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Sobre o exoesqueleto na abertura da Copa do Mundo

JC e-mail 4973, de 16 de junho de 2014

Ciência Hoje On-line: Lance polêmico

Aguardada demonstração de exoesqueleto criado por grupo do brasileiro Miguel Nicolelis recebe pouco destaque na abertura da Copa do Mundo, mas pode ser marco da ciência nacional

Centenas de milhões de telespectadores em todo o mundo. Muito rebuliço na imprensa pela demonstração que faria um brasileiro com deficiência andar com um exoesqueleto robótico. Olhares atentos de uma comunidade científica reticente. Por tudo isso, a demonstração de poucos segundos, realizada em meio a outras atrações da festa de abertura do mundial de futebol, na beira do campo e cortada pela transmissão oficial, merecia um tratamento melhor.

Mesmo assim, a iniciativa liderada pelo brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, levou ciência a um dos maiores eventos esportivos do mundo e apontou possibilidades tecnológicas da medicina do futuro – apesar de não ter entregado exatamente o prometido e das críticas pela maneira pouco transparente como foi realizada.

A demonstração do projeto Andar de novo ocorreu pouco antes de a bola rolar na Arena Corinthians para a primeira partida do mundial. Em meio à festa, enquanto a transmissão se dividia entre a chegada da seleção brasileira ao estádio e as papagaiadas do espetáculo, o atleta Juliano Pinto utilizou a mente para comandar o equipamento robótico e chutar de leve a Brazuca, bola oficial do torneio. A proposta inicial era de que o exoesqueleto andasse cerca de 20 metros, o que não aconteceu – na verdade, ele não andou, nem dobrou o joelho ou deslocou seu centro de gravidade de maneira significativa, apenas moveu a perna.

Leia a matéria completa na CH On-line, que tem conteúdo exclusivo atualizado diariamente: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/06/lance-polemico

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JC e-mail 4973, de 16 de junho de 2014

O show do exoesqueleto

Artigo de Roberto Lent publicado em O Globo de 14/6. A prévia publicação nas revistas especializadas é o selo de qualidade do produto científico, como o selo do Inmetro o é para os produtos industriais

Não deve ter sido por acaso que a Fifa reduziu para poucos segundos a exibição do exoesqueleto do cientista Miguel Nicolelis na abertura da Copa do Mundo. Talvez a prudência lhe tenha imposto essa medida.

Em torno desse polêmico episódio, há várias questões a considerar. Primeiro: não é possível aferir a originalidade e o impacto científico e prático da propalada tecnologia de comando cerebral do exoesqueleto sob feedback sensorial eletrônico. A razão é simples: Nicolelis ainda não a publicou em revistas especializadas. Sua produção científica e sua capacidade de trabalho permitem supor que o fará brevemente para a avaliação da comunidade científica da área. Ficaremos aguardando. Mas o fato é que até o momento pouco se pode comentar sobre o experimento da Copa que não sejam especulações.

Segundo: a exibição pública, para milhões de pessoas em todo o mundo, do chute à bola efetuado por um paraplégico vestindo o exoesqueleto é em si uma iniciativa importante para valorizar a ciência perante a sociedade. No entanto, do modo como foi feita, viola um princípio ético básico da divulgação científica – só se deve divulgar ao público leigo o que antes se publica nas revistas especializadas. Elitismo? Falta de espírito democrático? Não, responsabilidade social. A prévia publicação nas revistas especializadas é o selo de qualidade do produto científico, como o selo do Inmetro o é para os produtos industriais, a licença da Anvisa para os medicamentos, o carimbo do Ministério da Agricultura para os produtos agrícolas. Essas revistas, antes de publicar qualquer artigo, submetem-no a uma rigorosa revisão por especialistas. Além disso, os autores têm que apresentar todos os detalhes dos métodos que empregaram e dos resultados que obtiveram. Na abertura da Copa, o show do exoesqueleto representou uma ruptura com esse princípio. Talvez tenha sido isso que a Fifa percebeu a tempo.

Mas há outras questões em jogo: uma delas é o contraste entre o financiamento que o projeto Nicolelis obteve e o que conseguem obter os pesquisadores brasileiros de nossas universidades, com todo o crescimento dos recursos conseguido nos últimos anos. A Finep, agência de financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, colocou R$ 33 milhões no exoesqueleto. Nada errado nisso: trata-se de uma agência de inovação, cuja missão é justamente investir em projetos ousados, assumindo os riscos, que de resto são inerentes a todos os projetos científicos. Mas é inevitável comparar: o edital recentemente lançado por outras agências do mesmo ministério para a criação de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia anunciou que proverá no máximo R$ 10 milhões para cada um dos grupos que vencerem uma acirrada concorrência. Como esses R$ 10 milhões se destinam a grupos que associam vários pesquisadores independentes, cada pesquisador contará com algo em torno de R$ 1 milhão para o seu projeto.

Três a um foi a vitória da seleção brasileira; 33 a 1 foi a vitória de Nicolelis sobre a comunidade científica brasileira.

Roberto Lent é professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(O Globo)
http://oglobo.globo.com/opiniao/o-show-do-exoesqueleto-12856030#ixzz34nrMrffx

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JC e-mail 4973, de 16 de junho de 2014

Baixaram a bola da Ciência Brasileira

Artigo de Marcelo Träsel publicado no Zero Hora

Uma das atrações mais esperadas na abertura da Copa do Mundo de 2014 era a apresentação do exoesqueleto desenvolvido pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que permitiria a um paraplégico dar o chute inicial do primeiro jogo. Ele de fato fez um paraplégico se levantar e dar um pontapé numa bola de futebol no Itaquerão. Mas quase ninguém viu esse marco da ciência _ pelo menos, não ao vivo, porque a Rede Globo o exibiu por apenas alguns segundos, em meia tela, para mostrar o ônibus da Seleção Brasileira chegando ao estádio no mesmo momento.

Nicolelis havia dado a impressão, em suas entrevistas, de que o tal chute ocorreria no início do jogo, não que seria apenas um acontecimento paralelo à beira do gramado enquanto J.Lo, Pitbull e Claudia Leitte erravam o playback do tema da Copa do Mundo. Existe a possibilidade de que ele tenha recebido promessas e estas tenham sido descumpridas. Também houve boatos de que a Fifa teria impedido o chute no centro do campo por medo de o peso do aparelho prejudicar o gramado.

De qualquer forma, a ausência de cerimônia com que esse enorme passo do engenho brasileiro foi tratado, primeiro, pela organização da festa de abertura e, depois, pela principal emissora do país, simboliza com perfeição o espaço que damos à ciência no imaginário nacional. Até 2012, o Brasil investia cerca de 1,3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, bastante menos do que a média dos países da OCDE, que era de 2,3%. Conforme estudo da ONG Battelle, em 2014 o país deve investir os mesmos 1,3% de 2012, bem mais do que os 0,6% da Argentina, mas ainda longe dos 3,6% da Coreia do Sul, ou dos 2% da China.

As cerimônias de abertura da Copa, das Olímpiadas e outros eventos do gênero servem não apenas para mostrar um país, mas também para projetar um ideal, o desejo de uma sociedade para o futuro. O Brasil, na Copa de 2014, poderia ter projetado se tornar também uma potência mundial em pesquisa e produção de tecnologia, mas preferiu continuar sendo apenas uma potência esportiva e cultural _ o país do futebol e do Carnaval.

Marcelo Träsel é pesquisador e professor de comunicação na PUCRS.

(Zero Hora)
http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/06/16/artigo-baixaram-a-bola-da-ciencia-brasileira/?topo=13,1,1,,,13

“Exoesqueleto é um grande ganho”, diz jovem do chute inaugural da Copa (Zero Hora)

JC e-mail 4974, de 17 de junho de 2014

Paraplégico rebate contestações ao projeto do neurocientista Miguel Nicolelis

Por três segundos na última quinta-feira, Juliano Alves Pinto, 29 anos, apresentou às câmeras um projeto de R$ 33 milhões: o exoesqueleto que permitiu o jovem paraplégico dar o pontapé inaugural da Copa do Mundo. Se ao projeto do neurocientista Miguel Nicolelis não faltaram críticas, o paciente não economiza elogios ao experimento.
– Aqueles que criticam são pessoas sem informação sobre o projeto – defendeu Juliano na manhã desta segunda-feira em entrevista a Zero Hora.

Questionamentos ao experimento científico se baseiam na dimensão da demonstração frente à grandeza da promessa, classificada quase como um milagre: munido de uma veste robótica, um paraplégico levantaria de uma cadeira de rodas, caminharia até o gramado do Itaquerão e chutaria uma bola acionando apenas a força do pensamento. Não foi o que ocorreu.
– O tempo foi muito curto para que isso acontecesse – constatou o jovem.

O uso do exoesqueleto representou mais um aprendizado na vida do morador de Gália – cidade de 7 mil habitantes a cerca de 400 quilômetros da capital paulista. Há 7 anos e meio, ele perdeu o movimento das pernas ao fraturar a coluna em um acidente de trânsito – no qual perdeu um irmão de 27 anos. Sob a nova condição em cima de uma cadeira de rodas, teve de readquirir as habilidades comprometidas:

– Minha vida mudou. Antes eu conseguia fazer as minhas coisas e, de repente, precisava das pessoas para me ajudar. Tive de reaprender a fazer tudo sozinho. Hoje, levo uma vida praticamente independente, dirijo, pratico esportes, me troco, tomo banho.

Passados os segundos de fama e a repercussão posterior à abertura do Mundial – na sua cidade, foi recebido com carreata -, Juliano retoma a rotina habitual. Ainda nesta semana, participa de um campeonato que representa uma das suas motivações: o atletismo. Para o futuro, ele busca ajuda para a compra de uma nova cadeira de corrida para participar de torneios e, quem sabe, acumular pontos para se tornar profissional. Paralimpíadas em mente?

– Sonho sim. Não perco as esperanças, nunca – diz o galiense.

Confira os principais trechos da entrevista que o jovem concedeu a Zero Hora, por telefone, nesta segunda-feira:

Como ocorreu a seleção para participar do projeto Andar de Novo e da abertura da Copa?
Sou paciente da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) de São Paulo, onde o projeto já estava acontecendo e onde estavam sendo selecionados alguns pacientes. Há uns seis meses, surgiu o convite para mim e eu aceitei. Ao todo, foram selecionados 10 pacientes, oito continuaram e três foram pré-selecionados para fazer a demonstração na Copa, mas todos os outros estavam preparados para usar o exoesqueleto. Depois veio a notícia, faltando uns quatro dias para o evento, que eu fui o escolhido.

Qual foi a sensação quando você recebeu a notícia?
Fiquei muito feliz não só por estar fazendo parte do projeto e representando todos eles, mas representando todos que também têm uma deficiência como eu e sonham, um dia, ter um bem-estar melhor para a sua vida. Creio que toda essa parte da ciência vem para nos ajudar, é um bem-estar a mais para a pessoa.

Como foi a preparação e o treinamento para o projeto?
Estávamos cercados de grandes profissionais não só na parte da ciência, mas também fisiatras, fisioterapeutas. Deu tudo certo. Eu saía de Gália de madrugada, chegava em São Paulo às 8h, ficava o dia todo em treinamento e voltava para a casa.

Por que você foi o escolhido?
Eu estava mais preparado para o dia da Copa. Não que os outros não estivessem, mas eu me enquadrava melhor no perfil que eles procuravam.

Qual foi a sensação ao vestir o exoesqueleto?
Posso dizer por mim e acho que pelos outros pacientes que também tiveram a oportunidade de andar no exoesqueleto que é muito bom. Você está em uma cadeira de rodas e, por mais que ela permita que você se locomova normalmente mesmo sem ter a mobilidade das pernas, você poder trocar alguns passos novamente, é um grande ganho. No meu caso, depois de sete anos e meio, o exoesqueleto trouxe isso de volta. É algo muito satisfatório, de muita alegria, você novamente poder fazer algo que perdeu lá atrás.

Foi como caminhar novamente?
A sensação, sim. Creio que isso depende, também, da gente começar a se adaptar mais… mas, poxa, é uma sensação bem real, mesmo.

Pelo sua sensação, será possível, no futuro, trocar a cadeira de rodas pelo exoesqueleto?
Creio que sim. Durante esse pouco tempo que acompanhei o doutor Nicolelis e sua equipe, percebi que eles têm um grande potencial para que isso venha a acontecer. Mesmo que haja críticas, que as pessoas não acreditem, estando ali e presenciando o projeto, creio que isso será possível, sim.

Inicialmente, a expectativa era que você levantaria da cadeira de rodas, caminharia até a bola e a chutaria. Não foi o que aconteceu. Como você avalia o resultado da experiência?
Como o próprio Miguel Nicolelis abordou, o tempo foi muito curto para que isso viesse a acontecer. A gente se enquadrou dentro de um roteiro da Fifa. Muita gente questionou por que fizemos o que fizemos na abertura também nos ensaios, mas foi porque o tempo era aquele. Para a gente fazer tudo isso(levantar, caminhar e chutar), teríamos que ter um tempo maior, não tinha como. É como o doutor Nicolelis falou, não existe na história uma demonstração da parte robótica dessa maneira em 29 segundos. Conseguimos fazer em 16 segundos, e menos apareceu na mídia. Então, a gente se enquadrou no padrão que nos passaram, fizemos aquilo para obedecer o tempo que chegou até nós. Não que a gente tenha fugido do que foi dito, mas nos adequamos dentro do tempo que tínhamos.

Então pode-se dizer que foi um sucesso?
Com certeza. Foi um marco, algo que entrou para a história.

Apesar da ampla divulgação do projeto, o chute ganhou apenas três segundos na televisão. Você ficou chateado com a pouca visibilidade dada no momento?
Eu não tinha conhecimento que havia sido transmitido em tão pouco tempo. Quando comecei a acompanhar vi que, realmente, foi pouco mesmo. Mas, depois, foi amplamente abordado, a mídia trouxe bastante o assunto, mas acho que poderia, sim, ter se dado um tempo maior para a apresentação, ter focado mais. Não sei se posso dizer que fiquei triste, mas posso dizer que gostaria que tivesse sido dado um tempo maior.

Críticos ao neurocientista Miguel Nicolelis disseram que o projeto foi um fracasso. O que você tem a dizer a eles?
Aqueles que criticam são pessoas sem informação sobre o projeto. Eles se baseiam no que pensam, mas eu creio que, se essas pessoas estivessem vivenciando o que os pacientes viveram durante todo esse tempo, tenho certeza que os pensamentos e argumentos seriam diferentes. Não tem como você falar de uma coisa que você não conhece, como dizer que o produto é bom se você não conheceu e não sabe detalhes. Então, eu creio que essas pessoas não têm informações corretas acerca do que está acontecendo.

O que mudou na sua rotina desde quinta-feira passada?
Estou procurando viver uma rotina normal. Agora, vou voltar a treinar e quero levar a minha rotina normal. O que mudou foi aparecer bastante na mídia, foi um assunto que ficou bastante visto, mas acho que isso não tem me atrapalhado. O que eu quero fazer é deixar as coisas bem claras, não me esconder, e estar disposto a esclarecer o projeto também.

Quais são seus planos?
O projeto continua, e estou buscando a minha classificação nos jogos de atletismo que participo. Tenho o sonho de conseguir um equipamento melhor, uma cadeira de corrida, para disputar e conseguir um índice para um nacional ou até um mundial. No Brasil não se acha, apenas com representantes, e o preço vai lá em cima porque é uma cadeira importada.

(Débora Ely / Zero Hora)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/planeta-ciencia/noticia/2014/06/exoesqueleto-e-um-grande-ganho-diz-jovem-do-chute-inaugural-da-copa-4528138.html

Exoesqueleto do projeto ‘Walk Again’ funciona em teste documentado no Facebook (O Globo)

JC e-mail 4924, de 01 de abril de 2014

Voluntários já estão treinando em um laboratório de São Paulo para usar a veste robótica

Um paraplégico se levanta da cadeira de rodas, anda e dá o primeiro chute da Copa do Mundo de 2014 vestindo um exoesqueleto robótico controlado pela mente. O traje robótico complexo, construído a partir de ligas leves e alimentado por sistema hidráulico, foi construído por Gordon Cheng, da Universidade Técnica de Munique, e tem a função de trabalhar os músculos da perna paralisada.

O exoesqueleto é fruto de anos de trabalho de uma equipe internacional de cientistas e engenheiros do projeto “Walk Again”, liderado pelo brasileiro Miguel Nicolelis, que lança nesta terça-feira, em sua página no Facebook, a documentação do projeto até as vésperas da Copa do Mundo. Nicolelis já está treinando em um laboratório de São Paulo nove homens e mulheres paraplégicos, com idades de 20 a 40 anos, para usar o exoesqueleto. Três deles serão escolhidos para participar do jogo de abertura entre Brasil e Croácia.

No mês passado, a equipe de pesquisadores foi a jogos de futebol em São Paulo para verificar se a radiação do telefone móvel das multidões pode interferir com o processo. As ondas eletromagnéticas poderiam fazer o exoesqueleto se comportar mal, mas os testes foram animadores. As chances de mau funcionamento são poucas.

O voluntário que usar o exoesqueleto vestirá também um boné equipado com eletrodos para captar suas ondas cerebrais. Estes sinais serão transmitidos para um computador em uma mochila, onde serão descodificados e usados para mover condutores hidráulicos na roupa. O exoesqueleto é alimentado por uma bateria que permite a duas horas de uso contínuo.

Sob os pés do operador estarão placas com sensores para detectar quando o contato é feito com o solo. A cada pisada, um sinal dispara até um dispositivo vibratório costurado no antebraço da camisa do usuário. O dispositivo parece enganar o cérebro, que pensar que a sensação vem de seu pé. Em simulações de realidade virtual, os pacientes sentiram que suas pernas estavam se movendo e tocando alguma coisa. Em outros testes, os pacientes usaram o sistema para andar em uma esteira.

http://oglobo.globo.com/ciencia/exoesqueleto-do-projeto-walk-again-funciona-em-teste-documentado-no-facebook-12053200#ixzz2xe8W6LR5