Painel S.A.: Influenciadora que fez vídeo do Bradesco para reduzir carne diz ter ficado frustrada com banco (Folha de S.Paulo)

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Grupo de três irmãs Verdes Marias afirma que conteúdo foi aprovado pela empresa

14.jan.2022 às 8h04 3-4 minutes


As influenciadoras que produziram o vídeo do Bradesco sugerindo redução no consumo de carne dizem que ficaram frustradas com a decisão do banco de remover o conteúdo da internet.

O material, divulgado nas redes sociais no mês passado para promover um aplicativo do banco que calcula pegadas de carbono, foi tirado do ar após irritar o agronegócio e levou o presidente do Bradesco a se retratar.

“Ficamos frustradas”, diz Mariana Prado Moraes, influenciadora que participou do vídeo. Para ela, os churrascos em frente às agências como forma de protesto ajudaram a manter o tema na pauta.

“Foi uma reação de ódio para o convite feito pela segunda-feira sem carne, mostrando como o tema incomoda alguns grupos, mas as mudanças climáticas precisam ser discutidas, independentemente do incômodo gerado”, diz Moraes, que representa o grupo de três irmãs Verdes Marias.

O trio, que tem cerca de 28 mil seguidores no Instagram, publica conteúdos nas redes socias para incentivar a vida sustentável por meio de pequenas mudanças no dia a dia, como reciclagem, consumo de alimentos orgânicos e uso de absorventes e fraldas de pano.

Moraes diz que a sugestão de citar a segunda-feira sem carne no vídeo partiu delas, mas o roteiro e a versão final foram validados e aprovados previamente pelo Bradesco.

“O tema da mudança de hábito em relação à alimentação precisa ser colocado na pauta, e isso aconteceu com o vídeo. O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] deixou claro em seu último relatório que o clima da Terra está mudando e que o ser humano tem interferência nisso. Entre as ações trazidas, o impacto da pecuária é um deles”, diz.

Ela afirma que o Verdes Marias permanece em diálogo com o Bradesco. Mas, ainda em dezembro, o banco escreveu uma carta aberta ao agronegócio, em que tentou se desvincular do conteúdo. No documento, afirmou que tomaria ações administrativas internas por causa do ocorrido.

O Bradesco não comenta.

com Andressa Motter e Ana Paula Branco


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Bradesco se desculpa com agro por vídeo que defende reduzir consumo de carne

Influenciadoras associam produção pecuária a aplicativo que calcula pegada de carbono

Douglas Gavras – 29 de dezembro de2021


Um vídeo sobre consumo sustentável que circulou nas redes sociais na última semana levou o Bradesco a escrever uma carta aberta, se retratando com o agronegócio. No material, um aplicativo oferecido pelo banco —que permite que o cliente calcule sua pegada de carbono— é associado à redução do consumo de carne.

Ele começa com três influenciadoras dando dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis. “Duas atitudes simples que você pode tomar no seu dia a dia para reduzir o seu impacto”, diz uma delas.

Elas, então, dizem que a primeira atitude que o consumidor poderia tomar é reduzir o consumo de carne, optando por pratos vegetarianos uma vez por semana —movimento que ficou conhecido como “Segunda sem Carne”.

“A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?”

O vídeo segue sugerindo que o consumidor também pode começar a usar composteira para o lixo doméstico e que o usuário calcule a quantidade emitida de carbono e use a informação para pensar em outras maneiras de compensar suas emissões.

O vídeo despertou críticas de entidades e políticos ligados ao agronegócio ao longo da última semana. Em nota, o Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne) criticou o material, dizendo que a pecuária brasileira, no contexto mundial, é a menos impactante na produção de carbono.

“No Brasil, a nossa pecuária é realizada de forma natural, utilizando-se da pastagem como o principal insumo alimentar (…) e os modelos de produção utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando as emissões desse gás que a produção pecuária emite.”

Segundo a entidade, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária e a sugestão de se reduzir o consumo de carne bovina no Brasil não faz sentido.

Já a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) avalia que a carta pública divulgada pelo Bradesco foi importante, ao reconhecer a importância do agronegócio para o país. “Entretanto, o setor espera manifestações mais explícitas deste apoio, com alcance, no mínimo, equivalente à divulgação que gerou esta situação revoltante a que produz alimentos.”

A associação ressalta a importância que o setor tem em gerar segurança alimentar, empregos e segurança econômica para centenas de milhares de famílias.

Por meio de seu perfil no Twitter, o deputado federal José Medeiros (Pode-MT) também criticou a peça. “É isso mesmo @Bradesco? Vocês não pensaram em consultar Embrapa ou alguma instituição séria para saber se o pasto captura carbono na atmosfera e compensa os gases da pecuária?”, questionou.

No último dia 24, o Bradesco publicou uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo. O banco determinou a remoção do material de suas redes, disse que apoia o setor de “forma plena” e afirmou que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.

“Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina“, diz a carta do banco.

Ainda de acordo com o banco, a instituição acredita e promove “direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina”. Ainda segundo o Bradesco, o material foi retirado do ar no último dia 23. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Bradesco informou que seu posicionamento está detalhado na carta aberta ao agronegócio brasileiro. Veja abaixo. ​

A seguir, a íntegra da carta aberta divulgada pelo banco:

CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Ao longo de seus quase 79 anos de história o Bradesco apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas. Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do país.

Contudo, nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca.

Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina.

Pelo contrário.

O Bradesco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina.

Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas incluindo a remoção do conteúdo de ambiente público, e, além disso, ações administrativas internas severas.

Dessa forma, reiteramos nossa lamenta pelo ocorrido e reforçamos mais uma vez nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.