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Climate crisis blamed as winter drought devastates crops in Spain and Portugal (Independent)

independent.co.uk

In Spain, rainfall this winter stands at only a third of the average in recent years

Feb. 14, 2022

The abandoned village of Aceredo near the dam of Lindoso in Lobios, Galicia, Spain, on 13 February 2022
(EPA)

In north-western Spain, the sight of roofs emerging from the surface of the water in the Lindoso reservoir is not uncommon at the height of particularly dry summers, but since the lake was first created three decades ago, this winter is the first time the flooded village of Aceredo has been revealed in its entirety.

The decrepit old stone works of the village are an indication of the extent of the severe winter drought impacting Spain and Portugal, which is now devastating crops after more than two months with no rain.

While 10 per cent of Spain has officially been declared as being under “prolonged drought,” large areas outside this categorisation, particularly in the south, also face extreme shortages that could impact the irrigation of crops.

Overall around 50 per cent of all Spanish farms are believed to be at risk due to the record low rainfall which is impacting rain-fed crops including cereals, olives, nuts and vineyards, which could lose 6 per cent to 8 per cent of their production, Spanish farming organisations have warned.

While the government is planning to spend around €570m (£477m) to improve irrigation systems, the lack of rainfall has been blamed on the worsening climate crisis.

Over the last three months of 2021, Spain recorded just 35 per cent of the average rainfall it had during the same period from 1981 to 2010. But there has been almost no rain since then.

Meanwhile in Portugal, 45 per cent of the country is currently experiencing “severe” or “extreme” drought conditions, Portuguese national weather agency IPMA said, with the climate crisis bringing hotter, drier conditions that make agriculture increasingly difficult.

IPMA climatologist Vanda Pires, Portugal told AP the agency had recorded an increase in the frequency of droughts over the past 20 to 30 years, with lower rainfall and higher temperatures.

“It’s part of the context of climate change,” she said.

People walk among damaged buildings in the abandoned village of Aceredo, which was was flooded in 1992 as part of a hydro-electric power project but has emerged as a consequence of the ongoing drought (EPA)

Scientists estimate that Portugal will see a drop in average annual rainfall of 20 per cent to 40 per cent by the end of the century.

According to the Spain’s national weather agency AEMET, only in 2005 has there been a January with almost no rain in this century.

If there is not significant rain within the next two weeks, emergency subsidies for farmers will be needed, Spanish authorities told AP.

Rubén del Campo, a spokesman for the Spanish weather service, said the below-average rainfall over the last six months was likely to continue for several more weeks, with hopes that spring will bring much-needed rainfall.

Satellite images show Spain’s third-largest reservoir, at Almendra in the Castilla y León, at just a third of its capacity. According to the Spanish meteorology and climatology State Agency, 2022 has started as the second driest year of the 21st century (European Union, Copernicus Sentinel-2 imagery)

Spanish Agriculture Minister Luis Planas said last week the government would take emergency action if it did not rain in two weeks – likely to be financial support measures  for farmers to alleviate the loss of crops and revenues.

Additional reporting by AP.

Ensino de História em Portugal perpetua mito do ‘bom colonizador’ e banaliza escravidão, diz pesquisadora (BBC)

Luis Barrucho – Da BBC Brasil em Londres

31 julho 2017

Jean-Baptiste Debret. Pintura do francês Jean-Baptiste Debret de 1826 retrata escravos no Brasil.

“De igual modo, em virtude dos descobrimentos, movimentaram-se povos para outros continentes (sobretudo europeus e escravos africanos).”

É dessa forma – “como se os negros tivessem optado por emigrar em vez de terem sido levados à força” – que o colonialismo ainda é ensinado em Portugal.

Quem critica é a portuguesa Marta Araújo, pesquisadora principal do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

De setembro de 2008 a fevereiro de 2012, ela coordenou uma minuciosa pesquisa ao fim da qual concluiu que os livros didáticos do país “escondem o racismo no colonialismo português e naturalizam a escravatura”.

Além disso, segundo Araújo, “persiste até hoje a visão romântica de que cumprimos uma missão civilizatória, ou seja, de que fomos bons colonizadores, mais benevolentes do que outros povos europeus”.

“A escravatura não ocupa mais de duas ou três páginas nesses livros, sendo tratada de forma vaga e superficial. Também propagam ideias tortuosas. Por exemplo, quando falam sobre as consequências da escravatura, o único país a ganhar maior destaque é o Brasil e mesmo assim para falar sobre a miscigenação”, explica.

“Por trás disso, está o propósito de destacar a suposta multirracialidade da nossa maior colônia que, neste sentido, seria um exemplo do sucesso das políticas de miscigenação. Na prática, porém, sabemos que isso não ocorreu da forma como é tratada”, questiona.

Araújo diz que “nada mudou” desde 2012 e argumenta que a falta de compreensão sobre o assunto traz prejuízos.

“Essa narrativa gera uma série de consequências, desde a menor coleta de dados sobre a discriminação étnico-racial até a própria não admissão de que temos um problema de racismo”, afirma.

Jean-Baptiste Debret Image. Segundo Araújo, livros didáticos portugueses continuam a apregoar visão “romântica” sobre colonialismo português

‘Vítimas passivas?’

Para realizar a pesquisa, Araújo contou com a ajuda de outros pesquisadores. O foco principal foi a análise dos cinco livros didáticos de História mais vendidos no país para alunos do chamado 3º Ciclo do Ensino Básico (12 a 14 anos), que compreende do 7º ao 9º ano.

Além disso, a equipe também examinou políticas públicas, entrevistou historiadores e educadores, assistiu a aulas e conduziu workshops com estudantes.

Em um deles, as pesquisadoras presenciaram uma cena que chamou a atenção, lembra Araújo.

Na ocasião, os alunos ficaram surpresos ao saber de revoltas das próprias populações escravizadas. E também sobre o verdadeiro significado dos quilombos ─ destino dos escravos que fugiam, normalmente locais escondidos e fortificados no meio das matas.

“Em outros países, há uma abertura muito maior para discutir como essas populações lutavam contra a opressão. Mas, no caso português, os alunos nem sequer poderiam imaginar que eles se libertavam sozinhos e continuavam a acreditar que todos eram vítimas passivas da situação. É uma ideia muito resignada”, diz.

Araújo destaca que nos livros analisados “não há nenhuma alusão à Revolução do Haiti (conflito sangrento que culminou na abolição da escravidão e na independência do país, que passou a ser a primeira república governada por pessoas de ascendência africana)”.

Já os quilombos são representados, acrescenta a pesquisadora, como “locais onde os negros dançavam em um dia de festa”.

“Como resultado, essas versões acabam sendo consensualizadas e não levantam as polêmicas necessárias para problematizarmos o ensino da História da África.”

‘Visão romântica’

Araújo diz que, diferentemente de outros países, os livros didáticos portugueses continuam a apregoar uma visão “romântica” sobre o colonialismo português.

“Perdura a narrativa de que nosso colonialismo foi um colonialismo amigável, do qual resultaram sociedades multiculturais e multirraciais – e o Brasil seria um exemplo”, diz.

Ironicamente, contudo, outras potências colonizadoras daquele tempo não são retratadas de igual forma, observa ela.

“Quando falamos da descoberta das Américas, os espanhóis são descritos como extremamente violentos sempre em contraste com a suposta benevolência do colonialismo português. Já os impérios francês, britânico e belga são tachados de racistas”, assinala.

“Por outro lado, nunca se fala da questão racial em relação ao colonialismo português. Há despolitização crescente. Os livros didáticos holandeses, por exemplo, atribuem a escravatura aos portugueses”, acrescenta.

Segundo ela, essa ideia da “benevolência do colonizador português” acabou encontrando eco no luso-tropicalismo, tese desenvolvida pelo cientista social brasileiro Gilberto Freire sobre a relação de Portugal com os trópicos.

Em linhas gerais, Freire defendia que a capacidade do português de se relacionar com os trópicos ─ não por interesse político ou econômico, mas por suposta empatia inata ─ resultaria de sua própria origem ética híbrida, da sua bicontinentalidade e do longo contato com mouros e judeus na Península Ibérica.

Apesar de rejeitado pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (1930-1945), por causa da importância que conferia à miscigenação e à interpenetração de culturas, o luso-tropicalismo ganhou força como peça de propaganda durante a ditadura do português António de Oliveira Salazar (1932-1968). Uma versão simplificada e nacionalista da tese acabou guiando a política externa do regime.

“Ocorre que a questão racial nunca foi debatida em Portugal”, ressalta Araújo. Direito de imagem Marta Araújo Image caption Livro didático português diz que escravos africanos “movimentaram-se para outros continentes”

‘Sem resposta’

A pesquisadora alega que enviou os resultados da pesquisa ao Ministério da Educação português, mas nunca obteve resposta.

“Nossa percepção é que os responsáveis acreditam que tudo está bem assim e que medidas paliativas, como festivais culturais sazonais, podem substituir a problematização de um assunto tão importante”, critica.

Nesse sentido, Araújo elogia a iniciativa brasileira de 2003 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio.

“Precisamos combater o racismo, mas isso não será possível se não mudarmos a forma como ensinamos nossa História”, conclui.

Procurado pela BBC Brasil, o Ministério da Educação português não havia respondido até a publicação desta reportagem.