Mudanças climáticas podem estar por trás da pandemia de Covid-19; entenda (Galileu)

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Redação Galileu, 05 Fev 2021 – 16h19 Atualizado em 05 Fev 2021 – 16h19

Estudo indica que espécies de morcegos, que carregam diferentes tipos de coronavírus, mudaram de região ao longo dos anos em decorrência das alterações no clima

Estudo indica que 40 espécies de morcegos migraram para a província de Yunnan no último século (Foto:  Jackie Chin/Unsplash)
A população mundial de morcegos carrega cerca de 3 mil tipos diferentes de coronavírus (Foto: Jackie Chin/Unsplash)

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, há um ano, algumas questões permanecem sem resposta. Entre elas, de onde surgiu o Sars-CoV-2, causador da Covid-19.  No fim de janeiro, o jornal Science of the Total Environment publicou um estudo que evidencia uma possível relação entre a pandemia e as mudanças climáticas.

De acordo com a pesquisa, as emissões globais de gases do efeito estufa no último século favoreceram o crescimento de um habitat para morcegos, tornando o sul da China uma região propícia para o surgimento e a propagação do vírus Sars-CoV-2.

A análise foi feita com base em um mapa da vegetação do mundo no século 20, utilizando dados relacionados a temperatura, precipitação e cobertura de nuvens. Os pesquisadores analisaram a distribuição de morcegos no início dos anos 1900 e, comparando com a distribuição atual, concluíram que diferentes espécies mudaram de região por causa das mudanças no clima do planeta.

“Entender como a distribuição das espécies de morcego pelo mundo mudou em função das mudanças climáticas pode ser um passo importante para reconstruir a origem do surto de Covid-19”, afirmou, em nota, Robert Beyer, pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autor principal do estudo.

Foram observadas grandes alterações na vegetação da província chinesa de Yunnan, de Mianmar e do Laos. Os aumentos na temperatura, na incidência da luz solar e nas concentrações de dióxido de carbono presente na atmosfera fizeram com que o habitat, que antes era composto por arbustos tropicais, se transformasse em savana tropical e florestas temperadas.

As novas características criaram um ambiente favorável para que 40 espécies de morcegos migrassem para a província de Yunnan no último século, reunindo assim mais de 100 tipos de coronavírus na área em que os dados apontam como a origem do surto do Sars-CoV-2. Essa região também é habitat dos pangolins, que são considerados prováveis agentes intermediários na pandemia.

“Conforme as mudanças climáticas alteraram os habitats, espécies deixaram algumas áreas e foram para outras — levando os vírus com elas. Isso não apenas alterou as regiões onde os vírus estão presentes, mas provavelmente permitiu novas interações entre animais e vírus, fazendo com que vírus mais perigosos fossem transmitidos ou desenvolvidos”, explicou Beyer.

O estudo ainda identificou que as mudanças climáticas resultaram no aumento do número de espécies de morcegos em outras regiões, como na África Central, na América do Sul e na América Central. “A pandemia de Covid-19 causou grande prejuízo social e econômico. Os governos devem aproveitar a oportunidade para reduzir os riscos que doenças infecciosas apresentam à saúde e agir para mitigar as mudanças climáticas”, alertou o professor Andrea Manica, do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge.

Os pesquisadores também ressaltam que é preciso limitar a expansão de áreas urbanas, fazendas e áreas de caça em habitats naturais para que seja reduzido o contato entre humanos e animais transmissores doenças.

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