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Desmatamento pode aumentar chance de novas pandemias, diz relatório de Harvard (Folha de S.Paulo)

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Cientistas destacam que há pouco investimento contra surgimento de doenças

Phillippe Watanabe – 20 de agosto de 2021


Um relatório da Universidade Harvard reforça que alterações humanas no uso da terra e a destruição de florestas tropicais são fatores que podem aumentar as chances de surgimento de doenças com potencial pandêmico. Os pesquisadores apontam a conservação ambiental como uma das estratégias para evitar novas doenças.

O Harvard Global Health Institute e o Center for Climate, Health, and the Global Environment, da escola de saúde pública de Harvard, reuniram pesquisadores para analisar a literatura científica disponível até o momento e apontar caminhos para prevenção de novas pandemias.

Um dos pontos citados diretamente pelo relatório é o desmatamento. Os cientistas apontam como exemplo o aumento, após processos de desmate na América Central, de roedores como reservatórios de hantavírus —que, em caso de contaminação de humanos, pode levar à síndrome pulmonar por hantavírus.

A expansão de áreas agricultáveis também está ligada ao surgimento de novas doenças. Isso ocorre, afirmam os pesquisadores, pelo potencial de tal ação aproximar humanos a rebanhos de animais silvestres.

“Cerca de 22% da área terrestre em hotspots de biodiversidade, muitas vezes sobrepostos a hotspots de doenças emergentes, é ameaçada por expansão agrícola”, afirma o documento.

O relatório aponta que processos de urbanização descontrolados e sem planejamento podem ter um papel no surgimento de doenças, pelas mudanças no uso de terra e por possíveis grandes concentrações de pessoas e condições de vida ruins.

Há ainda fazendas de animais como outro ponto importante em eventos de spillover, ou transbordamento, em tradução do inglês, de zoonoses —basicamente, quando um vírus salta de uma espécie para uma nova, como para humanos. Os pesquisadores apontam a baixa diversidade genética e o elevado número de animais mantidos em alguns desses locais.

Os cientistas dão como exemplo a transmissão —inicialmente entre suínos e depois para trabalhadores agrícolas— do vírus nipah, na Malásia, em fazendas de porcos com altas concentrações de animais.

Além disso, a caça, o consumo e o comércio de animais selvagens também podem provocar o spillover.

A crise climática é mais um fator que deve impactar nos riscos de aparecimento de novas doenças no mundo, considerando as alterações que ocorrerão em ecossistemas. Segundo os pesquisadores, existe a possibilidade de habitats adequados para espécies diminuírem, o que poderia promover mais encontros entre vida selvagem e humanos, e, com isso, mais eventos de spillover.

“A redução de habitats e disponibilidade de néctar para morcegos, por exemplo, têm pressionado esses animais a buscar fontes alternativas de alimento em áreas urbanas e arredores”, afirmam os cientistas no relatório.

Por fim, os pesquisadores convocados por Harvard apontam estratégias para evitar eventos de spillover. A conservação ambiental é a primeira a ser destacada no relatório.

Outras estratégias listadas são restrições ao consumo de animais selvagens, investigações sobre vírus na vida selvagem e uma rede global de vigilância de patógenos em humanos, animais criados para abate e vida silvestre, entre outras iniciativas.

Segundo o documento, são baixos os investimentos destinados a impedir spillover. “Não mais do que US$ 4 bilhões [R$ 21,5 bilhões] são gastos a cada ano em todo o mundo em atividades de prevenção de transbordamento. A Covid-19 sozinha resultou em uma perda de PIB global estimada em US$ 4 trilhões [R$ 21,5 trilhões], ou cerca de US$ 40 bilhões [R$ 215 bilhões] por ano durante um século”, aponta o relatório.

Mudanças climáticas podem estar por trás da pandemia de Covid-19; entenda (Galileu)

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Redação Galileu, 05 Fev 2021 – 16h19 Atualizado em 05 Fev 2021 – 16h19

Estudo indica que espécies de morcegos, que carregam diferentes tipos de coronavírus, mudaram de região ao longo dos anos em decorrência das alterações no clima

Estudo indica que 40 espécies de morcegos migraram para a província de Yunnan no último século (Foto:  Jackie Chin/Unsplash)
A população mundial de morcegos carrega cerca de 3 mil tipos diferentes de coronavírus (Foto: Jackie Chin/Unsplash)

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, há um ano, algumas questões permanecem sem resposta. Entre elas, de onde surgiu o Sars-CoV-2, causador da Covid-19.  No fim de janeiro, o jornal Science of the Total Environment publicou um estudo que evidencia uma possível relação entre a pandemia e as mudanças climáticas.

De acordo com a pesquisa, as emissões globais de gases do efeito estufa no último século favoreceram o crescimento de um habitat para morcegos, tornando o sul da China uma região propícia para o surgimento e a propagação do vírus Sars-CoV-2.

A análise foi feita com base em um mapa da vegetação do mundo no século 20, utilizando dados relacionados a temperatura, precipitação e cobertura de nuvens. Os pesquisadores analisaram a distribuição de morcegos no início dos anos 1900 e, comparando com a distribuição atual, concluíram que diferentes espécies mudaram de região por causa das mudanças no clima do planeta.

“Entender como a distribuição das espécies de morcego pelo mundo mudou em função das mudanças climáticas pode ser um passo importante para reconstruir a origem do surto de Covid-19”, afirmou, em nota, Robert Beyer, pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autor principal do estudo.

Foram observadas grandes alterações na vegetação da província chinesa de Yunnan, de Mianmar e do Laos. Os aumentos na temperatura, na incidência da luz solar e nas concentrações de dióxido de carbono presente na atmosfera fizeram com que o habitat, que antes era composto por arbustos tropicais, se transformasse em savana tropical e florestas temperadas.

As novas características criaram um ambiente favorável para que 40 espécies de morcegos migrassem para a província de Yunnan no último século, reunindo assim mais de 100 tipos de coronavírus na área em que os dados apontam como a origem do surto do Sars-CoV-2. Essa região também é habitat dos pangolins, que são considerados prováveis agentes intermediários na pandemia.

“Conforme as mudanças climáticas alteraram os habitats, espécies deixaram algumas áreas e foram para outras — levando os vírus com elas. Isso não apenas alterou as regiões onde os vírus estão presentes, mas provavelmente permitiu novas interações entre animais e vírus, fazendo com que vírus mais perigosos fossem transmitidos ou desenvolvidos”, explicou Beyer.

O estudo ainda identificou que as mudanças climáticas resultaram no aumento do número de espécies de morcegos em outras regiões, como na África Central, na América do Sul e na América Central. “A pandemia de Covid-19 causou grande prejuízo social e econômico. Os governos devem aproveitar a oportunidade para reduzir os riscos que doenças infecciosas apresentam à saúde e agir para mitigar as mudanças climáticas”, alertou o professor Andrea Manica, do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge.

Os pesquisadores também ressaltam que é preciso limitar a expansão de áreas urbanas, fazendas e áreas de caça em habitats naturais para que seja reduzido o contato entre humanos e animais transmissores doenças.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com