CBC News · Posted: Jun 19, 2020 4:00 AM ET | Last Updated: June 19
(Potato Park/Asociacion ANDES/Cusco, Peru)
About 1,000 kilometres south of the North Pole lies Svalbard, a Norwegian archipelago. Home to roughly 2,600 people, it also has another, larger, more famous population: that of 1,057,151 seeds.
This is the Svalbard Global Seed Vault (SGSV), an effort to preserve seeds from around the globe that could eventually be lost as a result of natural or human factors. The vault’s inventory includes everything from African varieties of wheat and rice to European and South American varieties of lettuce and barley.
According to the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), more than 75 per cent of genetic diversity has been lost because of farmers transitioning to varieties of high-yield, genetically uniform crops.
In 2015, groups belonging to Parque de la Papa, a Peruvian organization that aims to preserve agricultural diversity and Indigenous culture, deposited 750 seeds of differing varieties of potatoes in the Svalbard seed vault, the first Indigenous group to do so. Last February, the Cherokee Nation became the first U.S. Indigenous group to make a deposit.
In fact, Indigenous people have long preserved seeds because they have important cultural ties within the community.
“There’s this very strong relationship that people have with seeds,” said Alejandro Argumedo, director of programs at the U.S.-based Swift Foundation, which aims to preserve biocultural diversity. “In the place where I come from, for instance, seeds are considered to have feelings and heart. And so you’ve got to treat them with lots of love.”
It’s a deeply reciprocal relationship, he said.
“There’s this big difference between just looking at seeds like biological materials that are important for farming,” said Argumedo, who is Quechua from Ayacucho, Peru. “Indigenous people see them more as members of an extended family and to which you have to [tend] with care. Because there will be a reciprocity — they will be providing you … food, will be caring about you.”
Argumedo cites the “qachun waqachi” potato variety used in a marriage ritual, where the bride (“qachun” in the Quechua language) gently peels the potato to show her love and caring for her husband-to-be as well as for Pacha Mama, or Mother Earth.
“The ritual articulates the Andean belief that love and respect between humans depends on and is nurtured by the land and epitomizes the commitment of couples to protect their seeds and food systems,” he said.
Terrylynn Brant, a Mohawk seed keeper from Ohsweken, Ont., has dedicated her life to this effort.
“I do a lot of work that supports other faith keepers in the work that they do. I support healers, seers, people like that … because sometimes people need to use a certain food for a certain ceremony,” she said. “I treat [seeds] with honour and respect.”
Argumedo said that the preservation of specific seeds is important in Indigenous communities where rituals require the best, purest form of seed.
“People are more interested in different features or characteristics of the seed. So people do selection for cultural reasons. And many of those traits are associated with taste, are associated with the colour and shape, because they will be used in rituals or social gatherings to create community cohesion,” he said.
“And if you want to have a better relationship with your neighbours, you better have the right seeds, because you will be offering it as a way of respect.”
Hannes Dempewolf, senior scientist and head of global initiatives at Crop Trust, a German-based organization that’s involved with the Svalbard seed vault, said there’s another important reason for preserving genetic diversity of seeds.
“Every seed, every variety is unique in itself,” he said. “They have a unique set of genes that we have no idea what they could be useful for in the future.”
Chuvas atrasadas, secas intensas, rios sem água — em diversas partes da Amazônia, comunidades indígenas vêm testemunhando as transformações decorrentes das alterações no clima. O resultado: mais incêndios, menos alimento disponível.
Os indígenas acreditam que as mudanças climáticas têm afetado inclusive sua saúde corporal: doenças antes controladas como sarampo e febre amarela ressurgiram na floresta e até a menstruação das mulheres tem chegado mais cedo.
Como forma de minimizar os danos, os indígenas se mobilizam de várias maneiras. Entre elas, a aposta em sementes mais resistentes à seca e ao calor, a linha de frente nas brigadas de incêndio e até um aplicativo de celular para compartilhar informações sobre variações no clima.
Na região do Bico do Papagaio, norte de Tocantins, Antonio Veríssimo Apinajé recorda seus tempos de menino na aldeia Taquari, na década de 1970. “Chovia sem parar, por três, quatro dias seguidos, de janeiro a junho. Os rios e as nascentes ficavam cheios. A estação chuvosa começava em outubro, quando minha família plantava mandioca, milho e arroz. Em junho vinha a estação seca, e durava até setembro.”
Não mais, diz o líder do povo Apinajé. “Tem anos que as chuvas demoram para chegar, só em novembro, dezembro, até janeiro, e só então podemos plantar. Em abril a chuva já está parando. Se falta água, não temos como irrigar [a roça]. A mandioca fica pequena, o milho ‘não enche’. As chuvas diminuíram bem nos últimos dez anos.”
Assim como Antonio, boa parte dos indígenas brasileiros vem testemunhando, no dia a dia, as transformações decorrentes das mudanças climáticas. Segundo eles, a natureza vem dando sinais de alteração há pelo menos 15 anos, e com mais rapidez nos últimos tempos.
Área destruída pelo fogo em Rondônia, registrada pela Operação Verde Brasil, do Prevfogo. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
“Falta de água é o primeiro sinal”, diz Antonio. É indício de que as chuvas estão chegando com atraso — fator que, alternado com secas intensas e prolongadas, termina por prejudicar as colheitas e reduzir a variedade de alimentos disponíveis nas aldeias.
Maria Leonice Tupari, coordenadora da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir), relata que na TI onde vive, a Sete de Setembro, “o rio seca com frequência e a água que sobra forma uma espécie de baía, onde os peixes tentam sobreviver. Quando volta a chover, a água morna do leito mistura-se com a água fria que cai e o choque [de temperaturas] mata os peixes pequenos.”
Não bastasse a diminuição de recursos naturais, Maria Leonice tem se inquietado também ao ver ressurgir enfermidades nas aldeias. “Doenças que já tinham sido controladas estão voltando: sarampo, febre amarela… Acredito que isso tem a ver com o clima, a destruição da natureza. E veio um vírus para mostrar nossa fragilidade, trazer reflexão”, diz ela, referindo-se à chegada da covid-19 às aldeias, que até o início de maio já havia infectado mais de 200 indígenas no país.
O clima cada vez mais quente pode estar também alterando o organismo das mulheres Kiriri, no nordeste da Bahia, segundo as próprias relataram a Sineia do Vale, coordenadora do Departamento Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR). “As cacicas acreditam que o calor extremo fez com que a tensão pré-menstrual de jovens indígenas chegasse mais cedo.”
Não bastasse a diminuição de recursos naturais, Maria Leonice tem se inquietado também ao ver ressurgir enfermidades nas aldeias. “Doenças que já tinham sido controladas estão voltando: sarampo, febre amarela… Acredito que isso tem a ver com o clima, a destruição da natureza. E veio um vírus para mostrar nossa fragilidade, trazer reflexão”, diz ela, referindo-se à chegada da covid-19 às aldeias, que até o início de maio já havia infectado mais de 200 indígenas no país.
O clima cada vez mais quente pode estar também alterando o organismo das mulheres Kiriri, no nordeste da Bahia, segundo as próprias relataram a Sineia do Vale, coordenadora do Departamento Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR). “As cacicas acreditam que o calor extremo fez com que a tensão pré-menstrual de jovens indígenas chegasse mais cedo.”
Atendimento a indígenas em Assunção do Içana, Alto Rio Negro (AM). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Fumaça afeta as aldeias
A combinação de um clima cada vez mais seco com o avanço das queimadas também produz a intensificação de incêndios, que pode ser potencialmente desastrosa em algumas áreas, sobretudo nas terras indígenas situadas na fronteira do desmatamento.
É o caso da mesma TI Sete de Setembro onde vive Maria Leonice Tupari, território ancestral dos Suruí Paiter na divisa de Rondônia e Mato Grosso, hoje cercado de fazendas de gado. “Os fazendeiros gostam de queimar grandes áreas de terra para limpar o pasto. No ano passado, qualquer coisinha dava incêndio, de bitucas de cigarro a garrafas de vidro. Era lixo jogado por caminhões nas margens de capim seco das estradas”, diz ela.
Segundo a líder das mulheres guerreiras de Rondônia, o fogo causou outro grave problema em 2019, ano recorde de queimadas: “A fumaça gerada fez com que muitos de nós passassem mal, com fortes dores de cabeça, irritação nos olhos e problemas respiratórios. A fumaça era terrível. Crianças e idosos especialmente tiveram de ir aos hospitais da região, que estavam lotados com pessoas das cidades, também intoxicados”.
Antonio Apinajé, a mil quilômetros dali, na beira do Rio Tocantins, tem o mesmo temor: “Ficamos preocupados quando há focos de incêndio na região porque, dependendo do horário e da força do vento, o fogo voa. Vivemos perto da floresta e da vegetação de Cerrado; dá até angústia só de pensar, aquela fumaça pesada fica no ar por dois, três meses,” diz o líder Apinajé.
Como forma de reduzir os danos às vegetação dos biomas, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama (Prevfogo) contrata indígenas, na temporada das queimadas, para atuarem como brigadistas nas TIs onde vivem. “Eles conhecem os territórios melhor do que ninguém, sabem onde está a vegetação mais suscetível ao fogo, onde os incêndios costumam começar e se espalhar,” diz Gabriel Constantino Zacharias, chefe do Prevfogo.
A iniciativa começou em 2013 com 400 indígenas — um terço do total de brigadistas — e foi crescendo ao longo dos anos. Em 2019, porém, caiu pela primeira vez: foram 760 indígenas em campo, vinte a menos do que no ano anterior.
O primeiro ano de um governo é normalmente de restrições orçamentárias”, justifica Zacharias, ao falar da gestão Bolsonaro. Em agosto passado, Alemanha e Noruega suspenderam suas contribuições ao Fundo Amazônia em face do desmatamento crescente no país. Parte desses recursos financiava as roupas e botas dos brigadistas — entre 2014 e 2018, o fundo investiu R$ 14,7 milhões em atividades do Prevfogo nos nove estados amazônicos.
Brigadistas indígenas do PrevFogo em ação de combate a incêndio no Parque Indígena do Xingu. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama.
Casa de sementes
Em Tocantins, os Apinajé tem se dedicado a pesquisar sementes mais resistentes à seca e ao calor.
“Em vez de usar sementes de arroz, que levam cinco a seis meses para amadurecer, agora só plantamos o arroz ‘ligeiro’, que demora três meses”, diz Antonio Apinajé. “Conseguimos também uma espécie de mandioca que cresce em sete meses, enquanto a que plantávamos antes levava normalmente um ano.”
A oferta de água igualmente influencia o que vai ser cultivado, segundo ele: “Mandioca e feijão não pedem muita chuva, mas arroz, abóbora, milho e banana sim, por isso estamos plantando menos deles”.
Há pouco mais de um ano, o povo Apinajé, formado por 2,8 mil habitantes espalhados em 42 aldeias da TI homônima, criou uma “casa de sementes”, como assim a batizaram, que armazena as espécies mais produtivas e resistentes ao calor. A ideia é ampliar a variedade desse acervo, fazendo intercâmbio de sementes e de experiências agrobiológicas com outros povos, além de agricultores familiares e quilombolas.
Essa proposta vem se difundindo em outros estados amazônicos: em Roraima, por exemplo, lideranças coordenam a formação de uma rede de bancos de sementes entre as regiões do estado onde vivem indígenas. “O projeto parou por causa do coronavírus, mas vamos retomá-lo assim que possível,” diz Sineia do Vale, do CIR, representante do povo Wapichana.
Em agosto passado, o CIR promoveu a organização de um banco de sementes na TI Raimundão, no município de Alto Alegre, e o cultivo de uma área de dois hectares com sementes mais resistentes de milho, mandioca e pimenta, principais alimentos das comunidades locais.
As ações são parte de um plano pioneiro de gestão ambiental que inclui o fator climático, concebido a partir de consultas junto a habitantes das TIs Malacacheta, Jacamim e Manoá-Pium.
Inimaginável até poucos anos atrás, “os conhecimentos ancestrais estão sendo discutidos por cientistas em diversas partes do mundo para ajudar no entendimento das questões climáticas,” diz a líder Wapichana.
Ação de troca de sementes organizada pelo Conselho Indígena de Roraima. Foto: CIR.
Celulares contra o fogo
A colaboração entre ciência e saberes indígenas também se dá por meio da criação de ferramentas tecnológicas, como o Alerta Clima Indígena. Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o aplicativo fornece dados sobre focos de calor, riscos de seca e desmatamento para ajudar os indígenas a monitorar seus territórios e o entorno. As informações podem ser acessadas mesmo quando os celulares estão sem conexão.
Além disso, por meio do aplicativo, os próprios indígenas podem inserir e compartilhar alertas de fogo e de atividades ilegais em suas terras, como desmatamento, pesca predatória e extração de madeira.
“Os povos indígenas são, por um lado, grandes figuras em mitigar as alterações climáticas, mas, por outro, vivem diretamente com elas e por isso são os mais afetados”, diz Martha Fellows Dourado, pesquisadora do Ipam. “O ACI surgiu como uma ferramenta para apoiar a gestão territorial das TIs na ponta final — as próprias comunidades.”
Usado atualmente em Roraima, Maranhão e Mato Grosso, a meta é que o aplicativo seja empregado em todas as TIs demarcadas do país. E, nos próximos meses, o Alerta Clima Indígena irá ganhar uma função ligada ao coronavírus, de modo que os usuários possam acompanhar a disseminação da covid-19 nas aldeias e cidades.
Para além da tecnologia, Leonice Tupari invoca a espiritualidade dos povos da floresta como forma de reverter o futuro que se anuncia: “Precisamos respeitar a natureza e nos conectar com ela. Somos espíritos aqui na Terra, encarnados na matéria, ligados ao fogo, ao solo, ao vento, a tudo que existe. As pessoas se afastaram dela. Não pisam no solo, não sentem a brisa. É preciso sentir a água, e não falo da água do chuveiro. Nossa espiritualidade está conectada com a natureza.”
O aplicativo Alerta Clima Indígena (ACI), desenvolvido pelo Ipam com apoio do governo da Noruega, permite monitorar focos de calor, desmatamento e dados climáticos nas terras indígenas da Amazônia brasileira. Foto: Ipam.
Imagem do banner: Incêndio em comunidade Huni Kuin, no Acre, em agosto de 2019. Foto: Centro de Cultura Indígena Huwã Karu Yuxibu.
Mais reportagens da Mongabay sobre a Amazônia aqui.
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