Arquivo mensal: setembro 2023

Ciência Fundamental: A ciência da complexidade como chave da sustentabilidade (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

O pensamento de rede liga de forma inovadora a conservação e o uso dos recursos naturais

Rafael L. G. Raimundo

29 de setembro de 2023


Estudante de biologia no ano 2000, um dia eu cruzava a Unicamp rumo a uma reunião no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Contrariado, pensava como um antropólogo poderia me ajudar na aplicação da ecologia teórica para a conservação da natureza. Prossegui com resignação e certa curiosidade. Afinal, quem me havia mandado ali fora Keith Brown Jr., um dos fundadores da ciência ecológica brasileira e meu professor à época. Ele sabia da minha visão sobre a falta de serventia das ciências humanas para as abordagens quantitativas em pesquisa ambiental que me interessavam. Também sabia que eu estava errado.

Ainda alheio à dimensão do caminho entre a biologia e as humanidades, cheguei à sala da reunião para, desavisadamente, encontrar outro nome lendário da ciência ambiental. O antropólogo Mauro Almeida cochilava em sua escrivaninha, mas abriu os olhos e se pôs a digitar quando entrei. Logo me encarou: “Você deve ser o rapaz da biologia que quer falar de evolução e conservação, não?”.

Uma década antes, Almeida e Brown Jr. haviam liderado o movimento científico que apoiou a criação da primeira reserva extrativista brasileira, no Alto Juruá acreano. Combinando ecologia, antropologia e ideias inovadoras sobre governança, fizeram história. A questão que os movia era: podem comunidades locais gerar dados sobre ecossistemas, produção e qualidade de vida para gerir recursos com autonomia? Essa pergunta, bem sabiam, cruzava as fronteiras da ciência.

A gestão com pesquisa participativa no Juruá era uma dentre as múltiplas respostas ao influente artigo do ecólogo norte-americano Garrett Hardin, “A tragédia dos comuns”, publicado em 1968 na revista Science. Hardin havia delimitado um problema ainda atualíssimo: como evitar que indivíduos livres ajam de forma egoísta, maximizando lucros imediatos, destruindo recursos comuns e degradando suas condições de vida?

A norte-americana Elinor Ostrom, que recebeu o Nobel de Economia em 2009, superou a dicotomia radical entre privatização e controle estatal como possíveis soluções ao mostrar que o comportamento coletivo humano pode, sim, ser compatível com a conservação em condições de autogoverno. Podemos extrair princípios de boa governança coletiva de recursos a partir de diversos exemplos.

Mas as soluções propostas para a tragédia dos comuns ainda não consideravam adequadamente os processos ecológicos e evolutivos que geram e mantêm a biodiversidade. E a aceleração do Antropoceno – a época geológica moldada pela atividade humana – intensificava uma realidade de colapso ecossistêmico crescente. A tragédia seguia seu curso.

Estimulado por Mauro Almeida, me fixei no Juruá entre 2006 e 2009. Trabalhei em gestão e delineamento de políticas públicas voltadas à sustentabilidade. Entretanto, a interface entre ciência e governança ainda parecia fragmentada. Buscando mais integração, voltei para a universidade.

Em meu doutorado na USP, revisitei minha velha conhecida ecologia teórica, agora sob um olhar de redes complexas. Contrastando com o senso comum, a palavra “complexa” aqui não significa “complicada”, mas descreve um sistema que não pode ser compreendido pela soma de seus componentes. A ciência da complexidade estuda as interações entre os componentes do sistema, como conexões entre bairros que formam a rede de mobilidade de uma metrópole, fluxos entre os setores de uma empresa ou interações entre as espécies de um ecossistema.

Na natureza, as redes ecológicas descrevem os múltiplos efeitos que as espécies geram ao interagir. Toda vez que um beija-flor visita uma flor, que uma lagarta consome uma folha ou que uma onça mata uma presa, haverá consequências diretas e indiretas para as populações de outras espécies na intrincada rede da vida. Ao desvendar a organização e as dinâmicas das interações, a ciência de redes desvenda cascatas ecológicas e outros processos que moldam o funcionamento de florestas, lagos ou recifes de coral.

Quando ingressei na UFPB como professor, publiquei um artigo sobre a aplicação de redes adaptativas para restauração ecológica na revista Trends in Ecology and Evolution. O conceito de rede adaptativa se refere às retroalimentações entre mudanças nas características dos componentes (nós) da rede e a estrutura das conexões entre esses componentes (topologia), as quais desencadeiam alterações de estado e comportamentos emergentes no sistema.

Por exemplo, se um predador de topo passa a predar um grande herbívoro ao qual antes ele não tinha acesso, pode desencadear uma cascata de efeitos ecossistêmicos, aliviando a pressão do herbívoro sobre as plantas e influenciando a produtividade primária. A maior disponibilidade de vegetais pode alavancar o crescimento das populações de outros animais que, eventualmente, servirão como novas opções de presas para predadores, gerando mais respostas comportamentais ou evolutivas e, finalmente, reconfigurando a rede de interações.

Modelos de redes adaptativas tratam matematicamente desse vai e vem de cascatas ecológicas que moldam os ecossistemas. Eles são úteis para tentar prever a propagação de efeitos da adição e remoção de espécies no contexto da restauração de ecossistemas. Por exemplo, a erradicação de uma espécie invasora pode gerar cascatas ecológicas ao alterar tamanhos populacionais, interações e características ecológicas das outras espécies.

Essas cascatas também podem surgir da reintrodução de espécies de animais que haviam sido extintas localmente e cumpriam funções ecológicas-chave — as chamadas “engenheiras do ecossistema” — como grandes felinos predadores de topo ou aves frugívoras dispersoras de sementes que faziam a biodiversidade vegetal fluir na paisagem.

Precisamos agora avançar rumo a empreendimentos que combinem modelos de redes adaptativas com experimentos de restauração ecológica em larga escala, criando uma via de mão dupla entre abordagens teóricas e empíricas para viabilizar uma “engenharia da biodiversidade“. Ousar aplicar amplamente a ciência da complexidade é urgente para fazer frente ao colapso funcional dos ecossistemas que testemunhamos de forma generalizada.

Meu próximo passo nessa interface entre ambiente e sociedade será usar modelos de redes adaptativas para entender como mudanças simples na organização socioprodutiva podem se propagar como catalisadoras de sustentabilidade ao reconstruir a biodiversidade e a funcionalidade dos ecossistemas e, ao mesmo tempo, gerar inclusão social e inovação econômica. Ou seja, sigo buscando respostas para a tragédia dos comuns que incluam a perspectiva da ecologia evolutiva para fazer frente aos desafios do Antropoceno.

*

Rafael L. G. Raimundo é professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba – Campus IV.

O blog Ciência Fundamental é editado pelo Serrapilheira, um instituto privado, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Inscreva-se na newsletter do Serrapilheira para acompanhar as novidades do instituto e do blog.

Artissima 2023, all set for the 30th edition of the fair (Finestre sull’Arte)

by Redazione , published on 16/09/2023
Original article

The 30th edition of Artissima will be held from November 3-5, 2023. The theme will be ‘Relations of care. Here are facts and news from the contemporary art fair in Turin.

Everything is ready for the 2023 edition of Artissima, Torino’s contemporary art fair celebrating its 30th edition. Directed for the second year by Luigi Fassi and realized with the support of Main Partner Intesa Sanpaolo, the 30th edition of Artissima will be held from Friday, November 3 to Sunday, November 5, 2023, as always at theOval spaces in Turin, which will host the fair’s four established sections – Main Section, New Entries, Monologue/Dialogue and Art Spaces & Editions – and the three curated sections – Drawings, Present Future and Back to the Future – that are also hosted on the digital platform Artissima Voice Over. The 2023 edition of Artissima features a total of 181 Italian and international galleries, 68 of which are proposing monographic and curated projects to better present their artists’ work to the public.

“The 30th edition of Artissima in Turin,” explains director Fassi, “recounts the fair’s ability to draw a design vision from its three decades of activity to continue projecting into the future, deploying the strength of its Italian and international network. All of this has been made possible through intensive global research and scouting to continue to offer collectors and museum operators the excitement of meeting galleries and artists of the highest caliber from Europe, the Americas, Africa and Asia. The nearly forty galleries participating in Artissima for the first time in 2023, along with countless confirmations and returns, testify to the fair’s attractiveness and its ability to be a catalyst for experimentation, research, and market investment in the arts. As made manifest by an archive of three decades of activity, again this year those who bet on Artissima – gallerists, collectors, curators and visitors – will be rewarded by the discovery that they have been able to intercept in Turin the works and artists who are the protagonists of the near future.”

Welcoming the public to Artissima will be the installation LaCittaDinAmica: a labyrinth of transparent alvelular polycarbonate panels, illuminated with polychromatic reflections born from the encounter between natural light and the colors of the panels, which will be placed at the main entrance of the pavilion thanks to the dialogue between Jacopo Foggini and the company Dott.Gallina. After being presented in Milan on the occasion of Fuorisalone 2023, the intervention conceived by Foggini lands in Turin as well, seeing its elements cut and tilted, in an allegory of plasticity toward change, with a new labyrinthine pattern rearrangement.

The theme of Artissima 2023 is Relations of Care, a concept developed in a recent essay by Brazilian anthropologist Renzo Taddei, professor at the Universidade Federal de São Paulo in Brazil, dedicated to formulating a hypothesis for overcoming the crises of our time by taking inspiration from indigenous Amazonian thought. Relations of Care identifies and proposes care as the premise and ultimate goal of the advancement of knowledge, which must be, first and foremost, aimed at preserving the diversity and value of every form of life in the world we inhabit.

In the essay Intervention of Another Nature: Resources for thinking in (and out of) the Anthropocene, published in the collected volume Everyday Matters (Ruby Press, Berlin, 2022), Renzo Taddei reflects on the need to validate all forms of knowledge and production of new knowledge only from a radical dimension of care that opens to an unprecedented sense of responsibility toward the natural world and all the species that inhabit it. By adopting such a reversal of perspective, Western-minded thought nurtures the possibility of opening up to a new imaginary, inspired by the model of the indigenous communities of the Amazon, which have always placed at the center of their existence the care of the environment and surrounding nature as fundamental elements for survival. Taddei thus invites us to follow this model of thought, abandoning any ideology of Western man’s otherness and superiority to nature, in order to reconnect with other forms of knowledge and coexistence and thus generate new possible relationships of care. Care imagined through the insights generated by the artists’ art and thought nourishes social and individual sensibilities and becomes a matrix of all the relationships that form the fabric of our lives.

Artissima also promotes numerous awards for artists and galleries in collaboration with art institutions, partner companies and foundations, which are confirmed and renewed for the 30th edition. In fact, the 2023 edition will be enriched by two important novelties: the Diana Bracco Prize – Women Entrepreneurs in Art promoted by Fondazione Bracco in collaboration with the Roberto De Silva and Diana Bracco Foundation of Milan, and the Pista 500 Prize promoted by Pinacoteca Agnelli. In addition, the historic Fondo Acquisizioni promoted by Fondazione per l’Arte Moderna e Contemporanea CRT is increased to 200,000 euros on the occasion of the fair’s 30th anniversary. Adding to these novelties is the IDENTITY Fund for New Entries, which supports the participation of three galleries in the section, selected by an exceptional jury composed of the fair’s four previous artistic directors. Also confirming their support are the promoters of the historic and younger awards: illycaffè with the illy Present Future Award; VANNI occhiali with the VANNI occhiali #artistroom Award; Tosetti Value – The Family office with the Tosetti Value Award for photography; Collezione La Gaia with the Matteo Viglietta Award; Fondazione Sardi per l’Arte with the Carol Rama Award; Fondazione per l’Arte Moderna e Contemporanea CRT with the OGR Award; Fondazione Merz with the “ad occhi chiusi….”; Fondazione Oelle with the ISOLA SICILIA Award; MEF Museo Ettore Fico in Turin with the Ettore and Ines Fico Award.

The organization of Artissima is handled by Artissima srl, a company of Fondazione Torino Musei, established in 2008 to manage the artistic and commercial relations of the fair. The Artissima brand belongs to the City of Turin, the Piedmont Region, and the Metropolitan City of Turin. The 30th edition of Artissima is realized through the support of the three brand-owning entities, jointly with Fondazione CRT through Fondazione per l’Arte Moderna e Contemporanea CRT, Fondazione Compagnia di San Paolo, and the Turin Chamber of Commerce.

2022 edition of Artissima
2022 Edition of Artissima

The Sections

The sections of Artissima 2023, as anticipated, are seven in number. Four are selected by the fair’s gallery committee: Main Section brings together a selection of the most representative galleries on the world art scene (this year 98 have been chosen, of which 46 are foreign); New Entries, a section reserved for emerging galleries on the international scene participating in the fair for the first time, will have 17 galleries this year, of which 13 are foreign; Monologue/Dialogue is reserved for emerging galleries and/or those with an experimental approach who intend to present a monographic stand or a dialogue between the works of two artists, with 38 galleries of which 24 are foreign; Art Spaces & Ed itions hosts galleries specializing in artists’ editions and multiples, bookstores, project spaces and nonprofit spaces, with 9 exhibitors.

There are three sections curated by international boards of curators: Drawings, Present Future, Back to the Future. The three curated sections of the fair will be present at the fair with monographic booths and will live on the digital platform Artissima Voice Over with dedicated insights.

The Main Section, New Entries, Monologue/Dialogue, Art Spaces & Editions Committee is formao tda Paola Capata, Monitor gallery, Rome, Lisbon, Pereto; Raffaella Cortese, Raffaella Cortese gallery, Milan; Philippe Charpentier, mor charpentier gallery, Paris, Bogota; Nikolaus Oberhuber, KOW gallery, Berlin; Antoine Levi, Ciaccia Levi gallery, Paris and Milan; Elsa Ravazzolo Botner, A Gentil Carioca gallery, Rio de Janeiro, São Paulo; Guido Costa, Guido Costa Projects gallery, Turin. Curatorial advisors are: Krist Gruijthuijsen, director, KW Institute for Contemporary Art, Berlin; Jacopo Crivelli Visconti, independent curator, São Paulo.

The galleries at Artissima 2023 come from four continents and 33 countries: Austria, Brazil, Canada, China, Colombia, South Korea, Cuba, United Arab Emirates, France, Germany, Greece, Hong Kong, Israel, Italy, Lithuania, Mexico, Netherlands, Poland, Portugal, Czech Republic, United Kingdom, Romania, Slovenia, Spain, United States, South Africa, Switzerland, Thailand, Tunisia, Turkey, Hungary, Uruguay and Zimbabwe. Exhibiting for the first time at the fair are 39 galleries. These include Good Weather (North Little Rock, Little Rock, Chicago), Cristina Guerra (Lisbon), Meyer*Kainer (Vienna), Raster (Warsaw), The Sunday Painter (London), Unit 17 (Vancouver).

The Identity track.

Artissima celebrates its thirtieth anniversary by launching, with the support of the Compagnia di San Paolo Foundation, IDENTITY: a three-year path to enhance the fair’s identity traits that at each edition will offer in-depth project focuses to highlight the strategic lines that in its thirty-year history have contributed to Artissima’s current positioning in the art world.

IDENTITY 2023 is dedicated to the New Entries section that welcomes interesting emerging national and international galleries participating in the fair for the first time. IDENTITY takes concrete form in the activation of IDENTITY Fund for New Entries, an economic fund to support three galleries to participate in the section, and in the realization of New Entries BAR, a special project at the fair curated by Cripta747, aimed at offering the galleries in the section an additional showcase and opportunity to deepen their research.

Artissima 2023 in numbers
Artissima 2023 in numbers

Special projects

There are several special projects also for the 30th edition of Artissima. They start with the New Entries Bar for Identity, a place, a project and a story created with the intention of enhancing the research of the galleries of the New Entries section and their artists within the conceptual platform IDENTITY, supported by the Compagnia di San Paolo Foundation. The New Entries BAR is curated by Cripta747 and will welcome the fair audience in a dedicated area of the pavilion.

Again, Artissima and Juventus continue the dialogue by renewing Artissima Junior, the project that involves young visitors to the fair, between the ages of 6 and 11, in the creation of a choral work of art under the guidance of an artist tutor, who this year will be Eugenio Tibaldi, represented by Umberto Di Marino Gallery in Naples.

Artissima and Fondazione per l’Arte Moderna e Contemporanea CRT, will then present the third episode of the Beyond Production project platform, created in 2021 to reflect on the relationship between new technologies and art. In 2023, Beyond Production Symposium will be presented, a conference with outstanding international speakers, hosted at OGR Turin and open to the public of enthusiasts.

The digital front is also active: thanks to Fondazione Compagnia di San Paolo, which has supported Artissima Digital since 2017, the commitment to amplify the fair experience through the production of digital thematic content and insights on the artissima.art and Artissima Voice Over platforms, dedicated to the three curated sections, continues. In addition to the reconfirmation of the AudioGuides to accompany the public’s visit to the fair, the 2023 edition will be enriched with two new pieces of unreleased content in collaboration with important authors from the cultural world. The in-depth multimedia cultural magazine Lucy. On Culture in dialogue with Brazilian anthropologist Renzo Taddei will explore the many nuances of the Relations of Care edition’s theme, while personalities from the world of art, theater and literature will take turns at the microphones of the new podcast Lo stereoscopio dei solitari, produced in collaboration with Il Giornale dell’Arte, which will be launched during the days of the fair.

Coming to its second edition is the AudioGuide project: Lauretana, a longtime partner of Artissima, is promoting for the second year the podcast project designed to accompany visitors on an autonomous and personal tour of the fair’s stands. The project is part of Artissima Digital powered by Fondazione Compagnia di San Paolo.

Then there will be The Planetary Curator: starting from a reflection on the theme of the edition of Artissima 2023, Relations of Care, CURA. magazine has conceived and curated The Planetary Curator, a series of talks conceived as a single stream of thought and discussion on the theme of care, bringing into dialogue outstanding personalities in the contemporary art scene. The talk series will animate the Meeting Point on Saturday, Nov. 4.

Finally, the Made In project: an academy for young artists that allows them to live in the company and assimilate and incorporate, within their own research, the technological and operational knowledge with which they will come into contact. Born in 2022 thanks to the support of the Turin Chamber of Commerce, Made In announces its second edition and new partner companies-Dr.Gallina, Guido Gobino Cioccolato, Kristina Ti, Pinifarina Architecture-inviting them to discover the works produced during the first edition at the fair.

U.N. Chief’s Test: Shaming Without Naming the World’s Climate Delinquents (New York Times)

nytimes.com

Somini Sengupta

Sept. 19, 2023


António Guterres told world leaders gathered in New York that their efforts to address the climate crisis had come up “abysmally short.”

António Guterres, in dark suit and light blue necktie, speaks at a microphone and gestures with his left hand. Behind him, a blue background with the United Nations logo and the words “United Nations” in several languages.
António Guterres in India this month. “History is coming for the planet-wreckers,” he has said. Credit: Arun Sankar/Agence France-Presse — Getty Images

Somini Sengupta

The world’s top diplomat, António Guterres, the United Nations secretary general, on Tuesday told world leaders their efforts to address the climate crisis had come up “abysmally short” and called on them to do what even climate-ambitious countries have been reluctant to do: stop expanding coal, oil and gas production.

“Every continent, every region and every country is feeling the heat, but I’m not sure all leaders are feeling that heat,” he said in his opening remarks to presidents and prime ministers assembled for their annual gathering in the General Assembly. “The fossil fuel age has failed.”

Mr. Guterres, now in his second and last term, has made climate action his centerpiece issue and has become unusually blunt in his language about the need to rein in the production of fossil fuels and not just focus on reducing greenhouse gas emissions from their use.

As always, he pointed to the world’s 20 largest economies for not moving fast enough. As always, he stopped short of calling on specific countries.

Not China, the world’s coal behemoth. Not Britain or the United States, who both have ambitious climate laws but continue to issue new oil and gas permits. Not the United Arab Emirates, a petrostate where a state-owned oil company executive is hosting the upcoming United Nations climate negotiations — a move that activists have decried as undermining the very legitimacy of the talks.

The contradictions show not only the constraints on Mr. Guterres, a 74-year-old politician from Portugal, but also the shortcomings of the diplomatic playbook on a problem as urgent as global warming.

“The rules of multilateral diplomacy and multilateral summitry are not fit for the speedy and effective response that we need,” said Richard Gowan, who decodes the rituals of the United Nations for the International Crisis Group.

The 2015 Paris climate accord asks only that countries set voluntary targets to address climate pollution. The agreements that come out of annual climate negotiations routinely get watered down, because every country, including champions of coal, oil and gas, must agree on every word and comma.

The secretary general can cajole but not command, urge but not enforce. He doesn’t name specific countries, though nothing in the United Nations Charter prevents him from doing so.

Despite his exhortations, governments have only increased their fossil fuel subsidies, to a record $7 trillion in 2022. Few nations have concrete plans to move their economies away from fossil fuels, and many depend directly or indirectly on revenues from coal, oil and gas. The human toll of climate change continues to mount.

“He has interpreted his role as a sort of truth teller,” said Rachel Kyte, a former United Nations climate diplomat and a professor at the Fletcher School at Tufts University. “The powers available to him as secretary general are awesome but limited.”

On Wednesday, he is deploying a bit of a diplomatic wink-nod. At a Climate Ambition Summit he is hosting , he is giving the mic only to those countries that have done as he has urged, and only if they send a high-level leader, to show that they take the summit seriously. “A naming and shaming device that doesn’t actually require naming and shaming anyone,” Mr. Gowan said.

Diplomatic jockeying around who will get on the list has been intense. More than 100 countries sent in requests to speak, and Mr. Guterres’s aides have in turn requested more information to prove they deserve to be on the list. What have you done on coal phaseout, some have been asked. How much climate funding have you offered? Are you still issuing new oil and gas permits? And so on.

“It’s good to see Guterres trying to hold their feet to the fire,” said Mohamed Adow, a Kenyan activist.

Mr. Guterres has waited until the last possible minute to make public the list of speakers.

The Secretary General has invited neither the United States nor China, the worlds biggest climate polluters, to speak at the summit on Wednesday. Nor has India secured a speaking invitation. Brazil, South Africa and the European Union have.

Expect the awkward.

John Kerry, the United States climate envoy, is expected to attend but not speak. (Mr. Guterres is giving the mic only to high-level national leaders.) It’s unclear whether the head of the Chinese delegation this year, Vice President Han Zheng, will have a speaking role. The European Commission president, Ursula von der Leyen, has secured the mic. Britain’s prime minister, Rishi Sunak, isn’t coming to the General Assembly conclave at all. Sultan al-Jaber, the head of the Emirati oil company, and host of the next climate talks, is scheduled to speak.

Mr. Guterres will also invite companies with what he calls “credible” targets to reduce their climate emissions to participate. Expect to count them with the fingers of one hand.

“If fossil fuel companies want to be part of the solution, they must lead the transition to renewable energy,” he said Tuesday.

Mr. Guterres, who had led the United Nations refugee agency for 10 years before being selected for the top job, didn’t always make climate change his centerpiece issue.

In fact, he didn’t talk about it when he was chosen to head the United Nations in 2016. Climate was seen as the signature issue of his predecessor, Ban Ki-moon, who shepherded through the Paris Agreement in 2015. Mr. Guterres spoke instead about the war in Syria, terrorism, and gender parity in the United Nations. (His choice disappointed those who had pressed for a woman to lead the world body for the first time in its 70-year history.)

In 2018 came a shift. At that year’s General Assembly, he called climate change “the defining issue of our time.” In 2019, he invited the climate activist Greta Thunberg to the General Assembly, whose raw anger at world leaders (“How dare you?” she railed at world leaders) spurred a social media clash with President Donald J. Trump, who was pulling the United States out of the Paris Accord.

Mr. Guterres, for his part, studiously avoided criticism of the United States by name.

By 2022, as oil companies were raking in record profits in the aftermath of the Russian invasion of Ukraine, he amped up his language. “We need to hold fossil fuel companies and their enablers to account,” he told world leaders at the General Assembly. He called for a windfall-profit tax, urged countries to suspend subsidies for fossil fuels and appointed a committee to issue guidelines for private companies on what counts as “greenwashing.”

This year, he stepped into the contentious debate between those who want greenhouse gas emissions from oil and gas projects captured and stored away, or “abated,” and those who want to keep oil and gas tucked in the ground altogether. “The problem is not simply fossil fuel emissions. It’s fossil fuels, period,” Mr. Guterres said in June.

The reactions from the private sector are mixed, said Paul Simpson, a founder and former head of CDP, a nongovernmental group that works with companies to address their climate pollution. Some executives privately say Mr. Guterres is right to call for a swift phaseout of fossil fuels, while others note that most national governments still lack concrete energy transition plans, no matter what he says.

“The question really is, how effective is the United Nations?” Mr. Simpson said. “It has the ability to get governments to focus and plan. But the U.N. itself doesn’t have any teeth, so national governments and companies must act.”

Somini Sengupta is The Times’s international climate correspondent. She has also covered the Middle East, West Africa and South Asia and is the author of the book, “The End of Karma: Hope and Fury Among India’s Young.”

A version of this article appears in print on  , Section A, Page 11 of the New York edition with the headline: U.N. Chief Implores Leaders to Improve on Climate.

Consciousness theory slammed as ‘pseudoscience’ — sparking uproar (Nature)

nature.com

Researchers publicly call out theory that they say is not well supported by science, but that gets undue attention.

Mariana Lenharo

20 September 2023


Scanning electron micrograph of human brain cells.
Some research has focused on how neurons (shown here in a false-colour scanning electron micrograph) are involved in consciousness.Credit: Ted Kinsman/Science Photo Library

A letter, signed by 124 scholars and posted online last week1, has caused an uproar in the consciousness research community. It claims that a prominent theory describing what makes someone or something conscious — called the integrated information theory (IIT) — should be labelled “pseudoscience”. Since its publication on 15 September in the preprint repository PsyArXiv, the letter has some researchers arguing over the label and others worried it will increase polarization in a field that has grappled with issues of credibility in the past.Decades-long bet on consciousness ends — and it’s philosopher 1, neuroscientist 0

“I think it’s inflammatory to describe IIT as pseudoscience,” says neuroscientist Anil Seth, director of the Centre for Consciousness Science at the University of Sussex near Brighton, UK, adding that he disagrees with the label. “IIT is a theory, of course, and therefore may be empirically wrong,” says neuroscientist Christof Koch, a meritorious investigator at the Allen Institute for Brain Science in Seattle, Washington, and a proponent of the theory. But he says that it makes its assumptions — for example, that consciousness has a physical basis and can be mathematically measured — very clear.

There are dozens of theories that seek to understand consciousness — everything that a human or non-human experiences, including what they feel, see and hear — as well as its underlying neural foundations. IIT has often been described as one of the central theories, alongside others, such as global neuronal workspace theory (GNW), higher-order thought theory and recurrent processing theory. It proposes that consciousness emerges from the way information is processed within a ‘system’ (for instance, networks of neurons or computer circuits), and that systems that are more interconnected, or integrated, have higher levels of consciousness.

A growing discomfort

Hakwan Lau, a neuroscientist at Riken Center for Brain Science in Wako, Japan, and one of the authors of the letter, says that some researchers in the consciousness field are uncomfortable with what they perceive as a discrepancy between IIT’s scientific merit and the considerable attention it receives from the popular media because of how it is promoted by advocates. “Has IIT become a leading theory because of academic acceptance first, or is it because of the popular noise that kind of forced the academics to give it acknowledgement?”, Lau asks.If AI becomes conscious: here’s how researchers will know

Negative feelings towards the theory intensified after it captured headlines in June. Media outlets, including Nature, reported the results of an ‘adversarial’ study that pitted IIT and GNW against one another. The experiments, which included brain scans, didn’t prove or completely disprove either theory, but some researchers found it problematic that IIT was highlighted as a leading theory of consciousness, prompting Lau and his co-authors to draft their letter.

But why label IIT as pseudoscience? Although the letter doesn’t clearly define pseudoscience, Lau notes that a “commonsensical definition” is that pseudoscience refers to “something that is not very scientifically supported, that masquerades as if it is already very scientifically established”. In this sense, he thinks that IIT fits the bill.

Is it testable?

Additionally, Lau says, some of his co-authors think that it’s not possible to empirically test IIT’s core assumptions, which they argue contributes to the theory’s status as pseudoscience.Decoding the neuroscience of consciousness

Seth, who is not a proponent of IIT, although he has worked on related ideas in the past, disagrees. “The core claims are harder to test than other theories because it’s a more ambitious theory,” he says. But there are some predictions stemming from the theory, about neural activity associated with consciousness, for instance, that can be tested, he adds. A 2022 review found 101 empirical studies involving IIT2.

Liad Mudrik, a neuroscientist at Tel Aviv University, in Israel, who co-led the adversarial study of IIT versus GNW, also defends IIT’s testability at the neural level. “Not only did we test it, we managed to falsify one of its predictions,” she says. “I think many people in the field don’t like IIT, and this is completely fine. Yet it is not clear to me what is the basis for claiming that it is not one of the leading theories.”

The same criticism about a lack of meaningful empirical tests could be made about other theories of consciousness, says Erik Hoel, a neuroscientist and writer who lives on Cape Cod, in Massachusetts, and who is a former student of Giulio Tononi, a neuroscientist at the University of Wisconsin-Madison who is a proponent of IIT. “Everyone who works in the field has to acknowledge that we don’t have perfect brain scans,” he says. “And yet, somehow, IIT is singled out in the letter as this being a problem that’s unique to it.”

Damaging effect

Lau says he doesn’t expect a consensus on the topic. “But I think if it is known that, let’s say, a significant minority of us are willing to [sign our names] that we think it is pseudoscience, knowing that some people may disagree, that’s still a good message.” He hopes that the letter reaches young researchers, policymakers, journal editors and funders. “All of them right now are very easily swayed by the media narrative.”

Mudrik, who emphasizes that she deeply respects the people who signed the letter, some of whom are close collaborators and friends, says that she worries about the effect it will have on the way the consciousness field is perceived. “Consciousness research has been struggling with scepticism from its inception, trying to establish itself as a legitimate scientific field,” she says. “In my opinion, the way to fight such scepticism is by conducting excellent and rigorous research”, rather than by publicly calling out certain people and ideas.

Hoel fears that the letter might discourage the development of other ambitious theories. “The most important thing for me is that we don’t make our hypotheses small and banal in order to avoid being tarred with the pseudoscience label.”

El espíritu que promete evitar que el mal tiempo arruine un show en Brasil y firma contratos oficiales (El País)

elpais.com

Los organizadores de eventos como el Carnaval o Rock in Río recurren a la fundación Cobra Cacique Cobra para evitar que llueva en fechas clave

Joan Royo Gual

20 de septiembre de 2023


Un hombre reza durante una ceremonia para Yemanjá, que forma parte de las tradiciones en Río de Janeiro (Brasil). Leo Correa (AP)

Recientemente se celebró en São Paulo el festival de música The Town, de los mismos organizadores del Rock in Río. La noche de la puesta de largo, con cerca de 100.000 personas ansiosas por ver a Iggy Azalea, Post Malone o Demi Lovato, quedó deslucida por una persistente lluvia que provocó colas y aglomeraciones. Rápidamente surgieron algunas voces que achacaron el caos a la falta de un acuerdo de colaboración con la Fundación Cacique Cobra Coral, que representa a un espíritu a través del que promete controlar la meteorología. Es uno de los ejemplos de realismo mágico más conocidos entre los brasileños: si quieres que tu evento sea un éxito hay que contactar con Cobra Coral para garantizar que no llueva. Y no se trata de una curiosa superstición para parejas ansiosas porque luzca el sol el día de su boda. Detrás de esta creencia popular hay contratos, algo opacos, con empresas, Ayuntamientos y hasta ministerios.

El cacique Cobra Coral es un espíritu de la umbanda, una religión brasileña que mezcla elementos religiosos de tradición africana, indígena y católica. Quien la incorpora en sus carnes es Adelaide Scritori, que actúa como médium desde niña. Su marido y mano derecha, Osmar Santos, recibe peticiones de Gobiernos o empresas para promover cambios meteorológicos.

Una vez se firma el acuerdo, la médium recibe en su cuerpo a este indígena que, a pesar de ser norteamericano, se expresa en perfecto portugués. “Habla poco, va al grano. Cuando termina, ella [Scritori] no sabe nada de lo que ha dicho, no está consciente cuando habla”, explica su marido por teléfono. El también portavoz de la fundación resalta que el espíritu puede cambiar el tiempo, pero siempre que perciba que se debe a “un bien mayor”, no a un capricho. Si evita que llueva durante un festival, tendrá que desviar esas precipitaciones hacia algún lugar relativamente cercano que las necesite, por ejemplo.

El Ayuntamiento de Río está entre sus clientes más conocidos, sobre todo para asegurar el cielo limpio en las dos fechas marcadas en rojo en el calendario local: el fin de año, que congrega a cientos de miles de personas en la playa de Copacabana, y el aún más masivo Carnaval.

La colaboración entre el Ayuntamiento y la fundación Cobra Coral es pública y notoria, y de vez en cuando aparece en el Diario Oficial del municipio. El Ministerio de Minas y Energía recurrió hace dos años al cacique en medio de una grave sequía que llegó a poner en riesgo el suministro eléctrico en todo el país.

La mayoría de acuerdos se dan entre bambalinas y no queda muy claro cómo funcionan ni cuánto cuestan. Santos asegura tajantemente que no aceptan un céntimo de dinero público. Lo que se exige como contrapartida, dice, son obras de prevención de inundaciones, recuperación de manantiales, reforestación de la ribera de los ríos, etc. “El [espíritu del] cacique suele decir que no podemos ayudar a los hombres de manera permanente si hacemos por ellos lo que pueden hacer por sí mismos”, recalca. El espíritu tiene mucha conciencia ambiental y lleva décadas alertando, sin éxito, de los peligros del calentamiento global, lamenta Santos.

Con las empresas privadas los acuerdos funcionan de otra forma. La fundación se mantiene a través de Tunikito, un conglomerado familiar de seguros. Santos suele ofrecer asegurar a las empresas que buscan la actuación del cacique. En Río es conocida la fe que tiene en sus poderes Roberto Medina, el magnate creador del festival Rock in Río, aunque en los últimos años, con la empresa en manos de su hija Roberta, la colaboración espiritual parece haber quedado en un segundo plano.

Aun así, la fama del cacique permanece imbatible entre los organizadores de eventos al aire libre. Desde una de las principales productoras de la ciudad afirman de forma anónima: “Todos protegen a la entidad. Son muchos años de acuerdos. Los grandes productores de eventos no renuncian a su ayuda, es casi omnipresente”.

Santos confirma que prácticamente tiene el don de la ubicuidad. Explica que él, como interlocutor con el espíritu del cacique, se desplaza por Brasil y por medio mundo al encuentro de quienes requieren de su actuación. Con perfil discreto y escondido tras unas gafas oscuras, se posiciona en el lugar del evento y mira al cielo. Identifica las condiciones meteorológicas (presión atmosférica, humedad, viento, etc) y dialoga con los asesores científicos de la fundación para elaborar un informe para el espíritu, para que sepa cuál es el panorama y decida cómo actuar.

Los asesores de Cobra Coral incluyen a un técnico del estatal Instituto Nacional de Investigaciones Espaciales (INPE) y Rubens Villela, meteorólogo y profesor de la Universidad de São Paulo (USP). Esta colaboración entre la ciencia y una supuesta entidad sobrenatural, que quizá pondría los pelos de punta a muchos académicos del norte global, se vive en Brasil sin estridencias, más allá de alguna polémica puntual.

Hace 30 años, la Sociedad Brasileña de Meteorología procesó a la fundación por ejercicio ilegal de la profesión, pero la causa fue archivada. Al final, para evitar más problemas, Santos y Scritori crearon la agencia La Niña, inscrita en el consejo profesional y con permiso para firmar contratos.

Para Renzo Taddei, antropólogo de la Universidad Federal de São Paulo (Unifesp) y autor del libro Meteorólogos y profetas de la lluvia, en estas latitudes la dicotomía ciencia versus religión se queda pequeña. “A Brasil le gusta imaginarse y pensarse a sí mismo de una forma que no refleja mucho la realidad, sobre todo en eso de verse como un país occidental”, dice.

Taddei recuerda la huella que dejaron millones de africanos esclavizados y la fusión o convivencia de sus prácticas con creencias chamánicas, católicas, kardecistas o espíritas. “La espiritualidad brasileña no tiene nada que ver con la manera en que el mundo europeo imagina la religión. La pelea entre religión y ciencia de la época de Darwin en Inglaterra no se replica en Brasil. Quizá ahora está empezando un poco porque los evangélicos están creciendo muy rápido”, señala por teléfono.

El trabajo del cacique Cobra Coral es el caso más conocido por haber dado el salto al mundo empresarial e institucional, pero este especialista resalta que en la cosmovisión indígena, por ejemplo, es común dialogar con los espíritus para dominar las fuerzas de la naturaleza. En 1998 un incendio devastador devoraba la selva amazónica en el estado de Roraima. Brasil incluso recibió ayuda internacional, pero al final, las autoridades, desesperadas, recurrieron a dos chamanes de la etnia Kayapó. Tras dos días de rituales, casualidad o no, una lluvia torrencial logró frenar las llamas.

Opinion | All Brains Are the Same Color (New York Times)

Richard E. Nisbett – Op-Ed Contributor

Dec. 9, 2007

JAMES WATSON, the 1962 Nobel laureate, recently asserted that he was “inherently gloomy about the prospect of Africa” and its citizens because “all our social policies are based on the fact that their intelligence is the same as ours — whereas all the testing says not really.”

Dr. Watson’s remarks created a huge stir because they implied that blacks were genetically inferior to whites, and the controversy resulted in his resignation as chancellor of Cold Spring Harbor Laboratory. But was he right? Is there a genetic difference between blacks and whites that condemns blacks in perpetuity to be less intelligent?

The first notable public airing of the scientific question came in a 1969 article in The Harvard Educational Review by Arthur Jensen, a psychologist at the University of California, Berkeley. Dr. Jensen maintained that a 15-point difference in I.Q. between blacks and whites was mostly due to a genetic difference between the races that could never be erased. But his argument gave a misleading account of the evidence. And others who later made the same argument — Richard Herrnstein and Charles Murray in “The Bell Curve,” in 1994, for example, and just recently, William Saletan in a series of articles on Slate — have made the same mistake.

In fact, the evidence heavily favors the view that race differences in I.Q. are environmental in origin, not genetic.

The hereditarians begin with the assertion that 60 percent to 80 percent of variation in I.Q. is genetically determined. However, most estimates of heritability have been based almost exclusively on studies of middle-class groups. For the poor, a group that includes a substantial proportion of minorities, heritability of I.Q. is very low, in the range of 10 percent to 20 percent, according to recent research by Eric Turkheimer at the University of Virginia. This means that for the poor, improvements in environment have great potential to bring about increases in I.Q.

In any case, the degree of heritability of a characteristic tells us nothing about how much the environment can affect it. Even when a trait is highly heritable (think of the height of corn plants), modifiability can also be great (think of the difference growing conditions can make).

Nearly all the evidence suggesting a genetic basis for the I.Q. differential is indirect. There is, for example, the evidence that brain size is correlated with intelligence, and that blacks have smaller brains than whites. But the brain size difference between men and women is substantially greater than that between blacks and whites, yet men and women score the same, on average, on I.Q. tests. Likewise, a group of people in a community in Ecuador have a genetic anomaly that produces extremely small head sizes — and hence brain sizes. Yet their intelligence is as high as that of their unaffected relatives.

Why rely on such misleading and indirect findings when we have much more direct evidence about the basis for the I.Q. gap? About 25 percent of the genes in the American black population are European, meaning that the genes of any individual can range from 100 percent African to mostly European. If European intelligence genes are superior, then blacks who have relatively more European genes ought to have higher I.Q.’s than those who have more African genes. But it turns out that skin color and “negroidness” of features — both measures of the degree of a black person’s European ancestry — are only weakly associated with I.Q. (even though we might well expect a moderately high association due to the social advantages of such features).

Credit: Balint Zsako

During World War II, both black and white American soldiers fathered children with German women. Thus some of these children had 100 percent European heritage and some had substantial African heritage. Tested in later childhood, the German children of the white fathers were found to have an average I.Q. of 97, and those of the black fathers had an average of 96.5, a trivial difference.

If European genes conferred an advantage, we would expect that the smartest blacks would have substantial European heritage. But when a group of investigators sought out the very brightest black children in the Chicago school system and asked them about the race of their parents and grandparents, these children were found to have no greater degree of European ancestry than blacks in the population at large.

Most tellingly, blood-typing tests have been used to assess the degree to which black individuals have European genes. The blood group assays show no association between degree of European heritage and I.Q. Similarly, the blood groups most closely associated with high intellectual performance among blacks are no more European in origin than other blood groups.

The closest thing to direct evidence that the hereditarians have is a study from the 1970s showing that black children who had been adopted by white parents had lower I.Q.’s than those of mixed-race children adopted by white parents. But, as the researchers acknowledged, the study had many flaws; for instance, the black children had been adopted at a substantially later age than the mixed-race children, and later age at adoption is associated with lower I.Q.

A superior adoption study — and one not discussed by the hereditarians — was carried out at Arizona State University by the psychologist Elsie Moore, who looked at black and mixed-race children adopted by middle-class families, either black or white, and found no difference in I.Q. between the black and mixed-race children. Most telling is Dr. Moore’s finding that children adopted by white families had I.Q.’s 13 points higher than those of children adopted by black families. The environments that even middle-class black children grow up in are not as favorable for the development of I.Q. as those of middle-class whites.

Important recent psychological research helps to pinpoint just what factors shape differences in I.Q. scores. Joseph Fagan of Case Western Reserve University and Cynthia Holland of Cuyahoga Community College tested blacks and whites on their knowledge of, and their ability to learn and reason with, words and concepts. The whites had substantially more knowledge of the various words and concepts, but when participants were tested on their ability to learn new words, either from dictionary definitions or by learning their meaning in context, the blacks did just as well as the whites.

Whites showed better comprehension of sayings, better ability to recognize similarities and better facility with analogies — when solutions required knowledge of words and concepts that were more likely to be known to whites than to blacks. But when these kinds of reasoning were tested with words and concepts known equally well to blacks and whites, there were no differences. Within each race, prior knowledge predicted learning and reasoning, but between the races it was prior knowledge only that differed.

What do we know about the effects of environment?

That environment can markedly influence I.Q. is demonstrated by the so-called Flynn Effect. James Flynn, a philosopher and I.Q. researcher in New Zealand, has established that in the Western world as a whole, I.Q. increased markedly from 1947 to 2002. In the United States alone, it went up by 18 points. Our genes could not have changed enough over such a brief period to account for the shift; it must have been the result of powerful social factors. And if such factors could produce changes over time for the population as a whole, they could also produce big differences between subpopulations at any given time.

In fact, we know that the I.Q. difference between black and white 12-year-olds has dropped to 9.5 points from 15 points in the last 30 years — a period that was more favorable for blacks in many ways than the preceding era. Black progress on the National Assessment of Educational Progress shows equivalent gains. Reading and math improvement has been modest for whites but substantial for blacks.

Most important, we know that interventions at every age from infancy to college can reduce racial gaps in both I.Q. and academic achievement, sometimes by substantial amounts in surprisingly little time. This mutability is further evidence that the I.Q. difference has environmental, not genetic, causes. And it should encourage us, as a society, to see that all children receive ample opportunity to develop their minds.

Richard E. Nisbett, a professor of psychology at the University of Michigan, is the author of “The Geography of Thought: How Asians and Westerners Think Differently and Why.”

Não espere que uma ‘teoria de tudo’ explique tudo (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Dennis Overbye

14 de setembro de 2023

Nem mesmo a física mais avançada pode revelar tudo o que queremos saber sobre a história e o futuro do cosmos, ou sobre nós mesmos


Para que servem as leis da física, se não podemos resolver as equações que as descrevem?

Essa foi a pergunta que me ocorreu ao ler um artigo no The Guardian escrito por Andrew Pontzen, um cosmólogo do University College London que passa os dias realizando simulações computacionais de buracos negros, estrelas, galáxias e do nascimento e crescimento do universo. O que ele queria dizer era que ele e todos nós estamos fadados ao fracasso.

“Mesmo que imaginemos que a humanidade acabará descobrindo uma ‘teoria de tudo’ que abrange todas as partículas e forças individuais, o valor explicativo dessa teoria para o universo como um todo será provavelmente marginal”, escreveu Pontzen.

Não importa o quanto pensemos conhecer as leis básicas da física e a lista cada vez maior de partículas elementares, não há poder computacional suficiente no universo para acompanhar todas elas. E nunca poderemos saber o bastante para prever com segurança o que acontece quando todas essas partículas colidem ou interagem de outra forma. Um ponto decimal adicionado a uma estimativa da localização ou velocidade de uma partícula, digamos, pode repercutir ao longo da história e alterar o resultado bilhões de anos depois, por meio do chamado “efeito borboleta” da teoria do caos.

Considere algo tão simples quanto, por exemplo, a órbita da Terra em torno do sol, diz Pontzen. Deixado à sua própria conta, nosso mundo, ou seu fóssil crocante, continuaria para sempre na mesma órbita. Mas na amplidão do tempo cósmico os empurrões gravitacionais de outros planetas do sistema solar podem alterar seu curso. Dependendo da precisão com que caracterizamos esses empurrões e do material que está sendo empurrado, os cálculos gravitacionais podem produzir previsões extremamente divergentes sobre onde a Terra e seus irmãos estarão daqui a centenas de milhões de anos.

Como resultado, na prática, não podemos prever o futuro nem o passado. Cosmólogos como Pontzen podem proteger suas apostas diminuindo o zoom e considerando o panorama geral —grandes aglomerações de materiais, como nuvens de gás, ou sistemas cujo comportamento coletivo é previsível e não depende de variações individuais. Podemos ferver macarrão sem monitorar cada molécula de água.

Mas existe o risco de se presumir muita ordem. Veja um formigueiro, sugere Pontzen. Os movimentos de qualquer formiga parecem aleatórios. Mas se você olhar o todo, o formigueiro parece fervilhar com propósito e organização. É tentador ver uma consciência coletiva em ação, escreve Pontzen, mas “são apenas formigas solitárias” que seguem regras simples. “A sofisticação emerge do grande número de indivíduos que seguem essas regras”, observa ele, citando o físico Philip W. Anderson, de Princeton: “Mais é diferente”.

Na cosmologia, formou-se uma explicação plausível da história do universo através de suposições simples sobre coisas sobre as quais nada sabemos —matéria escura e energia escura—, mas que, no entanto, constituem 95% do universo. Supostamente, esse “lado negro” do universo interage com 5% da matéria conhecida —átomos— apenas através da gravidade. Depois do Big Bang, conta a história, formaram-se poças de matéria escura, que puxaram a matéria atômica, que se condensou em nuvens, que se aqueceram e se transformaram em estrelas e galáxias. À medida que o universo se expandiu, a energia escura que o permeia também se expandiu e começou a afastar as galáxias cada vez mais rapidamente.

Mas essa narrativa falha logo no início, nas primeiras centenas de milhões de anos, quando estrelas, galáxias e buracos negros se formavam num processo confuso e pouco compreendido que os investigadores chamam de “gastrofísica”.

Sua mecânica é espantosamente difícil de prever, envolvendo campos magnéticos, a natureza e composição das primeiras estrelas e outros efeitos desconhecidos. “Certamente ninguém pode fazer isso agora, partindo simplesmente das leis confiáveis da física, independentemente da quantidade de potência de computação oferecida”, disse Pontzen por e-mail.

Dados recentes do Telescópio Espacial James Webb, revelando galáxias e buracos negros que parecem demasiado maciços e demasiado precoces no universo para serem explicados pelo “modelo padrão” da cosmologia, parecem ampliar o problema. Isso é suficiente para fazer os cosmólogos voltarem às suas pranchetas?

Pontzen não está convencido de que chegou a hora de os cosmólogos abandonarem seu modelo de universo duramente conquistado. A história cósmica é complexa demais para ser simulada em detalhes. Só o nosso sol, salienta ele, contém 1057 átomos, e existem trilhões e trilhões dessas estrelas por aí.

Há meio século, astrônomos descobriram que o universo, com suas estrelas e galáxias, estava repleto de radiação de micro-ondas que sobrou do Big Bang. O mapeamento dessa radiação permitiu que eles criassem uma imagem do cosmos bebê, como existia apenas 380 mil anos após o início dos tempos.

Em princípio, toda a história poderia estar incorporada ali nos caracóis sutis da energia primordial. Na prática, é impossível ler o desdobrar do tempo nessas micro-ondas suficientemente bem para discernir a ascensão e a queda dos dinossauros, o alvorecer da era atômica ou o aparecimento de um ponto de interrogação no céu bilhões de anos mais tarde. Quase 14 bilhões de anos de incerteza quântica, acidentes e detritos cósmicos permanecem entre então e agora.

Na última contagem, os físicos identificaram cerca de 17 tipos de partículas elementares que constituem o universo físico e pelo menos quatro formas de interação —através da gravidade, do eletromagnetismo e das chamadas forças nucleares fortes e fracas.

A aposta cósmica que a ciência ocidental empreendeu é mostrar que essas quatro forças, e talvez outras ainda não descobertas, agindo sobre um vasto conjunto de átomos e seus constituintes, são suficientes para explicar as estrelas, o arco-íris, as flores, nós mesmos e, de fato, a existência do universo como um todo. É uma enorme montanha intelectual e filosófica para escalar.

Na verdade, apesar de toda a nossa fé no materialismo, diz Pontzen, talvez nunca saibamos se tivemos sucesso. “Nossas origens estão escritas no céu”, disse ele, “e estamos apenas aprendendo a lê-las.”

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Lei do clima de Biden redireciona investimentos nos EUA (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Jim Tankersley

14 de setembro de 2023

Gastos com energia limpa representaram 4% do investimento do país em estruturas, equipamentos e bens duráveis


O investimento privado em projetos de energia limpa, como painéis solares, energia de hidrogênio e veículos elétricos, aumentou depois que o presidente Joe Biden sancionou uma lei abrangente sobre o clima, no ano passado, um desdobramento que mostra de que maneira os incentivos fiscais e os subsídios federais ajudaram a redirecionar alguns gastos dos consumidores e empresas dos Estados Unidos.

Novos dados divulgados nesta quarta-feira (13) sugerem que a lei do clima e outras partes da agenda econômica de Biden ajudaram a acelerar o desenvolvimento de cadeias de suprimentos automotivas no sudoeste dos Estados Unidos, gerando sustentação adicional para os centros tradicionais de fabricação de automóveis nas regiões industrias do centro-oeste e do sudeste.

A lei de 2022, que foi aprovada com apoio apenas do Partido Democrata, ajudou o investimento em fábricas em bastiões conservadores como o Tennessee e nos estados de Michigan e Nevada, que serão alvo de forte disputa na eleição presidencial do ano que vem. A lei também ajudou a sustentar uma onda de gastos com carros elétricos e painéis solares residenciais na Califórnia, Arizona e Flórida.

Os dados mostram que, no ano seguinte à aprovação da lei do clima, os gastos com tecnologias de energia limpa representaram 4% do investimento total do país em estruturas, equipamentos e bens de consumo duráveis —mais do que o dobro da participação registrada quatro anos atrás.

A lei não teve sucesso em estimular um setor importante na transição para além dos combustíveis fósseis que Biden está tentando acelerar: a energia eólica. O investimento americano em produção eólica diminuiu no ano passado, apesar dos grandes incentivos da lei do clima aos produtores. E a lei não alterou a trajetória dos gastos dos consumidores com determinadas tecnologias de economia de energia, como bombas de aquecimento de alta eficiência.

Mas o relatório, que avalia a situação até o nível estadual, fornece a primeira visão detalhada de como as políticas industriais de Biden estão afetando as decisões de investimento em energia limpa do setor privado.

Os dados são do Clean Investment Monitor, uma nova iniciativa da consultoria Rhodium Group e do Centro para a Pesquisa de Energia e Política Ambiental do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Suas constatações vão além de estimativas mais simples, da Casa Branca e de outras fontes, e oferecem a visão mais abrangente até o momento sobre os efeitos da agenda econômica de Biden sobre a emergente economia de energia limpa dos Estados Unidos.

Os pesquisadores que lideram essa primeira análise de dados incluem Trevor Houser, ex-funcionário do governo Obama, que é sócio da Rhodium; e Brian Deese, ex-diretor do Conselho Econômico Nacional de Biden, que pesquisa sobre inovação no MIT.

A Lei de Redução da Inflação, que Biden assinou em agosto de 2022, inclui uma ampla gama de incentivos para encorajar a fabricação nacional e acelerar a transição do país para longe dos combustíveis fósseis.

Isso inclui incentivos fiscais ampliados para a produção de baterias avançadas, instalação de painéis solares, compra de veículos elétricos e outras iniciativas. Muitas dessas isenções fiscais são ilimitadas, para todos os fins práticos, o que significa que podem acabar custando centenas de bilhões de dólares aos contribuintes —ou até mesmo mais de US$ 1 trilhão— se tiverem sucesso em gerar nível suficiente de novos investimentos.

Os funcionários do governo Biden tentaram quantificar os efeitos dessa lei, e da legislação bipartidária sobre infraestrutura e semicondutores assinada pelo presidente no início de seu mandato, por meio da contabilização dos anúncios empresariais de novos gastos vinculados à legislação.

Um site da Casa Branca estima que empresas tenham anunciado até agora US$ 511 bilhões em compromissos de gastos novos vinculados a essas leis, incluindo US$ 240 bilhões para veículos elétricos e tecnologia de energia limpa.

A análise da Rhodium e do MIT se baseia em dados de agências federais, organizações setoriais, anúncios de empresas e registros financeiros, reportagens e outras fontes, para tentar construir uma estimativa em tempo real de quanto investimento já foi realizado nas tecnologias de redução de emissões visadas pela agenda de Biden. Para fins de comparação, os dados remontam a 2018, quando o presidente Donald Trump ainda estava no poder.

Os números mostram que o investimento real —e não o anunciado— de empresas e consumidores em tecnologias de energia limpa atingiu US$ 213 bilhões no segundo semestre de 2022 e no primeiro semestre de 2023, depois que Biden assinou a lei do clima. Esse valor foi superior aos US$ 155 bilhões do ano anterior e aos US$ 81 bilhões do primeiro ano dos dados, sob Trump.

As tendências nos dados sugerem que o impacto da agenda de Biden sobre o investimento em energia limpa variou dependendo das condições econômicas existentes para cada tecnologia visada.

Os maiores sucessos de Biden ocorreram ao estimular o aumento do investimento industrial nos Estados Unidos e ao catalisar o investimento em tecnologias que permanecem relativamente novas no mercado.

Alimentado em parte por investimentos estrangeiros, por exemplo em fábricas de baterias na Geórgia, o investimento real na fabricação de energia limpa mais do que dobrou no ano passado, em relação ao ano anterior, mostram os dados, totalizando US$ 39 bilhões. Esse investimento foi quase inexistente em 2018.

A maior parte dos gastos se concentrou na cadeia de suprimentos de veículos elétricos, o que inclui o novo polo de atividades automotivas do sudoeste da Califórnia, Nevada e Arizona. A Lei de Redução da Inflação inclui vários incentivos fiscais para esse tipo de investimento, com requisitos de conteúdo nacional destinados a incentivar a produção de minerais essenciais e baterias, e a montagem de automóveis nos Estados Unidos.

No entanto, os grandes beneficiários em termos de investimentos em produção, como porcentagem das economias estaduais, continuam a ser os estados automotivos tradicionais: Tennessee, Kentucky, Michigan e Carolina do Sul.

A lei do clima também parece ter impulsionado o investimento no chamado hidrogênio verde, que divide átomos de água para criar um combustível industrial. O mesmo se aplica ao gerenciamento de carbono – que busca capturar e armazenar as emissões de gases causadores do efeito estufa pelas usinas de energia existentes, ou retirar o carbono da atmosfera. Todas essas tecnologias tiveram dificuldades para ganhar força nos Estados Unidos antes de a lei lhes conceder incentivos fiscais.

O hidrogênio e grande parte dos investimentos em captura de carbono estão concentrados ao longo da costa do Golfo do México, uma região repleta de empresas de combustíveis fósseis que começaram a se dedicar a essas tecnologias. Outro polo de investimentos em captura de carbono está concentrado em estados da região centro-oeste, como Illinois e Iowa, onde as empresas que produzem etanol de milho e outros biocombustíveis estão começando a investir em esforços para capturar suas emissões.

Os incentivos para essas tecnologias na Lei de Redução da Inflação, juntamente com outras medidas de apoio contidas na lei de infraestrutura bipartidária, “mudam fundamentalmente a economia dessas duas tecnologias, e pela primeira vez as tornam amplamente competitivas em termos de custos”, disse Houser em uma entrevista.

Outros incentivos ainda não alteraram a situação econômica de tecnologias essenciais, principalmente a energia eólica, que cresceu muito nos últimos anos mas agora está enfrentando retrocessos globais, pois o financiamento dos projetos está cada vez mais caro.

O investimento em energia eólica foi menor no primeiro semestre deste ano do que em qualquer outro momento desde que o banco de dados foi iniciado.

Nos Estados Unidos, os projetos eólicos estão enfrentando dificuldades para passar pelos processos governamentais de licenciamento, transmissão de energia e seleção de locais, incluindo a oposição de alguns legisladores estaduais e municipais.

Os projetos solares e os investimentos relacionados em armazenagem para energia solar, observou Houser, podem ser construídos mais perto dos consumidores de energia e têm menos obstáculos a superar, e o investimento neles cresceu 50% no segundo trimestre de 2023, com relação ao ano anterior.

Alguns mercados consumidores ainda não se deixaram influenciar pela promessa de incentivos fiscais para novas tecnologias de energia. Os americanos não aumentaram seus gastos com bombas de aquecimento, embora a lei cubra gastos de até US$ 2 mil para a compra de uma nova bomba. E, no ano passado, os estados com os maiores gastos em bombas de aquecimento, em proporção às dimensões de suas economias, estavam todos concentrados no sudeste —onde, segundo Houser, é mais provável que os consumidores já disponham de bombas desse tipo, e precisem substitui-las.

Tradução de Paulo Migliacci

Atividade humana coloca sistemas de suporte à vida na Terra em risco, diz estudo (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Riham Alkousaa, David Stanway

14 de setembro de 2023

Mundo já ultrapassou 6 das 9 fronteiras planetárias, como são chamados os limites seguros para a existência no planeta


Os sistemas de suporte à vida na Terra enfrentam riscos e incertezas maiores do que nunca, e a maioria dos principais limites de segurança já foram ultrapassados como resultado de intervenções humanas em todo o planeta, apontou estudo científico divulgado nesta quarta-feira (13).

Em uma espécie de “check-up de saúde” do planeta publicado na revista Science Advances, uma equipe internacional de 29 especialistas concluiu que a Terra atualmente está “bem fora do espaço operacional seguro para a humanidade” devido à atividade humana.

O estudo, que amplia um relatório de 2015, afirma que o mundo já ultrapassou 6 das 9 “fronteiras planetárias” —limites seguros para a vida humana em áreas como a integridade da biosfera, mudanças climáticas e a utilização e disponibilidade de água doce.

Ao todo, afirma o estudo, 8 das 9 fronteiras estão sob pressão maior do que a verificada na avaliação de 2015, aumentando o risco de mudanças dramáticas nas condições de vida da Terra. A camada de ozônio é o único dos quesitos a melhorar.

“Não sabemos se podemos prosperar sob grandes e dramáticas alterações das nossas condições”, disse a principal autora do estudo, Katherine Richardson, da Universidade de Copenhague.

Os autores afirmam que cruzar as fronteiras não representa um ponto de inflexão no qual a civilização humana simplesmente entrará em colapso, mas pode trazer mudanças irreversíveis nos sistemas de suporte à vida na Terra.

“Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nos limites planetários como a pressão sanguínea. Acima de 120/80 [na medição da pressão sanguínea] não necessariamente indica um ataque cardíaco, mas aumenta o risco”, disse Richardson.

Os cientistas soaram o alarme sobre o aumento do desmatamento, o consumo excessivo de plantas como combustível, a proliferação de produtos como o plástico, organismos geneticamente modificados e produtos químicos sintéticos.

Dos nove limites avaliados, apenas a acidificação dos oceanos, a destruição da camada de ozônio e a poluição atmosférica —principalmente com partículas semelhantes à fuligem— foram consideradas ainda dentro de limites seguros. O teto da acidificação dos oceanos, no entanto, está perto de ser ultrapassado.

A concentração atmosférica de dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa, aumentou para cerca de 417 ppm (partes por milhão), significativamente superior ao nível seguro de 350 ppm.

Estima-se também que a atual taxa de extinção de espécies seja pelo menos dezenas de vezes mais rápida do que a taxa média dos últimos 10 milhões de anos, o que significa que o planeta já ultrapassou a fronteira segura para a diversidade genética.

“Na minha carreira nunca me baseei em tantas evidências como hoje”, disse Johan Rockström, coautor do estudo e diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático.

Quem é o Cacique Cobra Coral? E qual é sua relação tempestuosa com os festivais? Entenda mistérios (Estadão)

estadao.com.br

Sabrina Legramandi

9 de setembro de 2023


Em dias chuvosos, o nome de Cacique Cobra Coral domina o imaginário brasileiro. No primeiro dia de The Town, uma tempestade atingiu o festival e fez com que vários pontos do Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ficassem alagados ou enlameados. O motivo apontado pela fundação que incorpora o Cacique Cobra Coral? Eles não foram convocados para o evento.

A relação de Roberto Medina, criador do Rock in Rio e do ‘evento irmão’ paulistano, com a fundação esotérica, porém, vem de muitos anos. Em uma publicação feita no Instagram da Fundação Cacique Cobra Coral nesta segunda-feira, 4, representantes lamentaram o rompimento do empresário e disseram terem alertado sobre um suposto “verão adiantado” que atingiria o primeiro dia do festival.

Ao contrário do que alguns pensam, o Cacique Cobra Coral não é uma pessoa física, mas uma entidade que conseguiria intervir em eventos climáticos e desastres naturais. O Estadão tentou contatar os representantes por diversos meios de comunicação para explicar o trabalho da fundação, mas não obteve sucesso.

Veja, abaixo, perguntas e respostas sobre a Fundação Cacique Cobra Coral e sua relação ‘tempestuosa’ com festivais de música, a partir do site oficial da instituição, da assessoria do The Town, do biógrafo do Rock in Rio, Luiz Felipe Carneiro, e do biógrafo de Roberto Medina, Marcos Eduardo Neves.

O que é a Fundação e o Cacique Cobra Coral?

O site da Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC) define sua missão como a de “minimizar catástrofes que podem ocorrer em razão dos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza”. A instituição foi criada por Ângelo Scritori, médium que morreu em 2002 aos 104 anos.

Hoje, conforme as informações do portal, a fundação tem à frente a filha de Ângelo, a médium Adelaide Scritori. A instituição descreve que, no dia em que a mãe de Adelaide entrou em trabalho de parto, o espírito de Padre Cícero teria se manifestado por meio de Ângelo.

E quem é o tal cacique?

No dia do nascimento de Adelaide, uma forte geada atingia o sítio da família no Paraná. Padre Cícero teria alertado Ângelo de que a filha nasceria com a capacidade de se comunicar com um poderoso espírito capaz de controlar fenômenos naturais. O espírito em questão era Cacique Cobra Coral, que, segundo as crenças, já teria sido também de Galileu Galilei e Abraham Lincoln.

Qual é a relação de Paulo Coelho com a Fundação?

A FCCC começou a crescer após firmar relações com prefeituras e com Medina para o Rock in Rio. Ela passou a ganhar fama internacional quando o escritor Paulo Coelho assumiu o cargo de vice-presidente durante alguns anos do início da década de 2000.

A Fundação Cacique Cobra Coral recebe dinheiro público?

Não é só para empresas privadas que a Fundação Cobra Coral presta serviços. Prefeituras, como a do Rio de Janeiro, e órgãos do governo já mantiveram relações ou tiveram reuniões com a instituição. Em 2021, o Ministério de Minas e Energia (MME) precisou publicar uma nota de esclarecimento sobre uma reunião que teve com Osmar Santos, um dos representantes da FCCC.

Segundo o comunicado, a reunião atendeu a uma solicitação de Osmar para tratar sobre a crise hídrica que atingia o País. O representante pediu a participação do então ministro Bento Albuquerque, que, segundo o MME, sequer foi informado do ocorrido.

“Tendo em vista que a requisição de audiência recebida pelo MME alertava para os temas ‘Blackout no Centro Sul a partir de 16/10/21 se medidas urgentes não forem adotadas’ e ‘tragédia econômica x energética’, a avaliação da Secretaria de Energia Elétrica do MME foi por dialogar com os requisitantes da reunião, a fim de esclarecer as medidas que vêm sendo adotadas pelo Governo Federal, desde 2020, visando prover a devida segurança energética aos consumidores brasileiros”, informou o órgão.

Apesar de manter relação com instituições públicas, porém, a fundação nega que cobre dinheiro público para prestar seus serviços. A instituição exige apenas relatórios anuais, que precisam ser enviados em outubro, “informando o que fizeram de obras viárias que visam minimizar tais fenômenos e o que planejam fazer no ano seguinte”.

Em janeiro, o FCCC publicou um story no Instagram informando que havia suspendido os convênios com a prefeitura e o estado do Rio de Janeiro por não terem recebido os respectivos relatórios.

Qual a relação da Fundação Cacique Cobra Coral com o Rock in Rio?

A fundação manteve uma relação ativa com Roberto Medina, criador do Rock in Rio e do The Town, mas isso não vem desde a primeira edição. O primeiro Rock in Rio, inclusive, foi marcado pela chuva e a lama que tomou conta do local, como conta Luiz Felipe Carneiro, biógrafo do festival.

“Parece que, para um festival ser consagrado, ele precisa de lama, como foi no Woodstock”, brinca Luiz. Medina contrataria os serviços do Cacique Cobra Coral apenas em 2001, ano em que o evento voltou a acontecer em Jacarepaguá, como foi na primeira edição de 1985. Deu certo: o Rock in Rio não enfrentou chuvas.

A relação da FCCC com o empresário, porém, começou a ficar ‘estremecida’ a partir de 2011. Segundo Luiz, representantes foram barrados em um dos dias do festival por chegarem ao local sem adesivos de credenciamento. Choveu e o porta-voz da fundação atribuiu isso ao impedimento na entrada.

Em 2013, conforme o biógrafo, representantes foram novamente chamados, com um posterior sucesso na ausência de chuvas. Já em 2015, a fundação foi convocada de novo, mas choveu. Medina parou de contratar os serviços em 2015 e 2017. O resultado? Chuvas no festival.

Na última edição do evento, o Rock in Rio também deixou de contatar a FCCC. Choveu novamente.

Quanto custa para contratar a Fundação Cacique Cobra Coral?

O valor para contratar os serviços para controlar o tempo é incerto. A FCCC não divulga valores e esclareceu, em uma postagem do Instagram, que mantém ‘sigilo absoluto’ até em seus atendimentos empresariais.

Luiz Felipe Carneiro, porém, aponta uma estimativa do valor pago por Roberto Medina em 2001. Conforme ele, o valor inicial exigido foi de US$ 10 mil – na cotação atual, o valor equivale a R$ 49,7 mil.

Um acordo teria sido feito pelo empresário para que uma entrada de US$ 2 mil fosse depositada e, caso não chovesse, o restante seria pago. Como o resultado foi a ausência das chuvas, a quantia integral foi entregue por Medina, conforme o biógrafo.

Essa informação, no entanto, não é a mesma que a presente no livro Vendedor de sonhos: a vida e a obra de Roberto Medina. O valor realmente foi quitado pelo empresário depois de a chuva não atrapalhar o festival, mas a quantia total teria sido de R$ 10 mil, e não dólares.

Uma passagem do livro, publicado em 2006, narra a relação que se seguiu entre o festival e a fundação: “E realmente choveu em vários pontos do Rio, mas nas adjacências da Cidade do Rock, nenhuma gota. ‘A partir de então’ – conta Medina – ‘para qualquer evento aberto que eu realize, contrato a Fundação. O Cacique já faz quase parte da empresa’”!

O The Town vai voltar a contratar a Fundação Cacique Cobra Coral após as chuvas do primeiro dia?

Após as chuvas que atingiram o The Town no primeiro dia do festival, a fundação usou seu perfil do Instagram para criticar o fato de não terem sido convocados. A FCCC publicou um vídeo de um perfil no TikTok que dizia que a instituição teria sido acionada por um patrocinador para impedir que não chovesse durante a montagem. A fundação, porém, não teria tido influência em nenhum dos dias do evento.

Na publicação, a FCCC afirma que mantém sigilo de seus atendimentos empresariais, “exceto quando o próprio cliente escreve sua biografia e dedica seis páginas à FCCC, como fez Dr. Roberto Medina dez anos atrás”.

Contudo, Marcos Eduardo Neves, biógrafo de Roberto Medina, esclareceu à reportagem que os trechos de seu livro que mencionam a fundação aparecem em apenas duas páginas da obra e, segundo ele, poderiam até caber em apenas uma.

Em contato com o Estadão, a assessoria de imprensa do festival na capital paulista ressaltou que a parceria entre o Rock in Rio e a FCCC não existe ‘há muitos anos’. Por esse motivo, o The Town não comenta sobre o assunto.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais