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‘Relatório sobre 1,5ºC trará dilema moral’ (Observatório do Clima)

Vice-presidente do IPCC afirma que próximo documento do grupo, em 2018, pode apresentar a escolha entre salvar países-ilhas e usar tecnologias incipientes de modificação climática

O próximo relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, encomendado para 2018, pode apresentar à humanidade um dilema moral: devemos lançar mão em larga escala de tecnologias ainda não testadas e potencialmente perigosas de modificação do clima para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5oC? Ou devemos ser prudentes e evitar essas tecnologias, colocando em risco a existência de pequenas nações insulares ameaçadas pelo aumento do nível do mar?

Quem expõe a dúvida é Thelma Krug, 65, diretora de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e vice-presidente do painel do clima da ONU. Ela coordenou o comitê científico que definiu o escopo do relatório e produziu, no último dia 20, a estrutura de seus capítulos. A brasileira deverá ter papel-chave também na redação do relatório, cujos autores serão escolhidos a partir de novembro.

O documento em preparação é um dos relatórios mais aguardados da história do IPCC. É também único pelo fato de ser feito sob encomenda: a Convenção do Clima, na decisão do Acordo de Paris, em 2015, convidou o painel a produzir um relatório sobre impactos e trajetórias de emissão para limitar o aquecimento a 1,5oC, como forma de embasar cientificamente o objetivo mais ambicioso do acordo. A data de entrega do produto, 2018, coincidirá com a primeira reunião global para avaliar a ambição coletiva das medidas tomadas contra o aquecimento global após a assinatura do tratado.

Segundo Krug, uma das principais mensagens do relatório deverá ser a necessidade da adoção das chamadas emissões negativas, tecnologias que retirem gases-estufa da atmosfera, como o sequestro de carbono em usinas de bioenergia. O problema é que a maior parte dessas tecnologias ou não existe ainda ou nunca foi testada em grande escala. Algumas delas podem envolver modificação climática, a chamada geoengenharia, cujos efeitos colaterais – ainda especulativos, como as próprias tecnologias – podem ser quase tão ruins quanto o mal que elas se propõem a curar.

Outro risco, apontado pelo climatólogo britânico Kevin Anderson em comentário recente na revista Science, é essas tecnologias virarem uma espécie de desculpa para a humanidade não fazer o que realmente precisa para mitigar a mudança climática: parar de usar combustíveis fósseis e desmatar florestas.

“Ficamos numa situação muito desconfortável com várias tecnologias e metodologias que estão sendo propostas para emissões negativas”, disse Krug. “Agora, numa situação em que você não tem uma solução a não ser esta, aí vai ser uma decisão moral. Porque aí você vai ter dilema com as pequenas ilhas, você vai ter um problema de sobrevivência de alguns países.”

Ela disse esperar, por outro lado, que o relatório mostre que existem tecnologias maduras o suficiente para serem adotadas sem a necessidade de recorrer a esquemas mirabolantes.

“Acho que há espaço para começarmos a pensar em alternativas”, afirmou, lembrando que, quanto mais carbono cortarmos rápido, menos teremos necessidade dessas novas tecnologias.

Em entrevista ao OC, concedida dois dias depois de voltar do encontro do IPCC na Tailândia e minutos antes de embarcar para outra reunião, na Noruega, Thelma Krug falou sobre suas expectativas para o relatório e sobre os bastidores da negociação para fechar seu escopo – que opôs, para surpresa de ninguém, as nações insulares e a petroleira Arábia Saudita.

A sra. coordenou o comitê científico que definiu o índice temas que serão tratados no relatório do IPCC sobre os impactos de um aquecimento de 1,5oC. A entrega dessa coordenação a uma cientista de um País em desenvolvimento foi deliberada?

O IPCC decidiu fazer três relatórios especiais neste ciclo: um sobre 1,5oC, um sobre oceanos e um sobre terra. O presidente do IPCC [o coreano Hoesung Lee] achou por bem que se formasse um comitê científico e cada um dos vice-presidentes seria responsável por um relatório especial. Então ele me designou para o de 1,5oC, designou a Ko Barrett [EUA] para o de oceanos e o Youba [Sokona, Mali] para o de terra. O comitê foi formado para planejar o escopo: número de páginas, título, sugestões para cada capítulo. E morreu ali. Por causa da natureza do relatório, que será feito no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, houve também a participação de duas pessoas da área de ciências sociais, de fora do IPCC. Agora, no começo de novembro, sai uma chamada para nomeações. Serão escolhidos autores principais, coordenadores de capítulos e revisores.

Quantas pessoas deverão produzir o relatório?

No máximo cem. Considerando que vai ter gente do birô também. Todo o birô do IPCC acaba envolvido, são 30 e poucas pessoas, que acabam aumentando o rol de participantes.

A sra. vai participar?

Participarei, e participarei bastante. Os EUA fizeram um pedido para que o presidente do comitê científico tivesse um papel de liderança no relatório. Isso porque, para esse relatório, eu sinto algo que eu não sentia tanto para os outros: se não fosse eu acho que seria difícil. Porque teve muita conversa política.

Quando um país levanta uma preocupação, eu tenho de entender mais a fundo onde a gente vai ter que ter flexibilidade para construir uma solução. Eu acho que foi muito positivo o fato de o pessoal me conhecer há muitos anos e de eu ter a liberdade de conversar com uma Arábia Saudita com muita tranquilidade, de chegar para as pequenas ilhas e conversar com muita tranquilidade e tentar resolver as preocupações.

Por exemplo, quando as pequenas ilhas entraram com a palavra loss and damage [perdas e danos], para os EUA isso tem uma conotação muito política, e inaceitável para eles no contexto científico. No fórum científico, tivemos de encontrar uma forma que deixasse as pequenas ilhas confortáveis sem mencionar a expressão loss and damage, mas captando com bastante propriedade aquilo que eles queriam dizer com isso. Acabou sendo uma negociação com os autores, com os cientistas e com o pessoal do birô do painel para chegar numa acomodação que deixasse a todos satisfeitos.

E qual era a preocupação dos sauditas?

Na reunião anterior, que definiu o escopo do trabalho, a gente saiu com seis capítulos bem equilibrados entre a parte de ciências naturais e a parte de ciência social. Por exemplo, essa parte de desenvolvimento sustentável, de erradicação da pobreza, o fortalecimento do esforço global para tratar mudança do clima. E os árabes não queriam perder esse equilíbrio. E as pequenas ilhas diziam que o convite da Convenção foi para fazer um relatório sobre impactos e trajetórias de emissões.

Mas as ilhas estavam certas, né?

De certa maneira, sim. O que não foi certo foi as ilhas terem aceitado na reunião de escopo que o convite fosse aceito pelo IPCC “no contexto de fortalecer o esforço global contra a ameaça da mudança climática, do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”.

Eles abriram o escopo.

A culpa não foi de ninguém, eles abriram. A partir do instante em que eles abriram você não segura mais. Mas isso requereu também um jogo de cintura para tirar um pouco do peso do desenvolvimento sustentável e fortalecer o peso relativo dos capítulos de impactos e trajetórias de emissões.

Essa abertura do escopo enfraquece o relatório?

Não. Porque esse relatório vai ter 200 e poucas páginas, e cem delas são de impactos e trajetórias. Alguns países achavam que já havia muito desenvolvimento sustentável permeando os capítulos anteriores, então por que você ia ter um capítulo só para falar de desenvolvimento sustentável? Esse capítulo saiu de 40 páginas para 20 para justamente fortalecer a contribuição relativa de impactos e trajetórias do relatório. E foi uma briga, porque as pequenas ilhas queriam mais um capítulo de impactos e trajetórias. Esse relatório é mais para eles. Acima de qualquer coisa, os mais interessados nesse relatório são as pequenas ilhas.

Um dos desafios do IPCC com esse relatório é justamente encontrar literatura sobre 1,5oC, porque ela é pouca. Em parte porque 1,5oC era algo que as pessoas não imaginavam que seria possível atingir, certo?

Exato.

Porque o sistema climático tem uma inércia grande e as emissões do passado praticamente nos condenam a 1,5oC. Então qual é o ponto de um relatório sobre 1,5oC?

O ponto são as emissões negativas. O capítulo 4 do relatório dirá o que e como fazer. Faremos um levantamento das tecnologias existentes e emergentes e a agilidade com que essas tecnologias são desenvolvidas para estarem compatíveis em segurar o aumento da temperatura em 1.5oC. Vamos fazer uma revisão na literatura, mas eu não consigo te antecipar qualquer coisa com relação à forma como vamos conseguir ou não chegar a essas emissões negativas. Mas é necessário: sem elas eu acho que não dá mesmo.

A sra. acha, então, que as emissões negativas podem ser uma das grandes mensagens desse novo relatório…

Isso já ocorreu no AR5 [Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, publicado em 2013 e 2014]. Porque não tinha jeito, porque você vai ter uma emissão residual. Só que no AR5 não tínhamos muita literatura disponível.

Quando se vai falar também da velocidade com a qual você consegue implementar essas coisas… o relatório também toca isso aí no contexto atual. Mas, no sufoco, essas coisas passam a ter outra velocidade, concorda? Se você demonstrar que a coisa está ficando feia, e está, eu acho que isso sinaliza para o mundo a necessidade de ter uma agilização maior no desenvolvimento e na implementação em larga escala de tecnologias que vão realmente levar a emissões negativas no final deste século.

Nós temos esse tempo todo?

Para 1,5oC é bem complicado. Em curto prazo, curtíssimo prazo, você precisa segurar as emissões, e aí internalizar o que você vai ter de emissões comprometidas. De tal forma que essas emissões comprometidas estariam sendo compensadas pelas tecnologias de emissões negativas. Esse é muito o meu pensamento. Vamos ver como isso acabará sendo refletido no relatório em si.

Haverá cenários específicos para 1,5oC rodados pelos modelos climáticos?

Tem alguma coisa nova, mas não tem muita coisa. Eles devem usar muita coisa que foi da base do AR5, até porque tem de ter comparação com 2oC. A não ser que rodem de novo para o 2oC. Precisamos entender o que existe de modelagem nova e, se existe, se ela está num nível de amadurecimento que permita que a gente singularize esses modelos para tratar essa questão nesse novo relatório.

Há cerca de 500 cenários para 2oC no AR5, e desses 450 envolvem emissões negativas em larga escala.

Para 1,5oC isso vai aumentar. Para 1,5oC vai ter de acelerar a redução de emissões e ao mesmo tempo aumentar a introdução de emissões negativas nesses modelos.

Há alguns dias o climatologista Kevin Anderson, diretor-adjunto do Tyndall Centre, no Reino Unido, publicou um comentário na revista Science dizendo que as emissões negativas eram um “risco moral por excelência”, por envolver competição por uso da terra, tecnologias não testadas e que vão ter de ser escaladas muito rápido. A sra. concorda?

Eu acho que essa questão de geoengenharia é uma das coisas que vão compor essa parte das emissões negativas. E aí talvez ele tenha razão: o mundo fica assustado com as coisas que vêm sendo propostas. Porque são coisas loucas, sem o amadurecimento necessário e sem a maneira adequada de se comunicar com o público. Mas vejo também que haverá tempo para um maior amadurecimento disso.

Mas concordo plenamente que ficamos numa situação muito desconfortável com várias tecnologias e metodologias que estão sendo propostas para emissões negativas. Mas esse é meu ponto de vista. Agora, numa situação em que você não tem uma solução a não ser esta, aí vai ser uma decisão moral. Porque aí você vai ter dilema com as pequenas ilhas, você vai ter um problema de sobrevivência de alguns países.

Deixe-me ver se entendi o seu ponto: a sra. acha que há um risco de essas tecnologias precisarem ser adotadas e escaladas sem todos os testes que demandariam num cenário ideal?

Fica difícil eu dizer a escala disso. Sem a gente saber o esforço que vai ser possível fazer para cortar emissões em vez de ficar pensando em compensar muito fortemente o residual, fica difícil dizer. Pode ser que já haja alguma tecnologia amadurecida antes de começar a pensar no que não está amadurecido. Acho que há espaço para começarmos a pensar em alternativas.

Agora, entre você falar: “Não vou chegar a 1,5oC porque isso vai exigir implementar tecnologias complicadas e que não estão amadurecidas” e isso ter uma implicação na vida das pequenas ilhas… isso também é uma preocupação moral. É um dilema. Eu tenho muita sensibilidade com a questão de geoengenharia hoje. E não sou só eu. O IPCC tem preocupação até em tratar esse tema. Mas é a questão do dilema. O que eu espero que o relatório faça é indicar o que precisa ser feito. Na medida em que você vai fazendo maiores reduções, você vai diminuindo a necessidade de emissões negativas. É essa análise de sensibilidade que os modelos vão fazer.

Observatório do Clima

Elevação do nível do mar traga várias ilhas do Pacífico (El País)

Mudanças climáticas estão elevando as águas pelo menos desde meados do século XX

MIGUEL ÁNGEL CRIADO

15 MAI 2016 – 00:19 CEST

Desaparecem ilhas do Pacífico:. A imagem aérea mostra a ilha de Nuatambu partida em duas pelas águas. SIMON ALBERT / EL PAÍS VÍDEO

Desta vez não se trata de previsões ameaçadoras para um futuro distante: um grupo de pesquisadores comprovou como em apenas poucas décadas várias ilhas do oceano Pacífico desapareceram sob o mar. Seu estudo conecta as mudanças climáticas mundiais com a elevação do nível do mar em escala local. Uma conexão que tragará muitas outras ilhas e zonas costeiras nas próximas décadas.

Usando imagens aéreas e por satélites obtidas desde 1947, cientistas australianos têm acompanhado a elevação do nível das águas que rodeiam as ilhas Salomão, no meio do Pacífico ocidental. O arquipélago, formado por cerca de 1.000 ilhas que, juntas, mal superam os 28.000 quilômetros quadrados de extensão, é o lar de mais de meio milhão de pessoas. De origem vulcânica, muitas são pequenos pedaços de terra de poucos hectares, quase ao nível do mar. Por isso são um laboratório onde testar os efeitos das mudanças climáticas nas zonas costeiras.

Os registros dendrocronológicos obtidos dos troncos das árvores mostram que o nível do mar se manteve estável nos últimos séculos, somente sujeito a variações temporais pelo impacto de fenômenos climáticos como El Niño. No entanto, esse equilíbrio foi para o espaço nas últimas décadas. Desde meados do século passado o oceano subiu 3 milímetros por ano, uma cifra que se elevou até os 7 milímetros anuais desde 1994.

Cinco pequenas ilhas das Salomão desapareceram e outras seis perderam a maior parte da terra

Com esses dados, os pesquisadores puderam comprovar com imagens o desaparecimento de cinco ilhas. Apesar de que a maior tinha apenas cinco hectares, trata-se de ilhotas com vegetação, vida silvestre e, pelo menos em dois casos, habitadas. Em algumas ainda é possível ver árvores que se afogam com as raízes sob o mar.

O estudo, publicado na Environmental Research Letters, também mostra que outras seis ilhas perderam até 62% de sua terra. Além disso, o ritmo do avanço do mar está ficando mais acelerado. As imagens tomadas do céu demonstram que até os anos 60 as águas arrebataram apenas 0,1% por unidade de área. A porcentagem se elevou até 0,5% anual até 2002 e, a partir daí, explodiu até 1,9%.

“A elevação do nível do mar nas Ilhas Salomão nos últimos 20 anos foi três vezes maior que a média mundial”, diz em uma mensagem o pesquisador da Universidade de Queensland (Austrália), Simon Albert. Embora possa parecer que o nível do mar tenda a ser igual em todo o planeta, há fatores locais que o elevam ou baixam.

No caso das Salomão, “em parte isso se deve ao aumento do nível do mar e, em parte, ao ciclo natural dos ventos alísios que movem a água no Pacífico ocidental”, esclarece o cientista australiano. “Mas, independentemente da combinação de causas, esses resultados nos apresentam uma visão dos impactos da elevação do nível do mar na segunda metade deste século, quando o restante do planeta sofrer um ritmo semelhante ao que experimentaram as Ilhas Salomão nestes 20 anos”, acrescenta Albert.

Comunidades de pescadores tiveram de mudar-se morro acima para distanciar suas casas do mar

O drama está transcorrendo quase ao vivo. Na ilha de Nuatambu, por exemplo, viviam 25 famílias. O mar lhes roubou a metade da terra e, na década atual, arrebatou 11 casas. Em várias ilhas as pessoas já tiveram de mudar-se para as zonas mais altas ou mudar de ilha. Algumas comunidades se fragmentaram, com alguns membros deslocados e outros ainda resistindo.

No artigo que os próprios pesquisadores escrevem em The Conversation está incluído o depoimento de Sirilo Sutaroti, o ancião-chefe que aos 94 anos rege o povo paurata, uma tribo de pescadores: “O mar começou a adentrar, o que nos obrigou a ir morro acima e reconstruir nosso povoado longe do mar”.

Aumento do nível do mar ameaça inundar estação da Nasa (O Globo)

05/04/2016, por O Globo

Lançamento de foguete em Cano Canaveral: centro tecnológico é vulnerável a aumento do nível do mar– John Raoux/AP/18-11-2013

RIO — Um dos maiores e mais sofisticados centros de tecnologia do mundo, a base de lançamento de foguetes da Nasa em Cabo Canaveral, na Flórida, corre risco de ser inundada. O aumento do nível do mar, em consequência das mudanças climáticas, ameaça a infraestrutura da agência espacial ao longo da costa de 115 km. Os riscos já levaram a agência espacial americana a estudar a remoção das instalações.

Em todo o país, cerca de dois terços das instalações da Nasa estão em regiões de altitude inferior a 4,8 metros, e a maior parte se localiza em zonas costeiras, onde as agitadas correntes oceânicas já contribuem para a erosão dos equipamentos.

— Estamos tremendamente ligados à água — alerta Kim Toufectis, estrategista da agência espacial americana.

De acordo com um estudo publicado semana passada na revista “Nature”, o aquecimento global pode aumentar o nível do mar entre 1,5 metro e 1,8 metro até o fim do século. Um grupo de trabalho da Nasa estima que o aumento do nível do mar de 12 centímetros para mais de 60 centímetros até 2050 pode levar a problemas em cinco estações costeiras da agência:

“Os centros da Nasa que já estão sob risco de inundação devem se tornar mais vulneráveis no futuro”, previa o grupo em um relatório em 2014.

Com a ameaça do clima, a Nasa tem como alternativa a instalação de barreiras e outras estruturas que contenham o aumento do nível do mar e os efeitos de tempestades e inundações. Em locais onde a adaptação não for possível, uma alternativa será o “recuo estratégico” — uma medida bem mais cara, na casa dos bilhões de dólares.

Além de exigir muito dinheiro, a remoção das instalações envolve a construção de edifícios, traslado de equipamentos e deslocamento de equipes, e por isso ainda deve demorar.

So far, most atolls winning the sea level rise battle (Pacific Institute of Public Policy)

So far, most atolls winning the sea level rise battle

An increasing number of atoll studies are not supporting claims of Pacific island leaders that “islands are sinking.” Scientific studies published this year show, for example, that land area in Tuvalu’s capital atoll of Funafuti grew seven percent over the past century despite significant sea level rise. Another study reported that 23 of 27 atoll islands across Kiribati, Tuvalu and the Federated States of Micronesia either increased in area or remained stable over recent decades.

Speaking about Kiribati, Canadian climatologist Simon Donner commented in the Scientific American: ‘Right now it is clear that no one needs to immediately wall in the islands or evacuate all the inhabitants. What the people of Kiribati and other low-lying countries need instead are well-thought-out, customized adaption plans and consistent international aid — not a breathless rush for a quick fix that makes the rest of the world feel good but obliges the island residents to play the part of helpless victim.’

These same climate scientists who are conducting ongoing research in Tuvalu, Kiribati and the Marshall Islands acknowledge the documented fact of sea level rise in the Pacific, and the potential threat this poses. But they are making the point, as articulated by Donner, that ‘the politicized public discourse on climate change is less nuanced than the science of reef islands.’

A recent report carried in Geology, the publication of the Geological Society of America, says Tuvalu has experienced ‘some of the highest rates of sea level rise over the past 60 years.’ At the same time, ‘no islands have been lost, the majority have enlarged, and there has been a 7.3 percent increase in net island area over the past century.’

To gain international attention to climate concerns and motivate funding to respond to what is described as climate damage, political leaders from the Pacific are predicting dire consequences.

The future viability of the Marshall Islands — and all island nations — is at stake,’ Marshall Islands Foreign Minister Tony deBrum told the global climate meeting in Peru last December.

‘It keeps me awake at night,’ said Tuvalu Prime Minister Enele Sopoaga in a recent interview. ‘Will we survive? Or will we disappear under the sea?’

Obviously, statements of island leaders at international meetings and the observations of recent scientific reports are at odds. Does it matter?

Comments Donner: ‘Exaggeration, whatever its impetus, inevitably invites backlash, which is bad because it can prevent the nation from getting the right kind of help.’

If we want to grab headlines, the ‘disappearing island’ theme is good. But to find solutions to, for example, the increasing number of ocean inundations that are occurring requires well-thought out plans.

Scientists studying these low-lying islands should be seen as allies, whose information can be used to focus attention on key areas of need. For example, the New Zealand and Australian scientists working in Tuvalu said their results “show that islands can persist on reefs under rates of sea level rise on the order of five millimeters per year.” With sea level rates projected to double in the coming years, ‘it is unclear whether islands will continue to maintain their dynamic adjustment at these higher rates of change,’ they said. ‘The challenge for low-lying atoll nations is to develop flexible adaptation strategies that recognize the likely persistence of islands over the next century, recognize the different modes of island change, and accommodate the ongoing dynamism of island margins.’

Developing precise information on atoll nations as these scientists are doing is needed to inform policy makers and local residents as people are inundated with discussion about — and, possibly, outside donor funding for — ‘adaptation’ and ‘mitigation’ in these islands.

In the 1990s and early 2000s, the Nuclear Claims Tribunal in the Marshall Islands hired internationally recognized scientists and medical doctors to advise it on such things as radiation exposure standards for nuclear test clean up programs and medical conditions deserving of compensation, while evaluating U.S. government scientific studies on the Marshall Islands. These scientists and doctors provided knowledge and advice that helped inform the compensation and claims process.

It seems this nuclear test-related model would be of significant benefit to islands in the region, by linking independent climate scientists with island governments so there is a connection between science and climate policies and actions of governments.

If we want to grab headlines, the ‘disappearing island’ theme is good. But to find solutions to, for example, the increasing number of ocean inundations that are occurring requires well-thought out plans.

‘The reality is that the next few decades for low-lying reef islands will be defined by an unsexy, expensive slog to adapt,’ wrote Donner in the Scientific American. ‘Success will not come from single land purchase or limited-term aid projects. It will come from years of trial and error and a long-term investment by the international community in implementing solutions tailored to specific locales.’ He comments that a World Bank-supported adaptation program in Kiribati took eight years of consultation, training, policy development and identifying priorities to finally produce a plan of action. And even then, when they rolled out sea walls for several locations, there were design faults that need to be fixed. Donner’s observation about Kiribati could equally apply to the rest of the Pacific: “Responding to climate change in a place like Kiribati requires a sustained commitment to building local scientific and engineering capacity and learning from mistakes.”

It is excellent advice.

Image: Low-lying islands, such as Majuro Atoll pictured here, are changing due to storms, erosion, high tides, seawalls and causeways, and sea level rise. But few are disappearing. Photo credit: Isaac Marty

Nível do mar avança e deve aumentar os custos no cais (A Tribuna)

Quinta-feira, 13 de Novembro de 2014 – 14h19

Leopoldo Figueiredo

O aumento do nível do mar previsto para as próximas décadas aumentará os custos do Porto de Santos, pontualmente seus gastos com dragagem e a manutenção de sua faixa de cais. Tais impactos reforçam a tese de que a expansão do complexo marítimo deve ocorrer fora da área do estuário, na região da costa, alternativa que já está em análise pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),a administradora do porto.

A análise foi apresentada pelo professor universitário e pesquisador Paolo Alfredini na manhã de quarta-feira (12), durante sua palestra Adaptação das operações náuticas portuárias às mudanças climáticas em curso, parte da programação da 6ª edição do Seminário e Workshop em Engenharia Oceânica (Semengo), realizada em Rio Grande (RS).

Organizado a cada dois anos pela Universidade Federal de Rio Grande (RS) e considerado um dos principais eventos do setor, o Semengo tem como tema desta edição Engenharia Costeira e Portuária. Para debater os avanços e desafios nessas duas áreas, participam pesquisadores, consultores e empresários de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e de países como Portugal e Canadá.

N/A

Gastos com dragagem e a manutenção da faixa de cais estão entre os investimentos previstos

SITUAÇÃO CRÍTICA

Doutor em Engenharia Civil e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Alfredini disse que o nível do mar na costa brasileira, inclusive na região de Santos, está aumentando. E a situação é ainda mais crítica. De acordo com o pesquisador, a taxa desse crescimento é cada vez maior.

Levantamento realizado por ele e pela professora Emília Arasaki aponta que o nível médio do mar subiu 25,4 centímetros por século no período de 1952 a 2007. Mas se forem analisados os 37 últimos anos (de 1970 a 2007),essa taxa sobe para 39,1 centímetros por século.

“Percebemos que o nível do mar já vinha aumentando, mas se nos concentrarmos nos últimos anos, esse aumento é ainda maior. Conforme os registros bibliográficos, a partir dos anos 70, essa velocidade tem aumentando no mundo todo”, afirmou o engenheiro.

Para as áreas urbanas da Baixada Santista, isso significa que cada vez mais, nas próximas décadas, o mar deve avançar sobre suas “terras baixas”, afetando áreas residenciais e ruas e avenidas próximas à costa (como no caso do bairro da Ponta da Praia).

No Porto de Santos, o aumento do nível do mar acaba por aumentar o transporte de sedimentos pelas correntes e pela costa, intensificando o assoreamento (a deposição de areia, entre outros materiais, em um leito, tornando-o mais raso) do estuário santista e da região da barra (onde os navios ficam fundeados, à espera de uma vaga ou do momento de atracar).

Para contrabalançar esse fenômeno e manter a profundidade, será necessário reforçar a dragagem na região, ou seja, um custo a mais para o complexo marítimo.

MANUTENÇÃO

Outro reflexo destacado por Alfredini é o maior gasto com as obras de manutenção da infraestrutura portuária, pontualmente com a faixa de cais. Isso ocorrerá pois um maior nível do mar amplia a altura das ondas e consequentemente sua energia – de acordo com o professor, a energia de uma onda é proporcional ao quadrado de sua altura. Nesse cenário, ondas mais altas vão se chocar com uma força ainda maior contra o cais, tendo mais chances de danificá-lo e reduzindo sua vida útil.

“E custo com manutenção é custo para a vida toda”, enfatizou. Segundo o pesquisador, recentemente o Governo Federal decidiu acompanhar os efeitos do aumento do nível do mar na costa brasileira. Os dados apresentados ontem integram um trabalho que Paolo Alfredini realiza para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

SANTOSVLAKTE É A SAÍDA PARA EXPANSÃO

Ao comentar o aumento do assoreamento do canal do Porto e a necessidade cada vez maior de dragá-lo, o pesquisador Paolo Alfredini lembrou que “a dragagem de Santos está em um nível crítico, tanto que é cada vez mais difícil e trabalhoso manter a cota de ao menos 15 metros de profundidade”.

Por isso, para ele, a expansão do complexo marítimo deve ocorrer fora da área do estuário. Alfredini explica que a profundidade natural do canal (se nunca tivesse sido dragado) seria de 8 ou 9 metros. Em seus 122 anos de história como porto organizado, o complexo ampliou essa medida, chegando hoje a valores entre 13 e 15 metros em toda a sua extensão.

Ecada vez que há um aprofundamento, sua manutenção envolve maiores esforços. Para o engenheiro, esse fato e os reflexos previstos com o aumento do nível do mar mostram que a expansão do complexo marítimo deve ocorrer fora da área do estuário. E citou que a Codesp já estuda ampliar o porto com a construção de terminais offshore. “Nesse sentido, Santos terá de seguir o caminho de Roterdã e Le Havre e crescer para o mar”, afirmou, referindo-se aos projetos de Maasvlaktee Port 2000.

No primeiro, o Porto de Roterdã, na Holanda, aterrou uma área do Mar do Norte para a construção de novas instalações. No segundo, a Autoridade Portuária de Le Havre, na França, utilizou espaços aterrados na foz do Rio Sena.

Conforme reportagem exclusiva publicada em A Tribuna em 14 de setembro passado, a Codesp estuda ampliar as instalações do complexo santista com a implantação de terminais na costa. Essa pesquisa, iniciada no último ano e que está em seu estágio inicial, é desenvolvida em parceria com o Instituto de Oceanografia da USP. Devido à semelhança com a iniciativa holandesa, o projeto foi batizado como Santosvlakte.