Proliferação do parasita, que também está relacionado a outros transtornos mentais, é mais comum em países tropicais
Cerca de 30% da população mundial está infectada com um dos parasitas que mais intriga a ciência, o Toxoplasma gondii. Apesar de inofensivo para a maioria das pessoas saudáveis, pesquisas científicas comprovaram que o protozoário é capaz de alterar o comportamento de seres humanos e animais, além de possível ligação com a esquizofrenia. Recentemente, um estudo produzido nos Estados Unidos foi além, sugerindo que cerca de um quinto dos casos de esquizofrenia entre os norte-americanos pode envolver o parasita. Nos países mais pobres, esse índice tende a ser ainda maior.
O estudo, publicado na revista Preventive Veterinary Medicine, foi conduzido pelo médico veterinário e professor Gary Smith, na Seção de Epidemiologia e Saúde Pública da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia. Smith elaborou um cálculo que mede o quão importante é o fator de risco à infecção, que aumenta com a idade.
“Há cada vez mais evidências por meio de estudos de que pessoas infectadas por Toxoplasma têm um risco aumentado para esquizofrenia”, explica o pesquisador. A partir desse pressuposto, o desafio foi descobrir qual a proporção de casos do transtorno mental poderia ser evitada se fosse possível para prevenir a infecção humana com o parasita.
Pelos cálculos feitos em um programa de computador, esse índice seria de 21,4% para países como os Estados Unidos e os da Europa Ocidental, em que a incidência de infecção pelo T. gondiinão varia com a idade. “O resultado, no entanto, seria diferente para muitos países da América do Sul, porque a não incidência de infecção é claramente maior nos grupos etários mais jovens, especialmente entre os mais pobres”, disse.
Só no Brasil – País que tem o maior índice mundial de infectados (66,7%), cerca de 126 milhões de pessoas são hospedeiras do parasita. A proliferação deste, aliás, é mais comum nos países de clima tropical, principalmente nas nações mais pobres, onde há grandes concentrações urbanas e sem saneamento básico.
O mal é transmitido tanto pela ingestão de carne crua e terra contaminada quanto por meio do contato direto com secreções e fezes de gato. Também pode ser repassada ao feto durante a gravidez através da placenta – sendo recomendado, inclusive, que mulheres grávidas evitem contatos com gatos durante o período de gestação. Apesar de ser uma infecção comum tanto em pessoas quanto em animais, o Toxoplasma afeta especialmente os gatos – únicos seres onde o parasita consegue se reproduzir.
Suicídio
Pesquisas feitas em diversos países têm demonstrado como o T. gondii pode estar relacionado a problemas neurológicos, como a depressão, principalmente em pessoas do sexo feminino. Segundo reportagem da revista Scientific American, um desses estudos, desenvolvido no Instituto de Pesquisas Médicas Stanley, em Maryland (EUA), concluiu que mulheres infectadas com quantidades altas de Toxoplasma apresentavam maior tendência a ter filhos esquizofrênicos.
Outro trabalho, produzido por cientistas dinamarqueses obteve um resultado ainda mais alarmante. Segundo a pesquisa, as mulheres que tinham infecções do parasita apresentaram tendência 54% maior de tentarem o suicídio. Em geral, as tentativas eram violentas, utilizando armas brancas e de fogo. Entre aquelas sem histórico de doenças mentais, o índice também foi alto: 56% tinham mais chances de cometerem atentado contra a própria vida.
A preocupação quanto os efeitos do protozoário no organismo são também evidentes em ratos. De acordo com pesquisas, o parasita pode alterar o comportamento desses animais, fazendo-os, por exemplo, perder o medo do cheiro de gatos – alguns chegam até mesmo a sentir atração sexual com o odor. Além disso, pesquisadores descobriram que ratos infectados conseguem recuperar o comportamento normal tanto com remédios antiparasitários quanto com antipsicóticos.
Já se descobriu que a infecção aumenta os níveis do neurotransmissor conhecido como dopamina, que é um dos fatores da esquizofrenia quando em altas doses. Isso porque oToxoplasma possui um gene que codifica uma enzima fundamental para a produção de dopamina, sendo este o método de influência sobre o cérebro de seres humanos e animais. Os cientistas, agora, tentam entender de forma clara como o parasita se comporta no cérebro.
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