Autor examina compromissos ainda tímidos de boa parte da força industrial envolvida na criação de games e de computadores e consoles para jogá-los em relação a metas de descarbonização e redução de consumo de energia
Por Marco Britto, para o Um Só Planeta
12/06/2022 14h00

O mundo dos games já encontrou as mudanças climáticas, que é tema para diversos cenários no mundo virtual. Porém, terá a indústria dos videogames encontrado seu papel na adaptação para limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2050, como determina o Acordo de Paris? Essa questão foi examinada por Ben Abraham, um pesquisador e fã de jogos, no livro “Digital Games After Climate Change” (“Jogos Digitais Após a Mudança Climática”, em tradução livre), e o cenário mostra que, como em muitos negócios, é preciso acelerar o passo para tornar esse engajamento uma realidade fora dos pixels.
Em conversa com a revista Wired, o autor se mostra preocupado com a “falta de liderança” no setor, onde empresas ainda patinam em reunir dados sobre pegada de carbono em seus relatórios anuais, como no caso da Nintendo, que em 2019 publicou que usava 98% de sua energia de fontes renováveis, para no ano seguinte o mesmo dado cair para 4,2%.
Para Abraham, provavelmente houve um erro ao calcular kilowatts ou megawatts (procurada pela revista, a empresa japonesa não esclareceu o ocorrido e afirmou que hoje 44% da energia usada provém de fontes limpas).
Em seu livro, o autor relata que os compromissos de carbono dos principais fabricantes de consoles e produtores de games, Microsoft, Sony e Nintendo, variam. A Microsoft planeja até 2030 retirar da atmosfera mais carbono do que produz. Uma meta “ambiciosa, mas alcançável”, diz Abraham.
A Sony anunciou recentemente uma meta revisada para 2040 de carbono neutro, juntamente com esforços para usar 100% de energia renovável em suas próprias operações até 2030.
“Ainda precisamos de intervenção regulatória, um marco legal e padrões de eficiência energética”, afirma Abraham. Como exemplo dessa estratégia, ele cita a recente legislação na Califórnia que coloca limite no consumo de energia de dispositivos eletrônicos. Após a lei. a fabricante de computadores Dell suspendeu o envio de alguns de seus PCs de jogos Alienware para o estado.
Jogar videogame não é exatamente uma atividade ecofriendly, ressalta o autor, uma vez que a evolução de equipamentos e qualidade gráfica demanda um maior consumo de energia pelos computadores ou consoles. Mas como em muitos casos, a cobrança maior deve recair sobre a cadeia produtiva, e não o consumidor. “Jogar ainda é, em geral, uma atividade de lazer — e atualmente é relativamente intensivo em carbono.”
Na parte virtual, contudo, o autor é mais otimista, e ressalta a força que os games têm de incentivar a mudança de atitude no mundo real, mas não deixa de cutucar a indústria. “Faz todo o sentido. Se você é um desenvolvedor de jogos, você quer usar suas habilidades para ajudar com o problema. Mas, quando olho para os desafios de persuadir as pessoas em torno de uma questão tão controversa e ideológica quanto o clima, não parece ser uma batalha que possa ser vencida dessa maneira.”
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