Barra brava do Clube Atlético Chaco For Ever no Cristo Redentor Foto: Reprodução/Twitter
O governo argentino entregou às forças de segurança brasileiras uma lista com 2,1 mil nomes de integrantes de torcidas organizadas argentinas — as populares e violentas barras bravas. Para evitar brigas em jogos do Mundial, esses “hinchas” — que já foram condenados pela Justiça ou barrados dos estádios pelos clubes — estão proibidos de entrar em território brasileiro. Quando identificados pelas autoridades nas fronteiras, são deportados. Porém, a Interpol vê brechas no sistema.
— Pelo ar, não há como passar pelo controle migratório. Mas, por vias terrestres, em postos sem pontes, como em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, não há como controlar. Não vamos fechar 100% as fronteiras — admitiu, ao Jogo Extra, o chefe da Interpol no Brasil Luiz Eduardo Navajas. — Sem contar que torcedores fora da lista também podem fazer parte de torcidas e não temos motivos para barrá-los.
Barras do Club Atlético Talleres na praia de Copacabana Foto: Reprodução/Twitter
Apesar do cerco, alguns “hinchas” já estão no Rio: no Twitter, o perfil “barrabravphotos” postou, durante a semana, imagens que mostram os “hinchas” desfilando, com naturalidade, com suas faixas e surdos por pontos turísticos como o Cristo Redentor e a Praia de Copacabana. Nas fotos, aparecem torcedores de equipes de menor expressão no cenário argentino, como Club Deportivo Laferrere, Club Atlético Talleres e Clube Atlético Chaco For Ever.
A Polícia Federal e a Interpol monitoram os grupos de torcedores que entram no país. Os órgãos de inteligência da PF já identificaram que os torcedores mudaram a rota de entrada no país após cinco torcedores serem deportados — dois pela via aérea e três pelo município de Uruguaiana. Agora, eles estão tentando entrar pelo Uruguai, onde o controle é mais difícil.
— A lista com os barras bravas pode ser acessada em todo posto de imigração. Os barras bravas que estão na lista e conseguirem entrar vão fazer isso de forma ilegal. Vamos intensificar os bloqueios da Polícia Rodoviária nessas regiões — afirma Navajas.
Barras do Club Sportivo Dock Sud a caminho do Rio Foto: Reprodução/Twitter
Alto escalão abre portas para torcedores
Organizadas, influentes e poderosas. As “hinchadas”, ao mesmo tempo em que protagonizam alguns dos episódios mais tristes do futebol argentino, frequentam os gabinetes do alto escalão da política nacional. Criado para a Copa da África do Sul, com apoio e financiamento do governo kirchnerista, o grupo Hinchadas Unidas Argentinas (HUA) — que conta com integrantes de torcidas de mais de 40 clubes do país — teve sua dissolução anunciada no início de junho.
Durante a coletiva de imprensa, a advogada da entidade Débora Hambo acusou a Associação do Futebol Argentino (AFA) de repassar entradas da Copa do Mundo do Brasil para outros grupos de barras bravas, ligados aos grandes clubes de futebol do país vizinho, como Boca Juniors e River Plate.
Barras do Club de Gimnasia y Esgrima La Plata Foto: Reprodução/Twitter
Nesse mesmo evento, a HUA divulgou que 150 integrantes da entidade viriam ao Brasil, mesmo sem ingressos, para torcer para a Argentina. Esses torcedores viriam ao Rio para tentar se encontrar com o presidente da AFA, Julio Grondona. Antes da dissolução, a HUA havia pedido à AFA 1.500 ingressos.
Em abril, o jornal argentino “Olé” publicou uma entrevista com o líder de uma torcida organizada do Internacional (Gilberto Bitancourt Viegas), conhecido como Giba, em que ele afirmava que conseguiria ingressos para 200 argentinos verem jogos da Copa.
Mesmo que os barras bravas consigam os ingressos, eles não poderão entrar nos estádios com suas faixas e instrumentos: a Fifa proíbe a entrada de cartazes com manifestações ou nomes de organizações nos estádios.