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Justiça pré-científica (Folha de S.Paulo)

Editorial

18/10/2015  02h00

A situação é surreal. Decisões judiciais têm obrigado a USP a produzir e fornecer a pessoas com câncer uma substância cujos efeitos não são conhecidos, que não teve sua eficácia comprovada e, pior, jamais foi submetida a testes de segurança em seres humanos.

As liminares concedidas não só ignoram princípios básicos da pesquisa científica como também colocam em risco a vida dos mais de mil pacientes autorizados a receber um composto a respeito do qual praticamente nada se sabe.

Estudada por um professor do Instituto de Química da USP de São Carlos, a fosfoetanolamina só passou por experimentos em células e animais, nos quais mostrou algum potencial contra certos cânceres.

Noticia-se que o docente, seguro das possibilidades terapêuticas da substância –que não pode ser considerada um remédio–, a distribuía por conta própria. Em 2014, uma portaria da universidade interrompeu o fornecimento.

Iniciou-se, então, uma disputa judicial. Centenas de liminares determinando que a USP providenciasse a droga foram concedidas na primeira instância, mas, em setembro, terminaram suspensas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

No começo de outubro, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, ordenou que um paciente recebesse cápsulas de fosfoetanolamina. Ato contínuo, o presidente do TJ-SP, José Renato Nalini, reconsiderou a suspensão de entrega da substância.

A argumentação dos magistrados denuncia profundo desconhecimento dos protocolos universalmente adotados para o desenvolvimento de fármacos.

Fachin, por exemplo, parece considerar o registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um detalhe desimportante. Não é. Trata-se de garantia de que a droga passou por todos os testes devidos –razão pela qual nem sequer há pedido de registro da fosfoetanolamina na agência.

Nalini, por sua vez, afirma que “não se podem ignorar os relatos de pacientes que apontam melhora no quadro clínico”. Ocorre que a ausência de testes controlados torna impossível saber se os alegados progressos decorreram de propriedades do composto.

Mais: sem as pesquisas apropriadas, não se podem descartar efeitos colaterais e graves problemas gerados pela interação com substâncias presentes em medicamentos.

Compreende-se que a luta contra o câncer leve pacientes a buscar todo tipo de tratamento –mas essa é uma questão individual. O Poder Judiciário, entretanto, ao decidir casos dessa natureza, não pode atropelar as normas de validação científica.

Bacterial ‘communication system’ could be used to stop, kill cancer cells, study finds (Science Daily)

Date: September 24, 2014

Source: University of Missouri-Columbia

Summary: A molecule used as a communication system by bacteria can be manipulated to prevent cancer cells from spreading, a study has demonstrated. “During an infection, bacteria release molecules which allow them to ‘talk’ to each other,” said the lead author of the study. “Depending on the type of molecule released, the signal will tell other bacteria to multiply, escape the immune system or even stop spreading.”


Bacteria molecule kills cancer cells: Cancer cells on the left are pre-molecule treatment. The cells on the right are after the treatment and are dead. Credit: Image courtesy of University of Missouri-Columbia

Cancer, while always dangerous, truly becomes life-threatening when cancer cells begin to spread to different areas throughout the body. Now, researchers at the University of Missouri have discovered that a molecule used as a communication system by bacteria can be manipulated to prevent cancer cells from spreading. Senthil Kumar, an assistant research professor and assistant director of the Comparative Oncology and Epigenetics Laboratory at the MU College of Veterinary Medicine, says this communication system can be used to “tell” cancer cells how to act, or even to die on command.

“During an infection, bacteria release molecules which allow them to ‘talk’ to each other,” said Kumar, the lead author of the study. “Depending on the type of molecule released, the signal will tell other bacteria to multiply, escape the immune system or even stop spreading. We found that if we introduce the ‘stop spreading’ bacteria molecule to cancer cells, those cells will not only stop spreading; they will begin to die as well.”

In the study published in PLOS ONE, Kumar, and co-author Jeffrey Bryan, an associate professor in the MU College of Veterinary Medicine, treated human pancreatic cancer cells grown in culture with bacterial communication molecules, known as ODDHSL. After the treatment, the pancreatic cancer cells stopped multiplying, failed to migrate and began to die.

“We used pancreatic cancer cells, because those are the most robust, aggressive and hard-to-kill cancer cells that can occur in the human body,” Kumar said. “To show that this molecule can not only stop the cancer cells from spreading, but actually cause them to die, is very exciting. Because this treatment shows promise in such an aggressive cancer like pancreatic cancer, we believe it could be used on other types of cancer cells and our lab is in the process of testing this treatment in other types of cancer.”

Kumar says the next step in his research is to find a more efficient way to introduce the molecules to the cancer cells before animal and human testing can take place.

“Our biggest challenge right now is to find a way to introduce these molecules in an effective way,” Kumar said. “At this time, we only are able to treat cancer cells with this molecule in a laboratory setting. We are now working on a better method which will allow us to treat animals with cancer to see if this therapy is truly effective. The early-stage results of this research are promising. If additional studies, including animal studies, are successful then the next step would be translating this application into clinics.”


Journal Reference:

  1. Ashwath S. Kumar, Jeffrey N. Bryan, Senthil R. Kumar. Bacterial Quorum Sensing Molecule N-3-Oxo-Dodecanoyl-L-Homoserine Lactone Causes Direct Cytotoxicity and Reduced Cell Motility in Human Pancreatic Carcinoma Cells.PLoS ONE, 2014; 9 (9): e106480 DOI: 10.1371/journal.pone.0106480

Batalha contra nova pandemia de câncer no Sul (IPS) 

17/4/2014 – 10h49

por Kanya D’Almeida, da IPS

paciente Batalha contra nova pandemia de câncer no Sul

Nações Unidas, 17/4/2014 – Poucos no mundo podem alardear que o câncer não os tocou. Neste momento, milhões enfrentam uma batalha pessoal contra a doença e muitos mais estão sentados juntos a seres queridos que lutam por sua vida, visitando amigos que se recuperam de uma quimioterapia ou averiguando sobre os últimos tratamentos para seus familiares. O prognóstico da organização líder em pesquisa sobre câncer não indica melhorias. O Informe Mundial do Câncer 2014 diz que nos próximos 20 anos se espera que os novos casos aumentem 70%, chegando a 25 milhões em 2025.

Produzido a cada cinco anos pela Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde, o informe de 632 páginas aponta que os novos casos passaram de 12,7 milhões em 2008 para 14,1 milhões em 2012. Neste último ano, o mundo experimentou o recorde de 8,2 milhões de mortes por câncer. Os países em desenvolvimento estão entre a cruz e a espada. Por um lado, seguem sofrendo uma grande presença de tipos de câncer associados a infecções, como o de colo uterino, estômago e fígado, que são relacionados à pobreza e à falta de água potável, vacinas, centros de detecção precoce e opções adequadas de tratamento.

Por outro lado, os tumores relacionados com estilos de vida opulentos, como o de pulmão, mama e intestino grosso – pelo elevado consumo de tabaco, álcool e alimentos pesados – também estão dizimando as fileiras crescentes das classes médias desses países.

A África, por exemplo, experimenta uma “alta alarmante” do tabagismo, e a previsão é que a quantidade de adultos fumantes passe de “77 milhões para 572 milhões até 2100, se não forem aplicadas novas políticas”, afirma a Sociedade Norte-Americana do Câncer. O sul-africano Evan Blecher, diretor do programa internacional de pesquisa sobre controle do tabaco dessa entidade, atribui esse aumento a múltiplos fatores. Um dos principais é o crescimento econômico.

“As economias africanas estão crescendo mais rapidamente e de forma mais sustentada do que nos últimos 50 anos”, afirmou Blecher à IPS, da Cidade do Cabo, sua cidade natal. “O crescimento econômico impulsiona o consumo de tabaco porque há mais dinheiro. Alguns dos países onde vemos maior aumento do tabagismo são Angola, República Democrática do Congo, Etiópia, Madagascar, Moçambique, Senegal e Nigéria, que são os de maior crescimento econômico da África e do mundo”, acrescentou.

Esta dupla carga, de tumores da pobreza e da opulência, paira sobre sistemas de saúde que já estão sob pressão. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informa que os países de renda média e baixa, onde residem 85% da população mundial, possuem apenas 4.400 máquinas de megavoltagem, o que representa menos de 35% das instalações mundiais de radioterapia. A AIEA também afirma que 23 países com mais de um milhão de habitantes cada um, a maioria na África, não têm um só aparelho de radioterapia.

R. Sankaranarayanan, consultor especial da Iarc, pontuou à IPS que a brecha oncológica não separa apenas as nações em diferentes graus de desenvolvimento, mas as populações dentro delas. “A enorme disparidade de sobrevivência de câncer de mama entre as zonas rurais e urbanas de China, Índia e Tailândia, ou entre as populações negras e brancas dos Estados Unidos, é um bom exemplo”, ressaltou. Pesquisadores e médicos dos Estados Unidos dizem que há uma diferença de 8,8% nas taxas de mortalidade por câncer de mama das mulheres negras para as brancas.

Como a obesidade é um grave problema para as comunidades afro-norte-americanas (afeta 50% dos adultos negros e 35% dos brancos), não surpreende que elas tenham maior incidência de câncer colo-retal, associado ao consumo excessivo de alimentos processados e pouco saudáveis.

Na Índia, onde foram registrados mais de um milhão de novos casos em 2012 e quase um milhão de mortes por alguma forma de câncer, a grande diversidade de estilos de vida se mostra como o fator decisivo da brecha oncológica. Por exemplo, a maior incidência de câncer se registrou no Estado de Mizorán, uma das regiões de maior crescimento econômico, enquanto a menor ocorreu em Barshi, distrito rural do Estado de Maharashtra, onde boa parte da população se dedica à atividade agrícola.

Silvana Luciani, assessora em prevenção e controle do câncer da Organização Pan-Americana da Saúde, observou que as disparidades dos serviços de saúde dentro da região também resultam em taxas de mortalidade desequilibradas. “Na América Central a mortalidade por câncer de colo uterino é de 15 ou 18 mortes por cem mil pessoas, enquanto na América do Norte é de duas por cem mil”, detalhou à IPS. “Isso se deve a programas de detecção como o exame papanicolau que são realizados há muito tempo na América do Norte e têm uma qualidade muito maior do que na América Central, onde os serviços de saúde estão fragmentados”, acrescentou.

Sankaranarayanan destacou que países como Coreia do Sul, Turquia, Malásia, Índia, Gana, Marrocos, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica e México “estão adotando sistemas de saúde de atenção universal ou seguros nacionais de saúde dirigidos às populações mais pobres”. Mas “as populações cada vez mais envelhecidas e o surgimento de tecnologias oncológicas muito caras aumentam as pressões sobre esses serviços”, enfatizou.

Uma barreira ao desenvolvimento

O câncer de pulmão encabeça a lista de diagnósticos, com 1,8 milhão, ou quase 13% do total mundial. Em seguida vem o câncer de mama, com 1,7 milhão, enquanto o que afeta o intestino grosso representa 9,7%.

O mais mortal continua sendo o de pulmão, que mata 1,6 milhão de pessoas por ano, enquanto outras 800 mil falecem por câncer de fígado e 700 mil por câncer de estômago. Esta mortandade é acompanhada de custos astronômicos dos serviços de saúde, que em 2010 chegaram a US$ 1,6 trilhão.

A incidência cresce em países de renda média e baixa que não têm nem a experiência nem os recursos financeiros para enfrentar a situação. De todos os casos diagnosticados, 60% correspondem a Ásia, África e América do Sul, mesmas regiões onde ocorrem 70% das mortes. Envolverde/IPS