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Painel S.A.: Influenciadora que fez vídeo do Bradesco para reduzir carne diz ter ficado frustrada com banco (Folha de S.Paulo)

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Grupo de três irmãs Verdes Marias afirma que conteúdo foi aprovado pela empresa

14.jan.2022 às 8h04 3-4 minutes


As influenciadoras que produziram o vídeo do Bradesco sugerindo redução no consumo de carne dizem que ficaram frustradas com a decisão do banco de remover o conteúdo da internet.

O material, divulgado nas redes sociais no mês passado para promover um aplicativo do banco que calcula pegadas de carbono, foi tirado do ar após irritar o agronegócio e levou o presidente do Bradesco a se retratar.

“Ficamos frustradas”, diz Mariana Prado Moraes, influenciadora que participou do vídeo. Para ela, os churrascos em frente às agências como forma de protesto ajudaram a manter o tema na pauta.

“Foi uma reação de ódio para o convite feito pela segunda-feira sem carne, mostrando como o tema incomoda alguns grupos, mas as mudanças climáticas precisam ser discutidas, independentemente do incômodo gerado”, diz Moraes, que representa o grupo de três irmãs Verdes Marias.

O trio, que tem cerca de 28 mil seguidores no Instagram, publica conteúdos nas redes socias para incentivar a vida sustentável por meio de pequenas mudanças no dia a dia, como reciclagem, consumo de alimentos orgânicos e uso de absorventes e fraldas de pano.

Moraes diz que a sugestão de citar a segunda-feira sem carne no vídeo partiu delas, mas o roteiro e a versão final foram validados e aprovados previamente pelo Bradesco.

“O tema da mudança de hábito em relação à alimentação precisa ser colocado na pauta, e isso aconteceu com o vídeo. O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] deixou claro em seu último relatório que o clima da Terra está mudando e que o ser humano tem interferência nisso. Entre as ações trazidas, o impacto da pecuária é um deles”, diz.

Ela afirma que o Verdes Marias permanece em diálogo com o Bradesco. Mas, ainda em dezembro, o banco escreveu uma carta aberta ao agronegócio, em que tentou se desvincular do conteúdo. No documento, afirmou que tomaria ações administrativas internas por causa do ocorrido.

O Bradesco não comenta.

com Andressa Motter e Ana Paula Branco


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Bradesco se desculpa com agro por vídeo que defende reduzir consumo de carne

Influenciadoras associam produção pecuária a aplicativo que calcula pegada de carbono

Douglas Gavras – 29 de dezembro de2021


Um vídeo sobre consumo sustentável que circulou nas redes sociais na última semana levou o Bradesco a escrever uma carta aberta, se retratando com o agronegócio. No material, um aplicativo oferecido pelo banco —que permite que o cliente calcule sua pegada de carbono— é associado à redução do consumo de carne.

Ele começa com três influenciadoras dando dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis. “Duas atitudes simples que você pode tomar no seu dia a dia para reduzir o seu impacto”, diz uma delas.

Elas, então, dizem que a primeira atitude que o consumidor poderia tomar é reduzir o consumo de carne, optando por pratos vegetarianos uma vez por semana —movimento que ficou conhecido como “Segunda sem Carne”.

“A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?”

O vídeo segue sugerindo que o consumidor também pode começar a usar composteira para o lixo doméstico e que o usuário calcule a quantidade emitida de carbono e use a informação para pensar em outras maneiras de compensar suas emissões.

O vídeo despertou críticas de entidades e políticos ligados ao agronegócio ao longo da última semana. Em nota, o Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne) criticou o material, dizendo que a pecuária brasileira, no contexto mundial, é a menos impactante na produção de carbono.

“No Brasil, a nossa pecuária é realizada de forma natural, utilizando-se da pastagem como o principal insumo alimentar (…) e os modelos de produção utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando as emissões desse gás que a produção pecuária emite.”

Segundo a entidade, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária e a sugestão de se reduzir o consumo de carne bovina no Brasil não faz sentido.

Já a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) avalia que a carta pública divulgada pelo Bradesco foi importante, ao reconhecer a importância do agronegócio para o país. “Entretanto, o setor espera manifestações mais explícitas deste apoio, com alcance, no mínimo, equivalente à divulgação que gerou esta situação revoltante a que produz alimentos.”

A associação ressalta a importância que o setor tem em gerar segurança alimentar, empregos e segurança econômica para centenas de milhares de famílias.

Por meio de seu perfil no Twitter, o deputado federal José Medeiros (Pode-MT) também criticou a peça. “É isso mesmo @Bradesco? Vocês não pensaram em consultar Embrapa ou alguma instituição séria para saber se o pasto captura carbono na atmosfera e compensa os gases da pecuária?”, questionou.

No último dia 24, o Bradesco publicou uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo. O banco determinou a remoção do material de suas redes, disse que apoia o setor de “forma plena” e afirmou que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.

“Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina“, diz a carta do banco.

Ainda de acordo com o banco, a instituição acredita e promove “direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina”. Ainda segundo o Bradesco, o material foi retirado do ar no último dia 23. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Bradesco informou que seu posicionamento está detalhado na carta aberta ao agronegócio brasileiro. Veja abaixo. ​

A seguir, a íntegra da carta aberta divulgada pelo banco:

CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Ao longo de seus quase 79 anos de história o Bradesco apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas. Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do país.

Contudo, nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca.

Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina.

Pelo contrário.

O Bradesco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina.

Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas incluindo a remoção do conteúdo de ambiente público, e, além disso, ações administrativas internas severas.

Dessa forma, reiteramos nossa lamenta pelo ocorrido e reforçamos mais uma vez nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.

Rich nations could see ‘double climate dividend’ by switching to plant-based foods (Carbon Brief)

carbonbrief.org

Ayesha Tandon

10.01.2022 | 4:00pm


Adopting a more plant-based diet could give rich countries a “double climate dividend” of lower emissions and more land for capturing carbon, a new study says.

Animal-based foods have higher carbon and land footprints than their plant-based alternatives, and are most commonly consumed in high-income countries. The study, published in Nature Food, investigates how the global food system would change if 54 high-income countries were to shift to a more plant-based diet.

High-income countries could cut their agricultural emissions by almost two-thirds through dietary change, the authors find. They add that moving away from animal-based foods could free up an area of land larger than the entire European Union.

If this land were all allowed to revert to its natural state, it would capture almost 100bn tonnes of carbon – equal to 14 years of global agricultural emissions – the authors note. They add that this level of carbon capture “could potentially fulfil high-income countries’ CO2 removal obligations needed to limit warming to 1.5C under equality sharing principles”.

The US, France, Australia and Germany would collectively see roughly half of the total carbon benefits, the study notes, because meat and dairy production and consumption are high in these countries.

‘Double climate dividend’

Feeding the world’s population of almost eight billion people is no small task. The global food system is responsible for around one-third of all human-caused greenhouse gas emissions, and half of the planet’s habitable land is used to produce food.

However, not all calories have an equal impact on the planet. On average, animal-based foods produce 10-50 times more emissions than plant-based foods. Meanwhile, livestock takes up nearly 80% of global agricultural land, despite producing less than 20% of the world’s supply of calories.

Individuals in high-income nations currently have the greatest potential to reduce greenhouse gas emissions through their dietary choices, because their diets are usually the most meat-orientated. Animal-derived products drive 70% of food-system emissions in high-income countries but only 22% in low–middle-income countries.

(In 2019, Carbon Brief produced a week-long series of articles on food systems, including a discussion of the climate impacts of meat and dairy, and expert views on how changing diets are expected to affect the climate.)

The study explores how the carbon footprint of food production could change if 54 high-income countries were to adopt the EAT-Lancet planetary health diet. This is a mainly plant-based diet that is “flexible by providing guidelines to ranges of different food groups that together constitute an optimal diet for human health and environmental sustainability”. 

Dr Paul Behrens from Leiden University, an author on the paper, tells Carbon Brief that the diet varies between countries to account for their “local production and food cultures”.

The study investigates the immediate reduction in emissions from adopting the EAT-Lancet diet using a dataset from the 2010 Food and Agriculture Organization’s statistical Database, linked at the national level to the Food and Agriculture Biomass Input–Output dataset (FABIO).

The authors also determine how much land could be spared by a shift in diet. They use global crop and pasture maps – combined with soil carbon and vegetation maps – to quantify how much extra carbon could be drawn down by soil and vegetation if this surplus land were allowed to revert to its natural state of mixed native grassland and forest. 

As well as investigating changes in the 54 high-income countries, the study follows the trade of food between nations to see how dietary shifts in one country can affect the food-related land and carbon footprints around the world.

The analysis is performed for the 54 high-income countries available in FABIO. For example, Chile is considered a high-income country, while India is not.

The map below shows the drop in greenhouse gas emissions from global agriculture if the 54 high-income countries were to shift to the EAT-Lancet planetary health diet. Dark red shading indicates the largest reductions. Changes in lower-income countries are due to knock-on impacts for food trade.

According to the study, high-income nations could reduce their agricultural emissions by 62% by shifting to a more plant-based diet. Dr Sonja Vermeulen is the lead global food scientist at WWF, and is not involved in the study. She helped to put this figure into perspective:

“To put this in perspective, it’s about the same positive impact as all countries signing up to and implementing the COP26 declaration on the transition to 100% zero emission cars and vans globally by 2040.” 

Freeing up land

The study finds that moving away from animal-based foods could free an area of land larger than the entire European Union. If this area were allowed to revert to its natural state, it would capture around 100bn tonnes of carbon – equal to 14 years of global agricultural emissions from 2010 – by the end of the century, the authors find.  

The map below shows the potential carbon sequestration from surplus land if the 54 high-income countries were to shift to the EAT-Lancet planetary health diet, with dark green shading indicating the largest potential. Changes in lower-income countries are due to knock-on impacts for food trade. 

Approximately half of the carbon benefit from cutting emissions and increasing carbon sequestration could be seen collectively in the US, France, Australia and Germany, the study says.

The authors also highlight that, according to past research, limiting warming to 1.5C above pre-industrial levels requires the 54 high-income countries in this analysis to achieve cumulative CO2 removals of 85-531bn tonnes of CO2 by the end of the century. This range comes from uncertainty in the amount of CO2 removal required, and in the amount that should be allocated to each country.

Based on these numbers, the study concludes that the 100bn carbon sequestration “could potentially fulfil high-income countries’ CO2 removal obligations needed to limit warming to 1.5C under equality sharing principles”.

The study finds that many low and mid-income countries – such as Brazil, India and Botswana – would export less food to high-income nations if they consumed less meat. This would reduce their own agricultural emissions and free up land for drawing down carbon, despite no dietary changes in their own countries, the researchers say. (The study does not assess the economic impact of this reduced trade.)

Around two-thirds of the carbon sequestration potential from dietary changes in high-income countries is domestic, the study finds. Meanwhile, almost a quarter is located in other high-income countries and around an eighth is from low and middle income countries.

Dr Nynke Schulp is an associate professor of land use, lifestyle and ecosystem change at the Vrije Universiteit Amsterdam, and was not involved in the study. She tells Carbon Brief that existing studies “tend to work from the assumption that the whole world adopts a specific dietary change”, and so “this study’s focus on dietary change in high-income nations is an important nuance, both from a mitigation potential perspective and from a climate justice perspective”.

Capturing carbon

The study assumes that any land freed up by a change in diet would be allowed to revert to its natural state through a “natural climate solution” called passive restoration, in which land is allowed to revert to its past state. Behrens explains in a press release that this technique has a range of co-benefits, including “water quality, biodiversity, air pollution and access to nature, to name just a few”.

The study breaks down the carbon sequestration potential of passive restoration into three categories: aboveground biomass carbon (AGBC), belowground biomass carbon (BGBC) and soil organic carbon (SOC) stocks. These refer to carbon held in plant matter above the soil, plant matter below the soil, and the soil itself, respectively.

The plot below shows the total carbon sequestration (left) and emissions reductions (right) potentials from a range of different food types. The red lines on the left and right mark fixed values to make comparisons between the charts easier. Note that carbon sequestration is shown as a total over the 21st century, while the reduction in emissions is shown per year.

The plot shows that animal-based products – most notably beef – have high carbon and land footprints. The authors highlight that the US and Australia in particular would see benefits from reducing their beef intake, due to their high domestic production and consumption. 

Vermeulen tells Carbon Brief that changing diets in these countries could “transform” them:

“The term ‘food system transformation’ is perhaps often used too lightly – but there can be no doubt that the changes in these places would constitute total transformation of local economies, landscapes and cultures. Imagine the vast cattle ranches of the US and Australia replaced with equally vast rewilded or repurposed lands – would these be used for biomass and bioenergy, or conservation and biodiversity, and how would rural communities create new livelihoods for themselves?”

Dietary choices

High-income countries could see the largest per-capita carbon reductions by shifting to a planet-friendly diet, the study concludes. However, asking individuals to take charge of their personal carbon footprints can be a controversial area of discussion.

For example, the authors note that alcoholic beverages and “stimulants” including coffee, cocoa products and tea comprise 5.8% of dietary greenhouse gas emissions. These “luxury, low-nutrition crops” are predominantly consumed in high-income countries and present a “non-negligible” opportunity for cutting emissions and capturing carbon, according to the study. However, “sociological and policy complications” would make it difficult to reduce consumption of these products in practice, the authors say.

They also highlight that eating more offal – a co-product of meat production – could be a good way for individuals to reduce their meat-related carbon footprints. However, the authors say that offal is “not typically consumed in high-income nations due to convention and consumer preference”.

Dr Matthew Hayek is an assistant professor in the Department of Environmental Studies at NYU arts and science, who was not involved in the study. He tells Carbon Brief how governments could incentivise individuals to eat more sustainably: 

“Folks in developed countries eat far more meat and dairy than the global average… Reducing emissions from food consumption in rich countries is critical. For consumers who have ample food choices, these choices play a sizable role in contributing to our climate goals. Our policies must reflect this by making healthy and sustainable food choices more prevalent, convenient, and inexpensive.”

And Behrens tells Carbon Brief that “the onus is on high-income nations to transform food systems”. In the press release, he adds:

“It will be vital that we redirect agricultural subsidies to farmers for biodiversity protection and carbon sequestration. We must look after farming communities to enable this in a just food transition. We don’t have to be purist about this, even just cutting animal intake would be helpful. Imagine if half of the public in richer regions cut half the animal products in their diets, you’re still talking about a massive opportunity in environmental outcomes and public health.”

Sun, Z. et al. (2022) Dietary change in high-income nations alone can lead to substantial double climate dividend, Nature Food, doi: 10.1038/s43016-021-00431-5

66% das emissões brasileiras de CO2 vêm de atividade agropecuária (Folha de S.Paulo)

Phillippe Watanabe

06/09/2016

O desmatamento, de modo isolado, libera as emissões de gases

A agropecuária é a responsável pela maior parte da emissão de gases estufa no Brasil. Quando considerados desmatamento para atividade agropecuária e o exercício direto dela, a porcentagem das emissões chega a cerca de 66%.

Os dados são do Seeg (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases Estufa), realizado pelo OC (Observatório do Clima). O relatório, lançado nesta terça (6), na sede do SOS Mata Atlântica, analisa a evolução histórica das emissões brasileiras.

Considerando dados referentes ao ano de 2014, de forma direta, 23% das emissões de CO2 no Brasil são provenientes da agropecuária. Dentro desse universo, 76% das emissões estão relacionadas à pecuária, sendo 64% derivados do consumo de carne (bovinos de corte), segundo dados da Imaflora, parte do OC.

A mudança de uso da terra é líder de emissões no país, com cerca 42%. O termo, de forma geral, se refere aos desmatamentos, normalmente associados à atividade agropecuária. Esse tipo de emissão somado aos 23% emitidos diretamente pela ação agropecuária alcançam o valor aproximado de 66%.

Segundo dados do Imazon, também parte do OC, com uma melhor aplicação da legislação ambiental atual seria possível aumentar a arrecadação em mais de R$ 1 bilhão por ano.

A energia é a segunda colocada entre as fontes dos gases estufa, com 26%. Essas emissões vêm crescendo anualmente, em parte por conta da crise na produção de energia hidrelétrica.

Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, que também faz parte do OC, quase metade (46%) das emissões relacionadas à energia estão associadas ao transporte, tanto de carga quanto de passageiros.

FUTURO

Os dados levantados pelo OC mostram que o Brasil, caso cumpra os compromissos firmados no Acordo de Paris, como restauração e reflorestamento de matas, recuperação de pastos, entre outros, conseguirá reduzir as emissões de gases estufa mais do que o planejado no INDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas).

“O nosso estudo aponta que dá para ser mais ambicioso”, afirma Tasso de Azevedo, coordenador do Seeg.

Carne bovina é dez vezes mais custosa ao meio ambiente, diz estudo (G1)

PUBLICADO 28 JULHO 2014

Produção de gado bovino demanda de mais recursos naturais, como terra e água, que outras culturas (Foto: Cristino Martins/O Liberal)

Criação de gado bovino demanda mais recursos naturais que demais culturas.
Estudo foi publicado nesta semana na revista científica ‘PNAS’.

Da EFE

O gado bovino demanda 28 vezes mais terra e 11 vezes mais irrigação que os suínos e as aves, e uma dieta com sua carne é dez vezes mais custosa para o meio ambiente, segundo um estudo publicado esta semana pela revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a “PNAS”.

A equipe observou as cinco fontes principais de proteínas na dieta dos americanos: produtos lácteos, carne bovina, carne de aves, carne de suínos e ovos. O propósito era calcular os custos ambientais por unidade nutritiva, isto é uma caloria ou grama de proteína. A composição do índice encontrou dificuldades dada à complexidade e variações na produção dos alimentos derivados de animais.

Por exemplo, o gado pastoreado na metade ocidental dos Estados Unidos emprega enormes superfícies de terra, mas muito menos água de irrigação que em outras regiões, enquanto o gado em currais e alimentado com ração consome principalmente milho, que requer menos terra, mas muito mais água e adubos nitrogenados.

A informação que os pesquisadores usaram como base para seu estudo proveio, majoritariamente, dos bancos de dados do Departamento de Agricultura.

Os insumos agropecuários levados em consideração incluíram o uso da terra, da água de irrigação, das emissões dos gases que contribuem ao aquecimento atmosférico, e do uso de adubos nitrogenados.
Carne ‘cara’

Os cálculos mostraram que o alimento humano de origem animal com o custo ambiental mais elevado é a carne bovina: dez vezes mais alto que todos os outros produtos alimentícios de origem animal, inclusive carne suína e de aves. “O gado requer, na média, 28 vezes mais terra e 11 vezes mais água de irrigação, emite cinco vezes mais gases e consome seis vezes mais nitrogênio que a produção de ovos ou carne de aves”, indica o estudo.

Por seu lado, a produção de carne suína ou de aves, os ovos e os lácteos mostraram custos ambientais similares. Os autores se mostraram surpreendidos pelo custo ambiental da produção de lácteos, considerada em geral menos onerosa para o ambiente.

Se for levado em conta o preço de irrigação e os adubos que se aplicam na produção da ração que alimenta o gado bovino para ordenha assim como a ineficiência relativa das vacas comparadas com outros bovinos, o custo ambiental dos lácteos sobe substancialmente.

A pesquisa foi conduzida por Ron Milo do Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot (Israel), com a colaboração de pesquisadores do Centro Canadense de Pesquisa de Energias Alternativas, do Conselho Europeu de Pesquisa, e Charles Rotschild e Selmo Nissenbaum, do Brasil.

Rachel Biderman: Agropecuária está se tornando a principal fonte de emissões brasileiras (Carbono Brasil)

02/7/2014 – 10h03

por Maura Campanili, do IPAM

Rachel Rachel Biderman: Agropecuária está se tornando a principal fonte de emissões brasileiras

A produção agropecuária de baixo carbono é importante para que o Brasil cumpra suas metas de redução de emissões e colabora para que o produtor consiga adequação ambiental, mas pode ser também um caminho para abrir portas e aumentar a competitividade no mercado internacional, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

Uma ferramenta que pode ajudar o produtor brasileiro a acessar esses benefícios é o Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol) Agropecuária, primeiro instrumento voluntário para medir emissões em propriedades rurais, cuja primeira versão foi lançada em primeira mão no Brasil, no final de maio.

O instrumento foi desenvolvido por meio de uma parceria entre o WRI, a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), levando em consideração as condições brasileiras. Segundo Rachel Biderman, diretora Executiva do WRI Brasil, “ações desse tipo também ajudam a criar uma cultura de gestão, contribuindo para a solução do problema das mudanças climáticas”.

Em entrevista para a Clima e Floresta, Rachel, que também é professora responsável por módulo de meio ambiente do MBA em Gestão da Sustentabilidade e coordenadora do curso de extensão da Fundação Getúlio Vargas de “Gestão para o Baixo Carbono”, explica porque é importante reduzir as emissões da agricultura no Brasil.

Clima e Floresta – Qual a importância do combate às emissões de gases de efeito estufa na agricultura brasileira?

Rachel Biderman – O Brasil cada vez mais se consolida como grande fonte de alimentos para o mundo. Ao mesmo tempo, estamos entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do planeta. Considerando a redução das emissões em mudanças do uso da terra, devido à queda dos desmatamentos, a agropecuária está se tornando a principal fonte de emissões brasileiras e já representa 29,7% das emissões brutas brasileiras em CO2e.

Clima e Floresta – Como a agricultura emite GEE?

Biderman – O setor agropecuário gera emissões em função da fermentação entérica dos animais criados; do manejo de dejetos animais; do cultivo de arroz; da queima de resíduos agrícolas e dos solos agrícolas, estas decorrentes da fertilização nitrogenada e de organossolos cultivados. Há também emissões relativas a atividades associadas ao setor, que incluem a conversão de uso do solo – por exemplo, de florestas para pastagens ou de um tipo de lavoura em outro -, e outras relacionadas à produção de energia.

Clima e Floresta – O que é o GHG Protocol Agrícola e como ele pode colaborar para diminuir as emissões?

Biderman – Trata-se de um conjunto de dois instrumentos principais: as Diretrizes e a Ferramenta de Cálculo de Emissões de GEE no setor Agropecuário. Esses instrumentos permitem aos produtores rurais conhecer melhor o perfil das suas emissões de gases de efeito estufa e desenvolver planos de redução mitigando seus impactos sobre o clima. Esses instrumentos permitirão aos produtores rurais contribuir diretamente para o cumprimento dos objetivos do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e para que mecanismos financeiros adequados sejam alocados para essa atividade sustentável.

Clima e Floresta – A quem o GHG Protocol é destinado?

Biderman – Produtores rurais de qualquer porte.

Clima e Floresta – Pequenos agricultores, assentamentos rurais, populações tradicionais podem participar? Como?

Biderman – Os instrumentos se aplicam a qualquer tipo de produção agropecuária. O WRI Brasil organizará projeto para treinar empresas e interessados para o uso dessas ferramentas.

Clima e Floresta – Além da questão das emissões, há outros benefícios na adoção de uma agricultura de baixo carbono?

Biderman – As empresas que adotarem as diretrizes e ferramenta de cálculo do GHG Protocol terão algumas vantagens competitivas. Entre elas podemos citar: Entender riscos operacionais e de reputação; identificar oportunidades de redução de emissões; implantar metas de redução e monitorar a performance; melhorar a reputação e transparência através da divulgação pública de suas emissões de GEE; colher os frutos dos benefícios associados à redução de emissões, como conservação de energia, ampliação de produtividade, melhora na qualidade do solo e da água; preparar-se para regime de quotas e cumprimento legal; antecipar-se para um potencial mercado de carbono.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.

(CarbonoBrasil)