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A Ciência Política brasileira também odeia os povos indígenas? (Boletim Lua Nova)

Leonardo Barros Soares[1]

No fim de 2016, o cientista político professor da universidade de Wisconsin-Milwalkee, Kennan Ferguson, publicou um artigo na revista da American Political Science Association com o título provocativo “ Why does Political Science hate American Indians?” (“Por que a Ciência Política odeia os índios norte-americanos?”, em tradução livre). O texto é uma espécie de ensaio crítico que parte do que o autor considera verdades incontroversas: 1. Há poucos professores indígenas nos departamentos de Ciência Política dos EUA; 2. Poucos assuntos indígenas são tomados, por cientistas políticos, como assuntos políticos importantes; 3. Poucos pontos de vistas de povos indígenas são considerados criticamente dentro da disciplina e; 4. Poucos intelectuais, acadêmicos ou discursos de ativistas indígenas são parte dos programas dos cursos da área.

Não é preciso uma investigação de muita envergadura para constatar que estes pontos se aplicam integralmente ao caso brasileiro. Você, cientista político que me lê, conhece algum colega professor que é indígena? Considera que a política indigenista ou qualquer outro tema ligado aos povos indígenas brasileiros é importante? Os pontos de vista indígenas estão incluídos criticamente em nossos programas de cursos? Se a resposta é negativa a todas essas perguntas – como eu tenho certeza de que são – talvez caiba perguntar, ecoando o texto de Ferguson: a Ciência Política brasileira também odeia os povos indígenas do país?

Nesse texto, busco apresentar brevemente as oito hipóteses de trabalho levantadas por Ferguson no referido texto para explicar o que ele denomina de “processo de eliminação” dos povos indígenas do radar disciplinar da Ciência Política. Devido ao escopo exíguo, o intuito aqui é tão somente o de iniciar algum debate entre nós. Em que pese o fato de que foram pensadas a partir da percepção de Ferguson para os Estados Unidos, como veremos a seguir, as reflexões do autor se aplicam, quase que sem necessidade de qualquer mediação, para o caso brasileiro.  

Antes de adentrarmos na lista de hipóteses, duas palavras. Primeiramente, está para ser publicado na Revista Brasileira de Ciência Política meu artigo no qual traço um amplo diagnóstico do desinteresse da Ciência Política sobre questões indígenas. Nele também demonstro que há exemplos muito interessantes de cientistas políticos não- indígenas e indígenas – sim, eles existem, mas ainda não aqui no Brasil- fazendo trabalhos excepcionais no Canadá, país que parece ser o exemplo também para Ferguson. Aliás, cabe ressaltar que a Canadian Political Science Association talvez seja a única associação profissional do campo que tem um comitê de reconciliação com os povos indígenas do país e que oferece um conjunto de referências sistematizadas para que os professores possam incluir em seus cursos. “Fica a dica” para a Associação Brasileira de Ciência Política, e para conferirem o artigo.

Em segundo lugar,  é forçoso reconhecer que as hipóteses de Ferguson são mais amplas do que as que eu estava desenvolvendo até o momento. Eu julgava que a Ciência Política brasileira não se interessava por povos indígenas basicamente por três motivos: 1. O processo progressivo de especialização das disciplinas científicas e a consequente eleição de certos “objetos” de pesquisa canônicos, quando a questão indígena virou tema cativo da antropologia; 2. O proverbial internalismo da disciplina, ou seja, sua dificuldade de dialogar com outros campos do conhecimento, especialmente a antropologia nacional e; 3. Racismo e ignorância puras e simples, fruto do completo desconhecimento da história e do presente dos povos indígenas brasileiros, o que facilita a perpetuação de uma série de estereótipos perniciosos ligados a uma suposta arcaicidade do modo de fazer política indígena.

Como veremos a seguir, há mais razões do que essas por mim elencadas. Vamos a elas.

As hipóteses de Ferguson sobre o processo de eliminação da temática indígena do campo disciplinar da Ciência Política

  1. A disciplina é estruturada em torno do conceito de estado-nação, um conceito amarrado em torno de uma série de premissas sobre soberania territorial que exclui as vítimas do colonialismo: O conceito de estado-nação é certamente um dos mais importantes e centrais do campo, tomado como unidade de análise precípua de estudos quantitativos e qualitativos de todos os tipos. Ferguson chama a atenção para a necessidade de que falta à disciplina uma reflexão mais profunda e crítica sobre o conceito, de modo a trazer à baila a violência do processo colonial que expulsou indígenas de seus territórios tradicionais e exterminou-os quando possível. Ademais, um conceito monolítico de soberania territorial exclui da equação política o fato de que muitos povos indígenas nunca foram “conquistados” ou “cederam” suas terras para a potência colonizadora, e que remanescem se autocompreendendo como nações soberanas que têm direito a algum grau de controle sobre o território em que habitam. Colega cientista político, você conhece e saberia  elencar os povos indígenas brasileiros e suas reivindicações por soberania territorial?
  2. A Ciência Política sofre de um viés anti-histórico: segundo o autor, a Ciência Política mainstream tem uma parca compreensão dos fenômenos históricos e dificuldade de trabalhar com um conceito de “historicidade rica”. Ademais, ao se aproximar de disciplinas como a Economia, busca mais capacidade preditiva sobre o futuro do que a investigação consequente do passado. Por fim, em suas palavras, “a história para a Ciência Política é o historicismo Whig, uma forma de contar os eventos do passado como um conto procedimental de progressivo acúmulo de riqueza, felicidade e equidade” (p.1032, tradução nossa). Mais uma vez, você seria capaz de falar da história da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas e sua evolução ao longo dos séculos?
  3. A política dos grupos de interesse é o tema central para a Ciência Política e, sob esse prisma, os povos indígenas são apenas mais um grupo de interesse: enxergar os povos indígenas como um grupo de interesse “a mais” dentre os demais grupos políticos tem o condão de minimizar a distinção de suas demandas políticas. Estas, grosso modo, são caracterizadas, sobretudo, pela luta pelo reconhecimento de sua legitimidade enquanto atores que almejam deter algum grau de autodeterminação cultural e material em face à pressão por seu desaparecimento ou integração forçada à sociedade colonizadora. Caracterizados assim, grupos indígenas podem facilmente ser integrados a esquemas analíticos em pesquisas sobre “não-brancos”, o que diminui a capacidade de entendimento de suas demandas específicas. Você sabe qual é a pauta de reivindicações da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil?
  4. A centralidade de análises a partir do sistema legal da sociedade nacional exclui as investigações sobre os sistemas legais criados pelos povos indígenas: Em que pese o fato de que o debate recente sobre o chamado Novo Constitucionalismo Latino-Americano tenha colocado em evidênciaas novas constituições da região que, em larga medida, incluíram dispositivos relativos aos direitos dos povos indígenas, a perspectiva de que cientistas políticos trabalhariam com outro paradigma constitucional que não do estado-nação é, para dizer o mínimo, pouco plausível. O debate sobre sistemas legais criados por povos indígenas ainda está confinado a algumas pesquisas no campo do Direito no Brasil e mais avançada em outros países. Colega cientista político, você conhece algum sistema legal instituído por algum povo indígena? Esses códigos legais são escritos ou orais? Em que medida eles se relacionam com o sistema político e jurídico da sociedade circundante?
  5. Mesmo as disciplinas potencialmente mais abertas a receberem contribuições indígenas estão eivadas pelo pressuposto da superioridade europeia: Ferguson argumenta que há dois pressupostos conectados em certas disciplinas do currículo dos cientistas políticos  que facilitam a exclusão dos povos indígenas: a ideia de que autores europeus construíram conceitos universais inquestionáveis e; a ideia de que o conhecimento válido é aquele em formato de texto, o que exclui toda a reflexão política indígena incorporada, por exemplo, em forma de pinturas, cantos ou objetos artesanais. De fato, hoje parece mais comum que o chamado “pensamento decolonial” se torne uma disciplina à parte no currículo dos cientistas políticos do que um componente que atravessa “por dentro” as formulações clássicas de autores tais como Locke, Hobbes e Rousseau. Por outro lado, também parece impensável a ideia de questionar o conceito de soberania territorial a partir, digamos, da exegese de uma “Wampum Belt” (cordões de contas utilizadas por indígenas canadenses para celebrar a realização de um tratado com a coroa britânica). Ou você, colega cientista político, está disposto a mergulhar profundamente no significado político das pinturas corporais de um determinado povo indígena para produzir conhecimento a partir dessa perspectiva?
  6. As categorias consideradas políticas por excelência são de difícil tradução para os contextos indígenas: categorias tais como “líder político”, ou “propriedade fundiária individual”, por exemplo, são inexistentes em muitos povos indígenas. Cientistas políticos normalmente são ávidos por esculpir variáveis independentes e dependentes claramente separadas uma das outras, ou trabalhar com atores e instituições políticas monolíticas, artifícios redutores da complexidade inerente à organização política dos povos indígenas. Assim, um problema de incomensurabilidade conceitual pode ser um desafio a mais para indígenas que queiram adentrar o mundo do campo da Ciência Política e, inversamente, para analistas que possam se interessar pelo tema indígena.
  7. O indivíduo liberal auto orientado da escolha racional como unidade de análise é uma abstração teórica que deslegitima as formas coletivas de pertencimento e de ação: se o Estado é uma ficção teórica que invisibiliza as violências cometidas contra os povos indígenas, assim o é a ideia de indivíduos racionais que agem motivados pela maximização de sua satisfação. A antropologia é pródiga em estudos demonstrando a complexidade das afiliações comunitárias e ontológicas dos povos indígenas brasileiros, e o pressuposto o indivíduo racional-maximizador deve ser profundamente revisto quando da realização de pesquisas relacionadas aos povos indígenas.
  8. Por fim, a própria estrutura institucional do sistema universitário dificulta o acesso e a conexão dos povos indígenas à disciplina: em primeiro lugar, é evidente que muitas universidades estão localizadas distantes das terras indígenas, o que traz uma dificuldade real de presença de indígenas nos campi das instituições. Além disso, a despeito do fato de que já há uma razoável difusão de cotas para indígenas em cursos de graduação, estas ainda são pouco comuns em nível de pós-graduação. Em suma, há uma série de entraves estruturais para que povos indígenas formem seus intelectuais e possam pautar debates acadêmicos de dentro das universidades.

As hipóteses de Kennan Ferguson aqui apresentadas são provocativas e eu espero que possamos, enquanto grupo de scholars do campo da Ciência Política, refletir criticamente sobre cada uma delas. Assim, quem sabe, possamos ter menos receio, no futuro, de respondermos à pergunta que dá título a esse texto.

Referências     

FERGUSON, Kennan. Why does Political Science Hate American Indians? In:  Perspectives on Politics nº.14.vol. 4, 2016.

SOARES, Leonardo Barros Soares: A ausência eloquente: ciência política brasileira, povos indígenas e o debate acadêmico canadense contemporâneo. In: Revista Brasileira de Ciência Política. No prelo.

Referência imagética


[1] Doutor em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Realiza Estágio pós-doutoral no Departamento de Estudos Latino-americanos da Universidade de Brasília (ELA/UnB). Membro do Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (LAGERI/UnB) e do Réseau d’études Latinoamericaínes de Montréal (RÉLAM/Université de Montréal). E-mail: leobarros@ufpa.br.   

Eduardo Góes Neves: ‘O Brasil não tem ideia do que é a Amazônia’ (Gama)

Fabrizio Lenci

A mentalidade colonial, o racismo ambiental e a política são os maiores desafios da floresta. A análise é do arqueólogo Eduardo Góes Neves

Isabelle Moreira Lima – 30 de Agosto de 2020

A Amazônia é uma incompreendida. É regida por uma mentalidade colonial, com decisões tomadas de fora para dentro. E é justamente por isso que sua preservação é um imenso desafio. A análise é do arqueólogo Eduardo Góes Neves, que pesquisa a Amazônia há 30 anos. Professor Titular de Arqueologia Brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, onde é vice-diretor, ele mantém a pesquisa de campo em estados como Rondônia e Acre pelo menos três meses por ano.

Para continuar a leitura acesse o conteúdo completo, disponível no link: https://gamarevista.com.br/semana/o-que-sera-da-amazonia/entrevista-eduardo-goes-neves-floresta-amazonica

O que não queremos ver nos nossos índios (OESP)

27/4/2015 – 01h02

por Washington Novaes*

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Notícia de poucos dias atrás (Diário Digital, 19/4) dá conta de pesquisa (relatada pela revista Science) de um grupo de cientistas que, trabalhando na fronteira Brasil-Venezuela com índios ianomâmis, conclui que eles têm anticorpos resistentes a agentes externos – “um microbioma com o nível mais alto de diversidade bacteriana” jamais registrado em qualquer outro grupo. Por isso mesmo, “seu sistema imunológico apresenta mais microrganismos e de todas as bactérias que o dos demais grupos humanos conhecidos” – como demonstrou o sequenciamento de DNA e de bactérias encontradas na pele, na boca e nos intestinos.

Essas análises foram confirmadas por pesquisas em universidades norte-americanas, que recentemente devolveram aos ianomâmis 2.693 amostras de sangue levadas para os Estados Unidos em 1962 – e que agora foram sepultadas pelos índios em cerimoniais respeitosos. Segundo os pesquisadores, na relação com outros grupos humanos esses índios perdem a diversidade de microrganismos e se tornam vulneráveis a doenças que antes não conheciam.

A memória dá um salto e retorna a 1979, quando o autor destas linhas, então chefe da redação do programa Globo Repórter, da Rede Globo, foi pela primeira vez ao Parque Indígena do Xingu documentar um trabalho que ali vinha sendo feito por uma equipe de médicos da Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo), liderada pelo professor Roberto Baruzzi. Os pesquisadores acompanhavam a saúde de cada índio de várias etnias do sul do Xingu, mantinham fichas específicas de todos e as comparavam com a visita anterior. A conclusão era espantosa: não havia ali um só caso de doenças cardiovasculares – exatamente porque, vivendo isolados, os índios não tinham nenhum dos chamados fatores de risco dessas doenças: não fumavam, não bebiam álcool, não tinham vida sedentária nem obesidade, não apresentavam hipertensão, não consumiam sal (só sal vegetal, feito com aguapé) nem açúcar de cana. Saindo do Xingu, fomos documentar grupos de índios caingangues e guaranis aculturados que viviam nas proximidades de Bauru (SP). Os que trabalhavam eram boias-frias e os demais, mendigos, alcoólatras, com perturbações mentais. Praticamente todos eram hipertensos, obesos, com taxas de mortalidade altas e precoces. A comparação foi ao ar num documentário, As Razões do Coração, que teve índices altíssimos de audiência.

São informações que deveriam fazer parte de nossas discussões de hoje, quando estamos às voltas com várias crises na área de saúde – epidemias de dengue (mais de 220 casos novos por hora, 257.809, ou 55% do total, em São Paulo), índices altíssimos de obesidade, inclusive entre jovens e crianças, doenças cardiovasculares entre as mais frequentes causas de morte. Mas em lugar de prestar atenção aos modos de viver de indígenas, enquanto ainda na força de sua cultura, continuamos a tratá-los como seres estranhos, que vivem pelados, não falam nossas línguas, não trabalham segundo nossos padrões. A ponto de eles terem agora de se rebelar para que não se aprove no Congresso Nacional, sob pressão principalmente da “bancada ruralista”, uma proposta de emenda constitucional que lhes retira parte de seus direitos assegurados pela constituição de 1988 e transfere da Funai para o Congresso o poder de demarcar ou não terras indígenas.

Com esses rumos acentuaremos o esquecimento de que eles foram os “donos” de todo o território nacional, do qual foram gradativamente expulsos. Mas ainda são quase 1 milhão de pessoas de 220 povos, que falam 180 línguas, em 27 Estados. Agora avança, inclusive no Judiciário, a tese de que só pode ser reconhecido para demarcação território já ocupado efetivamente por eles antes de 1988. E assim cerca de 300 áreas correm riscos.

Só que nos esquecemos também dos relatórios da ONU, do Banco Mundial e de outras instituições segundo os quais as áreas indígenas são os lugares mais eficazes em conservação da biodiversidade – mais que as reservas legais e outras áreas protegidas. Que seus modos de viver são os que mais impedem desmatamentos – esse problema tão angustiante por sua influência na área do clima e dos regimes de chuvas.

Isso não tem importância apenas para o Brasil. A própria ONU, por meio de sua Agência para a Alimentação e Agricultura (FAO), afirma (Eco-Finanças, 17/4) que a “crise da água” afetará dois terços da população mundial em 2050 (hoje já há algum nível de escassez para 40% da população). E que o fator principal será o maior uso da água para produzir 60% mais alimentos que hoje.

Mas há diferenças de um lugar para outro. Os países ditos desenvolvidos, com menos de 20% da população mundial, consomem quase 80% dos recursos físicos; os Estados Unidos, com 5% da população, respondem por 40% do consumo. Segundo a sua própria Agência de Proteção Ambiental, os EUA jogam no lixo 34 milhões de toneladas anuais de alimentos. No mundo, um terço dos alimentos é desperdiçado (FAO, 5/2), enquanto mais de 800 milhões de pessoas passam fome e mais de 2 bilhões vivem abaixo da linha de pobreza. No Brasil mesmo, 3,4 milhões de pessoas passam fome (Folha de S.Paulo, 22/9/2014). A elas podemos somar mais de 40 milhões de pessoas que vivem do Bolsa Família.

Diante de tudo isso, vale a pena lembrar o depoimento do saudoso psicanalista Hélio Pellegrino, no livro Noel Nutels – Memórias e Depoimentos, sobre o médico que dedicou sua vida a grupos indígenas. “Se estamos destruindo os índios”, escreveu Hélio Pellegrino, “é porque nossa brutalidade chegou a um nível perigoso para nós próprios. Os índios representam a possibilidade humana mais radical e íntima de transar com a natureza (…). Homem e natureza são casados (…). Dissolvido esse casamento, o homem tomba num exílio feito de poeira amarga e estéril”. (O Estado de S. Paulo/ #Envolverde)

Washington Novaes é jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br.

** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

(O Estado de S. Paulo)