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Gestora ambiental de Roraima recebe prêmio de ‘Cientista Indígena do Brasil’ por atuação sobre crise climática (G1)

Sineia Bezerra do Vale, indígena do povo Wapichana, atua há ao menos três décadas com discussões sobre a emergência do clima e defende que cientistas incluam as experiências dos povos tradicionais nos estudos sobre o assunto.

Por Valéria Oliveira, g1 RR — Boa Vista

27/05/2024 06h01  Atualizado há 4 meses

Sineia Bezerra do Vale, lidernaça indígena do povo Wapichana, ao receber o prêmio "Cientista indígena do Brasil", em São Paulo — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Sineia Bezerra do Vale, lidernaça indígena do povo Wapichana, ao receber o prêmio “Cientista indígena do Brasil”, em São Paulo — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Referência em Roraima por estudos sobre a crise climática em comunidades indígenas, a gestora ambiental Sineia Bezerra do Vale agora também é “cientista indígena do Brasil” reconhecida pelo Planetary Guardians, iniciativa que discute a emergência do clima em todo o mundo e tem como foco restaurar a estabilidade da Terra.

Indígena do povo Wapichana, Sineia do Vale recebeu o título no último dia 25 em São Paulo, no mesmo evento em que o cientista brasileiro Carlos Nobre, referência global nos efeitos das mudanças climáticas na Amazônia, foi anunciado com novo membro dos Planetary Guardians – guardiões planetários, em português.

Sineia do Vale tem como principal atuação o foco sobre a crise do clima, que impacta em consequências devastadoras em todo o mundo. Foi dela o primeiro estudo ambiental sobre as transformações do clima ao longo dos anos na vida dos povos tradicionais em Roraima.

Ao receber o prêmio de “cientista indígena do Brasil” das mãos de Carlos Nobre, a defensora ambiental destacou que quando se trata da crise climática, a ciência também precisa levar em conta a experiência de vida que os indígenas vivenciam no dia a dia – discurso que ela sempre defende nos debates sobre o assunto.

“Esse é um momento muito importante para os povos indígenas. Neste momento em que a gente se coloca junto com a ciência que chamamos de ciência universal, a ciência indígena tem uma importância tanto quanto a que os cientistas traduzem para nós, principalmente na questão do clima”, disse Sineia do Vale.

Sineia do Vale (terceira mulher da direira para a esquerda) atua há anos com foco na crise climática e os povos indígenas — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

Sineia do Vale (terceira mulher da direira para a esquerda) atua há anos com foco na crise climática e os povos indígenas — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação

O estudo inédito comandado por Sineia foi o “Amazad Pana’ Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas“, relacionado à região da Serra da Lua, em Roraima. A publicação é considerada referência mundial quando se trata da emergência climática e povos tradicionais.

No evento em São Paulo, ela exemplificou como a crise climática é percebida nas comunidades. “Os indígenas já colocaram em seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas que as águas já aqueceram, que os peixes já sumiram e que não estamos mais vivendo o período de adaptação, mas o de crise climática.”

“Precisamos de resposta rápidas. Não podemos mais deixar que os países não cumpram seus acordos porque à medida que o globo terrestre vai aquecendo, os povos indígenas sofrem nas suas terras com grandes catástrofes ambientais”, destacou a gestora.

A indicação para que Sineia recebesse o título ocorreu após indicação da ativista ambiental e geógrafa Hindou Oumarou, que é co-presidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças do Clima e presidente do Fórum Permanente da ONU sobre questões indígenas chadiana.

Além da roraimense, também receberam a honraria de “cientista indígena do Brasil”: as antropólogas indígenas Braulina Baniwa e Cristiane Julião, do povo Pankararu, confundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), e o antropólogo e escritor Francisco Apurinã, que pesquisa mudanças ecológicas na perspectiva indígena pela Universidade de Helsinki, na Finlândia.

Mais sobre Sineia do Vale

Sineia do Vale participa desde 2011 da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP, em inglês, e promove junto às lideranças indígenas a avaliação climática a partir do conhecimento ancestral.

Ela também participa ativamente das discussões internacionais sobre mudanças climáticas há mais de 20 anos, entre elas, a Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas – chamada de SB60, que ocorre todos os anos em Bonn, na Alemanha. Este ano, a COP29 ocorrerá de 11 a 24 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

Em 2021, Sineia foi a única brasileira a participar da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento convocado pelo então presidente estadunidense Joe Biden e que marcou a volta dos EUA nas discussões internacionais sobre o clima.

No ano passado, ela foi recebeu o “Troféu Romy – Mulheres do Ano“, honraria concedida a mulheres que se destacaram em suas áreas de atuação em 2023.

Gestora ambiental de formação, Sineia cursa mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais na Universidade de Brasília (UnB), coordena o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), e integra a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), focada na agenda indígena e a implementação de ações em nível local.

Para estudioso do clima, “sorte” explica pandemia não começar pelo Brasil (ECOA/UOL)

Artigo original

Rodrigo Bertolotto De Ecoa, em São Paulo 14/04/2020 18h04

“A Amazônia tem a maior quantidade de microorganismos do mundo. E estamos perturbando o sistema o tempo todo, com populações urbanas se aproximando, desmatamento e comércio de animais silvestres. Então, talvez tenha sido sorte que a pandemia não tenha começado no Brasil”, disse Carlos Nobre, presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo).

O cientista Carlos Nobre, referência brasileira em estudos sobre aquecimento global e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) - Reinaldo Canato/Folhapress
O cientista Carlos Nobre, referência brasileira em estudos sobre aquecimento global e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) Imagem: Reinaldo Canato/Folhapress

Nobre participou nesta terça de um seminário “Covid-19 e Clima: Como Estão Conectados?” promovido pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com Ecoa, que retransmitiu sua palestra, no formato webinar, ou seja, um seminário pela web.

“Pandemia mostra impacto do desequilíbrio do sistema na nossa vida”

Ele lembrou do caso da leishmaniose, endemia típica da Amazônia que tem como causador um protozoário e o vetor é o mosquito palha. A doença se espalhou pelo mundo, devido à aproximação dos homens dos ambientes silvestres, mas agora está controlada, tendo cura e remédio. O problema agora é outro por lá. “Agora, Manaus está entrando em colapso com o coronavírus, e a doença está chegando às aldeias. Temos que lembrar que os indígenas têm menos resistência imunológica a essas contaminações.”

Nobre também falou como a poluição debilita quem tem contado agora com o vírus surgido na China no final de 2019. “A poluição e o vírus atacam o sistema respiratório. Essa combinação é muito perversa”, afirmou o estudioso.

Ele recordou das queimadas na floresta amazônica em 2019, a que ponto isso afetou os ares até da região Sudeste do Brasil e como esse cenário pode se repetir agora em 2020, quando se está verificando novos recordes de desmatamento.

O ar de São Paulo e outras cidades está mais limpo com menos carros em circulação nesses dias de quarentena, mas, se as queimadas recomeçarem, esse cenário vai mudar e criar novas vulnerabilidades. No ano passado, os postos de saúde da Amazônia estavam cheios pela fumaça das queimadas. Agora estão com a Covid-19.

Aprendizados da crise

O cientista discutiu os vários pontos que aproximam o atual surto biológico com os problemas climáticos, sua especialidade.

“Dá para fazer um paralelo entre essas crises globais. Essa pandemia nos mostra o que pode acontecer quando há um desequilíbrio do sistema. Ela é um alerta e um guia para evitarmos grandes riscos, como os que as mudanças climáticas poderão trazer para a vida na Terra. Se a temperatura do planeta subir cinco graus, os humanos vão ter de viver confinados, como agora, porque em determinados horários todos os dias o termômetro vai estar além do limite fisiológico do corpo nas áreas tropicais como o Brasil.”

Nobre falou das lições que podem ficar desta crise global e das possíveis soluções quando o planeta sair das urgências do coronavírus. Para ele, um dos aprendizados é que a economia caminhe para a sustentabilidade.

“Os países europeus estão discutindo agora uma economia mais verde. E a China também está sinalizando nesse mesmo caminho. Se isso acontecer, o pêndulo mundial vai mudar, e o Brasil vai ter de ir atrás. Os EUA são contra, mas isso pode mudar se em janeiro de 2021 não estiver mais o Donald Trump na Casa Branca”, afirmou Nobre, projetando as dificuldades de reeleição do político republicano com a possível recessão provocada pelo afastamento social durante a crise.

O pesquisador também salientou que é importante mudar a matriz energética, e essa crise pode ser o momento de acelerar esse processo. “Precisamos eletrificar os transportes, e criar mais energia solar e eólica, diminuindo o consumo de combustíveis fósseis.”

Para ele, as mudanças climáticas vão trazer riscos maiores que os atuais com o coronavírus se não forem tomadas providências. “É uma catástrofe com um tempo e uma magnitude muito maior. Por isso, é difícil dimensionar. Mas a atual pandemia é uma amostra disso. E um risco maior também, afinal, todo o planeta vai ser afetado, não só o homem, como agora.”

Veja íntegra do seminário: https://video.uol/18QVJ

Ciência climática é ferramenta no combate à seca no Nordeste, afirma Carlos Nobre (ABIPTI)

JC 5593, 7 de fevereiro de 2017

“O entendimento das causas subjacentes às secas do Nordeste tem permitido se prever com antecedência de alguns meses a probabilidade de uma particular estação de chuvas no semiárido do Nordeste”, afirmou

O relatório oriundo da última reunião do Grupo de Trabalho de Previsão Climática Sazonal (GTPCS) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) aponta para um cenário preocupante: até o início de 2018, é esperado que os grandes e médios reservatórios nordestinos sequem. Por isso, é preciso criar novas oportunidades para a população.

Reconhecido como um dos principais pesquisadores mundiais sobre clima, Carlos Nobre destacou o papel das ciências climáticas para mitigar os impactos econômicos e sociais da seca na Região Nordeste. O pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais e professor de pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ressaltou que o conhecimento do clima cria alternativas econômicas e sociais para os moradores da região.

Na avaliação do pesquisador, a ciência climática evoluiu rapidamente nas últimas décadas, sendo uma ferramenta eficaz no combate à seca. “O entendimento das causas subjacentes às secas do Nordeste tem permitido se prever com antecedência de alguns meses a probabilidade de uma particular estação de chuvas no semiárido do Nordeste de fevereiro a maio ser deficiente, normal ou abundante. Estas previsões climáticas vêm sendo aperfeiçoadas ao longo do tempo e utilizadas para apoio ao planejamento agrícola, à gestão hídrica e à mitigação de desastres naturais”, afirmou Nobre.

Entre as ações propostas pelo cientista, está o investimento na criação de uma economia regional baseada em recursos naturais renováveis. Uma das alternativas sugeridas é a criação de parques de geração de energia eólica e solar fotovoltaica.

“O Nordeste tem um enorme potencial de energia eólica e solar, capaz de atender a todas suas necessidades e ainda exportar grandes volumes para o restante do Brasil. Estas formas de energia renovável distribuídas geram empregos permanentes localmente, mais numerosos do que aqueles gerados por hidrelétricas ou termelétricas e que poderiam beneficiar populações urbanas e rurais da região”, informou.

Carlos Nobre tem extensa atuação na área climática. Além de ocupar vários cargos no governo referentes ao setor climático, foi vencedor do Volvo Environment Prize – um dos principais prêmios internacionais sobre clima – e membro do Conselho Científico sobre Sustentabilidade Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

Agência ABIPTI, com informações do MCTI e Valor Econômico