Arquivo mensal: junho 2024

Ciência sozinha não vai resolver crise climática, diz filósofo americano (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Maurício Meireles

26.junho.2024


Só a ciência, sem a política, não vai conseguir produzir as soluções que o mundo precisa para combater a crise climática.

Quem diz é Michael Sandel, professor de filosofia política da Universidade Harvard e autor de diversos livros —o último publicado no Brasil é “O Descontentamento da Democracia” (ed. Civilização Brasileira).

A frase pode até parecer um truísmo, mas resume o cerne das críticas de Sandel às democracias contemporâneas: quando a política é dominada pelo discurso tecnocrático, os cidadãos acabam sem voz e sem meios de participar das decisões que afetam suas vidas.

Em “O Descontentamento da Democracia”, ele diz que a culpa da ascensão do autoritarismo pelo mundo é do chamado neoliberalismo, que promoveu o fortalecimento do setor financeiro e a desregulação dos mercados.

Para Sandel, essas políticas foram levadas adiante por tecnocratas de direita e esquerda que alienaram cidadãos das decisões econômicas, amparados por um discurso de meritocracia, gerando uma reação de ressentimento contra as elites e ceticismo quanto à democracia.

Por isso, diz, é importante não repetir o mesmo erro com a política climática. A ciência é, sim, crucial para embasar as decisões, mas é preciso participação democrática —e as lideranças não podem usar o discurso científico como forma de escapar de suas responsabilidades.

Sandel participou recentemente do ciclo de palestras online Clima e Sociedade, promovido pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), em que conversou com lideranças comunitárias que estão no front de combate aos efeitos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul.

Em entrevista à Folha, ele explica como os pontos levantados em seu livro se aplicam ao debate climático, avalia a atuação de instituições multilaterais nesse campo e defende que se evite o discurso apocalíptico.

Em vez de reforçar um sentimento de solidariedade, crises como a pandemia parecem ter explicitado divisões —e democracias como os Estados Unidos continuam tão polarizadas quanto antes. O mundo superestima a capacidade dessas crises de gerar solidariedade mútua?

A pandemia foi um ótimo teste. No começo da crise de saúde, com frequência ouvíamos que essa emergência iria nos unir, mostrando que somos igualmente vulneráveis, apesar das desigualdades econômicas. Quem podia trabalhar de casa logo percebeu o quanto dependemos do trabalho de pessoas que são ignoradas.

Poderia ter sido a hora para debater melhores salários e reconhecimento para os trabalhadores essenciais. Mas isso não ocorreu. A pandemia retrocedeu e a gratidão a eles também. Foi uma oportunidade perdida, a pandemia não nos levou a uma transformação social ou espiritual.

Para manter o senso de comunidade que crises como as enchentes no Sul despertam, é necessário criar instituições e espaços públicos sólidos, além formas de organização. Pressionar os governos por recursos é importante, mas é preciso construir instituições na sociedade civil, estabelecer um diálogo contínuo para que todos entendam que dividimos uma vida comum.

Você coloca a economia no centro da sua análise da crise das democracias liberais, em detrimento de uma análise mais cultural, que hoje parece mais popular no debate público. Por que essa abordagem econômica é mais adequada?

Em “O Descontentamento da Democracia”, escrevo sobre o que chamo de economia política da cidadania. Nas últimas décadas, erramos ao pressupor que o único propósito da economia é promover o consumo. E que, portanto, nosso foco principal deveria ser o crescimento do PIB e a distribuição da riqueza.

Tudo isso importa, é claro, mas não são as únicas questões que devemos levar em conta. É preciso se perguntar quais arranjos econômicos são favoráveis à participação democrática.

Democracia não é só ir votar. Democracia é criar condições econômicas e sociais que possibilitem às pessoas deliberar como iguais [sobre seu destino], moldando as forças que as governam.

Quando as pessoas não têm voz, elas se sentem excluídas, raivosas, ressentidas —e vão se conectar a políticos demagogos que canalizam essa alienação. Isso é o que começa a explicar o que está havendo, nos últimos anos, tanto nos EUA quanto no Brasil.

Sou contra uma separação tão dura entre uma análise econômica e outra cultural sobre por que cidadãos têm apoiado líderes autoritários pelo mundo.

Nos últimos anos, a divisão entre vencedores e derrotados se aprofundou, envenenando a política. Isso tem em partes a ver com a desigualdade, mas há também uma mudança de atitude em relação ao sucesso individual.

Quem está no topo acha que os lucros que recebeu do mercado são a medida de seus méritos —e que quem ficou para trás, por consequência, também mereceria o próprio destino.

Isso ajuda a explicar a política da raiva e do ressentimento. E também o crescimento do populismo autoritário de direita. Muitos da classe trabalhadora acham que as elites os olham de cima para baixo, com especial desprezo contra aqueles que não receberam educação universitária.

Agora, quanto dessa análise é econômica e quanto é cultural? São ambos os casos. É econômica porque mostra como a economia pode deteriorar a democracia participativa. E porque foca no papel do crescimento da desigualdade. Mas também é cultural, porque identifico esses elementos de ressentimento.

É preciso atar as duas pontas, resolver as desigualdades e lidar com a sensação de não ter voz, a raiva de tantos da classe trabalhadora.

Sua análise está centrada na globalização e nas chamadas políticas neoliberais. Qual o impacto disso no debate político sobre a mudança climática?

A política da mudança climática é um exemplo de como algo focado nas elites rapidamente vira um discurso tecnocrático quanto ao meio ambiente, que pode reforçar a polarização.

Há um jeito de organizar a economia e conduzir as políticas públicas que leva os cidadãos a se sentir sem voz. É uma política que trata as questões econômicas e ambientais como algo técnico, que só diz respeito aos especialistas.

Vimos esse discurso tecnocrático durante a pandemia, quando representantes das elites diziam que só estavam “seguindo a ciência”, o que é um jeito de escapar das responsabilidades.

Claro que é importante seguir a ciência no meio de uma pandemia ou da mudança climática —mas é um erro pressupor que a ciência sozinha pode realizar as avaliações políticas necessárias.

Por exemplo, durante a pandemia, a ciência não podia resolver se deveríamos fechar as escolas e por quanto tempo. Esse era um julgamento político, que teve que ser debatido pelos cidadãos dentro do processo democrático —e quem tomou as decisões teria que assumir responsabilidade por elas.

Não adianta só dizer que se está seguindo a ciência. No caso da política climática, a ciência precisa informar as decisões que vamos tomar, mas essas medidas precisam ser debatidas entre as pessoas implicadas nelas. Pois isso envolve negociações, questões distributivas, um debate sobre quem vai pagar o preço da transição para a economia verde… E por aí vai.

O que nos trouxe a esse momento tão polarizado é a insistência das elites políticas de que são especialistas ou que estão amparadas por especialistas. Com isso, fica implícito que quem discorda ou está mal informado ou é ignorante. E que, portanto, essas pessoas não estariam qualificadas a ter voz.

É o mesmo que ocorreu com a dignidade da classe trabalhadora, deteriorada pela financeirização da economia, a terceirização do trabalho, tudo em nome dos especialistas que diziam que isso seria bom para todos.

Se repetimos essa postura tecnocrática no combate à mudança climática, teremos outra vez as elites olhando os cidadãos de cima, dizendo que estão só seguindo a ciência.

A mudança climática é uma crise que requer ação global. Mas, no seu livro, você mostra ceticismo quanto às organizações multilaterais. Como elas deveriam funcionar?

A mudança climática requer cooperação global, sem dúvidas. E isso significa que precisamos de instituições multilaterais para conceber e implementar políticas, a fim de proteger o planeta e promover a transição para a economia verde.

As instituições globais hoje operam como instituições tecnocráticas, sem legitimidade ou participação democrática. E esse é um problema com o qual teremos que lidar.

A Europa já estava lidando com isso antes de a crise climática se tornar algo tão central. Mesmo esse bloco, onde a maioria dos países têm tradição democrática, tem sido associado aos burocratas de Bruxelas. Cidadãos nacionais se ressentem de determinações vindas desses burocratas e acham que não têm voz.

O mesmo vale para as instituições que serão necessárias para lidarmos com a crise climática. Precisamos de plataformas para um discurso público global, que possa envolver os cidadãos comuns na formulação de políticas que nos levarão a uma economia verde.

Se for algo puramente tecnocrático, mesmo o grupo de especialistas melhor administrado não vai ser capaz de conquistar legitimidade democrática e implementar qualquer política. Em resumo, não sou cético quanto às instituições multilaterais, apenas quero enfatizar a necessidade de participação democrática.

Seu principal ponto é que as políticas neoliberais teriam levado eleitores para a extrema direita. Você aponta que o presidente Joe Biden foi o primeiro a romper com essas diretrizes econômicas. No entanto, Donald Trump tem grandes chances de ser eleito. O que houve?

Um novo mandato de Trump aumentaria os riscos que a democracia americana enfrenta. Sim, Joe Biden rompeu com o mercado neoliberal que produziu a polarização política.

Ele falou sobre tentar restaurar a dignidade do trabalho, inclusive para quem não tem formação universitária.

Biden revitalizou as políticas antitruste, não só com objetivo de diminuir preços ao consumidor, mas também de responsabilizar o poder econômico, especialmente no caso das “big techs”. Também levou o Congresso a implementar investimentos públicos em infraestrutura que não eram vistos há décadas.

Por que ele não está colhendo dividendos políticos disso? Ele não foi capaz de articular essas medidas em uma nova visão de governo, não conseguiu explicar como todas essas políticas, se vistas em conjunto, podem renovar a cidadania democrática. E que, ao restaurar a dignidade do trabalho, as pessoas podem ter voz na política.

Uma liderança não depende só de implementar boas políticas, mas de oferecer uma visão que seja ao mesmo tempo econômica, política e moral.


RAIO-X

Michael J. Sandel, 71

É professor de filosofia política na Universidade Harvard, nos EUA, com obras que já foram traduzidas para mais de 30 línguas. Em livros como “O Descontentamento da Democracia” e “A Tirania do Mérito”, escreve sobre ética, economia e democracia, entre outros temas. Seu curso intitulado Justiça foi o primeiro de Harvard a ser disponibilizado gratuitamente online —e já foi visto por dezenas de milhões de pessoas.

‘A língua que falamos determina como pensamos’: americano que cresceu com indígenas na Amazônia explica relação (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

25.jun.2024 às 23h00


Todos nós humanos vivemos no mesmo mundo e temos experiências semelhantes. Por isso, todas as línguas faladas no planeta possuem as mesmas categorias básicas para expressar ideias e objetos, refletindo essa experiência humana comum.

Essa noção foi defendida por anos por diversos linguistas, mas para o linguista americano Caleb Everett, quando analisamos os idiomas mais de perto, descobrimos que muitos conceitos básicos não são universais e que falantes de línguas diferentes veem e pensam o mundo de forma diferente.

Em um novo livro, baseado em muitas línguas que ele pesquisou na Amazônia brasileira, Everett mostra que muitas culturas não pensam da mesma forma o tempo, o espaço ou os números.

Algumas línguas têm muitas palavras para descrever um conceito como tempo. Outras, como a Tupi Kawahib, sequer tem uma definição de tempo.

Talvez poucas pessoas estejam mais aptas a pensar sobre esse problema do que Everett. Nascido nos Estados Unidos, ele teve uma infância incomum nos anos 1980, dividindo seu tempo entre seu país natal, escolas públicas em São Paulo e Porto Velho, e aldeias indígenas no interior da Amazônia, em Rondônia.

Caleb é filho do americano Daniel Everett, que veio ao Brasil nos anos 1970 como missionário cristão com o propósito de traduzir a Bíblia para o idioma pirahã, uma língua falada hoje por cerca de 300 indígenas brasileiros.

Daniel veio para ajudar a converter os indígenas, mas acabou ele próprio convertido: abandonou a religião e passou a se dedicar ao estudo do pirahã, com um doutorado em linguística na Unicamp.

Desde cedo, Caleb acompanhou o pai e a mãe (que também era missionária) em missões na Amazônia brasileira. Chegou a viver entre os indígenas, passando parte da infância pescando e brincando com eles na floresta.

De volta aos EUA, se formou e foi trabalhar no mercado financeiro. Mas uma questão sempre o perturbou: interessado em psicologia, ele lia em revistas científicas que diziam que a forma que os humanos aprendem e entendem os números é universal.

“Nem todos os humanos pensam assim. Eu tenho o grande privilégio de conhecer alguns dos povos indígenas do Brasil que não pensam assim”, diz Everett.

Cada vez mais interessado em pesquisar sobre os indígenas que conheceu na sua infância, ele resolveu dar uma guinada na sua vida. Abandonou o mundo financeiro, fez doutorado e voltou para Rondônia, onde foi investigar as línguas amazônicas.

Da pesquisa, saiu seu primeiro livro, de 2017, “Numbers and the Making of Us: Counting and the Course of Human Cultures”(os números e a nossa formação: a contagem e o curso das culturas humanas). No livro, Caleb Everett defende que os números são um conceito que não é natural ou inato ao ser humano, e varia imensamente de acordo com cada cultura e idioma, ao ponto que é impossível dizer que existe uma forma universal e “natural” para os humanos aprenderem quantidades.

Recentemente, ele lançou outro livro em que volta ao tema. Em “A Myriad of Tongues: How Languages Reveal Differences in How We Think” (uma miríade de línguas: como as línguas revelam diferenças na forma como pensamos), Everett diz que nos acostumamos a acreditar que todas as línguas do mundo usam categorias universais para classificar ideias e objetos, já que a experiência humana é limitada a alguns aspectos comuns de todas as culturas.

Afinal, todos nós, independente de onde nascemos, contamos quantidades, lembramos do passado, planejamos o futuro e usamos pontos geográficos para nos localizarmos.

Mas, segundo Everett, nem todas as línguas refletem o mundo dessa forma. Há línguas no mundo, como a pirahã, que ele aprendeu na infância, que sequer têm números precisos. Algumas línguas possuem apenas dois tempos verbais (o futuro e o não futuro), outras possuem sete.

Essas discrepâncias são muito maiores do que apenas diferenças culturais, argumenta Caleb. Elas determinam de forma profunda como cada ser humano percebe e pensa o mundo.

A diferença é que para um povo, algumas noções de tempo podem ser não só irrelevantes, como quase incompreensíveis. Já outros povos podem ter uma compreensão mais sofisticada de tempo do que outros.

Para entender isso, linguistas como Caleb estão se debruçando sobre muitas línguas que não eram devidamente estudadas no passado, sobretudo na Amazônia. A tecnologia e a facilidade de se viajar no mundo atual acelerou o trabalho dos linguistas.

Mas eles correm contra o tempo, já que a modernidade está “matando” línguas em um ritmo mais acelerado, com povos indígenas tendo cada vez mais dificuldade de se sustentarem sem o aprendizado de outros idiomas.

O estudo das línguas amazônicas também está desafiando noções antigas de intelectuais sobre como os humanos falam. Esse debate traz à tona uma famosa disputa que existe no mundo acadêmico entre seu pai, Daniel, e o linguista americano Noam Chomsky, em torno da língua pirahã, de Rondônia, justamente a que Caleb aprendeu ainda quando criança.

Chomsky é famoso por propor o conceito de “gramática universal”, a ideia de que todas as línguas humanas possuem uma estrutura comum, independente de onde essas línguas se desenvolvem.

Mas Daniel Everett afirma que a língua pirahã desmente a tese de Chomsky. Em pirahã, não existiria a recursividade, algo que Chomsky diz ser inerente a todas as línguas e, portanto, universal. Recursividade é quando se insere uma frase dentro de outra, como em: “O policial que prendeu o bandido que roubou uma casa está na delegacia”.

Esse é um dos debates mais acalorados no mundo da linguística. Chomsky chegou a chamar Daniel Everett de charlatão e sugeriu que sua pesquisa sobre os pirahã era falsificada, já que por anos Daniel foi o único acadêmico a falar a língua.

Em entrevista para a BBC News Brasil, Caleb disse acreditar que este debate está ficando no passado, com os avanços tecnológicos que estão acontecendo no mundo da linguística. No mundo de hoje, são faladas mais de 7 mil línguas, e graças a avanços como ciência de dados e aprendizado de máquina, linguistas estão conseguindo expandir sua compreensão desses idiomas em uma velocidade inédita.

O resultado, segundo Caleb, é que algumas noções clássicas do mundo da linguística dos anos 1970 estão finalmente podendo ser colocadas à prova, e muitas delas não estão sendo aprovadas no teste.

Confira abaixo a entrevista que Caleb Everett deu à BBC News Brasil na qual fala sobre suas experiências na Amazônia brasileira, o debate sobre como as línguas moldam o mundo que experimentamos e os avanços no estudo dos idiomas nos dias de hoje.

Seu livro sugere que estamos tendo uma melhor compreensão das mais de 7.000 línguas que hoje são faladas no mundo. O que os linguistas estão aprendendo com essas línguas menos conhecidas?

Estamos aprendendo muito. O que está claro é que as línguas são muito mais diferentes entre si do que pensávamos. Nós costumávamos supor que existia essa diversidade entre as línguas, mas que por trás delas haveria algum tipo de componente universal, algo que todas as línguas compartilhavam.

E o que estamos descobrindo, à medida que olhamos para mais e mais línguas, é que elas são diferentes em maneiras muito profundas, que não foram previstas em alguns dos modelos teóricos da linguística dos anos 1960 e 1970.

Existem alguns pontos em comum, é claro. Todos nós temos os mesmos ouvidos, as mesmas bocas e os mesmos cérebros.

Há essas semelhanças entre as línguas, mas não é porque existe algo geneticamente programado dentro da linguagem.

Muito do seu trabalho é baseado em línguas amazônicas que você estuda há muito tempo. O que você aprendeu especificamente com elas?

A Amazônia é realmente fascinante, porque embora existam outras regiões do mundo, como a Nova Guiné ou a África Ocidental, que têm mais línguas, as línguas da Amazônia são totalmente não relacionadas entre si.

Existem algumas centenas de línguas, mas existem dezenas de famílias linguísticas, como tupi ou aruaque ou algumas outras línguas isoladas que não têm “parentes” conhecidos.

Algumas são totalmente distintas entre si e estão a apenas 100 quilômetros de distância uma da outra.

A Amazônia é uma espécie de microcosmo fascinante da diversidade linguística que existe no mundo.

E podemos aprender muito sobre as diversas formas como os humanos se comunicam olhando apenas para as pessoas na Amazônia.

Muitas vezes, eu acho, nós somos culpados no Ocidente de uma espécie de homogeneização desses grupos. Nós meio que os colocamos suas línguas, suas culturas no mesmo bojo.

Na Amazônia, o que você descobriu que sustenta essa ideia de que as pessoas pensam diferente porque falam diferente?

Uma forma pela qual as línguas dessa região produziram insights é como as pessoas pensam sobre o tempo.

Em inglês e em muitas línguas, temos a tendência, por exemplo, de usar metáforas em que o futuro está na nossa frente e o passado está atrás de nós.

Mas existem alguns grupos na Amazônia que não falam sobre o tempo dessa forma.

Há um caso famoso de língua Tupi Kawahib, onde eles nem falam sobre tempo em termos de espaço.

Quando uma língua como o inglês tem três tempos, algumas línguas têm até sete tempos. Elas dividem o tempo de maneiras muito diferentes.

Então não se trata apenas de coisas superficiais, como “eles falam sobre plantas e animais de forma diferente”.

E isso é verdade até certo ponto. Mas o que mais me interessa, e o foco do livro, são esses aspectos fundamentais do pensamento humano.

Como pensamos sobre as quantidades, como pensamos sobre o espaço, como pensamos sobre o tempo e como os humanos desenvolvem essas capacidades, e como isso parece variar em alguns aspectos entre culturas.

No seu livro, você dá o exemplo de uma frase em inglês com muitas referências ao tempo: “Na segunda-feira passada eu corri por meia hora, como eu faço todas as semanas”. Você disse que algumas das línguas que estuda não têm todos os recursos para enquadrar o tempo dessa forma. Já outras têm sete tempos verbais. Essas línguas são menos ou mais sofisticadas do que as que estamos acostumados?

Você vê idiomas que talvez prestem atenção ao tempo e às maneiras que nós não fazemos.

Se você tiver na sua língua apenas passado, presente ou futuro, quando você estiver falando, basta indicar se foi em um desses três tempos.

Mas se você tem sete tempos que podem incluir algo como passado muito distante ou um futuro muito distante, então você deve prestar atenção a esses aspectos temporais e talvez a formas mais sutis.

Em que idioma foi isso?

É uma linguagem chamada yagua [falada na Amazônia peruana]. Embora existam muitas línguas que possuem cinco ou seis tempos, há algumas que não possuem nenhum tempo verbal.

Uma das línguas que trabalhei na Amazônia, Karitiana, tem dois tempos: futuro e não futuro. Essa é uma língua falada no Estado de Rondônia. Esse é um sistema de tempo bastante comum. Mas o exemplo que você lembrou, sobre uma corrida que fiz de 30 minutos ontem ou na semana passada. Vamos pensar sobre essa frase. O que são 30 minutos? Minutos é algo muito definido cultural e linguisticamente. O minuto vem de um sistema numérico de base 60 que remonta à Mesopotâmia, e é por isso que dividimos a nossa hora 60, e depois dividimos novamente para ter segundos. São coisas culturais muito arbitrárias que aprendemos, e parecem naturais para nós à medida que aprendemos a contar as horas.

Mas é realmente antinatural para muitas pessoas.

Então você pode imaginar se estiver conversando com um amazônico que nunca topou com o conceito de horas, minutos ou semana, que também é culturalmente construída. Há tantas tradições culturais muito específicas incorporadas apenas nessa frase que impactam como pensamos.

Pense no quanto o seu dia é ditado olhando os relógios e pensando onde você tem que estar em um determinado horário e em determinados minutos. Isso tudo é arbitrário.

Muitas culturas prescindem completamente destas noções. Estas coisas são codificadas na linguagem aprendida pelas crianças desde cedo, que moldam a forma como pensamos sobre a passagem do tempo. E isso parece totalmente natural para nós até que você seja confrontado com alguém para quem esses conceitos sejam totalmente antinaturais e você percebe “este é um humano inteligente e eles não precisam desses conceitos.”

Isso não quer dizer que eles sejam inúteis. Acho que são muito úteis, mas são úteis no nosso contexto cultural. E são apenas uma maneira diferente de pensar sobre o mundo. Eles não são “a” maneira de pensar sobre o mundo.

Vamos pegar, por exemplo, o idioma que você mencionou que tem sete tempos. O que você percebe que é diferente na maneira como eles pensam ou na forma como sua sociedade é?

Parte disso, eu diria, é arbitrário.

Mas o que alguns pesquisadores tentaram fazer é um teste experimental: será que estas diferenças linguísticas têm impacto na forma como as pessoas pensam sobre o tempo em geral, mesmo quando não estão falando?

E há uma boa quantidade de evidências agora de que isso acontece.

Como no exemplo do futuro estando à sua frente no passado, atrás de você.

Há uma boa quantidade de evidências experimentais agora de que, mesmo quando as pessoas nessas línguas estavam, o passado está à sua frente e o futuro está atrás de você, há uma boa quantidade de evidências de que as pessoas pensam sobre o tempo de maneira diferente, mesmo quando elas não estão falando.

Experiências básicas mostraram que quando as pessoas falam sobre o futuro em algumas destas línguas, elas apontam para trás, e quando falam sobre o passado, apontam para a frente, enquanto os falantes de inglês fazem o inverso.

Tendemos a pensar que estamos caminhando em direção ao futuro, enquanto para muitas dessas culturas é o contrário. E se você pensar bem, faz sentido. Porque você pode ver o passado. Você vê o que comeu no café da manhã. Você sabe o que aconteceu ontem. Mas o futuro é meio desconhecido para nós, então esse tipo de metáfora básica de visão e ver o passado, não ver o futuro, é a base de como as pessoas pensam sobre o tempo. E algumas dessas culturas e essa forma de pensar sobre o tempo surge mesmo em contextos não linguísticos.

Você teve uma infância muito interessante e inusitada, tendo passado grande parte do tempo com indígenas no Brasil. Como foi essa experiência?

Tenho boas lembranças da minha infância e do Brasil. Passei grande parte da minha infância na aldeia pirahã com minhas duas irmãs e meus pais.

Mas também passei um tempo em escolas públicas brasileiras, indo e voltando e ocasionalmente visitando os EUA.

Minha infância foi uma mistura de estar na aldeia no meio da selva, estar em cidades brasileiras e depois estar ocasionalmente em cidades americanas.

Em Porto Velho e São Paulo, porque meu pai acabou fazendo doutorado na Unicamp e assim em Campinas e em São Paulo.

As memórias de estar na selva são geralmente muito boas. Eu olho para trás agora e penso que nunca faria isso com meu filho (risos), quando penso nos riscos que corremos. Todos nós contraímos malária. É fácil olhar para trás com carinho quando todos sobreviveram.

Mas porque todos nós sobrevivemos e eu tenho boas lembranças de estar na aldeia nadando no rio com meus amigos indígenas, de caçar ou pescar com minhas irmãs, mas também alguns dos aspectos negativos, como a exploração dos indígenas por comerciantes locais.

No geral, foi uma infância muito positiva e tenho ótimas lembranças de estar na selva.

Você mencionou a língua pirahã e esse tem sido um debate bastante famoso no mundo linguístico entre seu pai e o famoso linguista americano Noam Chomsky. Esse debate intelectual chegou a ser bastante feroz na troca de palavras. O seu trabalho parece estar muito relacionado a essa questão que é central no mundo da linguística. Como você vê esse debate tão polêmico?

É um debate muito polêmico. Gosto de pensar que, de certa forma, a ciência superou alguns desses debates e o campo se tornou mais empírico. Meu pai foi certamente uma das pessoas que contribuiu para isso. Muitos pesquisadores nas últimas décadas trouxeram dados de diferentes idiomas na Austrália, na Amazônia e na África, que não parecem estar de acordo com os modelos que Chomsky e que outros promoveram nas décadas de 60 e 70. E esses modelos se tornaram muito influentes.

Na defesa desses modelos, eles parecem ter funcionado muito bem no começo. Mas na medida em que surgem mais e mais exceções, as coisas simplesmente não parecem se encaixar. E você tem que perguntar qual é a utilidade desse modelo?

O modelo é baseado, em grande parte, no inglês.

A nova safra de pesquisadores, a minha geração e a geração seguinte, não está muito satisfeita com os modelos dos anos 60 e 70. E isso não é um insulto.

Isso acontece em muitos campos. As coisas evoluem.

E agora acho que já ultrapassamos isso de uma forma que não é mais o debate central da linguística.

Mas ele ainda desperta muitas emoções fortes. Você acha que o mundo da linguística vai acabar deixando a gramática universal para trás?

A ideia de gramática universal mudou muito. Se você voltar e olhar os estudos dos anos 60 e 70, eles fizeram previsões muito grandes. Agora as previsões são quase impossíveis de serem provadas falsas.

Eles dizem: todos os humanos têm uma linguagem e então deve haver uma gramática universal.

É algo tão vago que não se pode discordar, mas que já não ajuda a se fazer nenhuma previsão, na minha opinião.

Mas digo isso também porque os pesquisadores que realmente respeito agora, que são talvez 10 anos mais novos que eu, certo, que estão fazendo pesquisas de ponta, eles não parecem estar levando em conta esse debate no seu trabalho.

Em vez disso, eles estão focados em realizar experimentos realmente bons, usando big data, ciência de dados e programação de computador, que se tornaram central para o trabalho que fazemos.

E isso não é verdade apenas na pesquisa linguística.

Quando as pessoas investem décadas de suas vidas em qualquer modelo teórico específico em qualquer disciplina, elas tendem a ser indivíduos bastante tendenciosos.

E então existe uma velha expressão que diz: a ciência muda uma aposentadoria por vez. E, de certa forma, acho que isso é verdade, que leva tempo.

Gostamos de pensar que somos objetivos, mas na verdade não somos, depois que investimos décadas em uma determinada visão e a promovemos, é preciso ser uma pessoa realmente grande para dizer “sabe: eu estive errado nos últimos 30 anos e preciso reconhecer isso diante de tantas evidências”.

Eu não vou ficar parado esperando isso acontecer. Eu acho que é apenas uma mudança social gradual em uma disciplina.

A tecnologia recente acelerou o estudo das línguas. Mas muitas dessas línguas estão morrendo rapidamente também. Existe uma corrida contra o tempo para estudá-las antes que morram?

Sim. Eu acho que há muita documentação linguística ao redor do mundo e às vezes eu acho que na verdade somos meio egoístas como pesquisadores, queremos obter todos esses dados antes que eles desapareçam ou queremos manter as pessoas falando suas línguas.

Na Amazônia, por exemplo, você vê que existem alguns grupos indígenas que realmente importam muito para eles manterem sua língua e para alguns deles isso não parece importar muito.

E quem somos nós para dizer a eles que isso deveria importar?

Acho que às vezes isso é importante para mim porque eu tenho um interesse egoísta de querer mais idiomas e é uma coisa fascinante para mim e para minha carreira olhar para esses dados.

Mas sim, infelizmente, para alguns, as línguas estão morrendo.

Elas estão morrendo principalmente hoje em dia por razões econômicas, na medida em que grupos de pessoas que estão no Brasil e em outros lugares, se quiserem que seus filhos possam ser economicamente viáveis diante do encolhimento das reservas e da dificuldade cada vez maior de sobreviver da caça e da pesca, essas pessoas têm que falar português, espanhol ou inglês.

Dependendo do contexto em que se encontram, as pressões econômicas são tão fortes sobre alguns destes grupos individuais que a maioria dos modelos sugere que muitas destas línguas desaparecerão nos próximos 100 anos.

Ao longo da sua vida, você viu línguas amazônicas morrerem ou prestes a morrer?

Sim. Um exemplo que me vem à mente é o idioma suruí que também é falado em Rondônia e ainda há falantes. O missionário que foi um dos primeiros a contatá-los nos anos 60 falava que era um idioma vibrante em termos linguísticos, mas agora muitas dessas pessoas falam principalmente português.

E se você olhar a proporção de crianças que estão aprendendo a língua como primeira língua e vê que isso está diminuindo. Esse é geralmente o melhor indicador de se uma linguagem sobreviverá ou não.

Para muitas destas línguas, simplesmente não há muitas crianças a aprendê-las.

Existem outras línguas que vimos morrer completamente.

Uma que me vem à mente é uma língua chamada Orouim, que era falada na fronteira brasileira com a Bolívia.

Mas há muitos exemplos de línguas que acabaram morrendo. Ou de línguas onde ainda há muitos falantes, mas a proporção de número de falantes de português aumentou muito entre as crianças. Você vê isso no parque Xingu, por exemplo. Muitas das línguas ainda são faladas, mas muitas vezes as crianças falam principalmente português.

E com a morte das línguas a humanidade está perdendo diversidade na forma de se pensar o mundo?

Uma das coisas que descobrimos e que é mencionada no livro é que há vários grupos que demonstraram ter vocabulários ricos sobre cheiros.

Isso é outra coisa que costumávamos pensar: “nós, humanos, não temos palavras abstratas para cheiros”.

Mas acontece que houve uma série de línguas documentadas nos últimos 10 anos que possuem palavras ricas e abstratas para cheiros.

À medida que essas línguas morrem e algumas delas estão à beira da extinção, estamos perdendo algo crítico sobre como os humanos pensam sobre cheiros e como eles podem falar sobre cheiros. Se perdemos isso, nós perderemos um pouco de como os humanos pensam sobre os cheiros que sentem.

Na medida em que as línguas morrem, estamos perdendo algo básico de nossa compreensão de como os humanos pensam sobre as sensações que sentem.

Você compara línguas amplamente faladas com línguas pouco conhecidas para ilustrar como pessoas podem pensar de formas diferentes. Mas existe essa diferença na forma de pensar o mundo mesmo entre línguas amplamente faladas? Por exemplo, um chinês pensa o mundo diferente de um alemão, por conta da língua que fala?

É sempre difícil saber quanto disso é a cultura e quanto disso é a linguagem. Mas no caso chinês, por exemplo, tem havido algumas pesquisas fascinantes mostrando que os falantes de mandarim parecem pensar sobre o tempo de maneiras diferentes dos falantes de inglês, porque as metáforas que usam para o tempo são um pouco diferentes.

Os chineses usam metáforas verticais, em que o tempo está caindo, em oposição à metáfora horizontal do futuro estar diante de você, como no inglês.

Outro exemplo com falantes de chinês é o da cognição quantitativa, como as pessoas pensam sobre quantidades.

Os falantes de inglês, por exemplo, tendem ser um pouco mais lentos do que os falantes de chinês no aprendizado de números, por causa como de números como 11 (“eleven”) e 12 (“twelve”).

No inglês, nas dezenas de 13 em diante, existe um padrão previsível: “thirteen” (13) e “fourteen” (14) são a junção do número três e quatro com a dezena (“teen”). Mas isso não acontece com as palavras “eleven” (11) e “twelve” (12).

Em idiomas como o chinês isso é mais transparente. Na parte das dezenas, você aprende a junção “um-dezena”, dois-dezena”, etc.

Isso ajudaria a explicar por que as crianças chinesas se saem um pouco melhor mais cedo em alguns exercícios de adição do que as crianças que falam inglês.

Um exemplo que se costuma dar em linguística é que os esquimós têm mais de 50 palavras para neve, já que é algo importante na cultura deles. Mas isso é um exemplo errado?

Isso se tornou uma coisa divertida para os linguistas zombarem.

Chegou ao ponto de o New York Times publicar um artigo que dizia que os esquimós têm centenas de palavras para neve e isso simplesmente não é verdade.

No entanto, a ideia central por trás dessa mentira não é imprecisa, que é a de que as pessoas vivem em ambientes muito diferentes. Não é de surpreender que alguns grupos amazônicos não tenham palavras para neve.

Há algumas evidências agora de que alguns destes termos que existem no ambiente podem ter impacto na forma como as pessoas pensam sobre algumas destas coisas externas.

Você menciona que as sociedades WEIRD (sigla em inglês para sociedades ocidentais, educadas, industrializadas, ricas e democráticas) não são uma população boa para se generalizar as capacidades da humanidade. Por que isso?

Foram pesquisadores de psicologia há cerca de 15 anos que inventaram essa sigla para WEIRD.

E eu acho que é uma maneira muito inteligente de fazer isso. As pessoas estão cientes hoje em dia que, se existem cerca de 7.000 línguas e culturas distintas no mundo, é problemático nós ficarmos nos debruçando repetidamente apenas no que pensam os americanos, os britânicos ou até mesmo os japoneses, e generalizar que é assim que os humanos pensam.

Nós [dos países WEIRD] somos uma pequena amostra da diversidade humana.

E além disso não somos representativos.

Um dos motivos disso é que estudos mostram que a alfabetização, por exemplo, muda a composição do cérebro.

Á medida que as pessoas aprendem a ler e escrever e ficam focadas em imagens bidimensionais. As crianças fazem isso repetidas vezes com livros e telas e isso tem alguns efeitos cognitivos.

Mas na perspectiva da história humana, se pensarmos em escalas de tempo maiores, os humanos deixaram a África há cerca de 100.000 anos, aproximadamente em ondas diferentes.

Eles caminharam por todo o mundo e chegaram a diversos lugares, incluindo o sul da América do Sul, há 20 mil anos.

Durante esse tempo, desenvolvemos formas muito diferentes de pensar.

Na vertente europeia, a agricultura tem apenas cerca de 8.000 anos e a industrialização tem apenas alguns 100 anos.

E a alfabetização generalizada, em que se espera que todas as pessoas leiam e escrevam, é um fenômeno recente.

Quando usamos as pessoas dos países WEIRD para generalizar como os humanos pensam, estamos olhando apenas para uma vertente específica de humanos que se desenvolveu em uma determinada parte do mundo durante apenas alguns mil anos de toda essa história de 100 mil anos.

É uma parte muito pequena da história de uma perspectiva histórica.

Obviamente, hoje é incrivelmente influente porque estes grupos tornaram-se potências colonizadoras e mudaram a forma como o mundo funciona.

Mas de uma perspectiva histórica e antropológica, isso é apenas uma parte do quadro. E às vezes é uma parte não representativa.

Temos que buscar uma amostragem menos tendenciosa de como os humanos falam e pensam.

Você convive há anos com indígenas brasileiros. Na sua visão, a vida deles melhorou ou piorou ao longo dos anos?

Essa é uma pergunta difícil. Depende do contexto. Acho que em muitos aspectos a vida deles piorou. Mas depende de com quem você fala. E não gosto de projetar minha opinião sobre se a situação piorou.

Obviamente, o maior acontecimento na história das populações indígenas no Brasil e em outros lugares foi a introdução de doenças que dizimaram muitas delas e, de muitas maneiras, elas nunca se recuperaram dessa devastação.

Isso segue algo muito importante: ter acesso a bons remédios. Quando você conhece qualquer mãe indígena, independente da formação cultural, ela quer a saúde do filho.

E a saúde continua realmente inadequada. Alguns criticaram e acho que com razão, o governo brasileiro por isso, por não priorizar o suficiente, a saúde dos povos indígenas, apesar da criação de diferentes agências que tentaram fazer isso.

As comunidades indígenas estão tendo poder para conduzir seus rumos? Ou elas estão sendo conduzidas por outros?

Minha opinião é que eles estão sendo mais conduzidos. Os poderes que atuam em suas vidas são muito maiores do que qualquer tipo de liberdade que eles tenham.

É o caso, por exemplo, do povo que eu conheço bem, os karitianas. Eles têm uma reserva enorme. Alguns dos brasileiros que são pobres chegam a ter inveja deles e pensam: “por que eles têm tanta terra e eu não?”

Mas se você pegar uma reserva assim, ela é cercada pelos brasileiros. Isso significa que a caça, os animais e a pesca simplesmente não são mais o que eram. Mesmo sendo um grande pedaço de terra, não há animais e peixes suficientes para subsistir.

Então agora essas pessoas são forçadas a ir a locais como o Porto Velho para tentar ganhar a vida vendendo artefatos. Isso cria todos os tipos de problemas e cria pessoas que agora estão interagindo na cultura brasileira com aspectos dela que talvez não estivessem preparados. Às vezes eles podem não ter tolerância ao álcool ou enfrentar coisas que não enfrentaram na aldeia, e agora você tem filhos que estão lá fora. É uma coisa fundamentalmente econômica.

Alguns deles eu sei que querem viver na reserva e ter uma vida mais tradicional. Até mesmo para alguns dos mais jovens. Mas simplesmente não é viável.

Como é o dia a dia do trabalho de um linguista no Brasil?

Muito do trabalho envolve eu sentado em frente a um computador fazendo programação. Com isso, eu meio que me afastei do trabalho de campo, mas isso também aconteceu porque tive um filho e não queríamos ficar levando ele para a aldeia.

Estou de volta ao início dos anos 2000, quando estava fazendo meu doutorado, passei muito tempo na cidade de Porto Velho pesquisando todos os dias com amigos que falavam a língua e gravando suas vozes, analisando. Fiquei focado principalmente em padrões sonoros que achei bastante interessantes.

Então você pode analisar isso com um software acústico, mas meu dia a dia era andar de moto, andar pela selva, conversar com eles, entrevistá-los. Foi muito divertido.

A pesquisa em si, voltando ao computador e observando esses padrões, porque a linguagem é realmente complexa em certos aspectos, é tentar descobrir alguns desses padrões. Mesmo que algumas pessoas tenham estudado a linguagem antes, é realmente muito desgastante mentalmente.

Você ainda mantém contato com amigos lá?

Sim. Eu não volto tanto, embora espere voltar no próximo ano por um longo tempo.

Eu tenho contato por email com algumas dessas pessoas e muitas delas estão no Facebook agora.

O engraçado é que não estou muito nas redes sociais, mas elas estão. Então, se eu quiser segui-los, talvez eu tenha que entrar no Facebook pela primeira vez em anos e ver o que está acontecendo. Mas mantenho contato por email.

Em português?

Sim, em português. Às vezes eles escrevem na língua deles e eu tenho que tentar lembrar, porque estou sem prática. E isso não é algo que você pode clicar no Google Tradutor para te ajudar (risos).

A inteligência artificial está ajudando a estudar novas línguas. Mas ela também está mudando as línguas que falamos. Quais os perigos da inteligência artificial para as nossas línguas?

Acho que isso está exacerbando a tendência que já existe há muito tempo, de que as maiores línguas estão se tornando ainda mais influentes.

Isso acontece, por exemplo, com os large language models, que são a base de tecnologias como o Chat GPT.

Esses modelos são abastecidos com muitos dados e isso só pode ser feito com poucas línguas no mundo que são muito faladas.

O mundo tem cerca de 7.400 línguas e só algumas poucas dezenas delas possuem dados suficientes para informar esses modelos.

Talvez um dia haja uma maneira de coletar dados suficientes e isso me deixa otimista de que existem maneiras pelas quais a inteligência artificial poderia ser usada para substituir os trabalhadores linguísticos de campo para coletar apenas grandes quantidades de dados desses grupos indígenas, assumindo que eles estão eles concordam com isso para registrar e depois analisar e novas maneiras suas linguagens.

Essa parte ainda não é possível, mas há uma parte de mim que está otimista de que isso será possível nas próximas décadas e que poderá realmente ajudar a preservar algumas destas línguas.

Mas agora eu diria que grande parte da tecnologia baseada em grandes modelos de linguagem apenas cria um “pool” maior para essas linguagens muito grandes

Este texto foi publicado originalmente aqui.

The world’s on the verge of a carbon storage boom (MIT Technology Review)

technologyreview.com

Hundreds of looming projects will force communities to weight the climate claims and environmental risks of capturing, moving, and storing carbon dioxide.

James Temple

June 12, 2024


Pump jacks and pipelines clutter the Elk Hills oil field of California, a scrubby stretch of land in the southern Central Valley that rests above one of the nation’s richest deposits of fossil fuels.

Oil production has been steadily declining in the state for decades, as tech jobs have boomed and legislators have enacted rigorous environmental and climate rules. Companies, towns, and residents across Kern County, where the poverty rate hovers around 18%, have grown increasingly desperate for new economic opportunities.

Late last year, California Resources Corporation (CRC), one of the state’s largest oil and gas producers, secured draft permits from the US Environmental Protection Agency to develop a new type of well in the oil field, which it asserts would provide just that. If the company gets final approval from regulators, it intends to drill a series of boreholes down to a sprawling sedimentary formation roughly 6,000 feet below the surface, where it will inject tens of millions of metric tons of carbon dioxide to store it away forever. 

They’re likely to become California’s first set of what are known as Class VI wells, designed specifically for sequestering the planet-warming greenhouse gas. But many, many similar carbon storage projects are on the way across the state, the US, and the world—a trend driven by growing government subsidies, looming national climate targets, and declining revenue and growth in traditional oil and gas activities.

Since the start of 2022, companies like CRC have submitted nearly 200 applications in the US alone to develop wells of this new type. That offers one of the clearest signs yet that capturing the carbon dioxide pollution from industrial and energy operations instead of releasing it into the atmosphere is about to become a much bigger business. 

Proponents hope it’s the start of a sort of oil boom in reverse, kick-starting a process through which the world will eventually bury more greenhouse gas than it adds to the atmosphere. They argue that embracing carbon capture and storage (CCS) is essential to any plan to rapidly slash emissions. This is, in part, because retrofitting the world’s massive existing infrastructure with carbon dioxide–scrubbing equipment could be faster and easier than rebuilding every power plant and factory. CCS can be a particularly helpful way to cut emissions in certain heavy industries, like cement, fertilizer, and paper and pulp production, where we don’t have scalable, affordable ways of producing crucial goods without releasing carbon dioxide. 

“In the right context, CCS saves time, it saves money, and it lowers risks,” says Julio Friedmann, chief scientist at Carbon Direct and previously the principal deputy assistant secretary for the Department of Energy’s Office of Fossil Energy.

But opponents insist these efforts will prolong the life of fossil-fuel plants, allow air and water pollution to continue, and create new health and environmental risks that could disproportionately harm disadvantaged communities surrounding the projects, including those near the Elk Hills oil field.

“It’s the oil majors that are proposing and funding a lot of these projects,” says Catherine Garoupa, executive director of the Central Valley Air Quality Coalition, which has tracked a surge of applications for carbon storage projects throughout the district. “They see it as a way of extending business as usual and allowing them to be carbon neutral on paper while still doing the same old dirty practices.”

A slow start

The US federal government began overseeing injection wells in the 1970s. A growing number of companies had begun injecting waste underground, sparking a torrent of water pollution lawsuits and the passage of several major laws designed to ensure clean drinking water. The EPA developed standards and rules for a variety of wells and waste types, including deep Class I wells for hazardous or even radioactive refuse and shallower Class V wells for non-hazardous fluids.

In 2010, amid federal efforts to create incentives for industries to capture more carbon dioxide, the agency added Class VI wells for CO2 sequestration. To qualify, a proposed well site must have the appropriate geology, with a deep reservoir of porous rock that can accommodate carbon dioxide molecules sitting below a layer of nonporous “cap rock” like shale. The reservoir also needs to sit well below any groundwater aquifers, so that it won’t contaminate drinking water supplies, and it must be far enough from fault lines to reduce the chances that earthquakes might crack open pathways for the greenhouse gas to escape. 

The carbon sequestration program got off to a slow start. As of late 2021, there were only two Class VI injection wells in operation and 22 applications pending before regulators.

But there’s been a flurry of proposals since—both to the EPA and to the three states that have secured permission to authorize such wells themselves, which include North Dakota, Wyoming, and Louisiana. The Clean Air Task Force, a Boston-based energy policy think tank keeping track of such projects, says there are now more than 200 pending applications.

What changed is the federal incentives. The Inflation Reduction Act of 2022 dramatically boosted the tax credits available for permanently storing carbon dioxide in geological formations, bumping it up from $50 a ton to $85 when it’s captured from industrial and power plants. The credit rose from $50 to $180 a ton when the greenhouse gas is sourced from direct-air-capture facilities, a different technology that sucks greenhouse gas out of the air. Tax credits allow companies to directly reduce their federal tax obligations, which can cover the added expense of CCS across a growing number of sectors.

The separate Bipartisan Infrastructure Law also provided billions of dollars for carbon capture demonstration and pilot projects.

A tax credit windfall 

CRC became an independent company in 2014, when Occidental Petroleum, one of the world’s largest oil and gas producers, spun it off along with many of its California assets. But the new company quickly ran into financial difficulties, filing for bankruptcy protection in 2020 amid plummeting energy demand during the early stages of the covid-19 pandemic. It emerged several months later, after restructuring its debt, converting loans into equity, and raising new lines of credit. 

The following year, CRC created a carbon management subsidiary, Carbon TerraVault, seizing an emerging opportunity to develop a new business around putting carbon dioxide back underground, whether for itself or for customers. The company says it was also motivated by the chance to “help advance the energy transition and curb rising global temperatures at 1.5 °C.”

CRC didn’t respond to inquiries from MIT Technology Review.

In its EPA application the company, based in Long Beach, California, says that hundreds of thousands of tons of carbon dioxide would initially be captured each year from a gas treatment facility in the Elk Hills area as well as a planned plant designed to produce hydrogen from natural gas. The gas is purified and compressed before it’s pumped underground.

The company says the four wells for which it has secured draft permits could store nearly 1.5 million tons of carbon dioxide per year from those and other facilities, with a total capacity of 38 million tons over 26 years. CRC says the projects will create local jobs and help the state meet its pressing climate targets.

“We are committed to supporting the state in reaching carbon neutrality and developing a more sustainable future for all Californians,” Francisco Leon, chief executive of CRC, said of the draft EPA decision in a statement. 

Those wells, however, are just the start of the company’s carbon management plans: Carbon TerraVault has applied to develop 27 additional wells for carbon storage across the state, including two more at Elk Hills, according to the EPA’s permit tracker. If those are all approved and developed, it would transform the subsidiary into a major player in the emerging business of carbon storage—and set it up for a windfall in federal tax credits. 

Carbon sequestration projects can qualify for 12 years of US subsidies. If Carbon TerraVault injects half a million tons of carbon dioxide into each of the 31 wells it has applied for over that time period, the projects could secure tax credits worth more than $15.8 billion.

That figure doesn’t take inflation into account and assumes the company meets the most stringent requirements of the law and sources all the carbon dioxide from industrial facilities and power plants. The number could rise significantly if the company injects more than that amount into wells, or if a significant share of the carbon dioxide is sourced through direct air capture. 

Chevron, BP, ExxonMobil, and Archer Daniels Midland, a major producer of ethanol, have also submitted Class VI well applications to the EPA and could be poised to secure significant IRA subsidies as well.

To be sure, it takes years to secure regulatory permits, and not every proposed project will move forward in the end. The companies involved will still need to raise financing, add carbon capture equipment to polluting facilities, and in many cases build out carbon dioxide pipelines that require separate approvals. But the increased IRA tax credits could drive as much as 250 million metric tons of additional annual storage or use of carbon dioxide in the US by 2035, according to the latest figures from the Princeton-led REPEAT Project.

“It’s a gold rush,” Garoupa says. “It’s being shoved down our throats as ‘Oh, it’s for climate goals.’” But if we’re “not doing it judiciously and really trying to achieve real emissions reductions first,” she adds, it’s merely a distraction from the other types of climate action needed to prevent dangerous levels of warming. 

Carbon accounting

Even if CCS can help drive down emissions in the aggregate, the net climate benefits from any given project will depend on a variety of factors, including how well it’s developed and run—and what other changes it brings about throughout complex, interconnected energy systems over time.

Notably, adding carbon capture equipment to a plant doesn’t trap all the climate pollution. Project developers are generally aiming for around 90%. So if you build a new project with CCS, you’ve increased emissions, not cut them, relative to the status quo.

In addition, the carbon capture process requires a lot of power to run, which may significantly increase emissions of greenhouse gas and other pollutants elsewhere by, for example, drawing on additional generation from natural-gas plants on the grid. Plus, the added tax incentives may make it profitable for a company to continue operating a fossil-fuel plant that it would otherwise have shut down or to run the facilities more hours of the day to generate more carbon dioxide to bury. 

All the uncaptured emissions associated with those changes can reduce, if not wipe out, any carbon benefits from incorporating CCS, says Danny Cullenward, a senior fellow with the Kleinman Center for Energy Policy at the University of Pennsylvania.

But none of that matters as far as the carbon storage subsidies are concerned. Businesses could even use the savings to expand their traditional oil and gas operations, he says.

“It’s not about the net climate impact—it’s about the gross tons you stick under ground,” Cullenward says of the tax credits.

A study last year raised a warning about how that could play out in the years to come, noting that the IRA may require the US to provide hundreds of billions to trillions of dollars in tax credits for power plants that add CCS. Under the scenarios explored, those projects could collectively deliver emissions reductions of as much as 24% or increases as high as 82%. The difference depends largely on how much the incentives alter energy production and the degree to which they extend the life of coal and natural-gas plants.

Coauthor Emily Grubert, an associate professor at Notre Dame and a former deputy assistant secretary at the Department of Energy, stressed that regulators must carefully consider these complex, cascading emissions impacts when weighing whether to approve such proposals.

“Not taking this seriously risks potentially trillions of dollars and billions of tonnes of [greenhouse-gas] emissions, not to mention the trust and goodwill of the American public, which is reasonably skeptical of these potentially critically important technologies,” she wrote in an op-ed in the industry outlet Utility Dive.

Global goals

Other nations and regions are also accelerating efforts to capture and store carbon as part of their broader efforts to lower emissions and combat climate change. The EU, which has dedicated tens of billions of euros to accelerating the development of CCS, is working to develop the capacity to store 50 million tons of carbon dioxide per year by 2030, according to the Global CCS Institute’s 2023 industry report.

Likewise, Japan hopes to sequester 240 million tons annually by 2050, while Saudi Arabia is aiming for 44 million tons by 2035. The industry trade group said there were 41 CCS projects in operation around the world at the time, with another 351 under development.

A handful of US facilities have been capturing carbon dioxide for decades for a variety of uses, including processing or producing natural gas, ammonia, and soda ash, which is used in soaps, cosmetics, baking soda, and other goods.

But Ben Grove, carbon storage manager at the Clean Air Task Force, says the increased subsidies in the IRA made CCS economical for many industry segments in the US, including: chemicals, petrochemicals, hydrogen, cement, oil, gas and ethanol refineries, and steel, at least on the low end of the estimated cost ranges. 

In many cases, the available subsidies still won’t fully cover the added cost of CCS in power plants and certain other industrial facilities. But the broader hope is that these federal programs will help companies scale up and optimize these processes over time, driving down the cost of CCS and making it feasible for more sectors, Grove says.

‘Against all evidence’

In addition to the gas treatment and hydrogen plants, CRC says, another source for the captured carbon dioxide could eventually include its own Elk Hills Power Plant, which runs on natural gas extracted from the oil field. The company has said it intends to retrofit the facility to capture 1.5 million tons of emissions a year.

Still other sources could include renewable fuels plants, which may mean biofuel facilities, steam generators, and a proposed direct-air-capture plant that would be developed by the carbon-removal startup Avnos, according to the EPA filing. Carbon TerraVault is part of a consortium, which includes Avnos, Climeworks, Southern California Gas Company, and others, that has proposed developing a direct-air-capture hub in Kern County, where the Elk Hills field is located. Last year, the Department of Energy awarded the so-called California DAC Hub nearly $12 million to conduct engineering design studies for direct-air-capture facilities.

CCS may be a helpful tool for heavy industries that are really hard to clean up, but that’s largely not what CRC has proposed, says Natalia Ospina, legal director at the Center on Race, Poverty & the Environment, an environmental-justice advocacy organization in Delano, California. 

“The initial source will be the Elk Hills oil field itself and the plant that refines gas in the first place,” she says. “That is just going to allow them to extend the life of the oil and gas industry in Kern County, which goes against all the evidence in front of us in terms of how we should be addressing the climate crisis.”

Natalia Ospina
Natalia Ospina, legal director at the Center on Race, Poverty & the Environment.

Critics of the project also fear that some of these facilities will continue producing other types of pollution, like volatile organic compounds and fine particulate matter, in a region that’s already heavily polluted. Some analyses show that adding a carbon capture process reduces those other pollutants in certain cases. But Ospina argues that oil and gas companies can’t be trusted to operate such projects in ways that reduce pollution to the levels necessary to protect neighboring communities.

‘You need it’

Still, a variety of studies, from the state level to the global, conclude that CCS may play an essential role in cutting greenhouse-gas emissions fast enough to moderate the global dangers of climate change.

California is banking heavily on capturing carbon from plants or removing it from the air through various means to meet its 2045 climate neutrality goal, aiming for 20 million metric tons by 2030 and 100 million by midcentury. The Air Resources Board, the state’s main climate regulator, declared that “there is no path to carbon neutrality without carbon removal and sequestration.” 

Recent reports from the UN’s climate panel have also stressed that carbon capture could be a “critical mitigation option” for cutting emissions from cement and chemical production. The body’s modeling study scenarios that limit global warming to 1.5 °C over preindustrial levels rely on significant levels of CCS, including tens to hundreds of billions of tons of carbon dioxide captured this century from plants that use biomatter to produce heat and electricity—a process known as BECCS.

Meeting global climate targets without carbon capture would require shutting down about a quarter of the world’s fossil-fuel plants before they’ve reached the typical 50-year life span, the International Energy Agency notes. That’s an expensive proposition, and one that owners, investors, industry trade groups, and even nations will fiercely resist.

“Everyone keeps coming to the same conclusion, which is that you need it,” Friedmann says.

Lorelei Oviatt, director of the Kern County Planning and Natural Resources Department, declined to express an opinion about CRC’s Elk Hills project while local regulators are reviewing it. But she strongly supports the development of CCS projects in general, describing it as a way to help her region restore lost tax revenue and jobs as “the state puts the area’s oil companies out of business” through tighter regulations.

County officials have proposed the development of a more than 4,000-acre carbon management park, which could include hydrogen, steel, and biomass facilities with carbon-capture components. An economic analysis last year found that the campus and related activities could create more than 22,000 jobs, and generate more than $88 million in sales and property taxes for the economically challenged county and cities, under a high-end scenario. 

Oviatt adds that embracing carbon capture may also allow the region to avoid the “stranded asset” problem, in which major employers are forced to shut down expensive power plants, refineries, and extraction wells that could otherwise continue operating for years to decades.

“We’re the largest producer of oil in California and seventh in the country; we have trillions and trillions of dollars in infrastructure,” she says. “The idea that all of that should just be abandoned does not seem like a thoughtful way to design an economy.”

Carbon dioxide leaks

But critics fear that preserving it simply means creating new dangers for the disproportionately poor, unhealthy, and marginalized communities surrounding these projects.

In a 2022 letter to the EPA, the Center for Biological Diversity raised the possibility that the sequestered carbon dioxide could leak out of wells or pipelines, contributing to climate change and harming local residents.

These concerns are not without foundation.

In February 2020, Denbury Enterprises’ Delta pipeline, which stretches more than 100 miles between Mississippi and Louisiana, ruptured and released more than 30,000 barrels’ worth of compressed, liquid CO2 gas near the town of Satartia, Mississippi. 

The leak forced hundreds of people to evacuate their homes and sent dozens to local hospitals, some struggling to breathe and others unconscious and foaming at the mouth, as the Huffington Post detailed in an investigative piece. Some vehicles stopped running as well: the carbon dioxide in air displaced oxygen, which is essential to the combustion in combustion engines.

There have also been repeated carbon dioxide releases over the last two decades at an enhanced oil recovery project at the Salt Creek oil field in Wyoming. Starting in the late 1800s, a variety of operators have drilled, abandoned, sealed, and resealed thousands of wells at the site, with varying degrees of quality, reliability, and documentation, according to the Natural Resources Defense Council. A sustained leak in 2004 emitted 12,000 cubic feet of the gas per day, on average, while a 2016 release of carbon dioxide and methane forced a school near the field to relocate its classes for the remainder of the year.

Some fear that similar issues could arise at Elk Hills, which could become the nation’s first carbon sequestration project developed in a depleted oil field. Companies have drilled and operated thousands of wells over decades at the site, many of which have sat idle and unplugged for years, according to a 2020 investigation by the Los Angeles Times and the Center for Public Integrity.

Ospina argues that CRC and county officials are asking the residents of Kern County to act as test subjects for unproven and possibly dangerous CCS use cases, compounding the health risks facing a region that is already exposed to too many.

Whether the Elk Hills project moves forward or not, the looming carbon storage boom will soon force many other areas to wrestle with similar issues. What remains to be seen is whether companies and regulators can adequately address community fears and demonstrate that the climate benefits promised in modeling studies will be delivered in reality. 

Update: This story was updated to remove a photo that was not of the Elk Hills oil field and had been improperly captioned.

Alameda City Council Votes to Stop Cloud Brightening Test (New York Times)

nytimes.com

Soumya Karlamangla

City officials decided to block testing of an experimental technology to fight global warming, even though experts hired by the city found that it posed no health risk to residents.

June 5, 2024 Updated 8:21 a.m. ET

A cloud rises from the floor of a battleship.
A cloud brightening system test from the University of Washington and SRI on the decommissioned U.S.S. Hornet in Alameda in April. Credit: Ian C. Bates for The New York Times

The international debate over how much to interfere with nature to slow the planet’s warming was fought on a surprising stage this week: a City Council meeting in Alameda, on the eastern edge of San Francisco Bay.

Researchers had chosen Alameda, a city of about 75,000 residents built on a group of islands south of Oakland, as the first place to field test a device intended to brighten clouds, so that they would reflect more light back into space.

But concerns about the experiment led Alameda officials last month to ask the scientists to suspend the testing. And early Wednesday, at the end of a contentious meeting that dragged on past 1 a.m., the Alameda City Council voted unanimously to call it off entirely.

“I don’t have a huge desire to be on the cutting edge,” Mayor Marilyn Ezzy Ashcraft said.

Strong emotions are stirred by cloud brightening, and more broadly, by what is called solar geoengineering or climate intervention: attempts to temporarily cool the Earth at a time when global warming is accelerating. Scientists see these interventions as possible ways to buy time for the world to move away from the main driver of global warming, the use of fossil fuels. But the concepts tend to be divisive, because some people are uncomfortable with trying to intervene in the climate.

In Alameda, a team of researchers led by the University of Washington began conducting cloud brightening experiments in April, spraying tiny sea-salt particles into the air across the flight deck of a decommissioned aircraft carrier, the U.S.S. Hornet, that is moored in the city. The scientists wanted to see whether they could consistently spray the right size of particle.

If the device works, the idea is to eventually use it to change the composition of clouds above the ocean, boosting their reflectivity and bouncing more of the sun’s rays back into space before they can warm the Earth’s surface. The experiment in Alameda was the first outdoor test of such a device in the United States.

Alameda residents began expressing alarm about the technology being used in their backyard. Soon after the experiment began, the city asked the researchers to stop testing while they evaluated the risks.

“If there are issues, we want to understand it, and we want to put limits on what they’re doing,” Griff Neal, a chemical engineer who has lived in Alameda for 25 years, said this week. He said he was worried about the effects of inhaling the particles on older residents who work as volunteers on the Hornet, which is now a floating museum, and students at a nearby high school.

He questioned why scientists from Washington State were conducting the experiments in his community and not their own. “There are certainly neighbors of mine who have said, ‘Why aren’t they doing it in Puget Sound?’” he said.

The researchers said that the often foggy conditions in San Francisco Bay made it an ideal spot for the experiment, which they hoped to run for at least 20 weeks in various kinds of weather.

The deck of the Hornet offered conditions similar to the open ocean, and the ship’s role as a museum would allow the public to engage with the research, one of the primary goals of the program, according to Sarah Doherty, an atmospheric scientist and the program director of the Marine Cloud Brightening Program at the University of Washington.

Analysts hired by the City of Alameda to assess the experiment found that it posed no health risk. They said the salt water being sprayed by scientists was similar to natural sea spray from the ocean. The city manager recommended Tuesday evening that the Council approve the project. But the councilors ultimately decided that they still weren’t sure the experiments were harmless.

“I don’t think it’s appropriate for our community to be asked to bear that risk,” Trish Herrera Spencer, one of the five councilors, said at the meeting. “I don’t think this is the right place.”

It is unclear what will happen next. Alameda officials say that the project cannot continue on the Hornet without their approval. The University of Washington research team could not immediately be reached for comment.

During the meeting, the debate moved beyond the impact of the salt particles and got into whether climate interventions like cloud brightening should be attempted at all. Some environmentalists worry that the technology could distract people from addressing the causes of climate change, and could slow the momentum of efforts like switching to renewable energy and electric vehicles.

“While this is a local decision, it has far-reaching consequences,” Gary Hughes of the environmental group Hands Off Mother Earth Alliance said at the meeting. “There are global climate justice dynamics at stake.”

Another public commenter who was a youth climate leader in Honduras urged the Council to approve the project, saying that the University of Washington had expertise that could help countries like his that are most affected by climate change. He also called on the lawmakers to consider “the bigger implications that this has for countries like mine.”

Tony Daysog, the vice mayor of Alameda, said he and other elected officials had been inundated with emails from residents with strong opinions about the project. He said Alameda, a rare California city on an archipelago, was particularly susceptible to problems like sea-level rise.

“We do have to take climate change seriously, more so than many others,” Daysog said. “At the end of the day, you can’t make everybody happy. You just have to do what you think is right.”

For more: