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Fenômenos naturais deslocaram 19,2 milhões de pessoas em 2015, alerta escritório da ONU (ONU)

JC 5423, 24 de maio de 2016

Número representa quase 70% do total de deslocados internos do mundo registrado em 2015

Fenômenos naturais forçaram 19,2 milhões de pessoas a abandonarem seus lares em 2015. O contingente representa quase 70% do total de deslocados internos – 27,8 milhões – que se viram obrigados a fugir dos lugares onde moravam por conta de conflitos, violência ou desastres naturais ao longo do ano passado.

Os números foram divulgados na semana passada (12) pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) em relatório que apresenta um panorama do deslocamento interno global e de suas causas.

O documento alerta para os fatores de risco de desastres associados a processos lentos de alteração ambiental, tais como secas, elevação do nível do mar e desertificação — fenômenos provocados pelas transformações do clima. Ameaças climáticas foram responsáveis por 14,7 milhões de deslocamentos.

“A maioria dos deslocamentos ocasionados por desastres naturais ocorreu devido a eventos climáticos extremos, que aconteceram em um ano com um número recorde de secas, inundações e grandes tempestades tropicais”, continuou Glasser, lembrando que grande parte disso foi causada por um forte El Niño registrado em meio a mudanças climáticas cada vez mais maiores.

Para Glasser, diante desse cenário, é necessário o desenvolvimento de um sistema capaz de melhorar a gestão de risco de desastres a nível local, a fim de evitar o deslocamento de pessoas nesta escala.

“Isso significa melhorar alertas precoces, proporcionar habitação de baixo custo em locais seguros e fazer todo o possível para reduzir o número de pessoas afetadas por catástrofes, segundo o que foi acordado pelos Estados-membros no Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres, no ano passado”, ressaltou.

O Marco é um plano global para reduzir as ameaças de catástrofe adotado pelos Estados-membros das Nações Unidas em 2015, durante uma conferência mundial em Sendai, no Japão.

O acordo estabelece metas para a redução da mortalidade relacionada a desastres, assim como para a diminuição do número de pessoas afetadas, dos danos à infraestrutura e das perdas econômicas.

ONU

O problema de Benzema, o craque da França que não canta a Marselhesa (Diário do Centro do Mundo)

Postado em 20 jun 2014

por : 

Ele

O melhor em campo na partida em que a França atropelou a Suíça, Karim Benzema perdeu um pênalti, fez dois gols (o segundo não valeu por que o juiz caprichosamente havia apitado o fim da partida), deu duas assistências — e não cantou o hino.

Não é um detalhe. Ele não estava nervoso e atrapalhado. Benzema não entoa a gloriosa “Marselhesa” jamais. “Não é porque eu canto que eu vou marcar três gols. Se eu não cantar a ‘Marselhesa’ e marcar três gols, não acho que no final do jogo alguém vai reclamar. Zidane, por exemplo, não cantava. E há outros. Eu não vejo isso como um problema”, disse ele.

Benzema, como Zidane, seu ídolo e amigo, é filho de imigrantes argelinos e é muçulmano. O silêncio é um protesto a uma letra que fala: “Às armas, cidadãos/ formai vossos batalhões/ marchemos, marchemos! / Que um sangue impuro / banhe o nosso solo”. É duramente criticado por essa atitude. A Frente Nacional, de extrema direita, fundada por Jean Marie Le Pen, o chamou de mercenário desleal e pediu seu banimento. “Ele não vê problema nisso. Bem, o povo francês não veria nenhum problema se ele não estivesse mais no time”.

É uma falácia. Benzema, que também cravou dois contra Honduras na estreia, faz toda a diferença para a França, uma equipe majoritariamente de filhos de imigrantes. Além dele, o time tem Valbuena (descendente de espanhois), Cabaye (de vietnamitas), Matuidi (angolanos), Sagna (senegaleses), Varane (os pais são da Martinica).

Há três anos, o ex-técnico da seleção, Laurent Blanc, chegou a sugerir que se limitasse o número de atletas não-brancos. Blanc queria uma cota de 30% de descendentes de africanos na federação. Para sorte dos franceses, a ideia não foi adiante.

Na Espanha, Benzema costuma ser chamado de “vendedor de kebabs”. “Se marco gol, sou francês. Se não marco, sou árabe”, afirma. Karim Benzema e seus colegas são um problema, sem dúvida, mas para os adversários. E uma lembrança perigosa para o Brasil, cujos jogadores estufam o peito para cantar a capella o ouvirundum.

 

The Immigrant Advantage (New York Times)

IF you want to die a successful American, especially in the heartland, it helps to be born abroad.

Statistics show that if you are born elsewhere and later acquire American citizenship, you will, on average, earn more than us native-borns, study further, marry at higher rates and divorce at lower rates, fall out of the work force less frequently and more easily dodge poverty.

What’s curious is where this immigrant advantage is most pronounced. In left-leaning, coastal, cosmopolitan America, native-borns seem well groomed by their families, schools and communities to keep up with foreign-borns. It’s in the right-leaning “Walmart America” where foreigners have the greatest advantage.

From Mississippi to West Virginia to Oklahoma, native-borns are struggling to flourish on a par with foreign-born Americans. In the 10 poorest states (just one on the East or West Coast: South Carolina), the median household of native-borns earns 84 cents for every $1 earned by a household of naturalized citizens, compared with 97 cents for native-borns in the richest (and mostly coastal) states, according to Census Bureau data. In the poorest states, foreign-borns are 24 percent less likely than native-borns to report themselves as divorced or separated, but just 3 percent less likely in the richest states. In the poorest states, foreign-borns are 36 percent less likely than native-borns to live in poverty; the disparity collapses to about half that in wealthier states like New Jersey and Connecticut.

This phenomenon came vividly to life for me while I was reporting a book about the brutal collision of a striving immigrant and a hurting native. One was Raisuddin Bhuiyan, a Muslim immigrant from Bangladesh, working in a Dallas minimart in 2001 to save for a wedding and an education; the other, Mark Stroman, shot him in a twisted post-9/11 revenge attack, blinding him in one eye, during a rampage that killed two other immigrant clerks. Mr. Bhuiyan eventually learned more about Mr. Stroman and the world that formed him. What he found astonished him, then inspired him to forgive his attacker and battle to rescue him from death row.

Mr. Bhuiyan realized that he was among the lucky Americans. Even after the attack, he was able to pick up and remake himself, climbing from that minimart to waiting tables at an Olive Garden to six-figure I.T. jobs. But Mr. Bhuiyan also saw the America that created Mr. Stroman, in which a battered working class was suffering from a dearth of work, community and hope, with many people failing to form strong bonds and filling the void with escapist chemicals, looping endlessly between prison and freedom.

Eventually, Mr. Bhuiyan petitioned a Texas court to spare his attacker’s life because he had lacked his victim’s advantages: a loving and sober family, pressure to strive and virtuous habits. The naturalized citizen claimed the native Texan hadn’t had the same shot at the American dream as the “foreigner” he’d tried to kill.

At a time when even the American middle class is struggling, a difficult question arises: Are you better off being born in some of the poorest parts of the world and moving here than being raised in the poorer parts of the United States?

There’s no easy answer. But let’s first acknowledge the obvious: Most naturalized citizens — nearly half of America’s roughly 40 million immigrants — arrived by choice, found employer sponsors, navigated visas and green cards. (We’re not talking here of immigrants who never reach citizenship and generally have harder lives than American citizens, native- or foreign-born.) It’s no accident that our freshest citizens have pluck and wits that favor them later.

BUT I also think there’s something more complicated going on: In those places where mobility’s engine is groaning and the social fabric is fraying, many immigrants may have an added edge because of their ability to straddle the seemingly contradictory values of their birthplaces and their adopted land, to balance individualism with community-mindedness and self-reliance with usage of the system.

American scholars have long warned of declining “social capital”: simply put, people lacking the support of others. In Texas, I encountered the wasteland described by writers from Robert D. Putnam on the left to Charles Murray on the right. In mostly white, exurban communities that often see themselves as above the woes of inner cities, I found household after household where country music songs about family and church play but country-music values have fled: places where a rising generation is often being reared by grandparents because parents are addicted, imprisoned, broke or all three.

In places bedeviled by anomie, immigrants from more family-centered and collectivist societies — Mexico, India, Colombia, Vietnam, Haiti, China — often arrive with an advantageous blend of individualist and communitarian traits.

I say a blend, because while they come from communal societies, they were deserters. They may have been raised with family-first values, but often they were the ones to leave aging parents. It can be a powerful cocktail: a self-willed drive for success and, leavening it somewhat, a sacrificial devotion to family and tribe. Many, even as their lives grow more independent, serve their family oceans away by sending remittances.

Mr. Bhuiyan seemed to embody this dualism. By back-home standards, he was a rugged individualist. But in America it was his takes-a-village embeddedness that enabled his revival: Immigrant friends gave him medicine, sofas to sleep on, free I.T. training and job referrals.

Working at Olive Garden, Mr. Bhuiyan couldn’t believe how his colleagues lacked for support. Young women walked home alone, sometimes in 100-plus degree heat on highways, having no one to give them rides. Many colleagues lacked cars not because they couldn’t afford the lease but because nobody would cosign it. “I feel that, how come they have no one in their family — their dad, their uncle?” he said. They told stories of chaotic childhoods that made them seek refuge in drugs and gangs.

Mr. Bhuiyan concluded that the autonomy for which he’d come to America, while serving him well, failed others who had lacked his support since birth. His republic of self-making was their republic of self-destruction. “Here we think freedom means whatever I wanna do, whatever I wanna say — that is freedom,” he said. “But that’s the wrong definition.”

A second dimension of this in-between-ness involves the role of government. In this era of gridlock and austerity, many immigrants have the advantage of coming from places where bankrupt, do-nothing governments are no surprise. They often find themselves among Americans who are opposite-minded: leaning on the state for economic survival but socially lonesome, without community backup when that state fails.

All this has nothing to do with the superiority of values. If distrust of government made for the most successful societies, Nigeria and Argentina would be leaders of the pack. What’s interesting about so many of America’s immigrants is how they manage to plug instincts cultivated in other places into the system here. Many are trained in their homelands to behave as though the state will do nothing for them, and in America they reap the advantages of being self-starters.

But they also benefit from the systems and support that America does offer, which are inadequate as substitutes for initiative but are useful complements to it.

Like many immigrants, Mr. Bhuiyan operated from the start like an economic loner, never expecting to get much from the government. He was willing to work at a gas station to save money. Recovering in his boss’s home, he ordered I.T. textbooks online to improve his employability. Plunged into debt, he negotiated with doctors and hospitals to trim his bills.

But the system also worked for him. Robust laws prevented employers from exploiting a wide-eyed newcomer. He sued the Texas governor, in pursuit of leniency for his attacker, and was heard. Through a fund for crime victims, Texas eventually paid his medical bills.

In an age of inequality and shaky faith in the American promise of mobility through merit, we can learn from these experiences. Forget the overused idea popularized in self-help guides that native-borns must “think like an immigrant” to prosper, an exhortation that ignores much history. Rather, the success of immigrants in the nation’s hurting places reminds us that the American dream can still work, but it helps to have people to lean on. Many immigrants get that, because where they come from, people are all you have. They recognize that solitude is an extravagance.

American poverty is darkened by loneliness; poverty in so many poor countries I’ve visited is brightened only by community. Helping people gain other people to lean on — not just offering cheaper health care and food stamps, tax cuts and charter schools — seems essential to making this American dream work as well for its perennial flowers as its freshest seeds.

Bolivianos em São Paulo comemoram a Festa de Alasitas (Yahoo Notícias)

EFE – 24.jan.2014

São Paulo, 24 jan (EFE).- A comunidade boliviana em São Paulo, a que mais cresceu nos últimos anos na cidade, celebrou nesta sexta-feira, em meio a um forte calor e com as tradicionais oferendas, a Festa de Alasitas, em homenagem a Ekeko, o deus da abundância.

A celebração, que há 14 anos acontece em São Paulo, foi realizada pela segunda vez na Praça Cívica do Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer.

Segundo os organizadores, 25 mil pessoas participaram da festa, que antes acontecia na Praça da Kantuta, no bairro de Pari, um parque frequentado pela comunidade boliviana, geralmente, aos domingos.

Conforme contou à Agência Efe o comerciante boliviano Élder Cruz, o número de participantes poderia ser ainda maior se a data caísse durante o fim de semana, já que “muitas pessoas queriam vir, trazer a família, mas não podem deixar o trabalho”.

O Centro de Apoio ao Migrante (Cami) e a Associação Cultural e Gastronômica Boliviana Padre Bento (ACGBPB) organizaram uma programação artística com danças folclóricas, apresentações musicais, festival gastronômico e feira de artesanato.

O tradicional culto ao deus índio Ekeko não podia falta. Conforme a crença é ele o responsável pela realização dos sonhos de quem faz as oferendas ao meio-dia do dia 24 de janeiro de cada ano.

Sob o sol intenso, centenas de pessoas formaram longas filas nas barracas em que os curandeiros “vatiri” abençoavam as oferendas, formadas por réplicas em miniaturas dos desejos, como automóveis, casinhas, cópias de dinheiro e moedas, passaportes e diplomas.

“É uma tradição muito arraigada em toda a Bolívia, principalmente em La Paz, e continua com todos os que chegam a um país estrangeiro, e passamos isto a nossos filhos, muitos deles já brasileiros”, contou à Agência Efe Freddy Carrillo, da ACGBPB e um dos responsáveis pela programação artística.

A mistura de sincretismo, religiosidade, mística, música, gastronomia e arte também chamou atenção dos moradores da região e de outros estrangeiros.

Para a pedagoga Ilsa Campânia, que aprecia manifestações culturais, eventos assim aproximam mais o país da realidade dos imigrantes.

“É conviver um pouco e conhecer o vizinho, porque os bolivianos não são estranhos. Já são parte da vida e de uma realidade como a de São Paulo”, disse ela. EFE

Fluxos paulistas (Fapesp)

Núcleo de Estudos de População da Unicamp lança atlas sobre os 200 anos de imigração em São Paulo

CAROLINA ROSSETTI DE TOLEDO | Edição 215 – Janeiro de 2014

Trem levava imigrantes do porto de Santos para as lavouras de café no interior do estado (foto de 1920)

Trem levava imigrantes do porto de Santos para as lavouras de café no interior do estado (foto de 1920)

Ao longo de mais de 200 anos, o tecido social paulista foi moldado de maneira singular pela chegada de mais de 5 milhões de migrantes de várias nacionalidades e regiões do Brasil. As idas e vindas dessas comunidades provocaram profundas alterações na dinâmica social e serviram como potentes motores econômicos da indústria e da agricultura do estado. A capital paulista foi espaço privilegiado deste movimento. Seus bairros mais tradicionais são testemunhos vivos do desenvolvimento urbano pautado por influxos italianos, japoneses, portugueses e, mais recentemente, bolivianos, coreanos, senegaleses e haitianos. A qualidade cosmopolita e empreendedora de São Paulo tem como raiz a herança imigrante. Com o objetivo de mapear a dinâmica migratória de 1794 a 2010, revelando as mudanças e particularidades das trajetórias migrantes nos vários períodos econômicos do estado paulista, o Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Nepo-Unicamp) lançou, em dezembro, o Atlas temático do Observatório das Migrações em São Paulo.

A iniciativa é coordenada pela cientista social da Unicamp Rosana Baeninger e teve apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Atlas é resultado de um projeto temático iniciado em 2009 e que concluiu sua primeira fase em 2013. O estudo das migrações em São Paulo envolveu 16 pesquisadores do Nepo, do Instituto de Economia, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas e da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp e das universidades Estadual Paulista (Unesp), Federal de São Carlos (UFSCar), Federal de São Paulo (Unifesp) e da Faculdade Anhembi-Morumbi, além de 40 estudantes de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. O trabalho incluiu mais de 500 entrevistas com famílias de imigrantes e a coleta de dados censitários, registros do porto de Santos, estudos demográficos e certidões de casamento.

O próximo passo da pesquisa é avançar no estudo das migrações contemporâneas, investigando o impacto social, econômico e urbano das novas levas imigrantes em São Paulo, como os coreanos instalados da região industrial de Piracicaba e no setor de semijoias em Limeira, os haitianos na construção civil de Campinas e Franca, e os bolivianos nas confecções de São Paulo, Americana e Indaiatuba. “O Observatório das Migrações notou que, depois de 200 anos de imigração, São Paulo continua sendo a porta de entrada das imigrações internacionais no Brasil”, diz Rosana.

Reflexos na economia
O objetivo do Atlas é recuperar as distintas fases das migrações do estado desde 1794 até os dias atuais e articular as levas imigrantes e seus reflexos nas diversas fases da economia paulista. O primeiro período histórico contemplado no Atlas, de 1794 a 1888, envolve as migrações internas de cerca de 500 mil homens livres e escravos, bem como os primeiros imigrantes europeus, trazidos para trabalhar nas lavouras de café. A falta de censos demográficos desse período levou os pesquisadores a investigar os registros de casamentos e dados paroquiais de Campinas e São Carlos, por meio dos quais perceberam que parte significativa dos escravos dessas regiões vinha do quadrilátero do açúcar e do sul de Minas Gerais, assim como das províncias do Rio de Janeiro e da Bahia. O levantamento revelou a intensa mobilidade espacial das migrações internas no estado, um aspecto até então pouco estudado da história de São Paulo no século XIX. “Procuramos cobrir uma lacuna na literatura e mostrar como a migração interna e externa são fenômenos muito interligados que continuam a impactar a formação social paulista”, explica Rosana.

Durante 1885 e 1927 entraram em terras paulistas por volta de 2,5 milhões de imigrantes estrangeiros atraídos pela expansão da cafeicultura e crescente urbanização. A primeira expansão da cafeicultura foi concentrada inicialmente nas regiões de Campinas até Araraquara. No início do século XX, o plantio do café se expande rumo à ocupação do território para o oeste do estado. Trabalhadores recém-desembarcados em Santos rapidamente ocupam as novas fronteiras agrícolas. Esse foi o grande período das imigrações europeias incentivadas pelo governo brasileiro. A maior comunidade a chegar a São Paulo entre os anos de 1872 e 1929 foi a italiana, seguida pela portuguesa, espanhola, alemã e japonesa.

Padrões de ocupação
Cada nacionalidade assumiu um padrão de ocupação diferente. Enquanto a de portugueses em São Paulo acompanhou a expansão da fronteira agrícola para oeste, os japoneses tiveram uma dispersão maior pelo estado, reunindo suas famílias nas cidades próximas ao porto de Iguape, no Vale do Ribeira, até a região entre Araçatuba e Presidente Prudente. O rico conjunto de mapas que compõe o Atlas detalha a dinâmica de imigração de todas as nacionalidades de imigrantes entre os anos de 1920 e 2010.

Em 1927 foi encerrado o subsídio à imigração internacional e a crise econômica global alterou a dinâmica imigratória. A elite industrial paulistana cresceu e o empresariado de origem imigrante estabeleceu raízes em Ribeirão Preto, Franca, São Carlos e Bauru, criando ricos polos industriais nas regiões. Os anos 1970 testemunharam a crescente pulverização dos fluxos migratórios rumo ao interior, padrão que continua até hoje por conta da melhor qualidade e menor custo de vida. Em razão da modernização agrícola e difusão da indústria, orientada pela instalação de eixos rodoviários do estado, o interior vem ganhando progressivamente uma relevância populacional, política e econômica. “As cidades interioranas têm forças endógenas e seu desenvolvimento se deve muito aos fluxos migratórios”, diz Rosana. A pesquisa mostra, por exemplo, como a presença de libaneses e japoneses estimulou o florescimento de zonas de comércio, ao passo que os italianos, portugueses e alemães cultivaram a agricultura e impulsionaram a indústria de São Paulo. Entre 1872 e 1950 estima-se que mais de 1 milhão de italianos entraram no estado, seguidos por 1 milhão de portugueses, 600 mil espanhóis, 200 mil japoneses, 200 mil alemães e 100 mil libaneses.

Bolivianos 
em São Paulo, em 2012: leva mais recente de imigrantes

Bolivianos 
em São Paulo, em 2012: leva mais recente de imigrantes

Os conflitos políticos na Europa em meados do século XX provocaram grandes movimentos de dispersão populacional. Nesse período, São Paulo testemunhou a chegada de novas nacionalidades. “A partir de 1930, os especialistas tinham um olhar mais centrado na imigração interna de nordestinos que vieram trabalhar em São Paulo, mas nossa pesquisa mostra como foi importante a chegada de uma nova leva de imigrantes de mão de obra qualificada, especialmente depois da guerra, como os gregos, poloneses, russos e ucranianos que chegaram ao estado impulsionados por conjunturas políticas muito específicas”, explica a pesquisadora. Diferentemente dos períodos anteriores, a imigração do pós-Segunda Guerra Mundial é quase inteiramente urbana e serviu para acelerar o crescimento das cidades paulistas em um ritmo inédito. Ao longo da década de 1950 houve um elevado crescimento populacional na Região Metropolitana da capital, que passou de 2.653.860 habitantes em 1950 para 4.739.406 em 1960, onde as migrações rurais e urbanas, em especial de nordestinos, permitiram que a metrópole tivesse mão de obra disponível para fazer deslanchar sua próxima etapa econômica.

A chegada de imigrantes ajudou no desenvolvimento econômico e expansão demográfica, mas encontrou um crescimento urbano desorganizado gerando, consequentemente, maior demanda por serviços públicos. Um dos objetivos do Observatório das Migrações é aprofundar o conhecimento sobre as imigrações e, assim, auxiliar na implementação de políticas públicas mais eficientes. Diferentemente dos fluxos anteriores, a imigração contemporânea é pautada por maior mobilidade. Os imigrantes agora viajam com maior velocidade e nem sempre vêm com a intenção de se estabelecer definitivamente, como entre 1850 e 1950.

“A rotatividade migratória depende de onde o capital internacional tem excedentes. Hoje, com um Nordeste mais dinamizado, o fluxo de trabalhadores desta região tende a diminuir, por exemplo. Ao entender essa dinâmica do fluxo de capital global é possível perceber a demanda por mão de obra nas cidades paulistas e as necessidades mais pontuais por políticas de atendimento à saúde e educação”, diz Rosana. Para ela, existe hoje um contingente populacional de imigrantes “invisíveis” em São Paulo, como bolivianos, peruanos, paraguaios, coreanos, chineses e senegaleses, angolanos que chegaram para trabalhar na indústria têxtil e no comércio. Estima-se que esses contingentes cheguem a mais de 500 mil pessoas vivendo na cidade. “Temos uma diversidade maior do que em outras épocas. Isso vai demandar uma estrutura diferenciada de políticas públicas que reflitam sobre a segunda geração desses fluxos de imigração, assim como sobre a interiorização da imigração internacional e as sucessivas idas e vindas das comunidades imigrantes.”

O Observatório das Migrações também concluiu em 2013 a publicação dos últimos volumes de uma série de 12 estudos sobre as dinâmicas migratórias de São Paulo. A coleção Por Dentro do Estado de São Paulo mapeia o impacto dos fluxos migratórios em várias regiões do estado e está disponível aqui.

Projeto
Observatório das Migrações em São Paulo (Fases e faces do fenômeno migratório no estado de São Paulo) (nº 2009/06502-2); Modalidade Projeto Temático; Coord.Rosana Aparecida Baeninger/Unicamp; Investimento R$ 368.845,20 (FAPESP) / R$ 37.000,00 (CNPq)