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Energia e meio ambiente após a covid-19 (Estadão)

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José Goldemberg, O Estado de S.Paulo

18 de maio de 2020 | 03h00

Por mais grave que seja a atual pandemia, ela acabará passando, como aconteceu com outras no passado. Nenhuma, porém – nos tempos modernos –, atingiu tantos países e levou a uma paralisação econômica tão profunda, decorrente da imposição de quarentena, que é indispensável para evitar a propagação da doença.

Uma das muitas consequências desta quarentena é a redução do consumo de energia, principalmente no setor de transporte, que representa mais de 25% de toda a energia consumida no mundo.

O que aconteceu no setor do petróleo foi o que se chama “tempestade perfeita”. A demanda diminuiu justamente na ocasião em que havia excesso de produção. O cartel dos grandes produtores – principalmente a Arábia Saudita e a Rússia – não conseguiu fixar cotas de produção, que mantinham o resto do mundo refém do petróleo que produzia. O preço do petróleo não decorria dos custos de produção, era fixado arbitrariamente para suportar a economia dos regimes políticos e sociais dos países-membros do cartel.

Como consequência da falta de acordo dos produtores, o preço do barril de petróleo caiu de cerca de US$ 80 o barril para menos de US$ 20. No mundo pós covid-19 ele dificilmente voltará aos níveis anteriores, pois grande número de empresas e pessoas descobriram que home office funciona e o mesmo aconteceu com o ensino a distância, além do comércio eletrônico.

A necessidade de deslocamentos vai se reduzir permanentemente, com claros benefícios para a qualidade do ar nos grandes centros urbanos, como as fotografias dos satélites nos mostram. Os benefícios para a saúde, com a diminuição das doenças respiratórias, não foram quantificados ainda, mas certamente ocorrerão. Além disso, as emissões de gases de efeito estufa, cuja redução já se está verificando, não voltarão aos níveis anteriores, o que dará mais tempo para a adoção de medidas de adaptação ao aquecimento global.

O sonho dos ambientalistas de reduzir o consumo de petróleo parece tornar-se realidade graças à covid-19.

O que não vai se reduzir, provavelmente, é o consumo de eletricidade, porque as atividades domésticas (incluindo o home office) requerem mais eletricidade. Daí os grandes planos, já propostos nos Estados Unidos, para aumentar a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis. Nos pacotes de recuperação econômica que estão sendo adotados naquele país, esse é um ingrediente importante.

No Brasil, perderão prioridade as ideias de que o País poderia ser um grande exportador de petróleo, uma vez que produzi-lo do pré-sal custa muito mais do que na Arábia Saudita. Esperar que os royalties da produção de petróleo “salvem” a economia de vários Estados, como o Rio de Janeiro, provavelmente será em vão.

Mais grave ainda, a produção de etanol da cana-de-açúcar – com todas as vantagens ambientais que tem – vai ser afetada seriamente, mas talvez force o setor a fazer duas coisas que deveria ter feito no passado e não fez:

• Instalar grandes reservatórios para estocar etanol, que seria, então, disponível o ano todo, o que permitiria fazer contratos para exportação de longo prazo, o que o setor nunca fez, preferindo vender o álcool no mercado spot.

• Investir pesadamente em pesquisa para aumentar a produtividade da cana-de-açúcar, que deixou de crescer há vários anos. Essa seria a única forma de baixar os custos do etanol, que poderia, então, competir melhor com a gasolina a preços baixos.

O movimento ambiental pós-covid-19 enfrentará também dilemas sérios, pois a urgência de atacar problemas ligados à saúde, como saneamento básico, vai aumentar. As preocupações com mudanças climáticas – que só se concretizarão a logo prazo – parecerão menos prioritárias.

Diante da tragédia causada pela covid-19 há, contudo, expectativas de importantes modificações nas percepções das sociedades atingidas, com reflexos culturais e políticos positivos.

Essas expectativas se baseiam na condução exemplar da crise por governantes como Angela Merkel, na Alemanha, que adotou políticas públicas que reduziram consideravelmente o número de vítimas, em contraste com outros dirigentes, como o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos – e seus seguidores, como o presidente do nosso país –, que minimizaram a gravidade do problema do isolamento social. Angela Merkel percebeu o vulto do problema antes dos outros e preparou seu país para enfrentar a crise, seguindo rigorosamente as estratégias recomendadas por seus cientistas.

É notório que, ao enfrentar problemas complexos, há incertezas e pode haver divergências entre os cientistas, mas a própria natureza do método científico corrige esses problemas. A experiência acaba eliminando as teorias incorretas. Por essa razão, desqualificar o trabalho dos cientistas e o método científico é o pior que dirigentes obscurantistas poderiam fazer no caso da covid-19.

Um maior respeito pela ciência e pelos cientistas poderá ser uma das consequências mais positivas da tragédia humanitária da crise atual.

PROFESSOR EMÉRITO  E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE  DE SÃO PAULO (USP)

Running on Empty: U.S. ethanol policies set to reach their illogical conclusion (Triple Crisis)

http://triplecrisis.com – 23 July 2012

Timothy A. Wise

I’m as cynical as the next policy wonk, but sometimes even I am surprised at the perverse outcomes of some of those policies. Take the bizarre scenario outlined in the new agricultural outlook report from the FAO and the OECD regarding the projected rise in ethanol trade – ethanol traded for ethanol – between the United States and Brazil. That’s right, 6.3 billion gallons a year sloshing between the world’s pre-eminent ethanol producers by 2021. And all in the name of the environment, without a single drop helping people or the planet.

Why would the United States, which now devotes 40% of its corn crop to the production of ethanol, import more than 4 billion gallons of ethanol from Brazil? And why would Brazil at the same time import a projected 2 billion gallons from the U.S.? Couldn’t we just save all those transactions costs and shipping-related greenhouse gas emissions by keeping our ethanol and cutting our projected ethanol imports from Brazil in half?

Not if your goal is to game the U.S. biofuel mandate.

The U.S. Renewable Fuel Standard, passed in 2007 and known as RFS2, includes a mandate for 36 billion gallons of renewable fuel use by 2022, with a nested set of mandates for different types of biofuels. Conventional or first-generation biofuels, such as ethanol from corn, have limited environmental benefits, with supposed reductions in greenhouse gas (GHG) emissions of about 20%. Congress wisely set the mandate such that the majority of the 36 billion-gallon mandate should be met by “advanced biofuels” with a GHG score of 50% or better in terms of reductions.

Well, advanced biofuel production in the United States isn’t going so well. A small share is expected to come from advanced biodiesel, and that target remains distant but plausible. But the rest is supposed to come from the development of cellulosic ethanol. It turns out that all the R&D money has gone into corn ethanol, greased by the subsidies and incentives Congress lavished to prime that corn-fed pump. No one expects much cellulosic ethanol production anytime soon, though we could be pleasantly surprised. At this point, all we produce is a whole lot of corn ethanol, and we are already nearing the technical limit of 15 billion gallons for non-advanced biofuels.

Fortunately for Brazilian ethanol producers and, indirectly, their U.S. counterparts, the renewable fuel mandate can be met to a significant extent by the use of “other” advanced biofuels. Even though Congress was sold the RFS on the promise of energy independence, those “other biofuels” do not have to be produced in the United States. (In fact, mandating U.S. sourcing could have been subject to a WTO challenge.) Brazil’s sugarcane-based ethanol is considered advanced, with a GHG-reduction score of 50% despite widespread concerns about a range of other social and environmental impacts.

So by 2021 FAO/OECD researchers project that to meet even somewhat relaxed U.S. RFS2 mandates for total biofuel use and advanced biofuel use the United States will import more than 4 billion gallons of sugar ethanol from Brazil.

Actually, it could be much much more, but the researchers clearly couldn’t imagine Congress letting that happen. But they modeled that too, and if current EPA policies are followed and the U.S. does not relax the demands of RFS2 to compensate for low domestic production of cellulosic ethanol, imports from Brazil are projected to be more than 13 billion gallons, almost as much as the U.S. currently produces in corn ethanol.

A third scenario, more perverse than the last but perhaps more likely, is if the EPA decides to allow U.S. corn ethanol to fill the gap left by the cellulosic shortfall, in spite of its limited environmental benefits and its high social costs in terms of food prices. The FAO-OECD model on that one projects a 35% rise in corn demand and a whopping 16% increase in global corn prices.

But the ultimate perversity is the ethanol-for-ethanol trade between the U.S. and Brazil. Under the FAO-OECD’s baseline scenario, Brazil would import 2 billion gallons of corn ethanol from the United States. Why, if it’s a major ethanol exporter and it produces more environmentally sustainable ethanol? To make up for the domestic shortfall created by its exports to the U.S., and to meet its own rising demand from its expanding fleet of flex-fuel cars. They’ll take our low-grade corn ethanol if they can get a higher price for their sugar-based equivalent.

Talk about perverse. It’s bad enough that we meet our environmental goals not through good old American know-how but by buying it from someone else. Then we turn around and sell them an environmentally inferior equivalent at a cheaper price.

In the process, another round in the food-fuel fight will be won by the fuels, with ethanol demand continuing to put upward pressure on corn prices globally. The FAO-OECD report contains strong warnings on biofuels’ impacts on food prices, and it went to press even before drought parched the U.S. corn belt. They projected stable or slightly declining prices in 2012 and forward. Instead, corn and soybean prices are hitting historic highs and the world is staring down the loaded barrels of the third major spike in commodities prices in the last five years.

Unfortunately, the powers that be seem to have learned nothing from the first two. They certainly haven’t learned that it’s still a bad idea to put food in our cars.

For more, see Wise’s coauthored report, “Resolving the Food Crisis,” and his report for ActionAid, “Biofueling Hunger.”