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Impedir barulho e vaias da torcida é imperialismo cultural, diz sociólogo americano (BBC Brasil)

18.08.2016

Mulher grita durante partida na Rio 2016

Sociólogo americano diz que vê legitimidade no comportamento da torcida brasileira na Rio 2016. GETTY IMAGES

Assim como muitos observadores internacionais acompanhando os Jogos Olímpicos do Rio, o sociólogo americano Peter Kaufman ficou espantado com o episódio das vaias ao atleta francês do salto com vara Renaud Lavillenie. No caso do acadêmico, porém, o que pareceu incomodá-lo mais foi a reação contrária ao comportamento da torcida.

Para o professor da Universidade Estadual de Nova York, que escreve sobre sociologia do esporte e estudou as reações do público ao comportamento de atletas, houve exagero na condenação das manifestações, sobretudo depois do “pito” público dado nos brasileiros pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o alemão Thomas Bach.

Após as vaias a Lavillenie no pódio, Bach usou a conta do COI no Twitter para dizer que o comportamento do público foi “chocante” e “inaceitável nas Olimpíadas”.

“O COI certamente tem questões bem mais importantes para lidar do que vaias de torcedores”, disse Kaufman, em conversa com a BBC Brasil, por telefone.

Veja abaixo, trechos da entrevista:

BBC Brasil – O senhor acompanhou a polêmica das vaias no Brasil?

Peter Kaufman – Sim, porque houve um repercussão considerável de alguns incidentes envolvendo o público na Olimpíada do Rio. O comportamento de torcedores é algo interessante, porque estão em jogo fatores culturais.

Cada cultura tem seus próprios valores: em algumas, é apropriado beijar em vez de apertar a mão quando se é apresentado a alguém, por exemplo. Em outras, é muito aceitável vaiar, assim como em certos países aplausos efusivos podem ser vistos como algo rude.

Torcida durante partida na Rio 2016

Sociólogo aponta que vaias podem ter diferentes motivos, inclusive descontentamento com os gastos nos Jogos. GETTY IMAGES

BBC Brasil – Por que as pessoas vaiam?

Kaufman – É uma questão de expressão, uma forma de interação social e participação. E isso varia de lugar para lugar. Se um alienígena chegasse aqui hoje e fosse assistir a uma competição esportiva, possivelmente teria outra maneira de se comportar de acordo com sua realidade. E, óbvio, sabemos que não é apenas esporte. As Olimpíadas têm um significado muito maior. O público brasileiro pode estar vaiando em desafio às autoridades, ao governo brasileiro e até mesmo ao dinheiro gasto na Olimpíada.

BBC Brasil – É injusto com os atletas?

Kaufman – Alvos de vaias podem se sentir ofendidos, tristes e até ameaçados por uma torcida mais ruidosas. Não os culpo por pensarem apenas na qualidade de seu desempenho em vez de analisar aspectos culturais ou políticos. É perfeitamente compreensível que o atleta francês tenha ficado bastante chateado com as vaias que recebeu até no pódio. Mas ele estava competindo contra um atleta brasileiro e em casa. Pelo que tenho lido sobre a torcida brasileira, era inevitável que ele fosse alvo dessas manifestações.

BBC Brasil – Renaud Lavillenie não foi a primeira “vítima” e não deverá ser a última, mas o comportamento da torcida no Estádio Olímpico, em especial durante provas em que normalmente o silêncio do público é uma questão de etiqueta, como o tênis e a esgrima, irritou até o presidente do COI, Thomas Bach. Como achar um meio termo?

Brasileiros na Rio 2016

Torcida brasileira ficou conhecida pelo excesso de vaias durante os jogos da Rio 2016. GETTY IMAGES

Kaufman – Olha, é irônico que sentimentos de nacionalismo e tribalismo surjam na Olimpíada, uma competição concebida em sua forma moderna para promover a paz e a união ente os povos. Mas o esporte é passional e excitante. As pessoas querem vaiar seu adversário para tentar afetar o resultado de uma partida. E, como costuma ser o caso por causa das rivalidades locais, os brasileiros “pegaram no pé dos argentinos”. Também vimos o público vaiando atletas russos por causa da controvérsia envolvendo o doping. As vaias, por sinal, são o menor dos problemas que o COI tem para resolver.

BBC Brasil – Mas Lavillenie não teria razão ao reclamar do barulho durante o momento de seus saltos? Não seria preciso criar uma cultura de torcida mais apropriada para o esporte olímpico?

Kaufman – Isso seria uma atitude de imperialismo cultural. Por que a maneira do brasileiro torcer é errada? A realidade que conhecemos é criada pelo ambiente em que crescemos. Você mencionou o tênis anteriormente: será que não vale a pena discutirmos a razão para o silêncio durante o saque no tênis enquanto no futebol a torcida pode urrar nos ouvidos de um atacante que vai bater um pênalti? A diferença é que o tênis é um esporte muito mais elitizado.

BBC Brasil: O senhor defende o comportamento da torcida, então?

Kaufman: De certa maneira, sim, apesar de que os esportes têm regras para lidar com isso. Acho fascinante o fato de que as normas de comportamento podem ser diferentes. Fica a impressão de que o COI foi pego de surpresa pela passionalidade do torcedor brasileiro. Mas lembremos da Copa do Mundo de 2010, em que as vuvuzelas do torcedor sul-africano criaram um problema até para quem viu os jogos pela TV. Mas ter proibido seu uso teria amputado um componente cultural.

Vaiar é uma expressão de crenças e valores. É tão “errado” quanto torcer.


Quais são os seis tipos de vaias da torcida brasileira na Rio 2016

Torcida brasileira na Rio 2016

Torcida brasileira já é reconhecida pelo excesso de vaias durante as competições na Rio 2016. GETTY IMAGES

Da esgrima à natação, do basquete ao tênis, atletas foram intensamente vaiados no Rio de Janeiro. E enquanto as vaias são comuns na maioria das Olimpíadas – apesar da ideia de que seja um momento em que o espírito esportivo deve reinar -, já está claro que a Rio 2016 é mais barulhenta que os Jogos mais recentes.

A BBC News fez uma lista com os seis tipos de vaias mais comuns durante a Olimpíada no Brasil, na tentativa de explicar ao público internacional esse fenômeno que vem sendo um dos mais discutidos pela imprensa esportiva:

1. Vaiar por diversão

O público brasileiro tem uma tendência a escolher ” um lado” – torcer por um time, ou um atleta, e vaiar os rivais. Mas eles podem trocar essa lealdade num piscar de olhos.

“Os torcedores brasileiros parecem ser bem igualitários. Eles são capazes de vaiar atletas de muitos países. É muito difícil de identificar o porquê da vaia a um outro atleta”, disse o diretor de comunicação do Comitê Olímpico Internacional, Mark Adams.

A mesma reação foi identificada pelo especialista em Jogos Olímpicos da Universidade de Salford, Andy Miah.

“Eu fiquei surpreso com o quanto eles são verbais e achei uma falta de espírito esportivo toda essa gritaria e vaia. Até eu perceber que era a forma que eles encontraram de se envolver com o drama do evento”, diz.

“Não é malicioso. Eu estava na esgrima ontem e eles estavam vaiando os jogadores e depois torcendo muito e apoiando muito quando eles ganharam. É tudo parte do teatro que é o que eles curtem”.

Ele ainda opina que há diferenças com Londres 2012: “era muito mais quieto, quase nunca tinha gritaria, só aplausos”.

2. Vaiar os favoritos

O público na Rio 2016 demonstrou uma clara preferência pelos azarões. Em uma das primeiras partidas de basquete, os torcedores apoiaram a Croácia enquanto vaiavam os favoritos – a seleção espanhola. A Espanha então começou a perder e foi derrotada por 72-70.

Esse não é um fenômeno novo.

Torcida brasileira na Rio 2016

Em uma das primeiras partidas de basquete, torcedores brasileiros apoiaram a Croácia torcendo pelo time enquanto vaiavam os favoritos, da seleção espanhola. GETTY IMAGES

Durante a Olimpíada de Atenas, em 2004, por exemplo, os torcedores apoiaram a equipe de futebol masculino do Iraque – durante uma semifinal contra o Paraguai – e vaiavam cada vez que os paraguaios ficavam com a bola.

De acordo com o professor de história da mídia da Universidade de Sussex, na Inglaterra, David Hendy, a vaia é “uma tradição nobre” e um lembrete de que o espetáculo é sobretudo para o público, mais do que para os competidores.

“E o público sempre vê tudo em termos dramáticos – um conflito entre heróis e vilões”, explica.

3. Vaiar os russos

Por causa a revelação de um esquema estatal de doping e da decisão do Comitê Olimípico de não suspender todos os atletas, os russos encontraram uma reação particularmente hostil do público no Rio de Janeiro.

As vaias começaram logo na entrada da delegação russa no Maracanã durante a cerimônia de abertura.

“Os russos sempre iriam ser vaiados porque muitos pensam que o COI não deveria ter comprometido os Jogos”, diz Andy Miah.

A nadadora russa Yulia Efimova, que foi banida por 16 meses em 2013 e conquistou o direito de competir novamente no Rio de Janeiro depois de apelar ao Tribunal Arbitral do Esporte, foi vaiada durante toda a competição dos 100 metros peito nas eliminatórias e na final, na qual levou a medalha de prata.

Ela caiu no choro depois que o ouro foi para a americana Lily King, que comentou: “isso só prova que você pode competir limpa e ainda chegar ao topo do pódio”.

Torcida do Brasil em jogo da Alemanha

Torcida brasileira costuma vaiar atletas russos desde o início dos Jogos. GETTY IMAGES

O boxeador russo Evgeny Tishchenko demonstrou frustração com a reação negativa do público aos atletas russos.

“É uma pena que o público se comporte dessa forma, apoiando quem quer que esteja contra a Rússia”, disse ele ao jornal Chicago Tribune.

“Estou bastante irritado com isso. É a primeira vez que eu enfrento esse tipo de tratamento. Para falar a verdade, estou um pouco decepcionado”.

4. Vaias políticas

Ao declarar os Jogos Olímpicos abertos na cerimônia de abertura, o presidente interino Michel Temer foi vaiado.

Temer assumiu em maio depois da suspensão de Dilma Rousseff e foi vaiado apesar dito apenas uma frase. Mas as vaias quase se dissiparam em meio aos fogos de artíficio e à música, até porque o nome de Temer não chegou a ser anunciado.

Presidente em exercício, Michel Temer

Presidente em exercício, Michel Temer, é vaiado na cerimônia de abertura da Rio 2016. GETTY IMAGES

Mas essa não é a primeira vez que uma Olimpíada é um catalisador para a insatisfação com a elite política de um país. O ex-chanceler George Osborne e a então ministra do Interior – e atual premiê – Theresa May foram vaiados na entrega de medalhas durante a Paralimpíada de Londres 2012.

“Foi uma resposta visceral e instantânea de um público indignado com as políticas para os deficientes físicos e que se sentiam sem voz”, diz Hendy.

5. Vaias patrióticas

Os fãs brasileiros foram rápidos em demonstrar apoio aos atletas nativos ao vaiarem vigorosamente seus oponentes.

O tenista alemão Dustin Brown foi vaiado até depois de cair e torcer o tornozelo durante uma partida com Thomaz Bellucci, apesar de ter recebido aplausos e apoio quando se levantou para ser levado ao hospital.

O francês Renaud Lavillenie queixou-se publicamente da vaias que ouviu no Engenhão na noite em que perdeu de Thiago Braz no salto com varas. “Dei tudo de mim e não tenho nenhum arrependimento. Uma prova inacreditável! Só estou decepcionado com a total falta de respeito do público. Isso não é digno de um estádio olímpico”, afirmou.

“As Olimpíadas sempre foram sinônimo de respeito internacional. Então as vaias podem distrair e até evitar que os atletas tenham o melhor desempenho”, diz Rhonda Cohen, psicóloga do esporte da Universidade de Middlesex, na Inglaterra.

O boxeador camaronês Hassan N’Dam N’Jijam certamente não ficou feliz ao perder a luta contra o brasileiro Michel Borges depois de muitas vaias pantomímicas. Segundo ele, o barulho pode ter influenciado os juízes.

Os atletas argentinos também foram vaiados durante a cerimônia de abertura só porque são… argentinos – nossos vizinhos e rivais, especialmente no futebol.

E há o caso da goleira da seleção feminina de futebol dos Estados Unidos, Hope Solo, que postou fotos nas redes sociais falando sobre o vírus da Zika e foi vaiada ao coro de “Zika!”durante a partida contra a Nova Zelândia.

Mas os torcedores não reservaram as vaias apenas aos estrangeiros. A performance ruim dos jogadores brasileiros da seleção de futebol também provocou vaias depois das partidas contra a África do Sul e o Iraque.

6. Vaia aos juízes

Até os juízes olímpicos caíram nas vaias do público brasileiro.

Como anfitriões, os brasileiros conquistaram uma vaga na final do salto sincronizado de 10 metros masculino, apesar de os atletas não terem chances na competição. Inevitavelmente, os juízes consistentemente deram notas baixas, gerando vaias nervosas do público.

Mas vale lembrar que nada se compara à final de ginástica masculina em Atenas 2004. O russo Alexei Nemov animou o público com uma rotina de barras arriscada, e, quando os juízes o avaliaram com notas baixas, ouviu vaias por sete minutos ininterruptos.

Governo paga a Cacique Cobra Coral para não chover na Olimpíada, mas se deu mal (Blasting News)

Entidade disse a jornal que não falhou ao tentar prevenir jogos de mau tempo.

Nem mesmo entidade de índio salva Olimpíada da chuva

Nem mesmo entidade de índio salva Olimpíada da chuva 

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do PMDB, está tendo um problemão para gerenciar em sua cidade em plena Olimpíada. Desde que os jogos começaram, o município conhecido por ser quente e ensolarado foi assolado pelo frio e ventos. Muitas competições tiveram que ser adiadas, como sessões de tênis e regatas na Lagoa Rodrigues de Freitas. E olha que o #Governo tem uma parceria sobrenatural com a Fundação Cacique Cobra Coral. Há relatos na mídia de que a instituição ganha uma quantia para prevenir a cidade da virada do tempo em grandes eventos. Pelo jeito, a atuação dessa vez não está funcionando. A fundação nega e diz que tudo não poderia estar melhor no Rio.

Os cariocas trocaram os biquínis por casacos e as ressacas já atingem a principal praia da cidade, Copacabana, na Zona Sul do #Rio de Janeiro. Os integrantes da fundação garantem que conseguem incorporar um espírito de um índio do mesmo nome da entidade, que faz com que tragédias climáticas fiquem além da Baía de Guanabara. A crença na entidade fez com que representantes da Cobra Coral fossem à outra Olimpíada. No ano de 2012, por exemplo, eles podiam ser vistos andando por áreas destinadas a governantes, tendo contato até mesmo com o Comitê da hoje presidente afastada Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).

Em entrevista ao jornal ‘O Globo’ publicada nesta sexta-feira, 12, a médium Adelaide Scritori, que diz que incorpora o espírito do índio poderoso, disse que a principal função foi fazer com que não chovesse na cerimônia de abertura e que as regatas na Baía de Guanabara ocorressem sem lixo. De fato, a abertura dos jogos do Rio de Janeiro aconteceu sem nenhum problema climático. O tempo virou três dias depois e desde então não foi mais controlado. Rajadas de vento chegaram a destruir lonas de estádios e derrubar grades do parque olímpico. As ondas ficaram tão altas que quase invadiram o Centro de Imprensa montado na Zona Sul da Cidade.

O grupo não confirma se realmente recebeu dinheiro da prefeitura e quanto teria recebido.  #Rio2016

Cobrada pelo mau tempo, Fundação Cacique Cobra Coral diz que não falhou (O Globo)

Representantes da organização garantem que não houve falhas em sua operação

Apesar da operação da Fundação Cacique Cobra Coral os jogos do Rio tem registrado mau tempo, com provas tendo que ser adiadas Foto: Jorge William / Agência O Globo

Apesar da operação da Fundação Cacique Cobra Coral os jogos do Rio tem registrado mau tempo, com provas tendo que ser adiadas – Jorge William / Agência O Globo

POR LUIZ ERNESTO MAGALHAES

10/08/2016 15:53 / atualizado 10/08/2016 16:17

RIO – Regatas na Lagoa adiadas, sessões de tênis remarcadas, transtornos provocados por ressacas que invadem instalações na Praia de Copacabana… Credenciados pelo Comitê Organizador Rio-2016 para acompanhar as condições climáticas durante a Olimpíada, os integrantes da Fundação Cacique Cobra Coral, que garantem ter poder sobrenatural para controlar o tempo, afirmam que não houve falhas na operação espiritual para garantir o sucesso da Olimpíada.

A médium Adelaide Scritori, que afirma incorporar o espírito do Cacique Cobra Coral, já circulou várias vezes pelo Parque Olímpico. O porta-voz da fundação, Osmar Santos, garante que o desempenho até agora da entidade é digno de medalha de ouro. Segundo ele, as prioridades foram direcionar o tempo para garantir a cerimônia de abertura sem chuvas e que os ventos soprassem de forma a a garantir que as regatas da Baía de Guanabara ocorressem em raias sem lixo:

Segundo Osmar, no domingo, quando uma forte ventania atingiu a cidade causando estragos e adiando provas do remo, Adelaide sequer estava no Rio. A médium, segundo ele, estaria na Região Serrana, encerrando a operação da Cerimônia de Abertura. O porta voz da médium argumenta que as demandas espirtuais da entidade são inúmeras e não se limitam a Olimpíada

– O grande legado nosso da cerimônia de abertura foi o desvio da Frente Fria que estava no Rio e foi desviada para Minas erais onde despejou 30 milímetros de chuva em pleno agosto no Vale do Jequitinonha. Isso para o cacique é muito mais importante. Agora vamos abrir um corredor para as frentes entrarem pelo continente e apagarem as queimadas no Pantanal – disse Osmar.

De acordo com Osmar, o mau tempo de hoje está relacionado com o atraso na entrada da frente fria na cidade para garantir a limpeza da Baía

Essa não é a primeira vez que a Fundação atua numa Olimpíada. Repórteres do GLOBO encontraram integrantes da Fundação em Londres, em 2012, credenciados inclusive para uma visita da presidente afastada Dilma Roousseff durante um evento oficial do Comitê Olímpico do Brasil. Adelaide também estava em Copenhague (Dinamarca) em 2009 quando o Rio foi eleito cidade sede da Olimpíada de 2016.

A Fundação também, é chamada para outros eventos como o Réveillon e o Rock in Rio. Nas últimas edições das Olimpíadas, no entanto, chegou a chover forte alguns dias. A Fundação Cacique Cobra Coral nas duas ocasiões alegou que ficou retida antes de chegar à Cidade do Rock por problemas no credenciamento do carro que transportava os integrantes.

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/rio/cobrada-pelo-mau-tempo-fundacao-cacique-cobra-coral-diz-que-nao-falhou-19894579#ixzz4H3PcWa6C
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Os últimos 300 Muriquis: o macaco é um dos animais com maior risco de extinção no mundo (O Globo)

JC e-mail 4609, de 23 de Outubro de 2012.

Pesquisadores vão mapear os locais no Rio onde o maior primata das Américas e candidato a mascote das Olimpíadas de 2016 resiste.

Restam apenas 300 muriquis no estado do Rio de Janeiro. Eles são ameaçados pela diminuição das áreas de floresta, pela caça e por doenças transmitidas por outros bichos. Correndo risco de extinção, o maior primata das Américas e candidato a mascote dos Jogos Olímpicos de 2016 ainda padece com a falta generalizada de informações. Pesquisadores vão a campo a partir de janeiro e, num prazo de dois anos, pretendem concluir o primeiro censo populacional e o georreferenciamento do mono-carvoeiro, como também é conhecido esse macaco exclusivamente brasileiro.

Uma força-tarefa com 20 pesquisadores vai percorrer 350 mil hectares de florestas no estado. Além do censo e do georreferenciamento, eles pretendem coletar material genético, observar hábitos, costumes, analisar a dieta, identificar os vegetais que servem de alimento. Tudo isso para entender como se dá a interação dos muriquis com o meio ambiente. O trabalho, que custará em torno de R$ 5,5 milhões, vai servir de base científica para a criação de um plano estadual de proteção do macaco. Este documento deverá orientar desde a localização de novas áreas de preservação até a escolha das espécies de plantas usadas em programas de reflorestamento, sempre levando em consideração as preferências do animal.

A iniciativa faz parte de um conjunto de outras medidas, que incluem a campanha para a escolha da mascote dos Jogos Olímpicos, programas de educação ambiental e propagandas, que pretendem fazer do muriqui um animal conhecido e protegido. A meta é criar as condições que permitam aumento da população e, principalmente, a retirada da espécie da lista de extinção.

“O muriqui servirá de modelo para outros estudos científicos, com certeza. O boto-cinza, por exemplo, também receberá investimentos do estado para pesquisas científicas”, antecipa o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.

O projeto, chamado oficialmente de “Conservação do Muriqui no Rio de Janeiro: levantamento da situação da espécie para a elaboração de um plano de ação estadual”, mobilizará especialistas da ONG Ecoatlântica, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Jardim Botânico, dos centros de primatologias do Brasil e do Rio de Janeiro, da Fiocruz, UFF e UFRJ, entre outras instituições.

Não vai ser fácil mapear os hábitos do muriqui. Ao menor barulho, ele foge, com uma agilidade tão grande que é praticamente impossível persegui-lo. A desenvoltura do animal na mata, que faz lembrar a agilidade de um atleta olímpico, é um dos argumentos para fazer do muriqui a mascote dos Jogos Olímpicos do Rio. Para observar de perto esse bicho arredio, os pesquisadores terão que escalar montanhas e se embrenharem em locais de difícil acesso.

A estratégia será dividir os especialistas em dez grupos. Nas primeiras incursões, eles se espalharão pelo estado em busca de relatos e de vestígios dos muriquis. Nos locais nos quais haja alguma probabilidade de encontrar o macaco, todos eles se reunirão para fazer a varredura para a contagem e coleta de material. Quando for possível, será realizada a captura, com o auxílio de armas que lançam tranquilizantes. Nestes casos, será feita a coleta de sangue e marcação do animal.

“O muriqui é um banco genético. A gente não tem ideia hoje de como está realmente a área verde. Por exemplo, quando fizermos o estudo das fezes e analisarmos as sementes encontradas, tenho quase certeza de que identificaremos espécies novas da flora da Mata Atlântica”, explica Paula Breves, veterinária e presidente da ONG Ecoatlântica. “O Jardim Botânico ficará responsável pela análise da flora. A UFF fará o georreferenciamento das informações, mapa de ameaças, do estudo botânico. Serão muitos mapas. O pessoal da Fiocruz vai desenvolver ações de educação ambiental. Por exemplo, como trabalhar com agricultores a prevenção das queimadas.”

Os especialistas pretendem comprovar, ainda, que o Rio é o único estado da federação no qual é possível encontrar não apenas o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), que também ocorre nas matas de São Paulo e extremo Norte do Paraná, como também o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus).

“Nenhum outro estado tem a ocorrência das duas outras espécies do animal. Vamos tentar identificar o muriqui-do-norte em Itatiaia”, antecipa Daniela Pires e Albuquerque, técnica do Inea.

Há diferenças físicas entre os muriquis-do-norte, mais despigmentado, e do sul, aparentemente mais escuro. O estudo vai permitir uma comparação entre ambas as espécies, já que hoje é grande a desinformação em relação ao muriqui-do-sul. Tanto que uma das hipóteses a ser verificada é a de que não se tratam de duas espécies distintas, mas de uma subespécie.

“Temos grandes dúvidas se realmente são duas espécies distintas. Ou se um deles é uma subespécie. Vamos tentar entender isso, porque até então não há um estudo genético do muriqui-do-sul”, salienta Paula. “A pesquisa não vai gerar informações apenas sobre o muriqui. Qualquer animal que aparecer será identificado. Vamos usar câmeras para tirar fotos de qualquer bicho que se mover em uma determinada área. Até pássaros, o que for observado, anotaremos. Será um resultado secundário, que vai gerar informação importante para os parques.”

Os pesquisadores terão atenção especial em áreas nas quais haja indícios da presença do muriqui, sobretudo os parques estaduais do Desengano (que se espalha por Santa Maria Madalena, São Fidélis e Campos), dos Três Picos (Cachoeiras de Macacu, Friburgo, Teresópolis, Guapimirim e Silva Jardim), Cunhambebe (Mangaratiba, Rio Claro, Angra e Itaguaí); parques nacionais da Serra dos Órgãos (Teresópolis, Guapimirim, Magé e Petrópolis), de Itatiaia; Área de Proteção Ambiental do Cairuçu; e Reserva Ecológica da Juatinga (ambas em Paraty).

“Este estudo de campo é fundamental para a preservação do muriqui”, resume Paula. “Ainda temos relatos de caça, em Cunhambebe, há um mês. O legal é que já estamos recebendo telefones de proprietários de áreas com mata perguntando o que eles podem fazer para ajudar o muriqui, o que eles podem plantar. Isso é fantástico.”

Outro importante local para especialistas é o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), em Guapimirim. Mantido pelo Inea, há 22 espécies de primatas e 230 animais. Porém, faltam pesquisadores. Apenas o chefe da unidade, Alcides Pissinatti, desenvolve trabalhos científicos, dividindo seu tempo com a administração local. O CPRJ recebe estudiosos visitantes, mas sem vínculo com o local. Está prevista a contratação de um veterinário no próximo concurso público, diz o Inea.

“Com os muriquis em cativeiro, é possível conhecer a biologia e o comportamento da espécie. Temos seis animais, sendo que o último nasceu no dia 5 de fevereiro de 2012”, relata Pissinatti. “O ideal seria contar com cerca de 30 animais, que não podem ser da mesma família.”

Falta de espaço – Diferentemente do muriqui do Estado do Rio, que sofre com a falta de informações científicas, há cerca de 30 anos o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), sobretudo os que vivem na reserva Feliciano Miguel Abdala, em Caratinga, Leste de Minas Gerais, vêm sendo estudado pelo grupo de pesquisadores liderados pela primatóloga americana Karen Strier, pesquisadora e professora da Universidade de Wisconsin-Madison. Neste período, a população do macaco pulou de 60 para cerca de 200. Se, por um lado, o crescimento revela o sucesso das medidas de preservação; por outro, mostra os problemas de manter o muriqui confinado em pequenas unidades de conservação. Já falta espaço.

Esta situação está provocando mudanças de comportamento do muriqui. Os macacos ficam mais no chão, para terem outros locais além da copa das árvores. E procuram matas vizinhas, nem sempre seguras. Por este motivo, os ambientalistas querem criar um corredor ligando as unidades de conservação, com o objetivo de dar mais espaço para o maior primata das Américas se expandir.

“A mata tem seus limites. Crescendo a população, para onde vão os muriquis? É a mesma situação de uma família, quando ela cresce, precisa ir para uma casa maior ou encontrar outro espaço”, explica Karen.

Pesquisadores também constataram o aumento do número de machos. Para a especialista, esta pode ser uma forma de controle do número de macacos. Se a população crescesse muito, haveria disputa entre os animais. Neste momento, a tendência é que o índice de crescimento da população diminua.

“Ninguém entende como esse mecanismo funciona, mas, quando há excesso de população, nascem mais machos. A população cresce mais quando há mais fêmeas”, revela Karen. “Os muriquis são as espécies mais pacíficas do mundo. Eles têm um comportamento sem agressividade, não brigam. Os dentes caninos são muito pequenos. Entre eles, em vários aspectos, não tem hierarquia. Vivem numa sociedade igualitária.”

Em vez de brigar, os muriquis têm o hábito de abraçar uns aos outros. De acordo com a pesquisadora, esta é uma forma de cumprimentar o companheiro. E, se algo os assusta, eles se abraçam para se sentirem mais confiantes. Os machos não têm dominância sobre as fêmeas. Quando copulam, os machos da maioria das outras espécies ficam muito agressivos, há forte competição. No caso do muriqui, não há disputa entre machos, que compartilham as fêmeas. Pesquisadores relatam casos em que os machos esperam em fila a sua vez de ficar com a fêmea.

“Já vi cinco machos copulando no prazo de 11 minutos, sem briga alguma. Por isso os muriquis já foram comparados com os hippies: paz e amor”, conta Karen. “Eles nos mostram que é possível viver numa sociedade, até mesmo em densidade demográfica alta, sem brigas, sem disputas. E com muita tolerância, paciência e pacifismo. Hoje em dia me inspiro no comportamento do muriqui. Quando eu percebo após 30 anos de trabalho, que a espécie está crescendo e que o problema agora é procura novas áreas protegidas para esta população, fico mais esperançosa. Existe solução, é fácil. Os próprios macacos estão nos mostrando de que eles precisam: mais florestas preservadas e protegidas.”

In the Name of the Future, Rio Is Destroying Its Past (N.Y.Times)

OP-ED CONTRIBUTORS

By THERESA WILLIAMSON and MAURÍCIO HORA

Published: August 12, 2012

THE London Olympics concluded Sunday, but the battle over the next games has just begun in Rio, where protests against illegal evictions of some of the city’s poorest residents are spreading. Indeed, the Rio Olympics are poised to increase inequality in a city already famous for it.

Last month, Unesco awarded World Heritage Site status to a substantial portion of the city, an area that includes some of its hillside favelas, where more than 1.4 million of the city’s 6 million residents live. No favela can claim greater historical importance than Rio’s first — Morro da Providência — yet Olympic construction projects are threatening its future.

Providência was formed in 1897 when veterans of the bloody Canudos war in Brazil’s northeast were promised land in Rio de Janeiro, which was then the federal capital. Upon arriving, they found no such land available. After squatting in front of the Ministry of War, the soldiers were moved to a nearby hill belonging to a colonel, though they were given no title to the land. Originally named “Morro da Favela” after the spiny favela plant typical of the Canudos hills where soldiers had spent many nights, Providência grew during the early 20th century as freed slaves joined the soldiers. New European migrants came as well, as it was the only affordable way to live near work in the city’s center and port.

Overlooking the site where hundreds of thousands of African slaves first entered Brazil, Providência is part of one of the most important cultural sites in Afro-Brazilian history, where the first commercial sambas were composed, traditions like capoeira and candomblé flourished and Rio’s Quilombo Pedra do Sal was founded. Today 60 percent of its residents are Afro-Brazilian.

Over a century after its creation, Providência still bears the cultural and physical imprint of its initial residents. But now it is threatened with destruction in the name of Olympic improvements: almost a third of the community is to be razed, a move that will inevitably destabilize what’s left of it.

By mid-2013 Providência will have received 131 million reais ($65 million) in investments under a private-sector-led plan to redevelop Rio’s port area, including a cable car, funicular tram and wider roads. Previous municipal interventions to upgrade the community recognized its historical importance, but today’s projects have no such intent.

Although the city claims that investments will benefit residents, 30 percent of the community’s population has already been marked for removal and the only “public meetings” held were to warn residents of their fate. Homes are spray-painted during the day with the initials for the municipal housing secretary and an identifying number. Residents return from work to learn that their homes will be demolished, with no warning of what’s to come, or when.

A quick walk through the community reveals the appalling state of uncertainty residents are living in: at the very top of the hill, some 70 percent of homes are marked for eviction — an area supposedly set to benefit from the transportation investments being made. But the luxury cable car will transport 1,000 to 3,000 people per hour during the Olympics. It’s not residents who will benefit, but investors.

Residents of Providência are fearful. Only 36 percent of them hold documentation of their land rights, compared with 70 percent to 95 percent in other favelas. More than in other poor neighborhoods, residents are particularly unaware of their rights and terrified of losing their homes. Combine this with the city’s “divide and conquer” approach — in which residents are confronted individually to sign up for relocation, and no communitywide negotiations are permitted — and resistance is effectively squelched.

Pressure from human rights groups and the international news media has helped. But brutal evictions continue as well as new, subtler forms of removal. As part of the city’s port revitalization plan, authorities declared the “relocations” to be in the interest of residents because they live in “risky areas” where landslides might occur and because “de-densification” is required to improve quality of life.

But there is little evidence of landslide risk or dangerous overcrowding; 98 percent of Providência’s homes are made of sturdy brick and concrete and 90 percent have more than three rooms. Moreover, an important report by local engineers showed that the risk factors announced by the city were inadequately studied and inaccurate.

If Rio succeeds in disfiguring and dismantling its most historic favela, the path will be open to further destruction throughout the city’s hundreds of others. The economic, social and psychological impacts of evictions are dire: families moved into isolated units where they lose access to the enormous economic and social benefits of community cooperation, proximity to work and existing social networks — not to mention generations’ worth of investments made in their homes.

Rio is becoming a playground for the rich, and inequality breeds instability. It would be much more cost-effective to invest in urban improvements that communities help shape through a participatory democratic process. This would ultimately strengthen Rio’s economy and improve its infrastructure while also reducing inequality and empowering the city’s still marginalized Afro-Brazilian population.

Theresa Williamson, the publisher of RioOnWatch.org, founded Catalytic Communities, an advocacy group for favelas. Maurício Hora, a photographer, runs the Favelarte program in the Providência favela.

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APRIL 2, 2012

Are the Olympics More Trouble Than They’re Worth?

ProtestingToby Melville/Reuters

Winning a bid to host the Olympics is just the beginning. As London prepares for the 2012 Games this summer, residents have plenty of doubts: Will it be too expensive? Will it disrupt life too much? In the end, will they be better off because of the Games, or just saddled with public debt and a velodrome no one knows what to do with?

What about Rio de Janeiro: Will it come out ahead, after having hosted the Pan American Games in 2007, the World Cup in 2014 and the Olympics in 2016?

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DEBATERS

Neil Jameson

The Games Help Londoners

NEIL JAMESON, LEAD ORGANIZER, LONDON CITIZENS

This is the world’s first “Living Wage Olympics,” and East London residents will reap the rewards.

Julian Cheyne

The Games Hurt Londoners

JULIAN CHEYNE, EVICTED RESIDENT, EAST LONDON

The Olympics are an expensive distraction that sets dangerous precedents, coddling the elite and trampling the poor.

Theresa Williamson

A Missed Opportunity in Rio

THERESA WILLIAMSON, FOUNDER, CATALYTIC COMMUNITIES

In preparing for the World Cup and the Olympics, Rio could make long-term investments and integrate the favelas. Instead it is aggravating its problems.

Bruno Reis

Brazil Can Come Out Ahead

BRUNO REIS, RISK ANALYST IN BRAZIL

These Games represent a golden opportunity, but will Rio de Janeiro repeat the success of Barcelona or the failure of Athens?

Andrew Zimbalist

Venues as an Asset or an Albatross

ANDREW ZIMBALIST, ECONOMIST, SMITH COLLEGE

Olympics planning takes place in a frenzied atmosphere — not optimal conditions for contemplating the future shape of an urban landscape.

Mitchell L. Moss

New York Is Lucky Not to Have the Games

MITCHELL L. MOSS, NEW YORK UNIVERSITY

London will be a morass this summer. Meanwhile, there has never been a better time to visit New York City.

Ouro suburbano (OESP)

À margem, o subúrbio é mais propício à criatividade, gerando no seu hibridismo desde os Mamonas ao medalhista olímpico

12 de agosto de 2012

José de Souza Martins

O ouro de Arthur Zanetti em Londres põe em evidência o subúrbio de que é originário e onde vive: nasceu em São Caetano, ali treina num clube comunitário, apoiado pela prefeitura, e mora em São Bernardo. Ninguém diria que por meio daquele atleta suburbano o País obteria nesta Olimpíada uma de suas escassas medalhas de ouro. Porque o subúrbio é o lugar de trabalhar e não o de brilhar, lugar da produção e não da ostentação.

Ao lado dos pais, Arthur Zanetti, do subúrbio para o ouro olímpico nas argolas - Nacho Doce/REUTERS

Nacho Doce/REUTERS. Ao lado dos pais, Arthur Zanetti, do subúrbio para o ouro olímpico nas argolas

Na metrópole paulistana, o subúrbio é um contraponto histórico em relação ao centro. Não é periferia, palavra do vocabulário político-ideológico que grita muito e diz pouco. Até porque, hoje, a periferia está no centro, na multidão de seus desamparados. Nos últimos 40 anos esse subúrbio ampliado vem protagonizando significativas mudanças políticas. Lula e Serra cresceram quase que à vista um do outro: Lula na Vila Carioca e Serra do outro lado do Rio Tamanduateí, na Mooca.

Em posições opostas, estão no centro do processo político brasileiro atual. O subúrbio também é lugar de sutil protagonismo nas mudanças sociais e culturais. Arthur Zanetti é filho da emergência tardia do Brasil do trabalho fabril, cujo eixo de referência é o oposto do eixo representado pelo centro da metrópole.A ética do subúrbio é a do trabalho; a do centro é a do consumo. O subúrbio tem uma cultura própria, que se manifesta no modo diferente de ser e de pensar dos moradores. De certo modo, essa cultura é produto e extensão dos hábitos da fábrica. Mas é também uma contracultura fundada na herança rural de sua população de imigrantes e de migrantes, que é uma cultura familista e comunitária e, não raro, religiosa.

Gente que há gerações veio para o trabalho das fábricas, mas que não renunciou aos valores da aldeia ou do sertão. Dessa duplicidade surgiu uma cultura híbrida, popular e identitária, conservadora, em que são socializadas as novas gerações. Isso pode ser observado tanto em Zanetti, em cujo êxito se destaca a família, quanto em casos como o do artista plástico João Suzuki, que veio do interior, mas viveu e ganhou fama em Santo André. Ou o do escultor Luiz Sacilotto, de Santo André, que faleceu em São Bernardo. Por estar à margem, o subúrbio é menos regulamentado e mais propício à criatividade. A alma japonesa do interiorano Suzuki desabrochou no imaginário oriental de sua pintura.

No subúrbio, as camadas profundas de sua consciência não encontraram travas para se manifestar esteticamente como expressão da duplicidade cultural tão própria dos filhos de imigrantes.A alma operária de Sacilotto, ex-aluno de escola industrial do Brás, ganhou forma em suas esculturas, artesania de oficina que se insurge para libertar o belo da retidão da linha de produção. Na medalha olímpica, Arthur e Arquimedes são um só. Filho atleta e pai serralheiro (e mãe esportista) se constroem reciprocamente: o pai, autônomo, faz os aparelhos dos ginastas, segundo a lógica das oficinas de fundo de quintal, contraponto poético da grande indústria, idílio de tantos operários suburbanos.

O mundo operário é um mundo em que as pessoas se completam, diverso do mundo do centro,em que as pessoas se repelem. Mãe, pai e filhos são um todo da concepção comunitária da vida. O subúrbio deu vida, também, a uma musicalidade popular que expressa peculiar rebeldia anticonvencional. Em Osasco e no ABC, a impensável ressurreição urbana do folclore rural das folias de reis, das folias do divino, do samba-lenço de Mauá e mesmo da Missa Caipira, de Marino Cafundó, celebrada no dia de Santo Antônio, em Osasco. O som da viola como memória. Resistência à música mercadoria sem sonho nem vida.

Emblemático foi o surgimento dos Mamonas Assassinas,em1995,em Guarulhos, grupo que morreu num acidente aéreo em 1996. Num desabafo, em janeiro de 1996, no Ginásio de Guarulhos lotado, onde haviam sido proibidos de se apresentar tempos antes, porque considerados ninguém, Dinho antecipava Barack Obama: “É possível, sim! Você pode, cara!” A música híbrida da banda juntou o rock e o sertanejo, retornou à ironia crítica e conservadora da música sertaneja de Cornélio Pires, nos anos 1920. Transformou o deboche e o falar errado numa linguagem. Como Lula, que agregou uma gestualidade de fábrica ao falar errado e criou uma nova linguagem política no Brasil, difícil de copiar justamente porque errada e não convencional. O Brasil pós-moderno e conservador está lentamente nascendo desses hibridismos insurgentes, dessas teimosias que ganham seu espaço no subúrbio.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS – É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E AUTOR DE SUBÚRBIO (UNESP)