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Os Xapiri Yanomami sopram no Congresso Nacional (Instituto Socioambiental)

segunda-feira, 07 de Dezembro de 2020

Intervenção artística com desenhos de Joseca Yanomami marca a entrega da petição #ForaGarimpoForaCovid a deputados federais e demais autoridades

Por Oswaldo Braga de Souza*

Poesia e política se somaram no encerramento da campanha #ForaGarimpoForaCovid, liderada pelo Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana. Para marcar o fim do capítulo mais recente da luta dos indígenas pela expulsão dos mais de 20 mil garimpeiros de suas terras, os coordenadores da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa e Maurício Ye’kwana, entregaram a representantes do Parlamento brasileiro um abaixo-assinado com quase 440 mil assinaturas de apoiadores em todo o mundo.

À noite, em uma intervenção artística inédita, frases em defesa da floresta e desenhos dos xapiri, os espíritos Yanomami, foram projetados na fachada do Congresso por quase duas horas. As ilustrações são do artista Joseca Yanomami e o texto é do líder indigena Davi Kopenawa.

*Consulte a ficha ténica abaixo

Os xapiri são os espíritos que auxiliam os xamãs em seu árduo trabalho de manter o equilíbrio do mundo e o próprio céu em seu lugar. São figuras centrais na cosmologia Yanomami, e se materializam para os xamãs como os espíritos dos animais, das árvores, das águas, de tudo o que existe na Urihi a, a “terra-floresta”, conceito Yanomami que engloba a floresta e todos os seus habitantes físicos e metafísicos.

O objetivo da campanha é exigir a retirada de milhares de garimpeiros da Terra Indígena (TI) Yanomami (AM/RR) para impedir a disseminação da Covid-19, a contaminação do solo e dos rios e o degradação florestal. O garimpo está espalhando a doença na área, segundo relatório produzido pelo Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana e a Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, também encaminhado aos parlamentares.

Mais de um terço das 26,7 mil pessoas que moram na TI foi exposto ao novo coronavírus e o número de casos confirmados saltou de 335 para 1,2 mil, entre agosto e outubro, um aumento de mais de 250%, ainda conforme o levantamento. Apesar disso, menos de 5% da população foi testada.

A petição foi apresentada numa reunião virtual das frentes parlamentares de defesa dos direitos indígenas e ambientalista, com a presença de deputados federais e senadores. O evento foi organizado para discutir o aumento do garimpo e seus impactos nos territórios yanomami, kayapó e munduruku e contou com a participação de parlamentares, líderes indígenas, procuradores da República, pesquisadores e organizações da sociedade civil.

“Chega de sofrer. Já perdemos muitos parentes”

“Chega de sofrer. Já perdemos muitos parentes. Temos xawara [Covid-19]. Os Yanomami estão contaminados pelo garimpo, nossos rios estão poluídos, contaminados com mercúrio”, afirmou Dário Kopenawa. “Queremos que as autoridades tomem providências. Não queremos mais perder nossos velhos, nossos filhos, não queremos mais chorar. Queremos que as autoridades retirem os garimpeiros o mais rápido possível”, continuou.

“Ao longo desses meses, alertamos as autoridades sobre os impactos que sofremos
com os garimpeiros que invadem nossa terra”, diz carta lida por Maurício Ye’kwana na reunião. “Mas nosso recado não foi escutado. Os garimpeiros continuam entrando em nossas casas”, seguiu a liderança.

“Um absurdo dizer que defender Terras Indígenas, defender indígena, se manifestar contra os garimpos em Terras Indígenas é uma questão ideológica, de esquerda ou de comunista. Isso é lei. Isso é direito. Está na nossa Constituição”, afirmou a deputada federal e coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, Joênia Wapichana (Rede-RR). “Essa petição é mais uma forma de reivindicar nada além do que está na Constituição, que é o direito à proteção à vida, o direito à terra, o direito de ter sua terra sem invasões”, afirmou.

Joênia lembrou que a TI Yanomami abriga grupos indígenas isolados, os Moxihatëtëa, que correm risco de desaparecer caso sejam contatados por não indígenas e contaminados por doenças para os quais não têm defesas imunológicas, como gripe e sarampo. A Covid-19 representa um risco ainda maior para essas comunidades em virtude da dificuldade para atendimento e transporte de doentes em regiões remotas e de difícil acesso, como é o caso da área.

Estímulo ao garimpo

O governo Bolsonaro não só não fez nada para retirar os invasores do território yanomami como estimula abertamente o garimpo em TIs, o que é ilegal. O Planalto enviou um Projeto de Lei ao Congresso, em fevereiro, para regulamentar a atividade nessas áreas, além da mineração industrial e a construção de hidrelétricas. O resultado é o aumento da presença garimpeira, dos conflitos envolvendo sua atividade e do desmatamento nos territórios indígenas em geral, nos últimos dois anos.

“A responsabilidade pelo aumento das invasões está diretamente relacionada à complacência deste governo com a criminalidade, a desestruturação dos órgãos de fiscalização e controle e com a omissão em cumprir decisões judiciais”, criticou, na reunião, a advogada do ISA Juliana de Paula Batista. Ela lembrou que a Justiça Federal determinou que a União apresente um plano de retirada dos garimpeiros da TI Yanomami e o STF ordenou a implantação de barreiras sanitárias na área. Nenhuma das duas decisões foi cumprida.

“É fundamental que as casas legislativas estejam comprometidas com a defesa e proteção dos povos indígenas e em assegurar seus direitos, previstos na Constituição”, concluiu.

Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou uma liminar do ministro Luís Roberto Barroso que obriga o governo a agir para conter a escalada da crise de saúde entre os povos indígenas. A única medida incluída no pedido original da ação e não atendida foi justamente a retirada imediata de invasores de sete TIs, entre elas a Yanomami. Barroso criou um grupo de trabalho para acompanhar as providências da administração federal. O ministro determinou que fossem refeitos os planos oficiais de enfrentamento geral da Covid-19 e de instalação de barreiras sanitárias nas TIs. O movimento indígena segue aguardando uma medida mais enérgica para forçar o governo a retirar os invasores das sete áreas.

Munduruku

“Querem legalizar o garimpo, como se isso fosse resolver o problema da população indígena. Isso só vai piorar a situação. O garimpo traz prostituição e drogas para o territorio”, criticou, na reunião do dia 03 de dezembro, Alessandra Korap Munduruku, líder indígena ameaçada de morte pelas denúncias contra os invasores da TI Sawré Muybu, no sudoeste do Pará. Em outubro, ela ganhou o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, dos EUA.

“A maioria dos indígenas tem de beber água suja do rio. Todas as nascentes estão sendo desmatadas para uso dos garimpos. Vemos máquinas, dragas cavando o fundo do rio, enquanto os indígenas têm de comer o peixe. Teremos de comprar peixes na cidade para levar para as aldeias? Teremos de comprar água na cidade para levar para as aldeias. O que será dos indígenas depois de legalizarem o garimpo?”, questionou Alessandra Munduruku.

Ainda na reunião, o WWF-Brasil apresentou parte dos resultados de um estudo realizado pela organização em conjunto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre contaminação do mercúrio em três aldeias da TI Sawré Muybu.

Os dados revelam uma situação dramática. O mercúrio foi detectado em 100% da população e, em 60% dela, o nível da substância não foi considerado seguro.
Em 100% das amostras de peixes, havia resquícios do elemento químico. Em algumas, havia 18 vezes mais mercúrio do que o máximo tolerado pelos critérios da agência ambiental dos EUA.

Em quatro de cada 10 crianças foram identificadas altas concentrações de mercúrio. Em 16% das crianças, foram detectados problemas de neurodesenvolvimento. “As crianças estão perdendo a saúde. Isso é um crime gravíssimo contra as crianças indígenas! Quando Alesssandra Munduruku fala em genocídio, ela não está exagerando”, afirmou Bruno Taitson, representante do WWF-Brasil.

* Com informações de Ester Cezar

Ficha técnica:

O SOPRO DOS XAPIRI
XAPIRI PË NË MARI
2020
animação em três canais projetada no Palácio do Congresso Nacional
01:39”

Desenhos: Joseca Yanomami

Frases: Davi Kopenawa Yanomami

Cantos: Ehuana Yaiara Yanomami, Levi Malamahi Alaopeteri Yanomami, Tafarel Yanomami – captados por Marcos Wesley de Oliveira na aldeia Watorikɨ. Outros registros sonoros captados por Gustavo Fioravante, em Watorikɨ.

Realização: Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana e Instituto Socioambiental

Apoio: Hutukara Associação Yanomami

Criação, direção e roteiro: Gisela Motta, Isabella Guimarães e Mariana Lacerda [Barreira Y.]

Animação e montagem: JR Muniz e Leandro Mendes – Vigas

Video mapping em Brasília, direção técnica: Alexis Anastasiou

Equipamentos: Visual Farm / Paralax

Captação em Brasília: Bruna Carolli, Cleber Machado, Daniel Basil, Ester Cezar, Guto Martins, Paulo Comar, Victor Ekstrom

Edição e áudio: Cauê Ito

Agradecimentos: aos povos Yanomami e Ye’kwana, Ana Teixeira, André Komatsu, Bruno Rangel, Carlo Zacquini, Claudia Andujar, Gui Conti, Irina Theophilo, Joana Amador, Juliana Calheiros, Kauê Lima, Laura Andreato, Lucas Bambozzi, Peter Pál Pelbart, Pio Figueiroa, Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, Rivane Neuenschwander, Tuíra Kopenawa Yanomami, Vitor Osório

Comissão Arns – Homenagem a Davi Kopenawa (Comissão Arns/UOL)

noticias.uol.com.br

08/12/2020 16h46


A eleição do líder Yanomami Davi Kopenawa como membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) é motivo de júbilo para a Comissão Arns. Em qualquer entidade científica no mundo, Davi brindará o conhecimento humano com a transmissão de saberes e sensibilidades que melhorariam a vida de todos no planeta. Davi tem sido voz incansável na defesa dos povos indígenas, das florestas que ardem em incêndios criminosos e dos recursos naturais que elas abrigam. Por sua ética e coragem, foi agraciado em 2019 com o Right Livelihood Foundation Award, conhecido como o Nobel alternativo. E, agora, vemos as portas da nossa academia centenária abrirem-se para ele. Congratulamos a ABC pela escolha. E saudamos o grande líder e xamã do povo Yanomami.

Aos leitores deste blog, a Comissão Arns oferece um presente: a íntegra de um testemunho recente de Davi Kopenawa, no qual que ele trata do cerco de garimpeiros e desmatadores na região do seu povo, acuando grupos indígenas isolados, como os Moxihatetea. Este texto foi distribuído, em três idiomas, na 43ª. Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no início de março deste ano de 2020, em Genebra. Davi participou da sessão e de outros encontros presenciais, ao lado da Comissão Arns e do Instituto Socioambiental.

A invasão do território Yanomami e o risco de morte para os Moxihatetea

Tradução do Yanomami por Bruce Albert, antropólogo

As coisas estão assim. Agora os Brancos não vivem longe de nós. Eles não param de se aproximar. Na cidade vizinha de Boa Vista, chegam em muitos, sem trégua, exortando uns aos outros. Eles dizem entre eles: “Sim, vamos tomar para nós os bens preciosos dos Yanomami. Esses bens ainda não são mercadorias de verdade, porque estão escondidos sob os cascalhos da terra. Mas nós tomaremos essas riquezas, também as árvores da floresta e vamos nos instalar na Terra Yanomami!”. É o que os Brancos se dizem e é como eles mesmos se encorajam: “Venham para Boa vista! Eu, governo de Roraima, vou lhes dar trabalho! Vocês não serão mais pobres!”. Estas são as palavras deles. Com elas querem trocar seu dinheiro e suas mercadorias. Por isso, os Brancos não param de fixar seu olhar sobre a nossa floresta, todos eles, para tentar se apoderar. Eles dizem: “Sim, nós vamos tirar dinheiro da floresta. Como os Yanomami não sabem de nada, então, são nossas as riquezas”. É isso o que os Brancos falam ao encorajar seus trabalhadores a virem para a floresta. “Sim, podem ir! Não tenham medo! Os Yanomami parecem muitos, mas nós é que somos, de verdade! Mesmo que eles ataquem com flechas alguns de nós, ainda somos mais numerosos do que eles! “.

Dizendo esse tipo de coisa, eles crescem por toda a parte, na floresta, nos rios, nas terras. Eles querem pegar o ouro. E como o ouro vale cada vez mais, eles continuam a crescer, sem parar. Eles se dizem: “Sim, agora o valor do ouro está muito alto, então, vamos todos para a terra dos Yanomami!”. É assim que eles vão penetrando a floresta por todas as partes, através dos rios, pelos caminhos, com seus aviões e helicópteros. É assim que as coisas estão hoje em dia. Abriram portas de entrada nos cursos da água e também pelos ares. Desmataram para fazer pistas de aterrissagem por toda a parte. E também para fazer novos caminhos na floresta. Na bacia do Rio Apiaú, chegam em grande número. Através o rio Parimiú, também. Eles já foram expulsos de lá, mas voltaram ainda mais numerosos! Há também um outro caminho aberto, que sobe ao longo do Rio Catrimani.

Pelo caminho do Rio Apiaú eles se aproximaram do lugar onde vive o grupo isolado Moxihatetea. Nas nascentes do Rio Apiaú, onde vivem esses povos isolados, começaram a atacar e a destruir a floresta com seus rios. No início, eles estavam trabalhando com as mãos, mas agora usam máquinas. Descem as peças destas máquinas de um helicóptero para, depois, montar tudo no solo. Os Moxihatetea estão vigilantes, eles desejam ficar longe dos Brancos. Eles não conhecem esses garimpeiros e não querem se aproximar deles. Já fugiram algumas vezes, agora não podem mais fugir. Já se transferiram para a floresta profunda, muito longe dos caminhos, e lá ficaram em abrigos provisórios, como quando estavam em expedições de caça, longe de casa. Os garimpeiros então começaram a roubar a comida dos seus jardins – a mandioca, as bananas, as canas de açúcar, e fizeram isso quando as suas provisões de arroz, farinha e latas de conservas estavam esgotadas. Então os guerreiros Moxihatetea atacaram com flechas, mas os garimpeiros, mais violentos, responderam com fuzis. É o que se passou com os Moxihatetea isolados, e eu acho isso muito ruim.

Eles fugiram de novo subindo o rio, mas nessa direção há também garimpeiros instalados no Rio Catrimani, criando obstáculo. Os índios agora estão cercados. Por isso estou falando para defender os Moxihatetea. Eu não conheço as suas casas, assim como vocês também não conhecem. Eu só os vi do céu, pelo avião. Nunca pude visitá-los caminhando, a pé. Nunca nos falamos. É por isso que estou muito preocupado. Todos poderão ser rapidamente exterminados — é o que eu acho.

Os garimpeiros irão matá-los com seus fuzis e suas doenças, a malária, a pneumonia… Os indígenas não têm vacinas de proteção, vão todos morrer.

E não há só eles na terra-floresta Yanomami. Mais além, na região de Erico, vivem outros povos isolados. São como os Moxihatetea. E também, sobre a margem do Rio Catrimani, descendo o rio, nas fontes do Rio Xeriuini, há outros grupos isolados. E ainda num afluente do Rio Arca, no meio. É por isso que lutamos por eles. Estamos angustiados pelo possa acontecer.

Há outros isolados na floresta dos Waimiri-Atroari e há outros em toda a Amazônia! Vivem assim há muito tempo e querem continuar assim! São eles que cuidam verdadeiramente da floresta. São os Moxihatetea e todos os povos isolados da Amazônia que ainda guardam a última floresta. Mas os Brancos não sabem disso, porque eles não compreendem a língua desses povos. Os brancos apenas pensam: “O que eles estão fazendo aqui?” E quando os Brancos chegam, suas epidemias que chegam, também.

É por isso que digo a mim mesmo: “O que pensam os grandes homens brancos? Eles não querem nos deixar viver em paz e em boa saúde? Eles nos detestam, de verdade?”. É evidente que nos consideram como inimigos, porque somos outras gentes, somos habitantes da floresta. Fomos criados na floresta da Amazônia, no Brasil, e por isso os Brancos não nos conhecem. Eles se contentam em atacar e destruir nossa floresta como querem. Não é a terra deles, mas, declararam que é. Eles se dizem: “Esta floresta é nossa. Vamos arrancar o ouro do solo, cortar as suas árvores e vamos instalar aqui outros brancos que necessitam de terra, os criadores de gado, os colonos, e vamos então terminar com os Yanomami”.

Não é mais o que eles pensam, agora, é verdadeiramente o que eles dizem!

Sobre o presidente do Brasil, nem menciono o seu nome, mas posso dizer para ele: “Como você é o presidente, você deveria nos proteger”. Eu já conheço muito bem as palavras deste presidente: “Que venham todos os Brancos que queiram dinheiro, os criadores de gado, os forasteiros, os garimpeiros e os colonos, também. Eu vou dar a eles essa floresta, para terminar com todos os Yanomami, não importa quantos eles sejam, e para que os Brancos se tornem os proprietários. É nossa terra e tudo bem! E assim eu serei o único senhor desta terra!”. Essas são as suas palavras. Essas são as palavras daquele que se faz de grande homem no Brasil e se diz Presidente da República. É o que ele verdadeiramente diz: “Eu sou o dono dessa floresta, desses rios, desse subsolo, dos minérios, do ouro e das pedras preciosas! Tudo isso me pertence, então, vamos lá buscar tudo e trazer para a cidade. Tudo deve virar mercadorias!”.

É também o que os Brancos se dizem e é com estas palavras que destroem a floresta, desde sempre. Mas, hoje, eles estão prontos para terminar com o pouco que resta. Eles já destruíram os nossos caminhos, sujaram os nossos rios, envenenaram os peixes, queimaram as árvores e os animais que caçamos. Eles nos matam também com as suas epidemias.

Alguns Brancos têm pena de nós, mas não os seus Grandes Homens que afirmam que nós somos animais. Eles dizem: “São macacos, porcos selvagens!”. No entanto, são esses homens que não sabem pensar. Eles não sabem trabalhar na floresta, não conhecem seu poder de fertilidade në rope e nem querem conhecer. Não fazem outra coisa do que andar de um lado para o outro destruindo tudo. Eles só conhecem floresta do alto de suas máquinas satélites, que passam sobre as árvores, as nossas casas, os rios, as colinas, a beleza da floresta. Depois, eles chamam uns e outros: “Sim, venham por aqui. Nós todos do Brasil vamos tirar os bens preciosos! Nós vamos acumular tudo isso nas cidades! Nós vamos, de verdade, virar o Povo da Mercadoria! Não seremos mais pobres, vamos ter muitos bens!”. É o que eles dizem entre eles. E era isso que eu queria contar aqui. Essas gentes são indiferentes às palavras daqueles que defendem os Yanomami. Mesmo assim, envio essa mensagem.

Gostaria que os Direitos Humanos da ONU possam olhar para nós e nos dar um apoio forte para que as autoridades do Brasil – os políticos dos municípios, dos estados e da capital – todos esses Brancos das cidades, nos respeitem e não nos molestem mais. Que eles compreendam e reconheçam os direitos dos seres humanos, assim como a ONU. Os Direitos Humanos da ONU são construídos para defender os que sofrem. Então, eu gostaria que a ONU faça um bom trabalho, denunciando com muita força o que nos acontece, para que as autoridades do Brasil respeitem os Yanomami, os povos isolados e todos os povos ainda não reconhecidos.

Meu povo tem o direito de viver em paz e em boa saúde, porque ele vive em sua própria casa. Na floresta estamos em casa! Os Brancos não podem destruir nossa casa, senão, tudo isso não vai terminar bem para o mundo. Cuidamos da floresta para todos, não só para os Yanomami e os povos isolados. Trabalhamos com os nossos xamãs, que conhecem bem essas coisas, que possuem a sabedoria que vem do contato com a terra. A ONU precisa falar com as autoridades do Brasil para retirar – imediatamente – os garimpeiros que cercam os isolados e todos os outros em nossa floresta.