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Racionalidade não é suficiente em situações de estresse, diz professor de negociação de Harvard (Folha de S.Paulo)

Em livro, Daniel Shapiro apresenta método para solucionar conflitos

15.ago.2021 às 16h00

Fernanda Brigatti São Paulo

As negociações e os conflitos que decorrem delas fazem parte da vida em sociedade e, ainda que a prática da negociação seja mais fortemente associada ao ambiente empresarial, ela está presente em delicadas questões geopolíticas, impasses orçamentários em empresas e mesmo em questões domésticas e relações familiares e corporativas.

Para o psicólogo Daniel Shapiro, fundador do Programa Internacional de Negociação da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o que essas situações têm em comum é a alta carga emocional, que despertam reações inconscientes que inviabilizam avanços.

Polarizações, sejam políticas ou entre pessoas da mesma família, diz, são reações emocionais complicadas, mas nem por isso impossíveis. Em “Negociando o Inegociável”, lançado em julho no Brasil pela GloboLivros, Shapiro detalha o que pretende ser um manual para lidar com essas emoções e chegar a soluções.

A experiência na mediação de conflitos –Shapiro trabalhou em negociações entre a China continental e Taiwan, em diferentes partes da África, no conflito israelo-palestino e na Europa central na virada do comunismo para o capitalismo– levou ao aprimoramento dessa metodologia que batizou de “teoria da identidade relacional”.

Daniel Shapiro, fundador do Programa Internacional de Negociação da Universidade de Harvard – Divulgação

Para ele, a noção de identidade é central nos conflitos contemporâneos. Uma vez ameaçada, ela expõe os envolvidos a iscas mentais –ou tentações– que mantêm o estado de conflito e impedem uma resolução. https://s.dynad.net/stack/928W5r5IndTfocT3VdUV-AB8UVlc0JbnGWyFZsei5gU.html%5B x ]

Shapiro diz ter identificado as cinco principais tentações —vertigem, compulsão à repetição, tabus, ataque ao sagrado e política de identidade— a partir da observação de um exercício repetido por ele em diversos ambientes e com diferentes audiências.

Na simulação, o grupo é estimulado a se agrupar em tribos com valores comuns —uma identidade é forjada entre eles. Organizados esses grupos, um alienígena invade a sala e faz uma única exigência: “escolham um único líder para representá-lo ou destruirei o mundo.” Invariavelmente, diz Shapiro, o mundo explode.

A primeira dessas experiências foi no Estado da Macedônia, sob tensão e iminente conflito étnico, ainda nos anos 1990. Naquele que talvez seja o mais curioso, “o mundo explodiu em Davos” —45 líderes mundiais, entre políticos e grandes executivos, foram convidados a participar da dinâmica.

A racionalidade, ou pressupor que os lados estejam sendo racionais no diálogo, segundo ele, não é suficiente. “Supomos que cada lado realmente tenha uma preocupação racional e use processos racionais para satisfazer essas preocupações. Quando se trata desses conflitos de grande carga emocional, não é suficiente.”

Segundo Shapiro, é a identidade o elemento invisível que, em conflitos de grande carga emocional, acaba ativando o que ele chama de efeito das tribos, um estado mental de alerta e polarização.

Com a pandemia, diz o psicólogo, estamos todos sob intenso estresse, o que torna as chances de as negociações terminarem em um acordo ainda menores. “É como reunir grupos de identidades distintas para negociar em uma sala escura e apertada.”

Veja os principais trechos da entrevista concedida à Folha por videoconferência.

Novo livro
O trabalho que faço é em negociação e solução de conflitos. Estou nessa área há 30 e poucos anos —e minha calvície é a prova disso. Tenho observado como as pessoas negociam, o que funciona e o que não funciona nos mais significativos conflitos de nossas vidas, sejam profundamente políticos, ou desafios diários carregados de emoção.

O que descobri é que as pessoas tendem a negociar em um nível irracional. Supomos que cada lado realmente tenha uma preocupação racional e use processos racionais para satisfazer essas preocupações. Quando se trata desses conflitos de grande carga emocional, a racionalidade não é suficiente.

Como podemos entender e lidar com as dimensões mais profundas desses conflitos? Então, “Negociando o Inegociável” é uma forma de explorar essas dimensões do conflito que levam à polarização e como podemos entender mais profundamente esses conflitos –e que eu coloco na categoria da identidade.

Existem tantos bons livros por aí que oferecem soluções rápidas, que oferecem respostas fáceis para lidar com problemas difíceis. Mas para realmente chegar à raiz dos problemas que enfrentamos em nossas sociedades e em nossas vidas, precisamos compreender profundamente essas dimensões. O papel da emoção, o papel da identidade e como eles nos afetam e como os afetamos para uma mudança construtiva.

As cinco tentações
Por que as sociedades e as famílias estão polarizadas? Mesmo quando se trata de um enorme custo emocional para pais, filhos, avós, por que fazemos isso? Essa é a questão sobre a qual venho pensando há muitos anos.

Em “Negociando o Inegociável”, discuto os cinco principais instigadores da mentalidade da tribo, que chamo de tentações. Eles são os instigadores de conflitos. No momento em que nossa identidade parece ameaçada, essas tentações começam a nos tentar em direção à mente tribal.

Desenvolvendo o método
Assistindo àquele exercício da tribo, e o mundo explodindo de novo e de novo, me pergunto o que está acontecendo. Como essas pessoas, os líderes mais racionais do mundo, pessoas afetivas e amorosas estão explodindo o mundo de novo. Por quê? Cinco tentações, cinco iscas.

Capa do livro Negociando o Inegociável, de Daniel Shapiro
Capa do livro Negociando o Inegociável, de Daniel Shapiro – Divulgação/Globo Livros

Vertigem
Primeiro, entramos rapidamente no que chamo de vertigem. A ideia aqui é que, se entrarmos em um conflito com meu cônjuge, muito rapidamente podemos ser consumidos nesse conflito e uma discussão de dois minutos sobre quem deveria ter lavado a louça se transforma em duas horas de discussão horrível. Estamos em vertigem.

As polarizações dos Estados Unidos estão indiscutivelmente em um lugar de vertigem, consumidos no conflito, pensando estritamente sobre isso não podemos ver o quadro geral, estamos presos em nosso próprio pequeno lugar. Estamos presos na vertigem.

A palavra significa tontura, e essa é a experiência aqui. De repente, estou consumido pela vertigem, perco a noção de tempo e espaço e minha compreensão de tudo some. Parece sair daqui, um dos caminhos é perguntar “qual é o meu propósito nesse conflito?”.

Compulsão à repetição
Como seres humanos, tendemos a repetir os mesmos padrões de comportamento disfuncionais de novo e de novo e de novo. Seja no sistema familiar, todos podemos prever os conflitos que teremos no domingo à noite, com a esposa ou filhos. Sabemos o que cada pessoa vai dizer, sabemos o que elas vão fazer e como vamos nos sentir depois. É uma compulsão à repetição.

E também somos muito bons em prever, por meio de intuição e palpite, em um nível nacional ou local, “opa, lá vamos nós de novo”. E esse é um daqueles momentos em que um grupo vai dizer isso, o outro vai dizer aquilo, e começarão apontar o dedo um para o outro e vai levar à violência.

O problema como essa repetição é que esse padrão vira parte da nossa identidade e vira uma tatuagem. É muito difícil de se livrar disso, é mais que um simples hábito, é muito mais profundo. A saída para a compulsão à repetição é tomar ciência disso e realmente olhar para esse padrão em que eu costumo entrar com aquela pessoa. Por que e como eu posso me livrar disso.

Tabus
O que, na sociedade brasileira, é um tabu de se conversar? Se você falar de certo assunto, vai ter muitos problemas, será punido, rejeitado socialmente e corre o risco de ser agredido fisicamente.

Uma coisa que é um tabu nos Estados Unidos é um apoiador do Trump e um do Biden sentarem lado a lado para uma refeição. Como se um lado fosse contaminar o outro. O medo não é infundado.

Acho que, no momento em que uma pessoa de um lado olha alguém de sua tribo se associar com alguém da tribo oposta, bem, um tabu da associação acaba de ser quebrado. “Você está traindo nossa tribo? Está traindo nossa gente? Não fale com eles!” Bem, mas como você pode solucionar um conflito, como você reduz as polarizações se os lados não conversam.

Ataque ao sagrado
Toda tribo política, toda família tem crenças, valores que considera sagrados. Se você sente que eu a ofendi ou ameacei aquilo que para você tem grande importância, religioso ou secular, bum, voltamos à mentalidade tribal.

A imagem na minha cabeça é a de uma cobra que salta sobre você, quando você ofende algo muito sagrado. Também penso que no contexto moderno, politicamente as pessoas podem tornar alguns assuntos sagrados, e são eles que constroem as tribos internas e tornam mais difícil a reconciliação com outros grupos.

Política de identidade
Uso o termo de maneira um pouco diferente daquilo que foi popularizado. Acho que as pessoas normalmente veem políticas de identidade [no Brasil, o termo é traduzido mais frequentemente como políticas identitárias] como a reunião de grupos minoritários para tentar criar mudanças políticas em certos assuntos.

Para mim, política de identidade é o uso ou o mau uso da identidade para atingir certos objetivos políticos. Quando um líder diz “nós temos que nos unir para melhorar o nosso país.” Temos que nos unir, mas quem é esse “nós” a que ele se refere? Na maior parte das vezes, não vale para todo mundo, vale somente para alguns grupos, e cria, com frequência de maneira explícita, uma dinâmica de nós contra eles. Nós temos que nos unir para brigar como eles. Políticas de identidade podem ser usadas para dividir.

Meu conselho: em uma democracia funcional, use política de identidade para unir. Foque em um “nós” mais amplo. Todos nós juntos. Sim, temos tribos menores com interesses políticos. Ótimo. E todos somos parte de um projeto maior. Você pode fazer o que Mandela fez, você pode unir, usar essas políticas de identidade para unir.

O efeito da tribo
A pandemia colocou muito estresse em todos. Ansiedade, a dor de perder um parente, perder alguém próximo –e meu coração está com o Brasil, sei que sofreu muito. Acho que isso é um fardo, um peso emocional que está sobre os ombros de todos.

Enquanto isso, devemos fazer tudo o que fazíamos antes, agora no Zoom. Todos esses fardos emocionais nos fazem, em parte, querer buscar algum tipo de segurança emocional e ela pode vir na forma de nos aproximarmos de um grupo ao qual sinto que pertenço. Para uma tribo.

O problema é que as tensões também começam a aparecer entre os diferentes grupos, que estão muito mais comprimidos agora, estão mais apertados, por conta da pandemia.

Sob pressão
Acho que a pandemia está tendo um grande impacto na busca de segurança. A tribo é uma forma de segurança, mas pode facilmente se transformar em uma mentalidade tribal de “nós contra eles”.

A pandemia comprimiu todos nós. É muito mais difícil passar pelo desagradável. E estar emocionalmente desconfortável é como estar em um campo aberto com seus arquiinimigos. Estamos em um ambiente comprimido e todos esses instintos tribais são ativados com muito mais facilidade.

Quando há hierarquia
​O poder é muito maleável. Acho que existem dezenas de fontes de poder. Algumas pessoas têm mais poder hierárquico. Se eu tenho dinheiro, as pessoas podem atender o telefone com mais frequência.

Mas, em uma negociação, é útil tentar descobrir quais são minhas fontes de poder. Se não chegarmos a um acordo, o que posso fazer? Há poder, por exemplo, em entender os interesses do outro lado. Se estou negociando com você uma nova política para a empresa e precisamos que o presidente diga sim, que o vice-presidente aceite. Quanto mais eu entendo os interesses dos outros, mais poderoso sou.

Saúde mental no trabalho
Um dos conceitos mais fundamentais, em minha opinião, é o poder da apreciação. Apreciação, da forma como uso, não significa apenas dizer obrigado, não é gratidão. O que quero dizer é um entendimento profundo daquilo que a outra pessoa vive.

Enquanto passamos pela pandemia, acredito que, como seres humanos, precisamos de mais apreço do que nunca. Então, no local de trabalho, talvez a liderança executiva possa encontrar maneiras de ser um pouco mais gentil com a força de trabalho.

Não significa que as expectativas são menores, mas que o apoio é maior. É dizer ‘estamos aqui para você emocionalmente, nos preocupamos com você. Você não é apenas um objeto que está produzindo dinheiro para nós, é um ser humano que valorizamos’.

Vejo executivos agindo como ‘estou no comando, vou falar e mostrar o quanto sou inteligente’. A pandemia exige muito mais ouvir.

Ouvir mais, falar menos
É comum que igualemos negociações a conversas. Nós as chamamos de conversas de negociação [negotiation talks]. Uma terminologia muito melhor seria chamá-las de “ouvintes de negociação” [negotiation listens].

Porque você vai liderar muito mais a negociação se ouvir. Se você escuta 80% do tempo, e fala 20% do tempo e vice-versa.

Penso isso também sobre minha própria vida. Sabe, encontre tempo e espaço para dar um passeio, sentar-se em silêncio por dez minutos e absorver o que está acontecendo, reconhecer suas emoções.

E a razão para isso é que serei muito mais eficaz em minha vida pessoal e profissional se entendo o luto, os sentimentos, ressentimentos ou o desejo por mais amor e conexão. Quanto mais estou ciente de minha própria experiência interna, mais posso realmente interagir com os outros. Estar atento e ouvir é mesmo muito importante.

Negociando o Inegociável: Como resolver conflitos que parecem impossíveis

  • Preço A partir de R$ 44,92 na versão impressa | R$ 39,90 na versão e-book
  • Autor Daniel Shapiro
  • Editora Globo Livros

Colombian tribe scores ‘historic’ victory versus Big Gas (The Guardian)

State company Ecopetrol pulls out of drilling site in territories belonging to the indigenous U’wa people

U'was in north-east Colombia protesting against operations by state oil and gas company Ecopetrol.

U’was in north-east Colombia protesting against operations by state oil and gas company Ecopetrol. Photograph: Asou’wa/Asou’wa

The indigenous U’wa people living in north-east Colombia have won what observers call an “historic” and “decisive” victory after state oil and gas company Ecopetrol dismantled a gas drilling site in their territories.

The U’wa Association of Traditional Authorities and Councils (Asou’wa) reported in February last year the arrival of an “avalanche of heavy machinery” and increasing numbers of soldiers at the site, called Magallanes, where Ecopetrol intended to drill three wells. After statements fiercely opposing operations and a series of meetings with government and company representatives, Ecopetrol agreed to suspend operations last May and announced a decision in July to withdraw equipment – but only finished doing so in January this year.

“It’s a triumph,” Asou’wa vice-president Heber Tegria Uncaria told the Guardian. “It’s one more battle we’ve won over the last 20 to 30 years, and it’s thanks to the U’wa people themselves, national and international support, and the role of the media in drawing people’s attention to what is happening.”

“We feel extremely happy about the Magallanes victory and it gives us strength to continue fighting for our lives, for our rights and for Mother Earth,” says U’wa lawyer Aura Tegria Cristancho. “Ecopetrol’s decision was a very intelligent one. It knows the U’was and knew we wouldn’t stop fighting.”

Asou’wa issued a statement calling Ecopetrol’s withdrawal an “act of respect” for U’wa rights and an “important achievement” in the defence of their territories, and acknowledging the importance of support from organisations and individuals working on human rights and environmental issues, particularly the US-based NGO Amazon Watch.

Andrew Miller, Amazon Watch’s advocacy director, describes Ecopetrol’s decision as a “decisive victory” and says it is “very significant” that “one of Latin America’s largest corporations” would dismantle a gas drilling site following pressure.

“I can’t say this is unprecedented, but we’ve never seen a similar circumstance in the last 20 years,” he says. “Once actual construction starts, it is extremely difficult to force corporations, especially one with the full backing of the state, to reverse course.”

Carlos Andres Baquero, a lawyer from Bogota-based Dejusticia, told the Guardian Ecopetrol’s decision was “historic.”

“It’s been several decades since the U’wa started their fight to protect their territory and although it has not been easy, the withdrawal from Magallanes is a testament to their strength and capacity to mobilise,” he says.

The United Nations’s Special Rapporteur on the Rights of Indigenous Peoples, Victoria Tauli-Corpuz, calls it an “important victory” for indigenous peoples in Colombia.

“Such victories are far too rare,” she told the Guardian. “Too often projects see indigenous peoples driven from their lands. I hope other corporations can draw lessons from these conflicts and obtain the free, prior, and informed consent of indigenous peoples before making use of their territories.”

Camila Mariño, a Colombian lawyer with Earthrights International, describes Ecopetrol’s decision as “in line” with the agreements made with the U’was last May, as well as recent commitments by the government – made during peace talks with Farc guerrillas in Cuba – to take human rights and indigenous communities fully into account.

Asked by the Guardian if it had pulled out of Magallanes because of U’wa opposition, Ecopetrol emailed a statement saying it had agreed to meet with them in June last year but they had failed to show up.

“Since this led to delays, Ecopetrol decided to remove the drilling equipment and facilities from the area, as has effectively happened,” the company states.

However, as Tegria Uncaria points out, Ecopetrol retains its environmental license to operate at Magallanes, and the company itself has called the suspension “temporary.” In correspondence last August Ecopetrol emphasised that suspension “didn’t imply a definite termination of the project”, and told the Guardian it “would like to continue exploring in the area, but respecting the U’wa nation and all the agreements made with them.”

The U’was have now taken legal action to have the environmental license annulled.

“We won the political battle, but the license remains in force,” says Tegria Uncaria.

The Magallanes site is roughly 270ms beyond the northern boundary of a 220,000 hectare reserve established for the U’was in 1999, but remains within their ancestral territories.

Asou’wa warns that, Magallanes aside, the U’was continue to face other serious threats. These include mining concessions in their reserve, the Cano Limon-Covenas oil pipeline which has been attacked 100s of times, and armed conflict between guerrillas, paramilitaries and the Colombian army.

The pipeline, owned by Cenit, an Ecopetrol subsidiary, mainly transports oil from the Cano Limon oil fields in which, says Ecopetrol, it has a 55% stake and US oil firm Occidental has 45%. According to Adam Isacson, from the Washington Office on Latin America (WOLA), some of the US’s multi-billion dollar “Plan Colombia” “aid” package – ostensibly about combating the drugs trade – has been spent on Colombian army brigades in this region in order to protect the pipeline, with the “bulk of it” going to “Black Hawk helicopters, pilot training, maintenance training, communications equipment and fuel sustenance.” According to a 2011 WOLA report co-authored by Isacson, “Plan Colombia” aid was delivered during a period of “severe human rights abuses” by security forces and paramilitary and army violence spiralling “tragically upwards”, while US officials, he says, “downplayed human rights groups’ constant warnings about military-paramilitary collaboration” and the “false positives” scandal in which Colombian soldiers dressed victims like guerrillas and claimed them killed during fighting.

“The military presence is far greater than it used to be, especially in that part of the pipeline [Arauca to Santander, through U’wa territories],” Isacson says. “Who really benefits? The oil companies getting free security would be the main ones, and all their investors. This is not designed to protect citizens.”

The U’was have repeatedly denounced the militarisation of their territories, and are now requesting that the pipeline is either buried or re-routed.

“Given the constant blowing-up of the pipeline and the environmental and human rights dangers this causes, we have requested that studies are done on the possibility of burying it underground between the points where it crosses our reserve, or finding another route outside the reserve,” says Tegria Uncaria. “To date, it hasn’t been buried, but according to Ecopetrol they’re doing technical studies.”

Ecopetrol told the Guardian that it was doing such studies and says “it is hoped they will be finished by the first half of 2015.”

In the 1990s the U’was issued a series of threats to commit mass suicide if operations went ahead at another drilling site in their territories, called Gibraltar, just to the east of Magallanes.

Map of most influential environmental justice conflicts in the US is released this week (EJOLT Project)

UScases [BRUSSELS, 25 June 2014] The 40 most influential environmental justice conflicts in recent American history are now included in a Global Atlas of Environmental Justice. The U.S. cases were compiled by the University of Michigan’s School of Natural Resources and Environment. The interactive atlas is a product of the EJOLT project (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade), which brings together dozens of universities and environmental justice organizations from four continents.

In the United States, decades of research have documented a strong correlation between the location of environmental burdens and the racial/ethnic background of the most impacted residents. In an effort to choose landmark cases in the U.S. the team from University of Michigan elicited feedback from more than 200 environmental justice leaders, activists, and scholars in identifying these case studies. “We felt that we could not identify influential cases without incorporating the voices of the activists and leaders who have worked within the field for more than three decades” says Alejandro Colsa-Perez, a Fulbright scholar from Spain and one of the four students from the team that recently graduated from the University of Michigan while doing the research on the top forty environmental justice cases.

Fossil fuels and climate justice conflicts; industrial conflicts and waste management conflicts dominate the list of most influential environmental justice conflicts, with seven cases each. The list includes historical cases within the environmental justice movement, such as 1978 Love Canal, New York, and the 1982 Warren County, North Carolina, protests. With the inclusion of tragedies like Hurricane Sandy and Hurricane Katrina, it is becoming clear that climate change threats are also disproportionately impacting the same communities that have suffered historically from environmental racism. The forty cases identified by participants in the survey represent a wide range of time periods, geographic regions, communities, and environmental challenges.

Although some of the cases have a clear ending point, many of these conflicts are ongoing and unresolved. An element of hope arises when looking at the percentage of conflicts where EJOLT collaborators believe environmental justice has been served, based on the way the conflict was resolved or on the improvements that impacted communities have achieved in their fight against injustices (e.g. the existence of compensation to communities, court cases in favor of environmental justice communities, rehabilitation/restoration of the area, or strengthening of participation in decision-making). As judged by the EJOLT team, in the U.S. approximately 35% have experienced some form of environmental justice success, compared to an average of 17% worldwide. “The long history of environmental justice activism in the United States can provide an important guide for activists and researchers across the Globe to learn about strategies that vulnerable communities have used in the past to help improve conditions within their communities”, says Professor Paul Mohai from the School of Natural Resources and Environment at the University of Michigan.

The Global Atlas already has over 1100 stories about communities struggling for environmental justice. It serves as a virtual space for those working on environmental justice issues to get information, find other groups working on related issues, and increase the visibility of environmental conflicts. According to Atlas coordinator Leah Temper from the Autonomous University of Barcelona “only once communities stand up and say we will no longer be polluted, will governments and companies change their behaviour”.

Brasil é o terceiro país do mundo com mais conflitos ecológicos (O Globo)

JC e-mail 4929, de 08 de abril de 2014

Segundo levantamento global, busca por recursos naturais prejudica comunidades tradicionais. Posição do país no ranking seria explicada pela abundância de projetos de infraestrutura relacionados ao meio ambiente

A exploração mineral, o desmatamento e a disputa por terras e água estão entre os maiores motivos de conflitos ambientais do mundo, segundo um levantamento internacional divulgado recentemente pela ONG Ejolt (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade) e coordenado pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). Os pesquisadores identificaram 945 casos em 78 países. Empatado com a Nigéria, o Brasil foi o terceiro colocado no ranking, com 58 casos, atrás apenas da Índia (112) e da Colômbia (77).

Os conflitos do país, segundo o Atlas Global de Justiça Ambiental, estão ligados à abundância de projetos de infraestrutura relacionados ao meio ambiente. São obras, como a construção de hidrelétricas, que dividem ativistas e empreiteiras; e o setor agrícola, cujas plantações invadem unidades de conservação.

– O crescimento da população mundial provocará uma busca cada vez mais intensa por commodities, e o Brasil, que é rico em terra, água, petróleo e minérios, será um alvo – descreve Leah Temper, coordenadora do Atlas. – E este recursos estão em terras ocupadas por indígenas, quilombolas e pequenos agricultores. Estes grupos serão os mais afetados.

Entre os conflitos ecológicos brasileiros estão episódios de grilagem para especulação imobiliária e a disputa por regiões que poderiam receber projetos como barragens hidrelétricas. São instalações que ampliam a geração de energia por uma matriz energética considerada limpa, mas que provocam alto impacto ambiental no local de sua construção.

Falhas na legislação
Apesar do processo de industrialização nacional ter catapultado nas décadas passadas, as exportações do Brasil são altamente dependentes de produtos do setor primário. Em 2012, metade dos produtos comercializados para outras nações vinham do agronegócio – carne, soja, etanol, por exemplo – e outros semiacabados, entre eles alumínio e aço bruto. O potencial econômico do campo leva extrativistas a se aventurarem em reservas indígenas.

Professor de Direito Ambiental da Fundação Getúlio Vargas, Rômulo Sampaio lembra que a exploração de commodities sempre gera disputa de interesses.

– O petróleo, por exemplo, provoca interesses nacionais, conservacionais e do mercado privado – destaca. – No campo, o problema fundiário torna o conflito ainda mais agudo, devido à desigualdade na distribuição de propriedades.

Sampaio atribui os dilemas ambientais e suas consequências sociais a falhas graves na legislação.

– Não há uma discussão sobre como lidar com os conflitos – condena. – Falta uma orientação, uma política pública. O debate só aparece na hora de implementação de cada projeto. Por isso, aumenta o número de ações no Judiciário.

A Fiocruz realiza, desde o ano passado, um catálogo sobre injustiças ambientais no Brasil. O órgão foi uma das fontes do mapeamento da UAB e, em trabalhos independentes, destaca os danos à saúde coletiva provocados pelos conflitos ecológicos. Nas grandes cidades, moradores no entorno de lixões estão sujeitos a doenças respiratórias, dengue e leptospirose.

Já a atuação da indústria em áreas próximas a rios leva à alteração do ciclo reprodutivo da fauna, a doenças cardíacas e à insegurança alimentar.

– Analisamos denúncias de problemas de saúde causados por conflitos ecológicos, como a contaminação de rios por agrotóxicos – revela Marcelo Firpo Porto, professor do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, da Escola Nacional de Saúde Pública. – As doenças estão ligadas à degradação dos ecossistemas.

Em seu novo mapeamento, a Fiocruz já identificou 450 casos de conflito ecológico no Brasil.

– Levamos ao mapeamento da UAB os casos mais emblemáticos, relacionados ao comércio internacional – conta. – Mas conhecemos muitas outras ocorrências, de âmbito regional ou nacional.

No Rio, por exemplo, a Zona Oeste registra dois casos que seriam atentados à justiça ambiental. O polo industrial de Santa Cruz já provocou emissões de uma poeira de ferro e carbono, que causa danos ao aparelho respiratório.

Na Barra da Tijuca, moradores de comunidades vizinhas à Vila do Autódromo são ameaçadas de remoção devido à especulação imobiliária. A região receberá instalações para os Jogos Olímpicos. Segundo a Fiocruz, alterações já realizadas pelo assoreamento de recursos hídricos no local pioram a qualidade de vida da população.

Para Sampaio, as comunidades urbanas e rurais têm em comum a falta de mobilização, que permite a sobrevivência de problemas seculares.

– Não existe uma organização social entre as comunidades menos favorecidas, o que prejudica sua representatividade – assinala.

Leah, que está à frente da organização do Atlas, reconhece que o mapeamento ainda tem um longo caminho para percorrer. Nesta primeira edição, o trabalho contou com a adesão de 23 universidades e ONGs de justiça ambiental de 18 países.

‘Dívida ambiental’
O levantamento não chegou a regiões expressivas do planeta, como a China, a Ásia Central e o Oriente Médio.

– Temos muitos lugares em branco no mapa – reconhece. – Mas, agora que ele é público, vamos convidar pesquisadores e ativistas dessas regiões para documentar outros conflitos e expandir o nosso conhecimento.

A coordenadora do Atlas, no entanto, assegura que a iniciativa já confirma um padrão histórico.

– O Hemisfério Sul continua suprindo as nações desenvolvidas com manufaturas de baixo preço e pagam um alto preço ecológico. As nações ricas têm uma “dívida ambiental” – analisa.

(Renato Grandelle/O Globo)
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/brasil-o-terceiro-pais-do-mundo-com-mais-conflitos-ecologicos-12121947#ixzz2yIX5l16X