Profesores en huelga protestan frente al bus de la selección de Brasil

El cerco de manifestantes al bus de la selección brasileña fue considerado una falla de seguridad

De pronto, decenas de manifestantes rodearon el vehículo, lo tapizaron de adhesivos con reclamos gremiales y algunos llegaron a golpearlo. La situación demoró varios minutos el avance del bus.

La protesta buscó mostrar “el tamaño de la crisis que existe en Brasil en relación a la educación”, declaró allí Vera Nepomuceno, miembro del sindicato de profesores de Río. Uno de los gritos de los manifestantes decía que “un educador vale más que Neymar”.

Pero la escena también expuso fallas en el operativo de seguridad montado para proteger a las estrellas verde-amarelas, que fue fácilmente vulnerado por los docentes.

“El sistema de seguridad no esperaba semejante osadía por parte de los manifestantes”, dijo Paulo Storani, experto en seguridad pública y exdirector del Batallón de Operaciones Especiales (BOPE) de Río, a BBC Mundo.

Este hecho llevó al gobierno de Dilma Rousseff a pedir al Ejército que asuma la seguridad de aeropuertos, hoteles y calles donde pasarán las 32 selecciones del Mundial, informó el jueves el diario O Globo.

Los ministros de Rousseff insisten en que los extranjeros que vengan a la Copa estarán seguros.

Pero Storiani sostuvo que la imagen de esta semana fue preocupante. “Si hubiera alguna manifestación que pueda llegar a algo próximo o peor de lo que ocurrió el lunes, hay posibilidades de crear una crisis en la Copa, porque es lógico que cualquier delegación extranjera va a exigir un mínimo de seguridad”, indicó.

2. Gases, arcos y flechas

Indígena apunta su arco y flecha en una protesta en Brasilia

Una imagen impensable a días del Mundial en Brasil

Cuando Brasil fue elegido en 2007 como sede del Mundial de este año, sus autoridades esperaban que el evento proyectase al planeta la imagen de un país pujante y en desarrollo.

Pero la foto que salió el martes de Brasilia, con policías montados lanzando gases lacrimógenos a activistas anti-Copa e indígenas apuntando con arcos y flechas a los uniformados, muestra otra cosa.

Fue una de las tantas protestas de grupos sociales en Brasil por los US$11.000 millones que costó organizar el Mundial. Y los indígenas, que estaban en la capital para oponerse a un proyecto que cambia las reglas de demarcación de sus tierras, se unieron en el momento a la marcha.

La confrontación ocurrió cuando más de 1.000 manifestantes intentaron acercarse al Estadio Nacional de Brasilia y la policía lo impidió con gases lacrimógenos.

En medio de la confusión, algunos indígenas llegaron a lanzar flechas, una de las cuales hirió levemente a un policía.

Los incidentes obligaron a cancelar la exhibición de la Copa del Mundo en el estadio, el cual tendrá un costo cercano a US$850 millones, cerca del triple de lo proyectado inicialmente.

“Brasil fue muy ingenuo con el Mundial: se creía que sólo iba a ganar”, dijo Renzo Taddei, un antropólogo de la Universidad Federal de São Paulo especializado en conflictos sociales.

Pero agregó que imágenes como las del martes en Brasilia muestran otra cosa y, respecto a los indígenas, exponen un viejo conflicto acerca de sus derechos “que nunca se resolvió”.

3. Copa y corrupción

El mensaje en Instagram

Este mensaje en Instagram desató un debate.

Esta imagen de un texto contra las protestas en el Mundial apareció en la red social Instagram y rápidamente se volvió viral y polémica.

Quien la publicó en su cuenta personal el martes fue Joana Havelange, directora ejecutiva del COL del Mundial, nieta del expresidente de la FIFA Joao Havelange e hija del expresidente de la Confederación Brasileña de Fútbol (CBF), Ricardo Teixeira.

“Lo que había de ser gastado, robado, ya fue. Si era para protestar, tenía que haberse hecho antes”, se lee en un pasaje del texto.

La controversia por la referencia a robos llevó a un diputado estatal de Río, Marcelo Freixo, a solicitar al Ministerio Público que exija explicaciones a Havelange.

El COL indicó luego que la autoría de la carta no habría sido de su directora y ésta negó vía internet que haya prestado atención a la frase sobre los robos, que negó compartir y retiró del texto.

Pero la imagen del texto inicial rozó un nervio sensible en un país donde muchos creen que el Mundial fue aprovechado por corruptos y descreen del discurso oficial sobre el “legado” del evento.

“Cualquiera que haya acompañado la Copa sabe que la probabilidad de tener mucho robo de recursos públicos en esas obras de infraestructura y demás es muy alta”, dijo Claudio Abramo, director ejecutivo de Transparencia Brasil.

Abramo señaló que el COL no manejó dinero público para el Mundial, pero dijo que “por la posición que ocupa tal vez (Havelange) sepa cosas que sería bueno que explicase”.

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On View | An Artistic Celebration of the Beauty, Spectacle and Masculinity of Soccer (New York Times)

By BROOKE HODGE

JANUARY 30, 2014, 2:41 PM

“Verona #2,” by Lyle Ashton Harris, 2001-2004. Courtesy of the Robert E. Holmes Collection

“Pieta,” by Generic Art Solutions, 2008. Courtesy of the Jonathan Ferrara Gallery, New Orleans

“Sir Bobby,” by Chris Beas, 2007. Courtesy of the Martha Otero Gallery

“Hondjie,” by Robin Rhode, 2001.

“VOLTA,” by Stephen Dean, 2002-2003. Courtesy of Baldwin Gallery, Aspen

“Samuel Eto’o,” by Kehinde WIley, 2010. Courtesy of Roberts & Tilton, Culver City, Calif.

This Sunday might be the big game, but the Los Angeles County Museum of Art(LACMA) hasn’t forgotten about the other football — or soccer, as we refer to it in the United States. Opening the day of the Super Bowl, “Fútbol: The Beautiful Game” examines the sport through works of art ranging from video and photography to painting, sculpture and large-scale installation.

Timed in anticipation of this summer’s World Cup in Brazil, an event as beloved throughout the world as the Super Bowl is in America, the exhibition addresses issues of nationalism, identity, masculinity, hero worship and mass spectacle. “Zidane: A 21st-Century Portrait,” a room-size video installation by the artists Philippe Parreno and Douglas Gordon, is an intimate look at one of the greatest soccer players in history and celebrates the sheer beauty and elegance of the sport. Set to samba music, Stephen Dean’s video “Volta” directs its gaze at the audience, focusing on the pandemonium and organized ritual of the stadium crowds.

Not surprisingly, the curator, Franklin Sirmans, is passionate about the sport. “Growing up in New York in the ’70s, I was a big fan of the Cosmos,” he says. “I’ve played soccer since I was a kid and am always thinking about it. A show on soccer is a perfect platform to introduce complex ideas through a subject that is accessible to all viewers. I’m always looking for ways to introduce ideas of wider cultural significance like sport, spirituality and music into the museum.”

During the show, three of the video works in the exhibition will appear simultaneously on screens in the museum’s Stark Bar, where, beginning June 12, visitors will be able to kick back with a caipirinha and watch the World Cup.

“Fútbol: The Beautiful Game” is on view at LACMA through July 20, 2014; lacma.org.