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Ressignificação da Semana de Arte Moderna incorpora aspectos da cultura negra (Pesquisa Fapesp)

José Tadeu Arantes | 18 de fevereiro de 2022

Agência FAPESP – O esforço de reinterpretação de um passado imaginário, cheio de silêncios e ausências, por um presente que também não está livre de ambiguidades, mas no qual certos ocultamentos começam a ser desvelados: este foi, em certa medida, o fio condutor da mesa “Escritas, arquivos e ressignificações”, que deu sequência à série de encontros on-line “100 Anos da Semana de Arte Moderna: Pesquisa, Arte e Literatura”, promovida pela FAPESP.

Em mesa-redonda que integra a série 100 Anos da Semana de Arte Moderna: Pesquisa, Arte e Literatura, especialistas promovem uma espécie de “desbranqueamento” do evento que inaugurou um novo tempo na cultura brasileira (Mário de Andrade; foto: Wikimedia Commons)

“A Semana de Arte Moderna tornou-se um capital simbólico importante, especialmente agora”, disse o primeiro participante da mesa, Pedro Meira Monteiro, professor na Princeton University, nos Estados Unidos.

Monteiro lembrou que as comemorações da Semana sempre foram marcadas pela controvérsia. E destacou a “guerra de narrativas do cinquentenário”, quando, em plena ditadura, em 1972, houve uma tentativa de normalizar o legado da Semana com uma exposição oficial no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Na margem oposta do espectro político, não havia muito tempo que o Rei da Vela, de Oswald de Andrade (1890-1954), tinha sido montado por José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina, em São Paulo; que Macunaíma, de Mário de Andrade (1893-1945), virara filme, sob a direção de Joaquim Pedro de Andrade; que os poetas concretistas haviam redescoberto Oswald; e que o enorme acervo de Mário fora transferido para o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP).

“A Semana era puxada para todos os lados. Aliás, desde o seu início, a Semana serviu às direitas e às esquerdas, como uma espécie de butim de uma guerra imaginária”, resumiu.

Segundo Monteiro, a melhor leitura da Semana atualmente é a do rapper Emicida, nome artístico do compositor, cantor e multiartista Leandro Roque de Oliveira (nascido em 1985), em seu filme AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2020). “Emicida promove uma espécie de hermenêutica urbanística, lembrando do passado negro que marca o centro de São Paulo – uma cidade que é vista como centro nervoso da imigração europeia, o que já é signo de um apagamento importante. E somos levados pela imaginação do Teatro Municipal à estação São Bento do Metrô, que funciona como um canal subterrâneo, imaginário e real, que conecta às periferias, onde as luzinhas das quebradas se confundem com as estrelas. Estação São Bento, que é uma espécie de buraco mágico de Alice, onde se entra e sai em direção a um determinado universo que o discurso hegemônico prefere apagar, que é a São Paulo negra, dos pretos e das pretas”, afirmou.

Essa linha crítica, que opera uma espécie de “desbranqueamento” da Semana de Arte Moderna, também foi seguida por Lígia Fonseca Ferreira, professora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Especialista na vida e na obra do escritor e abolicionista Luiz Gama (1830-1882), Ferreira falou, entre outros tópicos, de textos que permaneceram por muito tempo inéditos e da enorme correspondência de Mário de Andrade, que foram temas de sua pesquisa de pós-doutorado e continuam a ser estudados por ela e por estudantes sob sua orientação. Nesse conjunto, destacou a figura de “Mário de Andrade, africanista”, título do capítulo que escreveu para o livro Mário de Andrade: aspectos do folclore brasileiro (Global Editora), organizado por Telê Ancona Lopez, com estabelecimento do texto, apresentação e notas de Angela Teodoro Grillo.

Ferreira começou sua apresentação lendo e comentando trechos de um discurso escrito por Mário de Andrade para a cerimônia de encerramento das comemorações do cinquentenário da Abolição da Escravidão, em 1938. O escritor modernista era, então, diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo e se dedicou com total afinco aos preparativos da celebração. Mas não pôde ler seu discurso porque foi exonerado – ou, como ele mesmo disse, “jogado fora” – do departamento pouco tempo antes, em consequência do cerceamento das liberdades democráticas provocado pela instalação, por Getúlio Vargas, da ditatura do Estado Novo. “O texto permaneceu inédito até poucos anos atrás”, informou Ferreira.

E leu um trecho, no qual Mário de Andrade afirmava que o Departamento de Cultura fizera questão de “trazer os negros para esta sala de brancos”, referindo-se especialmente ao convite feito ao doutor Francisco Lucrécio (1909-2001), um dos fundadores da Frente Negra Brasileira (FNB), para participar da conferência comemorativa que deveria ter ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo.

Ferreira enfatizou que o estudo dos inéditos e, principalmente, da correspondência trocada pelos intelectuais, com o rigor metodológico com que começou a ser feito no século 21, vai banindo ficções, fazendo correções biográficas e trazendo informações que permaneceram ocultas. “Essas correspondências acabam constituindo redes entre si”, ressaltou.

Entre vários exemplos, a pesquisadora mencionou a correspondência de Mário de Andrade com Roger Bastide (1898-1974), um dos principais integrantes da famosa “missão francesa”, contratada no final dos anos 1930 para dar estofo à recém-criada Universidade de São Paulo (USP). Bastide ocupou a cátedra de sociologia e tornou-se um nome referencial no estudo das religiões afro-brasileiras, vindo, inclusive, a ser iniciado no candomblé na Bahia. “Mal chegou ao Brasil, em 1938, ele escreveu a Mário de Andrade, agradecendo os livros que este lhe enviara, e dizendo: ‘eles serão para mim o guia mais seguro para penetrar nas profundezas da alma negra, pois quase sempre a intuição do poeta vai mais longe do que a atenção do cientista’”, citou Ferreira.

Para além de sua enorme simpatia por todo tipo de manifestação cultural, a ênfase dada por Mário de Andrade à cultura negra talvez atendesse também a uma motivação mais íntima, pois, no contexto de uma sociedade de hegemonia branca e racista, seu fenótipo exibia traços de ascendência africana. Traços que ele procurou ocultar, sem negar completamente. Assim como procurou ocultar, sem negar completamente, sua polimórfica sexualidade.

Esses elementos biográficos, antes camuflados nos retratos oficiais e empurrados para o campo da insinuação ou da maledicência, só em anos mais recentes passaram a ser tratados com maior franqueza, em um processo ainda penoso e controverso, mas bastante promissor, de ressignificação.

Fervilhante rede de sociabilidade

Nesse processo, que diz respeito não apenas à figura de Mário de Andrade, mas que abarca todo o chamado modernismo e muito mais, a recuperação, a conservação e o estudo crítico da correspondência, das cartas trocadas pelos protagonistas, adquirem especial importância. E esse foi exatamente o tópico tratado com maior profundidade na terceira e última apresentação da mesa, feita por Marcos Antonio de Moraes, pesquisador e docente do IEB-USP.

Em uma exposição intitulada “Modernismo e Epistolografia”, Moraes falou da centralidade das correspondências no movimento modernista brasileiro. E citou a respeito um trecho interessantíssimo de uma crônica de Mário de Andrade: “Eu sempre afirmo que a literatura brasileira só principiou escrevendo realmente cartas com o movimento modernista. Antes, com alguma rara exceção, os escritores brasileiros só faziam estilo epistolar. Mas cartas com assunto, falando mal dos outros, xingando, contando coisas, dizendo palavrões, discutindo problemas estéticos e sociais, cartas de pijama, só mesmo com o modernismo as cartas se tornaram uma forma espiritual de vida em nossa literatura”.

Com essa formulação, segundo Moraes, “Mário aponta para a configuração de uma vigorosa, abrangente, fervilhante rede de sociabilidade”. E acrescentou que o autor de Pauliceia Desvairada parecia não ter dúvidas de que esse material, que circulava em sigilo, viria a ser, algum dia, amplamente conhecido.

Em um levantamento bastante exaustivo, Moraes contabilizou até a data presente um total de 325 livros de cartas. Desse montante, 33 volumes são cartas de Mário de Andrade, sem contar as reedições. “Portanto, mais de 10% do total”, disse. Conforme o próprio Mário de Andrade o definiu, trata-se de um “gigantismo epistolar”.

O próprio Moraes organizou e publicou a correspondência entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira, em uma coleção que já recebeu dois prêmios Jabuti. Para este ano, entre outros livros, está prevista a publicação da correspondência entre Mário de Andrade e Oswald de Andrade, sob a edição de Gênese Andrade. Bastante aguardada, essa obra talvez lance alguma luz sobre a tão comentada, mas nunca bem compreendida, briga que afastou os dois principais protagonistas da Semana de Arte Moderna.

Com moderação de Mirhiane Mendes de Abreu, professora da Unifesp, a mesa “Escritas, arquivos e ressignificações” pode ser assistida na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=d-j-Cu0s6-k.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Zélio, o Caboclo das Sete Encruzilhadas: o fundador da umbanda que não é bem aceito por umbandistas atuais (BBC News Brasil)

bbc.com


Edison Veiga – De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

31 dezembro 2021

Retrato em preto e branco
Legenda da foto, Zélio, em foto publicada pelo jornal A Gazeta de São Gonçalo, extinto em 1937

Se a tentativa era criar uma espécie de mito da religião nacional por excelência, elementos simbólicos não faltam na história de como o médium fluminense Zélio Fernandino de Moraes (1891-1975) teria criado a umbanda.

A começar pela data: 15 de novembro de 1908. Sim, um 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República, data portanto da criação do Brasil contemporâneo.

E também pela história: no transe vivido por Zélio, ele teria dialogado com espíritos de negros e indígenas e, por fim, incorporado um padre jesuíta italiano que havia pregado no Brasil colonial — e acusado de bruxaria.

Mais simbólico do sincretismo cultural, étnico e religioso do Brasil, impossível.

Por outro lado, e é esse o ponto que vem sendo revisto e muito criticado por pesquisadores contemporâneos da umbanda, considerar Zélio o precursor dessa religião é também resultado de um processo de embranquecimento — é negar que a umbanda já vinha sendo praticada por negros oriundos da África e seus descendentes em solo brasileiro, é entregar a primazia da religião afrobrasileira a um homem branco.

“Não é um assunto novo: a história de Zélio como fundador da umbanda vem sendo questionada. Eu não o considero fundador da umbanda porque a umbanda é muito anterior a isso”, crava o sociólogo Lucas de Lucena Fiorotti, autor da página Abrindo a Gira, no Instagram.

“Ele se tornou uma figura importante em função do embranquecimento [da umbanda]. Ele é importante para um tipo de umbanda, que no passado queriam chamar de ‘espiritismo de umbanda’. Quem o celebra como fundador da umbanda não tem culpa. A culpa é do projeto de país”, acrescenta Fiorotti.

Para o historiador Guilherme Watanabe, pai de santo do terreiro Urubatão da Guia, em São Paulo e membro fundador do Coletivo Navalha, Zélio é “a representação de uma grande construção histórica”, do “mito de fundação que, a partir dos anos 1960, começa a se fazer no Rio”. “Uma grande mentira”, sentencia.

O que teria acontecido em 1908

Filho de uma família tradicional de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, Zélio estava se preparando para seguir carreira militar na Marinha quando foi acometido por uma paralisia. Ele tinha 17 anos. Acamado por alguns dias, teria declarado que “amanhã estarei curado” e, de fato, no dia seguinte levantou-se como se nada houvesse acontecido.

Diante da surpresa dos médicos, os familiares decidiram recorrer a padres católicos — que também não souberam explicar o que havia sucedido ao jovem.

Para a família, Zélio sofria de distúrbios espirituais. Então, por indicação de um amigo, levaram-no até a Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, então sediada em Niterói.

O médium presidente da entidade teria organizado uma sessão espírita, com Zélio à mesa. Na ocasião, conforme relatos da época, houve a manifestação de espíritos de ancestrais africanos, os chamados “pretos-velhos”, e indígenas, os “caboclos”.

O dirigente da sessão, então, teria classificado tais espíritos como atrasados e solicitado que eles se retirassem. Foi quando Zélio acabaria incorporando uma entidade, o chamado “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, em defesa dos pretos-velhos e dos caboclos. E disse que se ali não houvesse espaço para que negros e indígenas “cumprissem sua missão”, ele, o tal caboclo, fundaria no dia seguinte um novo culto — na casa de Zélio.

Seria então 15 de novembro de 1908. E, para muitos, se trata do marco fundador da umbanda, como uma nova religião do Brasil.

A partir do episódio, Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas seriam identidades indissociáveis. De acordo com o médium, a entidade seria a manifestação do padre jesuíta italiano Gabriel Malagrida (1689-1761), um missionário que chegou a andar pelo Brasil catequizando indígenas e, mais tarde, acusado de bruxaria e heresia, foi morto pela fogueira da Inquisição em Lisboa.

“Ele é caboclo mas, dentro do mito, também é um padre jesuíta. O que cria uma disforia total, uma loucura promovida pelo processo de embranquecimento [da umbanda]”, diz Fiorotti.

Crédito: Domínio Público. Ilustração antiga e recortada do padre Gabriel Malagrida, morto pela Inquisição em Lisboa

Segundo a narrativa de Zélio, na “última existência física”, Deus teria concedido a Malagrida “o privilégio de nascer como caboclo brasileiro”.

Com esse caldo cultural multiétnico, estava criado o mito da fundação da umbanda.

‘Embranquecimento’

Conforme explica o sacerdote de umbanda David Dias, pesquisador em ciência da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a história de Zélio pode ser vista sob duas óticas.

“A primeira traz sua vida contada por meio dos manuais de umbanda e mantida pela sua família, a qual assegura sua memória até os dias de hoje. Já a segunda é contada por meio de um mito de criação onde cada um que conta aumenta uma ponta, deixando na história contada uma lenda de existência questionável”, pondera ele.

Dias lembra que um dos relatos atesta que, entre a consulta médica, o conselho dos padres e a famosa sessão espírita, Zélio teria sido levado a uma benzedeira do Rio. E fora ela, incorporando um preto-velho, que dera a sentença: àquele jovem seria reservada uma grande missão pela frente.

O pesquisador ressalta que há ainda um fato importante que só reforça a ideia de que muitos detalhes não tenham passado de ficção para azeitar uma mitologia da fundação.

“Na ata de 15 de novembro de 1908 da citada federação [espírita] não há registros destes fatos, o nome do dirigente da suposta sessão não confere com a história, nem mesmo o nome de Zélio se faz presente”, afirma Dias.

Por fim, ele lembra ainda que a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas também apresenta “incongruências”.

Segundo especialistas, a história de Zélio como fundador da umbanda foi uma construção que passou a tomar forma nos anos 1960, quando o médium já era idoso.

Em 1961, a jornalista e umbandista Lilia Ribeiro publicou pela primeira vez essa versão no jornal informativo Macaia, ligado à Tenda de Umbanda Luz, Esperança e Caridade, da qual ela era dirigente.

Após a morte de Zélio, essa narrativa se consolidou. Em dezembro de 1978, por exemplo, a Revista Planeta, publicação da Editora Três que hoje não circula mais, trouxe uma grande reportagem intitulada Como surgiu a umbanda em nosso país: 70o. aniversário de uma religião brasileira, na qual todos os elementos dessa mitologia fundadora estavam presentes.

Fiorotti acredita que então Zélio se torna “uma figura importante para a umbanda hegemônica”.

Mas que tudo seria um esforço sistêmico para apagar as raízes realmente africanas — e anteriores ao século 20.

“Há indícios de que já havia práticas de umbanda muito semelhantes tanto em ritualística quanto em estética ao que acontece hoje muito antes de 1908”, diz ele.

“Essa umbanda que tem Zélio como fundador é uma umbanda muito associada ao espiritismo em si. Mas há diversos autores que se sentem contemplados por essa narrativa e eles são pessoas fortemente associadas ao espiritismo e a algumas ideias esotéricas, místicas. Fogem da vivência do terreiro de fato. A estrutura umbandista já existia no século 19.”

Crédito: Reprodução/Correios. Selo em homenagem a Zélio de Moraes

Watanabe lembra que a própria palavra umbanda vem das línguas quimbundo e umbundu da África Central e “significa algo como arte ou maneira de curar”.

“É uma palavra que existe há muito tempo e, como sendo arte ou maneira de curar, se trata de uma prática medicinal e espiritual feita por um médico feiticeiro”, contextualiza.

“Algo que já era praticado por centro-africanos desde muito tempo atrás e, a partir da diáspora, do tráfico de escravizados, acaba sendo trazido ao Brasil. Por isso, no Rio de Janeiro do século 19 já havia diversas casas de feiticeiros africanos.”

Para Fiorotti, a mitologia de Zélio é, na verdade, a tentativa do “embranquecimento da umbanda, dentro da ideia da democracia racial, de que não há racismo no Brasil, de que as relações raciais são simétricas”.

“Essa umbanda do Zélio está na esteira desse país que começa a se pensar como mestiço para disfarçar os problemas das relações sociais”, aponta.

Assim, Zélio teria sido “usado” como “uma história privilegiada para encarnar a umbanda da democracia racial”, enfatiza o pesquisador.

E a consolidação desse estilo deixou como legado uma série de “descaracterização das divindades, dos orixás, dos espíritos”.

“Por exemplo, ao dizer que um caboclo, que é indígena, pode ser um branco. Ou dizendo que um preto-velho pode ser uma pessoa branca. São absurdos. Mas a partir dessa umbanda [de Zélio], isso passou a ser possível”, exemplifica.

“Zélio é a história de um homem branco classe média que se apropria da cultura dos centro-africanos e seus descendentes”, resume o historiador Watanabe. “Além disso, apaga e invisibiliza a cultura dos centro-africanos ao se dizer fundador de algo que, na verdade, já existia.”

E de onde vêm as sete encruzilhadas? A resposta está na própria ideia umbandista do que é uma encruzilhada.

“É um conceito: estar na encruzilhada, ao contrário do que as pessoas costumam pensar, é desejável. Porque tudo é feito de caminhos. Um caminho reto, sem possibilidades, não é desejável. O desejável é estarmos na encruzilhada, onde não há caminho fechado”, explica o sociólogo Fiorotti.

“Sete encruzilhadas, assim, é o infinito de possibilidades”, conclui ele.

A new DNA study offers insight into the horrific story of the trans-Atlantic slave trade (CNN)

By Harmeet Kaur, CNN

Updated 1438 GMT (2238 HKT) July 26, 2020 – original article

This drawing of the Liverpool slave ship Brooks was commissioned by abolitionists to depict the inhumanity of the slave trade by showing how Africans were crammed below decks.

This drawing of the Liverpool slave ship Brooks was commissioned by abolitionists to depict the inhumanity of the slave trade by showing how Africans were crammed below decks.

(CNN) Much of what we know about the horrors of slavery in the Americas comes from historical records. But new research shows that evidence of the slave trade’s atrocities can also be found in the DNA of African Americans.

A study conducted by the consumer genetics company 23andMe, published Thursday in theAmerican Journal of Human Genetics, offers some new insight into the consequences of the trans-Atlantic slave trade, from the scale at which enslaved Black women were raped by their White masters to the less-documented slave trade that occurred within the Americas.

It’s one of the largest studies of its kind, thanks in part to the massive database of 23andMe customers that researchers were able to recruit consenting participants from.

The authors compiled genetic data from more than 50,000 people from the Americas, Western Europe and Atlantic Africa, and compared it against the historical records of where enslaved people were taken from and where they were enslaved. Together, the data and records tell a story about the complicated roots of the African diaspora in the Americas.

For the most part, the DNA was consistent with what the documents show. But, the study authors said, there were some notable differences.

Here’s some of what they found, and what it reveals about the history of slavery.

It shows the legacy of rape against enslaved women

The enslaved workers who were taken from Africa and brought to the Americas were disproportionately male. Yet, genetic data shows that enslaved women contributed to gene pools at a higher rate.

In the US and parts of the Caribbean colonized by the British, African women contributed to the gene pool about 1.5 to 2 times more than African men. In Latin America, that rate was even higher. Enslaved women contributed to the gene pool in Central America, the Latin Caribbean and parts of South America about 13 to 17 times more.

To the extent that people of African descent in the Americas had European ancestry, they were more likely to have White fathers in their lineage than White mothers in all regions except the Latin Caribbean and Central America.

What that suggests: The biases in the gene pool toward enslaved African women and European men signals generations of rape and sexual exploitation against enslaved women at the hands of White owners, authors Steven Micheletti and Joanna Mountain wrote in an email to CNN.

That enslaved Black women were often raped by their masters “is not a surprise” to any Black person living in the US, says Ravi Perry, a political science professor at Howard University. Numerous historical accounts confirm this reality, as the study’s authors note.

But the regional differences between the US and Latin America are what’s striking.

The US and other former British colonies generally forced enslaved people to have children in order to maintain workforces — which could explain why the children of an enslaved woman were more likely to have an enslaved father. Segregation in the US could also be a factor, the authors theorized.

By contrast, the researchers point to the presence of racial whitening policies in several Latin American countries, which brought in European immigrants with the aim of diluting the African race. Such policies, as well as higher mortality rates of enslaved men, could explain the disproportionate contributions to the gene pool by enslaved women, the authors wrote.

It sheds light on the intra-American slave trade

Far more people in the US and Latin America have Nigerian ancestry than expected, given what historical records show about the enslaved people that embarked from ports along present-day Nigeria into the Americas, according to the study.

What that suggests: This is most likely a reflection of the intercolonial slave trade that occurred largely from the British Caribbean to other parts of the Americas between 1619 and 1807, Micheletti and Mountain wrote.

Once enslaved Africans arrived in the Americas, many were put on new ships and transported to other regions.”

Documented intra-American voyages indicate that the vast majority of enslaved people were transported from the British Caribbean to other parts of the Americas, presumably to maintain the slave economy as transatlantic slave trading was increasingly prohibited,” the authors wrote in the study.

When enslaved people from Nigeria who came into the British Caribbean were traded into other areas, their ancestry spread to regions that didn’t directly trade with that part of Africa.

It shows the dire conditions enslaved people faced

Conversely, ancestry from the region of Senegal and the Gambia is underrepresented given the proportion of enslaved people who embarked from there, Micheletti and Mountain said.

The reasons for that are grim.

What that suggests: One possible explanation the authors gave for the low prevalence of Senegambian ancestry is that over time, more and more children from the region were forced onto ships to make the journey to the Americas.

The unsanitary conditions in the holds of the ship led to malnourishment and illness, the authors wrote, meaning that less of them survived.

Another possibility is the dangerous conditions that enslaved people from the region faced once they arrived. A significant proportion of Senegambians were taken to rice plantations in the US, which were often rampant with malaria, Micheletti and Mountain said.

The study has limitations

The 23andMe study is significant in how it juxtaposes genetic data with historical records, as well as in the size of its dataset, experts who weren’t involved in the study told CNN.

“I’m not aware of anyone that has done such a comprehensive job of putting these things together, by a long shot,” said Simon Gravel, a human genetics professor at McGill University. “It’s really big progress.”

Still, he said, the research has its limitations.

In order to conduct their analysis, the scientists had to make “a lot of simplifications,” Gravel said. The researchers broke down African ancestry into four corresponding regions on the continent’s Atlantic Coast: Nigerian, Senegambian, Coastal West African and Congolese.”

That doesn’t tell you the whole story,” Gravel added, though he said more data is needed in the broader field of genomics for the researchers to drill down deeper.

Jada Benn Torres, a genetic anthropologist at Vanderbilt University, also said she would have liked to see a higher proportion of people from Africa included in the study. Out of the more than 50,000 participants, about 2,000 were from Africa. “

From the perspective of human evolutionary genetics, Africa is the most genetic diverse continent,” she wrote in an email to CNN. “In order to adequate capture existing variation, the sample sizes must be large.”

But both Gravel and Benn Torres called the study an exciting start that offers more information about the descendents of enslaved Africans.

And that, the researchers, said was what they set out to do.”

We hope this paper helps people in the Americas of African descent further understand where their ancestors came from and what they overcame,” Micheletti wrote.

“… To me, this is the point, to make a personal connection with the millions of people whose ancestors were forced from Africa into the Americas and to not forget what their ancestors had to endure.”