Arquivo da tag: Socialismo

Marxista negro tem palestra cancelada ao colocar classe acima de raça e enfurecer socialistas americanos (O Globo)

Michael Powell, no New York Times. 18 de agosto de 2020

Artigo fonte.

Foto da Universidade da Pensilvânia mostra Adolph Reed dando aula em abril de 2019 Foto: ERIC SUCAR/UNIVERSITY OF PENNSYLVANIA / NYT
Foto da Universidade da Pensilvânia mostra Adolph Reed dando aula em abril de 2019 Foto: ERIC SUCAR/UNIVERSITY OF PENNSYLVANIA / NYT

NOVA YORK – Adolph Reed é filho do Sul segregado. Nascido em Nova Orleans, ele organizou negros pobres e soldados contra a guerra nos anos 1960 e se tornou um intelectual socialista em universidades de prestígio. Ao longo do tempo, ele se convenceu de que a esquerda está muito focada em raça e pouco em classe. Vitórias duradouras foram alcançadas, ele acredita, quando trabalhadores de todas as raças lutaram ombro a ombro por seus direitos.

Em maio, Reed, de 73 anos, professor emérito da Universidade da Pensilvânia, foi convidado para falar aos Democratas Socialistas da América (DSA), em Nova York. O homem que fez campanha para Bernie Sanders e acusou Barack Obama de promover uma “política neoliberal vazia e repressiva” discursaria à maior seção dos DSA, que formou a deputada Alexandria Ocasio-Cortez e uma nova geração de ativistas de esquerda.

Ele planejava argumentar que o foco da esquerda no impacto desproporcional do coronavírus na população negra minava a organização de uma frente multirracial, o que ele via como chave para a luta por saúde e a justiça econômica.

Como puderam convidar, perguntaram os membros do DSA, um palestrante que minimizava o racismo em tempos de peste e protestos? Deixá-lo falar, afirmava os afrossocialistas, seria “reacionário e reducionista”. “Não podemos ter medo de discutir o racismo só porque o tema pode ser manipulado pelos racistas”, afirmaram. “Isso é covardia e fortalece o capitalismo racial.”

Em meio a boatos de que os opositores interromperiam sua palestra via Zoom, Reed e os líderes do DAS concordaram em cancelar a palestra. A organização socialista mais poderosa do país rejeitou um marxista negro por suas opiniões sobre raça.

– Adolph é o maior teórico democrático de sua geração – disse Cornel West, professor de filosofia de Harvard (e socialista). – Ele assumiu posições impopulares sobre política identitária, mas tem uma trajetória de meio século. Se desistirmos da discussão, o movimento vai ficar mais estreito.

A decisão de silenciar Reed veio num momento que os americanos debatem o racismo na política, no sistema de saúde, na mídia e nas empresas. Esquerdistas que, como Reed, argumentam que há muito foco em raça e pouco em classe numa sociedade profundamente desigual são frequentemente postos de lado. O debate é particularmente caloroso porque os ativistas enxergam, agora, uma oportunidade única de avançar em pautas como violência policial, encarceramento em massa e desigualdade, e em que o socialismo – um movimento predominantemente branco – atrai jovens de diversas origens.

Intelectuais de esquerda argumentam que as desigualdades de renda e de acesso à saúde e também a brutalidade policial são frutos do racismo, a principal ferida americana. Depois de séculos de escravidão e segregação, os negros deveriam lidera a luta antirracista. Colocar essa luta de lado em nome da solidariedade de classe é absurdo, dizem eles.

– Adolph Reed e sua turma acreditam que se falarmos muito sobre raça, vamos alienar muita gente e não conseguiremos construir um movimento – disse Keeanga-Yamahtta Taylor, professora de estudos afroamericanos na Universidade Princeton e socialista que já palestrou aos DSA e está familiarizada com esses debates. – Não queremos isso, queremos que os brancos entendam como seu racismo prejudicou a vida dos negros.

Reed e outros intelectuais e ativistas proeminentes, muitos deles negros, têm outra visão. Eles veem a ênfase em políticas raciais como um beco sem saída. Entre eles estão West; a historiadora Barbara Fields, da Universidade Columbia; Toure Reed, filho de Adolph, da Universidade Estadual de Illinois; e Bhaskar Sunkara, fundador da revista socialista “Jacobin”.

Eles aceitam a realidade brutal do racismo americano. No entanto, argumentam que os problemas que atormentam os Estados Unidos hoje – desigualdade, violência policial e encarceramento em massa – afetam negros e pardos, mas também os pobres e a classe trabalhadora brancos.

Risco de ‘dividir coalizão’

Os movimentos progressistas mais poderosos, dizem eles, estão enraizados na luta por políticas universais, como as leis que fortaleceram os sindicatos e os programas de incentivo ao emprego do New Deal, e as lutas atuais por educação superior gratuita, valorização do salário mínimo, reforma da polícia e acesso à saúde. Programas como esses ajudariam mais os negros, os latinos e os indígenas, que, em média, têm renda familiar menor e mais problemas de saúde do que os brancos, argumentam Reed e seus aliados. Insistir na questão racial pode dividir uma coalizão potencialmente forte e beneficiar os conservadores.

– Uma obsessão com desigualdade racial colonizou o pensamento da esquerda – disse Reed. – Há uma insistência de que raça e racismo são os determinantes fundamentais da existência dos negros.

Essas batalhas não são novas: no final do século XIX, socialistas enfrentaram seu próprio racismo e debateram a construção de uma organização multirracial. Eugene Debs, que concorreu à presidência cinco vezes, insistiu na defesa da igualdade racial. Questões similares incomodaram o movimento pelos direitos civis nos anos 1960.

A disseminação do vírus mortal e o assassinato de George Floyd por um policial, em Minneapolis, reacenderam o debate, que ganhou um tom geracional à medida que o socialismo atrai jovens dispostos a reformular organizações como os Democratas Socialistas da América, que existe desde os anos 1920. (Uma pesquisa da Gallup indicou que o socialismo é tão popular quanto o capitalismo entre pessoas de 18 a 39 anos.)

O DSA tem mais de 70 mil membros no país e 5,8 mil em Nova York – a média de idade está em torno de 30 e poucos anos. A organização ajudou a eleger candidatos como Ocasio-Cortez e Jamaal Bowman, que venceu um conhecido candidato democrata nas primárias de junho.

Em anos recentes, o DSA já havia recebido Reed como palestrante. No entanto, membros mais jovens, irritados com o isolamento provocado pela Covid-19 e engajados nos protestos contra a violência policial e contra Donald Trump, irritaram-se ao saber que ele havia sido novamente convidado.

Keeanga-Yamahtta Taylor, de Princeton, disse que Reed deveria saber que sua palestra sobre Covid-19 e os perigos da obsessão com desigualdade racial soaria como uma “provocação”.

Nada disso surpreendeu Reed, que, ironicamente, descreveu o ocorrido como uma “tempestade em uma xícara de café”. Alguns esquerdistas, disse ele, têm uma “recusa militante a pensar analiticamente”. Reed gosta de duelos intelectuais e, especialmente, de criticar progressistas que ele enxerga como muito amigáveis aos interesses do mercado. Ele escreveu que Bill Clinton e seus seguidores estavam dispostos a “sacrificar os pobres fingindo compaixão” e descreveu o ex-vice-presidente Joe Biden como um homem cujas “misericórdias estavam reservadas aos banqueiros”. Ele acha engraçado ser atacado pela questão racial.

– Eu nunca falo a partir de minha biografia, como se isso fosse um gesto de autenticidade – disse. – Quando meus oponentes dizem que eu não acredito que o racismo seja real, eu penso “OK, isso está estranho”.

Reed e seus camaradas acreditam que a esquerda muitas vezes prefere se envolver em batalhas raciais simbólicas, de estátuas à linguagem, em vez de ficar de olho em mudanças econômicas fundamentais. Melhor seria, eles argumentam, falar do que une brancos e negros. Enquanto há uma vasta disparidade entre americanos brancos e negros no geral, os trabalhadores pobres brancos são muito parecidos com trabalhadores pobres negros no que se refere à renda. Segundo Reed e seus aliados, os políticos do Partido Democrata usam a raça para se esquivar de questões econômicas, como distribuição de renda, o que incomodaria seus doadores ricos.

– Os progressistas usam a política identitária e a raça para conter os apelos por políticas redistributivas – disse Toure Reed, cujo livro “Toward Freedom: The Case Against Race Reductionism” (“Rumo à liberdade: o argumento contra o reducionismo racial”) trata desses assuntos.

Filho de intelectuais itinerantes e radicais, Reed passou sua infância em Nova Orleans e desenvolveu um “ódio especial” pela segregação que havia no Sul. Ainda que ele tenha sentido algum prazer quando Nova Orleans removeu homenagens a personagens históricos racistas, ele prefere um outro tipo de simbolismo. Ele se lembra de, ainda menino, viajar por pequenas cidades do nordeste americano e ver lápides, cobertas de musgo, de soldados brancos que morreram lutando pelos Estados do Norte contra o Sul escravocrata na Guerra Civil.

– Ler aquelas lápides me dava uma sensação calorosa. “Então fulano morreu para que outros homens pudessem ser livres” – disse. – Há algo de muito comovente nisso.

Losing our Fear! Facing the Anthro-Obscene (Entitle Blog)

entitlefellows
October 20, 2014

by Erik Swyngedouw**

It’s useless to wait-for a breakthrough, for the revolution, the nuclear apocalypse or a social movement. To go on waiting is madness. The catastrophe is not coming, it is here. We are already situated within the collapse of a civilisation. It is within this reality that we must choose sides.

The Invisible Committee

The hegemonic liberal frame that sutures the environmental literary landscape today is ‘market environmentalism’. Greening the market economy, so the fantasy goes, is systematically advanced across the academic and popular media landscape as the panacea for the environmental deadlock we are in. The dominant argumentation of ‘green economy’ pundits maintains that merely greening the existing socio-economic relations will bring a sustainable solution. Ecologising the economy would be necessary and sufficient to evade a pending ecological Armageddon while permitting the untroubled continuation of civilisation as we know it for a while longer.

It is precisely the premise of this biblical promise of an ecological catastrophe coming near you in the near future that should be rejected completely. Confronted with cataclysmic images of imminent ecological disaster, which predominate the ecological and climate discourse and imaginary, and whose ultimate goal is precisely to make sure that the disaster does not take place (if we take the right measures), the only correct radical answer seems to be ‘don’t worry’ (Al Gore, Prince Charles, green boys and girls, eco-responsible companies, environmental civil servants), your disaster scenario is factually correct, but just a bit out-of-synch; social-ecological Armageddon will not only take place, it is already taking place, it has already happened. Many already live in the apocalypse, in those places where the intertwining of environmental change and social conditions has already reduced living conditions to ‘bare life’. Socio-ecological entanglements have already reached the ‘point of no return’. It is already too late to do something about nature. It has always already been too late. It is precisely by accepting this reality that a new politics can emerge.

Source: Robyn Woolston

‘Welcome to the Anthropocene’ has become an often-heard slogan to inform us that a new geological era has started, that it is already too late to save Nature. Whereas until recently earthly processes only proceeded very slowly and irrespective of human interventions at the earth’s surface or in the atmosphere, human beings have now become co-producers of a deep geological time itself. Paul Crutzen, a Nobel Prize winning chemist, invented the term about ten years ago to refer to what comes after the Holocene, the relatively moderate geo-climatic period in which agriculture, cities and complex human civilisations came into being. The notion of the Anthropocene suggests that the intertwining of social and ‘natural’ processes is now so intense that Nature as the merely external condition of existence for human beings has come to an end. There is no longer a form of Nature that is not influenced by social, cultural, and economic relations. Henrik Ernstson, eminent political ecologist, recently proffered the term ‘Anthro-Obscene’ to signal the starkly de-politicising and plainly disempowering mobilisation of what nonetheless sounds like a revolutionary concept. Is the ‘Anthropocene’ and its intense human – non-human entanglements not precisely the name for the disavowed historical unfolding of the capitalist political ecology of the past few centuries? Has it not been the historical-geographical dynamic of capitalism and its global spread that has banned the very existence of an external nature?

The Anthropocene heralds the period since the beginning of industrialisation, and therefore capitalism, which brought a qualitative change in the geo-eco-climatic dynamic on earth as a result of the ever intensifying interaction between human beings and their physical conditions of existence. The Anthropocene is therefore nothing else than a geological name for capitalism WITH nature. Ocean acidification, changes in biodiversity, genetic migration and new genetic combinations, climate change, large infrastructures which influence the geodetic dynamic, new materials, global and often unexpected new disease carriers and so on and so forth resulted in ever more complex entanglements of ‘natural’ and ‘social’ processes whereby human beings became active agents in the co-production of the earth’s future history. The Anthropocene is just another name to indicate the End or the Death of Nature. This cannot be undone, however hard we try. Time is irreversible. There is no ideal, lost place, time or ecology, no Arcadia to which we can return. Eden has never existed anyway. The past is foreclosed forever, but the future – now including the future of a thoroughly socialised nature – is radically open. It is within this historically and geographically specific configuration that not only the possibility, but also the necessity for a real politicisation of the environment arises, that choices have to be made and different socio-ecological entanglements have to be experimented with and produced.

The Anthropocene in its Anthro-Obscenic reality displaces the terrain of the political as merely inter-human activity to the environment as a whole, including those processes, which recently were left to (the laws of) nature. Non-human actants and processes are now engaged in a process of politicisation. And this should be recognised fully in its radical materiality. The Anthro-Obscene opens a perspective whereby different nature-realities and social-ecological interactions can be imagined and realised. The political struggle about the nature, direction and development of these interactions and about the process of egalitarian social-ecological co-production of the commons of life is what a progressive politicisation of the environment envisages. Yes, the apocalypse is already here, but that is not a reason for despair or panic. Let us fully recognise the emancipatory possibilities of apocalyptic life!

The ‘green economy’. Source: Nation of Change

Many people would concur with the view that the climate crisis will fundamentally not be solved by hegemonic approaches of the ‘green economy’, by making capital compatible with – if not cashing in on – ecology; they note that energy costs are on the rise, social inequalities increase, rigid nationalisms – if not worse – emerge everywhere, and that the marketisation of everything is being paid for at an extravagant ecological and social cost. Many people know that things can and should be different. However, like me, they do not know what to do or how to get to something not only different, but better. We all share this gnawing and uncanny feeling that hopeless attempts by economic and political elites to translate the ecological and social catastrophe which surrounds us into a ecological and social crisisthat can and needs to be managed does not solve the problems but push them into the future or to other places. Indeed, does the dominant rhetoric of the elite not maintain that ‘the situation is serious but not catastrophic’? Is their neoliberal recipe book proffered as guarantee that the disaster will not occur? Don’t they claim that the crisis can be overcome with a bit of goodwill and effort: social unity will be restored, economic growth will recover and ecological problems will be addressed sustainably? ‘Hold on for a while’, they seem to be saying, ‘rescue is on its way!’

Don’t you have the surreptitious feeling that something is wrong about this rhetoric of those who (sometimes literally) want to conserve the existing situation at all cost; that the ecological and social crisis cannot be made manageable with the help of mere technical and organisational adaptations; that the attempts of the elite to reduce the catastrophe to a crisis which only requires ‘good’, ‘participatory’ and ‘ecological’ management only enlarges the anxiety, increases insecurity, and especially, worsens the catastrophe which many already experience?

What would happen if we threw off the fear? If we resolutely accepted that the ecological, social and economic apocalypse is already here, that we live in the Anthro-Obscene, that it no longer needs to be announced as a dystopian promise for an avoidable future (if only the right measures are taken today)? What if we really would believe that things can not only change, but have to? That it really is already too late for many people and ecologies?

Yes but, you might think. After all, there is no catastrophe, we don’t live in the Apocalypse. It was a good wine year, the summer was a bit disappointing but the holidays were sunny, the financial crisis is being addressed without too much pain for me and my siblings, my education proceeds as planned, sustainable environmental technologies are stimulated, the hybrid car really drives smoothly, waste is being reduced, and the new IKEA catalogue promises sustainable entrepreneurship. Furthermore, the green parties are not doing badly in the polls. You’re right. The catastrophe is not for most of you or for me. Crisis, yes, but talking about catastrophe appears a bit overdone.

But perhaps we should not forget the words of the Italian Marxist Amadeo Bordiga: ‘when the ship goes down, so too do the first class passengers’. There is no salvation island where the elites can retreat into splendid isolation (despite their best efforts to do so) he claimed. This slogan is often adopted by ecologists of a variety of stripes or colours. We are all in the same boat. Bill Gates, Al Gore, Jeffrey, Richard Branson, the inhabitants of sinking islands, my son, and even Prince Charles today share the opinion of this notorious communist of the common threat facing the commons. But on closer inspection – I would argue — good old Amadeo was desperately wrong. See the blockbuster movie Titanic once again. A large share of the upper class passengers found a lifeboat; the others remained stuck in the underbelly of the beast. The social and ecological catastrophe is indeed not here for everyone; the apocalypse is uneven. And this is where the ultimate truth of our current predicament is situated. Remember the images of the earthquake in Haiti a few years ago, or the devastation wrought by hurricane Katrina in New Orleans: hundreds of thousands of homeless people, hundreds of deaths, dysentery and malaria spreading fast, exaggerated reports about thieves who stole paltry possessions to stay alive, shortages of drinking water. The earthquake was not the consequence of human interventions in nature, the hurricane perhaps. But what we know very well is that the socio-ecological catastrophe is not caused by the earthquake or the hurricane. It was there long before disaster struck. Nature was not responsible for the post-apocalyptic post-human landscape after the quake. Most Haitians, together with all the others who balance on the verge of survival, have always already lived in the apocalypse, before, during and after the quake. Racial prejudices, dire living conditions and a precarious socio-ecological existence were also the lot of the poor in New Orleans. Or think about the incalculable number of environmental refugees.

Source: FightBack

We have a rough idea about the number that is reaching European shores via the Mediterranean, but we have not a clue about the countless migrants, except through occasional harrowing stories of sunken boats, that fail to make it to the continent, and become fish fodder. It is precisely the combination of ecological, social and economic relations, which pushes them, often with desperately little means, to leave their home countries. They, too, fled a catastrophe. Our apocalyptic times are perversely uneven, whereby the survival pods of the elites are fed and sustained by the disintegration of life-worlds elsewhere.

Consider, for example, how the socio-ecological conditions in Chinese mega-factories, like Foxconn, where our iPhone, iPod, iPad and other gadgets, so indispensable for ‘normal’ life are assembled, make 19th century European cities look like socio-ecological utopias. The social and ecological catastrophe which international elites imposed upon Greece to make sure the European neoliberal model could be sustained a while longer shows that the collapse of daily life is reserved for certain people, so that the others can go on with business as usual. If nuclear power plants close down tomorrow, the lights will continue burning on Putin’s gas. Despite Pussy Riot. And tar sands exploitation or ‘fracking’ will protect us from the disaster of ‘peak oil’ while further pumping up greenhouse gas concentrations in the atmosphere never before found in the earth’s history.

‘Natural’ and ecological disasters show in all their sharpness what we have already known for a long time, namely, the politically powerless and economically weak are paying the price, they always do. The apocalypse is always theirs, and only theirs. While the biblical apocalypse of Saint John announced the final judgment which offered paradise to the chosen few and damned the evil ones, the socio-ecological apocalypse separates the elite from the powerless and excluded.

Perhaps something must be done about the lifeboats. For some, the solution is to seal them off hermetically, to protect them with electric fences and impenetrable walls, to strengthen militarised forces to secure the perimeter of their own little eco-paradise. The zombies of the apocalypse, the hordes at the gates, the motley crew that demands its share of nature, the rebels who ask a new order: they represent the reality of catastrophe today. And this reality should be taken seriously. We all share in it. Eco-warrior, advocate of nuclear energy, incorrigible Malthusian and inventor of the Gaia hypothesis James Lovelock summarised the possible consequences of the uneven apocalypse very eloquently and soberly:

“… what if at some time in the next few years we realise, as we did in 1939, that democracy had temporarily to be suspended and we had to accept a disciplined regime that saw the UK as a legitimate but limited safe haven for civilisation. Orderly survival requires an unusual degree of human understanding and leadership and may require, as in war, the suspension of democratic government for the duration of the survival emergency.”

The emergency situation evoked by Lovelock is not there to make sure everyone survives. It is supposed to be the consequence of the demographic explosion cum ecological disintegration of the Global South as a result of which hordes of eco-zombies will crowd at the gates of the egalitarian social-ecological paradise at the other side of the Channel. An autocratic leadership and the suspension of democracy are precisely needed to keep the gates firmly shut. This might appear a somewhat exaggerated perspective. But is this not exactly what happened over the past few years? Perhaps not so much with regard to climate change (very little has happened on that terrain), but surely with regard to attempts to reduce the economic-financial catastrophe to a manageable crisis. All other problems were shoved aside. Draconian austerity measures were imposed which especially affected the weakest, massive public means were and are mobilised to keep financial institutions afloat, migration is being managed with all possible repressive means. Despite profound and previously unseen protest, only one set of recipes was applied to restore the existing financial-economic order. The elite indeed will, if necessary, use all means available to maintain its status and position.

But does in the generalised forms of resistance reside not only the hope, but the absolute certainty, that change is possible and needed? A change that revolves around the signifiers of democracy, solidarity and the egalitarian management of the commons? Does this not suggest, rather provocatively, that the political project that combines those terms might carry the name ‘communism’; ‘a communism of the commons’. This suggestion breaks so strongly with the currently hegemonic logic and recipes that many will sceptically respond: how can the democratic management of the commons ever be realised? How can the egalitarian and collective management of the commons be organised in the current neoliberal climate which includes the privatisation of nature, the individualisation of daily life, and the fragmentation of the political and ideological landscape? Of course, the critique of the hegemonic project of the green economy is valid, and another approach is necessary, but should we – faced with the coming catastrophes – not rather opt for practical solutions, which maybe do not really question the status quo, but are at least a bit more realistic, less weighted down by history, and feasible today?

Furthermore, the term ‘communism’ probably – and rightly – evokes the horror of the 20th century (the Stalinist terror, the ecological disaster, the social inequality), or at least, the term refers to a radical failure of what was once presented as a utopian solution for society’s ills. Perhaps ‘communism’ is indeed not a good name to refer to a democratic ecological project of the commons. Perhaps we should let fear triumph here too. Or maybe it is better to reserve the term socialism or communism for the elitist and undemocratic mobilisation of the commons for personal gain and the reinforcement of the elite’s power position.

We are all socialists now. Source: Newsweek

In February 2009, Newsweek, not immediately the most radical magazine, stated on its cover “We are all socialists now”. The title evidently referred to the 1.5 trillion dollars of public money that President Barack Obama pumped into the banking system to save Wall Street and to prevent a (foretold apocalyptic) planetary financial meltdown. Shortly afterwards, other countries, including the European Union would follow suit. Trillions of euros, part of the common capital, of our commons, were mobilised to provide the sputtering profit motor with new oil. Is there a better example to show that socialism is a real possibility, that collective means, the commons, can massively and collectively be used to reach a particular social goal, in this case the maintenance of elite positions, the avoidance of the apocalypse for the elite on the back of the weakest? Despite the Spanish Indignados, the Greek outraged, and many Occupy! movements which demand ‘Real Democracy Now’, the assembled elites continue undisturbed, realising their collective phantasmagorical utopia. Indeed, we are living in properly socialist times, a socialism of the elites.

We are NOT all socialists now…..Source: Serr8d.blogspot.se

Is a better example possible that the commons can indeed be used collectively (in this case the collective of the 1% – still a significant number)? That a communism of the elites is precisely the political name for the current neoliberal practice? Putin’s Russia is a good example of the appropriation of the commons by an oligarchic ultra-minority. As Marx stated long ago, history unfolds as a drama (the real socialism of the 20th century) and repeats itself as a farce (the real socialism of the elites today). What the socialist movement of the 20th century mostly failed to realise (the nationalisation of the banks) is being achieved by the elite in a very short lapse of time, in the name of the recovery of and sustainability of capitalism! It appears indeed that the collective management of the commons as such is not the problem. It is certainly not a naive or utopian proposal. The question is rather one of its management by whom and for whom?

Where resides the problem then? What is it that we don’t dare to face? What withholds us from tackling the unequal social-ecological apocalypse? The answer is implicit in what precedes. Not the collective management of the commons, of the environment, is the problem, but rather the undemocratic character of the current type of management. This does not relate to the shortcomings of the institutional and electoral machines of daily policy-making (parliaments, regular elections, public administration, political parties, etcetera  – very few still believe in its potential to nurture democratizing and egalitarian change), but to the basis of a democratic society itself. The foundation of democracy is that everyone is supposed to be equal. Democratic equality is not a sociologically verifiable given – we all know that each concrete society knows many clearly observable inequalities – but an axiomatic principle. The democratic is precisely the axiomatic acceptance of the equality of everyone and the recognition of the egalitarian capacity to govern in a concrete context, which is always marked by social and ecological inequalities.  That is the truth which is put forward time and again by resistance movements, Indignados, the Arab Spring, the women’s, workers’ and environmental movements. That is why the truth of democracy is not a universal standard. Its universal truth (we are all equal in principle) is carried by the particular group who is wronged as its equality is mis- or unrecognised. That is why we can conclusively state that Al Gore, Richard Branson, the president of the European Central bank, or Angela Merkel are undemocratic, while environmental refugees, climate justice activists, resistance movements against the privatisation of the commons and Occupy! activists, through their political action, reveal the scandal of institutionalised democracy and the necessity of an egalitarian communist restructuration of political, social and ecological relations, although they too are a sociological minority. In this sense, they precisely indicate what really matters in these apocalyptic times. Let’s join them. Translating the egalitarian demand in concrete social-ecological equality is the stake of a real politicisation of the environment. And this requires intellectual courage, social mobilisation, and new forms of political action and organisation. We have nothing to lose but our fear.

* I have taken the term ‘Anthro-Obscene’ from Henrik Ernstson, eminent political ecologists of the Universities of Stockholm, Stanford, and Cape Town, who suggested it as part of the theme for an upcoming workshop on politicizing urban political ecology that we are organising in 2015. This blog is a redacted reflection of a foreword for a fantastic book coming out in 2015: Kennis A. and Lievens M. The Myth of the Green Economy. (London and New York: Routledge).

** Erik Swyngedouw Erik is Professor of Geography at the University of Manchester in its School of Environment and Development. He received his PhD entitled “The production of new spaces of production” under the supervision of David Harvey at Johns Hopkins University (1991). From 1988 until 2006 he taught at the University of Oxford and was a Fellow of St. Peter’s College. He moved to the University of Manchester in 2006. Erik has published several books and research papers in the fields of political economy, political ecology, and urban theory and culture. He aims at bringing politically explicit yet theoretically and empirically grounded research that contributes to the practice of constructing a more genuinely humanising geography.

Mujica, teórico da transição pós-capitalista? (Blog da Redação)

Publicado em 6 de janeiro de 2014 por 

140106-Mujica

Em entrevista inédita no Brasil, ele debate causas do fracasso do “socialismo real” e afirma: para superar sistema, é preciso começar pelo choque de valores

Cada vez mais popular tanto nas redes sociais como na mídia tradicional, o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, arrisca-se a sofrer um processo de diluição de imagem semelhante ao que atingiu Nelson Mandela. Aos poucos, cultua-se o mito, esvaziado de sentidos — e se esquecem suas ideias e batalhas. Por isso, vale ler o diálogo que Pepe manteve, no final do ano passado, com o jornalista catalão Antoni Traveria. Publicada no site argentino El Puercoespínentrevista revela um presidente que vai muito além do simpático bonachão que despreza cerimônias e luxos.

Mujica, que viveu a luta armada e compartilhou os projetos da esquerda leninista, parece um crítico arguto das experiências socialistas do século XX. Coloca em xeque, em especial, uma crença trágica que marcou a União Soviética e os países que nela se inspiraram: a ideia de que o essencial, para construir uma nova sociedade, era alterar as bases materiais da produção de riquezas. ”Não se constrói socialismo com pedreiros, capatazes e mestres de obra capitalistas”, ironiza o presidente. Não se trata de uma constatação lastimosa sobre o passado ou de um desalento. Mujica mantém-se convicto de que o sistema em que estamos mergulhados precisa e pode ser superado. Mas será um processo lento, como toda a mudança de mentalidades, e precisa priorizar o choque de valores: tornar cada vez mais clara a mediocridade da vida burguesa e apontar modos alternativos de convívio e produção. Leia a seguir, alguns dos trechos centrais da entrevista:

“A batalha agora é muito mais longa. As mudanças materiais, as relações de propriedade, nem sequer são o mais importante. O fundamental são as mudanças culturais e estas transformações exigem muitíssimo tempo. Mesmo nós, que não podemos aceitar filosoficamente o capitalismo, estamos cercados de capitalismo em todos os usos e costumes de nossas vidas, de nossas sociedades. Ninguém escapa à densa malha do mercado, a sua tirania. Estamos em luta pela igualdade e para amortecer por todos os meios as vergonhas sociais. Temos que aplicar políticas fiscais que ajudem a repartir — ainda que seja uma parte do excedente — em favor dos desfavorecidos. Os setores proprietários dizem que não se deve dar o peixe, mas ensinar as pessoas a pescar; mas quando destroçamos seu barco, roubamos sua vara e tiramos seus anzóis, é preciso começar dando-lhes o peixe”.

“A vida é muito bela e é preciso procurar fazer as coisas enquanto a sociedade real funciona, ainda que seja capitalista. Tenho que cobrar impostos para mitigar as enormes dificuldades sociais; ao mesmo tempo, não posso cair no conformismo crônico de pensar que reformando o capitalismo vou a algum lado. Não podemos substituir as forças produtivas da noite para o dia, nem em dez anos. São processos que precisam de coparticipação e inteligência. Ao mesmo tempo em que lutamos para transformar o futuro, é preciso fazer funcionar o velho, porque as pessoas têm de viver. É uma equação difícil. O desafio é bravo. Há quem siga com o mesmo que dizíamos nos anos 1950. Não se deram conta do que ocorreu no mundo e por quê ocorreu. Sinto como minhas as derrotas do movimento socialista. Me ensinam o que não devo fazer. Mas isso não significa que vá engolir a pastilha do capitalismo, nesta altura de minha vida”.

“Não sei se vão me dar bola, mas digo aos jovens de hoje que aprendemos mais com o fracasso e a dor que com a bonança. Na vida pessoal e na coletiva pode-se cair uma, duas, muitas vezes, mas a questão é voltar a começar. E é preciso criar mundos de felicidade com poucas coisas, com sobriedade. Refiro-me a viver com bagagem leve, a não viver escravizado pela renovação consumista permanente que é uma febre e obriga a trabalhar, trabalhar e trabalhar para pagar contas que nunca terminam. Não se trata de uma apologia da pobreza, mas de um elogio à sobriedade — não quero usar a palavra austeridade, porque na Europa está sendo muito prostituída, quando se deixa as pessoas sem trabalho em nome do ‘austero’”.

“Em toda a história do Uruguai, o presidente repartia as licenças de rádio e TV com o dedo. Tivemos a ideia de abrir consultas e processos democráticos baseados em méritos. Pensamos e realizamos! O que certa imprensa diga não me preocupa. Já os conheço. O problema que o diário [uruguaio] El País pode me criticar e se, algum dia, estiver de acordo e me elogiar. Seria sinal de que ando mal”.

 

Uruguay: Mujica básico, o cómo convivir con todo aquello que se detesta, por Antoni Traveria (El Puercoespín, Argentina)

30 diciembre, 2013

Fue detenido hasta en cuatro ocasiones y privado de libertad durante casi 15 años en total, hasta 1985. En su condición de rehén de la dictadura cívico-militar, sufrió largos periodos de aislamiento en la cárcel de Punta Carretas –desde 1994, convertida en centro comercial– de la que se fugó en dos ocasiones.

José Alberto Mujica Cordano, al que sus compatriotas llaman el Pepe, es el presidente de la República del Uruguay desde hace tres años. La vida le llenó de cicatrices, de las que habla sin rencor, sin queja alguna.

Opina que «el odio no construye un carajo», pero que no hay que olvidar el pasado. Necesita acariciar la tierra todos los días, estar cerca de sus raíces. Su perra mestiza, con una pata amputada, de nombre Manuela, no se separa de él cuando está en casa. Vive en el campo, en una austera chacra en la zona rural de Rincón del Cerro, a 20 kilómetros de su lugar de trabajo en Montevideo. Una granja humilde donde cultivan flores y hortalizas junto a su compañera –como gusta llamarla él–, la senadora Lucía Topolansky. Compartieron militancia guerrillera tupamara y también ella estuvo en la cárcel, 13 años. Los razonamientos transgresores de este atípico presidente, su filosofía de vida, su sencillez, le hacen distinto a cualquier otro en su posición.

Tal vez sean esas las cualidades que le han convertido, a sus 78 años, en todo un fenómeno universal en las redes sociales. El sol ya se ha levantado hace poco más de un par de horas. Pepe Mujica recibe a Más Periódico en exclusiva, en su chacra, con su inseparable mate.

–Sus palabras acostumbran a tener repercusión; mucha gente, de todas las edades, le elogian a través de las redes sociales.

–Europa fue durante mucho tiempo el epicentro de todas las ideas de renovación, de cambio, de sociedades más justas, de respeto a los derechos humanos. Todo en el marco de un gigantesco cataclismo, porque nada cayó del cielo. También está la otra Europa. Como decía Antonio Machado, una España de charanga y pandereta con el contraste de otra España, la de las ideas y la cultura. Hay una parte de juventud que trata de cultivar esperanza y caminos de cambio. Ven una América Latina generosa. Da la impresión de que el pensamiento de izquierdas se está refugiando en América Latina. No tenemos mucho para teorizar, pero estamos realizando formidables experimentos de carácter social. Ya no nos creemos que podemos tocar el cielo con la mano, ni que construir una sociedad más justa y más libre es cosa de una sola generación.

–Tal vez haya ahora menos utopías que cuando usted era joven.

–El partido es ahora muchísimo más largo. Los cambios materiales, las relaciones de propiedad ni siquiera son lo más importante. Lo fundamental son los cambios culturales y esas transformaciones conllevan muchísimo tiempo. Aun aquellos que no podemos comulgar filosóficamente con el capitalismo estamos rodeados, cercados de capitalismo en todos los usos y costumbres de nuestras vidas, de nuestras sociedades. Nadie escapa a la tupida malla del mercado, a su tiranía. Estamos en lucha por la equidad y para amortiguar por todos los medios las vergüenzas sociales. No nos olvidamos que tenemos que aplicar políticas fiscales que ayuden a repartir, aunque sea parte del excedente que se produce en la sociedad, a favor de los más desfavorecidos. Los sectores propietarios dicen que no hay que regalar pescado a la gente, que hay que enseñarles a pescar; pero cuando les destrozamos la barca, les robamos la caña y les sacamos los anzuelos, hay que empezar por darles. Si queremos incorporarles a la sociedad no tiene vuelta.

–Hay una parte importante de esas nuevas generaciones que están buscando su futuro, pero cuesta mucho encontrarlo.

–No tengo certidumbre de que me vayan a dar un poco de pelota, pero a los jóvenes de hoy quiero decirles que las personas aprendemos mucho más del fracaso y del dolor que de la bonanza. La Europa rica se va a tensar inevitablemente. En la vida personal y en la vida colectiva se puede caer una, dos o muchas veces, pero la cuestión es volver a empezar. Aquel que no logre crearse su mundillo de felicidad con pocas cosas, con sobriedad –no quiero usar la palabra austeridad porque en Europa la prostituyeron dejando a la gente sin trabajo en nombre de lo austero–, me refiero a vivir liviano de equipaje, a no vivir esclavizado por esa renovación permanente consumista que es una fiebre y nos obliga a trabajar, a trabajar y a trabajar para poder pagar cuentas que nunca terminan. No es una apología de la pobreza, es una apología de la sobriedad, de los límites que uno tiene que fijarse para pelear por la libertad.

–No es fácil conseguir esa libertad.

–Ser libre es tener tiempo para hacer aquellas cosas que a uno lo motivan. Esto que aparentemente parece tan sencillo, tan brutalmente sencillo, es lo que con más frecuencia olvidamos. La vida esclavizada para comprar, comprar y comprar elimina la libertad de la persona para estar con los amigos, para el amor, para pescar si uno tiene esa afición, ¿qué sé yo? Para estar bajo un árbol. Usamos el concepto libertad en un sentido francés de revolución, muy grandilocuente. La libertad hay que bajarla a la tierra.

–Su intervención en la última Asamblea General de Naciones Unidas removió conciencias.

–Estoy seguro de que un presidente africano que estaba en la mesa me entendió todo lo que expresé. Creo que muchos entendieron mis palabras. Entender no quiere decir poder salir de la telaraña. Es otra historia. No creo que la presa que está atrapada esté contenta con estar ahí, pero el caso es que lo está. Esa es la cuestión. Por eso este fenómeno del capitalismo no es sencillo de resolver. La renovación necesita escuela de pensamiento, pero también escuela de vida. Los intentos de crear sociedades socialistas con la idea de poder hacer desaparecer la explotación del hombre por el hombre han adolecido de un defecto que no podíamos saber. No se pueden construir edificios socialistas con albañiles capitalistas. Sobre todo con capataces, con directores de obra que sean capitalistas. No se puede. De aquí el valor que tiene la cultura.

–El gran problema en América Latina siguen siendo las desigualdades sociales.

–La vida es demasiado hermosa y hay que procurar hacer las cosas mientras la sociedad real funciona, aunque sea capitalista. Tengo que cobrar impuestos para mitigar las enormes desigualdades sociales; y al mismo tiempo no puedo caer en el conformismo crónico de que reformando el capitalismo voy a alguna parte. Debo intentar otra cosa distinta; pero evitar la colisión, porque el choque es sacrificio humano. No se puede estar 30 o 40 años planteando la palabra revolución y que la gente tenga dificultades para comer. No podemos sustituir las fuerzas productivas de un día para otro, de la noche a la mañana ni en 10 años. Son procesos que necesitan la coparticipación de la inteligencia. Hay que dar batalla en el seno de las universidades para la multiplicación del talento humano. Pero, al mismo tiempo que peleamos por transformar el futuro, hay que hacer funcionar lo viejo porque la gente tiene que vivir. Es una ecuación difícil. El desafío es bravo. Hay quienes todavía siguen con lo mismo que decíamos en los años 50 del siglo pasado. No se han hecho cargo de lo que pasó en el mundo y por qué pasó. Siento como mías las derrotas que tuvo el movimiento socialista. Me enseñan lo que no debo de hacer. Pero eso no significa venirme a tragar la pastilla del capitalismo a estas alturas de mi vida.

–Hay quienes se refieren a usted calificándolo como «el Presidente pobre».

–Les respondo con la definición de Séneca: «Pobres son los que precisan mucho». Es al revés, pobres son ellos. Coincido con el concepto liviano de equipaje de Machado, no estar esclavizado por las cuestiones materiales, y además tengo 78 años. ¿Qué sentido tendría que me pusiera a juntar plata a estas alturas del partido? Sería un viejo demencial, estúpido e idiota. Lo que recibo trato de compartirlo todo lo que puedo porque, además, la vida se me está escapando. Si pudiera amortizar algunos años de vida tal vez otro gallo cantaría, podría ser distinto, pero pasé casi 15 años con ciertas incomodidades por querer cambiar el mundo.

–Después de ese largo periodo de aislamiento en la cárcel, entiendo que habrá coincidido con funcionarios, militares e incluso con alguno de los verdugos que le infligieron torturas.

–Muchos. Cantidades. ¡Me los banco [me los trago]! De no ser ellos habrían sido otros. Eran producto de un sistema. Yo no estoy para cobrar cuentas personales. Esto no quiere decir perdonar u olvidar; esas son cosas del fuero interno de cada uno. Cada ser humano es como un solecito del sistema planetario, están los hijos, los familiares. En una visión global del país tengo que tratar de amortiguar en lo posible la resaca que ha quedado como consecuencia del pasado. La mochila de los recuerdos se carga atrás y se camina hacia delante, porque de lo contrario no se puede vivir. Hay deudas que no se cobran en este mundo y, por tanto, trato de convivir con cada cual por su vereda. No hay que olvidar el pasado porque el hombre es el único animal capaz de tropezar varias veces con la misma piedra, pero la vida siempre es porvenir. La dictadura dejó cuentas dolorosas pero el odio no construye un carajo.

–El rey de Holanda les ha dicho a sus conciudadanos que el Estado del bienestar se ha terminado.

–¡Está loco! Se está mintiendo a sí mismo. ¡Qué bárbaro! Uno va por Europa y sabe que hay problemas, pero yo quisiera que nuestros países americanos pudieran vivir en el estado de crisis que tienen ustedes. Tienen sociedades desarrolladas con una masificación de cosas. ¡Miren a África, miren al sur del Sáhara! Hay que agrandar un poco más el alma al medir las cosas. ¡No sean hipócritas!

–En la última década se han producido cambios muy significativos en el ejercicio del poder político en mu-chos países de América Latina.

–Ya nunca más Brasil volverá a ser lo mismo que fue antes de Lula. Aún con versiones más de izquierdas y otras más centristas; en América Latina en estos momentos vamos todos juntos, incluso con las derechas, por primera vez en nuestra historia. Si tiramos demasiado con la mano izquierda corremos el riesgo de alejarnos de la mano derecha, y eso nos debilita como continente. No llega más rápido el que anda más apurado, sino el que camina más firme. Los más débiles no tenemos otra alternativa que juntarnos y más cuando tenemos tantas cosas en común. El portugués es un castellano más dulce. Si te lo hablan despacio, se entiende. Así que tenemos un parentesco muy hondo. Tenemos una lengua en común y tenemos lo que fue la influencia de la iglesia católica en todo el continente. Soy ateo, lo debo reconocer, pero la Iglesia católica ha matrizado [moldeado] toda América Latina. Tenemos nexos mucho más fuertes que los que pueda tener Europa, dividida en sus viejas repúblicas y naciones. Para terciar en ese mundo de gran dotes hay que construir sus homólogos.

–A la cumbre iberoamericana en Panamá excusaron su asistencia hasta 12 presidentes y tampoco pudieron alcanzar un acuerdo para elegir a un nuevo secretario general al finalizar su gestión el uruguayo Enrique Iglesias.

–Es un uruguayo español. Un hombre excelente. Estuve a punto de ir, pero decidí no acudir porque no había consenso para alcanzar un acuerdo sobre el nombre del sustituto. Es ridículo que no nos podamos poner de acuerdo en estas cosas. ¡El chovinismo nos hace un mal terrible! El nacionalismo de los débiles es una herramienta progresista, pero el ultranacionalismo de los fuertes es un peligro.

–¿Está en crisis el sistema de cumbres?

–Hemos caído en una hemorragia de encuentros presidenciales. Las cumbres están bien pero deberían tener una jerarquía y un producto final. De lo contrario, lo único que hacemos es dar trabajo a las cadenas hoteleras y a las agencias de viaje, pero perdemos el tiempo maravillosamente. Hay que cuidar un poco más los recursos públicos. Ha habido un cierto abuso de encuentros, cumbres y cumbrecitas. Más si tenemos en cuenta las herramientas de comunicación de que disponemos hoy.

–Dice el tópico que cuando al otro lado del río de La Plata se resfrían, ustedes tienen pulmonía. Las relaciones con Argentina andan revueltas.

–Las relaciones son complejas porque nos queremos mucho, y fundamentalmente nos quieren ellos. Más ellos que nosotros a ellos. No es mi caso personal. Soy un aficionado a la historia y, tal vez por eso, soy un francotirador contracorriente en mi país. Siempre defendí a muerte la relación con Argentina. Deben de haber unos 300.000 uruguayos por lo menos en Argentina, y no son dis-criminados. Pasan desapercibidos, como si fueran argentinos. Desde el punto de vista de la economía, la sociedad argentina es enormemente gravitante con Uruguay. No es solo por el comercio, es mucho más importante la inversión inmobiliaria que hacen a lo largo de toda la costa porque les encanta venir al Uruguay. Entre el 70 y el 80% del turismo que viene aquí es de origen argentino, y les retribuimos. Para nosotros ir a Buenos Aires es como ir a la gran ciudad, es como ir a París o a Barcelona.

–Los últimos años tienen ustedes el frente abierto con la industria papelera. Y da la impresión que el problema está enquistado.

–Siempre tenemos algún que otro conflicto. Argentina está en un modelo que le impuso la crisis del 2001 y las consecuencias que le comportó. Es muy proteccionista, muy cerrada, muy poco previsible. Eso nos crea problemas. No es que los finlandeses sean santos, vienen a ganar mucha plata y esta planta de acá es la que produce más barato, mucho más que las que tienen en Finlandia. Pero son inteligentes, cuidan y protegen el medio ambiente mucho más que nosotros porque son conscientes de que si pudren el río, están condenados. Son capitalistas desarrollados sin ser benefactores. Tampoco lo somos nosotros, siempre les mascamos algo. No damos puntada sin hilo.

–Calificó usted de «terca» a la presidenta Cristina Fernández…

–Si Cristina no fuera terca y dura, en Argentina se la llevan puesta. Pelea y pelea. La entiendo perfectamente. Menos mal que tiene ese carácter. ¡Es brava la Argentina!

–¿Cómo conoció a su esposa, la senadora Lucía Topolansky?

–¡Disparando! ¡Disparando! Andábamos disparando por el monte. (Sonríe) Lo que supera la realidad de lo que pueda pensar cualquier novelista es que Lucía fuera la encargada de ponerme la banda presidencial. Cuando fui senador me tocó investir al primer presidente de izquierdas del Uruguay y después, mi compañera Lucía, al ser la senadora más votada, tuvo que investirme a mí. Ahora empezamos a estar ya un poco pasaditos de años…

–Le queda prácticamente un año de mandato. ¿Qué no ha podido cumplir de lo que había comprometido ante los ciudadanos?

–Uno no sabe dónde está exactamente el poder. Si es un señor que está en un banco o el que maneja la tasa de interés. Hemos contribuido a fundar una universidad en el interior, teníamos otra idea mucho más grande pero no la pudimos concretar. Queríamos mucho más para la educación, aunque vamos a seguir en la lucha hasta el último día de mandato, que nadie tenga dudas.

–Uruguay será el primer país latinoamericano que permitirá el consumo de marihuana y dejará por tanto de ser delito. La controversia está servida.

–En alguna ocasión he dicho que la única adicción sana es la del amor. Las otras son como una especie de plaga: el tabaco, el juego, el alcohol… Todas ellas son legales pero son puro veneno. Blanquear el consumo de 30 gramos de marihuana por persona, como expresa la ley, permite eliminar las redes clandestinas del narcotráfico con este producto. Si criminalizamos la marihuana les estamos entregando el negocio a los narcotraficantes. La ley conllevará el control de la producción y de la venta de cannabis. Piense que un tercio de los presos que tenemos en Uruguay lo son por cuestiones relacionadas con las drogas. La violencia se da por el mercado negro y lo que pretendemos con esta ley es combatir el narcotráfico, que nadie piense que esto va a ser un viva la Pepa. Queremos regular su venta en farmacias y, por tanto, tener control sobre el consumo. Sabemos que lo que se ha hecho hasta hoy no ha dado resultado. Entiendo a quienes se muestran contrarios a nuestra propuesta, pero veamos los resultados de esta experiencia.

–¿Cuál es su definición de lo que conlleva gobernar, ahora que ha tenido oportunidad de vivirlo?

–En el sentido más profundo es posible que gobernar sea luchar por hacer evidente lo pre-evidente, mirar muy lejos. Eso tiene un precio: no ser entendido, no ser acompañado, no ser comprendido. Es natural que la gente esté preocupada por su hoy inmediato. La gente quiere ganar más, quiere vivir mejor, es parte del modelo y de esta etapa de la civilización. Hay otra discusión que tiene que ver con el despilfarro, porque así como vamos no hay para todos. Convengamos ese sentimiento real de que la gente quiere ganar más y gastar más, lo que comporta que hay que tensar y desarrollar más a este sistema. Ahí aparecen los fantasmas, las contradicciones. Muchos quieren vivir mejor de lo que ya viven, pero sin contribuir en nada.

–Han tenido también ustedes problemas con algunos medios de comunicación tradicionales, como les ha ocurrido a otros presidentes de la izquierda latinoamericana.

–Toda la vida en Uruguay el presidente repartía las licencias de radio y televisión con el dedo. A nosotros se nos ocurrió consultar y abrir un proceso democrático de méritos. ¡Lo que hicimos! Lo cierto es que lo que digan determinados medios no me preocupa. Ya les conozco. El problema que me puede crear a mí el diario El País (el de Uruguay) es si algún día está de acuerdo y me elogia; sería señal de que ando mal.

–¿Está usted siguiendo el debate soberanista planteado en Catalunya?

–La cuestión de la unidad ibérica nunca estuvo resuelta del todo. En el pasado fue la bota militar de Castilla y claro, eso no resolvió el encaje de todas las comunidades. Hay que acentuar en todo lo que se pueda la autonomía pero no en la pulverización, que creo que es para peor. Estuve el año pasado en Galicia y en el País Vasco, tengo pendiente visitar Catalunya.