Arquivo da tag: Rituais

O que um xamã africano de Burquina Faso vê em um hospital psiquiátrico (WakingTimes)

[Apesar de ter como fonte site que frequentemente publica artigos associados a teorias de conspiração norteamericanas, este artigo é aqui disponibilizado em português em razão de interessantes paralelos entre o pensamento do xamâ burquinabê mencionado no texto e as formas como a doença mental é entendida pelas tradições espiritualistas brasileiras, sejam as comumente denominadas afro-brasileiras, as de matriz indígena e o kardecismo. Tradução do Google Translator.]

Por WakingTimes, 22 de agosto de 2014

Stephanie Marohn com Malidoma Patrice Somé

Dr. Malidoma Somé.
Fonte: kellybroganmd.com

A visão xamânica da doença mental

Na visão xamânica, a doença mental sinaliza “o nascimento de um curador”, explica Malidoma Patrice Somé. Os transtornos mentais são emergências ou crises espirituais, e precisam ser considerados como tal para que o curandeiro seja auxiliado em seu desenvolvimento.

O que os ocidentais veem como doença mental, o povo Dagara considera como “boas notícias do outro mundo”. A pessoa que está passando pela crise foi escolhida como meio para a comunicação de uma mensagem do reino espiritual à comunidade. “Desordem mental, desordem comportamental de todos os tipos, sinalizam o fato de que duas energias obviamente incompatíveis se fundiram no mesmo campo”, diz o Dr. Somé. Esses distúrbios ocorrem quando a pessoa não obtém ajuda para lidar com a presença da energia do reino espiritual.

Uma das coisas que o Dr. Somé encontrou quando veio pela primeira vez aos Estados Unidos, em 1980, para um curso de pós-graduação, foi como o país lida com doenças mentais. Quando um colega estudante foi enviado a um instituto mental devido à “depressão nervosa”, o Dr. Somé foi visitá-lo.

“Fiquei tão chocado. Essa foi a primeira vez que fiquei cara a cara com o que é feito aqui para pessoas que exibem os mesmos sintomas que eu vi em minha aldeia”. O que impressionou o Dr. Somé foi que a atenção dada a esses sintomas era baseada na patologia, na ideia de que o quadro é algo que precisa ser interrompido. Isso estava em total oposição à maneira como sua cultura vê tal situação. Enquanto olhava os pacientes, alguns em camisa de força, dopados com medicamentos ou gritando, ele pensou: “Então é assim que os curadores que estão tentando nascer são tratados nesta cultura. Que perda! É uma lástima que uma pessoa que finalmente está sendo alinhada com um poder do outro mundo está sendo simplesmente desperdiçada”.

Uma forma de dizer isso que pode fazer mais sentido para a mente ocidental é que nós, no Ocidente, não somos ensinados a reconhecer a existência de fenômenos psíquicos, o mundo espiritual, e muito menos treinados em como lidar com ele. Na verdade, há recusa à aceitação da existência das habilidades psíquicas. Quando as energias do mundo espiritual emergem na psique ocidental, o indivíduo se descobre despreparado para integrá-las ou mesmo reconhecer o que está acontecendo. O resultado é, em geral, aterrorizante. Sem o contexto adequado e assistência para lidar com a intrusão de outro nível de realidade, a pessoa acaba sendo considerada mentalmente doente. Drogas antipsicóticas em alta dosagem agravam o problema e evitam a integração que poderia levar ao desenvolvimento e crescimento espiritual do indivíduo que recebeu essas energias.

No hospital psiquiátrico, o Dr. Somé viu muitos “seres” rondando os pacientes, “entidades” que são invisíveis para a maioria das pessoas, mas que os xamãs e médiuns são capazes de ver. “Eles estavam causando as crises naquelas pessoas”, diz ele. Pareceu-lhe que esses seres estavam tentando anular o efeito dos medicamentos nos corpos das pessoas com as quais os seres estavam tentando se fundir, aumentando a dor dos pacientes no processo. “Os seres agiam quase como uma espécie de escavadeira no campo de energia das pessoas. Atuavam com ferocidade. As pessoas sujeitas a seus efeitos apenas gritavam e gritavam”, disse ele. Ele não suportou permanecer naquele ambiente e teve que sair.

Na tradição Dagara, a comunidade ajuda a pessoa a reconciliar as energias de ambos os mundos – “o mundo dos espíritos, com o qual ela está fundida, e a comunidade”. Essa pessoa é então capaz de servir de ponte entre os mundos e ajudar os vivos com as informações e a cura de que precisam. Assim, a crise espiritual termina com o nascimento de um curador. “O relacionamento do outro mundo com o nosso é de apoio e suporte”, explica o Dr. Somé. “Na maioria das vezes, o conhecimento e as habilidades que surgem desse tipo de fusão vêm diretamente do outro mundo”.

Os seres que estavam aumentando a dor dos internos na enfermaria do hospital psiquiátrico estavam, na verdade, tentando se fundir com os internos para transmitir mensagens a este mundo. As pessoas com as quais eles escolheram se unir não estavam sendo assistidas no aprendizado de como serem uma ponte entre os mundos, e as tentativas de comunicação eram ineficazes. O resultado era a manutenção do desequilíbrio energético inicial e a interrupção do processo de nascimento de um curador.

“A cultura ocidental ignorou sistematicamente o nascimento de curadores”, afirma o Dr. Somé. “Consequentemente, o outro mundo continua tentando o maior número de pessoas possível, com o objetivo de chamar a atenção de alguém. Os seres do outro mundo aumentam seus esforços nesse sentido”. Os espíritos são atraídos por pessoas cujos sentidos não foram anestesiados. “A sensitividade é quase entendida como um convite”, observa ele.

Quem desenvolve os chamados transtornos mentais são aqueles que são sensitivos, o que é visto na cultura ocidental como hipersensibilidade. As culturas indígenas não veem as coisas dessa maneira e, como resultado, as pessoas sensitivas não se consideram excessivamente sensíveis. No Ocidente, “é a sobrecarga da cultura em que estão que os está destruindo”, observa o Dr. Somé. O ritmo frenético, o bombardeio dos sentidos e a energia violenta que caracterizam a cultura ocidental podem sobrecarregar pessoas sensitivas.

Esquizofrenia e energias estranhas

Na esquizofrenia, existe uma “receptividade especial a um fluxo de imagens e informações que não pode ser controlado”, afirmou o Dr. Somé. “Quando esse tipo de descarga ocorre em um momento inesperado, e principalmente quando se trata de imagens que são assustadoras e contraditórias, a pessoa passa a ter delírios”.

O que é necessário nesta situação é primeiro separar a energia da pessoa das energias estranhas, usando a prática xamânica (o que é conhecido como uma “varredura”) para limpar a camada externa da aura do indivíduo. Com a limpeza de seu campo de energia, a pessoa não capta mais uma enxurrada de informações e, portanto, não tem mais motivos para se assustar e se perturbar, explica o Dr. Somé.

Então, é possível ajudar a pessoa a se alinhar com a energia do espírito que está tentando vir do outro mundo e dar à luz o curador. O bloqueio dessa emergência é o que cria problemas. “A energia do curador é uma energia de alta voltagem”, observa ele. “Quando está bloqueada, simplesmente queima a pessoa. É como um curto-circuito. Os fusíveis estão queimando. É por isso que pode ser realmente assustador, e eu entendo por que essa cultura prefere confinar essas pessoas. Aqui eles estão gritando e gritando, e são colocados em camisas de força. Essa é uma imagem triste”. Novamente, a abordagem xamânica é trabalhar no alinhamento das energias para que não haja bloqueio, “fusíveis” não explodam e a pessoa possa se tornar o curador que deve ser.

Deve-se notar, no entanto, que nem todos os seres espirituais que entram no campo energético de uma pessoa estão lá com o propósito de promover a cura. Também existem energias negativas, que são presenças indesejáveis ​​na aura. Nesses casos, a abordagem xamânica é removê-los da aura, ao invés de trabalhar para alinhar as energias discordantes.

Alex: louco nos Estados Unidos, curador na África

Para testar sua crença de que a visão xamânica da doença mental é válida tanto no mundo ocidental quanto nas culturas indígenas, o Dr. Somé levou um paciente mental de volta para a África com ele, para sua aldeia. “Fui instigado por minha própria curiosidade a tentar descobrir se há verdade na universalidade de que a doença mental pode estar conectada a um alinhamento com um ser de outro mundo”, diz o Dr. Somé.

Alex era um americano de 18 anos que sofreu um surto psicótico quando tinha 14. Ele teve alucinações, era suicida e passou por ciclos severos de depressão. Ele estava em um hospital psiquiátrico e havia recebido muitos medicamentos, mas nada estava ajudando. “Os pais fizeram tudo – sem sucesso”, diz o Dr. Somé. “Eles não sabiam mais o que fazer.”

Com a permissão deles, o Dr. Somé levou seu filho para a África. “Depois de oito meses lá, Alex havia voltado a ser praticamente normal”, disse o Dr. Somé. “Ele foi capaz até de participar com curadores em atividades de cura; sentar com eles o dia todo e ajudá-los, auxiliando-os no que eles estavam fazendo com seus clientes… Ele passou cerca de quatro anos na minha aldeia”. Alex ficou por escolha própria, não porque precisava de mais cura. Ele se sentiu “muito mais seguro na aldeia do que nos Estados Unidos”.

Para alinhar sua energia e a do ser do reino espiritual, Alex passou por um ritual xamânico específico para casos como o dele, embora um pouco diferente daquele usado com o povo Dagara. “Ele não nasceu na aldeia, então outra coisa era necessária. Mas o resultado foi semelhante, mesmo que o ritual não fosse literalmente o mesmo”, explica o Dr. Somé. O fato de que o alinhamento de energias funcionou para curar Alex demonstrou ao Dr. Somé que a conexão entre seres espirituais e a doença mental é realmente universal.

Após o ritual, Alex começou a compartilhar as mensagens que o espírito comm o qual estava vinculado tinha para este mundo. Infelizmente, as pessoas com quem ele estava falando não falavam inglês (o Dr. Somé estava ausente naquele momento). A experiência levou, no entanto, Alex a ir para a faculdade estudar psicologia. Ele voltou para os Estados Unidos depois de quatro anos porque “ele descobriu que todas as coisas que ele precisava fazer foram feitas e ele poderia seguir em frente com sua vida”.

A última coisa que o Dr. Somé ouviu foi que Alex estava fazendo pós-graduação em psicologia em Harvard. Ninguém pensava que ele jamais seria capaz de concluir os estudos de graduação, muito menos obter um diploma de pós-graduação.

O Dr. Somé resume do que se tratava a doença mental de Alex: “Ele estava estendendo a mão. Foi uma chamada de emergência. Seu trabalho e propósito era ser um curador. Ele disse que ninguém estava prestando atenção nisso”.

Depois de ver como a abordagem xamânica funcionou bem para Alex, Dr. Somé concluiu que os seres espirituais são um problema tanto no Ocidente quanto em sua comunidade na África. “Mas a questão ainda permanece, a resposta para este problema deve ser encontrada aqui, em vez de ter que ir até o exterior para buscar a resposta. Tem que haver um caminho pelo qual um pouco de atenção além da patologia de toda essa experiência conduza à possibilidade de inventar o ritual adequado para ajudar as pessoas”.

Desejo de conexão espiritual

Um traço comum que o Dr. Somé notou nos transtornos “mentais” no Ocidente é “uma energia ancestral muito antiga que foi paralisada, e que finalmente está desabrochando na pessoa”. Seu trabalho, então, é rastreá-lo, voltar no tempo para descobrir o que é esse espírito. Na maioria dos casos, o espírito está ligado à natureza, principalmente com montanhas ou grandes rios, diz ele.

No caso das montanhas, a título de exemplo para explicar o fenômeno, “é um espírito da montanha que caminha lado a lado com a pessoa e, como resultado, cria uma distorção no espaço-tempo que está afetando a pessoa presa nela”. O que é necessário é uma fusão ou alinhamento das duas energias, “para que a pessoa e o espírito da montanha se tornem um”. Novamente, o xamã conduz um ritual específico para trazer esse alinhamento.

O Dr. Somé acredita que se depara com essa situação com frequência nos Estados Unidos porque “a maior parte da estrutura deste país é feita da energia da máquina, e o resultado disso é a desconexão e o rompimento do passado. Você pode fugir do passado, mas não pode se esconder dele”. O espírito ancestral do mundo natural vem nos visitar. “Não é tanto o que o espírito deseja, mas sim o que a pessoa deseja”, diz ele. “O espírito vê em nós um chamado para algo grandioso, algo que dê sentido à vida, e então o espírito está respondendo a isso.”

Essa chamada, que nem sabemos que estamos fazendo, reflete “um forte desejo por uma conexão profunda, uma conexão que transcende o materialismo e a posse de coisas e se move para uma dimensão cósmica tangível. A maior parte desse desejo é inconsciente, mas para os espíritos, consciente ou inconsciente não faz diferença”. Eles respondem a qualquer um.

Como parte do ritual de fusão da energia da montanha e humana, aqueles que estão recebendo a “energia da montanha” são enviados para uma área montanhosa de sua escolha, onde pegam uma pedra que os chama. Eles trazem aquela pedra de volta para o resto do ritual e a mantêm como uma companhia; alguns até carregam consigo. “A presença da pedra ajuda muito a sintonizar a capacidade perceptiva da pessoa”, observa o Dr. Somé. “Eles recebem todos os tipos de informações que podem usar, então é como se eles obtivessem alguma orientação tangível do outro mundo sobre como viver suas vidas”.

Quando é a “energia do rio”, os chamados vão ao rio e, depois de falar com o espírito do rio, encontram uma pedra d’água para trazer de volta para o mesmo tipo de ritual do espírito da montanha.

“As pessoas pensam que algo extraordinário deve ser feito em uma situação extraordinária como essa”, diz ele. Normalmente não é esse o caso. Às vezes, é tão simples quanto carregar uma pedra.

Uma abordagem ritual sagrada para doenças mentais

Uma das contribuições que um xamã pode trazer ao mundo ocidental é ajudar as pessoas a redescobrir os rituais, que infelizmente está faltando. “O abandono do ritual pode ser devastador. Do ponto de vista espiritual, o ritual é inevitável e necessário se quisermos viver”, escreve o Dr. Somé em Ritual: Power, Healing and Community. “Dizer que o ritual é necessário no mundo industrializado é um eufemismo. Vimos em meu próprio povo que provavelmente é impossível viver uma vida sã sem ele”.

O Dr. Somé não acreditava que os rituais de sua aldeia tradicional poderiam simplesmente ser transferidos para o Ocidente, então, ao longo de seus anos de trabalho xamânico aqui, ele projetou rituais que atendem às necessidades muito diferentes dessa cultura. Embora os rituais mudem de acordo com o indivíduo ou grupo envolvido, ele acha que há necessidade de certos rituais em geral.

Um deles envolve ajudar as pessoas a descobrirem que sua angústia vem do fato de serem “chamadas por seres do outro mundo para cooperar com elas na realização do trabalho de cura”. O ritual permite que eles saiam da angústia e aceitem esse chamado.

Outra necessidade ritual está relacionada à iniciação. Nas culturas indígenas de todo o mundo, os jovens são iniciados na idade adulta quando atingem uma certa idade. A falta dessa iniciação no Ocidente é parte da crise em que as pessoas estão aqui, diz o Dr. Somé. Ele exorta as comunidades a reunir “os poderes criativos de pessoas que tiveram esse tipo de experiência, em uma tentativa de chegar a algum tipo de ritual alternativo que pelo menos comece a diminuir esse tipo de crise”.

Com muito cuidado, fala sobre as necessidades daqueles que vêm a ele em busca de ajuda envolve fazer uma fogueira e, em seguida, colocar na fogueira “itens que simbolizam questões carregadas dentro dos indivíduos. . . Podem ser questões de raiva e frustração contra um ancestral que deixou um legado de assassinato e escravidão ou qualquer coisa, coisas com as quais o descendente tem que conviver ”, explica ele. “Se essas coisas forem abordadas como coisas que estão bloqueando a imaginação humana, o propósito de vida da pessoa e até mesmo a visão da vida da pessoa como algo que pode melhorar, então faz sentido começar a pensar em termos de como transformar esse bloqueio em uma estrada que pode levar a algo mais criativo e mais gratificante. ”

O exemplo de problemas com ancestrais está ligado aos rituais elaborados pelo Dr. Somé que tratam de uma disfunção séria na sociedade ocidental e no processo “desencadeiam a iluminação” nos participantes. Esses são rituais ancestrais, e a disfunção a que se destinam é o abandono em massa do culto dos ancestrais. Alguns dos espíritos que tentam se comunicar, conforme descrito anteriormente, podem ser “ancestrais que desejam se fundir com um descendente na tentativa de curar o que não foram capazes de fazer enquanto estavam em seu corpo físico.”

“A menos que a relação entre os vivos e os mortos esteja em equilíbrio, o caos se instala”, diz ele. “Os Dagara acreditam que, se tal desequilíbrio existe, é dever dos vivos curar seus ancestrais. Se esses ancestrais não forem curados, sua energia doentia assombrará a alma e a psique daqueles que são responsáveis ​​por ajudá-los”. Os rituais se concentram em curar o relacionamento com nossos ancestrais, tanto em questões específicas de um ancestral individual quanto em questões culturais mais amplas contidas em nosso passado. O Dr. Somé viu curas extraordinárias ocorrerem nesses rituais.

Adotar uma abordagem ritual sagrada para a doença mental em vez de considerar a pessoa como um caso patológico dá à pessoa afetada – e, de fato, à comunidade em geral – a oportunidade de começar a olhar para ela desse ponto de vista também, o que leva a “uma infinidade de oportunidades e iniciativas rituais que podem ser muito, muito benéficas para todos os envolvidos”, afirma. Dr. Somé.

Extraído de: The Natural Medicine Guide to Schizophrenia (Capítulo 9) e The Natural Medicine Guide to Bipolar Disorder (Capítulo 10). Stephanie Marohn.

Isenção de responsabilidade: as informações neste artigo não se destinam a substituir os cuidados médicos. Você precisa consultar seu médico sobre qualquer alteração em sua medicação. O autor e a editora se isentam de qualquer responsabilidade sobre como você opta por empregar as informações contidas neste livro e o resultado ou consequências de qualquer um dos tratamentos cobertos.

Life-hack: Rituals spell anxiety relief (Science Daily)

Date: June 30, 2020

Source: University of Connecticut

Summary: Researchers are examining the important roles rituals play in reducing our anxiety levels.

With graduation ceremonies, weddings, funeral, annual parades, and many other gatherings called off, it is apparent that our lives are filled with rituals. UConn Assistant Professor of Anthropology Dimitris Xygalatas studies rituals and how they impact our health. In research published today in Philosophical Transactions of the Royal Society, Xygalatas and collaborators from Masaryk University, Czech Republic, including former UConn student Martin Lang, examine the important roles rituals play in reducing our anxiety levels.

“In the current context of the pandemic, if you were a completely rational being — perhaps an extraterrestrial who’s never met any actual humans — you would expect that given the current situation people wouldn’t bother doing things that do not seem crucial to their survival. Maybe they wouldn’t care so much about art, sports, or ritual, and they would focus on other things,” says Xygalatas. “If you were to think that, it would show you didn’t know much about human nature, because humans care deeply about those things.”

Further, Xygalatas says, rituals play an important role in people’s lives, helping them cope with anxiety and functioning as mechanisms of resilience.

This research started years ago, says Xygalatas. He explains that to study something as complex as human behavior, it is important to approach the question from multiple angles to collect converging evidence. First, in a laboratory study, they found that inducing anxiety made people’s behavior more ritualized, that is, more repetitive and structured. So the next step was to take this research out to real-life situations, where they examined whether performing cultural rituals in their natural context indeed helps practitioners cope with anxiety.

“This approach also goes to show the limitations of any study. One study can only tell us a tiny bit about anything, but by using a variety of methods like my team and I are doing, and by going between the highly controlled space of the lab and the culturally relevant place that is real life we are able to get a more holistic perspective.”

The experiment reported in their current publication took place in Mauritius, where the researchers induced anxiety by asking participants to prepare a plan for dealing with a natural disaster that would be evaluated by government experts. This was stressful, as floods and cyclones are very pertinent threats in that context. Following this stress-inducing task, one half of the group performed a familiar religious ritual at the local temple while the other half were asked to sit and relax in a non-religious space.

The researchers found that the speech was successful in inducing stress for both groups but those who performed the religious ritual experienced a greater reduction in both psychological and physiological stress, which was assessed by using wearable technology to measure heart rate variability.

Stress itself is important, says Xygalatas, “Stress acts as a motivation that helps us focus on our goals and rise to meet our challenges, whether those involve studying for an exam, flying a fighter jet, or scoring that game-winning goal. The problem is that beyond a certain threshold, stress ceases to be useful. In fact, it can even be dangerous. Over time, its effects can add up and take a toll on your health, impairing cognitive function, weakening the immune system, and leading to hypertension or cardiovascular disease. This type of stress can be devastating to our normal functioning, health, and well-being.”

This is where Xygalatas and his team believe ritual plays an important role in managing stress.

“The mechanism that we think is operating here is that ritual helps reduce anxiety by providing the brain with a sense of structure, regularity, and predictability.”

Xygalatas explains that in recent decades we have begun to realize the brain is not a passive computer but an active predictive machine, registering information and making predictions to help us survive.

“We come to expect certain things — our brain fills in the missing information for the blind spot in our vision, and prompts us to anticipate the next word in a sentence — all of these things are due to this effect because our brain makes active predictions about the state of the world.”

Well-practiced rituals, like the one included in the study, are repetitive and predictable and therefore the researchers believe they give our brains the sense of control and structure that we crave, and those feelings help alleviate stress. This stress reducing impact of rituals could be a way to cope with chronic anxiety.

In today’s stressful context, we see ritual taking different forms, from people gathering to applaud healthcare workers, to virtual choirs singing across the internet. Xygalatas also notes a recent study that tracked the increase in people typing ‘prayer’ in Google searches. In this unpredictable time, people are continuing to find relief in ritual.

“One thing I like to tell my students is that we as human beings are not as smart as we’d like to think. But thankfully, we are at least smart enough to be able to outsmart ourselves. We have many ways of doing this, for instance when we look at ourselves in the mirror before an interview and tell ourselves, ‘Ok I can do this’. Or when we take deep breaths to calm down. We have all of these hacks that we can use on our very brain. We could rationalize it and tell ourselves ‘Ok I’m going to lower my heartbeat now’. Well that doesn’t work. Ritual is one of those mental technologies that we can use to trick ourselves into doing that. That is what these rituals do — they act like life hacks for us.”

Going forward, Xygalatas points out that he and his colleagues intend to do more work on the exact mechanisms underlying these effects of ritual.

“Of course it is a combination of factors, and that is why ritual is so powerful: because it combines a number of mechanisms that have to do both with the behavior itself, the physical movements, and with the cultural context, the symbolism, and the expectations that go into that behavior. To be able to disentangle those things is what we are trying to do next: we are examining these factors one at a time. Those rituals have gone through a process of cultural selection and they are still with us because they fulfil specific functions. They are life hacks that have been with and have served us well since the dawn of our kind.”


Story Source:

Materials provided by University of Connecticut. Original written by Elaina Hancock. Note: Content may be edited for style and length.


Journal Reference:

  1. M. Lang, J. Krátký, D. Xygalatas. The role of ritual behaviour in anxiety reduction: an investigation of Marathi religious practices in Mauritius. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 2020; 375 (1805): 20190431 DOI: 10.1098/rstb.2019.0431

Refazer o luto: Como construir novos rituais diante de uma doença que deixa meio milhão de brasileiros sem despedida? (ECOA/UOL)

uol.com.br

Carina Martins, 30 de junho de 2020

Quando o irmão da psicóloga Marília Gabriela morreu, três meses atrás, a pandemia no Brasil ainda era chamada de gripezinha. Saudável, ativo e aos 39 anos, Alexandre prestou sua peregrinação pelo sistema de saúde por alguns dias, até que não considerassem mais sua condição tão benigna. Quando finalmente foi internado, apenas o irmão que o conduziu ao hospital o viu entrar. Nunca mais ninguém da família pôde falar com ele. Um dia depois, ligaram pedindo os seus documentos, e os parentes já entenderam.

Acabou assim, no ar. “A gente foi até o local da cremação, mas você só vai para assinar papel. E tem a coisa de não poder tocar no outro. Na hora, minha mãe acabou abraçando algumas pessoas. Tentei impedir, mas me disseram que deixasse”, conta Marília.

Não foi suficiente para aplacar o rompimento inesperado do vínculo que o jovem filho, irmão, amigo tinha com os seus. A mãe de Alexandre não sabia, mas decidiu fazer exatamente o que aconselham os especialistas: criar um ritual possível. “Ela ligou para um amigo muito querido dele e falou, me ajuda a pensar, não sei o que faço com as cinzas”. A atitude desencadeou um movimento em rede entre pessoas que amavam Alexandre e que começaram a falar sobre ele e rememorar – a viver seu luto. Os amigos sugeriram espalhar as cinzas na praça ao lado da casa onde cresceram e passaram muitos momentos. Uma amiga da mãe pensou em plantar uma árvore e fazer uma oração.

Criaram então, juntos, seu próprio ritual. Escolheram uma árvore – flamboyant – e chamaram poucas pessoas para uma celebração. Na véspera, Marília teve medo de remexer nos sentimentos. Mas foi em frente. “Procurei o jardineiro da praça, ele preparou o buraco com todo cuidado para a muda”. No dia seguinte, cerca de 10 pessoas, afastadas e de máscara, mas juntas, estavam lá. “Nosso irmão mais novo disse algumas palavras, falou o quanto Alexandre amava essas pessoas e fizemos uma oração”. Um ritual simples, mas fundamental. Agora, a mãe de Alexandre sempre visita a mudinha quando passeia com a cachorra que era do filho. Anda achando que a planta está mirrada, quer ver a árvore mais vigorosa. De vez em quando, vai lá cuidar do canteiro.

“Sentimos acho que uma calma, uma coisa que se fecha. A dor existe, mas está bem diferente”, diz Marília. “Não é algo banal”.

Linoca Souza/UOL

Meio milhão sem adeus

Todas as culturas têm um ritual próprio para despedir-se de seus mortos. Todos, até onde sabemos, desde sempre, desde o momento mais primitivo da história humana. A unanimidade dessa necessidade é incomum, e um bom indicativo do quanto ela é, literalmente, uma necessidade. Nem mesmo os rituais de nascimento têm essa incidência absoluta. “Porque a morte desorganiza”, explica a doutora em psicologia Maria Helena Franco, coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da PUC-SP. “O nascimento, nem tanto. A morte desorganiza um grupo, uma sociedade, e em extensão, uma cultura. E o ritual tem essa função de reorganizar”.

Desde o início da pandemia, no entanto, os ritos tradicionais foram suspensos pela imposição de uma realidade em que a despedida tornou-se um risco. Os rituais existem em diversidade inumerável, mas quase sempre envolvem o toque, a presença ou a manipulação do corpo. Essa proximidade não é mais possível, já que, por questões de segurança sanitária, as vítimas de covid-19 chegam às suas famílias envoltas em três camadas protetoras, dentro de urnas lacradas, com a orientação de velórios muito curtos e funerais sem aglomeração.

Uma série de estudos sobre luto antes da pandemia, e outros realizados também com o viés do coronavírus, estima que, em média, cada vida deixa até dez enlutados. Dez pessoas com vínculo significativo com a pessoa que se foi, e que passarão pelo processo do luto. É o número com que trabalham especialistas como Maria Helena, embora ela o considere “conservador” para a realidade brasileira. Isso significa que, dentro dessa estimativa conservadora, os (também conservadores) mais de 50 mil mortos oficiais por Covid, somados aos mortos suspeitos que também são submetidos aos mesmos cuidados, deixaram para trás uma multidão de mais de meio milhão de brasileiros que não puderam se despedir de seus entes queridos. E essa multidão segue crescendo.

“Estamos vivendo um desastre. Mas é um desastre diferente, porque é lento. Em um tsunami, numa barragem que estoura, a onda vem, passa, e fica a destruição. O coronavírus é uma onda em câmera lenta. Você olha para fora e não tem destruição”, diz Elaine Gomes Alves, doutora e pesquisadora da área de Psicologia de Emergências e Desastres do Laboratório de Estudos sobre a Morte da USP.

A gente tem que desconstruir uma coisa que já existe há gerações para colocar no lugar uma realidade que tá aqui, agora, imposta. Não foi nem construída, foi imposta. E é natural que a gente proteste e tenha dificuldade de aceitar isso

Maria Helena Franco, coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da PUC-SP

Diferentemente da maior parte dos desastres, a pandemia não tem a vivência do luto coletivo, que é um recurso muito útil de acolhimento. “As pessoas se aglomeram, ofertam apoio, vivenciam junto. Em Brumadinho, por exemplo, você pode chegar na cidade e falar dos mortos com qualquer um. Na situação atual, a pessoa morre, é enterrada e vai cada um para sua casa, fica sozinho, isolado”, aponta Elaine.

“Não é a pessoa, é o corpo da pessoa. Mas nós, humanos, trabalhamos com símbolos, e para os enlutados falta como simbolizar”, concorda Maria Helena.

Além de ser uma nuance comovente dentro da situação que vivemos, esse obstáculo ao luto é, por si, um potencial problema para cada um que passa por isso e, na proporção que está sendo construído, para a sociedade. Quando o processo do luto não é bem vivido, ele pode tornar-se o que os especialistas chamam de “luto complicado”, que é um luto com possibilidade de adoecimento. As duas especialistas ouvidas pela reportagem, assim como a OMS, esperam uma enormidade de aumento na demanda de saúde mental no porvir da pandemia. Aliás, da saúde como um todo, já que nenhuma das duas dissocia totalmente as saúdes física e mental.

“O luto é um processo de dor intensa. Não existe na existência humana nenhum processo que seja pior do que o luto. Você precisa de um tempo primeiro para entender que a pessoa morreu, para chorar com ela, entrar em contato com a falta, buscar ferramentas internas parta sair do sofrimento. Cada um vai ter um tempo de luto para terminar seu processo”, explica Elaine. O problema é que, sem os rituais, os enlutados muitas vezes sequer conseguem começar adequadamente. “Você pode empacar em algumas coisas. Por exemplo, na negação – como não viu o corpo, pode dizer que ele não morreu. Algumas pessoas que passam por isso dizem coisas como ‘Sabe o que eu penso? Que ele está viajando’. E isso é um problema. É importante fechar o ciclo. Não importa quanto tempo leve.”

Em busca de um símbolo

A construção de uma despedida possível feita pela família de Marília Gabriela não é banal, como ela apontou. Fazer um ritual, ainda que não seja seguindo a tradição, é a recomendação unânime dos psicólogos. Mas não é fácil encontrar os recursos internos para isso, muito menos em um momento de dor. “A racionalidade não tem tido muito efeito. Porque o ritual é tão antigo, é tão arraigado, que a gente saber por quê não pode – por quê não pode aglomeração, por quê tem que enterrar rapidamente – não surte muito efeito”, diz Maria Helena.

No caso de Alexandre, colaborou o fato de que ele não seguia nenhuma religião específica – os ritos a seguir, portanto, eram menos rígidos, mais fáceis de serem adaptados. Mas esse é o caso de apenas 10% dos brasileiros, segundo o IBGE. Nem todos os detalhes religiosos e culturais precisam ser impossíveis na pandemia, mas, para que isso seja avaliado, seria preciso uma cartilha de manejo com mais nuances do que as publicadas até agora.

Na região metropolitana de São Paulo como no Alto Xingu, tem sido difícil. Pela primeira vez em sua milenar história, este ano foi cancelado o Kuarup. Talvez a mais conhecida entre as manifestações indígenas brasileiras, o Kuarup é um grande ritual sagrado que celebra os mortos de todo um ano, e envolve onze etnias do Alto Xingu. É no Kuarup que os parentes encerram o período de luto pelos que morreram. O coronavírus chegou ao Alto Xingu, e este ano não tem Kuarup.

Quando se encerrarão esses milhares de lutos?

O líder indígena Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, em Roraima, tem sido uma das vozes ativas sobre tudo que envolve a questão do coronavírus entre os povos das florestas. Em sua etnia, uma das tradições fundamentais é de que o corpo, cremado, permaneça na aldeia. Mas os yanomamis mortos estão sendo enterrados em cemitérios de Boa Vista, sem a participação ou autorização de seus entes queridos. “Estamos seguindo os protocolos do mundo não-indígena, como os da Organização Mundial da Saúde, das prefeituras, do governo. E isso atrapalha muito em nossa cerimônia [fúnebre]. Sabemos que, neste momento, não é bom pegar o corpo de nosso parente e transmitir a doença. Mas não nos despedimos das vítimas que foram enterradas. É uma falta de respeito, um preconceito contra a nossa cultura”, diz.

O deslocamento dos corpos é uma ruptura grande demais no rito para que a comunidade consiga criar alternativas. “É muito longe, a comunicação é difícil, mas os familiares estão muito tristes de não enterrar os corpos onde ele nasceu, cresceu e viveu. É muito importante o corpo retornar para a aldeia. É muito ruim para nossa cultura e para o familiar fora da comunidade ter o corpo em um cemitério. As lideranças acionaram o Ministério Público Federal questionando que não pode colocar nossos parentes longe da família. Precisamos mais ainda dos médicos, dos epidemiologistas, para nos dizer: quantos dias a doença fica no corpo morto? Isso não é claro ainda. Nós não somos médicos, e acionamos o órgãos públicos para desenterrar o corpo e levá-los para as aldeias, ou cremá-los na cidade e levar as cinzas para as aldeias”.

Quando os yanomamis morrem sem doenças e problemas, conversam com a família e guardam as cinzas em uma vasilha. Reúnem muita comida, muitos alimentos para fazer festa, despedir novamente. Normalmente, parentes de outras aldeias vão ao cerimonial. Riem, choram. “Depois pega as cinzas em uma vasilha e devolvemos à mãe terra com respeito. É tradicional.”

Também liderança, Milena Kokama chorava os então 55 mortos de seu povo sepultados em cova coletiva em Manaus. “Na nossa cultura, a gente não sepulta. A gente crema”, diz, sobre seu luto, agravado pelos entraves das autoridades. “E ainda sai assim no atestado de óbito: pardo. Eu não sei o que é pardo, eu sou Kokama.”

É uma questão muito difícil. Eu não sei o que você entende como parente, mas meu povo é meu parente independentemente de laços sanguíneos

Milena Kokama, liderança indígena

Promessa do encontro

O babalorixá e antropólogo Pai Rodney de Oxóssi sabe o que os enlutados estão sentindo. “Nós, do candomblé, já tínhamos que pensar em alternativas desde antes da doença, sempre tivemos nossos ritos impedidos por intolerância e o racismo religioso”. As restrições a religiões de matrizes africanas acontecem desde famílias que não seguem a denominação e impedem que um familiar iniciado seja tratado segundo sua crença, até hospitais que não permitem a entrada dos sacerdotes – ainda que os de outras religiões circulem sem problemas. “Já tomei chá de cadeira para visitar minha própria mãe, já tive gente de hospital me ligando no dia seguinte a uma visita dizendo que fosse mais discreto e não usasse ‘aquelas roupas'”.

A assistência religiosa é uma garantia legal dos cidadãos brasileiros, mas o babalorixá diz que começou a sentir melhora a partir da lei estadual, sancionada no ano passado, que proíbe a discriminação religiosa. “A lei tem garantido a gente tomar o caminho da cidadania. E isso não permite que as pessoas te impeçam do que a lei te assegura”.

Mesmo com vivência desses complicadores, o candomblé não passou imune às restrições da covid. Com rituais fúnebres muito específicos que incluem o comunitário axexê e um preparo do corpo feito pelo babalorixá, seus enlutados estão, como todos, sem poder exercer seus símbolos tradicionais. “Essas despedidas fazem com que a gente consiga acomodar a morte. Sem elas, há essa sensação de vazio, porque a morte continua fora do lugar. O luto acomoda as dores para que você consiga se recuperar”, diz.

Como os terreiros se organizam como uma espécie de família expandida, todos eles têm hoje seu grupo de WhatsApp. Na ausência da homenagem tradicional, é nesses espaços que os enlutados têm encontrado seus símbolos. “É uma religião essencialmente comunitária, cada terreiro é uma família extensa, então a vivência comunitária para nós é essencial. Sempre que alguém morre há um momento de solidariedade, mandam muitas mensagens, fazem suas homenagens, postam suas fotos com os falecidos”, explica.

O axexê com toda a comunidade, suspenso, também está se tornando, em si, um símbolo, com a promessa de que será feito no momento oportuno em que seja possível a aglomeração, a reunião que o ritual demanda. Quando ele vier, será um grande momento de comemoração.

Claro que a humanidade sempre acha uma maneira de compensar isso. Sempre há, depois que tudo isso passa, um florescimento – das artes, da religiosidade, das coisas que fazem o imaginário humano fluir para que compense esse período de obscuridade. A religião e as culturas têm um papel . Os rituais são inventados na medida em que a gente tem necessidade de preencher uma lacuna que a ciência e racionalidade não preenchem

Pai Rodney de Oxóssi, babalorixá e antropólogo

É preciso sensibilidade

Os enlutados nem sempre vão conseguir criar esses novos símbolos sozinhos. As alternativas podem vir de seus líderes religiosos, dos hospitais, dos próprios serviços funerários. Mas as especialistas recomendam que não se espera que os outros façam: que venham de todos nós que tivermos contato com quem perdeu um ente querido.

“Vamos possibilitar que as pessoas façam seus rituais. Que a gente não fique naquele lugar de ‘ah, mas não é a mesma coisa’. É fato, não é a mesma coisa, e a gente não ganha muito ficando nesta tecla. Vamos ver que outra coisa a gente vai fazer”, diz Maria Helena. “Acho que aí a gente pode ser criativo, ajudar as pessoas a honrar a memória do seu amado, honrar uma tradição, de uma outra forma. Que não terá menos valor. Que será diferente. Acho importante a gente entender por aí, e não como algo que não pôde ser feito. Mas sim o que pôde ser feito, e o quão importante é o que pode ser feito.”

A psicóloga Elaine Alves tem dado várias sugestões práticas para as famílias que tem encontrado. “Que as famílias se unam, que possam fazer juntas um rito religioso que faça sentido para elas. Podem pegar uma caixa onde colocam coisas da pessoa que morreu que sejam significativas, fechar e colocar num lugar importante, por exemplo. Falar palavras de despedida. Escrever cartas – a escrita é muito importante, ajuda muito. Ver fotos. Usar a rede social da pessoa que morreu e ali postar coisas para se comunicar com os amigos da pessoa. Os amigos podem postar fotos que a família nunca viu, isso é um presente para os familiares”, diz. São infinitas opções, que funcionarão de acordo com o vínculo e os valores de cada um.

Mas é preciso sensibilidade. “Não deixem os enlutados sozinhos. E liguem logo, não tem que esperar um tempo, uma hora boa”, explica. E seja generoso. “Tem aquela coisa do ‘mas depois que morreu virou santo’? A verdade é que os enlutados não merecem ouvir coisas ruins de seus mortos”, diz. Se, por vício, perguntar se está tudo bem, acolha a resposta. “Entenda que o outro não está bem, e que é para o outro falar. E a parte mais fácil é de quem não está passando por aquilo e só precisa escutar. O enlutado conta várias vezes a mesma história, porque ele precisa entender o que aconteceu. Quando dizem que não aguentam mais escutar, respondo que essa é a parte mais fácil. Você não precisa passar pelo que outro está passando. Só precisa escutar. Escute”.

A fala encontra eco na de Maria Helena. “Eu queria muito pedir a quem tiver acesso a pessoas enlutadas que busque oferecer a elas possibilidades criativas de fazer seus rituais, que não terão menos valor. Terão valor, sim, porque serão feitos. Sem eles é que a gente vai ter problemas”, afirma. “Vamos respeitar algumas requisições religiosas que são necessárias, que fazem falta. Vamos buscar isso. Vamos proporcionar. Isso não precisa ser só a psicologia que faz, não. É a gente que faz com as pessoas que estão próximas a nós. Tendo essa sensibilidade, a gente consegue fazer. Vamos cuidar. E cuidar da gente também.”

Mathias Pape / Arte UOL. Edição de arte: René Cardillo; Edição de texto: Adriana Terra; Ilustração: Linoca Souza; Reportagem: Carina Martins.

The last great unknown? The impact of academic conferences (LSE Blog)

August 16th, 2016

What do academic conferences contribute? How do academic conferences make a difference both in the lives of academics and wider society? Donald J Nicolson looks at a few examples of conferences that have been able to make a demonstrable impact and argues it is to the benefit of the academy to learn more about how to get the most out of these time-consuming events.

Over the course of two years in the mid-1960s, two academic conferences in strikingly different fields had a great impact on academic research that is still felt today to varying degrees:

  1. In 1964, the 18th World Medical Association General Assembly held in Helsinki devised a set of ethical principles to guide medical research involving human subjects, now the basis for the ethical treatment of human subjects in medical research.
  2. In 1966 at Johns Hopkins University in Baltimore an international symposium entitled “The Languages of Criticism and the Sciences of Man” laid the groundwork for the theory of ‘Post-Structuralism’ and in particular launched the career of the French philosopher Jacques Derrida.

Each conference had an impact at the time, and half a century later both are still remembered. Is this true of academic conferences today or are these 1960 examples outliers?

My own reading is that the academic conference has to date largely evaded the empirical gaze. Attending and presenting at conferences is something nearly all academics do. More so, they expend great time and effort justifying attendance, applying to present and looking for funding to travel, let alone devising their presentations. So is it worth this effort or do conferences merely generate noise? How are conferences useful?

coffee-break-1177540_1280Image credit: Cozendo Public Domain via Pixabay

In my book I reflect on how as a former academic I attended over 20 conferences, sat in on hundreds of presentations and debates, presented over 20 times myself, heard countless people ask “questions”, and a similar number of replies. My hope was that at least some conferences go beyond mere noise, and are useful to the audience/stakeholders/the wider environment by having an impact. I followed up an immediate hunch, and then further examples arose from the interviews I conducted. This blog looks at a few of those examples. They are not meant to be comprehensive of the academic conference experience but are meant to provoke discussion on the impact of conferences.

Debate on Tangible Issues: The 11th Annual Cochrane Colloquium

In October 2003 the 11th Annual Cochrane Colloquium was held in Barcelona. This annual meeting attracts important figures from medicine and Health Services Research, who discuss issues around the conduct and findings from systematic reviews, a method for evidence synthesis. At the 2003 Colloquium there was a debate around conflicts of interests within the Cochrane Collaboration and how the Collaboration should respond to them. Conflicts of interest are a common problem in medical research when for example, a pharmaceutical company funds researchers to examine how well its new drug works compared with a drug already available on the market. The charge is that because the company wants its new drug to work better than another, it may have a surreptitious (or less implicit) effect on how the research was carried out, leading to a biased outcome in favour of their drug. A common example is where pharmaceutical companies’ trials have gone unpublished, when the new drug was found not to have a beneficial outcome.

Some debates at conferences are theoretical, discussing a concept at an abstract level. The conflicts debate was the antithesis, having potentially serious ramifications for the Collaboration. For example, Ray Moynihan noted one of the concerns before the debate was that some Cochrane review groups might go out of business if they lost funding from pharmaceutical companies (Moynihan, R., 2003. Cochrane at crossroads over drug company sponsorship. BMJ: British Medical Journal, 327(7420), p.924.).

When a conference has a memorable presentation or stages an important debate/discussion, like the 2003 Colloquium, I think that it goes beyond merely generating noise and has impact. The Conflicts debate had impact in bucket loads. It challenged how the Collaboration received funding, and had potentially serious consequences for the employment of people.

Bringing Decision-makers to the Table: The 29th Triennial Congress of the International Confederation of Midwives

A Professor of Midwifery Research told me about another conference, the 29th Triennial Congress of the International Confederation of Midwives in June 2011 where there was a push to make global maternity care a worldwide issue. The conference received support from the Government which enabled the Government to recognise the importance of the agenda around maternity care and in particular that it was vital to tackle health inequalities. The crucial aspect was that politicians spoke, which raised the issue to the political agenda and attracted media attention, enabling the possibility of change.

Impact on personal development

Based on interviewing over 30 people for my book, I found that the search for ‘conference impact’ need not rest on a paradigm-defining plinth. For the period of time of the conference, the venue provides not just a place to work, but also a place to eat, drink and sleep; be that a hotel or University campus. Conferences are therefore not just workplaces for attendees; but are places where people ‘are being’, and as such, this can impact on their welfare. Being at a conference can present the individual a variety of opportunities, including networking, meeting overseas colleagues in person, or acting as a jobs fair. When respondents talked about conferences having an impact, they tended to speak about the personal rather than the disciplinary impact, e.g. how a particular conference helped their career development, or inspired their work.

The cost and value of ‘impact’ for conferences

An important point that my work raises is querying the usefulness of the question of ‘Impact’ for all conferences. My initial wondering about impact probably reflects my background in Health Services Research, where questions of effectiveness and impact abide. However, such a question is foreign to the Humanities, and so the notion of a presentation generating noise was nonsensical. For example, a Professor of the Humanities felt all talks were important and valuable. The ‘noise hypothesis’ is therefore perhaps relevant solely to quantitative-based presentations.

It might be considered that the notion of conferences having an impact is a reflection of neoliberal thinking where everything has a cost and a value. There was a suggestion that conferences value rests in them being able to highlight new trends and directions for research, framing the issues and alternatives for discussion, and holding sway over the key people at the centre of the field (Parker, M. and Weik, E., 2014. Free spirits? The academic on the aeroplane. Management Learning, 45(2), pp.167-181). Conferences might be in a good position to have such impact by presenting an infrastructure for a discipline to meet, disseminate and discuss. ‘Value’ need not imply the need for a cost-benefit analysis, but it is important to seek to understand this better as conferences are not held without purpose.

Perhaps it is better to ask how conferences make a difference. The conflict of interests debate at the Cochrane Colloquium was an example where a difference began to be made. By holding the debate, the Collaboration continued the process whereby it eventually rejected industry funding.

The academic conference as a subject of research might have a place in the evolving research discipline of meta-research, which aims to evaluate and improve research practices (Ioannidis JP, Fanelli D, Dunne DD, Goodman SN. Meta-research: evaluation and improvement of research methods and practices. PLoS Biol. 2015 Oct 2;13(10):e1002264.). Such an introspective turn, it might be hoped, would be for the benefit of the academy.

Note: This article gives the views of the author, and not the position of the LSE Impact blog, nor of the London School of Economics. Please review our Comments Policy if you have any concerns on posting a comment below.

About the Author

Dr. Donald J Nicolson worked in academic research for 13 years, and was a Post-Doctoral Research Fellow. He now works as a freelance writer, and is writing a book for publication about academic conferences. He holds a Ph.D. in Health Services Research from the University of Leeds. He can be found digitally @the_mopster, retweeting things that amuse him, venting his anger at the political environment, and making random observations on the absurdity of life. He has published several travel articles in a national newspaper http://www.scotsman.com/lifestyle/travel.